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SANTA CATARINA

2022
Produzido pela Santa Editora em parceria com a Associação Brasileira
de Escritórios de Arquitetura (AsBEA) de Santa Catarina, este livro foi
contemplado no edital de patrocínio do Conselho de Arquitetura e
Urbanismo (CAU) de Santa Catarina 01/2022 – “Relevância Histórica da
Arquitetura Catarinense. Obras e Profissionais.”

W746 Wilson, Letícia


Grandes nomes da arquitetura catarinense : arquitetura moderna /
Letícia Wilson, AsBEA-SC. – Florianópolis : Santa Editora, 2022.
200 p. : il. color. ; 24 cm
ISBN 978-65-87893-08-2
1. Liz, Moysés, 1934-. 2. Monteiro, Odilon, 1942-. 3. Cassol, Ademar José,
1939-. 4. Cassol, Carmem Seara, 1937-. 5. Saraiva, Pedro Paulo de Melo, 1933-
2016. 6. Broos, Hans, 1921-2011. 7. Belz, Egon, 1931-2007. 8. Böhm, Gottfried,
1920-2021. 9. Carneiro, Fernando, 1931-. 10. Meister, Rubens, 1922-2009. 11.
Veronese, Roberto Félix, 1926-1991. 12. Oliveira Filho, João Argon Preto de,
1931-2021. 13. Arquitetos. 14. Arquitetura moderna - Santa Catarina. 15.
Arquitetura - História. I. Título. II. Associação Brasileira dos Escritórios de
Arquitetura (Santa Catarina)
CDD (21. ed.) 720.92

Tatyane Barbosa Philippi - Bibliotecária CRB 14/735

É permitida a reprodução de textos desta obra para fins educacionais


e informativos desde que sejam citadas as fontes e a autoria.
Todos os direitos são reservados.
Este livro é dedicado a todos que atuam pela pesquisa, ensino, divulgação,
preservação e valorização da arquitetura catarinense. Em especial, àqueles
que contribuíram para a produção desta publicação, em reconhecimento ao
grandioso legado dos profissionais aqui apresentados, e à memória do Prof.
Dr. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, que muito colaborou com este projeto
editorial. Ele era um mestre, dentro e fora das salas de aula, por sua gentileza,
entusiasmo e exemplo na disseminação do conhecimento.
APRESENTAÇÃO

Reconhecimento ao legado
POR LETÍCIA WILSON
O R G A N I Z A D O R A E E D I TO R A

RESGATAR UM IMPORTANTE momento da história de reconhecida atuação em Santa Catarina e proje-


da arquitetura de Santa Catarina e apresentar o re- tos de significativa expressão em Arquitetura Mo-
presentativo legado de profissionais que ajudaram derna em diversas cidades do estado.
a construí-la, valorizando e reverenciando suas Os arquitetos e urbanistas e os engenheiros-
obras. Esses objetivos representam a missão da sé- -arquitetos destacados, assim como as obras re-
rie Grandes Nomes da Arquitetura Catarinense, ferenciadas, foram indicados pelo Comitê Edito-
projeto que se propõe a ir além da sua função edi- rial criado para assessorar a produção do mate-
torial ao servir de instrumento para o devido reco- rial. Trata-se de um grupo especializado no tema,
nhecimento destes profissionais e à relevância do formado por arquitetos e urbanistas professores,
tema, por sua abrangência cultural e histórica e por mestres, doutores e profissionais de mercado
sua influência no desenvolvimento das cidades. que contribuíram voluntariamente com apoio
Grandes Nomes da Arquitetura Catarinense — técnico a este projeto editorial, indicados pelas
Arquitetura Moderna é o segundo volume da série, instituições de ensino e entidades de classe con-
iniciada em 2014 com o tema planejamento urbano vidadas pelos organizadores: Universidade Fede-
— uma iniciativa da Santa Editora em parceria com ral de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Es-
a seccional catarinense da Associação Brasileira tado de Santa Catarina (UDESC), Universidade do
dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA/SC), con- Sul de Santa Catarina (Unisul), Universidade do Vale
templada em edital de patrocínio do Conselho de do Itajaí (Univali), Universidade do Planalto Catari-
Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU/ nense (Uniplac), Universidade Regional de Blume-
SC). Nesta edição, são apresentados profissionais nau (FURB), Universidade Comunitária da Região
de Chapecó (Unochapecó), Universidade do Ex- profissionais que também merecem reconheci-
tremo Sul Catarinense (UNESC); Complexo de mento. Na produção, contou-se com a valiosa con-
Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC), Es- tribuição de muitas instituições e pessoas que con-
tácio, Comitê para a Documentação e Conserva- cederam entrevistas, enviaram depoimentos e ce-
ção de Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento deram materiais de seus acervos ao compreende-
Moderno (Docomomo Brasil); Instituto dos Ar- rem a relevância desta iniciativa.
quitetos do Brasil – Santa Catarina (IAB-SC) e É importante ressaltar que este livro evidencia
Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado a Arquitetura Moderna em sentido estrito, por de-
de Santa Catarina (SASC). cisão da maioria dos membros do Comitê Edito-
A partir das indicações de grandes nomes e de rial, considerando que outras vertentes arquitetô-
referências bibliográficas sobre o tema, foram rea- nicas que contribuíram para a gestação da Arqui-
lizadas pesquisas e entrevistas para a criação de tetura Moderna, como Art Nouveau e Art Déco,
textos que apresentam o perfil e a trajetória do por exemplo, devem ser abordadas em publica-
profissional, destacam algumas de suas principais ções específicas. O tema é explicado na introdu-
obras, tratam de aspectos técnicos e de mercado ção, assim como a contextualização em relação
referentes ao período de produção e revelam curio- ao cenário econômico e político, as influências na-
sidades a respeito da relação com parceiros de tra- cionais e internacionais, a evolução tecnológica
balho e com clientes. Na seção “Expressões”, estão em processos e materiais e os desafios da preser-
reunidos exemplares de referência em Arquitetura vação do patrimônio e da história da arquitetura
Moderna em Santa Catarina projetados por outros em Santa Catarina. Boa leitura!
Valorização da
arquitetura catarinense
P O R R O N A L D O M ATO S M A R T I N S
A R Q U I T E TO E U R B A N I S TA
P R E S I D E N T E DA A s B E A-S C - G E S TÃO 2 02 1 -2 02 2

A MATERIALIZAÇÃO DO LIVRO Grandes Nomes específico para apoio financeiro aos interessados
da Arquitetura Catarinense – Arquitetura Mo- em produzir publicações que destacassem pro-
derna é resultado da convergência de interesses e fissionais e obras de relevância histórica para a
de iniciativas de diferentes atores em prol da va- arquitetura catarinense!
lorização da arquitetura de Santa Catarina. O Sempre com foco em dar continuidade às
projeto nasceu do desejo da atual diretoria da ações de gestões anteriores da AsBEA-SC, lança-
AsBEA-SC — Associação Brasileira de Escritórios mos mão de um projeto iniciado em 2014 pelo
de Arquitetura de Santa Catarina — de desenvol- presidente à época, o arquiteto e urbanista Ricar-
ver ações no sentido de prestar reconhecimento do Fonseca, sob o tema Planejamento Urbano, e
e disseminar conhecimento sobre arquitetura e continuado na gestão seguinte, com a presidên-
urbanismo, um dos objetivos da entidade. cia da arquiteta e urbanista Tatiana Filomeno.
Neste ponto, aparece um alinhamento com o Recuperamos, então, a proposta do segundo vo-
CAU-SC — Conselho de Arquitetura e Urbanismo lume da série Grandes Nomes da Arquitetura Ca-
de Santa Catarina —, que, por meio de sua presi- tarinense, agora sobre Arquitetura Moderna. Em
dente, a arquiteta e urbanista Patrícia Sarquis contato com a jornalista Letícia Wilson, idealiza-
Herden, lança neste ano um edital de patrocínio dora da série, traçamos as ações necessárias para
o projeto do livro. Contando com o suporte de qualidade desejada para o conteúdo desenvolvi-
nossa vice-presidente administrativa, a arquiteta do, reforça a nossa defesa da união de esforços
e urbanista Patrícia Moschen, e da nossa secretá- entre as instituições de ensino, as entidades re-
ria, Raquel Mödinger, preparamos a documenta- presentativas da classe e o mercado em torno de
ção necessária que resultou na aprovação deste um objetivo comum, certos de que essa inter-re-
apoio financeiro junto ao CAU-SC, contribuindo lação é a principal medida para a solução dos
para a viabilização da iniciativa. problemas e mazelas de nossa sociedade.
Após essa etapa, convidamos as diversas ins- Desejo que o conteúdo produzido aqui seja
tituições de ensino de arquitetura de Santa Cata- útil para a valorização e para a difusão da arqui-
rina e entidades representativas da profissão tetura catarinense e que proporcione uma leitura
para a organização de um Comitê Editorial for- fácil e agradável, a fim de alcançar todos os pú-
mado por especialistas no tema para serem con- blicos possíveis. Somente estudando nossa his-
sultores e fontes de coleta das informações perti- tória e conhecendo nossa cultura conseguiremos
nentes, cientes da importância do ensino e da desbravar ideias inovadoras e criativas para a
pesquisa em arquitetura. Essa aproximação com construção de uma sociedade mais educada, ge-
a academia, fundamental para a conquista da rando um ciclo de prosperidade.
A relevância de
grandes mestres
P O R PAT R Í C I A S A R Q U I S H E R D E N
A R Q U I T E TA E U R B A N I S TA
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É COM GRANDE PRAZER que o Conselho de Ar- o seu protagonismo no planejamento e no de-
quitetura e Urbanismo de Santa Catarina patro- senvolvimento das cidades.
cina a série Grandes Nomes da Arquitetura Cata- Igualmente, é primordial reforçarmos essas
rinense. Após oito anos do primeiro volume, ago- histórias junto às novas gerações de arquitetos e
ra com o olhar sobre a Arquitetura Moderna, tra- urbanistas, destacando o contexto econômico e
zemos novamente a relevância de grandes mes- social, as inovações da época, as soluções adota-
tres — profissionais que tanto nos inspiram. das, as oportunidades de mercado e as parcerias
Muitos deles já nos deixaram, o que nos entris- estabelecidas para a materialização das obras,
tece e reforça a importância de iniciativas como assim como o impacto provocado por elas na re-
esta, de resgate das trajetórias, de valorização da gião onde foram inseridas. Afinal, é preciso co-
atuação profissional e de reconhecimento do lega- nhecer o passado para entender o presente e
do de cada um para a arquitetura de Santa Cata- projetar o futuro.
rina. É fundamental apresentarmos essas histórias As páginas contidas neste livro, tenho certe-
para a sociedade em geral, visando a uma maior za, são de inestimável valor e farão parte do acer-
compreensão sobre a abrangência da profissão e vo de todo arquiteto e urbanista catarinense.
Detalhe da fachada do Edifício Portobello.
Projeto de Moysés Liz e Odilon Monteiro.
Página 49.
SUMÁRIO

14 INTRODUÇÃO
Arquitetura Moderna em Santa Catarina

25 GRANDES NOMES DA ARQUITETURA CATARINENSE


27 Moysés Liz
41 Odilon Monteiro
55 Ademar José Cassol e Carmem Seara Cassol
69 Pedro Paulo de Melo Saraiva
87 Fernando Carneiro
101 Roberto Félix Veronese
113 Gottfried Böhm
127 Hans Broos
141 Egon Belz
151 Rubens Meister
165 João Argon Preto

175 EXPRESSÕES

192 REFERÊNCIAS
196 FICHA TÉCNICA
198 OS AUTORES ORGANIZADORES
INTRODUÇÃO

Arquitetura Moderna
em Santa Catarina
A MODERNIDADE, entendida aqui como ambiência arquitetura em terras catarinenses. Entre os pri-
cultural da cidade no processo de modernização, meiros estão arquitetos e engenheiros-arquitetos
manifesta a riqueza e a potência do verdadeiro mo- graduados em instituições como a Universidade
saico que é a diversidade morfológica, econômica, Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto
diferenciadora de Santa Catarina. A afirmação é do Alegre, a Universidade Federal do Paraná (UFPR),
arquiteto e urbanista Luiz Eduardo Fontoura Teixeira em Curitiba, e na Mackenzie, em São Paulo, nas
(in memoriam), um dos mais respeitados pesquisa- décadas de 1950 e 1960, salvo algumas exceções.
dores da Arquitetura Moderna do estado, falecido Na formação, a Arquitetura Moderna era a base,
em setembro de 2022. Doutor em Teoria e História estabelecida em referências internacionais, como
da Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Mies van der Rohe, Le Corbusier, Frank Lloyd
São Paulo (USP), Teixeira contribuiu para a forma- Wright e Walter Gropius, e nas lideranças nacio-
ção de gerações de profissionais durante seus quase nais de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, da chamada
40 anos de docência na Universidade Federal de Escola Carioca — caracterizada pela leveza estru-
Santa Catarina (UFSC) e deixou um importante le- tural, liberdade geradora do edifício e pelo gozo
gado com seus estudos e pesquisas. Nos seus últi- estético — e de João Batista Vilanova Artigas, da Es-
mos dias, dedicou-se a compartilhar seu conheci- cola Paulista — marcada pela valorização da estru-
mento para esta publicação, como um dos repre- tura, pela ênfase na técnica construtiva e pela ado-
sentantes da UFSC no Comitê Editorial. ção do concreto aparente.
A UFSC foi a primeira universidade de Santa Ca- De acordo com Teixeira, “a arquitetura moder-
tarina, fundada em 1960, e a primeira a criar um na, stricto sensu, regida pelos cânones internacio-
curso de Arquitetura e Urbanismo no estado, em nais, recriada à nossa realidade [...], veio a se mani-
1977, época em que já se revelavam expoentes da festar em Santa Catarina a partir dos anos 1940”.

