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FACULDADE DE ARQUITETURA
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Salvador
2007
NAJLA LUCRESIA DE SALES RIBEIRO
Salvador
2007
Ribeiro, Najla Jorge Lucresia de Sales.
R484 O “ecletismo” dos gradis modernos de Salvador / por Najla Jorge Lucresia de
185 f. : il.
CDU : 72.01(813.8)
TERMO DE APROVAÇÃO
À
Cidade do Salvador, Bahia,
terra mágica de gente hospitaleira,
que me mostrou novos caminhos na busca
da felicidade.
6
AGRADECIMENTOS
Dirijo-os, sinceramente, a todos que me apoiaram e que, de alguma forma, contribuíram para
a realização deste trabalho; algumas pessoas foram imprescindíveis e, sem elas, certamente,
seria muito difícil conclui- lo.
Aos meus professores do PPG-AU, que sempre abriram caminho para sugestões e críticas
no processo de construção desta pesquisa. Ao Prof. Mario Mendonça de Oliveira, meu
orientador, que reconheceu a importância do tema e me incentivou a relizar o trabalho; ao
Prof. Pasqualino Romano Magnavita, que me apontou novos caminhos na pesquisa; ao Prof.
Edivaldo Couto, do Mestrado de Artes Visuais da Escola de Belas Artes, o primeiro a me
estender a mão; ao Prof. Luís Alberto Ribeiro Freire, do Mestrado de Artes Visuais, da
Escola de Belas Artes, que comigo dividiu longas conversas sobre a mesma paixão pelos
gradis, e ao Prof. Gilberto Corso que, juntos, muito contribuíram no exame de qualificação,
através de críticas e sugestões para que o trabalho adquirisse uma nova dimensão; à Profa.
Elyana Barbosa, que me auxiliou muito além da metodologia.
À arquiteta Liliane Araújo, amiga e incentivadora; aos arquitetos Daniel Colina, do Instituto
dos Arquitetos do Brasil, e Antônio Marmo da Rocha Oliveira, da Fundação Mario Leal
Ferreira, pelo material e informações disponibilizados; aos artistas plásticos Juarez Paraíso e
Bel Borba, pelo apoio e preciosas informações; à direção do Museu de Arte Moderna da
Bahia (MAM), pelas imagens concedidas e documentos fornecidos. Aos serralheiros Silvio
Roberto Andrade Costa, João da Conceição Libório e Carlos Pietrasik, e ao arquiteto José
Rivas, pelas entrevistas e material disponibilizados.
Ao amigo Rodrigo Portugal que, desde o início, me auxiliou em todas as dúvidas sobre os
programas de informática, com muita paciência. À Lourdes Pinto Nogueira, professora e
amiga, que se mostrou sempre solícita com o trabalho.
Aos meus familiares, principalmente o Prof. Jorge Luís de Sales Ribeiro, meu marido,
professor de psicologia da Universidade Federal da Bahia e mestre em Lingüística, que
soube me ouvir, sempre com uma opinião pronta sobre o trabalho.
Este texto traz uma abordagem da presença do gradil de ferro na Cidade do Salvador
mostrando como este elemento pode ser testemunho de mudanças sociais. O projeto investiga
como eles se modificaram ao longo dos anos, na segunda metade do século XX, através de
desenhos, formas e técnicas. A proposta da pesquisa foi construída a partir da análise de dados
fotográficos realizados em alguns bairros de Salvador e embasada em um suporte teórico e
bibliográfico, visando objetivar uma classificação dos dados, análise e compreensão da sua
relação de evolução dentro do contexto histórico, econômico e social. Demonstra-se que, até
o início do século XX, a influência dos modelos ingleses se tornou marcante, mas ao longo do
século passado e ínicio deste, o ferro articulado com as inovações tecnológicas possibilitou a
criação de novos padrões. Dentro do cenário da modernidade, os gradis se modificam e
atualmente, diante da paranóia, do medo e do grande crescimento da violência nas grandes
cidades, os gradis e portões se fazem cada vez mais presentes como elementos delimitadores
do espaço público e privado. Atualmente, alguns são produzidos como obras de arte dentro do
contexto urbano. Mostra-se como os seus desenhos adquirem, cada vez mais, identidade e
simbolismo, com design e funções diferenciadas, criando elementos geométricos puros ou
elementos ligados à natureza, como animais, plantas ou até mesmo símbolos específicos
relacionados à instituições ou à cultura religiosa.
This short text is all about the usage of railings and iron bars on building in Salvador city as a
testimony of social changes. This project investigates why they have modified throughout the
years on the second half of the 20th century, changing in design, shape and techniques. The
aim of this research has been reached through careful analysis of photographic data from
different sites in Salvador and extensive search in books, attempting to classify data and
understanding their connection with historic, economic and social context. Until the beginning
of the 20th century, they had been strongly influenced by the English architecture, but since
then, jointed iron started to be used as a techinical innovation and new patterns were created.
Nowadays, railings are constantly changing and due to a large growth on violance, paranoia
has invaded homes and buildings in big cities. Therefore, railings and gates have become even
more necessary to set borders in both public and private sites. Currently, they have been
created as a work of art, reflecting the urban context where they are set . Their design has
become more and more conceptual, incorporating identities and symbolism with several
functions using pure geometric elements or nature-like shapes, such as animals and plants and
even religious or corporation symbols.
pag.
1 – Fotografia parcial do gradil da Ponte do Rio Caji 23
2 – Fotografia do gradil radrizado 23
3 – Linhas auxiliares do desenho do gradil radriazado 23
4 – Desenho do gradil no Auto CAD 23
5 – Gradil Modelo 148 – Gerdau 36
29 – Praça da Piedade 66
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 17
1 FERRO 25
1.1 HISTÓRIA DO FERRO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 25
1.2 FERRO NO BRASIL 28
2 GRADIL 32
2.1 DEFINIÇÕES 32
2.2 A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE HOJE 33
2.3 DESENVOLVIMENTO DAS TÉCNICAS DA MANUFATURA DO
FERRO 50
2.4 FERRO FORJADO 52
2.5 FERRO FUNDIDO 55
2.6 AÇO 58
5 CONCLUSÃO 153
REFERÊNCIAS 159
É possível que a presença dos ingleses em Salvador, nesse período, tenha sido o
grande responsável pela contribuição da difusão de novos processos técnicos e artísticos na
cultura local e, de forma indireta, na arquitetura.
À medida que a Inglaterra torna-se num dos pólos mais importantes da Revolução
Industrial e dos avanços na Siderurgia e, “[...]a partir do século XX, as relações funcionais
entre a arquitetura e sociedade se transformam radicalmente, e esta ruptura afeta sua
expressão formal.” (DOIS, 1976, p.26).
A arquitetura busca uma nova articulação com a realidade, diante das transformações
do mundo moderno. Os modernistas do século XX carregam os conceitos da funcionalidade e
da adequação de soluções “práticas”, de modo que este desenho formal leve os princípios da
adaptação da forma aos fins de sua função. A arquitetura funcional tendeu a eliminar o
supérfluo, contudo o ornamento não é incompatível com a ótica funcionalista da arquitetura.
A arquitetura moderna rompe vínculos, não só formais como também estruturais e de
18
princípios, com a arquitetura de estilos históricos, e os princípios que regem então o desenho,
são os da funcionalidade.
Segundo Assis (2003, p.9), “[...] com as vanguardas, que negam valores defendidos
pelas correntes anteriores, rompe-se com a tradição, a arte adquire outras potencialidades e a
interação homem – objeto artístico amplia-se com outros recursos.”
Atualmente, com os vários problemas das cidades modernas, os espaços continuam
refletindo a estrutura da sociedade, buscam o processo de transformação e trazem de volta os
gradis de ferro em vários locais públicos e privados, buscando, cada vez mais, abrigo e
proteção para o homem contemporâneo que à cada dia vive mais enclausurado na busca da
segurança. Hoje o homem habita um espaço que necessita de adaptação para vencer os
“perigos” causados pela sociedade moderna, sendo cada vez mais presente o uso dos gradis de
ferro na paisagem das cidades atuais, com a função de dar segurança e de coibir atos de
vandalismo. A sensação de confinamento e ruptura do espaço com o seu exterior, às vezes é
sentida de forma traumática, quando obriga a população ao comportamento de segregação
dentro da cidade ou de um local fechado. Diante da paranóia do medo da violência das
cidades, os gradis e portões residenciais se transformaram em elementos, acima de tudo,
limitadores, que criam obstáculos nas relações entre o público e o privado. Em geral, são eles
acrescidos do simbolismo da ameaça, agressão, ataque como “armadilhas”, e pelas formas
simplificadas, mas sistematicamente pontiagudas, como garras inclinadas para fora. No
entanto, muitas vezes os artistas plásticos, artesãos e arquitetos conseguem transformar o ferro
em verdadeiras obras de arte, desempenhando um papel fundamental na intervenção da
cidade, pois, além da função de segurança, os gradis tambem podem desempenhar o papel
decorativo e até informativo.
O tema dos gradis torna-se relevante na medida em que contribui para a compreensão
de como os desenhos estão atrelados às novas necessidades dos usuários e de como estes estão
relacionados às mudanças tecnológicas. Apesar disso, pudemos constatar que nenhuma
pesquisa ou levantamento tinha sido realizado, até então, sobre gradis modernos. O que
percebemos é que muitos julgam-na como sendo de menor importância dentro da arquitetura,
o que nos encorajou ainda mais em nosso objetivo.
Diante de todas essas considerações, levantamos alguns itens que suscitam
questionamentos dentro da pesquisa:
1. O século XX difere do século anterior e cria seus desenhos de gradis com maior
liberdade formal, sem seguir determinadas regras, desse modo, é possível classificar os gradis
dentro de determinadas categorias?
19
elemento de segurança aparece em que tipo de projeto arquitetônico e quais as suas diferenças
em relação aos gradis com funções mais decorativas?
Nos dois últimos séculos que se seguiram à Revolução Industrial, o ferro sempre
esteve presente, mostrando ser facilmente adaptado em diferentes formas, graças a sua boa
resistência, a esforços específicos, fácil modulação e possibilitando a criação de desenhos os
mais diversos. No século XX, a plasticidade foi uma qualidade muito explorada através de
tramas novas, sejam elas através da forja ou pela reprodução das mais variadas linguagens
formais por meio de fôrmas que moldavam o ferro fundido.
A partir dessas observações, buscamos realizar um levantamento e estudo dos gradis
no século XX em Salvador, com suas elaborações artísticas e técnicas, com os seguintes
objetivos específicos:
1. Procurar levantar os modos de produção na confecção dos gradis de ferro na
Bahia, diferenciando as técnicas da forja, da fundição e do aço, indicando quais os avanços
proporcionados pela indústria, e destacando o aperfeiçoamento das técnicas da forja neste
último século.
2. Identificar outras funções que os gradis podem cumprir nos diferentes projetos
arquitetônicos, além de elemento limitador dos espaços público e privado.
3. Estabelecer tipologias, a partir da análise de alguns exemplares, que
representem os gradis do século XX, em períodos diferentes.
4. Identificar os elementos visuais que compõem e caracterizam os gradis do
século XX. Buscar o entendimento da transformação dos gradis, tentando estabelecer, por
exemplo, relações com as influências dos conceitos da arte contemporânea.
5. Identificar espaços tombados como patrimônio cultural que, em sua
reurbanização ou preservação, receberam gradis de ferro como solução contra possíveis atos de
vandalismo, considerando que, nos últimos anos, tem havido um esforço maior na preservação
e valorização do Patrimônio Histórico na Bahia. Verificar o papel dos gradis nessas
intervenções.
6. Cadastrar e analisar as formas estruturais e ornamentais dos gradis do séc. XX.
Os artistas, mediante o testemunho de suas obras, podem descrever a história e seus
acontecimentos. Segundo Assis (2003, p.42): “Essas descrições relatam processos históricos
através dos símbolos, revelando o homem no seu contexto social.”
Entendemos por símbolos, elementos gráficos que representem ou indiquem de forma
convencional, um elemento importante para o esclarecimento de alguns fatos sociais.
Podemos observar uma grande preocupação nestas últimas décadas pela preservação da
21
possuem a preocupação de integração dentro do contexto urbano, nos quais o desenho pode
cumprir papel fundamental.
Nesta pesquisa, entendem-se os gradis não apenas como objetos de segurança ou
segregação, mas vistos como uma forma de arte democrática, feita também para ser
contemplada no contexto da cidade, e que busca, através dela, ser testemunho de aspectos
sociais.
O termo “ecletismo dos gradis modernos”, sugerido aqui, nos remete às várias
tendências atuais que, de certa forma, estão fundadas na exploração e conciliação de estilos e
técnicas do passado.
Para o entendimento do trabalho, foram desenvolvidas reflexões acerca dos
acontecimentos históricos, com destaque para o desenvolvimento tecnológico de materiais e
técnicas relacionados ao ferro, que cumpriram um importante papel na estória desde as
antigas civilizações, passando pela Revolução Industrial até chegar à modernidade.
A pesquisa baseou-se em leituras correlacionadas ao assunto “ferro”, e em
depoimentos de pessoas ligadas à produção da cultura artesanal deste em Salvador, tais como
serralheiros, artistas plásticos e arquitetos. Tendo como interesse principal os gradis de ferro,
foram apontados aspectos da análise formal, conhecendo-se melhor sua natureza, funções e
relações.
Durante o levantamento do tema, constatou-se uma escassez de material bibliográfico
sobre gradis do século XX na Bahia. Por este motivo, um registro documental dos
exemplares mais importantes executados na segunda metade do século XX até a atualidade,
bem como uma análise deste material foram considerados como de grande importância.
Os gradis das últimas décadas, cada vez mais, foram criados com requinte de obras
esculturais, por arquitetos e artistas plásticos. A formação de mão-de-obra qualificada e
diferenciada produz resultados diversos na criatividade, com conseqüente busca de novas
técnicas de confecção.
Para a análise e interpretação dos gradis da segunda metade do século XX, o trabalho
se baseou numa pesquisa bibliográfica, iconográfica, documental e histórica, o que culminou
na seleção e catalogação de 71 gradis, através da reprodução de desenhos e fotos. O processo
de obtenção dos desenhos dos gradis para a análise deu-se através de medições no local e de
tomadas de fotografias. Estas foram armazenadas no programa “Paint” para, em seguida,
serem “orto-retificadas” pelo programa de “Radrizamento” (Figura 1,2,3 e 4), que permitiu
corrigir possíveis distorções em perspectivas. Após este processo, as imagens foram
repassadas para o programa “AutoCAD”, no qual os gradis foram desenhados para obtenção
23
VISTA
parcial do
gradil
de detalhes como cotas e outras informações julgadas necessárias para análise. Os dados
foram catalogados com a identificação quanto a local, autor, data, descrição do material e
técnica utilizada. Tal procedimento de desenhos proporcionou uma aproximação com as
formas, e permitiu o detalhe dos elementos de composição, das linhas básicas das grades, das
cores e dos tipos de barras que serviram de subsídio para a análise formal.
A pesquisa enfrentou algumas dificuldades em relação à precisão de cotas: primeiro,
porque alguns locais foram inacessíveis para a medição, que só foi possibilitada pelo
levantamento fotográfico; segundo, porque o trabalho de reprodução das imagens
fotográficas para o desenho geométrico, através dos programas, muitas vezes pode trazer
24
margem de pequenos erros cumulativos. Outra dificuldade foi a imprecisão das informações
sobre nomes e datação dos gradis, que, algumas vezes, não possuíam registros ou até mesmo
por se tratar de obras efêmeras, muitas deles instaladas e reestruturadas independentemente
do edifício, em datas posteriores ao final da obra.
A escolha dos 71 exemplares de gradis deu-se dentro de um universo muito amplo,
no qual foram procurados os modelos que possuíam mais significado, ou seja, que pudessem
expressar um conceito para as diferentes tipologias estabelecidas. Em linhas gerais, foi
efetuada a seleção de exemplares de gradis que se enquadravam nos seguintes critérios:
1. Gradis valorizados como obra de arte, dentro da cidade de Salvador, independente dos
locais específicos de sua implantação.
2. Gradis cujos desenhos e formas pudessem ser agrupados numa classificação de
análise formal.
3. Gradis que representam novas soluções de materiais e técnicas de confecção dentro
da modernidade.
4. E, por fim, gradis com expressão formal ligadas às questões sociais e costumes da
Bahia.
Considerando a grande gama de tipos de gradis que podem ser levantados no
universo de meio século, foi dada prioridade aos gradis de edificações públicas.
Não houve restrição sobre a técnica utilizada e a autoria dos gradis selecionados, os
quais foram elaborados, indiferentemente, por artistas plásticos, serralheiros ou arquitetos.
Apresentamos este trabalho em quatro capítulos. No primeiro, desenvolvemos o
resumo histórico do ferro e a sua trajetória, que culminou com a Revolução Industrial. O
segundo define o gradil, bem como o desenvolvimento das técnicas artesanais da forja, da
fundição e do aço utilizados na serralheria. No terceiro capítulo, já tratando da realidade
soteropolitana, destacamos a interferência dos gradis de ferro nas reurbanizações
contemporâneas dos espaços públicos, dando ênfase às praças do Campo Grande e da
Piedade. O último capítulo trata da análise formal, através da classificação dos gradis
selecionados e aborda os materiais e as técnicas que foram empregados na confecção das
peças.
Esta pesquisa aponta, ainda, algumas transformações da sociedade e como elas se
refletiram no desenho dos gradis, como forma de adequação à arquitetura. Nosso maior foco
foi a segunda metade do século XX, com a ótica voltada para os gradis de ferro e de aço, por
entendermos que este período foi mais significativo e também por apresentar uma maior
diversidade de estilos e soluções.
1 FERRO
que há muito estavam rígidas, realçando as formas orgânicas, curvas e as linhas prolongadas.
Atualmente, o ferro se emprega muitas vezes a uma arquitetura com grande tendência
a volumes escultóricos. Os arquitetos estão criando, cada vez mais, seus espaços com
expressões de volumes de diferentes formas, alturas e posições, como a arte de um escultor, e
o ferro tem um importante papel neste contexto. Além disso, o ferro é importante na
revitalização de espaços, como por exemplo, na utilização dos gradis que permitem variadas
funções tais como a ornamentação, divisão dos espaços e proteção.
Algumas fundições aqui, nesta época, com o propósito de fornecer máquinas e peças
de reposição para engenhos centrais de açúcar. Dentre ela, se destaca a Fundição
D’Aurora, a ”Aurora Foundry” ou “Star & Cia”, fundada em 1829 pelo inglês
Christopher Starr, e que funcionou no Recife até 1973.
