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03 patrimônio: A distinguibilidade como figura retórica na intervenção contemporânea no patrimônio arquitetônico | vitru…
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245.03 patrimônio
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245
245.00 projeto
Catedral de Brasília
Forma-estrutura
atectônica e
experiência empática
Marcos Favero e Monica
Aguiar
245.01 história
Judith Martins
Memória e
Adição no Centre Chorégraphique National, Montpellier (FRA) reconhecimento do
Foto divulgação [Acervo Lipsky + Rollet architectes] patrimônio através da
História Oral
Taís Ossani
A intervenção no patrimônio cultural é um problema complexo. Do ponto de 245.02 historiografia
vista técnico-teórico, a intervenção coerente e consistente deve Construindo com pouco
orientar-se de modo profundo e concatenado no referencial teórico do no Nordeste brasileiro
campo disciplinar, em particular da restauração, de modo a cumprir sua Conexões Armando
função primordial que é resguardar o bem em sua qualidade de referência Holanda–Aldo van Eyck
para preservação. Juliana Silva Ramos e
Guilah Naslavsky
Todavia, no que tange à definição da proposta, a prática contemporânea de
intervenção no patrimônio arquitetônico nacional, por vezes, mostra-se 245.04 intervenção
superficial e incoerente em relação à teoria da restauração que deveria urbana
orientá-la. Nessa conjuntura, a intervenção pode promover um discurso que Praças temporárias para
tem o potencial de causar prejuízos ao patrimônio como referência ativação de vazios
histórica. O caso das Plazas
Públicas de Bolsillo de
Em razão disso, o objetivo deste artigo é discutir posturas teóricas Santiago
contemporâneas que podem ser observadas no partido da intervenção no Adriana Sansão Fontes,
patrimônio arquitetônico nacional (edificação urbana, de médio e grande Fernando Espósito-
porte, isolada – não em conjunto). Isso é feito por meio de revisão Galarce, Fernanda
bibliográfica sobre a teoria de restauração para intervenção nesse tipo Schwarc Mary e Lara
de bem, em meio às dinâmicas atuais de valorização da imagem e do Liberatto Nunes Alves
estético pelo impacto do novo na preservação. 245.05 arquitetura e
cenografia
A contribuição desta reflexão é apontar que a distinguibilidade, um Mire Veja
tópico operacional da linha teórica do Restauro Crítico, tem se tornado A cenografia de Paulo
uma figura de retórica empregada como justificativa pontual e Mendes da Rocha em
superficial, em lugar da adoção concatenada de uma corrente teórica que quatro atos
deve ser a orientadora do partido da intervenção.
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A teoria contemporânea para intervenção no patrimônio arquitetônico Fernanda S. Ferreira e
Maria Isabel Villac
O Restauro Crítico continua a ser uma linha teórica consistente e atual
245.06 urbanismo
para a intervenção no patrimônio arquitetônico. Todavia, a própria
O projeto de Palmas TO
compreensão desse patrimônio se ampliou desde sua criação, contribuindo
frente as teorias
para novas reflexões. Nesse panorama, segundo Giovanni Carbonara, são
urbanas revisionistas
propostas, a partir de 1970, novas correntes teóricas que são menos
pós 1945
esquemáticas e absolutas do que as duas instâncias (estética e histórica)
Roberto Bottura e
estabelecidas por Cesare Brandi. Para o autor, elas “priorizaram, por um
Heliana Comin Vargas
lado, o componente 'estético' (de alguns processos de reintegração e
restituição) e, por outro, o ‘histórico’ (consequentemente, conservador)” 245.07 paisajismo y
(1). espacio público
Las plazas principales
A corrente teórica denominada "Conservação Pura" ou "Conservação del centro histórico
Integral", por exemplo, assume uma conduta mais conservadora. Quanto à urbano de la ciudad de
questão da matéria e da imagem, ela não confere acentuada importância à Santiago de Cuba
imagem, porque isto deturpa a matéria. Logo, não reconhece superfícies de Análisis funcional y
sacrifício no bem, à medida que todas as superfícies do edifício sociocultural
registram as suas transformações e história. Sendo assim, elas detêm Lis Carvajal Soto,
excepcional valor documental e devem ser preservadas integralmente. Flora Morcate Labrada,
“Mesmo os sinais de degradação têm significado histórico, além de María Teresa Muñoz
estético e, portanto, devem ser respeitados” (2). Conforme Marco Dezzi Castillo e Dayana
Bardesch afirma, em entrevista a Andrea Lacomoni (3), os sinais de Lastre Denis
deterioração da arquitetura de valor patrimonial aumentam sua aura.
Portanto, essa corrente privilegia a instância histórica.