Arquitetura
Moderna 14
Fruto de um processo acelerado de moderniza- Importante pontuar que, no contexto dos
ção, dos aparatos estatais e privados e do progres- anos de 1930 a 1980, e como em muitos outros lu-
so das técnicas construtivas, segundo ele, essa ex- gares do Brasil, “houve simultaneidade temporal
pressão arquitetônica desenhou uma nova paisa- de inserção urbana das linguagens Déco, Raciona-
gem, de ruptura e contraste nas cidades catari- lista e Moderna [...]”,, encaradas como parte de
nenses. Além de sua nova configuração estética e um processo de modernidade da cidade, como
da verticalização dos edifícios, a Arquitetura Mo- destacam Teixeira e Gilberto Sarkis Yunes, pesqui-
derna trouxe para a cidade um diálogo expressivo. sadores da UFSC, na publicação “Itinerários da Ar-
“Isso pode ser visto e experienciado nos pavimen- quitetura Moderna de Florianópolis”. Dois gran-
tos térreos da maioria de suas edificações, onde a des acontecimentos podem ser referenciados na
arquitetura acolhe a cidade, em espaços públicos formação desse movimento no país: a semana de
qualificados para passagem e permanência”, disse. Arte Moderna de 1922 e a Revolução de 1930, “por
Conforme Teixeira, o ícone dessa “variante moder- terem propiciado as condições favoráveis ao seu
na calcada na chamada Escola Carioca”, é o Edifí- nascimento e à sua ampla aceitação pelo grande
cio das Diretorias (1953-1961), projeto do engenhei- público”, de acordo com os arquitetos e urbanis-
ro Domingos Trindade, no Centro de Florianópolis. tas, professores doutores, Amilcar Bogo, João
“Essa edificação traz, em sua formulação, os esti- Francisco Noll e Silvia Odebrecht na pesquisa “Reco-
lemas canônicos identitários da arquitetura mo- nhecimento e Avaliação Quali-Quantitativa de
derna, entre eles os quebra-sóis, as aberturas ple- Edifícios Representativos da Arquitetura Moderna
nas, a planta livre e o pavimento térreo, onde um em Blumenau”, desenvolvida junto ao Departa-
espaço público, gerado por marquise curvilínea, mento de Arquitetura e Urbanismo da Universida-
recebe os cidadãos”, detalhou. de Regional de Blumenau (FURB).

GRANDES NOMES
15 da arquitetura catarinense
Os esforços de modernização de Florianópo- era promovido, sobretudo, pela Associação Ca-
lis na década de 1950 visavam a reinventar a cida- tarinense de Engenheiros - ACE, que desenvolvia
de como turística, desenvolvimentista e progres- discussões técnicas, éticas e jurídicas, incentivan-
sista a partir do apoio de intelectuais, artistas e do o avanço técnico e científico”, aponta Alexan-
políticos em prol do progresso que a tornaria dre dos Santos. Nesse contexto, ele destaca a
uma verdadeira capital, fazendo parte do ciclo presença do arquiteto e urbanista catarinense
desenvolvimentista nacional ligado ao governo Pedro Paulo de Melo Saraiva, formado pela FAU-
de Juscelino Kubistchek (1956-1961), segundo o -Mackenzie em São Paulo, que, em 1957, venceu o
arquiteto e urbanista Alexandre dos Santos, dou- concurso nacional para a sede da Assembleia Le-
tor em Projetos Arquitetônicos pela Escola Técni- gislativa de Santa Catarina, em equipe com os ar-
ca Superior de Arquitetura de Barcelona/Univer- quitetos Paulo Mendes da Rocha e Alfredo Pae-
sidade Politécnica da Catalunha (ETSAB/UPC), sani, com um projeto que se tornou referência
um dos representantes do Docomomo Brasil em nacional ao conquistar a capa da revista Acrópo-
Santa Catarina (organização internacional dedi- le, publicação especializada em arquitetura e edi-
cada à Documentação e Conservação de Edifí- tada em São Paulo entre 1938 e 1971 – importan-
cios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno) e te fonte de informação para os profissionais de
membro do Comitê Editorial desta publicação. A todo o país à época.
construção de Brasília iniciada em 1957, reforçou Quando o chamado “Milagre Econômico” re-
a imagem da Arquitetura Moderna como a oficial verberou em Santa Catarina, entre o final dos
do governo e símbolo de progresso, de acordo anos 1960 e início dos anos 1970, “uma arquitetura
com o pesquisador. moderna, expressa em concreto armado aparente
“As iniciativas promovidas pelo setor da cons- (chamado por alguns de ‘brutalismo’) se desen-
trução civil tiveram relação com as mudanças volveu”, destacou Teixeira. A disseminação dessa
que a cidade de Florianópolis sofria desde o início arquitetura, resultado dos avanços técnico-cons-
do século XX. Já na década de 1950, o ânimo en- trutivos, pelo estado catarinense, conforme o ar-
tre os profissionais locais da área da construção quiteto, pode ser vista e apreciada, por exemplo,

Arquitetura
Moderna 16
nos trabalhos de Hans Broos em Blumenau e re- com os arquitetos Francisco Petracco e Sami Bus-
gião. “Nesse sentido pode ser elencado o Com- sab. Nesse período, como coordenador do Escri-
plexo Fabril das Indústrias Hering (1968-1975), tório Técnico de Planejamento da Prefeitura de
onde o arquiteto, em parceria com o paisagista Florianópolis (Esplan), Saraiva integrou a equipe
Roberto Burle Marx, desenhou uma nova paisa- responsável pelo “Plano de Desenvolvimento In-
gem, no encontro exemplar entre as antigas edi- tegrado de Florianópolis” e, no âmbito do PLA-
ficações e os volumes em concreto armado apa- MEG, desenvolveu o Projeto de Urbanização do
rente”, pontuou. Essas interpretações significati- aterro da baía Sul e o da nova ligação Continente-
vas de uma contemporaneidade, ou “espírito de -Ilha, a ponte Colombo Salles (1970-1972).
uma época”, como destacado por Teixeira, tam- Os anos seguintes foram marcados por uma
bém estão manifestadas em outro exemplar de profusão de edificações institucionais e comer-
Broos, o edifício atualmente ocupado pelo Fó- ciais características da Arquitetura Moderna. Tei-
rum Desembargador Eduardo Luz (1967-1970), xeira elencou, do escritório Liz Cassol Monteiro
“[...] um único volume, destacado do solo por (dos arquitetos Moysés Liz, Ademar Cassol e Odi-
leve recuo dos apoios e como que expressiva- lon Monteiro), a central de atendimento da Te-
mente esculpido em concreto, faz parte de um lesc (1973-1974) — atual banco Safra —, “com sua
conjunto, na busca de uma outra centralidade estrutura escultórica”, o edifício-galeria Ceisa
administrativa do estado”. Center (1975-1978) – ícone da Arquitetura Moder-
Dessa época, como expressões da moderni- na de Santa Catarina – “sinuoso e impactante na
zação estatal na capital catarinense, são o novo paisagem”, além do Terminal Rodoviário Rita Ma-
projeto da Assembleia Legislativa de Santa Cata- ria (1976-1981), dos arquitetos Enrique Brena, Ya-
rina (1964-1970), liderado por Saraiva, com o mandú Carlevaro e equipe, “onde a solução espa-
mesmo trio do projeto anterior, e o do Palácio da cial, funcional e acolhedora e a pré-fabricação de
Justiça de Santa Catarina (1968-1975), fruto de elementos construtivos poderiam qualificá-lo
concurso instituído pelo Plano de Metas do Go- como final de um ciclo moderno na arquitetura
verno (PLAMEG) vencido por Saraiva em equipe catarinense”.

GRANDES NOMES
17 da arquitetura catarinense
Contextos e influências
Diversos profissionais, entre eles arquitetos, suma importância para desvelar importantes as-
engenheiros, construtores, desenhistas, cons- pectos da cultura catarinense da qual ainda não
truíram em Santa Catarina a sua versão do que temos total conhecimento, sobre como fomos
entendiam por ‘’moderno’’, levando em conta influenciados pela cultura arquitetônica trazida
todo seu repertório, suas influências e forma- por arquitetos estrangeiros e como nos vincula-
ções, como enfatiza o arquiteto e urbanista Leo- mos ao movimento através da nossa produção
nardo Bertoldi Borges, mestrando em Arquitetu- local”, enfatiza.
ra e Urbanismo pela UFSC na área da modernida- “Somos todos devedores de soluções em-
de em Florianópolis, pesquisador das obras de Liz prestadas dos grandes mestres da modernidade.
Cassol Monteiro e membro do Comitê Editorial. Entre eles, cito alguns que são eternas referên-
Ele cita outros nomes importantes no cenário de cias: Mies van der Rohe, Gordon Bunshaft, Egon
Florianópolis, como Valmy Bittencourt, Carmem Eiermann, Marcel Breuer, Alvar Aalto, Walter
Cassol, Bóris Tertschitsch, Enrique Brena, Ya- Gropius, Paulo Mendes da Rocha, Louis Kahn, Ri-
mandú Carlevaro, “entre tantos ainda pouco ex- chard Neutra, Le Corbusier, Mario Roberto Álva-
plorados e desconhecidos pela população”. Ele rez, Helio Piñón e tantos outros nomes impor-
considera que Santa Catarina tem um acervo im- tantes que contribuíram para o enriquecimento
portantíssimo de Arquitetura Moderna, “com do acervo de obras modernas mundo afora”,
qualidade estética, funcional e inovações cons- elenca o arquiteto e urbanista Rudivan Luiz Cat-
trutivas trazidas por profissionais que buscavam tani, doutor em Arquitetura pela ETSBA/UPC,
a excelência e a qualidade de nossas cidades”. também representante do Docomomo Brasil no
“Estudar a arquitetura é estudar o contexto polí- Comitê Editorial desta publicação, pesquisador
tico, social, econômico e cultural em que essas da obra de Liz Cassol Monteiro.
obras estão inseridas”, ressalta. Como exemplos da influência internacional
Neste século de profundas transformações e na produção catarinense, ele cita o projeto da
de formação da identidade brasileira, a arquite- sede central da Telesc (atual UDESC, no bairro
tura assume papel protagonista, como símbolo Itacorubi, de Florianópolis), de Odilon Monteiro
de vanguarda e conexão com esses valores uni- e Moysés Liz, cuja configuração espacial se as-
versais e democráticos, na opinião de Alexandre semelha a do edifício da Unesco de Paris, de
dos Santos, do Docomomo Brasil. “Sabermos Marcel Breuer, e a produção de Hans Broos, que
onde fica a nossa inserção nesse movimento é de trabalhou diretamente com o grande arquiteto

Arquitetura
Moderna 18
Abrangência estadual
e designer alemão Egon Eiermann, na Alema- A Arquitetura Moderna catarinense tem fun-
nha, antes de vir para o Brasil. “Ele trouxe con- damental importância na formação de uma cultura
sigo um enorme conhecimento técnico na ba- projetual. Para o arquiteto e urbanista Marcelo Ei-
gagem, podendo ser visto nas suas obras em chstadt Nogueira, professor da Unisul, “é o arca-
Florianópolis e em Blumenau, por exemplo, bouço de sustentação das gerações posteriores,
onde leva ao limite o uso do concreto armado tornando-se referência para a produção que se se-
em composições sintonizadas com o que também gue em todo o estado”. “Com diferentes aborda-
se produzia em São Paulo e no Rio de Janeiro”, gens, a modernidade arquitetônica se manifesta
complementa. por todas as regiões do estado, passando pelas pro-
Em âmbito nacional, além de Lúcio Costa, duções icônicas de edificações institucionais, vilas
Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas, são referen- operárias do período de industrialização, planos de
ciados também, como grandes mestres da Ar- urbanização e habitações”, complementa Noguei-
quitetura Moderna, Rino Levi, Affonso Eduardo ra, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC,
Reidy, Oswaldo Bratke, João da Gama Filgueiras representante da Unisul no Comitê Editorial.
Lima (Lelé), Lina Bo Bardi, Sérgio Bernardes, Pau- Na região Sul do estado, importante referência
lo Mendes da Rocha, Joaquim Guedes, Acácio Gil em Arquitetura Moderna é Fernando Jorge da
Borsoi, Severiano Porto, Carlos Maximiliano Fa- Cunha Carneiro, um dos arquitetos pioneiros de
yet, Luís Fernando Corona, entre outros. Santa Catarina, formado há 65 anos pela UFRGS.
A modernidade arquitetônica catarinense in- “É possível afirmar que seus projetos residenciais
tegrou o estado ao mapa da produção arquitetô- nos ajudam a contar a história da arquitetura ca-
nica moderna nacional e internacional, como tarinense, em face ao cenário social e econômico,
“uma expressão direta daqueles autores que es- visto que a arquitetura, em sua concepção mais
tavam/estão atentos ao que acontecia/acontece ampla, representa, para além de seus atributos
no cenário mundial”, na opinião de Rudivan Luiz puramente estéticos e funcionais, as correlações
Cattani. “É importante ressaltar que nossas de poder e a conjuntura sociocultural de uma so-
obras têm a mesma qualidade que as de arquite- ciedade em uma determinada época”, aponta a
tos nacionais ou internacionalmente renomados. arquiteta e urbanista Aline Eyng Savi, doutora
E isso se comprova a partir dos estudos que fo- em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC, repre-
ram feitos e dos que estão em curso sobre mui- sentante da Universidade do Extremo Sul Catari-
tos desses edifícios”, reforça. nense (UNESC) no Comitê Editorial.

