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br #644 / 2020
ISSN 0013-7707
00644
9 770013 770009
R$ 79,90
HIDROGÊNIO,
OXIGÊNIO E
RESPONSABILIDADE
SOCIOAMBIENTAL.
sabesp.com.br
Desde a sua fundação,
a Sabesp traz em seu DNA
a responsabilidade social.
Levando água e saneamento
a milhões de pessoas,
causando assim
um impacto positivo,
gerando benefícios sociais
e ambientais.
É assim que atendemos
a 60% da população do estado
de São Paulo, em 375 municípios.
É assim que nos tornamos
a 3ª maior empresa
de saneamento do mundo.
Sumário
PALAVRA DO PRESIDENTE 06
PENSATA 10
CURTAS 14
POR DENTRO 82
BIBLIOTECA 87
ENGENHO E ARTE 88
ARTIGOS
LINHA DE FRENTE 24
BIM PROCESSOS 32
BIM TECNOLOGIA 42
BIM PESSOAS 56
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
PARA UM NOVO
MUNDO
Eduardo Ferreira Lafraia
N
os últimos 104 anos, o Instituto de tem de olhar para a agricultura com foco na
Engenharia tem atuado com a mis- segurança alimentar do seu povo e do mun-
são de promover o desenvolvimento do. Para proteger esse status, precisamos
da engenharia, trilhando continua- retomar nossa posição de liderança no com-
mente o caminho do conhecimento. bate às mudanças climáticas e, simultanea-
Sempre fomos um polo de debates, de es- mente, desenvolver uma economia resiliente
tudos, de alerta às lideranças governamentais aos possíveis cenários de aumento da tempe-
sobre ações que poderiam melhorar a quali- ratura global.
dade de vida da sociedade brasileira. Segundo estudo recente da WRI, uma das
Durante décadas, acompanhamos vários principais entidades ambientalistas dos Es-
momentos do país: de adversidades, de de- tados Unidos, junto a pesquisadores bra-
safios, de conflitos regionais e globais, de re- sileiros da PUC-Rio, da escola de negócios
construção e de retomada de confiança. Coppe/UFRJ, do Instituto de Pesquisa Econô-
Hoje passamos por um momento de trans- mica Aplicada, além da Febraban e dos think
formação inimaginável, seja no consumo, tanks Conselho Empresarial Brasileiro para
seja nos hábitos sociais, seja nas formas de o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e
trabalhar. Essas transformações não estavam Climate Policy Initiative, para o Brasil, a gui-
em nosso escopo. nada verde traria oportunidades grandiosas.
Precisamos nos preparar para o futuro, es- Em números, significa crescer 15% mais do
tamos na quarta revolução industrial e a ino- que o previsto até 2030, o que agregaria 2,8
vação tecnológica se faz essencial diante das trilhões de reais ao PIB em 10 anos. A rique-
mudanças climáticas, dos riscos ambientais za adicional abriria dois milhões de empre-
e do esgotamento das terras mais férteis e gos na economia — metade na indústria. Para
demais impactos. Cabe a nós usar o conheci- dimensionar os benefícios dessa retomada
mento para evitar o pior e para crescer. verde da economia brasileira, os pesquisa-
O Brasil, cuja extensão territorial ultrapassa dores mapearam dez mil tecnologias com
8,5 milhões de km², tem imensa diversidade emissão reduzida de carbono e as políticas
natural, além de ser a segunda maior potên- em curso para adotá-las no governo e na ini-
cia mundial na produção de alimentos. O país ciativa privada.
A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
NA NOSSA ENGENHARIA
N
• Por José Carlos Lino
ão tenho memória de, durante a minha era o correio semanal, ou o único jornal, mui-
meninice, ter tido acesso a qualquer tas vezes do dia ou da semana anterior, dado
gadget digital. Recordo-me com sau- que tardava 24h ou mais para atravessar o
dades das férias de verão ou dos acam- país, hoje em dia essa mesma informação sur-
pamentos de escoteiros em que o raro artefato ge-nos na ponta dos dedos, instantaneamen-
que necessitava de pilhas seria possivelmente te, e não apenas sobre o que se passa no nos-
uma velha lanterna que nos indicava o caminho so bairro ou cidade, mas sobre todo o país ou
de regresso, já à noitinha, pelo meio do pinhal sobre qualquer ponto desta aldeia global que
das aventuras. Mais tarde, durante a adolescên- se tornou o mundo.
cia, um walkman de fitas cassetes, pelo qual cur- Esta interação digital, que passou, inclusive,
tíamos os últimos hits, é a minha única recorda- a dominar as comunicações e o modo de co-
ção. Todo o resto da minha vida era analógico. O municarmos, naturalmente afetou também os
despertador, o telefone, o televisor e até mesmo profissionais e as atividades profissionais, em
os automóveis e as motos eram os mecanismos particular os engenheiros e a engenharia.
e a eletricidade que dominavam.
Nós, engenheiros, temos a felicidade de
Foi assim, com visível excitação, que, há qua- participar neste processo de transformação
se quatro décadas, pude assistir na primeira quer como atores, quer como espectadores.
fila aos adventos da eletrônica para todos e, Ou seja, enquanto usuários e usufrutuários da
em particular, à democratização do computa- tecnologia, mas também (e principalmente)
dor pessoal. Inicialmente, em incríveis expe- como desenvolvedores, inovadores e criado-
riências num ZX Spectrum e, depois, nos pri- res de soluções tecnológicas mais avançadas
meiros computadores com processador Intel e que têm servido para apoiar toda a socieda-
8086, com sistema operativo Microsoft DOS, de, sem qualquer exclusão, nas áreas da saú-
tela monocor e com uns estonteantes 20 Mb de, da justiça e da educação, no espaço cons-
de espaço em disco, iniciei a minha transfor- truído, nas infraestruturas, no agronegócio e
mação para o digital. E daí para cá o progresso por aí fora, uma lista sem fim à vista.
e a inovação nessa área nunca mais pararam.
Cabe-nos, então, uma dupla responsabili-
E uma criança que nasce hoje? Que desde o dade: definir os requisitos para responder às
berçário é imersa neste mundo do digital, do necessidades de evolução da sociedade e
virtual e da informação. Será que “vê” o mun- também o enquadramento ético, econômico,
do com olhos diferentes? político e social que estas inovações tecnoló-
Os olhos são idênticos. O próprio mundo é gicas acarretam, com análises de custo, risco,
idêntico. O que mudou radicalmente foi o nos- benefício, sustentabilidade que acabam por
so modo de interagir com ele. E principalmen- ser, hoje, preocupações globais.
te com a informação. Atualmente, até para o cidadão comum, as
Enquanto há algumas gerações, em muitos menções à era 4.0 são constantes. Um olhar re-
casos, a única informação que nos chegava trospectivo à primeira revolução industrial, da
Universidade de Michigan
integrado em 18 estados. valor será para as obras de ampliação
GeSnPbSSeTe, uma
A maior parte dos recursos aten- do sistema de esgotamento sanitário na liga de calcogeneto
derá localidades na região Nordeste zona norte de Aracaju (R$ 9,6 milhões). estabilizada
(R$ 58,3 milhões), que tem os índices Em julho, o governo federal sancionou o por entropia
mais baixos de cobertura dos serviços novo Marco Legal do Saneamento. semicondutora
Divulgação MIT
Com investimento de R$ 3 bilhões, vard e do Instituto de Tecnologia de
a cidade de Janaúba (MG) deve rece- Massachusetts (MIT) desenvolveram
ber nos próximos anos um complexo um protótipo de máscara hospitalar
solar que ocupará uma área de mais com um compartimento para colocar
de 3 mil hectares. O projeto faz par- filtros de polipropileno, que é descar-
te de uma parceria entre a empresa tado após o uso. O restante pode ser
Brookfield Energia Renovável com a esterilizado e reutilizado.
multinacional espanhola Solatio, que Feita principalmente de silicone,
permitirá a construção de 20 parques a máscara foi projetada com uma
solares no estado. modelagem 3D para simular a defor-
As obras de construção estão previs- mação do design de silicone quando
tas para iniciar ainda em 2020 e esti- usada em diferentes formatos e tama-
ma-se que a conclusão seja em 2022 nhos de rosto.
ou 2023. A capacidade instalada do O objetivo é criar uma alternativa ao
complexo é de 1,2 GWp por parte da modelo N95, usado por profissionais
Brookfield Energia Renovável. da saúde na linha de frente da pande- e você está jogando muito menos ma-
Quando prontos, os 20 parques de mia de covid-19, que deve ser descar- terial do que uma máscara N95”, diz
energia solar devem abastecer apro- tado no lixo hospitalar após cada uso. Adam Wentworth, engenheiro de pes-
ximadamente 1,2 milhão de residên- “Com esse design, os filtros podem quisa do Hospital Brigham and Women
cias em Minas Gerais. ser inseridos e descartados após o uso, e afiliado de pesquisa no Instituto Koch.