[...] começou a voga dos gradis de ferro cercando as praças públicas e os adros das
igrejas, aqueles segundo o modelo do Largo do Rodo do Rio de Janeiro. O primeiro
colocado(1872) foi o Jardim da Praça Conde d´ Eu (atual Maciel Pinheiro), com 800
palmos (176 metros), iniciativa dos moradores do bairro, à frente o vereador e
médico Dr. Pedro de Ataíde Lobo Moscoso (Diário de 18 e 21.V.1872), seguido do
Jardim do Campo das Princesas) como se chamava na época a atual Praça da
República), esta mandado fazer, juntamente com as estátuas de ferro que ainda ali se
encontram, na Inglaterra, pelo Conselheiro João José de Oliveria Junqueira,
presidente da província [...](MELLO, 2006)
França, barateou os custos e fez com que o Brasil passasse a importar adornos para as
construções”. Segundo Silva (1987), a maior contribuição das fundições à construção civil
nesse período foi a fabricação de grades e portões, porém grande parte dos componentes
arquiteturais metálicos utilizados no Brasil foram pré-fabricados em países europeus,
principalmente na Grã-Bretanha, França, Bélgica e Alemanha, incorporando assim à
arquitetura, componentes de excepcional valor estético, conforme atesta Costa (1994, p.158):
Nesse contexto, como se viu anteriormanete, os gradis de ferro têm importante papel,
salientando as transformações da arquitetura. A Cidade do Salvador, no século XIX, passa por
estilos muitos diferenciados, tais como o Neoclássico, que culminou com o Primeiro e o
Segundo Império, e nos finais do século XIX, com o Ecletismo que se firmou aproveitando a
influência arquitetônica de várias épocas e de vários países, predominando até a Proclamação
da República e o primeiro quartel do século XX.
O apogeu dos gradis de ferro foi, sem dúvida, o século XIX, com muitas mudanças
que marcaram o design da arquitetura brasileira, que sofreu grande influência dos ingleses no
papel para esta transformação.
Ainda no século XIX, o uso do ferro dava-se a partir de experimentações determinadas
pela produção industrial, que se adequavam à estética da época, subordinadas às propriedades
naturais do material, à criação de elementos construtivos orgânicos florais que buscavam
associar beleza a suas funções.
No Brasil, a evolução da ocupação dos lotes de terreno, nas cidades, introduziu o uso
de gradis de ferro e portões nos limites e acessos às propriedades residenciais e também nos
edifícios públicos e religiosos. Ferraz (2000) esclarece:
Além de sua função reguladora e explicitadora das relações entre publico e privado,
seus desenhos os transformavam em elementos também decorativos e os
acabamentos, quase sempre em forma de lanças verticais, reproduziam
simbolicamente a proteção, a defesa e o limite. Essas lanças espaçadas limitavam e
emolduravam os lotes, mantendo certa transparência, expondo as casas e os jardins.
Os portões, muitas vezes, produziam um aspecto pomposo e majestoso pela
suntuosidade dos desenhoso e acabamentos.
31
A partir dos anos 40, com a decadência dos transportes ferroviários no Brasil, muitas
estações foram desativadas e abandonadas, embora tivessem estruturas imponentes. Apesar
disso, as ferrovias marcaram a paisagem das cidades brasileiras. Algumas com suas vias e
edifícios permanecem até hoje.
Conclui-se, então, que o século XX cria a arte e seus estilos a partir de necessidades
geradas pela Revolução Industrial, trazidas da técnica e de formas de pensamentos novos. Os
movimentos de vanguarda negam os valores defendidos no passado, rompendo com tradições;
a arte adquire outras potencialidades com a ajuda dos recursos técnicos e humanos, numa
nova integração com o homem. As conseqüências destas mudanças são marcadamente vistas
nos dias de hoje quando o ferro adquiriu papel importante no contexto urbano, com grande
número de gradis espalhados pelas cidades.
2 GRADIL
2.1 DEFINIÇÕES
Sabemos que o ferro é um material que já vem sendo trabalhado há mais de 4.000 anos
através de processo artesanal de queima em fornalhas. Até os fins da Idade Média, difundiu-se
lentamente e, na arquitetura, as grades ornamentais estiveram presentes tanto nas civilizações
clássicas quanto no período medieval.
No dicionário etimológico, a palavra “gradil originou-se do latim gratem que quer
dizer armação de peças encruzadas ”(CUNHA, 1982, p.392). A partir do século XIII, ela sofre
mudanças em sua terminologia, significando engradado, gradeado no século XIX e, somente
no século XX, vai aparecer como gradil.
A grade1 é uma armação constituída de barras de ferro, ou ripas de madeira em cruz
com intervalos, destinada a proteger ou vedar algum lugar. O significado de gradil nada mais
é do que uma grade com funções mais ornamentais, mas que, ainda assim, possui as funções
de separar ou proteger. Os gradis podem referir-se a grades de madeira ou ferro, com muita
ou pouca altura, que se destinam a circular pátios e jardins. O presente trabalho apenas se
propõe a estudar os gradis de ferro, em sua ampla utilização, as técnicas relacionadas a ele e
todos os elementos variantes deste metal.
Sobre o surgimento dos gradis, Assis (2003, p.86) nos esclarece que:
1
“On peut définir une grille: une ouevre composée de piéces de bois ou de metal croisées ou entrelacées de
manière à constituer une enceinte autour d ´um objet que l´on désire protéger contre les appoches du public”
(D´ALLEMAGNE, 1943, p.172).
33
Atualmente, é comum o gosto pelo gradil como objeto do desejo ornamental. Com os
avanços tecnológicos, a indústria disponibilizou uma grande variedade de perfis e peças,
possibilitando a diversidade dos gradis em cores, formatos e tamanhos, que são apresentados
através de catálogos.
Grandes empresas como a Comercial Gerdau – Aços especiais, a Companhia
Siderúrgica Belgo Mineira e a Aço Minas apresentam enorme variedade em produtos e
serviços especializados. A Comercial Gerdau, com filiais em todo o Brasil, possui catálogos
de produtos em várias bitolas diferentes, produzidos de acordo com as normas técnicas e com
aço de baixo teor de carbono, empregados para grades, portões e outros fins. São eles:
· barras quadrada – barras com seção transversal quadrada;
· barra chata – barras com secção transversal retangular;
· barra redonda mecânica – barras com seção transversal circular;
· cantoneira abas iguais – barras com secção transversal em forma de ângulo reto,
com abas iguais;
· perfil I – barras com secção transversal em forma de “I”;
34
Figuras 5 a 7 –
Além dos catálogos da siderúrgica nacional, podem ser encontrados outros catálogos
de indústrias estrangeiras como, por exemplo, o catálogo Ferrum Amantilus2, da empresa
Indústria Italiana Arteferro, que fabrica artefatos de ferro forjado utilizado na montagem de
gradis. É possível que essas peças fabricadas industrialmente (em série) reduzam
substancialmente o custo de fabricação dos gradis, mas os custos para o transporte comercial
não têm mostrado vantagens para o consumo em alta escala.
No Brasil, a Indústria Italiana Arteferro, localizada no Rio Grande do Sul, na cidade
de São Marcos, vende peças prontas produzidas e distribuídas através de catálogos
(Ind.I.A.Brasil Ltda – catalogo 2005), ricos em fotografias e desenhos, que acabam servindo
de inspiração para o trabalho de artesãos baianos e, deste modo, influenciando na tipologia
dos gradis de Salvador. Os catálogos são totalmente ilustrados com fotos de gradis, alguns
extremamente elaborados, com sugestões para balcões, escadas, corrimões e portões em
diferentes tamanhos, utilizando as peças do catálogo. Possui mais de mil itens catalogados por
tipo de modelo em perfis padronizados como barras, fechaduras, lanças e detalhes muito
elaborados, como folhas, rosetas3, gregas, ornatos em “C” e “S”, pinhas, cachos de uva e
borboletas, para a fabricação de gradis. As peças ou a composição de módulos são, na
maioria, fabricadas ainda com forte influência dos desenhos ingleses do século XIX, como as
volutas em forma de “C” ou “S”.
O catálogo ainda comercializa modelos diferentes de gradis criados pelos arquitetos
Stefania Buccio e Bruno Gonzato (Figuras 8, 9, 10 com seus respectivos desenhos) com
possibilidade para gradil: mural, portão-pedestre e portão-garagem, todos com perfis verticais
com detalhes de lanças na sua extremidade e detalhes de volutas mais ou menos elaborados na
sua composição. A altura dos portões gradis varia entre 2,50 e 2,80m de altura, todos com
lanças na extremidade dos perfis verticais, mostrando que ainda é forte o gosto por este tipo
de padrão formal e preocupação com segurança.
2
IND.I.A. Brasil (2005) Industria Italiana Arteferro. São 4 volumes do catálogo: Volume 1 (Ferro Amantibus),
v.2 (Homo Faber), v.3 (In ferro Qualitas) e v.4 (Faber Ferrarius) com aproximadamente 232 páginas ilustradas
em cada volume.
3
Roseta – “elemento decorativo que se assemelha a uma rosa ou a alguma flor de pétalas radiais, usado em
várias formas de expressão artística e em diferentes épocas históricas” (HOUAISS, 2001).
40
Figuras 8 a 10 –
Modelo Medici
42
Modelo Orleans
43
Modelo Windsor
44
Portanto, apesar dos diferentes objetivos apresentados pelos dois catálogos: Coleção
Serralheria, que comercializa perfis e barras, com gradis de formas geométricas mais simples,
e o Ferrum Amantibus, que comercializa artefactos prontos, conservando os valores artesanais
do passado adaptados às exigências modernas, com gradis de formas mais complexas e
rebuscadas, ambos servem de inspiração para o trabalho de artesãos baianos e podem ser
encontrados facilmente nas lojas que comercializam o material para a montagem de gradis de
ferro.
A Indústria Italiana Arteferro disponibiliza ainda no mercado, outros tipos de livros e
catálogo como Do It yorself que, por encomenda, atende à entrega de perfis escolhidos através
de catálogo específico, para que se desenvolvam peças exclusivas. O livro Designs parte de
sugestões de soldagem e montagem e oferece exemplos de balcões, gradis para portões e
janelas, etc., utilizando os produtos padronizados pelo catálogo, e o livro Le Scale com
desenhos de gradis para escadas internas e externas que completam a coleção.
Além da forma, nos ultimos anos, pode-se tirar proveito das cores, uma vez que o
desenvolvimento da indústria de tintas disponibilizou no mercado uma grande variedade de
produtos aplicáveis aos gradis, com diversas qualidades de cores e tons novos.
Tudo isso, somado ao desenvolvimento das técnicas de manufatura do ferro, bem
como à capacidade de criação dos serralheiros, artistas plásticos e arquitetos baianos,
proporcionou à Cidade do Salvador as mais diversas possibilidades de gradis através do
manuseio do material. Podemos caracterizar este acervo de gradis de ferro como uma grande
diversidade de formas, resultado da justaposição de conceitos do passado, combinados com os
benefícios das novas tecnologias, adequadas às necessidades de beleza e segurança do mundo
moderno. As várias doutrinas, métodos e estilos do passado (como as influências do
movimento Art nouveau) e as técnicas antigas (do ferro forjado) são possibilidades exploradas
no grande universo da modernidade.
A criatividade do ferro, experimentada pelas várias técnicas em desenhos orgânicos e
geométicos das mais variadas formas, nos leva a afirmar que os gradis do século XX possuem
características bastante diversificadas, sem a observância de uma única linha de pensamento
ou rígidez, e é possível que tais escolhas sejam reflexo dos caminhos da arquitetura
contemporânea.
Os artistas plásticos e arquitetos propõem gradis de ferro em módulos de até vinte
metros de comprimento sem repetição ou gradis sem módulos de repetição, ou seja, painéis
que se justapõem, numa seqüência sempre inédita. A simetria bilateral absoluta do desenho e
das formas, muitas vezes em busca da harmonia e beleza resultantes de proporções
45
equilibradas, é muito empregada, indistintamente, nos gradis de portões, murais, etc. Não
existem regras para a liberdade formal dos gradis, quase sempre determinada pelo limite das
possibilidades tecnológicas.
A inspiração para os motivos, muitas vezes, é o cenário da própria cidade. Salvador é
rica em belezas naturais e expressões culturais, cidade de clima tropical, onde se desenvolvem
flores e animais diversos. Todo este rico universo serve de inspiração através das técnicas
para a arte do ferro.
A herança cultural das crenças religiosas foi a inspiração que o artista plástico Bel
Borba foi buscar para representar os orixás da Bahia, que ele reproduziu em gradis de ferro
por meio de técnicas, como a forja e o recorte da chapa de ferro, que veremos em detalhes no
Capítulo 4.
Com os grandes avanços do mercado consumidor e o seu alto grau de competitividade,
cada vez mais acirrado, alguns gradis surgem para assumir outras funções além da beleza e
segurança dentro da modernidade. Estes gradis de ferro acabam por desempenhar uma função
importante dentro de empresas comerciais de Salvador, cuja inspiração se aloja no próprio
contexto da proposta de vendas da empresa. Idealizados de modo a divulgar produtos ou
serviços, passam a ser peça integrante de um sistema de identidade visual, inspirado muitas
vezes na marca criada pelo designer. Esta fonte de inspiração é, geralmente, buscada por
arquitetos, muito possivelmente por ser ele um profissional que congrega, com outros
designers, uma formação profissional que às vezes se mescla. O desenho do arquiteto ou
artista para o gradil é adaptado, conforme o caso, a determinada técnica e materiais que
possam expressar melhor a idéia da marca, buscando o maior grau de percepção possível. Este
tipo de gradil, enquanto marca, exige uma responsabilidade maior do desenhista, pois tanto a
técnica quanto o material escolhido para a criação desse gradil devem obedecer ao intuito de
se ter clara interpretação da imagem da marca, pois, do contrário, as funções de expressar
identidade visual estariam anuladas.
Outra fonte de inspiração para os arquitetos e artistas é a própria edificação. Neste
caso, o gradil é uma conseqüência natural da linguagem formal do edifício, sendo muitas
vezes observado um detalhe do material empregado na edificação, como um tijolo cerâmico
ou uma porta de madeira ou, ainda, a própria forma da elevação tridimensional ou
bidimensional da fachada. Geralmente, este tipo de partido adotado é inspiração do arquiteto
responsável pelo projeto executivo da edificação.
A busca da solução da criação do gradil de cada profissional tem a ver com seu
próprio universo. Muitas vezes, o serralheiro sofre a influência dos trabalhos que estão no
46
limite de sua visão, ou seja, trabalhos de outros parceiros serralheiros, arquitetos e artistas, ou
até o acesso a catálogos que, como já dissemos, estão disponibilizados para a venda
justamente nos locais onde o artesão compra a matéria-prima para a realização de sua arte. A
serralheria mais popular, ou seja, os gradis criados por serralheiros, são ainda muitos deles
inspirados no século XIX com desenhos de volutas, ou gradis mais simples com peças de
ferro forjadas em desenhos geométricos de retângulos, triângulos e círculos. Muitas vezes, a
criação dos trabalhos dos serralheiros está limitada pela não disponibilidade de máquinas para
trabalhos mais elaborados. Contudo, o mercado disponibiliza um grande número de máquinas
para auxiliar o trabalho de confecção dos gradis de ferro e aço inox, tais como:
Figura 17 – Foto de Calandra para Figura 18 – Foto de Calandra de perfil até 2”.
Chapas.
Figura 24 – Foto de Prensa essêntrica. Figura 25 – Foto de Torno mecânico – peças torneadas.
Com os artistas e arquitetos, o processo de criação é mais amplo. Devido a sua própria
formação, cada um, dentro do seu contexto, está mais ligado às artes plásticas e arquitetura, às
formas novas, aos movimentos modernos de vanguarda e, deste modo, propõe soluções
inovadoras para os gradis da modernidade.
O artista plástico Juarez Paraíso4 declarou que, atualmente, os arquitetos de maior
renome determinam e ditam a moda, quando fazem seus projetos especiais, e desenham todos
os detalhes da obra, inclusive os gradis. Para ele, o arquiteto moderno ou pós-moderno acaba
propondo todas as soluções da obra, numa atitude que ele chama de auto-suficiente, e acredita
ter havido, ao longo dos anos, uma desintegração das atribuições desses dois profissionais
dentro da arquitetura. Isto nos leva a afirmar que, possivelmente, os gradis não seguem regras
para modelos específicos em cada tipo de projeto. As influências da criação desta arte
dependem muito mais das experiências de quem as idealiza e de suas próprias percepções do
mundo.
Existe, porém, um forte fator que é determinante para a confecção de um gradil de
ferro mais elaborado, que é o econômico. Os custos de confecção podem estar mais
disponíveis somente para uma parcela da população com maior poder aquisitivo, que pode
contratar um artista ou arquiteto para uma “nova idéia”, sem se preocupar tanto com os custos
finais. É fato também que, nos últimos anos, os gradis de ferro têm adquirido status de obra
de arte, e uma arte mostrada de modo democrático dentro da cidade, para todos os
transeuntes, faz parte de uma edificação ou é peça fundamental no contexto da cidade.
Ainda hoje, alguns gradis de ferro invocam, através do seu desenho, elegância e
pujança e também podem coibir pessoas indesejadas. A arte do gradil, ao mesmo tempo que
nos convida a olhar, também reserva a função reguladora e explicitadora entre público e
privado. Seus desenhos os transformam, também, em elementos decorativos e os
acabamentos, algumas vezes em forma de barras verticais pontiagudas, como garras
inclinadas para fora, e lanças, reproduzem simbolicamente a proteção, a defesa, bem como o
limite.
Os artistas, de modo geral, defendem a idéia do gradil como necessidade defensiva,
mas também como elemento que se pode tornar transparente, no sentido de permitir uma
integração mais razoável com a beleza dentro do contexto da cidade.
4
Juarez Marialva Tito Martins Paraíso concedeu entrevista em setembro de 2005 em Salvador. Embora
Paraíso afirme que atualmente os arquitetos desenham todos os detalhes da obra, já no Art Nouveau, arquitetos
como Gaudi e Horta, tambem desenhavam muitos detalhes da obra, inclusive os gradis (PEVSNER, 2001).
50
Na opinião de Paraíso, “[...]a cidade toda está se tornando prisões, já que temos de
fazer esta prisão, façamos com um valor estético” (PARAISO, 2005). No seu depoimento, o
artista reforça a idéia de que o gradil é um mal necessário, dentro do contexto urbano da
modernidade, porem, é possível tirar partido do gradil, enquanto arte, além das funções de
beleza e proteção, tentando amenizar a sensação de confinamento.
que ele contém e que se denomina teor metálico. No Brasil, teoricamente, é encontrado o mais
elevado teor, que é de 78% de ferro. O ferro utilizável é considerado rico quando tem de 40 a
60% e pobre quando esta proporção se encontra entre 40 e 25%. Quando o teor metálico for
inferior a 25%, o minério não é considerado bom para nenhuma atividade.