GRANDES NOMES
19 da arquitetura catarinense
Em Lages, a modernidade tem início com o nova Igreja Matriz de São Paulo Apóstolo. “Esta
processo de urbanização da cidade, a partir dos obra, que enriqueceu o patrimônio da cidade e a
anos 1940, decorrente do crescimento econômi- estética urbana, alterou a paisagem bucólica da ci-
co proporcionado pela exploração da madeira dade e mostrou-se como um carro chefe para a
das matas de araucária da região, como destaca realização de uma mudança na mentalidade cons-
o arquiteto e urbanista Ulisses Munarim na sua trutiva local. Essa mudança intensificou-se com as
dissertação “Arquitetura dos cinemas: um estu- obras de Broos, introduzindo linhas verticais na
do da modernidade em Santa Catarina”. Nas paisagem urbana, com a construção dos Edifícios
duas décadas seguintes, o centro da cidade rece- do Grande Hotel Blumenau e Edifício Visconde de
beu melhorias, incluindo a definição de traçados Mauá, gerando um eixo de progresso na Rua XV de
urbanos e o remodelamento de praças e jardins. Novembro, ligado à Igreja Matriz”, destacam os
“Aqui começa também o processo de verticaliza- pesquisadores. Citam, ainda, as contribuições dos
ção da cidade, tido como símbolo de progresso”, arquitetos René Mathieu, Luis Napoleão Carias de
pontua Ulisses em seu trabalho. Destaca-se a Oliveira e de engenheiros como Gustav Leyen,
atuação do arquiteto João Argon Preto de Olivei- Humberto Faria de Almeida e Francisco Hrozek.
ra Filho, idealizador dos primeiros edifícios da ci- Segundo eles, dos arquitetos estabelecidos na ci-
dade, no final dos anos 1950 – o INCO e o Cente- dade, o que mais se destacou foi o blumenauense
nário –, exemplares da Arquitetura Moderna, e Egon Belz, “com uma série de projetos realizados a
responsável por importantes obras de infraes- partir de 1965, quando retornou a sua cidade natal
trutura de Lages. depois de uma longa estada em São Paulo onde
Em Blumenau, acredita-se que a Arquitetura trabalhou no escritório de Hans Broos”.
Moderna tenha sido introduzida no início da dé- Na região de Itajaí e Balneário Camboriú, des-
cada de 1950, cuja expansão é atribuída a conta- taca-se a atuação do arquiteto Roberto Félix Vero-
tos nacionais e internacionais originados a partir nese. “Ele é representante da vanguarda sulista da
do expressivo desenvolvimento econômico gera- nova arquitetura, representada nos hotéis aqui
do pela exportação dos produtos industrializa- projetados, entre os quais está o projeto do edifí-
dos nas décadas anteriores, conforme a pesquisa cio do Hotel Balneário Cabeçudas, inaugurado na
de Amilcar Bogo, João Francisco Noll e Silvia Ode- década de 1960, considerado um dos mais belos
brecht. Fruto desse progresso, analisam, foi a exemplares de arquitetura moderna catarinense,
vinda do arquiteto alemão Gottfried Böhm, em e o Marambaia Cassino Hotel & Convenções, com
1953, para analisar o terreno onde seria erguida a estrutura de forma radial, marco na paisagem de

Arquitetura
Moderna 20
Balneário Camboriú, além de ser uma referência engenheiros e arquitetos desenvolverem obras
espacial na memória de moradores e turistas”, re- com igual qualidade, técnica e consistência for-
lata a arquiteta e urbanista Alessandra Devitte, mal”. “Esse fato adquire maior consistência quan-
doutoranda em Turismo e Hotelaria pela Univali, do se nota a atuação de engenheiros como Ru-
instituição que representa no Comitê Editorial. bens Meister, Hary N. Schmidt e Nobuo Fukuda
Como outra referência da região, ela aponta a em Joinville, que produziram obras bastante con-
Igreja Santa Inês, projetada por Rubens Meister e sistentes. Além disso, cabe citar a ampla produ-
construída no mesmo período. “Em ambos os pro- ção no programa residencial de Antonio Alberto
jetos, percebe-se a valorização da técnica, do as- Cortez e Luiz Napoleão Abreu Carias de Oliveira
pecto estético e sua funcionalidade”, pontua. na cidade e junto aos engenheiros já citados, todos
Em Joinville, as conjecturas identificadas na formados na UFPR”, afirma Thiago, pesquisador
Arquitetura Moderna local apresentam algumas das residências modernas em Joinville.
condições muito peculiares como contexto histó- Em Chapecó, a Arquitetura Moderna despon-
rico, como explica o arquiteto e urbanista Thiago tou a partir dos anos 1960, “período em que a ci-
Borges Mendes, mestre em arquitetura pela Uni- dade apresentou um significativo desenvolvi-
versidade Politécnica da Catalunha (UPC) e mes- mento do comércio, acompanhado pela melho-
tre em engenharia pela Universidade do Estado de ria da estrutura urbana”, de acordo com Fernan-
Santa Catarina (UDESC), representante do Sindi- da Guaragni e André Luiz Onghero no trabalho
cato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado de “Arquitetura e História: o catálogo de projetos de
Santa Catarina (SASC) no Comitê Editorial. Inicial- edificações do Centro de Memória do Oeste de
mente, considera a distância temporal entre as Santa Catarina (CEOM/Unochapecó)”. Dessa
criações dos cursos de arquitetura em Santa Cata- época, destaca-se o projeto das Casas Néri, de-
rina (1977) e no Paraná (1962) e, antes disso, a pró- senvolvido pelo arquiteto gaúcho José Guilherme
pria criação dos cursos de engenharia civil nesses Piccoli. Dos anos 1970 são outros exemplares da
dois estados (1968 e 1912, respectivamente). “As Arquitetura Moderna da cidade, como o Hotel
iniciativas tardias de Santa Catarina quando com- Bertaso, da NR Arquitetos, de Passo Fundo (RS), e
paradas com as do Paraná criaram, no contexto o Centro Administrativo da Sadia, da HS Arquite-
joinvilense, deslocamentos contínuos para a capi- tos, de Blumenau (SC). Da década seguinte, des-
tal Curitiba de estudantes que se dedicariam à en- taque para o Hospital Regional do Oeste (1980),
genharia e à arquitetura”, argumenta. Thiago ob- do arquiteto gaúcho Irineu Breitman, referência
serva que “os preceitos modernos permitiam a nacional em arquitetura hospitalar.

GRANDES NOMES
21 da arquitetura catarinense
Conhecer para reconhecer

“Conhecer o passado para refletir no presen- geral é fazer jus ao valor dessas obras e ao que
te a arquitetura do futuro”. A afirmação do ar- elas representam”, enfatiza. A valorização do lega-
quiteto e urbanista Amilcar Bogo, doutor em en- do desses profissionais para a arquitetura catari-
genharia civil pela UFSC, representante da FURB nense e a representatividade dos espaços cons-
no Comitê Editorial, sintetiza o impacto de inicia- truídos na memória coletiva são destacados pelo
tivas que contribuem para a divulgação da histó- arquiteto e urbanista Alexandre dos Santos. “Co-
ria da arquitetura catarinense. O tema é de gran- nhecer a história desses edifícios e desses prota-
de relevância, considerando a sua influência na gonistas arquitetos é de suma importância para
formação da identidade cultural local. “A cidade sabermos quem somos e qual é a nossa identida-
faz a arquitetura e a arquitetura faz a cidade. São de, além de fazermos justiça ao esforço realizado
necessárias, cada vez mais, pesquisas que reve- por esses grandes nomes e por um coletivo de ar-
lem e desvendem parte da história de nosso es- quitetos que foram capazes de criar espaços que
tado, que possui um significativo acervo de arqui- são mais do que edifícios, são soluções capazes
teturas e arquitetos a serem investigados. Co- de ser replicadas hoje e no futuro e que merecem
nhecer quais obras foram construídas e quem ter as suas histórias contadas”, afirma.
são seus autores é o primeiro passo para preen- A apresentação de um panorama da produ-
cher lacunas que persistem na memória de nossa ção da Arquitetura Moderna em Santa Catarina
cultura”, pontua Leonardo Bertoldi Borges. representa outros importantes ganhos para a
Muitas dessas obras fazem parte do cotidia- sua valorização. “Retomar essas obras permitirá
no das pessoas, ainda que “de forma silenciosa”, alcançar novos públicos e portará maior legali-
seja por estarem tão inseridas na paisagem ou dade — ante os agentes públicos — a um momen-
sendo “engolidas” por novas construções, como to único na história da arquitetura”, avalia Thiago
ressalta a arquiteta e urbanista Gabriela Morais Borges Mendes. Atribuindo ao fato de que a che-
Pereira, doutora em Arquitetura e Urbanismo gada da arquitetura e urbanismo modernos foi
pela UFSC, representante da UDESC no Comitê tardia em Santa Catarina, a arquiteta e urbanista
Editorial. “Trazer a história, a relevância, os auto- Paula Batistello, doutora em arquitetura pela
res, trazer a alma dessas edificações para o públi- UFSC, destaca que, por vezes, as edificações mo-
co especializado, mas, sobretudo, ao público em dernas são “pouco valorizadas como patrimônio

Arquitetura
Moderna 22
ou composição histórico-cultural”. “Esses aspec- submeterem novos estudos sobre obras que ain-
tos dão ainda mais destaque a iniciativas que va- da não foram documentadas ou estudadas”,
lorizem não somente os exemplares modernos acrescenta Rudivan Cattani.
do nosso estado, mas a importância da profissão Por mais que esforços já tenham sido feitos
do Arquiteto e Urbanista na transformação das em estudos e pesquisas, a história da arquitetura
nossas cidades e regiões”, complementa Paula, em Santa Catarina está por ser escrita. Esta é a
coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanis- avaliação da arquiteta e urbanista Karine Dau-
mo da Universidade Comunitária da Região de fenbach, doutora em Arquitetura e Urbanismo
Chapecó (Unochapecó), instituição que repre- pela USP e pesquisadora da obra de Hans Broos,
senta no Comitê Editorial. argumentando sobre a falta de reconhecimento
A cidade continuará a crescer e ser adensada, dos profissionais e suas obras, somada ao fato,
“mas também deve seguir valorizando sua histó- ou melhor, justamente em decorrência, da inex-
ria, que deve ser vista como um grande acervo, pressividade nacional das regiões onde estão in-
um registro de acontecimentos”, como afirma a seridas. Entretanto, ela alerta que mesmo as
arquiteta e urbanista Marila Filártiga, doutora obras de caráter mais simples ou “arquiteturas
em arquitetura pela UFSC, professora na Facul- do cotidiano” são, justamente, representativas
dade Cesusc, instituição que representa no Co- do contexto onde se firmaram. “Especificamente
mitê Editorial. Para ela, trata-se de um conjunto as arquiteturas da modernidade possuem a uto-
de conhecimentos e realizações de uma época, pia de um futuro melhor — já que essa era a pró-
acumulados ao longo de sua história, que confe- pria narrativa da modernidade e do moderno, por
rem os traços de sua identidade. “Reconhecer os consequência. A promessa da modernidade
caminhos percorridos da arquitetura catarinense muda de lugar para lugar. E qual o lugar que essa
é uma forma de registrar esses acontecimentos, promessa ocupa em Santa Catarina?”, reflete Ka-
além de comunicar e conscientizar a sociedade rine, representante da UFSC no Comitê Editorial.
da sua importância”, reforça Marila. Outro rele- Para ela, essa pergunta é a que, de alguma for-
vante papel é o de servir de estímulo a novas pes- ma, os trabalhos se cumprem a responder, repre-
quisas. “Abre oportunidade para novos pesquisa- sentando o grande desafio das pesquisas e publi-
dores incorporarem o discurso da modernidade e cações futuras.

GRANDES NOMES
23 da arquitetura catarinense
GRANDES NOMES
Profissionais de reconhecida atuação
em Santa Catarina referenciados
pelo conjunto representativo de obras
em Arquitetura Moderna.

GRANDES NOMES DA ARQUITETURA CATARINENSE


Arquitetura
Moderna 26
Moysés Liz
Com 60 anos de carreira, o arquiteto que liderou o projeto do icônico
Ceisa Center, em Florianópolis, na década de 1970, construiu uma
trajetória orientada pela força do projeto e pelo respeito ao indivíduo
e à cidade. Seu maior orgulho é ver a arquitetura que projetou sendo
útil e fazendo bem às pessoas depois de décadas de construída.

POR SIMONE BOBSIN

O QUE FAZ UMA OBRA arquitetônica valer a pena? Arquitetura Moderna catarinense, estabelecen-
Com clareza da importância da disciplina na vida do novos parâmetros técnicos e estéticos para
cotidiana, Moysés Liz, 88 anos, afirma que “arqui- Florianópolis.
tetura é a criação de um cenário onde a vida O arquiteto e professor do curso de Arquitetura
acontece”. Um abrigo acolhedor para vivenciar as e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí (Uni-
emoções, independentemente da escala, que vali), Guilherme Llantada, disse, por exemplo, que
atenda a necessidade do cliente considerando a “o Ceisa Center foi uma revolução dentro da arqui-
estética como possibilidade de partido. “Arquite- tetura, e talvez seja o prédio mais significativo até
tura é surpresa, impacto e amor à primeira vista”, hoje em Florianópolis”. Os prédios da Telesc (com
diz. Para ele, que se aposentou após 60 anos de Odilon Monteiro) e Celesc (com Odilon Monteiro e
carreira, o maior orgulho é ver a arquitetura sendo Enrique Brena) mantêm essa unidade e abordagem
útil e fazendo bem às pessoas mesmo décadas de projeto, apresentando uma atemporalidade e
depois de construída. mostrando-se mais atuais que muitas outras obras
A força do projeto e o respeito ao indivíduo e contemporâneas. Essas arquiteturas com estética
à cidade nortearam a trajetória que soma um ex- brutalista, concebidas em concreto armado apa-
pressivo conjunto de obras, projetadas de forma rente, são a tradução da modernidade da época.
individual ou em parceria com outros arquitetos Somado à expressão arquitetônica, os proje-
como Valmy Bittencourt, Odilon Monteiro, Ademar tos levavam em conta a melhor forma de apro-
Cassol e Enrique Brena -, muitas delas, ícones da veitamento do terreno para não prejudicar a vizi-

GRANDES NOMES
27 da arquitetura catarinense
nhança e a valorização do entorno. Moysés acre- mercado de trabalho local. A atmosfera provincia-
dita no poder do convencimento, na responsabi- na também atraiu o interesse em fixar residência na
lidade do arquiteto em demonstrar que o seu cidade e, logo que chegou, foi trabalhar na Direto-
projeto é o melhor para a cidade, para a qualidade ria de Obras Públicas (DOP), órgão vinculado ao
do espaço construído. Esse desafio foi conquista- Governo do Estado. Em seguida, uma oportunida-
do em algumas obras como no Centro Empresa- de de trabalho foi a parceria com o arquiteto Val-
rial Barão do Rio Branco, nos anos 2000, um pré- my Bittencourt, formado no Rio de Janeiro e pio-
dio que teve preservada a entrada, com hall bem neiro na região. Valmy havia ganhado a concorrên-
recuado para receber esculturas de Max Moura e cia para o Hospital Governador Celso Ramos e
sem instalação de comércios no espaço. No Cei- convidou Moysés para participar do projeto. No
sa Center, o arquiteto também convenceu a cons- entanto, ele teve de viajar por conta de uma bolsa
trutora a não comercializar os acessos do térreo de estudos na França e Moysés assumiu o projeto
e inseriu esculturas da blumenauense Elke Hering do hospital, inaugurado em 1964.
e do artista argentino Roberto Vivas. Depois de ficar em terceiro lugar no concurso
Essas decisões refletem o pensamento do ar- de projetos para o prédio do Tribunal de Justiça,
quiteto nascido na zona rural do distrito de Lages, realizado em 1968, que contou com a colabora-
em Santa Catarina, e que aos sete anos de idade ção do arquiteto Ademar Cassol, formou-se a
saiu de casa para estudar – ele foi de carroça mo- parceria Liz Cassol. Mais tarde, com a entrada do
rar na casa da avó, na cidade. Moysés cursou ar- arquiteto Odilon Monteiro na sociedade, a em-
quitetura em Porto Alegre, na Universidade Fede- presa passou a chamar-se Liz Cassol Monteiro e
ral do Rio Grande do Sul (UFRGS), entre 1954 e durou, aproximadamente, oito anos. Com a saída
1959 – a primeira escola de arquitetura em Santa de Cassol, seguiu em parceria com Odilon Mon-
Catarina é de 1977, e a primeira turma formada, de teiro, na Liz Monteiro, até 1991, quando fundou a
1982. Em 1960, escolheu Florianópolis para viver Liz Arquitetos Associados com a filha Flávia Liz
por influência do professor Roberto Veronese, que Arcari, que havia se formado em arquitetura na
tinha algumas obras no estado, e pelo incipiente UFSC no ano anterior.