Uma pesquisa liderada pelos pro- ágar, gelatina natural extraída de al-
Scientific Reports
“O BIM TEM
S
empre que um desavisado ou leigo no lista no desenvolvimento da Estratégia Federal
assunto comete o deslize de reduzir o de Disseminação do BIM (BIM-BR), projeto go-
conceito de BIM (sigla em inglês para vernamental que visa acelerar a implementa-
Modelagem da Informação da Constru- ção da tecnologia no país.
ção, ou Building Information Modelling) a um Desse ponto de observação privilegiado, ele
software o professor Eduardo Toledo Santos, analisa na entrevista a seguir os principais en-
do Departamento de Engenharia de Constru- traves ao crescimento do BIM no país, que vão
ção Civil da Escola Politécnica da USP, protesta. desde uma baixa penetração do tema no currí-
Responsável por coordenar na Poli o mestra- culo dos cursos de engenharia até uma supos-
do profissional em Inovação na Construção Ci- ta aversão à inovação por parte dos tomadores
vil, Toledo atua há mais de 15 anos na temática de decisão da indústria de construção.
do BIM e faz questão de esclarecer que a tec- “É uma área difícil, muito conservadora”, la-
nologia, utilizada progressivamente por profis- menta o especialista, lembrando que muitos
sionais de arquitetura e construção, especial- empresários do setor relutam em investir na
mente para a gestão de projetos, é mais do adoção do BIM, mas não em pagar altos custos
que um software, é um conjunto de processos. decorrentes de erros de projetos, paralisações,
Os processos BIM, ele sintetiza, ajudam a atrasos e retrabalhos.
melhorar a qualidade dos projetos de constru- A despeito desses gargalos, Toledo, que tam-
ção, otimizando a comunicação entre os pro- bém é coordenador de um grupo de trabalho
fissionais, reduzindo prazos, permitindo que sobre BIM na ABNT (Associação Brasileira de
os gestores prevejam potenciais problemas Normas Técnicas), além de membro-fundador
nos canteiros e evitando futuros retrabalhos e do BIM Fórum Brasil e da BIM Excellence Initia-
desperdício de recursos. tive – onde, entre outras atribuições, é editor
Engenheiro eletricista, mestre e doutor em de Língua Portuguesa do BIM Dictionary –, sa-
engenharia, Toledo participou como especia- lienta que os casos de sucesso são “gritantes”
EMINENTE ENGENHEIRO
DO ANO APONTA PARA O
FUTURO BRASILEIRO 4.0
CARLOS NOBRE, PESQUISADOR E ENGENHEIRO ELETRÔNICO,
HOJE LIDERA O PROJETO AMAZÔNIA 4.0. DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTADO E SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA
O
Brasil jamais recebeu um prêmio No período de 1993 a 2000, participou do
Nobel. Mas um grupo de 8 brasi- LBA, experimento de grande escala da bioat-
leiros membros do IPCC – Painel In- mosfera na Amazônia, considerado ainda
tergovernamental para a Mudança hoje a maior pesquisa científica feita sobre a
do Clima, órgão da ONU, foi agraciado com o Amazônia brasileira.
Prêmio Nobel da Paz de 2007. Entre eles, esta- Quando se aposentou, em 2016, tomou
va o engenheiro e cientista Carlos Nobre, 69 uma decisão para a vida: em lugar de lidar
anos, hoje lidera o projeto Amazônia 4.0. com os riscos do aquecimento global, iria
Nobre graduou-se em engenharia eletrôni- propor ações para o desenvolvimento sus-
ca pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica tentado e sustentável da Amazônia. Dessa
(ITA), em 1974. Em uma viagem de treinamen- decisão, nasceu o projeto Amazônia 4.0.,
to, dois anos antes, foi apresentado à Amazô- que, em síntese, significa o casamento da flo-
nia, quando foi capturado para o resto da vida resta em pé com a engenharia 4.0, atuando
pela magia da floresta, seus rios e seu povo. em várias frentes: sistemas de políticas go-
vernamentais, financiamentos internacionais
Seu primeiro emprego como engenheiro foi e industrialização dos ativos da floresta em
no Instituto Nacional de Pesquisas do Amazo- pé. Sua plataforma baseia-se na implemen-
nas (INPA), em Manaus. Cuidava dos labora- tação em escala industrial de uma cadeia de
tórios do instituto e acompanhava as missões biofábricas que exponencia a exportação de
científicas dos mestrandos e pesquisadores produtos amazônicos com valor agregado
internacionais. Instalou a primeira torre de em vez de commodities in natura. Um exem-
observação em plena floresta. Foi enviado ao plo é a exportação do açaí in natura, que
Massachusetts Institute of Technology (MIT) rende ao Brasil, anualmente, US$ 1 bilhão,
para se doutorar em meteorologia. e da madeira, que, depois de industrializa-
Em 2007, um grupo de oito brasileiros membros do painel Intergovernamental para a mudança do clima (IPCC), órgão da ONU, foi
agraciado com o prêmio Nobel da Paz. Entre eles estava o engenheiro e cientista Carlos Nobre, que hoje lidera o Projeto Amazônia 4.0.
dos lá fora, são importados por nós. Quanto de Manaus uma solução de desindustrializa-
o Brasil ganharia se esses produtos fossem ção paga por todos os brasileiros, sendo boa
industrializados aqui? Isso não é um sonho, a apenas para quem compra subsídios fiscais.
indústria 4.0 permite isso não só para o açaí Carlos Nobre aposta em uma universidade
e a madeira, mas para centenas de produtos que tenha a tecnologia como matriz educa-
da floresta. É só uma questão de volumes de cional. Propõe um novo ITA, fazendo trocadi-
produção, treinamento da mão de obra e o lho com a escola onde se formou e a embar-
acerto de políticas conexas para o desenvol- cação símbolo da região Norte, local onde
vimento da região. tecnologia rima com negócios.
Carlos Nobre tem consciência das dificul- Ele acredita que a implantação já financiada
dades da proposta de uma terceira via eco- para diversas biofábricas locais de açaí, casta-
nômica para a Amazônia brasileira. As dou- nha e óleos vegetais serão vitrines que conquis-
trinas conservacionistas, no Brasil, estão em
tarão investidores brasileiros e estrangeiros em
conflito com as desenvolvimentistas desde
escalas macroeconômicas significativas. Para
o pós-guerra. A doutrina desenvolvimentista
ele, a bancada ambientalista é uma aliada na
hoje é uma política de estado que pretende
formulação de uma política de estado. Junto
transformar a floresta em pasto e terras agri-
aos organismos mundiais de fomento já exis-
cultáveis para o agronegócio e em um gran-
de garimpo. Essa política não contempla o tem negociações objetivando o projeto.
avanço da ciência, que propõe a substituição Nessa entrevista dada à Revista Engenharia,
da energia fóssil por energia limpa para sal- na ocasião de sua nomeação como Eminente
var o clima do planeta. Também não estimula Engenheiro de 2020, Carlos Nobre defende
a industrialização com as tecnologias 4.0 na sua proposta e vive o desafio de sua vida.
Amazônia legal, o que torna a Zona Franca Cientista e engenheiro, construindo o futuro.
Reconhecimento,
Instituto de Engenharia
relevância e sinalização
“Carlos Nobre, depois de vivenciar uma carreira profícua e de extremo sucesso como
Arquivo pessoal
cientista e servidor público e cujas realizações já justificariam sua premiação como Emi-
nente Engenheiro do Ano, ao se deparar com o momento de recolhimento aos aposen-
tos, ousou engenheirar. Decidiu seguir praticando a pesquisa, mas mudou seu foco. Ele
migrou sua atenção dos “riscos” para construção de “soluções” que o planeta precisa e
o Brasil pode oferecer. Hoje, Nobre ousa desafiar a visão mimética de desenvolvimento
na qual o sucesso para o Brasil seria a replicação do modelo da América do Norte e da
União Europeia. Ele trabalha para colocar em prática a utopia tropicalista, modelo no
qual o Brasil utiliza sua biodiversidade como alavanca de desenvolvimento e protago-
nismo no futuro. Vejo na premiação de Carlos Nobre como Eminente Engenheiro do Ano
uma clara sinalização do Instituto de Engenharia para relevância da sustentabilidade na
formação de engenheiros e engenharias em todas as modalidades da engenharia”
George Paulus Dias, diretor de Comunicação do Instituto de Engenharia
“Os estudos sobre o meio ambiente, principalmente sobre aquecimento global, são
Arquivo pessoal
complexos, pois são de desenvolvimento muito recente e não há experiência acumu-
lada. Além disso, têm um grande risco de sofrer influências emocionais e até ideológi-
cas. Por essa razão, o trabalho com forte embasamento científico do engenheiro Carlos
Nobre, um dos mais respeitados meteorologistas do país, tem grande reconhecimento
internacional. O Instituto de Engenharia foi muito feliz na escolha deste cientista para
ser o Eminente Engenheiro do Ano de 2020, justamente neste momento em que ele se
dedica a demonstrar a viabilidade econômica da manutenção e da exploração susten-
tável da floresta amazônica, colocando toda a sua formação em engenharia a serviço da
sociedade”
Vahan Agopyan, reitor da Universidade de São Paulo e Eminente Engenheiro do Ano de 2004
Arquivo pessoal
A
lavancado pelo Decreto nº 10.306/20 tada”, da consultoria IDC, indica que o setor de
do governo federal, que torna obri- construção civil está pronto para a transforma-
gatório a partir de janeiro de 2021 o ção digital e o BIM é protagonista nesse cená-
seu uso em obras do setor público, rio. O estudo também mostra que o Brasil está
o BIM promete revolucionar o setor constru- em conformidade com os padrões internacio-
tivo brasileiro em todos os seus aspectos e nais de construção e lidera em investimentos
segmentos, inclusive no setor privado. Con- em softwares baseados em BIM, mesmo ain-
siderado pilar central do presente e do futu- da sem atingir o estágio de maturidade plena
ro das construções, o BIM é uma plataforma na utilização da metodologia.