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Nesse sentido, Carbonara (14) ressalta que, se é a imagem do bem que deve
prevalecer na definição da intervenção, seu aspecto degradado deve ser
evitado. A limpeza das superfícies do patrimônio construído deve ser
executada de forma eficiente, igualmente atingindo camadas mais profundas
da matéria. Superfícies de sacrifício são adotadas nos bens, pois
entende-se que são renovadas periodicamente com a conservação do
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patrimônio. Portanto, as argamassas e pinturas deterioradas devem ser
refeitas, empregando técnicas e materiais adequados. “Isso é diverso,
porém, de refazer argamassas e não consolidar as que existem e pintar
aleatoriamente” (15).
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Em uma linha menos “radical” do que as duas anteriores, a corrente
teórica “Restauro Crítico-conservativo” é fundamentada no axioma de que
cada intervenção é um caso. Segundo Carbonara (20), essa é a corrente
teórica mais correta e em consonância com a compreensão ampliada de
patrimônio, como expressão cultural e com o necessário juízo de valor
para a intervenção. Kühl (21) reforça que existe um crescente interesse
pelo “Restauro Crítico-conservativo” para a intervenção no patrimônio
construído.
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E, se cada caso é um caso particular, com sua forma, seus materiais e sua
significação, mais uma vez é imprescindível o posicionamento crítico para
a intervenção.
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do novo e a de que a distinguibilidade é comumente empregada como uma
justificativa teórica superficial e pontual.
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Cabe ressaltar que tais posturas não são exclusivas da prática nacional.
Claudio Varagnoli (38) destaca a tendência, no exercício da intervenção
na Itália, de preservar o exterior da arquitetura histórica e projetar
volumes internos. Essa pode ser tomada como uma releitura inovadora ou
como o uso do postulado da distinguibilidade para exortar o novo. “Uma
relação ambígua é estabelecida entre o antigo e o novo. A preexistência é
usada e, muitas vezes, fortemente manipulada apenas para transmitir o
novo projeto dentro de um contexto antigo”. Além disso, as demolições
permanecem sendo frequentes, até mesmo para promover maior contraste e
dramaticidade ao novo. Um exemplo é a remoção de adições que já compunham
a história do edifício, para substituí-las por outras mais facilmente
distinguíveis.
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Não obstante se reconheça que essa reflexão é insuficiente para
identificar se existe um léxico teórico comum na prática da intervenção
no patrimônio arquitetônico nacional, no que tange à definição de seu
partido, tais posturas identificadas podem ser correlacionadas às
premissas conceituais das principais correntes teóricas contemporâneas
derivadas do “Restauro Crítico” a título de exercício. Por exemplo, as
premissas do “Restauro Crítico-conservativo” de valorização do caráter
documental das várias estratificações do bem na composição de sua imagem
podem rivalizar com as frequentes demolições e reconstruções de nossa
prática. As premissas da “Conservação Integral" de manutenção dos sinais
de degradação da edificação, descartando a reintegração de lacunas e a
reprodução, rivalizam com o aspecto novo conferido às superfícies, e a
premissa de valorização documental do bem também se opõe às demolições.
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população como justificativas para a realização de reconstruções
miméticas, de forma tal que colocamo-nos a questão: não será essa
uma legitimação para a perpetuação da ação primeira do Iphan
fortemente pautada por reconstituições e repristinações?” (43).
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uma “manifestação da passagem do tempo histórico”, que promove uma
sensação de satisfação, e as massas não têm interesse nas “informações
eruditas” que essa arquitetura pode “decodificar, no detalhe de um
ornamento” e na pátina, por exemplo. A leitura que é feita é mais global
e decorre do aspecto desafiador à passagem do tempo dessa edificação. Em
razão disso, Solà-Morales afirma que o “contraste” entre o antigo e o
novo na arquitetura histórica é o foco da “sensibilidade contemporânea”,
pois ela gera uma “satisfação estética básica”.
Considerações finais
Por outro lado, cabe ressaltar que o novo não é incompatível com a
preservação contemporânea. A intervenção não prescinde do novo na
funcionalidade da arquitetura histórica. Isto será válido, desde que a
criação e o novo “sirvam” ao bem, que elevem o “discurso” da
preexistência, resguardando-a como referência para preservação. De tal
modo, a intervenção não pressupõe a segregação entre o projeto e a
restauro, mas sim a aliança entre a criação harmoniosa e, particularmente
tratando-se da prática nacional, as reproduções idênticas ou
moderadamente reconhecíveis.
notas
1
CARBONARA, Giovanni. Tendencias actuales de la Restauración en Italia. Loggia,
Arquitectura & Restauración, n. 6, 1998, p. 13. Tradução da autora.
2
Idem, ibidem, p. 17. Tradução da autora.
3
LACOMONI, Andrea. Saper credere in architettura: Cinquanta domande a Marco
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.245/7920 11/14
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Dezzi Bardeschi. Napoli, Clean Edizoni, 2013.
4
KÜHL, Beatriz Mugayar. História e ética na conservação e na restauração de
monumentos históricos. Revista CPC, v. 1, n. 1, 2006, p. 28.
5
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro. 1ª reimpressão. Cotia, Atelie
Editorial, 2008. p. 83.