Arquitetura
Moderna 28
LIZ
Moderna com identidade própria

Moysés foi um dos protagonistas do desen- Já havia uma preocupação com a plasticidade
volvimento da cidade, imprimindo identidade mo- a partir do uso do concreto armado em algumas
derna e deixando um legado relevante em solo obras edificadas em Florianópolis. A linguagem,
catarinense. A influência da Arquitetura Moder- com influência no que vinha sendo construído
na estava presente desde a universidade, quando em Brasília, propunha estrutura aparente, gran-
fez uma viagem para conhecer o Rio de Janeiro, des vãos e plantas livres, pilotis, e uso da arga-
em 1956. Moysés retornou deslumbrado com as massa armada para fazer os elementos pré-mol-
obras de Sérgio Bernardes, Affonso Eduardo Rei- dados de concreto. A inclusão de obras de arte e
dy, Jorge Moreira, Henrique Mindlin, Oscar Nie- outras intervenções artísticas de caráter público
meyer e Burle Marx. Para ele, a Arquitetura Mo- conferiram identidade própria a essa arquitetura
derna era revolucionária, criativa e poética. que estava sendo construída. Segundo a publica-
O arquiteto Leonardo Bertoldi Borges, mes- ção “Itinerários da Arquitetura Moderna de Flo-
trando em Arquitetura e Urbanismo pela Univer- rianópolis”, coordenada pelos então professores
sidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pesqui- e pesquisadores da UFSC, Luiz Eduardo Fontoura
sador da Arquitetura Moderna de Florianópolis e Teixeira e Gilberto Sarkis Yunes, “de uma cidade
da obra dos arquitetos Liz Cassol Monteiro, diz pacata, horizontal, de alvenarias tradicionais,
que, além da influência da Arquitetura Moderna chegou-se a outra imagem urbana, de cresci-
brasileira, há uma linguagem própria “nas solu- mento acelerado, verticalizada e plasmada no
ções estéticas e funcionais, no rigor técnico com concreto armado”.
que essas obras foram construídas, com soluções Doutor em Projetos Arquitetônicos na linha
estruturais totalmente inovadoras para a arqui- Forma Moderna pela Escola Técnica Superior de Ar-
tetura da cidade‑ em propostas muito bem fun- quitetura de Barcelona (ETSBA/UPC), o arquiteto
damentadas”. Sua pesquisa identificou, até o mo- Rudivan Cattani, também pesquisador das obras
mento, a autoria de Moysés Liz em quase 200 de Liz Cassol Monteiro, afirma, em depoimento
projetos, tanto de forma individual como em enviado para este livro, que os projetos de Moysés
parcerias. Liz apresentam, “sempre, com muita serenidade,

GRANDES NOMES
29 da arquitetura catarinense
os atributos mais qualitativos e poéticos da arqui- remanso tranquilo... - ainda que hoje esteja desca-
tetura moderna, com muito conhecimento estru- racterizada em relação ao projeto original”, deta-
tural e nunca fazendo uso de apelos plásticos”. Na lha. Outro exemplo apresentado por Cattani são
sua opinião, Liz entendeu a essência da moderni- as nuances das fachadas dos edifícios projetados
dade arquitetônica, “cuja base pictórica é a abstra- por Moysés Liz. “Elas expressam essa composição
ção, na sua melhor performance”. “Na obra do ar- minuciosa do claro-escuro, da luz e sombra, do
quiteto se veem transmutadas abstratamente si- opaco versus o transparente”, avalia, referencian-
tuações realistas encontradas na natureza”, com- do, ainda, a utilização de “recursos estruturais
plementa, citando, como exemplo, a “cascata” do mais ousados, como lajes protendidas, vigas de
Edifício Ceisa Center. “Após vencer os desníveis transição, como também a mistura de elementos
acidentados, próprios de uma cascata, chega a um pré-fabricados com o moldado in loco”.

Arquitetura
Moderna 30
LIZ
“ tenha
A gente tem que saber que as necessidades mudam, embora se
a ilusão de que a arquitetura é uma obra que dure muitos
e muitos anos. Mas ela não dura, também sofre da lei da vida,
da impermanência das coisas. Ela também é impermanente”.
MOYSÉS LIZ

GRANDES NOMES
31 da arquitetura catarinense
Ceisa Center
Moysés Liz liderou o projeto do Ceisa Center escada central, projetada de forma leve e solta
(1975-1978), desenvolvido pela Liz Cassol Montei- no ambiente. O prédio foi dividido em três blocos
ro. Trata-se do maior prédio comercial de Santa separados pelas juntas de dilatação, sendo que
Catarina, com aproximadamente 33.000 metros cada bloco tem sua circulação vertical própria e
quadrados onde foi utilizada a primeira laje em entradas pela galeria. No térreo, as lojas têm pé-
concreto protendido do estado, possibilitando a -direito duplo com mezaninos em balanço im-
execução de maiores vãos. A planta com dese- plantados de forma alternada.As fachadas, em
nho em “S” surgiu para compatibilizar as irregu- concreto aparente, receberam tratamentos dife-
laridades do terreno, com três frentes, voltadas renciados, como destacam Allana Alves, Angelina
para a avenida Prefeito Osmar Cunha e para as Capella, Emmanuelle Sato e Giselle Bauermann
ruas Vidal Ramos e Deputado Leoberto Leal, e no estudo “Arquitetura Moderna em Florianópolis
para atender ao programa de necessidades. Con- – Edifício Ceisa Center”, desenvolvido no âmbito
forme o arquiteto, o formato sinuoso recebeu in- da disciplina de História, Teoria e Crítica da Arqui-
fluência de Oscar Niemeyer com o Edifício Co- tetura e do Urbanismo Modernos da Unisul sob
pan, em São Paulo, projetado em 1952 e inaugu- supervisão do então professor Dr. Rudivan Catta-
rado em 1966. “Pode-se dizer que o Conjunto Re- ni, em 2016. As duas maiores fachadas, Leste e
sidencial Prefeito Mendes de Moraes - Pedregu- Oeste, receberam placas horizontais que acom-
lho (1947), no Rio de Janeiro, de Affonso Eduardo panham as curvas projetadas, assim como as ja-
Reidy, que havia sido influenciado pelos projetos nelas em fita, em alumínio e vidro – segmentos
de Le Corbusier para o Rio de Janeiro, tenha sido interrompidos apenas pelos volumes cilíndricos
um dos precursores no interesse por esse arqué- que comportam as escadarias. Nas fachadas me-
tipo formal”, considera Rudivan Cattani. nores, placas de concreto com texturas em rele-
O edifício delimitou o acesso às garagens na vo – trabalho artístico que se repete em outras
parte mais desvalorizada do terreno, e os acessos obras do arquiteto.
do público para cada uma das três ruas. As entra- A inovação apresentada com o projeto do Ceisa
das convergem para uma grande área no miolo Center foi bem aceita pelos diretores da construtora
do prédio como se fosse uma praça, um ponto de – a Ceisa - Construção e Empreendimentos Imobi-
encontro. Nesse espaço, as colunas foram reves- liários S/A, Newton Ramos, Adroaldo Pinto Perei-
tidas de aço inox polido, com destaque para a ra e Olavo Fontana Arantes, engenheiro civil.

Arquitetura
Moderna 32
LIZ
Edifício Ceisa Center
destaca-se na paisagem
por sua imponência e
arquitetura singular.
Na entrada principal,
valorização da arte:
a obra Fruto Proibido,
de Helke Hering.

GRANDES NOMES
33 da arquitetura catarinense
“Olavo era um grande amigo, um profissional de compradores, a Ceisa passou a oferecer a decora-
mão cheia, que dirigia com muita técnica e maes- ção da loja”, acrescenta.
tria as obras. E prestigiava muito o nosso traba- Ao longo dessas quatro décadas, o empreendi-
lho como arquitetos. Ele procurava ser fiel àquilo mento sofreu intervenções pontuais que descarac-
que a gente queria fazer”, registrou Moysés Liz terizaram parte da obra. Em 2022, a primeira gran-
em seu discurso no evento de homenagem que de reforma começou a ser planejada, com atenção
recebeu da AsBEA-SC, em junho de 2022, por especial às três entradas e à galeria central. O proje-
seus 60 anos de carreira. A proposta do Ceisa to foi contratado pelo condomínio, sob direção do
Center demonstrou-se bem-sucedida já no lan- síndico Luiz André May Serafin, aos arquitetos Leo-
çamento, ainda em planta. “Todas as salas foram nardo Bertoldi Borges e Rudivan Luiz Cattani, sócio-
comercializadas em apenas um final de semana. -proprietário da R.V. Cattani Arquitetura. Propondo
Um dos corretores que mais vendeu foi o Dalton melhorias e a retomada de questões do projeto ori-
Andrade, que trabalhava na imobiliária da Ceisa”, ginal, o anteprojeto foi submetido por eles à análise
conta o engenheiro Olavo Kucker Arantes, filho de Moysés Liz, que aprovou as soluções propostas.
de Olavo Fontana Arantes. As lojas demoraram Pesquisadores das obras de Liz Cassol Monteiro,
mais a ser negociadas, pois não se acreditava que Leonardo e Rudivan trabalham, atualmente, no de-
os consumidores se afastariam do centro comer- senvolvimento de um livro sobre a obra dos três ar-
cial consolidado na rua Felipe Schmidt. “Para atrair quitetos, com redesenhos e análises dos projetos.

Arquitetura
Moderna 34
LIZ
Biblioteca Pública
de Santa Catarina
Localizado na rua Tenente Silveira, no Centro O edifício passou por reformas nos anos 1999,
de Florianópolis, o edifício da Biblioteca Pública de 2003 e 2016 para a troca de piso no setor infanto-
Santa Catarina (1973-1979) foi projetado por Moy- juvenil. Em 2010, a biblioteca foi objeto de um
sés Liz. O acesso principal se dá por meio de uma concurso nacional de arquitetura organizado
passarela no nível da rua, de onde se tem a visão pelo IAB-SC e promovido pela Fundação Catari-
do jardim e do piso inferior. Nos andares superio- nense de Cultura para adequar seu espaço às no-
res foram locados o acervo de livros e as salas ad- vas demandas. O primeiro lugar ficou com o es-
ministrativas. A configuração do prédio é em lajes critório Elos Arquitetos: Bruno Conde, Filipe Do-
uniformes sobrepostas regularmente. Moysés ria, Filipe Romeiro e Lucas Bittar. Contudo, até a Estrutura recuada
com bloco envidraçado
destaca a estrutura recuada com o bloco envidra- data da publicação deste livro, o projeto não foi
em balanço atende
çado em balanço, conferindo leveza e imponência executado. A Biblioteca Pública é considerada a a intenção de
ao prédio. “Acho que não compromete. Até hoje mais antiga instituição cultural de Santa Catari- conceder leveza e
está sendo bem utilizado”, avalia o arquiteto. na, com 168 anos. imponência ao prédio.

GRANDES NOMES
35 da arquitetura catarinense
Erguido em concreto
armado, hospital foi
o primeiro grande
projeto de Moysés Liz

Hospital Governador Celso Ramos


A edificação totaliza 22 mil metros quadra- o desnível do terreno, o setor de serviço e o res-
dos de área implantada num terreno em declive, taurante foram implantados no subsolo, ficando
no centro expandido da cidade, e fez parte do fora da vista em relação à entrada do hospital.
processo de verticalização daquela região. O pré- Como destacado em artigo pelo arquiteto e
dio do Hospital Governador Celso Ramos (1962- urbanista Eduardo Jorge Felix Castells no livro
1966), projetado por Valmy Bittencourt e Moysés “História da Saúde em Santa Catarina: institui-
Liz, foi erguido em concreto armado, alvenaria e ções e patrimônio arquitetônico (1808-1958)”, de
esquadrias em madeira, em dois blocos, um de Ana Albano Amora (organizadora), o partido
onze pavimentos e outro de quatro pavimentos. adotado responde aos padrões ditados pelo pu-
O partido em “L” teve como solução para um rismo formal clássico do movimento moderno,
extenso programa a separação das várias áreas. vigente, como a volumetria composta, por dois
Os apartamentos com dormitórios são voltados blocos prismáticos retangulares construídos
para o Leste e têm esquadrias com sistema de com estrutura de concreto armado, dispostos de
contrapeso que ampliam as possibilidades de ven- forma a guardar uma relação de ortogonalidade
tilação e iluminação. Em destaque, o bloco per- entre si. Existente no projeto original, a planta li-
pendicular onde fica o centro cirúrgico com acesso vre ou planta de pilotis no pavimento térreo –
totalmente isolado do piso inferior, no qual está outro princípio que identifica a Arquitetura Mo-
localizado o ambulatório, sendo ligado por uma derna –, foi alterada anos depois, após reforma
passarela à área dos apartamentos. Aproveitando de ampliação.

Arquitetura
Moderna 36
LIZ
Central da Telesc
Localizado na Praça Pereira Oliveira, o edifício projetado com pé-direito duplo para permitir
(1973-1974) foi projetado por Moysés Liz e Odilon ampla visão de quem entra no edifício – do lado
Monteiro para servir de posto de atendimento da direito foram delimitadas as cabines telefônicas,
Telesc no Centro da cidade. A intenção foi trazer revestidas com forração vermelha e com portas
unidade plástica às três fachadas, dando ênfase e de vidro transparente. No pavimento superior fi-
tirando partido da estética. As colunas estriadas cavam os escritórios, com acesso por escadas es-
foram a escolha para conferir leveza à constru- pinha-de-peixe com viga central que sustenta os
ção, com o topo menor apoiando as vigas. Moy- degraus, e, no subsolo, o estacionamento. O pré-
sés Liz conta que a arquitetura grega foi uma re- dio é atualmente ocupado por uma agência do
ferência do projeto que valoriza o vão central, banco Safra.