de modelagem de dados que digitaliza e in- Assim como o seu irmão CAD, o BIM é mais
tegra todo o ciclo de vida de um empreen- do que uma plataforma fornecida por uma
dimento. Estimativas apontam que, o uso do grande gama de fornecedores, é uma meto-
BIM pode atingir 50% do PIB da construção dologia que visa integrar e organizar as infor-
civil até 2024. mações e os dados de uma edificação. “O BIM
Isso se deve ao Building Information Mo- promove ganho de tempo e traz vantagens no
deling (em tradução livre, Modelagem de uso de modelagem e visualização melhora-
Informação da Construção) permitir a visua- das. A partir dele são obtidos resultados muito
lização e a adaptação rápida de planos e melhores, como previsão facilitada de proble-
estratégias do setor de construção de todas mas e possibilidades de soluções. Com isso,
as práticas e áreas envolvidas em um pro- os ganhos se dão pelos processos de tomada
jeto construtivo. Do trabalho de arquitetos de decisão serem favorecidos e otimizados”,
e engenheiros até fornecedores, passando aponta Elton Pinho, diretor da JNS Engenha-
por trabalhadores da construção civil e che- ria, Consultoria e Gerenciamento.
gando até mesmo aos responsáveis pela ven- Entre os benefícios do uso de BIM estão
da final do projeto para os consumidores e mais agilidade, menor custo, maior qualidade
clientes. Algo que será possível com o uso de do projeto, incentivo ao trabalho colaborati-
tecnologias ligadas ao BIM, como modelos vo e incremento do ciclo de vida do projeto, o
3D, Inteligência Artificial e realidades virtual que garante diminuição de erros e desperdí-
e aumentada. cios. Algo que sempre esteve presente em sua
Não por acaso, a pesquisa global “Transfor- gênese. De acordo com a CMAA, mais de 30%
mação Digital: o Futuro da Construção Conec- dos custos da construção civil nos Estados
desenvolvimento técnico
de engenharia na Laguna Decifra-me ou...
Construtora
Grande parte da dificuldade encontrada em
um processo de mudança reside na falta de
compreensão da abrangência do BIM. São
paradigma anterior. Também existe a insegu-
muito frequentes os alertas de que o BIM não
rança por conta da incerteza com o “novo” e
é um software e não basta fazer um treina-
a necessidade de estabilidade e conforto mento padrão e comprar bibliotecas.
com as práticas conhecidas.
O setor de construção, como apontam os
especialistas, é de forma geral conservador.
Embora existam outros fatores, como o paga-
mento de atividade de engenharia por hora/
homem (que penaliza a busca por produtivi-
dade), a falta de visão do custo total e a cultu-
A moderna
ra de focar nos custos sem se preocupar com
os benefícios.
“Biblioteca de
Mudar mentalidades e de um sistema tradi- Alexandria”
cional para o BIM significa alterar processos, Reunir todo o conhecimento do mun-
não só em termos de tecnologia, mas de for- do, ou pelo menos tentar! O princípio da
ma geral. A camada de profissionais de nível mítica biblioteca egípcia move a Platafor-
estratégico precisa entender e se envolver, ma BIMbr, a biblioteca BIM criada pela
o que raramente acontece e geralmente é a Agência Brasileira de Desenvolvimento
principal dificuldade. Mudar processos signi- Industrial (ABDI), com o mote de “maior
fica que não há “fórmula mágica”, cada em- biblioteca pública BIM do mundo”. Dis-
presa vai precisar buscar a sua. Na JNS, por criminada por categoria, subcategoria,
exemplo, de acordo com seu gestor, a inicia- software e outras características, além de
tiva de implementação BIM se enraizou na di- reunir modelos, guias, normas e manuais
retoria antes mesmo do início das atividades que podem ser acessados de forma gra-
desse processo, ainda no ano de 2013. O que tuita e por meio de downloads a partir de
resultou em maior envolvimento e compro- inscrição no site.
metimento de toda a equipe, pois eles foram Esse conjunto de elementos construti-
estimulados e priorizados. vos está totalmente alinhado, de acordo
Na prática, o BIM necessita de um inves- com a ABDI, com a Estratégia Nacional de
timento inicial relevante em sistemas e Disseminação do BIM e o decreto gover-
hardwares, em particular para empresas namental. E pretende fomentar o uso de
projetistas. Ou seja, o perfil das pioneiras é processos BIM por “órgãos públicos, ins-
de empresas de maior porte e com mais ca- tituições, organizações privadas e profis-
pacidade de aportar recursos nesses novos sionais da arquitetura, engenharia e cons-
sistemas. “Algo que exige não apenas dis- trução por meio de objetos condizentes
ponibilidade de recursos, mas capacitação com a realidade do mercado e com crité-
e treinamento de pessoas para que a nova rios de qualidade definidos”.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
NOS CANTEIROS DE OBRA
A
qui na Camargo Corrêa Infra, avaliamos e concluímos que os usos vigentes
quando falamos em BIM (Building não deveriam ser exclusivos para quem está
Information Modeling), não esta- no escritório. Com apoio das metodologias
mos falando apenas de hardwares de inovação da empresa, disponibilizamos
e softwares. Estamos falando de processos, tablets e smartphones para nossos profissio-
pessoas e tecnologias. nais de campo e os capacitamos na ferramen-
Iniciamos o uso de ferramentas BIM no ano ta BIM 360 da Autodesk, o que possibilitou a
digitalização de processos, que antes ocupa-
de 2009, focados em apoiar estudos técnicos
vam pilhas de papel e assinaturas, e a integra-
e elaborar projetos em 3D, sendo chamado
ção entre diferentes áreas que trabalham em
de engenharia virtual. Em 2014, evoluímos um mesmo projeto – das pontas às lideranças.
no processo e partimos para praticar a cons-
Os nossos profissionais nos canteiros de
trução virtual, momento em que inserimos o
obras têm acesso a projetos executivos, do-
uso de BIM voltado ao planejamento (4D) e à cumentos técnicos, modelos 3D e 4D e traba-
construtibilidade. lham de forma colaborativa apontando inter-
No ano de 2018, levamos a construção vir- ferências e notificando outros profissionais.
tual para os canteiros das obras; com isso, Tanto os profissionais nos canteiros quanto
Imagens: divulgação
UMA QUESTÃO DE
VIDA OU MORTE
A
• Ivan Metran Whately*
pandemia impôs mudanças nos cos- dos novos processos de projeto e execução.
tumes e na vida das pessoas em todo Desde o período da Renascença até os dias
o mundo. As que não se adaptam aos atuais, o mundo passou por enormes transfor-
protocolos universais de higiene e mações tecnológicas. Principalmente nos últi-
saúde correm risco de vida. Na natureza, não mos 150 anos, houve um salto em termos de
são as espécies mais fortes que sobrevivem. As novos materiais e métodos de construção.
que resistem são aquelas que mais se adaptam
Evoluímos e inovamos totalmente as técni-
às alterações em seus ambientes, segundo a
cas de construção, mas durante séculos dese-
Teoria da Evolução de Charles Darwin. Com
nhamos nossos projetos em duas dimensões
todo respeito, mas forçando um paralelismo
– plantas, elevações, vistas e cortes – mais ou
com a arquitetura e a engenharia, aqueles que
menos como representava Brunelleschi na Re-
não se adaptarem à evolução tecnológica do
nascença. Isso é um exagero? Sim, houve muita
mundo serão espécies em extinção.
evolução: inventou-se a prancheta, adaptaram-
Por muitos e muitos anos, os profissionais -se os esquadros e as réguas para uso em cima
da construção desenvolveram seus proje- delas, aperfeiçoaram-se a régua T e a paralela,
tos e tocaram suas obras utilizando técnicas e até sofisticando as técnicas, inventaram-se o
centenárias, desenhos, modelos reduzidos, tecnígrafo, o normógrafo, o tira-linhas e as ca-
sempre contando com a genialidade de cada netas tinteiro.
profissional. Houve uma grande evolução após
a Idade Média, quando os conceitos da geo- Todas as especialidades de arquitetura e
metria e as regras da perspectiva dos gregos e engenharia trabalhavam com essas técnicas e
romanos foram redescobertos. cada uma no seu nicho, independentemente
uma da outra.