O segundo elemento que deve ser conhecida é sua canga, em particular seu teor em
silício e em cal. Estes dois elementos são importantes, quase sempre, para determinar a
facilidade e até as possibilidades de tratamento do minério. A maior proporção em que a sílica
e a cal podem entrar na composição do minério de ferro é de 20%. Dificilmente estes teores
são iguais no mesmo minério; quase sempre predomina um sobre o outro, o metal é extraído
dos óxidos e carbonatos.
Os processos industriais destinados à extração do metal são objeto da siderurgia. A
siderurgia industrial nasceu na Inglaterra e o ferro foi um dos grandes responsáveis pela
Revolução Industrial, quando possibilitou a introdução da máquina.
A siderurgia é indústria relativamente nova, contemporânea da máquina a vapor, que
foi aperfeiçoada em 1773. Ela tem por fim o estudo das propriedades, extração e
aplicabilidade deste metal e também o preparo de suas ligas.
A siderurgia ensina a ligar o ferro, em proporções variáveis, a outro corpo simples,
também em larga escala na natureza, que é o carbono. Desta combinação ferro e carbono,
podemos destacar três classes:
· Os ferros com menos de 0,05% de carbono;
· Os aços, tendo 0,05% a 1% de carbono, alguns autores classificam entre 0 a 2%;
· As “fontes”, tendo praticamente de 3 a 4% de carbono.
A qualidade e suas propriedades variam de acordo com a forma de obtenção, o teor de
carbono presente no produto e a quantidade de outros elementos que são adicionados.
O ferro é extraído,
[...] quase sempre, por meio de um forte aquecimento em presença de coque (carvão
mineral) ou carvão de madeira, em fornos adequados, nos quais o oxido é reduzido e
o resultante ligado ao carbono. Forma-se assim uma liga de ferro e carbono que
depois de refinada, constitui a matéria-prima para a fabricação da grande maioria das
peças metálicas atualmente empregadas [...] Os produtos siderúrgicos comuns são
ligas ferro-carbono com teor de carbono compreendido entre 0 e 6,7%
(industrialmente entre 0 e 4,5%) (COLPAERT, 1974, p.1).
entender como são os processos de obtenção do ferro e de seus componentes. Este trabalho
não tem a pretensão de se aprofundar em outras áreas do conhecimento, tais como a química e
a engenharia e, sim, apenas criar subsídios para fundamentá-lo com conceitos, termos e
elementos que serão necessários à compreensão do universo dos gradis de ferro.
O ferro forjado é o mais antigo dos produtos e as técnicas para a sua obtenção foram
desenvolvidas no Oriente Médio por volta de 450 anos a.C. O primeiro meio utilizado na
obtenção do ferro é chamado de redução direta. O óxido de ferro é aquecido em contato com
o carbono, o que resulta na combinação do carbono com o oxigênio do minério, deixando
livre o metal ferro. Com a evolução dos fornos em tijolos cozidos cobertos por cúpulas, foi
possível o desenvolvimento de um novo processo chamado redução indireta. Com este
processo, a obtenção do ferro forjado foi possível através de dois estágios de produção.
Primeiro, o minério de ferro era aquecido a uma temperatura superior a 1500° C e fundido
para produzir, depois de frio, o ferro gusa. Em seguida, o ferro forjado era martelado à mão,
sendo por isso chamado de ferro batido. Este processo resultava num produto bastante puro e
resistente, com menos de 1% de carbono que podia ser torcido, enrolado, cortado e esticado, a
quente ou frio.
No passado, era comum os ferreiros utilizarem a forja artesanal, e trabalhavam o
material através de batidas a frio para deixá-lo mais maleável. Este procedimento
provavelmente se originou na Idade Média, período em que houve a expansão e difusão das
técnicas, isto é, por volta do século XI, quando se dispunha de poucas ferramentas de
trabalho.
Mesmo com as precárias condições de trabalho e as poucas alterações nos
procedimentos de execução, os ferreiros, ao longo dos anos, até o século XIX, produziram
verdadeiras obras de arte.
Atualmente, é grande o emprego de gradis executados ainda com esta técnica milenar.
O conhecimento do ferreiro deve ir além do conhecimento da técnica. As colorações que o
ferro adquire no processo são de grande importância para a execução do trabalho com a forja.
Os anos de prática do ferreiro ajudam a identificar a cor certa do ferro para o momento exato
53
de obter as peças desejadas da produção da forja. Dentro do processo de levar o ferro ao fogo,
ele adquire colorações que vão do vermelho mais forte ao mais claro, até o estágio certo para
serem trabalhadas suas formas. Esta intimidade do forjador com o ferro permite avaliar a
qualidade do material.
Segundo Assis (2003, p.111):
Atualmente a indústria produz ferro laminado de várias formas, como ferro chato,
ferro cantoneira, ferro tee, ferro redondo ou ferro quadrado, que podem ser empregados na
confecção de gradis. A laminação do ferro consiste em reduzir a secção de um lingote ou
barra de metal através da passagem do linguote entre dois cilindros que giram à mesma
velocidade, em sentidos contrários, sendo que a distância entre os cilindros deve ser de
espessura menor que a espessura inicial do linguote. Os produtos são arrastados pelo cilindro
sob o efeito de forças de atrito, que se originam na superfície de contato dos cilindros e do
metal laminado. A importância do atrito é fundamental para o processo, pois, na ausência
dessas forças de atrito, não haveria possibilidade de laminação. Durante a passagem pelos
cilindros do laminador, o material é estendido no sentido longitudinal, o que se traduz por um
54
Na segunda metade do século XX, surge em maior escala conhecimentos de solda com
oxiacetileno, a chamada solda mecânica, que veio substituir os processos de soldas artesanais,
vindos muito provavelmente da Alemanha, e que hoje são de fácil acesso a toda serralheria.
A soldagem de um gradil consiste em unir duas ou mais peças, garantindo a
continuidade do seu conjunto. Atualmente, a operação pode ser realizada por aquecimento, ou
por pressão, ou por ambos, com ou sem emprego de aditivo, e a temperatura de fusão é da
mesma ordem de grandeza do material de base. A soldagem autógena5 é aquela cujo metal de
base participa por fusão da constituição da solda, com ou sem emprego de metal adicional. O
acabamento da soldagem é uma das grandes preocupações na execução de gradis de ferro,
pois pode comprometer todo o bom desempenho da criação do artista quando não são
executados com capricho, evidenciando, deste modo, os nós de amarração dos perfis de ferro.
Apesar dos avanços tecnológicos da área siderúrgica, muitos serralheiros ainda
trabalham com a forja servindo-se dos princípios artesanais, como pudemos constatar no
atelier do Sr. João da Conceição Libório, na Rua Pacífico Pereira nº 98, Garcia, que desde a
década de 50 executa gradis de ferro.
O aprimoramento das técnicas na confecção das barras possibilitou, cada vez mais, o
5
Soldagem Autógena – a soldagem elétrica com arco é do tipo autógena, em que o arco elétrico é usado como
forma de calor (LAROUSSE, 1999, p.5446 ).
55
O ferro fundido é uma liga de Fe-C (Ferro Carbono), obtida por via líquida,
compreendendo um teor de carbono que se situa entre 2% e 6,7%. Quando o percentual de
6
Metalon – Aço galvanizado conseguido através de um processo metalúrgico chamado “galvanização a fogo”,
acessível às empresas com grande volume de produção. Material resistente muito usado na fabricação de gradis e
portões (PORTÕES, 2006).
56
carbono é de até 2%, obtemos o aço. O composto pode ter outros elementos na sua
constituição como silício, manganês, fósforo, enxofre, etc., geralmente em menor quantidade,
por ser considerado impuro.
O ferro fundido, segundo Chiaverini (1981, p.413), [...] “é a liga ferro-carbomo-sílicio,
de teores de carbono geralmente acima de 2,0%, com quantidade superior à que pode ser
retida em solução na austenita, de modo a resultar carbono parcialmente livre, na forma de
veios ou lamelas de grafita”.
Dentro da denominação geral de ferro fundido, podemos distinguir vários tipos de
liga: ferro fundido cinzento, branco, mesclado, maleável, nodular, dependendo das variações e
proporções das mesclas dos materiais.
A invenção do alto-forno resultou um avanço significativo na produção, que, até então,
tinha ainda um caráter bastante artesanal. A partir da segunda metade do século XVIII, a
produção do ferro fundido começou a ganhar um novo impulso, com vantagens de baixos
custos, facilidade de produção em série e possibilidades infinitas de formas de estilo
arquitetônico. Na “Arquitetura do Ferro” do século XIX e início do século XX, o ferro
fundido foi de grande destaque para um grande numero de obras espalhadas pelo mundo
inteiro, como já citamos no capítulo anterior.
Enquanto o ferro forjado, pelo tratamento da forja, tem aumentada sua elasticidade, na
fundição, o ferro fundido ganha maior rigidez e, segundo Colpaert (1974), é um excelente
material de construção que pode substituir a madeira e a pedra, com vantagens na maior parte
de suas atribuições. Por outro lado, requer maiores cuidados nos processos de fabricação, pois
exige domínio de outras técnicas.
Diferentemente da forja, a fundição é uma técnica que requer maiores cuidados, pois
o seu procedimento exige auxílio de outras técnicas como as moldagens7 de forma,
etapa fundamental para reprodução em série, e que é considerada a característica
fundamental da técnica (ASSIS, 2002, p.126).
Para se obter o ferro fundido, é necessário um modelo da peça que se queira criar, seu
respectivo molde e o metal em sua forma líquida. O processo é dividido em duas etapas onde
num alto-forno se obtém o gusa ou ferro fundido bruto, e onde são colocados, em proporções
adequadas, minério de ferro, coque ou carvão vegetal, que fornece o calor e o CO2 necessários
para a redução e fundir o calcário que deve fluidificar as impurezas e formar uma escória mais
7
Moldagem – técnica que se acomoda ou comprime numa forma o material que, solidificado, reproduzirá sua
configuração e servirá de molde (modelo) (HOUAISS, 2001).
57
fusível. Em seguida, o líquido é escoado em formas onde irá esfriar e solidificar. Esse produto
é chamado gusa ou ferro de primeira fusão, com percentual de carbono em torno de 3,5% e
4,5%, que servirá de matéria prima para a confecção de gradis ou de outros componentes.
O processo de fundição tem por objetivo uma “estampagem”, ou seja, a técnica dará
forma a uma peça ornamental, através da confecção do molde previamente criado de onde
obteremos a fabricação das peças. Este processo de fabricação se torna mais econômico e
permite a reprodução de um mesmo motivo em série. O aparecimento desta técnica deu-se,
principalmente, com o advento da Revolução Industrial, quando começou a época da
construção industrial com o surgimento de muitos elementos pré-fabricados em ferro fundido
de grades e portões.
Apesar de o ferro fundido apresentar a vantagem de ter um baixo custo e facilidade de
ser trabalhado em série, a partir dos últimos anos do século XIX, começa a ser relegado a um
segundo plano na Europa, talvez por estar muito ligado ao estilo eclético, que o leva a ser
desprezado pelos arquitetos modernistas.
As grades de ferro fundido expandiram-se pouco pela Cidade do Salvador na segunda
metade do século XX. Tiveram maior repercussão em finais do século XIX, com a influência
da arquitetura eclética, e com a presença de muitos artesãos estrangeiros que dominavam o
mercado. A técnica do ferro fundido não aparece nos gradis de ferro da modernidade, mas
torna-se importante na medida em que sua presença é notada nos detalhes de algumas peças
para confecção dos gradis de ferro.
O ferro fundido, além de ser um material barato, com resistência relativamente boa à
compressão, à usura e à abrasão, apresenta algumas desvantagens que são apontadas por
alguns engenheiros projetistas (TEICHERT, 1953, p.349),
2.6 AÇO
[...] é uma liga de natureza relativamente complexa e sua definição não é simples,
visto que a rigor, os aços comerciais não são ligas binárias: de fato, apesar dos seus
principais elementos de liga serem o ferro e o carbono, eles contêm sempre outros
elementos secundários, presentes devido aos processos de fabricação.
8
“O Brasil (26Mt) e a Coréia do Sul (22Mt), estão dentro os dez primeiros produtores mundiais, tendo
ultrapassado o Reino Unido, e a França (cerca de 19 Mt cada)” ( LAROUSSE, 1998, p.50 ).
59
a certo ponto do diagrama de equilíbrio das ligas de ferro-carbono, que foi tomado como
ponto de separação convencional entre o aço comum e o ferro fundido comum. Podemos
considerar dois tipos fundamentais de aço:
· aço-carbono ou liga ferro-carbono contendo geralmente 0,008% até cerca de 2,0%
carbono, além de certos elementos residuais resultantes dos processos de
fabricação;
· aço-liga ou aço-carbono que contém outros elementos de liga ou apresenta os
elementos residuais em teores acima do que são considerados normais. Os
elementos de liga como níquel e cromo produzem aço inoxidável, que, por conta
desses elementos, se tornam estremamente caros.
Estas novas tendências refletiram-se nos projetos contemporâneos, dos arquitetos
brasileiros e podem ser uma das razões pelas quais os arquitetos, em geral, estão empregando
cada vez mais o material aço inox nos seus projetos arquitetônicos, como gradis para portões
e sacadas.
Atualmente, falar de algo produzido em aço é o mesmo que pensar em resistência e
rigidez, qualidades importantes também para os gradis da contemporaneidade.
Nas últimas décadas, o aço inox tem sido sinônimo de status e beleza em algumas
obras arquitetônicas, utilizado de forma criativa em projetos para residências e edifícios de
alto luxo em Salvador.
O aço inox normalmente é forjado na máquina industrial, evitando-se, com isso,
manusear com batidas para possíveis ajustes, com o risco de afetar a superfície do aço que já
vem de fábrica com acabamento final. Os desenhos mais elaborados que requerem muitos
pontos de solda entre os perfis, também são evitados nos gradis de aço inox, pois necessitam
de mão-de-obra especializada de custo elevado. Por isto aparecem, principalmente nas
residências, com desenho de linhas retas, combinado com materiais frios e claros, como o
vidro, e materiais mais nobres. Os gradis de aço inox, geralmente, aparecem elaborados
apenas com cortes de perfis em encaixes com parafusos ou peças, com um mínimo de
soldagem, explorando a beleza do próprio material, em acabamentos que podem ser do tipo
escovado ou lixado ou de ambos numa mesma peça de gradil.
Apesar do emprego dos gradis de aço representarem custos mais elevados para a
obra, possui a vantagem do material ser resistente à corrosão, comuns à Cidade do Salvador.
Existem atualmente, no mercado, serralherias equipadas com máquinas para trabalhar
com peças exclusivas em aço inox, como é o caso do arquiteto José Rivas, na Ladeira Cruz da
Redenção 96, Brotas, que desenha e fabrica vários modelos de gradis.
60
9
Buzas laser Service –alta tecnologia em corte a laser (CORTE , 2000).
3 GRADIL DE FERRO NA PAISAGEM URBANA SOTEROPOLITANA
A nova sociedade urbana vem, cada vez mais, sendo caracterizada pela extrema
velocidade e troca de informações. Todos estes avanços, que são fenômenos da urbanização,
levaram as cidades a se tornarem lugares de medo e insegurança, fruto de um capitalismo
desenfreado, escondido em uma suposta modernidade.
A cidade que no passado, era o lugar fechado e seguro por antonomásia, o seio
materno, torna-se o lugar de insegurança, da inevitável luta pela sobrevivência, do
medo, da angústia, do desespero.Se a cidade não se tivesse tornado a megalópole
industrial, se não tivesse tido o desenvolvimento que teve na época industrial, as
filosofias da angústia existencial e da alienação teriam bem pouco sentido e não
seriam – como no entanto são – a interpretação de uma condição objetiva da
existência humana (ARGAN, 1992, p.212).
Muitas cidades são mal administradas, atormentadas pelos crimes e toda sorte de
problemas como a violência, a sujeira e a deterioração do Patrimônio Histórico.
Marx e Engels (1848) citam, em seu Manifesto Comunista, as transformações da
sociedade burguesa ante o maquinário, as invenções da máquina a vapor, das estradas de
ferro, do telégrafo, dos processos de industrialização, como sendo contribuições que
trouxeram um alto custo à sociedade: violência, destruição de tradições, opressão, redução da
avaliação de toda atividade ao frio cálculo do dinheiro e do lucro.
No entanto, ainda assim muitas pessoas são estimuladas a viver dentro dessas cidades
62
tão complexas, pois elas oferecem a seus moradores a possibilidade de desenvolver uma
melhor consciência de si mesmo e também um aprendizado mais rico com a convivência de
outros seres humanos, dentro desta grande complexidade. E esta é a vantagem da diversidade
dentro das cidades contemporâneas mais avançadas.
O projeto urbanístico evolui ou se transforma da mesma maneira que a sociedade está
sempre em transformação. As novas necessidades caminham juntas neste novo processo para
o projeto. O homem contemporâneo vem procurando outros tipos de abrigo dentro da cidade
em transformação: espaços de lazer fechados (praças e parques), condomínios residenciais
(casas e apartamentos), shopping centers (lojas, bancos e serviços diversos), onde se oferece
maior segurança ao homem moderno.
As marcas da atual paisagem urbana podem ser compreendidas, através de aspectos
relacionados ao passado, como as influências das inovações tecnológicas, e o que tudo isso
refletiu na arquitetura ao longo dos anos.
Os últimos anos caracterizaram-se pelas transformações mais profundas na sociedade,
e estamos atravessando contradições e desordens de toda ordem. Os progressos da ciência,
tecnologia e indústria estão sendo cada vez mais rápidos, trazendo uma defasagem constante e
a necessidade de readaptação do homem diante dessas mudanças.
A arquitetura no processo de desenvolvimento da cidade e o modo como se apresenta
nos seus diferentes períodos, são o reflexo das mudanças sociais de seu tempo. O meio, como
espaço no qual se insere à sociedade, seria um meio transformado pela técnica. “O espaço é
uma categoria histórica, e, por conseguinte, o seu conceito muda, já que se apresentam novas
variáveis no curso do tempo” (SANTOS, 1996, p.243).
Essas variáveis podem ser expressas pelos gradis, que buscam servir às novas
necessidades da cidade, transformando significativamente as relações do homem com o
espaço em que vive. O gradil de ferro é um dos elementos mais presentes na paisagem urbana
das cidades modernas neste último século, nas construções em geral, modificando a imagem
do urbano.
Dentre os espaços públicos que possibilitam a vivência sociocultural, as ruas e as
praças são os mais significativos, porque algumas representam os primeiros espaços do núcleo
de origem das cidades. A praça é um segmento que faz parte da paisagem e vem-se
modificando enquanto imagem urbana. A praça representa um espaço aberto encontrado nas
pequenas e grandes cidades, surge como confluência de ruas e geralmente é rodeada por
edificações. O seu significado está relacionado com o espaço urbano e é um ponto de
referência que permite estabelecer posição no contexto.