No projeto,
ênfase para
uma unidade
plástica às três
fachadas.

GRANDES NOMES
37 da arquitetura catarinense
Edifício
Edifício residencial de alto padrão no concei-
to clube, o Gustavo Richard foi implantado na
Avenida Trompowsky, n. 84, junto ao Largo Ben-

Gustavo Richard jamin Constant, Centro, pela extinta construtora


Comasa nos anos 1970. “Não houve restrição
econômica”, conta Moysés Liz, responsável pela
obra. Entre as inovações para a época, área de la-
zer com amplo salão de festas, piscina, quadras
de esporte e apartamentos com 336 metros qua-
drados de área cada.
O projeto preservou a Figueira centenária exis-
tente no terreno, uma área grande que possibilitou
recuos generosos, valorizando a esquina. O edifício
foi erguido em alvenaria de tijolos, concreto e es-
quadrias de alumínio, com amplos apartamentos, e
apresenta planta em “V”, com escada circular entre
os blocos voltada para os fundos do terreno.

Arquitetura
Moderna 38
LIZ
Edificação apresenta planta em “V”
com escada circular entre os blocos
voltada para os fundos do terreno,
valorizando a fachada frontal.

Plano espiritual
Uma das últimas obras projetadas por Moysés, em parceria
com a filha, foi o prédio do Conselho Regional de Medicina de San-
ta Catarina, cujo resultado ele diz ter ficado 85% contente por con-
ta de muita interferência. “Nem sempre conseguimos fazer tudo
que gostaríamos e muitas vezes você também tem seus limites e
não consegue fazer uma coisa tão boa como gostaria”, argumenta.
“Com a maturidade, vieram outras buscas para o Moysés,
Uma curiosidade é que o edifício, que leva o além da arquitetura. Ele é interessado pela vida, na busca de res-
nome de um ex-governador de Santa Catarina – postas no plano espiritual, com a prática de Tai Chi, da cerimônia
Gustavo Richard, foi o endereço escolhido para do chá, de mística andina, que trazem movimento e equilíbrio
moradia por outros dois ex-governadores do es- para a sua vida. Após tantos anos dedicado ao trabalho como ar-
tado, Ivo Silveira, que faleceu em 2007, e Colombo quiteto, ele não está mais debruçado sobre uma prancheta como
Machado Salles, que reside até hoje no local. fez durante 60 anos, mas procurando sempre fontes de aprendi-
Sobrinho do ex-governador Colombo Salles, o zado e de prazer em tudo aquilo que lhe faz sentido”, destacou
jornalista Urbano Salles também morou no Flávia Liz Arcari em seu discurso no evento de homenagem a Moy-
edifício e revela outros dois vizinhos da área sés Liz realizado pela AsBEA-SC em junho de 2022. Aposentou-se
política: o ex-ministro do Trabalho e Emprego quando fez 80 anos para usufruir da vida, um bem precioso, e,
Manoel Dias e Paulo Konder Bornhausen, que para ele, devemos honrar e viver esse presente.
foi deputado estadual, é irmão do ex-gover- O pensamento de Moysés Liz no campo da arquitetura encon-
nador Jorge Bornhausen e filho de Irineu Bor- tra sinergia com sua filosofia de vida, baseada em princípios do
nhausen, outro ex-governador de Santa Cata- Oriente, budismo, zen budismo, taoismo e hinduísmo. Sua viagem
rina. “Este era o prédio mais aristocrático da mais recente, em setembro de 2022, foi para a Índia, realizada du-
cidade”, complementa o jornalista em depoi- rante a produção deste texto.
mento para este livro.

GRANDES NOMES
39 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 40
Odilon Monteiro
Da prática de mercado ao serviço público, como dirigente
de classe e professor universitário, o arquiteto catarinense
apresenta uma trajetória de 55 anos de profissão e ainda não
pensa em aposentadoria. Entre relevantes projetos de edifícios
institucionais e comerciais de Florianópolis, ícones da
Arquitetura Moderna, ressalta sua preocupação maior com
o resultado para o cliente e com a qualidade de vida que
a edificação proporciona ao usuário.

POR LETÍCIA WILSON

“PROJETAR É MEU DIVERTIMENTO até hoje”. Com as décadas de 1970 e 1980, empresas responsá-
essa afirmação, o arquiteto Odilon Monteiro sin- veis por alguns dos principais exemplares da Ar-
tetiza sua motivação para o exercício da profissão quitetura Moderna de Santa Catarina.
nos dias atuais. Aos 80 anos, ele mantém atividade A relação de Odilon Monteiro com a pranche-
regular de trabalho em seu escritório, no Centro de ta precede a conquista do diploma, em 1967, na
Florianópolis, com uma rotina dinâmica de aten- Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Univer-
dimento a clientes e de reuniões de planejamen- sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em
to e estudos de projetos com os seus sócios na Porto Alegre. Assim que conheceu o curso, a
Monteiro Arquitetura. “O meu maior prazer é criar ideia inicial de estudar Engenharia foi logo des-
um produto bom para que o usuário tenha quali- cartada e, no segundo ano da faculdade, ele já in-
dade de vida”, define. Cercado por estantes reple- tegrava equipes de escritórios de arquitetura da
tas de livros, com plantas baixas e croquis sobre capital gaúcha. Lá, exercia e aprimorava a prática
a mesa e diversas pastas de entregas de projetos do desenho, uma habilidade que desenvolvia
enfileiradas em um balcão, Odilon Monteiro ocu- desde criança, inspirado nos desenhos feitos pelo
pa o mesmo imóvel que serviu de escritório para pai. Nascido em Tubarão, no Sul de Santa Catari-
a Liz Cassol Monteiro e para a Liz Monteiro entre na, Odilon passou a infância no município vizinho

GRANDES NOMES
41 da arquitetura catarinense
Edifício da Secretaria
Estadual da Educação
(1972). Projeto de
Odilon Monteiro.

Arquitetura
Moderna 42
MONTEIRO
de Siderópolis, onde o pai trabalhava em uma por amigos ao engenheiro Boris Tertschitsch, for-
empresa nacional de extração de carvão. Retor- mado em São Paulo e radicado na capital catari-
nou para a cidade natal na adolescência para nense, onde era um profissional muito concei-
completar os estudos e, de lá, seguiu a Porto Ale- tuado. “Ele estava há alguns anos ‘modernizando’
gre para estudar na UFRGS, em função da inexis- as casas em Florianópolis. Ficamos conversando
tência de faculdades de Engenharia Civil e de Ar- sobre arquitetura e ele disse: ‘vem trabalhar no
quitetura em Santa Catarina à época. escritório’. Nossa relação profissional, por falta
Odilon Monteiro revela que teria seguido car- de tempo, foi breve”, conta. Assim, com a certeza
reira em Porto Alegre, pelas oportunidades de tra- de que não iria se distanciar da prática de merca-
balho que surgiram ainda durante a universidade. do, aceitou a oferta que o atraíra para a capital
Contudo, um pedido especial do seu pai o fez re- catarinense e, entre 1968 e 1973, chefiou o Depar-
gressar a Santa Catarina logo que se formou em tamento Autônomo de Edificações do PLAMEG.
Arquitetura. “Um amigo dele, que havia sido seu O período foi de intensa atividade. “No governo,
colega na empresa em Tubarão, estava coorde- fazíamos todos os projetos: escolas, delegacias,
nando o PLAMEG e me convidou para trabalhar. ginásios de esportes de diferentes portes... Al-
Eu não estava muito interessado, mas fui dar sa- guns deles eram repetidos em vários colégios, de
tisfações e conhecer melhor”, diz, referindo-se ao diversas cidades”, detalha.
Plano de Metas do Governo de Santa Catarina, Em paralelo, Odilon atuava na defesa da clas-
criado em 1961 pelo governador Celso Ramos, des- se, como primeiro presidente do Instituto dos Ar-
tinado à execução, aperfeiçoamento e atualização quitetos do Brasil em Santa Catarina (IAB-SC),
de obras e serviços públicos e ao desenvolvimento entidade que ajudara a fundar em 1969, e iniciava
econômico e social do Estado, como descrito na sua trajetória como professor universitário, apro-
Lei Estadual n. 2.772/61. O PLAMEG foi continuado vado em concurso na Universidade Federal de
no governo Ivo Silveira (1966-1970) e substituído Santa Catarina (UFSC) em 1970 para ministrar
pelo Projeto Catarinense de Desenvolvimento disciplinas de desenho em diversos cursos. Ape-
(PCD) no governo Colombo Salles (1971-1974). sar de gostar da docência, afastou-se da função
As condições salariais oferecidas e a permissão em 1976, quando o engenheiro e professor Cas-
de manter uma atividade paralela apresentaram-se par Erich Stemmer foi empossado reitor e passou
interessantes. Naquele mesmo dia do detalha- a recomendar a ele um doutorado acadêmico.
mento da proposta, durante um jantar no Country “Ele queria ter mais cabeças pensantes na cidade”,
Club em Florianópolis, Odilon foi apresentado justifica. Entretanto, esse não era o interesse de

GRANDES NOMES
43 da arquitetura catarinense
Odilon, que preferia a prática da arquitetura. “Eu em 1977. O afastamento da docência na UFSC,
expliquei a ele: ‘se eu for para a universidade, vou porém, foi temporário. Em 1977, como represen-
me dedicar, terei um doutorado, mas vou ficar tante do IAB-SC, Odilon foi convidado a integrar
fossilizado naquilo. E o que eu quero é a prancheta’”, a equipe de criação do curso de Arquitetura e Ur-
recorda o arquiteto. banismo da universidade ao lado de colegas
Naquela época, Odilon contribuía com as como a arquiteta Carmem Cassol, que veio a as-
causas da cidade como membro da comissão de sumir a coordenação do curso. Então, ele foi
assessoramento da prefeitura de Florianópolis, convidado a participar como professor colabo-
sugerindo a criação de um Instituto de Planeja- rador – cargo que exerceu entre os anos de 1978
mento Urbano aos moldes do que havia sido e 1979, quando decidiu se dedicar exclusivamente
criado em Curitiba, em 1965. O IPUF foi instituído ao escritório.

Arquitetura
Moderna 44
Edifício sede da
Telefônica de Santa
Catarina - Telesc
(1972-1976). Projeto
de Odilon Monteiro
e Moysés Liz.

GRANDES NOMES
45 da arquitetura catarinense
Arquitetura: eficiência e inovação

Vivenciando a época do chamado Milagre Eco- Para proteção solar das fachadas Norte e Oeste,
nômico brasileiro, entre 1967 e 1973, quando o projetou os moldes dos brises-soleils em concre-
país alcançou taxas médias de crescimento ele- to. Na base, a prioridade foi “soltar o prédio do
vadas, e colhendo frutos do projeto de desenvol- chão”, reforçando a estrutura para deixar o espa-
vimento implantado em Santa Catarina, Odilon ço livre, adotando pilotis para erguer o bloco. O
Monteiro envolvia-se em grandes projeto – marca- partido arquitetônico adotado seria repetido em
dos pela inovação. A Arquitetura Moderna era a grande parte das obras do escritório no período:
referência – “conceito dado e cobrado na universi- “uma estrutura periférica em concreto aparente
dade” –, com pilotis, planta livre, fachada livre. conformando fachadas idênticas, planta livre e
Vinculado ao PLAMEG, em 1972, assumiu o projeto um núcleo central de serviços e circulação verti-
do prédio da Secretaria Estadual da Educação, ini- cal”, como destacou a arquiteta Melissa Laus
cialmente idealizado para abrigar a Secretaria da Fa- Mattos na sua dissertação de mestrado “Arqui-
zenda, com 11 pavimentos e 7.765 metros quadra- tetura Institucional em Concreto Aparente e suas
dos de área construída. “Esse foi um dos primeiros Repercussões do Espaço Urbano de Florianópolis
edifícios da cidade em que se usou a tecnologia do entre 1970 e 1985”.
concreto protendido. Essa era a tecnologia dispo- Passados 50 anos da criação desse emblemá-
nível e era a coisa mais simples a ser feita, pois fica- tico exemplar da Arquitetura Moderna de Floria-
va pronto direto. Era mais lógico”, pontua Odilon. nópolis, Odilon Monteiro avalia a obra com crité-
O desafio desse projeto, segundo ele, foi vencer rio. “Ele é bem ‘maçudo’. Eu acho que poderia ser
a pequena área do lote, com frentes para três ruas mais leve”, considera. A leveza pretendida foi
Na página seguinte, – João Pinto, Nunes Machado e Antônio Luz –, e o conquistada em outro edifício representativo da
Edifício sede do afastamento mínimo de 2,40 metros exigido pela cidade, projetado no mesmo ano de 1972: a sede
Tribunal de Contas
prefeitura à época. A solução adotada foi planejar a da Telesc, a extinta companhia de Telecomunica-
de Santa Catarina
(1973-1976). Projeto planta no formato de um retângulo, centralizando a ções de Santa Catarina, no bairro Itacorubi. Odilon
de Odilon Monteiro circulação vertical e os serviços para “liberar” o en- revela que a Telesc era uma das suas clientes à épo-
e Moysés Liz torno, com planta livre, para o maior uso possível. ca, e que, quando foi acionado para desenvolver o

Arquitetura
Moderna 46
projeto, decidiu convidar o arquiteto Moysés Liz
para atuar em parceria, contando também com o
apoio de Wilson Pereira, seu colega na PLAMEG.
“Lá, tínhamos uma área maior e conseguimos
dar mais leveza à estrutura, atendendo a tudo o
que eles queriam”, explica.
No terreno de 41 mil metros quadrados, pla-
nejaram um edifício de dois pavimentos e ático
que totaliza 12.212,34 metros quadrados de área
construída, com a singular forma em Y que mar-
ca a setorização dos espaços, com núcleo central
de circulação e serviços, e que veio a inspirar o
desenho do logotipo da empresa. “Tínhamos uns
22 metros de superfície e conseguimos fazer um
balanço de cinco metros. Os módulos receberam
lajes simples que venciam uns cinco metros. Era
totalmente equilibrado”, pontua Odilon. Nas fa-
chadas, peças pré-moldadas em concreto. Nesse
projeto, Odilon assumiu também a fiscalização das
obras. Inaugurado em 1976 como primeiro prédio
institucional em concreto aparente do bairro, o
edifício foi sede da empresa Brasil Telecom após