Um exemplo de genialidade e de adaptação
às mudanças tecnológicas de seu tempo foi o Eis que surgiu uma grande evolução tecnoló-
arquiteto e construtor fiorentino Felippo Bru- gica nos anos 1980. Todas as técnicas analógicas
nelleschi. No século XV, ele aproveitou os con- foram, paulatinamente, substituídas por novas
ceitos de cálculo e de geometria linear ensina- tecnologias digitais e os projetos migraram para
dos pelo matemático Paolo dal Pozzo Toscarelli, software tipo AutoCAD, ou similares. Arquitetos
retomou as técnicas da perspectiva cônica dos e engenheiros de todas as áreas que não se inte-
gregos e romanos e aprimorou o método dos graram às inovações tecnológicas ficaram para
pontos de fuga. A sua grande obra, mundial- trás, perderam espaço, sucumbiram.
mente conhecida, é a cúpula da catedral Santa Entretanto, até recentemente, mesmo traba-
Maria del Fiore, em Florença, Itália, executada lhando com o inovador meio eletrônico, muitos
em 1434. Essa obra foi resultado de uma no- profissionais continuavam a projetar em 2D, ou
tável evolução tecnológica, tanto por ser a pri- seja, plantas, cortes e elevações. Tanto antes
meira cúpula de grandes dimensões construí- quanto depois da introdução do meio eletrô-
da sobre uma base octogonal quanto pelo uso nico nos projetos, as especialidades permane-
ceram com suas técnicas, sendo que as inter- durante a execução e as interferências entre as
ferências entre as especialidades – como entre disciplinas são detectadas na etapa de projeto,
as especialidades de hidráulica e estrutura, que evitando o retrabalho, atrasos e a necessidade
fazem perder muito tempo nas fases de proje- de prorrogação dos contratos com aumento
to e de obras – eram detectadas por meio de dos custos e, eventualmente, a corrupção.
layers, com diversas cópias em papel mais ca- Esta filosofia de trabalho, em fase de adoção
netas hidrocor, causando prejuízos, impreci- em todo o mundo, já se tornou obrigatória, por
sões, descumprimento de cronogramas e adi- força de dispositivos legais, em alguns países,
tamentos de contratos. como Inglaterra, na Europa, e Chile, na América
Eis que nos anos 2000, com o desenvolvi- do Sul. No Brasil, recentemente, foi publicado
mento de um modelo digital 3D, surgiu um um decreto federal, em 2 de abril de 2020, que
processo progressivo de projetar e construir estabeleceu a utilização do BIM na execução
que integra de maneira colaborativa arquite- direta ou indireta de obras e serviços de enge-
tos e engenheiros de todas as disciplinas com nharia realizados pelos órgãos e pelas entida-
geometria precisa da edificação e um banco de des da administração pública federal.
informações sobre as características dos mate- A implementação das novas tecnologias pro-
riais, elementos construtivos e custos a serem picia resultados positivos de grande proveito
usados em todo o ciclo de vida da obra, ou para o desenvolvimento do Brasil em todos os
seja, projeto, planejamento da obra, orçamen- setores da economia. A inserção dos profissio-
to, execução, operação, manutenção, retrofit e nais da construção nas novas tecnologias de-
até a demolição do empreendimento. pende de circunstâncias e contexto dinâmicos.
Esse processo, denominado BIM, também Depende, sobretudo, da inciativa dos profissio-
chamado em português de Modelagem da nais de aperfeiçoarem suas carreiras.
Informação da Construção, é uma plataforma O desenvolvimento de cada nação está con-
única de informações e processos interativos. dicionado à capacidade de ajustamento do go-
O que mais diferencia o processo BIM de tudo verno e sociedade às potencialidades e estra-
o que fazíamos até então é a modelagem in- tégias que se apresentam. Neste momento de
dexada, cujos parâmetros identificam todos os pandemia e de profunda crise econômica, pre-
elementos do projeto. Outra peculiaridade do cisamos, mais do que nunca, da contribuição
processo é a colaboração entre os profissionais dos arquitetos e engenheiros para impulsionar
de todas as especialidades em torno do mes- o desenvolvimento do Brasil por meio do se-
mo modelo digital em todas as suas interações. tor de construção, mediante a adequação dos
Trata-se da modelagem de uma construção nossos profissionais à evolução e à inovação in-
que conta com processos associados de análi- troduzidas pelo processo BIM ou pelo meio di-
se, comunicação e execução. gital. Sem esta tecnologia será muito difícil sair
Muitos colegas se aproximaram do BIM por desta ou de qualquer outra crise.
conveniência, tanto pela exatidão das informa-
ções quanto pela redução do tempo e custo *Ivan M. Whately é consultor em planejamento de transporte e diretor
das suas obras. Com esse processo, os quan- do Departamento de Engenharia da Mobilidade e Logística do Instituto
titativos e orçamentos não trazem surpresas de Engenharia.
LEILÃO DE 5G VAI
FACILITAR AVANÇO DE
CIDADES INTELIGENTES
PRIMEIRA FASE DO PROGRAMA BRASILEIRO DE CIDADES INTELIGENTES
SUSTENTÁVEIS DEVE SER FINALIZADA ATÉ OUTUBRO
O
Brasil pode estar a poucos meses e promissoras da sociedade civil, principal-
de importantes passos para se tor- mente do meio acadêmico, prometem bons
nar um país com um ambiente mais exemplos nesse segmento. É o caso da rede
amigável e favorável para o desen- Inteligência Artificial Recriando Ambientes
volvimento de cidades inteligentes. Apesar (IARA), que integra mais de 30 universidades
da distância que ainda nos separa dos países do Brasil e do exterior, além de prefeituras e
de primeiro mundo quando o assunto é smart da iniciativa privada. O objetivo da empreita-
cities, nos próximos seis meses o cenário deve da é criar condições para o desenvolvimen-
ter alterações importantes com a realização do to de projetos que transformem cidades em
leilão das frequências do 5G, a quinta geração smart cities com a utilização de tecnologias
da internet móvel, e a nova fase do Programa como Inteligência Artificial e Internet das Coi-
Brasileiro de Cidades Inteligentes Sustentá- sas para gerar eficiência na gestão e operação
veis, que estava sob a responsabilidade do urbana, crescimento econômico e melhora da
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações qualidade de vida da população. “Toda preo-
e Comunicações e agora, pelo menos em um cupação de uso de tecnologia deve ter a so-
primeiro momento, é de responsabilidade do ciedade como meta, de melhorar a vida das
Ministério das Comunicações. A pasta foi re- pessoas”, afirma o pesquisador André Carlos
criada no último mês de junho pela Medida Ponce de Leon Ferreira de Carvalho, professor
Provisória 980/20 e herdou parte da estru- do Instituto de Ciências Matemáticas e Com-
tura e atribuições do ministério comandado putação da USP São Carlos, onde trabalha na
pelo ex-astronauta Marcos Pontes, entre elas área de Inteligência Artificial, e um dos coor-
o Departamento de Inclusão Digital, que está denadores do IARA.
à frente do programa de cidades inteligentes. Um cenário mais próximo do ideal para o
O ambiente para as smart cities não está mais desenvolvimento de cidades inteligentes, no
favorável apenas por conta do viés da gestão entanto, passa pela resolução de problemas
pública, muitas vezes influenciado pelos ven- básicos, além da implantação da rede 5G. “O
tos político-partidários, que podem desmobi- principal entrave é a infraestrutura. Você pre-
lizar ou reduzir a marcha de projetos de um cisa de uma cidade dotada de sensores para
momento para outro. Iniciativas interessantes transferir dados de um ponto para outro. É
Fotos: divulgação
Trata Brasil, cerca de 16% da população brasi- diretor do Departamento de
leira não é abastecida com água tratada e 47% Inclusão Digital
não têm acesso a esgoto.
Mas, em termos de tecnologia, o que preo-
cupa é a chegada da rede 5G. E isso, por en-
quanto, está previsto para o primeiro trimestre Inteligentes Sustentáveis. A previsão é de que
de 2021. A evolução do processo de licitação o edital abra disputa para quatro faixas de ra-
esbarrou, como quase tudo neste ano, nas res- diofrequência: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e
trições causadas pela pandemia do coronaví- 26 GHz. O leilão de 5G também é cercado por
rus. Testes que eram realizados pela Agência pressões internacionais, com a disputa entre
Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre China e Estados Unidos pelo mercado brasi-
a conveniência de frequência com antenas pa- leiro, que pode atrair R$ 180 bilhões em inves-
rabólicas de TV foram paralisados. “Essa ques- timentos para o país. “O embaixador ameri-
tão dos estudos da Anatel sobre a mitigação cano já se manifestou, e disse que o Brasil vai
da interferência da frequência 5G nas parabó- encarar muita resistência dos Estados Unidos
licas sem filtro atrasou um pouco a finalização se optar pela China. Eu confesso que seria
do edital”, afirma o diretor do Departamen- melhor ter uma solução híbrida”, opina Robert
to de Inclusão Digital, Wilson Diniz Wellisch, Janssen, vice-presidente de relações interna-
um dos interlocutores do governo federal na cionais da Associação das Empresas Brasilei-
questão do Programa Brasileiro de Cidades ras de Tecnologia da Informação (Assespro) e
REPENSANDO
AS CIDADES
INTELIGENTES
• Antonio Pedro Timoszczuk, Flavio Tonidandel, Lawrence Chung Koo*
O
despertador toca. Laura, que é exe-
cutiva de uma grande multinacional
com alguns milhares de funcionários
e diversos escritórios espalhados ao
redor do mundo, com um gesto, silencia o des- Essa nova situação acelerou a denominada
pertador e assim começa mais um dia. Após transformação digital, o que fez com que o
passar pelo quarto das crianças e acordá-las, modo de executar diversas atividades sofres-
vai para a cozinha, toma seu café e sai rapida- se uma mudança radical. Há quem diga que
mente, pois tem uma reunião com os escritó- em 50 dias avançamos 5 anos na implantação
rios de Berlim, Paris e São Francisco. Dá alguns da transformação digital. O trabalho em casa,
passos pela galeria do apartamento em que o home office, antes debatido de forma polê-
reside e entra no seu escritório. No monitor já mica, mostrou-se como única alternativa viável
estão presentes os seus colegas e a reunião co- para manter diversas empresas operando. No
meça. Depois de uma hora, ela deixa a reunião comércio, que caminhava para a versão online
e vai verificar se os filhos estão na escola, as- a passos largos, subitamente pequenos esta-
sistindo às aulas remotas, em seus quartos. Em belecimentos tiveram de se adaptar para tra-
seguida, vai para o computador e verifica a lis- balhar na modalidade de entregas – o delivery.