63
[...] espaços públicos urbanos devem ser essencialmente espaços de lazer, isto é,
lugares de dinâmica cultural onde o lúdico faça ressaltar um conjunto de expressões
e rituais, sinônimos do direito à cidade e de usufrutos de lugares agradáveis para
viver. Lugares que ofereçam uma grande escolha de atividades e que, ao
prolongarem a vida interior, sirvam de receptáculo de muitas aspirações por vezes
contraditórias, mas onde os cidadãos procurem sempre, mais ou menos
conscientemente, estar em osmose com a sua unidade de vizinhança, o seu bairro, a
sua cidade.
Diante dos problemas da cidade contemporânea, podemos salientar que, dentro desse
novo processo de transformação em que se observam o adensamento de áreas centrais e a
expansão dos limites periféricos da malha urbana, os espaços livres públicos irão reafirmar-se
como indispensável opção de lazer para a cidade. As praças, inseridas nos bairros, são
elementos necessários para a coletividade e têm perdido, nos últimos anos, a boa qualidade de
suas funções.
A praça contemporânea é um dos espaços que não ignora a crise da cidade e tende a
uma transformação, como espaço de lazer público. Vem sofrendo alterações ao longo dos
anos para uma nova adaptação de uma sociedade sempre mutante e a caminho de novas
adequações. Os gradis vêm sendo incorporados ao desenho urbano por motivos diversos nas
reurbanizações das praças. Esta prática não é nova. Desde de 1870, na Europa, já estavam em
voga, quando várias praças centrais foram cercadas com gradis de ferro. Antigamente, entre
nós, foi comum também o emprego de gradis de ferro fundido ou forjado, circundando os
jardins ou parques públicos. Atualmente, retornam ao contexto urbano, como solução para o
enfrentamento dos problemas de vandalismos e para tornar as praças locais mais “seguros”
nas cidades grandes. Exemplo disso, são as praças da Piedade e Dois de Julho no centro de
Salvador, que, após um longo período sem grades, recebem novos gradis com desenhos
orgânicos muito elaborados, especialmente criados por artistas e arquitetos.
64
A Praça da Piedade, tal como nós entendemos hoje, só tomou forma a partir do
final da metade do século XVIII.
Estudos mostram que,
delimitada pelo prédio de esquina da Piedade com a Av. Sete de Setembro, um dos edifícios
que, no projeto do arquiteto José Alioni, que estudou arquitetura na Bélgica, possuía duas alas
simétricas divididas por um corpo central mais alto, com uma cúpula pequena, mas elegante.
Em nome do progresso, uma de suas alas é demolida para dar passagem à Av. Sete de
Setembro inaugurada em 1912. O outro prédio importante que compõe o entorno, é o
Gabinete Português de Leitura, construção do século XX no estilo manuelino. Atualmente, a
praça está circundada pelas Igrejas da Piedade e de São Pedro Velho. À sua volta abrigam-se
o Gabinete Português de Leitura e o Consulado Português, a Secretaria de Segurança Pública,
a Faculdade de Economia da UFBA e algum comércio variado.
Já se pode perceber, através dos registros iconográficos e segundo Teixeira (19??),
que na época da construção do Gabinete Português de Leitura, “[...]o Largo da Piedade estava
cercado de grades conforme pode ser visto em fotografia coeva. Somente agora as grades
retornaram, depois de largo tempo, o largo da Piedade em aberto”.
Com altura total de aproximadamente dois metros, perfis de ferro numa modulação
regular foram apoiadas em uma alvenaria de pelo menos sessenta centímetros de altura, pela
avaliação que se pode fazer com as figuras de pessoas nas fotos. Os desenhos eram pouco
rebuscados e não apresentavam volutas, permitindo integração visual dos transeuntes que ali
passavam. (Figura 29 e 30).
Descrevendo como era esse logradouro no ano de 1936, o engenheiro Lauro Fontes
(DÓREA,1999) registra que, naquele tempo, havia ali no centro da praça majestosa fonte
luminosa, com jatos de água colorida, jardins floridos, bancos por toda parte, limpeza
impecável, largos passeios circundando a praça onde, aos domingos à noite, a Banda
Sinfônica da Polícia Militar reunia centenas de pessoas em suas apresentações.
Segundo Teixeira (19??), pouco tempo depois, o governo do Estado inicia obras de
construção na área, com ideais revolucionários para o tempo, que ainda guardava fielmente
os estilos do Barroco e do Neoclássico da praça, onde certamente nesta época os gradis já
haviam sido retirados.
O que, nos anos 30, era ponto de concentração da juventude da cidade, passou a ser
local de tráfego intenso. Neste processo, o espaço público de lazer e convivência foi, aos
68
Nos primórdios da ocupação urbana da Cidade do Salvador, a área onde fica a Praça
Dois de Julho era apenas um terreno bastante acidentado.
A partir de 1810, com o tratado entre Brasil e Inglaterra, a presença dos ingleses na
Bahia foi cada dia maior e, alguns anos depois, a colônia praticamente dominava os negócios
de exportação. Suas residências começaram a se formar em terrenos irregulares, próximas ao
Forte de São Pedro.
No fim da década de 30 do século XIX, realizam-se as primeiras obras de nivelamento
e urbanização do que viria a ser o Campo Grande de São Pedro. Em 1851, o terreno muito
irregular fora nivelado, surgindo assim a praça com o plantio de árvores e aberta a rua que dá
acesso ao Forte de São Pedro.
Em sua fala de 1853, Gonçalves Martins esclarece que a obra ainda se prolongaria até
69
junho daquele ano e “[...]ressalta a resolução de fazer passeios nos dois lados que se
comunicam com a estrada da Vitória”1(MARTINEZ, 1998, p.02).
É provável que já nessa época, segundo levantamentos iconográficos, tenha surgido o
primeiro gradil da Praça do Campo Grande, com altura de, aproximadamente, um metro e
trinta centímetros, com modulações de pilares circulares de ferro fundido a cada 2,50m,
estruturados de forma a receber quatro barras de ferro circulares na horizontal (Figura 31 e
32).
Esse gradil possibilitava visão clara dos transeuntes que passavam, tanto pelo seu
interior quanto pelo exterior, mostrando claramente ter sido introduzido para que fosse
delimitado o seu perímetro sem provavelmente inibir qualquer forma de acesso dos pedestres
(Figura 36). Aos poucos, foi-se tornando ponto de atração para a população que freqüentava a
praça, principalmente nos sábados e domingos, como lazer. Para o culto dominical da colônia,
foi erguida a Igreja Anglicana, com pórtico de colunatas, hoje em dia já destruída. Segundo
Carvalho (1998, p.287):
1
MARTINS, Francisco Gonçalves – Fala que recitou [...] na abertura da Assembléia Legislativa da mesma
província ( Bahia) no 1º de março de 1851, ( Constitucional Vicente Moreira, 1851, p.42 ).
70
A população mais rica da cidade vai aos poucos instalando-se, com grandes casas em
terrenos largos, que progressivamente foram criando a conformação do entorno do largo. Em
1858, no Diário de Notícias de 1º de julho, há a seguinte notícia:
É este campo aplainado com vegetação que encontramos não só na planta Wyell,
mas também no detalhado desenho do arquivo do CEAB (Centro de Estudos da
Arquitetura da Bahia) de aproximadamente 1860. Nesta planta estão assinalados
gradis, os passeios do lado da Vitória, os trilhos dos bondes puxados a burro e os
famosos palacetes que marcaram a área como erudita, entre os quais o palacete do
Visconde de S. Lourenço, onde hoje é o Hotel da Bahia e o Dr. Pacífico Pereira, no
local do Teatro Castro Alves ( MARTINEZ, 2002, p.8 ).
Apesar das grades ricamente trabalhadas nas casas ao redor, em leve estilo grego ou
italiano, muitas com pilastras, estátuas e arabescos variados para demonstrar o valor das
moradias de novos ricos, os novos gradis da Praça do Campo Grande mostravam sua
imponência, principalmente na altura e nos pilares. Os portões entre os pilares quadrados com
cerca de três metros de altura marcavam a entrada e apresentavam detalhes mais elaborados
em ferro em forma de lanças (elementos usados nos arremates das grades de acabamento
pontiagudo em formato triangular simples) e motivos decorativos de volutas no formato da
letra “C”( Figura 37 ). O restante do conjunto do gradil de ferro ainda se apoiava em uma base
de alvenaria, combinando com o mesmo acabamento dos pilares da entrada.
72
Até a metade da década de 40, o cenário do Campo Grande era de ricos palacetes
construídos no século XIX e início do século XX, com amplos jardins laterais, circundados
com seus gradis de ferro. Daí por diante, a especulação imobiliária vai mudando as feições da
praça e interferindo no seu entorno com outros tipos de edificações.
Na década de 60, uma intervenção se fez necessária para ligar a Avenida do Contorno
ao Vale do Canela e um acesso ligando o Campo Grande a esta nova articulação, subtraindo-
lhe parte da área. Os gradis concebidos no passado desaparecem, fazendo com que a praça se
torne, principalmente, lugar de passagem para os transeuntes.
A partir dos anos 70, a praça serviu para atrair moradores pelas condições de
centralidade e pela quantidade de área verde. Ao longo dos anos, os novos hábitos da
televisão e passeios aos shopping centers e playgrounds acabaram por afastar a população
local da praça.
A praça, então, passa a ser ocupada por pessoas estranhas ao local que, de visitantes,
passam a freqüentadores cotidianos. Novos hábitos começam a proliferar e,
conseqüentemente, vem o descuido com a manutenção, tornando-a um dos piores focos de
violência da cidade.
Essa constatação do sentimento de perda impulsiona não só a decisão municipal de
intervir na praça, como tambem os moradores a formar a Associação dos Moradores e
Amigos do Campo Grande, Canela e Vitória, a ASCAVI, e reivindicar grades com portões,
guaritas com guardas e outras séries de exigências, no sentido de trazer de volta a “qualidade
de vida” do espaço da praça.
No projeto de Restauração e Revitalização para a nova praça, um dos itens de
74
A Cidade do Salvador é, hoje, quase um museu a céu aberto, com grande variedade de
gradis, que se espalham por condomínios, praças, hospitais, escolas, empresas, residências e
outros edifícios. A diversidade está nas formas, cores, espessuras, técnicas e desenhos mais ou
menos elaborados, que refletem a transformação da identidade destes elementos arquiteturais.
As influências que podem gerar essas formas dos gradis, tanto na plástica como no
desenho da elaboração da criação, variaram muito no final do século XX.
Uma das questões fundamentais para se entender a evolução da forma pode estar
atrelada ao modo de vida do ser humano e aos avanços tecnológicos, neste último final de
século. Segundo Harvey (2000), somos cada vez mais “arquitetos em evolução”, em virtude
da capacidade científica, técnica e cultural que adquirimos.
A forma e o conteúdo no contexto das linguagens, não verbais, são para o processo
artístico tão imprescindíveis como o alfabeto o é para a linguagen verbal. Através
dos processos de criação, as possibilidades formais sugeridas pela matéria permitirão
reformulações originando novas características. (OSTROWER, 1995, p.219).
As formas dos gradis, além dos limites exteriores de que são constituídos, são também,
por sua vez, configurações estruturais que podem ser as mais variadas possíveis.
Os elementos visuais que constituem a “matéria-prima” para os que projetam os gradis
de ferro são quase sempre as linhas. Elas fazem parte da estrutura espacial e podem ser
estáticas ou dinâmicas, sugerindo movimento como nas curvas e aspirais, podendo também
descrever contornos que funcionam como limites, regulares ou irregulares. Cada segmento
linear, dentro da técnica do ferro forjado, cria essencialmente uma dimensão no espaço. A
linha sempre é vista como indicadora de movimento direcional, sem nunca expressar uma
condição estática. Na arte de desenhar gradis, é o elemento fundamental que pode definir ou
não contornos nas composições.
Segundo Giedion (1965, p.431), existem duas tendências compositivas diferentes que
aparecem, sempre, ao longo da história, uma racional e geométrica, e a outra irracional e
orgânica: “A través de la Historia persisten dos tendencias diversa, una hacia lo racional y lo
geométrico, y otra hacia lo irracional y lo orgánico: dos diversas maneras para conseguir
ajustarse al ambiente, o para dominarlo.”
Os gradis de ferro da segunda metade do século XX são testemunhos claros dessas
duas grandes tendências. Os desenhos orgânicos são inspirados nos motivos da natureza, na
sua grande maioria, de animais e de plantas. Os gradis baseados nas formas geométricas,
geralmente menos elaborados, possuem, alguns deles, intenções claras de buscar um
movimento ilusório ou uma tridimensionalidade para o observador ou simplesmente formar
composições com figuras geométricas. Muitas vezes, um mesmo gradil também pode
apresentar as duas tendências, ou seja, orgânica e geométrica juntas, porem, apesar das
formas mistas, são poucos os gradis que apresentam soluções técnicas diferentes numa mesma
peça. As formas resultantes dos gradis estão geralmente atreladas às técnicas que determinam
seu processo de construção.
Para entendermos melhor essas duas classificações do ponto de vista da análise
formal, classificamos os gradis em orgânicos e geométricos (Figura 38) e efetuamos uma
análise e classificação de 71 exemplares nestas categorias.
79
1
Do Anexo A, constam 34 exemplificações de projetos de gradis orgânicos. Neles, também constam as
especificações de cada um destes projetos.
81
2
Juarez Marialva Tito Martins Paraíso concedeu entrevista em setembro de 2005, em Salvador.
82
A maioria dos gradis articula-se com os muros e, por isso, o artista dá o nome da obra
de escultopinturas ou escultomurais (PARAÍSO, 2005).
espelhamento. O trabalho merece destaque pelo resultado plástico alcançado com as várias
formas do ferro forjado, numa composição criativa com os recortes no muro.
Com a leveza das formas e as poucas vibrações das cores, Juarez Paraíso consegue
estabelecer um diálogo harmonioso entre o gradil de ferro e a fachada do hospital, e também
com a paisagem onde ele está inserido.
No “Parque das Crianças” (Figura 42), o artista elaborou um conjunto de peças que
mostram sua admiração e influência pela obra do artista catalão Antonio Gaudi4. Na estrutura
de fechamento do parque, a construção mural de formas curvas é devidamente trabalhada
com cores vibrantes, numa variação de combinações aleatórias de pastilhas e cerâmicas
coloridas que recebem os gradis de ferro forjado, que são executados sob medida para os
vãos.
3
Cine Art I e II, cinemas que receberam murais inspirados no mito da cultura afro: Oxumaré, 1979 e 1988,
respectivamente ( MAGNAVITA, 2001,p.87)
4
Antonio Gaudi – Parque Guell, Sagrada Família e outros, em Barcelona, Espanha.
86
gradis que merecem maior destaque pelo artista recebem cores vibrantes, que contrastam com
o colorido das cerâmicas.
Em linhas gerais, os gradis de ferro criados para o Hospital Aliança são, na sua
maioria, de cores neutras e linhas predominantemente orgânicas, dando, assim, uma
percepção não muito clara do que seja o desenho. O artista explica tal intenção da seguinte
forma:
Destacamos também do conjunto, dois gradis com a função de janelas – gradil Sereia e
gradil Cavalo Marinho (Figuras 45 e 46), com diâmetros de 1,45 m e 1,40 m respectivamente,
e que se destacam pela forma circular (ver Anexo A: Projeto gradil 06/07). O conjunto
reproduz um mundo mágico para as crianças, onde se encontram os mais diversos tipos de
animais e figuras mitológicas, predominantemente usando a suavidade das curvas na
transformação do ferro.
Figura 45 – Hospital Aliança – “Parque das Figura 46 – Hospital Aliança – “Parque das
Crianças” – Gradil Sereia. Crianças” – Gradil Cavalo-Marinho.
88
A integração de todos os elementos, muros e pisos com a sinuosidade das formas dos
gradis de ferro, consegue estabelecer, dentro do conjunto arquitetônico do hospital,
conotações visuais bastante harmônicas com as imagens da natureza.
Outro gradil com função de janela foi elaborado para o edificio do hospital, na ala
das crianças, com motivo estilizado de um papagaio e folhagem (Figura 47), nas dimensões
de 1,60m x 1,63 m (ver Anexo A: Projeto gradil 08). Nesse trabalho, como em outros, o
artista emprega as barras chatas na elaboração dos detalhes menores, como circunferências de
raio muito pequeno, com o intuito de facilitar a execução da forja e, esteticamente, conseguir
menor tensão visual, como, por exemplo, nos detalhes das asas do papagaio, e deixando as
barras quadradas para as formas com maior tensão visual.
A simetria bilateral foi um recurso muito explorado pelo artista na maioria dos gradis,
como no caso do portão de acesso à “Ala das Crianças” (Figura 48), com 1,60m x 2,17 m
(ver Anexo A: Projeto gradil 09). A composição, com barras curvas de duas diferentes bitolas,
lembra as formas de animais como o caracol e outras formas orgânicas da natureza.
Paraíso, no Parque Infantil, teve ainda a intenção de criar um módulo de repetição,
que são curvas formando o desenho de ondas que se entrelaçam e aparecem na maioria dos
gradis da área externa do Hospital Aliança, fazendo composições com outros elementos
89
estilizados como peixes, caracóis, pássaros, cavalos. Deste modo, consegue dar unidade ao
conjunto da obra. Este desenho de curvas formando ondas é usado, por exemplo, no gradil de
Segurança do ar condicionado, na “Ala das Crianças” (Figura 49), com 3,00m de
comprimento, com perfis de barras chatas 7/8x5/16 e quadradas 7/8x7/8 (ver Anexo A:
Projeto gradil 10). Outro gradil que repete a mesma modulação é o Gradil do Portão do
Oxigênio (Figura 50), que serve para dar segurança aos cilindros de oxigênio, no qual o
artista obtém um jogo interessante com a continuidade das formas, em uma alusão ao
movimento de ondas do mar, reforçado com o detalhe central da estilização de dois peixes
em sentido contrário no portão de acesso (ver Anexo A: Projeto gradil 11).
No gradil Mural Carrossel (Figura 51), com quase 19 m de comprimento, Paraíso usa
a mesma forma de modulação na base, que se repete na associação do ferro com o muro (ver
Anexo A: Projeto gradil 12). O artista usa o mesmo elemento como suporte para receber
figuras de cavalos e outras formas como detalhes florais. Segundo o responsável por sua
execução, o arquiteto José Rivas (2005)5, [...] foram empregadas barras chatas (3/4x1/4 e
7/8”x5/16”) para a seção de cavalos e nos demais detalhes florais, e barras quadradas (7/8”)
para salientar o contorno do gradil.
5
José Rivas concedeu entrevista em setembro de 2005, em Salvador.