GRANDES NOMES
47 da arquitetura catarinense
“Os conceitos de usos continuam iguais, só que agregados a
novas tecnologias. O objetivo é o mesmo, o de proporcionar
conforto e qualidade de vida para o usuário. Temos que
andar para a frente e conservar o que é válido”.
O D I LO N MO NTEI RO

a privatização do sistema de telefonia no país, Cassol, que já atuavam em parceria, na criação da Liz
em 1998, e, em 2009, da operadora Oi. Em 2019, o Cassol Monteiro, em 1972. “Tínhamos seis, sete
imóvel foi adquirido pela Universidade do Estado desenhistas e trabalhávamos juntos, na mesma
de Santa Catarina (Udesc) para servir de campus sala”, recorda. O trio atuou em conjunto por oito
anexo para a instituição. anos, assinando obras significativas em Florianó-
Outro projeto desenvolvido em parceria com polis, representativas da Arquitetura Moderna,
Moysés Liz foi o do Tribunal de Contas, em 1973, como o prédio da sede do Conselho Regional de
inaugurado três anos mais tarde na Praça Tancre- Engenharia e Arquitetura (CREA-SC), em 1973, ca-
do Neves, no centro da capital catarinense. “Lem- pitaneado por Cassol, e o Ceisa Center, em 1975,
bro bem, em uma das visitas à obra, que falei liderado por Moysés Liz. Odilon faz questão de
para o governador (Antônio Carlos Konder Reis): referenciar que o resultado positivo alcançado se
‘isso aqui vai atender o Tribunal agora, mas daqui deve também à importante contribuição do arqui-
a alguns anos, será preciso comprar essa outra teto Tuing Ching Chang, especialista em cálculo
área ao lado para ampliar ainda mais’”, relata estrutural, parceiro em muitos projetos, e à con-
Odilon. Em 2012, o Tribunal de Contas inaugurou fiança de clientes como Newton Ramos, Olavo
o prédio anexo, projetado pelo arquiteto Manoel Fontana Arantes e Adroaldo Pinto Pereira, dire-
Dória, vencedor do concurso nacional de arquite- tores da Ceisa - Construção e Empreendimentos
tura realizado pelo órgão. Imobiliários S/A, que apostaram na inovação.
Odilon revela que o envolvimento com o pro- A partir da saída de Cassol da sociedade, em
jeto da Telesc foi o que o motivou a deixar o cargo 1979, Liz e Monteiro permaneceram trabalhando
na PLAMEG. Então, ao assumir a fiscalização da em parceria por mais alguns anos, desenvolven-
obra da Telesc, formalizou o seu ingresso na socie- do outros ícones, como a sede corporativa da
dade com os arquitetos Moysés Liz e Ademar Portobello (atual Unisul), em 1982, e a sede das

Arquitetura
Moderna 48
Edifício corporativo
da Portobello (1982-
1984), atual campus
da Unisul, projetado
por Liz Monteiro.
Destaque para as
esquadrias envoltas
por pré-moldados de
concreto que formam
brises fixos. Na facha-
da Norte, brises hori-
zontais móveis.

GRANDES NOMES
49 da arquitetura catarinense
Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A (Celesc), mestres como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Le
em 1986, esta última em coautoria com o arqui- Corbusier. E, também, do período de atuação em
teto Enrique Brena, projeto vencedor do concur- órgão público, enfrentando embates em comis-
so público. Mais tarde, com o fim da parceria pro- sões de licitações por seus muitos pareceres con-
fissional com Moysés Liz, Odilon Monteiro seguiu trários, e como profissional de mercado diante da
com a Monteiro Arquitetura, que em 2016 pas- morosidade e de análises subjetivas na aprova-
sou a integrar, como sócios, os arquitetos Christi- ção dos projetos. “Temos mesmo que criticar.
na Noronha Rieke e Hermes Rodrigo da Silva, que Até os nossos projetos criticamos, achando que
já atuavam na empresa. No portfólio, registra poderíamos ter feito melhor”, pondera.
quase 200 projetos, desenvolvidos de forma indi- O arquiteto faz questão de frisar que nunca
vidual ou em parceria com outros arquitetos. Pela se considera satisfeito. “Eu acho que sempre tem
Monteiro Arquitetura, a partir dos anos 2000, o que melhorar”, alega. Atualmente, dedica-se
projeta diversos empreendimentos residenciais e aos estudos e cálculos junto aos sócios. “Eu en-
corporativos de destaque na cidade, como o Cen- trego para eles e digo: ‘isso aqui é uma pedra rígi-
tro Empresarial Florianópolis (2000), com cola- da que agora vocês vão lapidar’. Eu sou aberto a
boração do arquiteto Nelson Teixeira Netto, o modificações e todo dia a gente volta com uma
Centro Executivo Ferreira Lima (2002) e o Edifício ideia nova. Nosso compromisso é não desperdi-
Porto di Mare (2005), ambos em coautoria com a çar e que o resultado seja de boa qualidade para
arquiteta Christina. o cliente e para o usuário”, enfatiza. Odilon Mon-
Com uma postura que prioriza a ética, a téc- teiro confessa que sempre achou que se aposen-
nica e o profissionalismo, Odilon Monteiro man- taria aos 80 anos de idade. “Não paro porque
tém o perfil crítico de quem não tem “papas na aqui eu me divirto. É onde eu me sinto bem.
língua”, como diz, o mesmo da época da faculda- Quando consigo encontrar uma solução para o
de, quando questionava posições ideológicas de cliente, é pura endorfina. É sempre bom ter um
colegas e professores e decisões de projetos de desafio para vencer”, reforça.

Arquitetura
Moderna 50
MONTEIRO
Estádio Estadual

Dos projetos desenvolvidos no âmbito do de referência no país, incluindo dois dos maiores
PLAMEG, o arquiteto Odilon Monteiro lamenta a estádios do mundo: o Maracanã, no Rio de Janei-
não execução do Estádio Esportivo Estadual. O ro (RJ), e o Mineirão, em Belo Horizonte (MG).
projeto fora elaborado por ele, como represen- Notícias publicadas sobre o tema nos jornais
tante do Gabinete de Planejamento do PLAMEG, daquela época revelam a expectativa dos des-
nomeado coordenador, e por Ademar Cassol, portistas e da imprensa catarinense, que se mo-
vinculado à UFSC, e por Moysés Liz, pela Direto- bilizou em campanha pela viabilização da inicia-
ria de Obras Públicas (DOP), membros da comis- tiva. A criação de um fundo esportivo, com re-
são técnica constituída pelo então governador cursos destinados à construção do Estádio Esta-
Ivo Silveira. Conforme divulgado pelo jornal O dual, foi aprovada pela Assembleia Legislativa
Estado em 30 de maio de 1968, a comissão teria em janeiro de 1969, e créditos especiais foram
120 dias para elaboração do projeto do estádio, autorizados nos anos seguintes. Em maio de
que seria construído pelo Governo do Estado no 1970, foi aberto edital de concorrência para a
bairro Trindade em terreno pertencente à UFSC execução das obras, iniciando-se os serviços de
cedido pelo Governo Federal. terraplanagem. Contudo, as obras seguiram em
“Naquela época, o governo financiava os es- ritmo lento nos governos seguintes, de Colombo
tádios do Brasil inteiro. Havia a verba para fazer Salles e de Antônio Carlos Konder Reis, até se-
aqui em Santa Catarina e conseguimos fazer o rem suspensas, em 1979, por decisão do gover-
projeto e depois o adaptamos, a partir da alteração nador seguinte, Jorge Bornhausen. A edição de
do local para o Pasto do Gado, na região conti- 15 de setembro daquele ano do jornal Correio do
nental. Não era um estádio de futebol, era um Povo detalha a distribuição dos 66 milhões de
estádio olímpico. Para o esporte de Santa Catarina cruzeiros que seriam destinados à construção do
seria um espetáculo”, considera. Na etapa de pla- estádio estadual entre os clubes de futebol do
nejamento do estádio estadual, os arquitetos estado e para o custeio de ginásios esportivos
realizaram viagens técnicas para conhecer projetos em diversas cidades.

GRANDES NOMES
51 da arquitetura catarinense
Celesc
Centrais Elétricas de Santa Catarina
O edifício sede da Celesc foi projetado pelos A edificação “apresenta fortes características
arquitetos Odilon Monteiro, Moysés Liz e Enri- da arquitetura moderna, sendo considerada uma
que Brena em 1986, vindo a ser inaugurado dois obra de grande ousadia e robustez devido à sua es-
anos depois. O prédio, erguido em uma área de cala, que proporciona contraste em relação ao bair-
21.069,43 metros quadrados no bairro Itacorubi, ro residencial, e também ao impacto visual causado
apresenta uma planta que segue o partido ar- pela grande massa em concreto aparente”, descre-
quitetônico de circulação vertical central e circu- vem Alexandra Peressoni, Evelyn Pedroso, Gabriela
lações verticais periféricas, incluindo pátios in- Mattos Baião e Paula de Medeiros no artigo “Arqui-
ternos no térreo e espaços de trabalho distribuí- tetura Moderna em Florianópolis: o edifício da Ce-
Edifício sede das dos em quatro pavimentos. “O núcleo central, lesc”, desenvolvido no âmbito da disciplina de His-
Centrais Elétricas
como convergência, é o espaço mais valorizado. tória, Teoria e Crítica da Arquitetura e do Urbanis-
de Santa Catarina -
A partir dele a visualização dos setores é clara- mo Moderno da Unisul sob orientação da professo-
Celesc (1986-1988).
Projeto de Odilon mente percebida. Nas fachadas, para reduzir a ra Jacinta Milanez Gislon. Entre as características,
Monteiro, Moysés Liz carga térmica, foram desenvolvidos brises verti- destacam fachadas e planta livre, janelas em fita e
e Enrique Brena cais fixos”, explica Odilon Monteiro. brises de concreto em todo o edifício.

Arquitetura
Moderna 52
MONTEIRO
GRANDES NOMES
53 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 54
Ademar José Cassol e
Carmem Seara Cassol
Com uma trajetória de pioneirismos em quase 60 anos de Arquitetura
em Santa Catarina, o casal assina projetos que revelam o potencial do
concreto, em sua força e plasticidade. A veia artística de Ademar e sua
atenção às estruturas combinadas à determinação de Carmem nos
estudos e detalhamentos resultaram em obras de grande expressão.

POR LETÍCIA WILSON

A FACULDADE DE ARQUITETURA da Universida- Carmem era funcionária pública federal e


de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que havia conseguido transferência para a capital ca-
formou a maioria dos profissionais que fizeram tarinense junto ao Instituto Nacional de Previ-
parte da primeira geração de arquitetos de Santa dência Social (INPS – atual INSS), do qual era
Catarina, aproximou Ademar José Cassol e Car- concursada desde a época do curso científico.
mem Seara no início dos anos 1960. Ambos mo- Assim, o casal iniciava dupla jornada: à tarde
ravam em Porto Alegre – ele natural de Caxias do trabalhavam em seus empregos – Carmem no
Sul (RS) e, ela, de São Sebastião do Paraíso (MG). INPS e Ademar na Madeireira Cassol – e pela
Como colegas de classe, tornaram-se um casal manhã atuavam no escritório de arquitetura que
logo que se conheceram. Conquistaram o diplo- montaram em parceria. Dividiam-se, ainda, nos
ma em 1964 e, no ano seguinte, migraram para cuidados de Raquel, a primeira filha do casal,
Florianópolis “para começar a vida de arquiteto”, nascida dois anos antes.
como conta Ademar, atraído pelas oportunida- Em 16 de setembro de 1965, efetivaram o re-
des que se anunciavam na empresa da família, a gistro no então Conselho Regional de Engenharia
Madeireira Cassol, fundada poucos anos antes e Arquitetura e Agronomia de Santa Catarina
na cidade vizinha de São José. (CREA-SC), o que fez de Carmem a primeira mulher

GRANDES NOMES
55 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 56
CASSOL
arquiteta com registro profissional no estado, de Alberton na dissertação “Influência Modernista na
acordo com dados do Conselho de Arquitetura e Arquitetura Residencial de Florianópolis”. Segun-
Urbanismo (CAU) – autarquia que passou a repre- do ela, a arquitetura da Residência Wilmar Bec-
sentar a classe em 2010, criada pela Lei n. 12.378, ker remetia à fase “brutalista paulistana”.
que regulamentou a profissão de Arquiteto e Ur- De característica semelhante também é a
banista no país. Os primeiros projetos surgiram Casa Cassol, outro importante exemplar da Ar-
logo em 1966, entre demandas da própria família quitetura Moderna no portfólio de Carmem e
e de conhecidos, como a casa do irmão de Ade- Ademar. A edificação foi projetada por eles em
mar, Adroaldo Cassol, na avenida Osmar Cunha, e 1974 para servir de residência para o casal e para
a do empresário Wilmar Becker, na avenida Rio os filhos, sendo construída em um terreno de 1,2
Branco – ambas já demolidas. mil metros quadrados, de frente para o mar, no
A Residência Wilmar Becker, projetada por bairro Estreito, na orla continental de Florianó-
eles em 1966, marcou o início da utilização do polis. “Ela foi feita em uma noite”, conta Ademar
concreto aparente em edificações residenciais na Cassol. Segundo ele, o planejamento da casa, de
cidade, de acordo com a arquiteta Melissa Laus 300 metros quadrados, em dois pavimentos,
Mattos em sua dissertação “Arquitetura Institu- considerou o desnível de seis metros do lote e as
cional em Concreto Aparente e suas Repercussões rochas naturais existentes no terreno. “Tivemos
no Espaço Urbano de Florianópolis entre 1970 e de fazer dois andares de andaime para construir
1985”. A fachada destacava a edificação na paisa- ali. Eu pensava: ‘que loucura’”, detalha o arquite-
gem, em concreto aparente e com extensos planos to. A volumetria é marcada por vigas e lajes com
de vidro. A estrutura era modular, em concreto ar- 7,5 metros de balanço dos dois lados da casa. Os
mado, definindo a distribuição dos ambientes da fechamentos, em extensos planos de vidro tem-
casa, de planta livre. Na entrada principal, um perado, promovem uma melhor relação do espa-
grande painel artístico expressava outra caracterís- ço interno com o externo, tirando partido da pri-
tica da Arquitetura Moderna brasileira. “É uma cai- vilegiada paisagem do entorno. O casal viveu no
xa de concreto, leve pelos balanços, que se destaca local durante anos. Em 2022, a casa encontra-se
na paisagem”, sintetizou a arquiteta Josicler Orbem fechada, disponibilizada por eles para locação.