ta de compras e encaminha o pedido para seu As escolas tiveram de adaptar suas aulas, para
supermercado de preferência. Esse se tornou o que pudessem ser realizadas de forma remo-
novo normal para muitas pessoas. ta, exigindo esforço por parte de professores e
alunos. Subitamente, o lazer, os encontros nas
O que está mudando e o que já mudou baladas, as torcidas nos estádios e ginásios fo-
O momento atual, dada a pandemia, deslocou ram cerceados e novas formas de encontros,
o eixo do considerado normal para um outro pa- de assistir e interagir com os eventos, começa-
tamar. O conceito de espaço privado, a noção ram a surgir.
da rotina da casa para o trabalho, do trabalho Nunca foram vendidas tantas webcams! De
para casa e o lazer sofreram profundas mudan- repente, os cômodos das casas começaram
ças. Mudanças em função das precauções para a virar pequenos estúdios, escritórios, salas
diminuir o ritmo de propagação da doença alte- de aula. Uma mudança social está em curso.
raram diversos comportamentos sociais. O senso de comunidade, que é comum nas
Com amplo Know-How nos segmentos de Saneamento, Meio Ambiente, Recursos Hídricos,
Desenvolvimento Urbano e Gerenciamento de Projetos e Empreendimentos, é reconhecida pela
experiência, seriedade e qualidade de seus serviços.
Pioneira no desenvolvimento de metodologias para estudos e projetos em BIM no saneamento,
oferece soluções para obras localizadas e lineares. Desde 2014 desenvolve projetos de estações de
tratamento de água e euentes com base em modelagem paramétrica e adoção de práticas de
interoperabilidade e colaboração intensa entre disciplinas.
JNS
Avenida Pedroso de Morais, 433 10º e 11º andares - Pinheiros ENGENHARIA,
CEP 05419-902 - São Paulo - SP - Brasil Telefone: +55 11 3039-1166 CONSULTORIA E
site www.jnsengenharia.com.br GERENCIAMENTO LTDA
Artigo
SMARTCAMPUS:
DEMOCRATIZANDO A IOT
• Por Prof. Dr. José Carlos de Souza Junior*
P
or mais de uma vez, eu tive o prazer de Fruto do apoio do Centro de Pesquisas do
palestrar no Instituto de Engenharia so- IMT, de diversos estudantes e de empresas
bre a IoT (Internet of Things – Internet parceiras, o campus do IMT de São Caetano
das Coisas) e sua importância como tec- do Sul é atualmente coberto por diferentes
nologia habilitadora, que deve receber aten- tecnologias de conectividade (destaque espe-
ção na formação do engenheiro. Quando da cial para tecnologias LPWAN – Low Power Wide
introdução do tema no Centro Universitário do Area Network) e toda uma estrutura de supor-
Instituto Mauá de Tecnologia (CEUN-IMT) anos te desenvolvida para que qualquer estudante,
atrás, ficou evidente a adesão dos cursos das independentemente do seu curso, possa fazer
áreas de eletroeletrônica, computação e con- uso da IoT como meio de resolução do proble-
trole-automação. Essa resposta, já esperada, ma que identificou em sua área de atuação.
refletia a abordagem excessivamente compar- As redes LPWAN, como LoRaWANTM e Sig-
timentalizada do conhecimento que ainda ron- fox, embora relativamente recentes no país, já
da nossas instituições de ensino. possibilitam vislumbrar o potencial que a IoT
Muito embora os estudantes dos cursos su- encontra no mercado de aplicações de baixo
pracitados tivessem maior domínio das tecno- consumo e longo alcance (características al-
cançadas em detrimento da banda de dados).
logias envolvidas com a IoT, seus colegas dos
Em um movimento pioneiro no Brasil, a Ame-
cursos de produção, mecânica, química, ali-
rican Tower, que tem parceria com o IMT, é
mentos, civil tinham uma infinidade de diferen-
fornecedora de uma rede neutra LoRaWANTM,
tes oportunidades de aplicação da IoT.
que já cobre mais de 50% do PIB brasileiro e
A IoT carrega a transversalidade de conheci- está em expansão. Isso permite que soluções
mentos que defendemos como forma de en- desenvolvidas no campus possam ser aplica-
sino-aprendizagem, sendo mandatório que se das em grande parte do território nacional sem
exercite a colaboração entre diferentes áreas a necessidade da implantação de uma rede
do conhecimento para a obtenção de soluções própria.
de valor. O resultado positivo desta cultura já pode
Com o objetivo de possibilitar e fomentar ser observado no elevado número (> 15%) de
a IoT como meio de resolução de problemas Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que
reais e não somente como desafio tecnológi- utilizam da IoT como “meio” para a resolução
co, foi criado o SmartCampus. Trata-se de um de problemas fortemente ligados às áreas de
ambiente de interação e suporte para os diver- química, alimentos, civil, mecânica, produção,
sos cursos do CEUN-IMT e aberto para toda a gestão, design, entre outras.
sociedade interessada em aplicar IoT na solu- O SmartCampus faz com que o campus seja
ção dos mais variados desafios. visto como um grande laboratório de aplicações,
5G – HABILITANDO A
TRANSFORMAÇÃO DAS
INDÚSTRIAS E DA SOCIEDADE
U
• Gilson Cereda e Paulo Bernardocki*
NOVOS HORIZONTES
PARA A ENGENHARIA
CURSOS E TREINAMENTOS PREPARAM ENGENHEIROS E PROFISSIONAIS
DA ÁREA PARA USO CRESCENTE DA METODOLOGIA BIM
A
s técnicas de construção desenvolvi- Para ele, o BIM é parte também do conjun-
das pelos povos ao longo dos tem- to de inovações da chamada Indústria 4.0.
pos tinham como objetivo aproximar Como tendência devem surgir sensores de
a ideia concebida na imaginação alta tecnologia para continuar alimentando
com a obra pronta. Foram várias as limitações o banco de dados do modelo criado para as
e os entraves que mantiveram afastados o que edificações.
foi “pensado” do que foi “construído” até o “A tecnologia de sensores vai se acoplar ao
surgimento, em meados dos anos 1970, do
modelo digital desenvolvido. A edificação
conceito de Building Information Modeling
virtual será idêntica, em todos os sentidos, à
(BIM), nos Estados Unidos.
edificação real (gêmeo digital), facilitando a
O BIM é um banco de dados completo atre- comparação de dados, as manutenções e o
lado a ferramentas de construção em 3D, que acompanhamento do uso”, afirma.
permitem uma infinidade de simulações, cál-
O conceito BIM amplia também o potencial
culos e projeções eficientes para o planeja-
mento, a construção e também para a manu- cooperativo dos projetos, pois permite que
tenção das edificações. vários desenvolvedores atuem simultanea-
mente no projeto. Os dados e as atualizações
Com informações mais precisas sobre o
são armazenados em nuvem e compartilha-
modelo de construção proposto, é muito
dos por todos. A nuvem é uma tecnologia
mais fácil projetar, corrigir erros e economizar
que permite o “estoque” de grande quanti-
tempo e dinheiro. “É um modelo digital que
dade de dados em um servidor online.
tem todas as informações disponíveis sobre
o empreendimento: as características físicas, “Dentro dos escritórios de engenharia o
técnicas, prazos e custos. Um exemplo de uso BIM já é compartilhado entre as equipes com
é quando combinamos o tempo de execução muita eficiência. Vejo que essa cooperação
e a composição do custo relacionada ao ob- pode envolver empresas e até países em
jeto. Dessa forma, temos uma linha do tem- projetos grandes”, disse Valente, responsável
po da construção com o ciclo financeiro vir- pelo projeto em BIM da reforma e ampliação
tual”, diz o engenheiro Guilherme Valente, da do aeroporto Coronel Altino Machado, em
GVBIM, de Governador Valadares (MG). Governador Valadares (MG), obra integrante
o BIM. O engenheiro Alexandre Pasquini Pra- e eventos por ano. Para ele, a experiência
xedes é um exemplo de profissional que fez trouxe conhecimento e abriu caminho para o
essa migração ao longo da carreira. contato com outros profissionais da área com
“Desde criança, já gostava de engenharia, interesses em comum.