91
Paraíso aponta todo tipo de dificuldade na execução dos gradis do Hospital Aliança,
desde o desenho, a confecção, até a instalação. Segundo o artista, os gradis têm um desenho
próprio e não podem ser muito complicados, pois correm o risco de se tornarem inexeqüíveis
e não adequados às possibilidades técnicas da forja.
Os gradis foram trabalhados geralmente com duas ou três bitolas de ferro diferentes
cada um, empregando os mais diferentes tamanhos em barras quadradas (1”, 3/4", 7/8”) e em
barras chatas (¾”x1/4”, 1”x3/8”, 1”x1/4”, 7/8”x5/16”, 7/8”x1/4”).
Os contornos [são feitos] com uma barra mais forte, mais evidente (uma polegada
sempre), o que quase sempre é muito difícil para se entortar a peça. As ferramentas
vão sempre estourando porque a pressão é muito forte. O método mais antigo é
muito mais interessante porque você esquenta o ferro (PARAÍSO, 2005).
Alguns desenhos de gradis menos elaborados foram passados para o artesão e ele
próprio reproduz em verdadeira grandeza (1:1), mas, na maioria das vezes, os moldes para a
forja são confeccionados pelo artista em chapas de compensado com tinta lavável e na bitola
definitiva, pois a transposição do desenho pelo serralheiro pode, na ampliação, perder algum
93
detalhe da forma do desenho. No molde fornecido pelo artista, já está expressa a intenção das
diferentes bitolas, dando maior evidência a alguns contornos.
O artista conta que, para trabalhar as bitolas diferenciadas do gradil, ele simula a
própria espessura do traço no projeto do desenho na bitola desejada, ou seja, “[...] faço a
minha escala de 1/10, para ficar bem grande, ou 1/25, ou 1/20” (PARAISO, 2005). Quando
não é muito grande o desenho, ele prefere a escala de 1/10, porque consegue representar uma
polegada no traço. Em seguida, é feito o projeto executivo, em que se coloca a bitola do ferro
para a escala real de 1/1. Com a representação do desenho já na bitola certa, com as diferentes
espessuras das linhas, salienta o artista que fica mais fácil estudar os contrastes, para
evidenciar as formas e criar as tensões visuais necessárias. O trabalho é todo ajustado
previamente em relação aos materiais utilizados, para que sejam obtidos a melhor precisão e
acabamento no produto final.
Um grande problema enfrentado para a confecção dos gradis do Hospital Aliança
foram as junções das barras curvas, pois foi preciso muito cuidado para que as juntas não
ficassem grosseiras demais e malfeitas, o que ele denomina de “estrombudo”, apontando
assim as possíveis imperfeições no acabamento do material:
O artista explica, ainda, que a solda resolve bem a solução da superposição, porém
para que não haja “bolotas”, ou seja, protuberâncias, é preciso fazer um furo entre os dois
perfis, colocar a solda no buraco e depois lixar para o acabamento final. Deste modo, a solda
não aparece, pois ficará na parte interna do perfil, resultando num melhor acabamento.
O nível de complexidade do trabalho se instaura em todas as fases de produção, desde
a elaboração dos desenhos até a confecção das grades e a sua instalação. Porém, para os
gradis com a forma espacial cilíndrica, como aparece no gradil do Coreto, no detalhe do
Gradil Borboleta e no Gradil do Coreto Carrossel (Figuras 56, 57 e 58), com detalhes de
grandes borboletas e cavalos, é ainda mais complexo (ver Anexo A: Projeto gradil 14). O
94
Segundo o responsável por quase 90% da execução dos gradis do Hospital Aliança, o
artesão Silvio Roberto Andrade Costa6, antes da instalação no local, as peças passaram, ainda,
por um tratamento que compreendem três fases:
6
Silvio Roberto Andrade Costa concedeu entrevista em setembro de 2005, em Salvador.
96
muito mais resistente, porém de custo mais elevado. No Hospital Aliança, usou-se
galvanização a frio;
· pintura – todos os gradis foram pintados. Foi feita uma pintura à base de epóxi
(prime-epóxi), para a proteção contra a oxidação e também para dar aderência,
pois o galvanizado não possui tanta aderência para receber a tinta automotiva das
cores indicadas, conforme o projeto do artista.
Além da técnica da forja, alguns detalhes dos gradis, como os pássaros de asas abertas
e as libélulas que fazem parte do conjunto do Gradil Mural A e B da entrada (Figura 59 e 60),
foram executados em “chapa recortada a laser” (ver Anexo A: Projeto gradil 15). Este
processo, nunca antes feito na Bahia, foi executado em São Paulo e requerem ajuste preciso
do desenho na escala 1/1 para ser recortado. O artista criou um desenho estilizado da ave, que
precisou ser adaptado à técnica, ou seja, permitir fazer recortes vazados na chapa de ¼” em
aço inox. Desta forma, a peça possui contornos fechados que foram retirados após o recorte da
chapa, deixando em evidência as formas do pássaro. Portanto, o artista projetou o gradil
articulado com o tipo de técnica que seria empregada na sua execução.
Paraíso (2005) declara ainda que, “alguns problemas de execução dos gradis de ferro
muitas vezes podem ser evitados, inicialmente, pelo projeto do artista, que antevê no traço as
dificuldades da execução”.
A influência do artista é percebida, sensivelmente, no trabalho de criação do artesão
Silvio Roberto Andrade Costa, que, como já dissemos, foi responsável por grande parte da
97
execução dos gradis de ferro do Hospital Aliança, um dos que mais merecem destaque por
seu grau de complexidade e criatividade. Salientamos, a seguir, três gradis de ferro de sua
autoria, que possivelmente sofreram influência direta do trabalho do artista plástico Juarez
Paraíso.
O gradil da garagem da residência Costa (Figura 61) foi especialmente desenhado para
a residência do artesão com 3,20 m x 2,76 m e executado em perfis quadrados 5/8” x 5/8” e
barras chatas 1” x ¼.” (ver Anexo A: Projeto gradis 16). O desenho idealizado com tema
fundo do mar possui clara influência de Paraíso, principalmente no que tange às formas,
material empregado e às soluções técnicas. O gradil é dividido em três módulos que, juntos,
formam uma única composição. A fonte de inspiração, segundo ele, “é a própria paisagem”
(COSTA, 2005). Os desenhos criados pelo artista, como cavalo-marinho, conchas e estrelas
do mar e ondas que se entrelaçam, fazem parte da composição do gradil que tem as imagens
reais do mar como pano de fundo, numa composição simétrica, rica em detalhes e formas.
Na mesma residência, outro gradil com borboletas (Figura 62) com 5,50 m x 1,03 m,
foi executado com perfis de barras quadradas 1”x1” e barras chatas 1”x1/4” e 1”x 3/8”(ver
Anexo A: Projeto gradis 17). O desenho surpreende pela beleza da estilização simétrica dos
elementos florais e seus detalhes. O tema central da composição faz referência ao trabalho do
gradil do coreto de borboletas de Juarez Paraíso, mas o artesão consegue um resultado
surpreendente, com o acréscimo de outros desenhos orgânicos como flores e folhas, ajustados
à escala do local.
O terceiro gradil selecionado, da Ycaro Vital Metalúrgica (Figura 63), com 3,20 m x
2,76 m, também idealizado e executado por Costa, com barras quadradas 5/8” x 5/8” e barras
chatas 1”x1/4”, possui as mesmas características de simetria e composição dos anteriores (ver
Anexo A: Projeto gradil 18). O artista utiliza o detalhe dos cavalos de forma muito
semelhante à obra do carrossel do Hospital Aliança, com o acréscimo de desenhos estilizados
como um grande sol, estrela e lua, numa nova composição. Ele consegue, mediante os
desenhos já criados, elaborar composições novas com precisão de escala, emprego correto dos
perfis para o peso visual do desenho, revelando noções de simetria ao determinar uma
composição que possui coerência e equilíbrio para suas funções segurança e beleza.
Outros gradis de ferro de Juarez Paraíso são tratados mais adiante neste capítulo, em
classificação de gradis geométricos, os quais tambem serviram de inspiração para outros
profissionais.
98
Outro artista plástico de grande renome para a classificação dos gradis orgânicos é
Hector Julio Páride de Bernabó, que para muitos, foi simplesmente Carybé. O escritor baiano
Jorge Amado, que também foi seu cúmplice em muitas histórias da Bahia, assim o define:
“[...] pintor de tamanha fama por essas bandas no Brasil, no além-mar e nos cinco continentes,
que pinta maravilhosas paisagens da Bahia [...]” (AMADO, 1997, p.6).
Carybé foi apaixonado por gradis de ferro e nos deixou um grande legado. Entre seus
trabalhos, estão dois gradis executados com a técnica do ferro forjado: o gradil do Museu de
Arte Moderna (MAM), no Solar do Unhão, e o gradil da Praça da Piedade.
O gradil de ferro do MAM, desenhado especialmente para o Parque de Esculturas,
surpreende pela grandiosidade da obra de arte feita em ferro forjado.
Os jornais na época, como o Correio da Bahia, A Tarde e o Diário Oficial do Estado,
publicaram notas sobre a inauguração no MAM, e Jorge Amado deu depoimentos sobre a
importância da obra para a Cidade do Salvador.
100
[...] O espetáculo que resultará dos desenhos do artista tendo como fundo o azul do
céu da Bahia, será certamente de uma beleza infinita e única.
[...] Vai ser bom. Vai ficar uma coisa bonita, porque o pôr-do-sol vai dar ali e vai
ressaltar bem os desenhos (ALBERNAZ, 1996, p. 3 ).
O gradil do MAM é um conjunto formado por dois gradis: gradil do portão (Figura
64), com dimensão de 4,00 m x 3,5 m, e o gradil-mural (Figuras 65 e 66), com 20 m,
totalizando 24 m de comprimento (ver Anexo A: Projeto gradil 19). O gradil da porta de
entrada do jardim é uma das últimas obras do artista, que traz como temática “os costumeiros
motivos de Carybé” (AMADO,1996), ou seja, figuras humanas com a arte da capoeira e
santos do Candomblé, que são o estilo de seus quadros e murais. O artista tinha a intenção de
ressaltar os desenhos com o fundo do pôr-do-sol e o azul da Baía de Todos os Santos. O gradil
de ferro é trabalhado com linhas e contornos com barras de perfis diferentes, com o objetivo
de causar tensões. O gradil do portão possui simetria bilateral de composição, mas os
elementos em detalhe não se repetem: são peixes, aves, mamíferos e figuras humanas bem
estilizadas.
O gradil mural tem a intenção de reproduzir um grande quadro com desenhos que se
integram com o mar e o sol ao fundo, e a temática desenvolvida pelo artista reflete a história e
os costumes da Bahia. Esta paisagem linear é criada com o ferro forjado, através de módulos
seqüenciais que se justapõem. As figuras de contorno possuem detalhes com perfis de barras
retas, com peso visual menor em diferentes sentidos dentro dos contornos fechados, com a
função de criar textura na composição, e ao mesmo tempo, atender aos aspectos de segurança
do gradil.
Como já dissemos anteriormente, Carybé foi convidado, em 1998, a participar do
“Projeto de Restauração e Revitalização” da Praça da Piedade, em Salvador. Um dos itens do
projeto era a recolocação dos gradis de fechamento da praça. Segundo o arquiteto Daniel
Colina, responsável pelo projeto, a idéia de se gradear as praças surgiu com o arquiteto Luís
Paulo Conde, no Rio de Janeiro. A idéia logo contaminou arquitetos baianos que pensavam
em preservar o Patrimônio Histórico.
7
Daniel Colina concedeu entrevista em novembro de 2005, em Salvador.
103
Carybé possuía um grande fascinação por gradis de ferro, e sempre comprava gradis
antigos, alguns até do século XVIII. Os gradis, para ele, lembravam um pouco a
influência da tradição do ferro na cidade de Barcelona, na Península Ibérica, no final
do século XIX.
8
Antonio Marmo da Rocha Oliveira concedeu entrevista em novembro de 2005, em Salvador.
104
Os gradis da Praça da Piedade, precisavam ter uma altura compatível com a escala
da praça, e por isso foi determinada a inclusão de barras verticais, a princípio na
parte superior, e depois, para que os desenhos fossem mais destacados, se propôs
uma inversão, onde as barras ficassem na parte inferior.
9
Executados 800 m de gradil, através do sistema semi-industrial, pela Empresa Logus (BA).
105
A grade está estruturada em módulos, com barras de ferro quadradas de 1”, criando
lindos desenhos que se entrelaçam, de vegetação (como folhas e flores) e animais (como
patos, peixes e anfíbios). As portadas de entradas são bem marcadas com pilares e portões de
fechamento, em duas dimensões diferenciadas, e seguem o mesmo estilo dos gradis dos
módulos A e B, numa seqüência quase imperceptível de ajuste de um módulo para o outro.
Importante salientar que a solução para a execução dos gradis na técnica do ferro
forjado e a escolha do emprego de perfis relativamente delgados permitiram uma maior
integração dos espaços internos da praça com seu entorno e também um respeito pela
intervenção no Patrimônio Histórico.
Os desenhos dos gradis de ferro das duas praças já citadas, serviram de inspiração
para a artesã Marisol Vieira Barini10, que se uniu à Empresa Recrinor, para a elaboração e
execução do gradil (Figuras 71 e 72) da residência de Rosana Lance Saloio em Vilas do
Atlântico (ver Anexo A: Projeto gradil 23). Segundo a artesã, a idéia foi inspirada em outro
gradil de ferro forjado, que foi executado para uma pousada na Praia do Forte, com
características muito semelhantes aos desenhos de Carybé. Barini buscava para o gradil,
apesar dos 12 m de comprimento, uma solução que resultasse esteticamente num desenho
com pouco peso visual no contexto do jardim e que deveria integrar-se a área da piscina,
tornando a área de lazer agradável. A solução foi compor um desenho estilizado de animais
aquáticos, como polvo, estrela do mar, patos, aves e plantas, que se relacionam melhor no
contexro da piscina. Além dos animais e plantas, a artesã propõs tambem outros contornos
estilizados como fruteiras e folhas de coqueiro. A proposta resultou em módulos variáveis de
1,07 m a 1,20 m de largura, com perfis de ferro quadrado de 3/8” (o mesmo perfil empregado
na Praça Dois de Julho) e perfis de 5/8” para a estruturação dos módulos.
10
Marisol Vieira Barini concedeu entrevista em outubro de 2006, em Salvador.
107
11
Pasqualino Romano Magnavita concedeu entrevista em outubro de 2005 na Ilha de Itaparica.
109
12
Antonio Souto Aderne condeu entrevista em agosto de 2005, em Salvador.
110
O arquiteto conta que não houve nenhum desenho pré-elaborado, e que a idéia surgiu
imediatamente no chão, quando conversava com o serralheiro que iria executar o trabalho.
Munido de um giz branco, riscou o retângulo no chão do tamanho predeterminado na escala
de 1:1 e dentro dele o desenho, que definiu de “braços de árvores, e a partir desses braços
outros riscos, que formaram os galhos, folhas tipo canoas” (ADERNE, 2005). Os espaços em
branco resultaram em flores, formadas por um círculo central com outros ao redor. Explica
ainda que, pelos espaços vazados (as folhas), não poderia passar “a cabeça de um menino”,
ou seja, não poderiam ser maiores do que 22 cm, para que se cumprisse a função de
segurança. Caso isso acontecesse, imediatamente era colocada uma flor para diminuir o vão
do espaço no gradil. Como resultado, temos um conjunto de cinco módulos de gradis
diferentes um do outro, mas que, ao mesmo tempo, possuem elementos semelhantes de
composição, formados pela barra levemente curva, exceto pelas flores que são formadas por
circunferências idênticas que se destacam do conjunto.
Já o desenho de gradil de ferro para o Canela e Cia Restaurante (Figuras 77 e 78), da
arquiteta Inês Matos foi trabalhado de modo diferente dos desenhos já citados com inspiração
orgânica (ver Anexo A: Projeto gradil 27). A arquiteta elaborou o gradil em ferro, com alguns
perfis forjados, num desenho estilizado de folhas, numa escala muito maior. O conjunto
111
possui dois painéis, o gradil do portão da garagem que são módulos que se repetem
exatamente iguais de 1,50 m x 2,25 m, formando as portas de correr da garagem e o gradil
mural de 6,00 m x 1,25 m.
Cada módulo do gradil do portão da garagem é composto pelo desenho de uma grande
folha estilizada dentro do perímetro do portão, com perfis de barra chata de 1 ½”. A solução
adotada, pela arquiteta, para diminuir os grandes vãos e aumentar a segurança, foi inserir
barras chatas de 3/8”, que são soldadas dentro do contorno da folha no sentido inclinado,
como se fizessem parte da estrutura da própria folha. Na parte externa ao desenho do contorno
das folhas, as mesmas barras chatas são colocadas num sentido contrário, vertical ou
inclinadas, com espaçamentos menores para contrastar com os outros perfis.
No gradil mural, o desenho repete a mesma idéia das folhas em sentido horizontal e,
do prolongamento do contorno de suas linhas, resultam formas curvas entrelaçadas,
lembrando um botão de rosa. A composição com linhas retas e curvas sobressai na paisagem
da rua, formando um conjunto harmônico. Os perfis de ferro inclinados funcionam como
textura dos contornos mais fortes dentro da composição, prestando-se às funções de
segurança.
Dos gradis orgânicos que levantamos nesta análise, os motivos que mais aparecem
são, sem dúvida, as folhagens, o que, muito provavelmente, além da beleza, está ligado
também à facilidade de se forjar o ferro com a forma suave dos contornos das folhas.
Outro exemplo é o conjunto de gradis da entrada do Condomínio Residencial Jardins
(Figura 79) e, segundo a responsável pela criação e execução (ver Anexo A: Projeto gradil
28), Thereza Sá13, da empresa Ferro Batido, “a idéia surgiu da adaptação de um desenho visto
em revista” (SÁ, 2005). Os três gradis são semelhantes e se complementam: portão-garagem
de 3,50 m x 2,10 m, portão de pedestres 0,80 m x 2,60 m e gradil de 3,50 m x 1,40 m. Neles
foram usados perfis de barras chatas numa composição muito semelhante ao trabalho
executado pelo arquiteto Antonio Souto Aderne (Figura 72), porém, na composição do gradil
do condomínio, os desenhos das folhas são numa escala maior, com vãos vazados de
aproximadamente 0,35 cm entre as peças. Neste caso, é fácil entender o desenho, pois a
segurança do condomínio é reforçada pela pessoa física, não precisando o gradil ter vãos
menores. Os dois gradis possuem soluções de desenho e técnica muito semelhantes, apesar de
terem sido elaborados de modos diferentes e terem sido executados por artesãos diferentes,
em locais distintos e funções específicas.