6
LACOMONI, Andrea. Op. cit., p. 66-75. Tradução da autora.
7
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro (op. cit.), p. 83-90.
8
LACOMONI, Andrea. Op. cit., p. 27-47. Tradução da autora.
9
TORSELLO, Benito Paolo. Che cos’ è il restauro? In BELLINI, Amedeo; TORSELLO,
Benito Paolo (Org.). Che cos’ è il restauro? Nove studiosi a confronto. 6
edição. Venezi, Marsilio Editori, 2005, p. 53–56.
10
BELLINI, Amedeo. Che cos’ è il restauro? In BELLINI, Amedeo; TORSELLO, Benito
Paolo (Org.). Op. cit., p. 23. Tradução da autora.
11
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro (op. cit.), p. 86.
12
MARCONI, Paolo. Il restauro e l’architetto. 2ª edição. Venezia, Marsilio
Editori, 1993, p. 8. Tradução da autora.
13
Idem, ibidem.
14
CARBONARA, Giovanni. Tendencias actuales de la Restauración en Italia (op.
cit.).
15
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro (op. cit.), p. 232.
16
MARCONI, Paolo. Il restauro e l’architetto (op. cit.). p. 181-189. Tradução da
autora.
17
Idem, ibidem, p. 28. Tradução da autora.
18
CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje. Desígnio, n. 6,
2006, p. 16.
19
KÜHL, Beatriz Mugayar. História e ética na conservação e na restauração de
monumentos históricos (op. cit.), p. 28.
20
CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje (op. cit.).
21
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro (op. cit.).
22
Idem, ibidem, p. 82-90.
23
Idem, ibidem.
24
CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje (op. cit.), p.
14.
25
CARBONARA, Giovanni. Architettura d’oggi e restauro: un confronto antico-nuovo.
Torino, Utet Scienze Tecniche, 2013, p. 69-70. Tradução da autora.
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/21.245/7920 12/14
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26
CARBONARA, Giovanni. An Italian contribution to architectural restoration.
Frontiers of Architectural Research, v. 1, n. 1, 2012, p. 2-9.
27
CARBONARA, Giovanni. Architettura d’oggi e restauro: un confronto antico-nuovo
(op. cit.), p. 6.
28
Idem, ibidem, p. 4. Tradução da autora.
29
CARBONARA, Giovanni. Brandi e a restauração arquitetônica hoje (op. cit.), p.
8-9.
30
Idem, ibidem, p. 9.
31
Idem, ibidem, p. 8.
32
VARAGNOLI, Claudio. Antichi edifici, nuovi progetti. Realizzazione e posizioni
teoriche dagli anni Novanta ad oggi. In FERLENGA, Alberto; VASALLO, Eugenio;
SCHELLINO, Francesca (Org.). Antico e Nuovo. Architetture e architettura, v. 2,
Venecia, Il Poligrafo, 2007, p. 836.
33
KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da
industrialização: problemas teóricos de restauro (op. cit.), p. 113.
34
Idem, ibidem, p. 183-223.
35
CUNHA, Cláudia dos Reis e. Restauração: diálogos entre teoria e prática no
Brasil nas experiências do Iphan. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2010,
p. 154-157.
36
Idem, ibidem, p. 154.
37
NAHAS, Patricia Viceconti. Antigo e novo nas intervenções em preexistências
históricas: a experiência brasileira (1980-2010). Tese de doutorado. São Paulo,
FAU USP, 2015. p. 348.
38
VARAGNOLI, Claudio. Op. cit., p. 837. Tradução da autora.
39
Idem, ibidem, p. 835-837. Tradução da autora.
40
VIEIRA-DE-ARAÚJO, Natália Miranda. Ressonâncias teóricas entre pesquisadores
brasileiros e as correntes contemporâneas do restauro na itália: e a prática?
Anais do Encontro Internacional sobre Preservação do Patrimônio Edificado
(Armemória), n. 5, 2017, Salvador, 2017.
41
Idem, ibidem, p. 18.
42
VIEIRA-DE-ARAÚJO, Natália Miranda. Posturas intervencionistas contemporâneas e
a prática brasileira institucionalizada. Anais do Encontro da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Gradução em Arquitetura e Urbanismo (Enanparq), n.
3., 2014, São Paulo, 2014. p. 7.
43
Idem, ibidem, p. 16.
44
Idem, ibidem, p. 18.
45
RIEGL, Alois. O culto moderno dos monumentos: a sua essência e sua origem. São
Paulo, Perspectiva, 2014.
46
SOLÀ-MORALES, Ignási de. Del contraste a la analogía. Transformaciones en la
concepción de la intervención arquitectónica. Revista ph, n. 37, Especi, 2001,
p. 53–54.
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02/12/2020 arquitextos 245.03 patrimônio: A distinguibilidade como figura retórica na intervenção contemporânea no patrimônio arquitetônico | vitru…
47
Idem, ibidem.
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