apesar de ainda não saber naquela época que “O curso foi muito bom porque uniu a teo-
se tratava de tal. Gostava muito de construir, ria e a prática em todos os módulos. Logo na
criar e montar coisas, principalmente com primeira aula, fomos apresentados ao nos-
Lego. Na época de vestibulares, sempre pro-
so dataset, um projeto fictício de um trecho
curei os cursos de engenharia e me graduei
rodoviário contendo uma obra de arte e um
em engenharia ambiental em 2007. Em 2011,
tive meu primeiro contato direto com uma túnel e, durante as aulas, íamos aplicando
obra de grande porte quando fui trabalhar na todos os conceitos apresentados neste pro-
construção de um lote da Ferrovia Norte Sul jeto. Além disso, o curso proporcionou um
(140 km) e lá tive a certeza de que iria construir importante network e benchmark, uma vez
minha carreira profissional no segmento da que tinham alunos de diversas empresas e
engenharia e construção”, conta o engenhei- segmentos da engenharia, como gerencia-
ro, que hoje é coordenador de implantação da doras, construtoras, projetistas e concessio-
Concremat Engenharia e Tecnologia. nárias” diz o engenheiro, que é integrante
Praxedes fez o curso de BIM do Instituto de do Comitê BIM para Infraestrutura da Câma-
Engenharia, que realiza mais de 160 cursos ra Brasileira de BIM (CBIM).
CURSO DE
ESPECIALIZAÇÃO EM BIM
• Por Marcelo Nonato e Edna Frazillio*
O
Instituto de Engenha- O que é ensinado
PRECISO APRENDER
BIM! E AGORA?
• José Carlos Lino e Claudius Barbosa*
A
s universidades, naturalmente vin- nientes se encontram em locais distintos, e o
culadas aos sistemas convencionais ensino assíncrono, em que é preparado um
de ensino, tardaram a acordar para pacote de informação que o aluno pode con-
esta realidade, não só pela confu- sultar e explorar, à sua velocidade e no tempo
são subliminar que vigorou de que BIM é sof que mais lhe convier. A disponibilidade para
tware, mas também pela estrutura do corpo aprender ao ritmo e tendo em conta a dis-
docente e respectivos órgãos de gestão pe- ponibilidade de cada um é uma das grandes
dagógica, com ainda pouco conhecimento vantagens do ensino assíncrono; no entanto,
e experiência nestas áreas muito recentes, o no ensino online síncrono, temos a rara opor-
que dificulta a aceitação e adoção destes no- tunidade de contactar, ao vivo, com mestres
vos conceitos, bem como os inerentes novos em sabedoria, conhecimentos ou experiência,
modos de ensinar. com os quais dificilmente nós cruzaríamos ao
Diversos cursos e treinamentos profissionais, longo da nossa vida.
voltados para técnicos e profissionais, em for-
matos online ou presenciais, de curta ou longa E sobre o conteúdo?
duração, generalistas ou de especialização, Ao escolher um curso BIM, o profissional
gratuitos ou pagos, surgiram no mercado, para deverá garantir que o seu conteúdo progra-
todos os gostos e carteiras. E a procura está aí mático se adequa ao objetivo que pretende
e continua a aumentar. Então como separar o atingir com essa formação, que é, em última
trigo do joio? Qual formação escolher? instância, a capacitação que procura adqui-
rir. Dependerá muito se estamos falando de
Formato a adotar? treinar competências de nível mais gerencial,
mais estratégicas, ou de competências mais
O formato virtual vem proporcionar um enor-
operativas e de aplicação prática imediata.
me passo na democratização do ensino que De qualquer modo, a compreensão: i) do que
até aqui tinha estado limitado aos grandes é esse novo conceito; ii) do seu enquadra-
centros e às universidades. Em contraponto, é mento nos programas de normalização e le-
preciso avaliar as limitações e os condicionan- gislação, quer nacionais, quer internacionais;
tes no acesso a uma rede com internet que po- e iii) das suas funcionalidades e usos, ainda
derão condicionar parcial ou totalmente estas que básica e em outras áreas vizinhas, são es-
aspirações. senciais de abordar antes de se aprofundar
No online, podemos distinguir entre ensi- nesta ou naquela habilidade, ferramenta ou
no síncrono, em que é imitada uma aula pre- competência, como é tão típico do chamado
sencial ou uma apresentação, mas os interve- ensino de competências “em T”: depois de
de trabalho, em que cada um possa assu- a procurar soluções muito mais baratas ou,
mir papel ou perfil BIM neste processo. Esse preferencialmente, gratuitas, desvirtuando os
modo de trabalhar e de partilhar permite a princípios desta modalidade.
multiaprendizagem, promove a interajuda e
O mercado do gratuito, por exemplo, o Có-
leva ao networking. Em última instância, essa
digo Aberto, tem as suas particularidades, que
necessidade de colaborar à distância, estimula
têm sido distorcidas, precisamente por essas
a interação, garantindo um alcance alargado
a profissionais espalhados por vários países e disparidades econômicas. Os princípios do
continentes, que se traduz numa rede de se- software livre, por exemplo, regem-se por li-
guidores BIM que, compreendendo o seu va- vres trocas de valores: dou à comunidade o
lor intrínseco e dominando os seus princípios código do software que desenvolvi e que criei,
e objetivos, acabam por ser os principais em- mas recebo a possibilidade de acessar muitos
baixadores, responsáveis pela sua propaga- outros produtos de iguais dadores.
ção e implementação.
Em suma
E quanto ao preço? No ensino e treinamento do BIM, dada a mul-
O preço deverá corresponder sempre a tiplicidade de opções que o mercado nos ofe-
uma troca de valor que dependerá do que se rece, somos confrontados com a possibilidade
está oferecendo. Essa troca de valor é mui-
de acesso a produtos de alto padrão conco-
tas vezes distorcida, seja a nível externo, pelo
mitantemente com a proliferação de produtos
chamado valor de mercado (devido a con-
menos cuidados ou mais especulativos. É a lei
corrências desenfreadas), seja a nível interno,
pela imputação de custos de uma alocação da oportunidade funcionando. Cabe-nos ser
de recursos não necessariamente beneficia- capazes de avaliar criticamente essa oferta e
dos pelo cliente. estudar o seu potencial nos múltiplos níveis
Outro fator de distorção surge também da que necessitamos, dados os nossos objetivos
diferença de esforço que significa para um de curto, médio e longo prazo, bem como os
profissional adquirir um software internacional recursos de tempo e investimento que preten-
ou uma infraestrutura tecnológica, quando in- demos aplicar.
serido na economia do país A ou do país B. A consolidação dos processos de contrata-
Qualquer profissional honrado, advoga como ção BIM nacionais e internacionais em breve
essencial e correto o investimento em ferra- conduzirá a necessidade de avaliação e classi-
mentas tecnológicas, as quais lhe permitirão ficação das competências e da experiência dos
o desenvolvimento do serviço pelo qual, mais
profissionais e das organizações. Futuramente,
tarde, o profissional se cobrará e em que ba-
essa certificação não será desconsiderada.
seará o seu negócio. No entanto, infelizmen-
te, muitos profissionais que trabalham em
mercados de preços esmagados, confronta- *José Carlos Lino (Universidade do Minho; NossoBIM Global Educa-
dos numa luta desigual pela sobrevivência e tion) e Claudius Barbosa (Escola Politécnica da USP; NossoBIM Global
pela sustentabilidade do negócio, são levados Education)
OBRAS PÚBLICAS
ENTRAM DE VEZ
NA ERA BIM
GOVERNO E MERCADO SE PREPARAM PARA IMPLANTAÇÃO DO BIM,
QUE SERÁ OBRIGATÓRIO A PARTIR DE 2021 EM OBRAS PÚBLICAS
T
endência mundial estimulada pelo “Para o setor público, quando os responsáveis
avanço do mercado e por medidas to- estão envolvidos, e não esperam só chegar o
madas pelos governos, a tecnologia pacote de projetos, consegue-se alcançar uma
Building Information Modeling (BIM) transparência a que ainda não estamos acos-
tem proporcionado ao setor da construção tumados”, afirma Gustavo Carezzato, diretor da
civil índices cada vez menores de falhas e Graphisoft na América Latina, empresa desen-
uma grande otimização de recursos (inclusive volvedora do programa Archicad.
de tempo). E dentro dessa perspectiva de uso inteli-
Quando bem implementadas, as ações BIM gente de recursos, a implantação do BIM se
resultam em importantes melhorias nos proje- mostra urgente. No setor público, a modela-
tos, elevam o nível de precisão de orçamentos gem da informação deve se tornar regra. Ela
e planejamentos, reduzem erros e garantem já era adotada por meio da iniciativa indivi-
mais eficiência na execução das obras. A mé- dual de órgãos e entidades estatais, mas ago-
dio e longo prazos, se refletem em redução de ra chega de forma mais contundente com o
custos e tempo e contribuem para maior trans- Decreto Federal 10.306, que coloca o Minis-
parência nas contratações públicas. tério da Defesa e o Ministério da Infraestru-
tura como carros-chefes dessa evolução das
O engenheiro civil Wilton Catelani, consul-
obras públicas no país.
tor BIM da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC), usa o termo “solução BIM”
ao explicar o uso desse conjunto de métodos Estímulo à transformação
e ferramentas. “Eles permitem o desenvolvi- Evoluir para ter mais eficiência e produtivi-
mento de soluções mais bem coordenadas, dade é caminho sem volta em qualquer setor
facilitando a execução das obras, evitando econômico e, nessa direção, muitos profissio-
improvisos, diminuindo os riscos e aumen- nais, empresas e órgãos públicos já deram os
tando a previsibilidade”, detalha. primeiros passos.