Dessa forma, podemos concluir que o desenho de um gradil de ferro, além de estar
associado à técnica, precisa concordar com a função que ele desempenha em determinado
local, em relação ao seu grau de segurança. Pode um mesmo desenho, servir a propósitos
13
Theresa Sá concedeu entrevista em novembro de 2005, em Lauro de Freitas.
113
diferentes, ou seja, o desenho não está vinculado ao tipo de projeto em si, mas às condições de
gosto pessoal e facilidades técnicas.
A empresa Ferro Batido também assina a execução do gradil (Figuras 80 e 81) da loja
de representação Eliane Revestimentos (ver Anexo A: Projeto gradil 29). O projeto idealizado
para o gradil é formado por perfis em linha curva que se desenrolam num plano de modo
irregular a partir de vários pontos, numa composição livre e entremeados com pequenos
detalhes de animais estilizados em chapa recortada.
O gradil foi desenhado com dois módulos de 1,80 m x 0,75 m e um portão de 0,63 m
x 1,79 m. Sua altura e localização sugerem que sua principal função é decorativa, além de
limitar o espaço exterior da loja. Na sua execução, foram empregados perfis circulares de 3/8”
para as espirais e desenhos orgânicos, um perfil circular de 5/8” para as barras verticais e para
a sua estrutura de contorno, um perfil circular de 1 5/8”, todos pintados na cor bronze. O
destaque fica para o interessante desenho do prolongamento de alguns perfis em espiral,
resultando em partes de animais como: o rabo do esquilo ou a cauda da baleia, que se
integram com o conjunto, lembrando as volutas inglesas. As formas estão soltas, sem nenhum
rigor aparente de modulação; alguns perfis sugerem a idéia de peças incompletas, com
grandes vãos. Os perfis circulares e o portão em forma de arco pleno criam uma unidade
com as formas do ferro forjado, que se integram com as formas da natureza.
14
Ogan Léo, Presidente da Associação da casa Branca do Engenho Velho concedeu entrevista em janeiro de
2007, em Salvador.
116
Não poderia ser muito chapado, e o vazado não poderia ser vazado demais, porque
as pessoas passam ao redor, e porque acabaria no lugar comum de todas as grades; e
no caso, obscurecer um pouco não seria tão grave. Tinha que ter o cuidado de não
deixar nenhum lugar fechado demais, porém em alguns casos aconteceu, como por
exemplo no painel do Xangô (BORBA, 2005)15.
Nem todos os orixás têm representação no gradil, somente alguns: Omulu ou Obaluaê
(Deus da varíola, das pestes e de outras doenças contagiosas), Oxóssi (Deus da caça, orixá da
fartura), Iansã (Deusa dos raios, dos ventos e das tempestades), Iemanjá (Deusa dos grandes
rios, do mar e da maternidade, venerada como mãe dos orixás, dos seres humanos e dos
peixes), Xangô (Deus do trovão e da justiça) e Oxalá (Deus da Criação, o orixá que criou o
homem), que são deuses africanos:
Outros gradis do conjunto são inspirados nas casinhas e nas árvores sagradas, com os
animais por perto. O gradil painel de objetos está mais ligado a Ogun, que não poderia faltar,
já que é o “Deus da Guerra, do ferro, da metalúrgica e da tecnologia” (PRANDI, 2004, p.59).
A técnica usada por Bel Borba foi a de recortar as chapas com maçarico, a partir dos
desenhos previamente idealizados. O artista explica as razões da escolha do material e da
técnica da seguinte forma:
Minha intenção era transformar a chapa em uma renda. Em muitos objetos, eu já uso
esse processo de recortes vazados, então isso é um pouco a minha cara para outras
situações. Além disso, buscava causar impacto com a robustez na obra, com as
técnicas mais simples e rústicas que evidenciam um pouco o tempo. A cor do óxido
de ferro natural, também foi explorada como se lembrasse um pouco, os africanos
acorrentados do passado (BORBA, 2005).
Declara, ainda, que não enfrentou nenhum tipo de dificuldade. O trabalho foi
executado em seis dias, com planejamento prévio para a execução, [...] “quando você faz um
15
Alberto José Costa Borba concedeu entrevista em setembro de 2005, em Salvador.
117
16
Pop Art – Corrente artística essencialmente anglo-americana, surgida na Inglaterra em torno de 1954-1955,
que reagiu à subjetividade do expressionismo abstrato e da abstração lírica. (GRANDE ENCICLOPÉDIA,
1999).
118
Nos dois trabalhos prevalece o estilo do artista em retratar uma idéia por meio dos
símbolos, porém a percepção das imagens do gradil se perde quando são vistas de perto. A
compreensão do desenho é mais sentida quando nos posicionamos a uma certa distância do
conjunto, ou seja, torna-se mais evidente quando se tem uma visão clara de toda composição.
Os gradis de ferro de Bel Borba são uma obra de arte na paisagem da cidade, que embeleza
e ao mesmo tempo cumpre a função de dar segurança.
O arquiteto Daniel Colina também se inspirou em símbolos do candomblé quando
desenhou o gradil do portão de entrada (Figura 84), para a Fundação Pierre Verger (ver
Anexo A: Projeto gradil 32). Colina usou o ferro com perfis circulares de 1/4”. O gradil
possui um desenho simples, estruturado com perfis verticais e arcos na parte superior, e faz
claramente uma homenagem ao orixá Xangô. Na estrutura de um dos lados do gradil, o
arquiteto introduz o símbolo do orixá, que aparece em verde . O arquiteto declara que, “ por
um erro de execução, o gradil foi pintado de verde no local, mas foi idealizado na cor
vermelha, que é a cor de Xangô” (COLINA, 2005), Deus do trovão e da justiça. O símbolo de
Xangô é um machado de duas lâminas chamado oxé, que representa a justiça. Suas cores são
o vermelho, ou marrom, e o branco. Neste caso, a cor e a forma são componentes simbólicos
importantes que não poderiam estar desassociados no gradil.
O desenho de um gradil orgânico estilizado por símbolos pode, ainda, ter outras
formas de inspiração, como é o caso do gradil da Empresa Pneu Service (Figura 85), que foi
idealizado com base na representação simbólica da marca da empresa ( ver Anexo A: Projeto
gradil 33). O desenho do gradil com 2,20 m x 2,27 m, é um trevo de quatro folhas (90 cm x
90 cm), reproduzido com chapas de ferro recortadas, pintadas na cor amarela, e barras chatas
forjadas contornando e evidenciando o símbolo.
119
A proposta do desenho do gradil, que tem como função dar segurança a uma das
portas frontais da empresa, agrega-se à função de comunicador visual da marca. O gradil,
neste caso, é um dos elementos gráficos que caracterizam visualmente esta empresa, que
cumpre o papel de reforçar a identidade visual, comunicando sua cultura e filosofia perante o
público interno e externo. No mundo contemporâneo tão competitivo, tais ideologias são
cada vez mais bem aceitas pelas empresas, visando funções específicas.
O gradil do Instituto Goethe (Figura 86), projeto do arquiteto Carl von Hauenschild,
também deixa clara a intenção de se criar um desenho a partir do símbolo da marca da
instituição para sua divulgação (ver Anexo A: Projeto gradil 34).
O arquiteto declara que: “[...] possui outros projetos com a mesma ideologia, porém
sempre priorizando a segurança e que normalmente procura utilizar chapas de barra chata que
possibilitem serem calandradas” (HAUENSCHILD, 2006)17.
Nesse trabalho, particularmente, usou barra chata de 2” associada à chapa lisa
recortada e a tela quadriculada para compor o gradil . O resultado marca, de forma definitiva,
o símbolo da escola e sua identidade visual para todos que transitam no local.
Na criação do gradil de ferro com essa proposta, é importante que o projetista tenha
sensibilidade na escolha dos materiais, proporções e técnica. O material e a técnica devem
estar de acordo, de modo a atender às necessidades de transmitir a percepção correta do
símbolo. Se o artista não tiver sensibilidade para produzir uma tensão visual correta dos
elementos da composição, poderá acarretar a perda de percepção do símbolo da marca para o
espectador.
No gradil do Instituto Goethe, o arquiteto conseguiu reunir as funções de segurança e
divulgar a instituição, num desenho bastante claro da marca.
O que difere os gradis geométricos com efeito de movimento dos demais, são as
percepções dinâmicas que temos do conjunto da composição. O modo como compreendemos
o gradil pode dar-nos uma percepção do objeto, que sugere a idéia de deslocamento, uma
realidade ambígua de bidimensional para o tridimensional ou, simplesmente, uma intenção de
induzir o olhar.
17
Carl von Hauenschild concedeu entrevista em maio de 2006, em Lauro de Freitas.
18
Do Anexo B, constam 37 exemplificações de projetos de gradis geométricos. Neles, também as especificações
de cada um destes projetos.
121
Nos gradis que se seguem, a linha é o elemento mais presente e faz parte de um
conjunto dissociável. De acordo com Ostrower (1995, p.67): “A Linha (cada segmento linear)
cria essencialmente, uma dimensão no espaço. Ela é vista como portadora de movimento
direcional”. Para termos a compreensão exata das intenções da composição, temos que olhar
com certo distanciamento para percebermos a idéia de movimento. Podemos destacar, como
exemplos de gradil que nos faz atrair o olhar, o gradil do Teatro Castro Alves e o gradil do
Centro de Convenções.
O Teatro Castro Alves foi projetado por José Bina Fonyat (1957-1958), com
capacidade para 1.700 lugares, “[...] com concepção mais ligada ao racionalismo e às
circunstâncias locais, um alicerce mais clássico e uma estabilidade profunda apesar do
dinamismo marcante do ângulo extremamente agudo lançado por ele ao espaço” (BRUAND,
2003, p.219).
Inicialmente, no projeto não foi previsto seu fechamento com gradis, segundo o
arquiteto Heliodoro Sampaio. Somente em 1992, quando o Teatro Castro Alves passou por
uma longa reforma, é que os órgãos públicos decidiram cercá-lo com gradis para que se
preservasse o patrimônio. O projeto do gradil de ferro (Figura 87) é do arquiteto Luís Simas
que teve a preocupação de respeitar a forma triangular do teatro e por isso propôs um projeto
com elementos vazados inspirados nos detalhes das paredes laterais internas do teatro,
resultando num desenho seqüencial de forma triangular (ver Anexo B: Projeto gradil 35). O
arquiteto justifica que “teve a intenção de ser o mais fiel possível ao projeto de Bina Fonyat”
(SIMAS, 2006)19.
19
Luís Simas concedeu entrevista em abril de 2006, em Salvador.
122
Os gradis de ferro do Centro de Convenções (Figura 88), que cercam o seu perímetro,
foram projetados pelo arquiteto Fernando Almeida em 1998, seis anos depois da execução dos
gradis do Teatro Castro Alves (ver Anexo B: Projeto gradil 36). Os desenhos dos gradis de
ambos os projetos são muito semelhantes. O arquiteto Fernando Almeida, responsável pelo
projeto do gradil do Centro de Convenções, explica que há uma razão para essas semelhanças:
123
“[...] deveriam seguir o desenho e a técnica já executados no Teatro Castro Alves como um
estilo a ser seguido, ou seja, uma intenção de padrão para as obras do Governo do Estado”
(ALMEIDA, 2006)20.
O gradil está estruturado em módulos retangulares ligados com perfis de ferro de 4,5
cm x 8 cm que recebem barras chatas com 1 ½” na vertical e duas barras de travamento na
horizontal. No Teatro Castro Alves, os módulos retangulares são de 3,00 m x 1,28 m e no
Centro de Convenções, os módulos são mais altos com 3,00 m x 2,15 m. Ambos possuem
perfis de ferro na vertical de 1 ½ que são cortados na sua extremidade superior, a um ângulo
de 45° e inclinados para o exterior. Esta foi, possivelmente, a idéia encontrada pelo arquiteto
para que desempenhassem a função de lanças de proteção.
Almeida explica que, mesmo cumprindo as exigências do governo, criou um projeto
para o Centro de Convenções com a mesma tipologia de perfil de ferro e a mesma ideologia
de repetição do gradil do Teatro Castro Alves, porém com sutis diferenças no desenho
vazado. Na composição dos dois gradis, notamos a idéia de movimento seqüencial, o olho
acompanha sem interrupção um movimento que percorre um módulo seguido do outro.
Segundo Ostrower (1995, p.34): “Somos levados a perceber o movimento, acompanhando a
trajetória ao longo do traço, pois a linha funciona como uma seta que nos diz: siga por aqui”.
Outro gradil que também explorou, de forma diferente, a percepção de movimento, é o
gradil da Praça Nossa Senhora da Luz (Figura 89). A praça foi restaurada e reurbanizada a
partir do projeto da arquiteta Lucinei Carozo21 em 2000, e ganhou equipamentos novos para
crianças e um gradil de ferro. A arquiteta relata que, “seu interesse na criação da idéia era
fazer uma alusão às ondas do mar e ao referencial religioso, o que resultou num gradil na cor
azul com a forma de senóides22 intermitentes” (CAROZO, 2006). Os módulos retangulares de
3,00 m x 1,80 m estão estruturados com perfis de ferro na vertical de 2” com espaços de 12,5
cm em perfis de ½” (ver Anexo B: Projeto gradil 37).
20
Fernando Almeida concedeu entrevista em abril de 2006, em Salvador.
21
Lucinei Carozo concedeu entrevista em maio de 2006, em Salvador.
22
Senóide – curva cujas coordenadas cartesianas satisfazem a equação y = sen x (HOUAISS).
124
Carozo nos esclarece ainda que “o projeto inicial incluía detalhes coloridos em resina
de objetos como flor, peixe, baleia e estrela na parte superior e inferior de cada curva, que
trariam referências lúdicas” (CAROZO, 2006). Estes enfeites tinham o objetivo de diminuir a
sensação de prisão. Segundo a arquiteta, estes elementos foram instalados e, logo em seguida,
foram retirados, pois o poder público concluiu que houve um excesso de sobreposições de
formas e cores na paisagem, o que poderia acarretar prejuízos à sinalização da cidade.
O gradil de ferro da praça passou também por um processo de galvanização a fogo e
recebeu garantia contra corrosão, já que está próximo ao mar.
Nos dois projetos comentados a seguir, do arquiteto Luís Cerqueira, foram usados
módulos seqüenciais criados para duas diferentes obras: Shopping Grê-Center e Colégio
Integral (Figuras 90 e 91). Os efeitos de movimento obtidos pela mesma forma de barra
forjada, empregadas de forma diferente, resultaram em gradis de ferro semelhantes (ver
Anexo B: Projeto gradil 38 e 39).
A diferença dos dois projetos são as alturas e os afastamentos entre barras que acabam
produzindo diferentes percepções. Os gradis são formados por barras de ferro forjado
independentes, com duas alturas. No Shopping Grê Center, atingem 1,10 m e 1,30 m, com
perfis tubulares de 1 ¼” engastados num base de concreto de 15 cm. No Colégio Integral, as
barras mais altas são de 3,00 m. Nesta técnica, o arquiteto não precisou usar a solda entre os
perfis. Cada barra de ferro é forjada individualmente e engastada de forma independente na
alvenaria, amenizando, desta forma, possíveis ações de corrosão entre os pontos de solda.
Alguns gradis de ferro desta categoria podem, ainda, possuir caracteristicas de
composição que são bidimensionais, criando um efeito ilusório em tres dimensões e deste
modo, intencionalmente ou não, o gradil ganha volume, ou seja, os efeitos obtidos com luz
(conforme a posição do sol) ou com a profundidade dos perfis empregados criam ilusão de
tridimensionalidade . Estes efeitos curiosos são percebidos nos dois exemplos de gradis que
se seguem: gradil do Edifício Beta e gradil residencial no Condomínio Encontro das Águas,
de arquitetos desconhecidos (Figuras 92 e 93).
126
A solução para o gradil residencial no Condomínio Encontro das Águas tem analogias
compositivas com o anterior. Os módulos retangulares são de 3,16 m x 1,77 m estruturados
com perfis de 10 cm x 4 cm entre eles (ver Anexo B: Projeto gradil 41). Neste caso, o perfil
de ferro foi forjado com barras chatas de 2” e resultou na figura geométrica de losangos que
também se entrelaçam. Os efeitos de sol e sombra sobre o gradil resultam em desenhos em
perspectivas e cores inusitados.
A solução adotada para os dois gradis é o entrelaçamento dos perfis de ferro forjado de
barras chatas com ¾” e 2”, respectivamente. O efeito de tridimensionalidade do gradil com
losângulos é maior, pois, além de empregar um perfil de ferro mais largo, a colocação dos
perfis é feita em dois planos distintos.
Em ambos os casos, a percepção do movimento só é sentida a partir do nosso próprio
deslocamento em relação ao gradil de ferro e, dependendo da posição em relação a ele, esta
tridimensionalidade tende a variar.
O gradil da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA (Figura 94),
aparentemente simples, também ganha outra conotação quando visto à distância. O arquiteto
Pasqualino Romano Magnavita, autor do projeto, declara que sua intenção era criar um efeito
tridimensional e que, “[...] o afastamento entre os perfis verticais foi dado no sentimento”
(MAGNAVITA, 2005).
Figura 95 – Figura 96 –
Victor Vasarely. Gyemant - 33 (1973) Luís Sacilotto. Composição Abstrata (s. data)
Fonte: Argan (1999). Fonte: Salzstein (1998).
23
Op. Art – é a forma abreviada de Optical Art, expressão inglesa que designa um movimento ou tendência
iniciada na Europa e logo propagada aos Estados Unidos em começos da década de 1960. A Op. Art opõe-se à
harmonia estática da arte contemporânea tradicional, visando inversamente atingir um certo dinamismo que
depende, muitas vezês, de estímulos visuais.
129
Os artesãos, serralheiros mais simples que criam seus desenhos e executam seus
próprios gradis, ainda resistem às influências dos desenhos ingleses do século XIX, apesar do
progresso industrial ter propiciado algumas facilidades na arte da forja e ter colocado no
mercado uma grande gama de perfis de diferentes espessuras e formatos (redondos,
quadrados, e planos), já preparadas para receber as devidas curvaturas.
A principal característica dos gradis com influência dos desenhos ingleses são as
volutas e as linhas, os elementos mais utilizados nas composições e na identificação da
técnica da forja. Lemos e Corona (1979, p.472) assim definem uma voluta:
As volutas são formas carregadas de muita sensualidade que vêm sendo exploradas
desde os primórdios da história da serralheria, como está comprovado nas grades executadas
desde o século XII, no período românico.
A voluta foi uma idéia simples de se explorar, em decorrência da facilidade
operacional, que contribuiu para a forma espiralada perpassar séculos.
desenhos.
Esses gradis, normalmente, têm a função de proteção em varandas, janelas, portões,
corrimões de escadas, etc. Nas áreas mais pobres da periferia de Salvador, onde a violência se
instala com mais rigor, é fácil encontrar gradis com esses elementos formais sendo repetidos
exaustivamente. Este é o meio adotado para o isolamento e separação como modo de
proteção. É um universo imenso de gradis de ferro, onde os serralheiros exploram, com as
mais diversas possibilidades de tamanhos, diferentes espessuras de barras e desenhos mais ou
menos semelhantes entre si.