Na página anterior,
detalhe do Edifício Ceisa
Center (1975), projeto da
Liz Cassol Monteiro

GRANDES NOMES
57 da arquitetura catarinense
“ coisas,
Tudo tem seu tempo e vamos ficando cansados de fazer as
mas eu gostava de dar aulas. É sempre bom dar aulas
para os jovens.”
CARMEM SEAR A CASSOL

Arquitetura
Moderna 58
CASSOL
Influências e referências

As referências arquitetônicas traziam da épo- seu irmão a convenceu a trocar por Arquitetura.
ca da faculdade, como, citam eles, o “Brutalismo “Ele achava que o ITA era mais para homens”, re-
Paulista” de Vilanova Artigas e Paulo Mendes da vela, entre risos. Carmem pensou melhor e deci-
Rocha, e, em nível internacional, as obras de Mies diu trocar, mas não pelos argumentos do irmão.
van der Rohe. “A gente adorava também Frank “Comecei a olhar a Arquitetura com outros
Lloyd Wright. Já Le Corbusier não tanto”, comple- olhos, e gostei”, diz.
menta Carmem Cassol. A relação com a faculda- A decepção de Ademar estava relacionada à
de, aliás, foi diferente para cada um deles. Ade- sua veia artística. “Eu queria fazer música nas Be-
mar pensava em cursar Medicina, mas um colega las Artes, mas não podia fazer dois cursos na
de escola o recomendou Engenharia ou Arquite- UFRGS ao mesmo tempo”, conta. Além do dese-
tura pela habilidade que tinha para desenhar. “Eu nho, praticava pintura com tinta a óleo, estudava
desenhava muito, tinha facilidade. Eu me inscrevi teoria da música de forma autodidata e aprendeu
então na Arquitetura, mas quando começaram a tocar violino ainda na adolescência. O violino
as aulas, eu me decepcionei. Eu esperava mais da sempre foi sua paixão – instrumento que o con-
faculdade”, confessa. Carmem, por sua vez, reve- duziu aos palcos. Ademar integrou a Orquestra
la-se bastante satisfeita com o aprendizado. “Eu de Câmara de Florianópolis, sob a regência do
não me decepcionei com nada”, enfatiza. Ela con- maestro Hélio Teixeira da Rosa, apresentando-
ta que estava decidida a cursar Engenharia no -se, inclusive, no primeiro Festival de Música de
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), loca- Florianópolis, promovido pelo departamento de
lizado em São José dos Campos (SP), entretanto, cultura da Universidade Federal de Santa Catarina

Na página anterior,
Sede do CREA-SC
(1977), projeto de
Liz Cassol Monteiro
liderado por
Ademar Cassol.

GRANDES NOMES
59 da arquitetura catarinense
(UFSC) em 1968. A Orquestra era bastante reve- pela associação de mesmo nome que atende
renciada à época, formada “por um grupo de en- crianças em situação de vulnerabilidade social de
tusiastas pela divulgação da melodia clássica que Florianópolis no contraturno escolar oferecendo,
não se deixa vencer pelos problemas musicais gratuitamente, aulas de música e outras ativida-
que podem ser encontrados junto à nova geração des. No quarteto de músicos, estão duas irmãs
e pretende valorizar ainda mais os compositores de Ademar, uma no violoncelo e outra no piano.
famosos”, como descreveu o jornalista Moacir “Ninguém da família era voltado para as artes,
Casa Cassol (1974),
Pereira em sua coluna no jornal O Estado, em 2 nem para a música. Depois que eu comecei, as ir-
projetada por
Ademar e Carmem, de setembro de 1969. mãs seguiram”, acrescenta. Ainda que a música
em fotos atuais e da Ademar ainda segue com a prática, partici- sempre tenha sido uma grande paixão, a Arquite-
época da construção. pando da Orquestra Novo Alvorecer, formada tura também conquistou Ademar.

Arquitetura
Moderna 60
CASSOL
“ Eu era da música, só pensava em música. Moysés dizia
que a arquitetura, para mim, era um hobby. Mas não, eu
fazia arquitetura porque gostava. Eu só não tinha ambição
profissional. Eu gostava demais da prancheta”.
ADEMAR CASSOL

GRANDES NOMES
61 da arquitetura catarinense
Mercado e academia

O arquiteto Moysés Liz foi um importante par- na primeira diretoria formada, que teve Odilon
ceiro na trajetória profissional de Ademar Cassol. Monteiro como presidente, e permaneceu atuan-
Conheceram-se em 1967 e logo estabeleceram a te junto à entidade como membro da diretoria
primeira parceria: participar do concurso do ante- em várias gestões. Carmem e Ademar Cassol
projeto do novo Palácio da Justiça, promovido também foram conselheiros do CREA-SC.
pelo Gabinete de Planejamento do Plano de Me- Os anos 1970 foram de intensa atividade para
tas do Governo (PLAMEG), que veio a ser vencido Carmem e Ademar Cassol. De forma individual,
pelo arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva e equi- em dupla e em parcerias com outros arquitetos,
pe. Naquele ano, Ademar vivenciou uma rápida desenvolveram incontáveis projetos. Estabeleci-
experiência na área política, sendo nomeado Se- da a parceria entre Ademar e Moysés, a Liz Cassol
cretário de Obras e Serviços de Florianópolis pelo seguia em ritmo acelerado. “Fazíamos muitas ca-
prefeito Acácio Santhiago (1966-1970). “Eu estava sas”, diz Ademar. Em 1970, dedicaram-se aos es-
insatisfeito. Trabalhei por uns meses na prefeitura tudos de uma possível construção de um hipó-
e depois fui para a UFSC, para trabalhar no Plane- dromo para o Jockey Club – não executada. Em
jamento, a convite dos arquitetos Tuing Ching 1971, eles conquistaram o primeiro lugar no con-
Chang e Davi Ferreira Lima”, recorda o arquiteto. curso de anteprojeto instituído pelo SENAI para
Davi era filho de João Davi Ferreira Lima, um dos construção da sede social da cidade, em Jaraguá
fundadores da universidade, em 1960, tendo sido do Sul. No parecer, a comissão julgadora – for-
também o seu primeiro reitor (1961-1972). mada por arquitetos do departamento nacional
Naquela época, a integração dos arquitetos da instituição – destacou o aproveitamento do
atuantes na cidade estava sendo fortalecida e a terreno, a excelente distribuição da diversas fun-
Arquitetura ganhava representatividade, culmi- ções, aliada à simplicidade das circulações, e “a
nando, em 1969, na constituição da regional cata- boa concepção construtiva que propicia econo-
rinense do Instituto dos Arquitetos do Brasil mia na execução e equilíbrio agradável na com-
(IAB). Carmem, Ademar, Moysés, Tuing, Davi, posição dos volumes e espaços vazios”, conforme
Odilon e outros 25 arquitetos figuram entre os publicado na edição de 10 de agosto daquele ano
fundadores da entidade. Carmem assumiu cargo do jornal O Estado.

Arquitetura
Moderna 62
No ano seguinte, Odilon Monteiro ingressou dar aula de arquitetura na Engenharia”, conta. Ilustração do
na sociedade, formando-se a Liz Cassol Monteiro Cinco anos mais tarde, participou da equipe de projeto de Carmem
Seara Cassol para a
Arquitetos Associados, que veio a projetar al- criação do curso de Arquitetura e Urbanismo, e,
sede social do
guns dos ícones da Arquitetura Moderna em Flo- então, assumiu a coordenação e, mais tarde, a Paula Ramos
rianópolis, como a sede do CREA-SC (1973) e o chefia de departamento. Seguiu como professo- Esporte Clube
Ceisa Center (1975). A empresa foi sediada no Edi- ra da instituição até 1995, quando se aposentou. (1982).
fício Apolo, na avenida Tenente Silveira. Na mes- A docência era combinada com a atuação no
ma rua, no Edifício Hércules, estava o escritório mercado. Questionada sobre como enfrentava a
de Carmem. E as parcerias eram integradas. “Fiz dupla jornada nos anos 1970 e, ainda, sendo mu-
um projeto para eles porque o Moysés viajou”, re- lher num mercado predominantemente masculi-
vela a arquiteta. Naquele ano de 1972, aprovada no e mãe de três filhos, Carmem responde cate-
em concurso, Carmem foi contratada pela UFSC. górica: “era puxado, mas eu já tinha duas empre-
“O Gama d’Eça (Luiz Felipe) me convidou para gadas”, destacando a importância deste apoio.

GRANDES NOMES
63 da arquitetura catarinense
A força do concreto

O concreto era um material que entrou na mira Entre os diversos projetos que assinou de for-
da família Cassol no processo de expansão das ati- ma individual, Carmem destaca a adaptação das
vidades da empresa, iniciada em 1967 com a inaugu- salas adquiridas no Edifício ARS - Centro Comer-
ração da primeira loja de materiais de construção. cial Aderbal Ramos da Silva, na rua Felipe Sch-
No final dos anos 1970, a Cassol foi pioneira em pré- midt, para a instalação da agência central da Cai-
-fabricados de concreto na região Sul do Brasil a xa Econômica Federal, com 1.370 metros quadra-
partir da importação de tecnologias da Europa para dos, a sede recreativa dos funcionários da Caixa,
dar início à industrialização desses materiais. no bairro Jurerê, ambos em 1977, e a sede social
Naquela década, Carmem já buscava especia- do Paula Ramos Esporte Clube, em 1982, com
lização específica, com registro de participação 3.577 metros quadrados. “Eles quiseram fazer em
em Curso de Tecnologia em Concreto Portland, concreto pré-moldado e eu fiz o projeto”, afirma,
em 1972, e em Execução de Pré-Moldados de Con- referindo-se ao clube. O projeto chegou a ser
creto Armado e Protendido, em 1977. Em 1980, executado, mas a estrutura foi demolida anos
participou do I Congresso Brasileiro de Constru- mais tarde. Ademar complementa que Carmem
ção Industrializada, realizado em Belo Horizonte dedicava-se ao detalhamento, etapa que não o
(MG). Em 1982, participou do curso Tecnologia da atraía. “Eu sou muito mais da estrutura. O Tuing
Arquitetura, tendo o arquiteto João Filgueiras dizia isso, e é verdade”, pontua, citando o arquite-
Lima, o Lelé, como professor. Importante registro to Tuing Ching Chang, especialista em cálculo es-
é feito por Ademar Cassol: “a Carmem fez projeto trutural, importante parceiro de projetos.
com pré-moldado para uma loja da Cassol antes A expansão dos negócios da Cassol na área de
de a empresa ter a intenção de ser uma empresa pré-moldados levou Ademar a deixar a Liz Cassol
de pré-fabricados”, revela. A referência é a antiga Monteiro, em 1979, para se dedicar aos negócios
loja do bairro Campinas, em São José, projetada da família. “Lá eu fazia projetos da estrutura, das
por Carmem em 1975. Nos anos seguintes, Car- formas, na parte da engenharia. Começamos de-
mem desenvolveu outros projetos para a empre- vagar, e foi crescendo”, diz. No ano 2022, a empre-
sa, como as lojas, de forma independente, e o es- sa ostenta o título de maior complexo industrial
critório central, em dupla com Ademar. de pré-fabricados da América Latina. Em paralelo,

Arquitetura
Moderna 64
CASSOL
Ademar e Carmem formalizaram a parceria pro- Entre os anos 2009 e 2015, Ademar e Car-
fissional com a fundação da Cassol Arquitetos, em mem, junto ao arquiteto Giovani Fonseca de
1981, empresa pela qual desenvolveram diversos Carvalho, projetaram o Porto Alegre CenterLar,
projetos de residências; agências bancárias da Cai- shopping criado a partir da parceria firmada en-
xa Federal, em Laguna, Tubarão e em Criciúma, e tre Grupo Cassol e o Grupo Zaffari, uma das
do BESC, em Mafra; lojas; edifícios corporativos; maiores redes supermercadistas do país. Locali-
hotéis e edifícios residenciais, estes, a maioria para zado na Avenida Assis Brasil, na capital gaúcha,
a Kobrasol Empreendimentos Imobiliários, em- o empreendimento tem 60 mil metros quadra-
presa da holding familiar, fundada em 1975 em dos de área construída e o concreto aparece
uma parceria entre as empresas Cassol, Koerich e como principal elemento – com fechamento ex-
Brasilpinho. Maiojama e Eugênio Raulino Koerich terno em painéis alveolares e cobertura em te-
foram outras construtoras clientes. lhas de concreto protendido.
A Kobrasol foi responsável pela criação do lo- Nos dias atuais, Carmem e Ademar mantêm
teamento de mesmo nome que deu origem a um atuação na Cassol Arquitetos, porém, envolvidos
dos bairros mais importantes da cidade de São apenas em demandas de imóveis próprios. “A
José. Para essa empresa, a Cassol Arquitetos de- Carmem gosta da prancheta”, frisa Ademar. Ele
senvolveu o projeto do Beiramar Shopping, em também não se afastou completamente da prá-
1985, em parceria com os arquitetos Giovani Fon- tica. “Esses tempos fiz o estudo de um prédio. O
seca de Carvalho e Alfred Biermann. Construído último que fiz foi um centro de distribuição da
no terreno antes ocupado pelo estádio do Avaí, Cassol, em Porto Alegre”, revela. Ativos, ela com
na esquina entre a avenida Mauro Ramos e a rua 85 anos e ele com 83 anos de idade, participam
Bocaiúva, as obras foram iniciadas em 1987 e a de grupos de caminhadas e planejam as próxi-
inauguração aconteceu em 1993, como o primei- mas viagens. “Pretendo voltar a Chicago (EUA)
ro empreendimento do gênero na cidade. Após em 2023 e aproveitar a viagem para visitar a Casa
aposentar-se da UFSC, em 1995, Carmem passou da Cascata, na Pensilvânia”, diz Carmem, expres-
a se dedicar exclusivamente aos projetos, mas sando a sua admiração por essa que é considera-
em ritmo desacelerado. da a obra-prima de Frank Lloyd Wright.