Sinaenco
engenheiro civil e de Modernização Industrial do
consultor BIM da Câmara Ministério da Economia, que
Brasileira da Indústria da preside o Comitê Gestor da
Construção (CBIC) Estratégia BIM BR
Assessoria
Em 2011, houve a tentativa de implantar
o BIM em obras e projetos do Departamen- Gustavo Carezzato,
to Nacional de Infraestrutura de Transportes diretor da Graphisoft na
(DNIT), ligado ao Ministério da Infraestrutura, América Latina
que pouco avançou.
Mas o aprendizado serviu para que, em 2020,
o DNIT passasse a coordenar um dos cinco Adriana Arruda, coordenadora de Moderniza-
programas que irão encabeçar a mudança das ção Industrial do Ministério da Economia, que
licitações de obras de construção, abrindo o preside o Comitê Gestor da Estratégia BIM BR.
caminho para todo o poder público alavancar Os programas são: Proarte, sob responsa-
a transformação do mercado. bilidade do DNIT; PAR (Programa de Aviação
Os programas-pilotos do decreto foram es- Regional), da Secretaria de Aviação Civil; e os
colhidos a partir da Estratégia BIM BR, que outros três são de responsabilidade de cada
em 2019 definiu nove objetivos a serem al- uma das Forças Armadas.
cançados por seu Comitê Gestor, presidido
pelo Ministério da Economia. Entre eles, está Fases da implantação
a estruturação do setor público para usar a A partir de janeiro de 2021, com a primeira
modelagem de informações. fase da implantação, os órgãos devem utilizar
“São cinco programas-piloto em que é obri- a modelagem de informações para desen-
gatória a adoção do BIM. Decidimos fazer de volver projetos de arquitetura e engenharia,
forma escalonada para que o governo possa tanto em construções novas como em am-
se estruturar para implementar de forma mais pliações e reabilitações, quando elas forem
sólida. Nos outros programas do governo fe- consideradas de grande relevância para a
deral, essa adoção será facultativa”, explica disseminação do BIM.
Assessoria
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José
Romeu Ferraz Neto diz que na iniciativa priva-
da já é possível perceber um forte movimento
para implantar o BIM. Fabricantes de mate- para todas as equipes e essas equipes preci-
riais, por exemplo, têm investido na criação sam fazer a revisões e alterações necessárias.
de bibliotecas de produtos, e as empresas em Por isso, redução de erros e transparência no
geral buscam capacitação profissional. processo são os primeiros ganhos”, define Ca-
Os investimentos não são baixos e vão além rezzato.
de licenciar ferramentas e trocar equipamen- Para incentivar que micro e pequenas em-
tos, mas os custos costumam ser pagos já no presas e profissionais autônomos adotem o
desenvolvimento dos primeiros projetos, se- BIM, o Ministério da Economia tem como meta
gundo avalia Wilton Catelani. a produção de estudos para conceder incen-
Ferraz Neto ressalta que o custo inicial é o tivos fiscais e creditícios. O BNDES deve ser o
da aquisição de hardware e software, além de responsável por uma possível linha de crédito
capacitação, que é uma preocupação em es- para esse segmento.
pecial para as empresas de pequeno porte e O Departamento da Indústria da Construção
profissionais autônomos, porém são reverti- e Mineração da Fiesp é favorável às linhas de
dos em importantes ganhos. financiamento com taxas de juros atrativas e
“Redução de retrabalhos nos projetos, iden- também defende ações voltadas à redução da
tificação e resolução de interferências antes da carga tributária incidente sobre os softwares,
execução da obra, maior transparência nos pro- pautas que também são do BIM Fórum.
cessos licitatórios, melhor controle nas etapas
de orçamento, planejamento e gerenciamento,
que consequentemente, impactarão na redução BIM Fórum Brasil terá
do custo final do empreendimento, inclusive na sede em São Paulo
gestão das futuras manutenções”, detalha. O Conselho Administrativo Interino, forma-
Os valores da implantação podem variar do pelos oito especialistas BIM que partici-
de acordo com o grau de maturidade das param do desenvolvimento da Estratégia BIM
empresas e dos profissionais com o BIM, da BR, anunciou que a criação do BIM Fórum Bra-
amplitude do uso da tecnologia e do tipo de sil está prestes a ocorrer.
empreendimento (residencial, comercial, in- Com sede na capital de São Paulo, a entidade
dustrial, infraestrutura). está na fase de finalização do estatuto definitivo e
“Com o BIM, diversos profissionais no mes- criação de CNPJ, e foi lançada no dia 28 de agos-
mo modelo têm a potencialidade de enxergar to. O objetivo do Fórum, que não terá fins lucrati-
equívocos ao mesmo tempo. No convencional, vos, é unir e representar os principais agentes da
só é possível ser verificado pelo profissional indústria da construção, com intuito de coorde-
que vai fazer a compatibilização do projeto. E nar as ações de adoção do BIM no país.
o que acontece? Ele precisa fazer a notificação Sete segmentos estarão representados no
Fórum por meio de colegiados, entre eles pro- O Fórum terá o papel de alinhar as iniciati-
prietários, incorporadores e investidores; go- vas existentes no país, com discussões para
vernos; escritórios de projetos; fabricantes e desenvolver padrões, protocolos e referências
desenvolvedores de softwares. técnicas. Exemplos de países onde o uso do
“A organização foi definida para ser a mais BIM está mais avançado confirmam a impor-
abrangente possível, tomando como base um tância da existência desse tipo de organização.
estudo que pesquisou mais de 40 entidades “Já que todos vão precisar fazer mudanças e
correlatas existentes em diversos outros países”, ajustar seus processos e seus fluxos de traba-
explica Catelani. lho, é lógico que o façam a partir de premissas
TECNOLOGIA É ALIADA
DA PRESERVAÇÃO
DO PATRIMÔNIO
MODELO EM BIM POSSIBILITA REGISTRO DIGITAL DE
MEMÓRIA DA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA
F
azia calor em Roma na tarde de agos- de virtual, e, no fim, de volta para o presente,
to de 2018. Depois de se acotovelar porque saindo dali estávamos de volta aos
em meio às multidões de turistas que turistas e ao calor”, diz Priscila.
visitavam o Coliseu, a arquiteta Priscila Para a arquiteta, a visita não foi especial ape-
Besen, de repente, foi transportada para uma nas do ponto vista de turismo: a empresa na
realidade completamente diferente. A poucos qual trabalha, a neozelandesa Woods, é uma
metros dali, no subsolo das ruínas das Termas das pioneiras do país no setor de mapeamen-
de Trajano, foi como se tivesse entrado em um to 3D de edificações – entre elas de patrimô-
túnel do tempo para a Roma de 64 d.C. Estava nio histórico, visto que, desde 2011, após um
no ambiente fresco e vazio da Casa Dourada, terremoto que devastou a cidade de Christ-
palácio desenhado pelo imperador Nero de- church e derrubou diversas construções anti-
pois do grande incêndio que devastou a cida- gas, o governo do país lançou um programa
de e que vem sendo recuperado em um longo para reformas estruturais preventivas.
processo de escavações e restaurações. “A preservação de prédios históricos traz
No ambiente ainda bastante degradado, muitos benefícios, como a valorização da his-
Priscila não via paredes desgastadas pelo tória local, da cultura, além de permitir que as
tempo. Pelo contrário, era a riqueza de de- gerações futuras conheçam como as pessoas
talhes, com afrescos e adornos de ouro, que viviam”, diz Priscila, que também é doutoran-
chamava a sua atenção. A grama ao redor do da na Universidade de Auckland, onde estu-
palácio era tão verde e refrescante que por da maneiras de integrar a reforma estrutural
reflexo sentiu vontade de tocá-la. É que gra- das construções históricas para terremoto à
ças ao mapeamento em 3D do local, combi- melhoria do desempenho energético delas.