Para a construção de um gradil, o artesão deve ter conhecimento técnico da montagem
da peça, como tambem noções de composição para a criação modular dos desenhos.
As mãos habilidosas de alguns artesãos, ainda hoje, transformam o aspecto agressivo do
material em verdadeiras obras de arte, transformando o ferro em volutas, empregando a técnica
da forja de forma rudimentar.
Segundo o artesão João da Conceição Libório, hoje com 80 anos e, desde 1952,
trabalhando no oficio da serralheria, nas décadas de 60 e 70, eram muitos os trabalhos
executados em ferro forjado em Salvador. Ele explica como planejava seus desenhos:
“Riscava numa tabela para saber o tanto de espaçamento que ia ficar, e calculava quantas
peças iriam caber dentro da medida quadrada” (LIBÓRIO, 2005)24.
Libório declara que os projetos eram todos previamente detalhados e orçados aos seus
clientes e muitos deles, como os gradis do Hospital Professor José Silveira, em 1951, Hospital
Aristidez Maltez, em 1952, Hospital Santa Izabel de Nazaré (década de 60), Hospital
Evangélico de Brotas (entre as décadas de 60 e 70) não existem mais. É possivel que tenham
sofrido fortemente a ação da corrosão do ferro e foram substituídos ao longo dos anos, muito
provavelmente pelo alumínio, por ser um material de fácil manutenção. Infelizmente,
também, os projetos e os registros destes desenhos foram perdidos ao longo dos anos, por
falta de um interesse maior na preservação destas peças.
Alguns poucos projetos25 (Figuras 101, 102 e 103) foram guardados pelo artesão, onde
se observa a indicação detalhada das cotas e a precisão nos traços.
O artesão explica que, para a inspiração dos desenhos, as fontes eram variadas.
Normalmente, o cliente gostava de determinado gradil executado em algum lugar na cidade e
pedia para ele copiar. Para a realização de um trabalho deste tipo, muitas vezes eram
necessários adaptações e diversos ajustes, que podiam decorrer da qualidade da matéria-prima
24
João da Conceição Libório concedeu entrevista em setembro de 2005, em Salvador.
25
Os desenhos são de autoria do artista, mas não possuem data, registro de nome ou endereço do cliente.
133
ou do novo local a ser instalado, que muito provavelmente deveriam ter proporções diferentes.
Estes ajustes denotam o grau de habilidade que o artesão tinha que ter para conseguir um
trabalho satisfatório, pois o desenho precisaria ser adequado às novas medidas. Neste caso, o
módulo geralmente tem as mesmas proporções, e somente o número de repetições do módulo
é que se ajustam na medida da largura e da altura do novo gradil.
O gradil com módulos geométricos simples é aquele que tem, em seu desenho,
motivos retilíneos ou curvilíneos (linhas retas ou curvas, círculos, quadrados) em módulos
geométricos básicos que se repetem.
Alguns serralheiros buscaram caminhos diferentes, como a simplicidade das formas,
introduzindo cada vez mais os elementos geometrizados. As facilidades produzidas pela
Revolução Industrial, através de máquinas, e os mais variados componentes de perfis de ferro
na serralheria, ao longo dos anos, tenderam para uma simplificação das formas dos gradis da
segunda metade do século XX, até quase a própria eliminação das formas mais rebuscadas,
mantendo, porém, a herança de se trabalhar através de módulos iguais e justapostos.
Por essas alterações e transformações no desenho dos gradis, levantamos três hipóteses
prováveis:
· Facilidades com a introdução da máquina no trabalho da serralheria.
· Redução e simplificação de peças para eliminar custos.
· Evitar a corrosão que por ventura pudessem atacar o gradil de ferro nas junções com
muitos pontos de solda.
135
Segundo relato de Libório (2005), os desenhos se alteraram nos últimos anos para
desenhos mais simples sem volutas,
[...] devido à facilidade de se fazer gradis nas máquinas mais modernas como
Máquina de Corte, Máquina de Solda, Torno etc. As máquinas modernas não
facilitam certos acabamentos como volutas e tambem o custo torna-se maior quando
as peças são muito detalhadas.
A solda, como já vimos, é utilizada para unir entre si duas ou mais peças metálicas
formando um só corpo. Esses pontos de união tornam-se locais vulneráveis ao processo de
corrosão, que provoca deterioração substancial das superfícies metálicas. O ferro retém uma
quantidade tão elevada de cloreto que não é possível conter a corrosão, um dos problemas
mais graves ao se utilizar o ferro como solução arquitetural.
Segundo Oliveira (2002), os índices de corrosão podem ter várias características:
mudança de cor, de textura, aparecimento de pequenos orifícios, aparecimento de gotículas de
líquido (exsudação), manchas do tipo concha de retalhos e caminhos de rato. Desta forma, o
gradil de ferro pode apresentar, ao longo dos anos, variações que são causadas pela ação da
corrosão, que comprometem a estética da obra e trazem graves riscos à segurança e ao
funcionamento das peças de ferro.
O serralheiro Carlos Pietrasik, que aprendeu o ofício com o pai e dedica-se à profissão
há cinqüenta anos, desenhou e executou os gradis de sua residência há dez anos, no bairro do
Uruguai em Salvador. Para a composição do gradil, criou um desenho com elementos
circulares e outros detalhes menores que necessitavam de vários pontos de ligação entre as
peças, ou seja, pontos de solda, e, ao longo dos anos, ele próprio foi retirando os perfis um a
um. Para esta atitude, fornece uma explicação convincente – é que os pontos de solda
provocavam muita corrosão, comprometendo o aspecto estético e estrutural do gradil. A
retirada dos detalhes desses perfis, eliminando os elos de ligação entre as peças, diminuiu a
possibilidade de pontos de corrosão: “Quanto mais pontos de solda, maior a possibilidade de
aumentar a corrosão do gradil. Simplifica-se o desenho para evitar a corrosão dos pontos de
solda” (PIETRASIK, 2005)26.
É por esta razão que o artesão alega que muitos dos seus desenhos tendem a uma
simplificação, para evitar tais problemas futuros.
Os dois modelos de gradis selecionados a seguir (Figuras 104 e 105) são uma pequena
amostra do grande universo dentro da serralheria de Salvador, que mostra claramente as
26
Carlos Pietrasik concedeu entevista em outubro de 2005, em Salvador.
136
facilidades da criação e execução com a simplificação dos desenhos (ver Anexo B: Projeto
gradil 46/ 47 ). São formas geométricas simples como triângulos, quadrados e losangos, que
se repetem a partir de módulos. As combinações dos elementos são as mais variadas
possíveis, sempre dentro de uma lógica exata. Podemos tambem observar que existe uma
grande incidência de repetição de um mesmo desenho em vários pontos da cidade,
aparecendo, principalmente, em residências de baixo e médio padrão.
Figura 104 – Gradil residencial em Itapuã – portão 4. Figura 105 – Gradil residencial em Itapuã –
portão 5.
Os modelos dos gradis que se seguem (Figuras 106 e 107), são modelos diferentes
que foram gerados por perfis de ferro forjado com formas semelhantes.
É importante ainda observar que os módulos são formados por desenhos que se
repetem, ou seja, uma espécie de submódulos, que também estão dispostos dentro do conjunto
da composição, segundo certa regra. Estes desenhos de subdivisão do módulo podem também
gerar gradis diferentes quando se altera sua estrutura de composição ou pequenas variações
nos perfis de ferro e, com isso, reproduzem-se diferentes gradis (ver Anexo B: Projeto gradil
48/ 49).
137
Figura 108 – Gradil residencial no Bonfim – Figura 109 – Gradil residencial no Bonfim –
portão 1. portão 2.
Alguns gradis apresentam desenhos mais simples com formas geométricas, e outros
com desenhos de volutas associados às barras verticais, numa composição mista. As formas e
desenhos deste tipo de gradil para garagem estão, desta forma, vinculadas às funções de
proteção que o proprietário pretende dar ao seu veículo.
139
O gradil com módulo geométrico composto é aquele gradil que tem seu desenho
constituído pela combinação de dois ou mais módulos diferentes.
Os gradis modernos tendem a uma grande criatividade apesar de os desenhos serem
mais simplificados. As possibilidades de combinações são às vezes exploradas pela cor ou por
arranjos de posições diferentes entre os módulos. As arquitetas Leda Cristina de Castro Meira
e Idellene Gonçalves, responsáveis pela criação do gradil da Escola de Inglês ACBEU (Figura
110), exploraram bem tais características, quando analisaram o aspecto dinâmico das cores
(ver Anexo B: Projeto gradil 54). Apesar da simplicidade da forma, as arquitetas conseguiram
projetar um conjunto de gradis para o fechamento do portão de entrada, que é formado por
painéis quadrados interligados por perfis circulares. Estes painéis estão estruturados por um
perfil quadrado de 1” no seu perímetro e, internamente, por perfis de barra chata de 1”, todos
pintados em azul escuro, com tratamento antiferrugem. Cada painel é constituído por dois
módulos simples de repetição justapostos e diferentes com de 52 x 47 cm. O módulo se divide
em quatro submódulos iguais que recebem um quadrado de aproximadamente 10 x 10 cm
executados em chapa lisa recortada. Cada quadrado é soldado na estrutura dos módulos em
posições diferenciadas e é pintado de modo aleatório por uma das quatro cores selecionadas:
azul claro, verde claro, amarelo e o tom cinza. As cores escolhidas são suaves e fazem
contraste com a cor mais forte da estrutura. O resultado é um gradil alegre, dinâmico e
criativo como devem ser os princípios da escola.
Outro gradil, que também explora o contraste da cor e a diferença entre módulos, são
os portões do Cemitério Abrigo Salvador (Figura 111).
27
Sol – o sol, por sua simetria e forma básica, é considerado também abstrato.
28
Logotipo – marca constituída por grupo de letras, siglas ou palavras.
141
Figura 112 – Gradil da Igreja Batista Figura 113 – Gradil da Igreja Batista
Monte das Oliveiras – fachada. Monte das Oliveiras.
Figura 115 – Gradil da Escola Acalento. Figura 116 – Gradil da Escola Acalento –
Detalhe.
A forma como se originaram estes gradis nos faz crer que muitos outros profissionais
da arte do ferro podem ter sido influenciados da mesma forma, buscarndo inspiração na obra
de artistas plásticos ou arquitetos, e é possível que esta seja uma tendência para os gradis de
ferro da contemporaneidade.
ressalta estas mesmas características e que nesta pesquisa, classificamos como Gradis do
Movimento Moderno. Estes gradis surgiram por volta da década de 70 e alguns resistem até
hoje em bairros distintos, como Brotas, Canela e Costa Azul, como pudemos constatar no
local. Trata-se de gradis para portões, alguns deles de garagem, com proporção, desenho e
material muito semelhantes (ver Anexo B: Projeto gradil 63/ 64). Infelizmente, não existem
dados suficientes para entender por que aparecem com a mesma forma e desenho em
diferentes bairros. É muito provável que um mesmo projeto tenha sido copiado por artesãos,
já que seu módulo de repetição é facilmente adaptado a qualquer tamanho de gradil.
Nos bairros de Brotas e Canela, o gradil tem a função de portão de garagem de duas
residências unifamiliares. O do bairro do Costa Azul é o único que estava em péssimo estado
de conservação e foi retirado e enviado ao “ferro velho”, justamente no momento em que
documentávamos com fotografias.
A execução do gradil é basicamente uma estrutura rígida formada por perfis circulares
3/8” na vertical, espaçados em aproximadamente 25 cm entre si, tiras de chapa de ferro lisa
com 14 cm de altura que se entremeiam pelas barras de ferro e são soldadas nas extremidades
da estrutura vertical. O resultado obtido é um gradil com duas faces distintas e que não possui
nenhuma abertura vazada, já que o entrelaçamento feito, alternadamente, vai de uma
extremidade a outra, passando por entre os dois lados do gradil.
Apesar do racionalismo, o gradil possui muito dinamismo na composição, pois, em
decorrência da sua estruturação, tende à tridimensionalidade das formas, obtidas pela
simplicidade dos materiais e da técnica.
147
4.2.2.6 Estruturais
Esses sistemas em perfis de aço, ao mesmo tempo em que são estruturais, também
servem como gradis, para dar segurança aos pedestres que circulam pelas passarelas29 (ver
Anexo B: Projeto gradil 65) Os conjuntos possuem módulos constantes que se repetem em
vários locais da cidade, com diferentes cores de cobertura e gradis, criando uma identidade
para a cidade.
O arquiteto, ao projetar as passarelas, criou marcos visuais fortes, com os quais o
29
Passarelas Padronizadas – foram construídas pela FAEC (1986-1988) mais de 15 passarelas em Salvador,
além de outras no Rio de Janeiro, Brasília e Florianópolis.
148
Figura 126 – Gradil Urbano – Piatã l. Figura 127 – Gradil Urbano – Piatã 2.
Em locais mais afastados da orla marítima, nos bairros da Pituba e Rio Vermelho, os
gradis possuem um desenho mais simples e não são em cores variadas, geralmente são
pintados de amarelo. Não existe um modelo padrão para os desenhos dos gradis urbanos, o
que dificulta sua identificação, reposição e manutenção dos perfis tubulares, que sofrem a
ação da corrosão.
Os gradis mais coloridos desempenham, ainda, o papel de marco visual dentro da
cidade, como equipamento de sinalização na identificação do espaço urbano para os pedestres
que freqüentam estes locais.
149
30
Neilton Dórea concedeu entrevista em abril de 2006, em Salvador.
150
Outro trabalho que destacamos é o da arquiteta Rosana Maria da Silva Carneiro, para
uma residência unifamiliar de alto luxo (Figura 131), que usa o aço não só nos gradis dos
portões da residência, como também nos detalhes dos gradis das varandas. O gradil é
executado com moldura em aço inox polido de 10cm e perfis tubulares de ¾ , perfis
quadrados de 1” alternados na horizontal (ver Anexo B: Projeto gradil 70). O emprego do aço
inox para gradis em residências geralmente está associado aos projetos de alto padrão mais
despojados, mais sóbrios e de linhas retas. Neste caso, o material não foi forjado, somente
soldado à estrutura com simplicidade, e sua maior função é dar limite à propriedade e não
segurança.
O projeto das arquitetas Marcia Teixeira e Ludmila Gouveia para o gradil do peitoril
da varanda, criado para uma residência unifamiliar de alto luxo (Figura 132), é baseado em
módulos que se repetem em uma estrutura de perfis de aço inox polido de 3”, 2” e perfis de
aço inox de ¾” (ver Anexo: Projeto gradil 71). Os perfis de aço, neste caso, foram levemente
curvados, o que resultou num desenho com módulos alternados, sem muito rebuscamento . Os
perfis são parafusados ou encaixados na estrutura, dispensando pontos de solda.
É comum os gradis de aço inox em alguns projetos, estarem associados com outros
gradis de aluminio, provavelmente por conta do peso e dos altos custos.
Nos últimos anos, vem crescendo a preferência em se utilizar o aço inox como
material para gradis, pela praticidade de manutenção e beleza, e tem sido um novo desafio
explorá-lo técnica e formalmente.
CONCLUSÃO
O papel do gradil torna-se destacado, diante de uma sociedade moderna que se fecha e
se enclausura, mostrando como este elemento de arquitetura está presente e pode ser
testemunha das mudanças sociais, culturais e econômicas.
Os primeiros gradis de Salvador desenvolvidos foram feitos a partir de cópias dos
europeus no séc. XIX, principalmente dos ingleses. Com o tempo incorporando lentamente a
cultura e desenvolvendo técnicas próprias, com criatividade e beleza, soubemos criar uma
gama de possibilidades, cada um dos seus autores, expressando-se com capacidade, nos
limites de sua formação.
Os gradis modificaram-se dentro do cenário da modernidade, com design diferenciado.
O “ecletismo”, como denominamos, dos gradis de ferro da segunda metade do século XX
reflete as várias vertentes de pensamento e comportamento que o homem moderno enfrenta,
aliadando-se às possibilidades tecnológicas.
O modernismo trouxe as ideologias da funcionalidade e racionalidade, refletindo-se
nos gradis em forma de racionalização de custos e simplificação das formas, porém não aboliu
completamente a preferência por detalhes elaborados.
Os gradis de ferro são peças importantes no contexto da cidade moderna, não só por
motivos de segurança, mas também por razões estéticas e de status. Suas funções podem,
também, ir além, e transformar-se em ferramentas importantes de identidade visual de uma
empresa para os interesses comerciais. Podem ser traduzidos como elementos de decoração e
expressão da personalidade, através da criação de seus desenhos. Em alguns casos,
contradizem os princípios do espaço moderno, quando privatizam o espaço público, criando
fronteiras fixas e acesso restrito. Para alcançar as metas de selecionar, isolar ou distanciar, os
gradis podem ser meios de produzir segregação do espaço urbano. Outras vezes, fazem-se
extremamente imprescindíveis, como em locais da cidade que oferecem riscos aos
transeuntes, onde pedestres transitam próximos às pontes.
Os resultados dos projetos dos gradis modernos, no entanto, são de grande
criatividade, com influências das mais diversas, associadas a tecnologias antigas (como o
ferro forjado) e novas tecnologias (como recortes em chapa a laser) que se mesclam com
desenhos exclusivos feitos por arquitetos, artistas plásticos e artesãos. É uma produção
variada, que mistura formas e desenhos (orgânicos, geométricos ou ambos), traduzindo as
154
necessidades do mundo moderno. Os limites de sua criação são determinados pelas técnicas,
pela liberdade de criar e pelas necessidades das funções específicas que cada gradil
desempenha no contexto.
O mercado disponibiliza uma grande variedade de produtos que facilitam as produções
e ajudam na criatividade de todos os artistas na arte do ferro. A tecnologia contribui com as
máquinas, que vieram facilitar o trabalho. A indústria colocou inúmeros materiais novos no
mercado, que servem de inspiração. A modulação dos desenhos se diversificou. Tudo isto,
atrelado à criatividade dos artistas, abriu novos caminhos.
O grande destaque dos gradis de ferro, neste último século, deve ser dado ao
aperfeiçoamento das técnicas da forja, que proporcionaram um grande avanço, resultado da
indústria, e uma possibilidade de formas de desenhos extremamente complexos, como
pudemos observar com o trabalho de artistas plásticos como Juarez Paraíso, Carybé e artesãos
muito habilidosos que, de certo modo, sofreram influência destes artistas.
No Capítulo 3, vimos que, diante dos problemas de violência da cidade
contemporânea, suas praças centrais apresentavam necessidade de uma reurbanização. No
passado, as praças do Campo Grande e da Piedade foram concebidas com gradis de ferro,
sempre associados a uma base em alvenaria. Para esta reurbanização, uma das propostas dos
projetos arquitetônicos era trazer de volta os gradis de ferro ao contorno das praças, como
solução para enfrentar os problemas de vandalismos, tornar os locais mais “seguros” e
preservar o Patrimônio Histórico.
A praça da Piedade, implantada no início do século XX, ganha seu primeiro gradil de
ferro por volta de 1912, com perfis simples na vertical, com lanças metálicas na sua
extremidade e modulação regular. Após sucessivas intervenções, os gradis de ferro são
retirados e, na década de 70, grades simples em forma de arco de 15 de cm de altura tentam
evitar o pisoteio dos canteiros, sem sucesso. Somente em 1998, com os planos de
Revitalização e Restauração do governo, a praça ganha gradis de ferro novos, desenhados
pelo artista plástico Carybé. Os gradis possuem desenhos orgânicos, através das curvas
suaves do ferro obtidas com a técnica do ferro forjado, com o intuito de fazer com que o
gradil se integre à paisagem.
Outra importante praça concebida com gradis de ferro, por volta de 1853, é a praça do
Campo Grande. Este gradil com perfis de ferro horizontais apoiados em pilares circulares de
ferro fundido possibilitava visão clara dos transeuntes. Somente em 1895, com sua
reinauguração, a praça ganha status e recebe gradis mais suntuosos, elaborados em forma de
lanças pontiagudas e acabamentos em volutas, que reservam o espaço interno para as camadas
155
sociais mais privilegiadas. Ao longo dos anos, após várias intervenções na praça, os gradis
desaparecem e somente em 2003, com o projeto de Restauração e Revitalização, recebem
novos gradis com motivos inéditos, baseados nos desenhos da praça da Piedade deixados por
Carybé. Os gradis de ferro forjado possuem desenhos orgânicos estilizados de animais e
plantas, numa seqüência quase imperceptível de ajuste de um módulo para outro. O resultado
final é de uma beleza surpreendente, pois, além de valorizar a praça, integra-se a ela.
Os gradis das praças públicas, além de cumprir seu papel de segurança, impulsionam o
sentimento de cidadania e orgulho na preservação do Patrimônio Histórico para o usufruto
coletivo da população em geral, carente de obras que homenageiem os costumes e crenças da
própria cultura. A importância destas obras para a Cidade do Salvador vão muito além de
serem simples gradis de ferro que fazem proteção, são esculturas para serem admiradas e
servem de inspiração para outros artistas e artesãos.
Os gradis de ferro da modernidade dividem-se em dois grandes “estilos”: os que
sofrem ainda forte inflluência das cópias de padrões importados do passado, que são
geralmente explorados por artesãos para as classes sociais de menor renda; e os que se
revelaram esteticamente, criando estilo próprio, explorando técnicas e materiais novos,
ditados principalmente pelos arquitetos e artistas plásticos. É bem verdade que a inflluência
destes se faz forte e presente nas gerações dos novos artesãos.
Artistas e arquitetos contribuíram para os novos caminhos de grande criatividade dos
gradis. O trabalho deles, apesar da enorme diversidade e da direção percorrida por cada um,
raramente possui a preocupação de interagir com a cidade. Podemos, no entanto, perceber que
seus trabalhos possuem um franco diálogo com as questões sociais e culturais, que não
podem ser dissociadas da cidade.
Em última instância, todo gradil é um trabalho de arte, que mesmo indiretamente,
dialoga com a cidade, lugar das decisões políticas, dando ênfase à subjetividade do artista, no
lado afetivo e humano, que é próprio da arte.
No Capítulo 4, identificamos uma possível amostra que representa esta variada
tipologia de gradis com características próprias, revelando que, em razão da profusão de
detalhes, a serralheria baiana muito contribuiu para a beleza dos edifícios e do espaço urbano
de Salvador na segunda metade do século XX. Com base nas observações de Giedion, o qual
afirma que, ao longo da história, se produzem duas tendências compositivas e, tambem,
devido à grande diversidade desta tipologia, estabelecemos nesta pesquisa uma classificação
para facilitar a análise dos gradis de ferro, divididos em dois grandes grupos: os gradis com
formas orgânicas e os gradis com formas geométricas.
156
ilusórios foram experimentados por pintores contemporâneos, a partir dos anos 50, pela Op.
Art e serviram de inspiração principalmente para os arquitetos que são os que mais
exploraram tais efeitos.
A segunda classificação, influência dos desenhos ingleses, é representada pela grande
quantidade de gradis que ainda resistem às influências dos desenhos ingleses do século XIX,
apesar de a indústria ter colocado facilidades para a técnica da forja, com uma variedade de
perfis de diferentes espessuras e formatos. Os gradis com tais influências são caracterizados
pela voluta (forma espiralada), que podem ser criadas a partir de algumas possibilidades do
uso da barra em formas como “C” ou “S”. Os gradis desta classificação são trabalhados,
essencialmente, a partir de módulos regulares repetidos, numa relação direta com o tamanho
do gradil. Os artesãos de bairros mais pobres são os que mais exploram este tipo de desenho
em gradis de ferro forjado, com a função de proteção em varandas, janelas e portões.
Os gradis com módulo simples possuem desenhos com motivos retilíneos ou
curvilíneos em módulos geométricos, mantendo a herança de se trabalhar com a repetição de
módulos iguais e justapostos. Os gradis possuem desenhos simples, geralmente trabalhados
com o ferro em barras simples ou levemente forjadas, com poucos pontos de solda, já que
estas junções são sucetíveis ao processo de corrosão. Alguns portões destinados a garagens
de automóveis tiveram, por força das circunstâncias, alterações para a forma tridimensional,
buscando diferentes composições e formas, a fim de adequar-se à forma do veículo a que se
destinava o espaço da garagem.
Os gradis com módulos compostos possuem desenhos constituídos pela combinação
de dois ou mais módulos diferentes. Apesar da simplicidade, possuem grande criatividade,
explorada muitas vezes pela cor e forma. Os artistas buscam inspiração através das mais
diversas fontes, como a própria edificação a que se destina, a fachada da edificação ou até
simplesmente a forma dos materiais que compõem uma edificação. Outros gradis desta
classificação podem ainda, através dos seus desenhos, transmitir os conceitos de
desenvolvimento e tecnologia, como é o caso dos gradis do Instituto do Cacau, tentando
marcar os conceitos de uma época.
A arquitetura moderna trouxe um modelo de gradil cuja inspiração baseava-se em
figuras geométricas, com uma técnica mista entre soldagem e entrelaçamento de tiras de
chapa de ferro lisa, numa estrutura rígida. O resultado desta composição racionalista, que
tende a uma tridimensionalidade, nos leva a classificar este gradil como gradil do movimento
moderno, cujos poucos exemplares ainda resistem às ações da corrosão.
Os gradis estruturais esão representados principalmente nas passarelas padronizadas
158
de estruturas de treliças metálicas em aço especial, projeto do arquiteto João Filgueira Lima,
e outros gradis tubulares que servem de anteparo e segurança para os pedestres na Cidade do
Salvador. Estes gradis coloridos, além das funções de segurança, servem como equipamento
de sinalização na identificação do espaço urbano, criando uma marca visual importante para a
cidade.
Por fim, vêm os gradis em aços especiais, que atualmente vêm sendo muito
empregados, com linhas mais sóbrias para residências e edifícios de alto luxo. O aço inox e
escovado são materiais muito utilizados pelos arquitetos em projetos de linhas mais
modernas, às vezes associados a outros materiais e técnicas diferentes, com grande
inventividade.
No que diz respeito à classificação, dos gradis, já esclarecemos que, muitos deles
poderiam pertencer a uma ou mais classificação, já que, técnicas, materiais e formas
diferentes às vezes se misturam num mesmo gradil, dificultando na classificação, podendo
levar a outras formas de entendimento.
É grande a responsabilidade de quem cria esta arte democrática que interfere na
paisagem das cidades modernas. Suas configurações podem transformar o espaço
arquitetônico em sensações de maior ou menor desconforto. O desenho pode ajudar a integrar
o espaço interno e externo das edificações ou trazer mais segregação e confinamento.
Para amenizar as sensações de confinamento, é papel do arquiteto e do urbanista
buscar soluções de não segregação do espaço público dentro da cidade, persistindo o desafio e
a responsabilidade por uma busca consciente de uma nova articulação com a realidade do País
ante as transformações sociais do mundo. Revela, ainda, uma busca por qualidade de vida
para o cidadão, independente de sua classe social, apesar dos danos causados pela desenfreada
luta dos interesses do capitalismo, mascarados no pseudônimo do modernismo.
Projetar a cidade nos dias atuais é tarefa difícil, quase uma utopia. Torna-se cada vez
mais uma trama complexa, incontrolável diante de escalas gigantescas de desenvolvimento. A
cidade, ao avançar nesses novos caminhos, precisa ser pensada com interdisciplinaridade,
com uma visão mais humana para todos os cidadãos. Os gradis podem acompanhar estes
novos caminhos do desenvolvimento, mas também não devem esquecer do elemento humano
que vive nas cidades, sem constatar principalmente, que fronteiras criam espaços não
modernos, e como conseqüência espaços públicos não democráticos.
É possível que o caminho a ser trilhado pelo século XXI seja cada vez mais inventivo,
com o respaldo de novos materias e tecnologias mais avançadas.
159
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TEIXEIRA, Cid. Salvador: história visual. Salvador: Correio da Bahia, Rede Bahia, [19??].
Livro 5: Da Piedade ao Campo Grande.
TEIXEIRA, Cid. Salvador: história visual. Salavador: Correio da Bahia, Rede Bahia, [19??].
Livro 06: Do Campo Grande à Barra.
164
APÊNDICES
- ENTREVISTAS -
165
APÊNDICE A
– Bel Borba –
Dados: artista plástico, autor e executor dos gradis da Casa Branca do Engenho Velho e da
Escola EBEC.
Período da entrevista: set. 2005.
APÊNDICE B
– Carlos Pietrasik –
Dados: artesão, oficina na Rua Direita do Uruguai n° 54, tel. 3314-2146 e 3312-3181.
Período da entrevista: out. 2005.
2. Qual a obra mais importante que realizou que poderia ser fotografada?
– Minha casa, há mais de 10 anos. Precisei colocar gradis e trabalhei com o ferro forjado.
Hoje, as pessoas procuram coisas mais simples e mais baratas.
4. Como consegue fazer o efeito torcido da barra de ferro em seus portões, como em sua
residência ?
– A torção é feita com a força humana. Prende-se a barra em uma das extremidades e, com
um instrumento na outra extremidade, torce-se o quanto quiser.
6. O portão de entrada de sua residência foi elaborado com detalhes de círculos dentro de
quadrados, que depois foram retirados. Qual o motivo?
– Quanto mais pontos de solda, maior a possibilidade de aumentar a oxidação do gradil.
Simplifica-se para evitar a oxidação dos pontos de solda.
168
APÊNDICE C
– Daniel Colina–
2. Por que se pensou no artista plático Carybé para o trabalho de gradear a Praça do Campo
Grande?
– Carybé possuía uma grande fascinação por gradis de ferro, e sempre comprava gradis
antigos, alguns do século XVIII. Os gradis lembram um pouco a influência da tradição do
ferro da cidade de Barcelona, na Península Ibérica no final do séc XIX. As igrejas da Ordem
Terceira de São Francisco em Salvador me lembram um pouco esta tradição.
gráfico – Gabriel Carybé. O gradil do Campo Grande foi desenhado com 1,80 m de altura em
módulos de aproximadamente 25 metros , mas optou-se por 2,20 m de altura por acharem
esta altura mais adequada à escala da Praça do Campo Grande. As barras são, nos dois
projetos, de ¾” que foram galvanizados a quente em Recife por apresentar um orçamento
menor. Na Praça da Piedade, por vontade de Carybé, o desenho seria todo idealizado sem
repetições mas, para que se pudesse viabilizar melhor sua execução, foi pedido ao artista que
se trabalhasse em módulos, que chegaram a 25 metros de comprimento. Segundo o arquiteto
da Fundação Mario Leal Ferreira Antonio Marmo da Rocha Oliveira, os gradis da Praça da
Piedade, precisavam ter uma altura compatível com a escala da praça, onde se determinou a
inclusão de barras verticais, a príncipio na parte superior; e depois, para que os desenhos
fossem mais destacados, se propôs uma inversão onde as barras ficaram na parte inferior.
5. E quanto ao estilo?
– Carybé gostava de coisas que fossem usufruto público. Por isso, talvez, a opção por
motivos orgânicos no seu desenho, que não deixam de lembrar a forma do art nouveau.
APÊNDICE D
Dados: artesão (80 anos), desde 1952 trabalha com ferro, Rua Pacífico Pereira, n° 98, Garcia
– tel. 3267-0113.
Período da entrevista: set. 2005.
170
– Os desenhos se alteraram, nos últimos anos, para desenhos sem volutas, devido à facilidade
de se forjar nas máquinas mais modernas. As máquinas modernas não possibilitam certos
acabamentos como volutas. E também o alto custo de se fazer peças muito detalhadas.
Antigamente, o ferro era sempre forjado através do fogo.
APÊNDICE E
– José Rivas –
Dados: arquiteto e artesão, responsável pela execução de alguns gradis do Hospital Aliança.
Período da entrevista: set. 2005.
1. As bitolas dos gradis foram estipuladas por Juarez Paraíso no desenho ou foram pensadas
por você na hora da execução?
– Quem determina é o artista, para sentir o traço maior ou menor da espessura no desenho.
2. Quais as bitolas e tipos de perfis usadas na execução dos gradis do Hospital Aliança?
– Barras quadrados de 3/4x3/4”, 1x1”, 7/8x7/8”;
Barras chatas de 3/4x1/4”, 1x3/8”, 1x1/4”, 7/8x5/16”, 7/8x1/4”.
libélulas e pássaros que são detalhes do painel do gradil frontal, foram chapas de ferro
cortadas a laser em São Paulo, e por isso possuem precisão maior no recorte do acabamento.
O desenho dos gradis com detalhe, com pequenos macacos, foi um dos primeiros gradis
executados, numa inovação feita com fibra de vidro, na intenção de se evitar o problema de
oxidação futura.
8. E o segundo gradil?
– Existem duas meia-luas, proteção de uma porta, um touro para um teto que foi o segundo
gradil a ser executado no Hospital Aliança, ao lado da grade dos cavalos.
12. Existem outros gradis que foram confeccionados por você, que merecem ser fotografados
para essa pesquisa?
– Sim, o gradil em aço carbono do sítio particular do arquiteto Fernando Franklim, em Lauro
de Freitas.
– Aço carbono e aço inox, que podem ser polido ou escovados como acabamento final.
14. Existe uma lista das bitolas destes matérias, que estão disponíveis no mercado de
Salvador?
– Sim, existe um folheto com as bitolas dos gradis para serem escolhidas e se apresentam em
varas de 6 metros.
15. Os desenhos dos gradis sempre chegam para a confecção com as especificações das
bitolas que serão confeccionados?
– Sim, quando se trata de projetos, principalmente elaborados por arquitetos.
APÊNDICE F
– Juarez Paraíso –
13. Por que, somente no final do séc. XX, existe uma elaboração maior na criação dos
gradis de ferro?
– Há uma determinante que é econômica, pois é muito cara a confecção de um gradil.
Com toda certeza, quem manda é o arquiteto de moda, o arquiteto oficial, que tem
renome e fama. Então, ele faz projetos especiais, quase sempre ele não introduz muito a
colaboração do artista plástico. O arquiteto moderno ou pós-moderno é muito auto-
suficiente; da própria desintegração que houve ,o arquiteto substituiu muito o artista
plástico. São eles que fazem o mural, a escultura e a decoração. Existe também a falência
da arquitetura civil; são poucas as construções particulares hoje, são as grandes empresas
que fazem os grandes apartamentos. Na verdade, a sensibilidade das grandes construtoras
é nenhuma. Existem os padrões de caixotes já padronizados, com aparente luxo, com
funções duvidosas, mas que iludem o provável cliente. Eles entendem que o mármore atrai
muito mais do que um mural. É difícil substituir os aparatos superficiais, as aparências dos
materiais pseudo-nobres por trabalhos de arte e murais e objetos feitos com o barro e
coisas singelas. Isso não dá status e não vende apartamento classe A. E por isso fica muito
difícil, quando não há uma formação mais estética na cabeça do governante, do
construtor, e na cabeça de quem vende e de quem compra. A profissão do artista plástico
é uma profissão em extinção em todos os sentidos, porque ele não é compreendido como
uma necessidade dentro da cidade, incorporado a arquitetura, no sentido maior, que é o
conforto para as pessoas nas praças, nas ruas. Como produtor de obra de arte isolada,
também não tem nenhuma sobrevivência econômica. Os grandes talentos estão sofrendo
com os poucos marchands, e os custos altos com as galerias de arte e acabam
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desaparecendo.
Atribuímos o fato de se ter uma preocupação maior com os gradis mais elaborados
pela necessidade mais defensiva talvez. Hoje estamos construindo as casas como prisões,
e a grade é muito legal porque é transparente, permite maior ação razoável, além de ficar
bonita, e, por menor que seja, esta determinante é importante. A cidade toda está se
tornando prisões, então ela é defensiva, e já que temos que fazer esta prisão, fazer com um
valor estético. Jamais pegar uma grade colonial e copiar, isso é realmente relevante. O
conceito de grade em jardim eu sou radicalmente contra. Dizem que é para preservar dos
mendigos. A praça tem que ser aberta para circular o povo, fazer comício, discursar e
fazer protesto. Protesto ao arquiteto Assis Reis que colocou granito e fossos de esqueletos
na Praça da Sé.
16. Por que este material e técnica foram escolhidos para a obra do Hospital Aliança?
– Vedação do espaço linear, extensão dos desenhos, possibilita o desenho de figura e
fundo (vazios e linhas) e integração do chão com o gradil de ferro.
APÊNDICE G
– Pintura – Todos os gradis foram pintados. É feita uma pintura à base de epóxi (para
proteger contra ferrugem). E a tinta de acabamento final com tinta automotiva, com as
cores a critério do artista ou dono da obra.
Em todos os gradis, em geral, são feitos os acabamentos acima descritos.
ANEXOS
– PROJETOS–
182
ANEXO A
– gradis orgânicos–
(1 a 34)
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b. painel 3, 4 e 5
c. painel 6, 7 e 8
d. painel 9, 10 e 11
e. painel 12, 13 e 14
f. painel 15, 16 e 17
31. Gradil da Escola de Inglês EBEC
32. Gradil da Fundação Pierre Vergê
33. Gradil da Loja Pneu- Service
34. Gradil do Instituto Goethe
185
ANEXO B
– gradis geométricos –
( 35 a 71)
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