nado à uma tecnologia de realidade virtual “Mas também já sabemos que, além desses
com recursos geoespaciais, esse tour imersi- benefícios, é também importante para o ur-
vo por um dos patrimônios de Roma se tor- banismo.” Ela cita Jane Jacobs, ativista e es-
nou possível. “Foi como se tivesse sido trans- critora canadense, autora do livro “Morte e
portada para dois mil anos atrás e, ao mesmo Vida de Grandes Cidades”, no qual critica as
tempo, para o futuro, onde tudo seria realida- práticas de urbanização nas cidades norte-a-
BIM x CAD
Característica BIM CAD
Modelo integrado, paramétrico e baseado em dados? Sim Não
2007, 28% das empresas na América do Norte vigor o Decreto nº 9.377, que, entre outras me-
usavam a tecnologia. Cinco anos depois, em didas, determina a exigência de modelagem
2012, o número saltou para 71%. Atualmente, 3D em projetos de arquitetura e engenharia a
países como Estados Unidos, Reino Unido, Ho- partir de 2021. A expectativa é de que, com
landa e Finlândia já não permitem que novas isso, pelo menos metade do setor use a meto-
obras sejam contratadas se não tiverem sido dologia até 2024.
desenvolvidas na metodologia BIM. Algumas experiências no país, especialmen-
É que, somadas as vantagens de recupera- te de preservação de prédios históricos, cha-
ção e preservação de patrimônio – destruído mam a atenção. A mais recente e que está em
por incêndio, terremoto ou outros desastres andamento é a do mapeamento tridimensio-
naturais –, o modelo representa uma grande nal do Museu do Ipiranga, em São Paulo, feito
economia. “Podemos detectar conflitos entre com a parceria da gigante de tecnologia nor-
disciplinas antes que o projeto chegue à obra, te-americana Autodesk, pioneira no desenvol-
reduzindo custos e prazo de educação”, expli- vimento de softwares para o processamento
ca Jordão. Afinal, já não é segredo para nin- de dados BIM. Fechado para reformas desde
guém que um conflito resolvido in loco custa 2013, o museu, alguns objetos do acervo e
cerca de 70% a mais do que se fosse resolvido todo seu entorno (o Parque da Independên-
em fase de projeto, como bem destaca o es- cia) estão sendo escaneados para a constru-
pecialista da Woods. ção de um modelo BIM que contribua não só
com a revitalização do local, mas também com
a preservação da memória do patrimônio.
À prova do tempo Primeiro, entre o fim de 2019 e o início de
No Brasil, o uso de BIM ainda é incipiente. 2020, foi feito o escaneamento do local para a
Em 2018, não passava de 9,2%, conforme geração das nuvens de pontos. Com os dados,
apontou uma estimativa do Instituto Brasileiro a Autodesk já vem trabalhando na geração do
de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Var- modelo. A expectativa é de que isso acelere o
gas (FGV). No mesmo ano, porém, entrou em processo das obras, que devem ser concluídas
Divulgação
uniu ambos os instrumentos em uma versão
só. Ainda é bastante usado, e as versões mais
recentes já vêm com sistemas de GPS embu-
tidos, aumentando a acurácia.
LIDAR
Trata-se da sigla em inglês para detecção
de luz e alcance, que consiste no uso de raio
laser para capturar medidas. Quando dispa-
rado, ele calcula a distância entre o instru-
mento e a superfície, criando um ponto com
coordenadas X, Y, Z.
Tudo em um
Hoje, usando um aparelho chamado 3D la-
ser scanner e drones, é possível capturar a
realidade com alta precisão. Com alcance de
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
E ENGENHARIA
• Por Marcelo Knörich Zuffo*
E
m engenharia e ciência da computa- quando os primeiros computadores foram
ção, o termo Inteligência Artificial (IA) construídos, e, nesse contexto, cientistas e
também denominado inteligência de engenheiros já se intrigavam com a possibili-
máquina, é a inteligência demonstra- dade de que um dia a inteligência das máqui-
da por máquinas construídas pelo engenho nas pudesse superar a inteligência humana.
humano, diferente da inteligência natural de- Apesar dos avanços exponenciais da eletrô-
monstrada por espécimes vivos (humanos e nica e da computação nas últimas décadas, a
não humanos). Atualmente, a abordagem de tecnologia de Inteligência Artificial encontra-
desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) -se ainda nos seus primórdios. Seremos sur-
é inspirada na forma mais conhecida de inte- preendidos por muitos outros avanços nos
ligência, no caso a humana. Normalmente, os próximos anos. Uma das abordagens mais
desenvolvedores da tecnologia de IA tentam promissoras em IA são as técnicas basea-
desenvolver e incorporar em máquinas (com- das em redes neurais artificiais. Com a com-
putadores e robôs) algoritmos que emu-
preensão do funcionamento do cérebro e a
lam capacidades cognitivas humanas como
respectiva representação matemática de fe-
aprendizado, visão, linguagem natural e re-
nômenos neurológicos, uma nova área do co-
solução de problemas. Os primeiros experi-
nhecimento chamada redes neurais artificiais
mentos em Inteligência Artificial envolveram
propiciou grandes avanços na área de IA, na
as técnicas de linguagem natural. Alan Turing,
qual o comportamento dessas redes neurais
pioneiro da computação, propôs a seguinte
é absolutamente intrigante.
questão: seria possível um computador con-
versar naturalmente com um ser humano, de Redes neurais podem ser treinadas para
tal forma que seria impossível o humano dis- atividades específicas, como reconhecer ob-
tinguir se o seu interlocutor era natural ou ar- jetos, dirigir veículos e até interpretar a fala
tificial? Essa pergunta resultou na criação de humana. O universo de possibilidades nessa
Elisa, um programa de computador capaz de área é tão grande que a National Academy of
entabular conversas com pessoas comuns. Engineering estabeleceu a engenharia rever-
Recentemente, o termo “inteligência” está sa do cérebro humano como um dos 14 de-
sendo objeto de intenso debate no campo safios fundamentais da engenharia moderna.
da filosofia e da engenharia, visto que outras Apesar do desenvolvimento da atual tecnolo-
formas vivas têm comportamentos que tam- gia ser inspirada no ser humano, a inteligên-
bém podem ser considerados “inteligentes”. cia artificial e a inteligência humana natural
Um exemplo é o contexto de fabricação de são profundamente diferentes em seus fun-
mel por abelhas, um processo complexo rea- damentos.
lizado por uma sociedade de insetos com Na minha visão, não acredito em supera-
funções bem estabelecidas. A tecnologia de ção da máquina sobre o humano, mas sim na
IA tem seus primórdios na década de 1940, cooperação entre essas duas inteligências,
ABVE e IE fazem
acordo para
debater mobilidade
no pós-covid
A Associação Brasileira do Veículo
Elétrico (ABVE) e o Instituto de En-
genharia (IE) assinaram acordo para
desenvolver uma série de debates
e atividades conjuntas relacionadas
à eletromobilidade e à mobilidade
urbana.
O acordo consolida a parceria en- especialistas em transporte público, Maluf, e o presidente do Instituto
tre a entidade representativa de toda desenvolvimento urbano e qualidade de Engenharia, Eduardo Lafraia,
a cadeia produtiva da mobilidade de vida nas metrópoles brasileiras. em uma solenidade digital com a
elétrica no Brasil e o IE, que reúne O acordo foi firmado em julho participação de diretores das duas
os mais qualificados profissionais e pelo presidente da ABVE, Adalberto entidades.
@rha_engenharia
RHA Engenharia e Consultoria
guaranadigital.com
pelos aplicativos “Revista IMPRENSA” e “GoRead”,
disponíveis na App Store e no Google Play.
COMO SE
JULGA UM VINHO?
• Ivan Carlos Regina*
N
a época em que vivemos, em um cenário no
qual imperam a pandemia e o acúmulo de
informações midiáticas, opiniões das mais
diversas são encontradas absolutamente
sobre quase tudo. Há assuntos que polarizam a aten-
ção pública, para os quais encontramos a maior par-
te dos “entendidos”, como futebol, medicina e políti-
ca. O vinho alinhou-se agora como um desses temas.
Uma coisa é o direito a ter opinião, algo que todo
mundo exerce. Expressões do tipo “gostei deste vi-
nho”, “agradou o paladar”, “é macio”, “é suave” são
usadas adequadamente por leigos, mas não acres-
centam quaisquer informações técnicas aos que ver-
dadeiramente entendem de vinho.
Este artigo pretende apresentar quais são as infor-
mações relevantes que devem ser atribuídas a um
vinho para sua descrição sucinta e uma análise de
sua qualidade.
Existe mesmo um teste para verificar se esses atri-
butos foram bem descritos. Imagine que você entrou
em uma sala, sozinho, e encontrou cinco amostras de
vinhos diferentes. Um é encorpado, outro é tânico,
outro é acídulo, e assim por diante. Você se encan-
tou com um vinho, que vamos chamar de “Amostra
X”. Se você for capaz de, saindo da sala, descrever
esse vinho a um amigo, de forma que ele, entrando
na sala sem a sua companhia, encontre a “Amostra X”
e a separe das demais, você foi capaz de descrever
adequadamente o escolhido.
Parece fácil, mas não é. Você precisará informar ao
seu amigo alguns dos aspectos técnicos referentes
Sonyakamoz
/camargocorreainfra camargocorreainfra.com