GRANDES NOMES
65 da arquitetura catarinense
Sede do CREA-SC
apresenta linhas
arquitetônicas
consideradas
arrojadas para a
época. Na página
seguinte, Ademar
Cassol apresenta o
projeto na solenidade
de lançamento da
pedra fundamental,
em 1978.

Arquitetura
Moderna 66
CREA-SC
O projeto da sede do então Conselho Regio- Cassol foi convidado a apresentar o projeto, que
nal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de tinha linhas arquitetônicas consideradas arroja-
Santa Catarina (CREA-SC), no bairro Itacorubi, em das para a época. A construção da sede, inaugu-
Florianópolis, foi desenhado por Ademar Cassol, rada em novembro daquele mesmo ano, foi
na época sócio da Liz Cassol Monteiro. Datado de uma das marcas da gestão do engenheiro mecâ-
1977, o projeto apresenta características que se nico e metalúrgico Carlos Calliari (1975-1978), e
tornaram marcas registradas dos projetos do es- recebeu apoio dos CREAs do Paraná, do Rio
critório, como os elementos decorativos em con- Grande do Sul e de São Paulo na análise do pro-
creto pré-moldado e a solução da cimalha forma- jeto. “Anos depois, o CREA-SC queria fazer uma
da por placas pendentes de concreto que ganhou ampliação e eles resolveram chamar os três –
destaque no centro comercial Ceisa Center (1975), eu, Moysés e Odilon. Fomos lá conversar, mas
como destaca a arquiteta Melissa Laus Mattos na não deu certo”, revela Ademar. Em 2011, o CREA-
sua dissertação. Com 1.600 metros quadrados de -SC inaugurou prédio anexo, de 688,75 metros
área construída, em dois pavimentos, a edificação quadrados, para acomodar as câmaras especia-
apresenta área central, mezanino e circulação lizadas, e, em 2019, a sede foi reinaugurada a
vertical. As atividades administrativas foram con- partir da reforma realizada para atualização da
centradas nas duas áreas laterais. iluminação e da sinalização dos espaços, rees-
A pedra fundamental foi lançada em 1978, truturação da rede lógica e instalação de pai-
em uma prestigiada solenidade em que Ademar néis fotovoltaicos.

GRANDES NOMES
67 da arquitetura catarinense
P E DR O PA UL O DE ME L O S A R A I VA [ 19 3 3 - 2 016 ]

Arquitetura
Moderna 68
Pedro Paulo de Melo Saraiva
Estruturas de concreto armado de grande expressão plástica
caracterizam a obra do arquiteto, um florianopolitano que fez carreira
em São Paulo, mas contribuiu significativamente para a arquitetura
e para o desenvolvimento urbano da capital catarinense. A prática
acadêmica, as parcerias profissionais, a experiência em diferentes
programas e a visão ampliada a respeito da função social da profissão
são marcas da sua trajetória, valorizada com a outorga do Colar de
Ouro do IAB, principal honraria da área no país.
POR LETÍCIA WILSON

FLORIANÓPOLIS TEM ALGUMAS de suas mais ponte Hercílio Luz admirando a imponência e
emblemáticas construções associadas a Pedro acompanhando a decadência da estrutura, orgu-
Paulo de Melo Saraiva. O arquiteto, que se estabe- lhava-se de ter contribuído para a efetivação da
leceu profissionalmente em São Paulo, nunca se segunda ligação Continente-Ilha.
afastou completamente da Ilha de Santa Catarina. A relação nostálgica de Saraiva com Floria-
Na sua terra natal, venceu importantes concursos, nópolis sempre foi uma constante, desde que ele
projetou edifícios singulares, considerados ícones teve de deixar a cidade, aos 17 anos, para acom-
da Arquitetura Moderna — como o da Assembleia panhar a família em São Paulo. Na capital paulis-
Legislativa de Santa Catarina e o do Tribunal de ta, desistiu da Engenharia Naval e decidiu prestar
Justiça —, e participou como protagonista do vestibular para Arquitetura na Mackenzie, uma
maior projeto de desenvolvimento urbano da re- das primeiras faculdades da área do país, onde
gião, implementado há 50 anos: o planejamento ingressou em 1951. A possibilidade de retornar a
físico do plano diretor integrado de Florianópolis, viver na terra natal distanciou-se nos anos se-
a urbanização do aterro da baía Sul e a criação da guintes, especialmente a partir do casamento, às
ponte Colombo Salles. O ex-remador que costu- vésperas da formatura, em 1955. “Isso muda to-
mava, na juventude, cruzar aquelas águas sob a talmente o roteiro e ele faz a vida em São Paulo,

GRANDES NOMES
69 da arquitetura catarinense
mas com um braço grande em Florianópolis”, com Alexandre Santos, o grupo era formado por
conta o seu filho arquiteto Pedro de Melo Sarai- estudantes como Paulo Mendes da Rocha, Fábio
va, em entrevista para este livro. Pedro era sócio Penteado e Jorge Wilheim, assim como o francês
de Saraiva na PPMS Arquitetos Associados desde Marc Rubin, radicado no Brasil, parceiro de Alber-
1995, junto ao arquiteto Fernando Mendonça, to Botti e Júlio Neves com quem, futuramente,
seu colega de turma da Mackenzie. “Foram 21 participaria do concurso para o Plano Piloto de
anos trabalhando profissionalmente com ele. Foi Brasília. O Concurso Nacional do Plano Piloto da
bastante rico”, diz. Antes disso, Saraiva havia tra- Nova Capital do Brasil, vencido por Lúcio Costa,
balhado em sociedade com Sérgio Fischer e Hen- foi realizado entre os anos de 1956 e 1957.
rique Cambiaghi, até 1989, e, nos anos seguintes, Os concursos públicos tornaram-se uma prá-
como consultor do arquiteto Júlio Neves, que ha- tica constante em sua trajetória, assim como a
via sido seu colega na FAU-Mackenzie. parceria com outros arquitetos. “Ele era um ‘con-
A formação de Saraiva na Mackenzie é carac- curseiro’. Eram dois por ano, no mínimo. Devia
terizada pela “influência da arquitetura da costa dar um traquejo tremendo”, pontua Pedro. Re-
oeste dos Estados Unidos, produzida pelos mes- cém-formado, venceu o seu primeiro concurso,
tres europeus, a formação de grupos de estudo e em equipe com os arquitetos Paulo Mendes da
os contatos interpessoais que formaram sua traje- Rocha e Alfredo Paesani, justamente em sua ci-
tória e que lhe permitiram enfrentar os projetos e dade natal: a sede da Assembleia Legislativa de
concursos que fez em sua carreira”, considera o ar- Santa Catarina (1957) – projeto que veio a ser re-
quiteto Alexandre dos Santos na tese “Pedro Paulo formulado pelo trio em 1964, a partir da altera-
de Melo Saraiva: La constancia de la modernidade”, ção do local de implantação da edificação. Em
defendida junto à ETSAB Universidad Politécnica de sua trajetória, venceu uma dezena de concursos
Catalunya. Segundo ele, Saraiva e seus colegas públicos e registra participação em diversos ou-
contemporâneos da Faculdade de Arquitetura tros, nacionais e alguns internacionais, com dife-
Mackenzie fazem parte de um grupo de jovens in- rentes classificações.
telectuais da década de 1950, “representantes da Em 1968, Saraiva voltou a Florianópolis como
terceira geração de arquitetos brasileiros moder- vencedor do concurso instituído pelo Plano de
nos que buscaram fazer parte e contribuir para o Metas do Governo (PLAMEG) para o Palácio da
desenvolvimento da arquitetura moderna, sua Justiça de Santa Catarina, em equipe com os ar-
Palácio da Justiça produção e as da geração anterior”. quitetos Francisco Petracco e Sami Bussab. Impo-
de Santa Catarina
Em paralelo à formação, ainda no âmbito da nente, com 13.350 metros quadrados, o edifício de
(1968): planta em
cruz e imponentes
FAU-Mackenzie, Saraiva participava de um grande 10 pavimentos sobressai na paisagem pela planta
lâminas de concreto grupo de debate sobre arquitetura que considerava em cruz e pelas expressivas lâminas de concreto
em balanço. como uma “graduação em paralelo”. De acordo em balanço que marcam a fachada, adotadas

Arquitetura
Moderna 70
GRANDES NOMES
71 da arquitetura catarinense
como elementos estruturais e como brises. “O Tri- da Faculdade de Arquitetura da Universidade de
bunal de Justiça, pela volumetria, ele achava uma Brasília (UnB.) A docência não era uma novidade.
joia”, conta Pedro de Melo Saraiva. Com esse pro- Simultaneamente à atuação profissional de in-
jeto, Saraiva “aprofunda a experiência construtiva tensa produção, em 1962, ele havia assumido – a
de modelo paulista e abre frente para a reprodu- convite de Vilanova Artigas – como instrutor de
ção de inúmeros outros edifícios institucionais ensino do Departamento de Projetos da Faculda-
com características estéticas e funcionais seme- de de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
lhantes”, destaca a arquiteta Melissa Laus Mattos de São Paulo (USP), onde permaneceu até 1975
na dissertação de mestrado “Arquitetura Institu- como seu assistente. Mais tarde, entre 1990 e
cional em Concreto Aparente e suas Repercussões 1993, lecionou na Universidade Católica de San-
no Espaço Urbano de Florianópolis entre 1970 e tos e, entre 1992 e 2016, atuou como professor de
1985”, defendida em 2009 junto à UFSC. Projeto na FAU-Mackenzie.
A valorização da estrutura era reforçada por Mas em Brasília, entre 1968 e 1969, “o clima
Pedro Paulo de Melo Saraiva. “Boa parte dos estava pesado, com alunos pedindo abrigo no
meus projetos tem na estrutura a sua expres- apartamento dele”, revela seu filho, referindo-se
são mais abusiva, mais escancarada. Isso está ao contexto social e político da época. Assim, em
nos prédios em concreto e mesmo nos de estru- 1969, quando Saraiva recebeu o convite do arqui-
tura mista”, disse ele em entrevista à revista teto e urbanista Luiz Felipe Gama D´Eça para in-
Brasileiros publicada em julho de 2016, um mês tegrar o ESPLAN – Escritório Técnico de Planeja-
antes da sua morte. mento da Prefeitura de Florianópolis – e partici-
Na época do projeto do Tribunal de Justiça, par da urbanização do aterro da Baía Sul, ele acei-
Saraiva morava em Brasília, onde atuava como tou de imediato e voltou a morar, ainda que tem-
professor titular do departamento de projetos porariamente, na Ilha de Santa Catarina.

Arquitetura
Moderna 72
SARAIVA
“ Pedro Paulo se orgulhava muito dos planos de acesso
da sede da Alesc. O Tribunal de Justiça, pela volumetria,
ele achava uma joia”.
P E D R O D E M E L O S A R A I VA

As sedes dos poderes


Legislativo e Judiciário
de Santa Catarina nos
anos 1970: projetos
de muito orgulho
para o arquiteto.

GRANDES NOMES
73 da arquitetura catarinense
Planejamento urbano

Como coordenador do CEAU (Conselho de equipe responsável pelo “Plano de Desenvolvi-


Engenharia, Arquitetura e Urbanismo) – órgão li- mento Integrado de Florianópolis”.
gado à administração do município de Florianó- Nesse período, contratado pelo governo de
polis –, o arquiteto e urbanista Luiz Felipe Gama Ivo Silveira, tendo o engenheiro Colombo Salles
D’Eça estava, naquela época, à frente da revisão como Secretário Executivo do PLAMEG à época,
do Plano Diretor, datado de 1954, de acordo com Saraiva desenvolveu também o Projeto de Urba-
Vista geral do a pesquisadora Melissa Laus Mattos, tendo, como nização do Aterro da Baía Sul e o da nova ligação
aterro da baía Sul
foco, a criação de um polo urbano. Saraiva assu- Continente-Ilha, a ponte Colombo Salles (1970-
nos anos 1980.
Na página seguinte, me, contratado pelo então prefeito Acácio San- 1972), este último no consórcio formado com o es-
maquete da ponte tiago, o cargo de coordenador de planejamento critório técnico Figueiredo Ferraz e a Crocce, Aflalo
Colombo Salles. físico do ESPLAN entre 1969 e 1973, integrando a e Gasperini. Com 1.226,90 metros de extensão e

Arquitetura
Moderna 74
SARAIVA
vão central de 160 metros, a ponte exigiu aterro e a comemoração foi dupla”, avalia Pedro. O
hidráulico de uma área de 600 mil metros qua- projeto, entretanto, não chegou a ser executa-
drados. Considerada um marco histórico para a do, provocando uma grande decepção no arqui-
capital catarinense, a imponente estrutura, em teto. Outra frustração, lembra Pedro, foi não
concreto, foi inaugurada em março de 1975, nos ter sido consultado quando foi feita a amplia-
últimos dias da gestão de Colombo Salles como ção do Tribunal de Justiça, com a construção de
governador de Santa Catarina. uma segunda torre como anexo, inaugurada
Dois anos mais tarde, Pedro Paulo de Melo em 2007.
Saraiva retornou para a Ilha de Santa Catarina Entre as premiações e reconhecimentos rece-
para participar do concurso público nacional bidos ao longo de sua carreira, Saraiva orgulha-
para a Sede do Governo Municipal de Florianó- va-se do Troféu Barriga Verde, e, é claro, do Colar
polis – o Paço Municipal, em equipe com os ar- de Ouro, em 2003 — comenda máxima conferida
quitetos Sérgio Fisher e Henrique Cambiaghi. pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), enti-
No mesmo período, foi laureado com o Troféu dade da qual participava desde o final dos anos
Barriga Verde, idealizado pelo jornalista Carlos 1960, tendo sido um dos fundadores do departa-
Müller, “a ser conferido aos catarinenses que se mento de Santa Catarina, em 1969, e presidente
distinguiram e dignificaram o seu estado além- do IAB-SP entre 1970 e 1971. Em 1999, tornou-se
-fronteiras”, como consta no texto do convite membro do Conselho Superior do IAB. Outra
para a cerimônia de entrega, assinado por Mário honraria recebida foi o título de notório saber por
José Gonzaga Petrelli, presidente da TV Coliga- seus serviços prestados pela Universidade Pres-
das de Santa Catarina. “Ele ganhou o concurso biteriana Mackenzie, em 2013.

GRANDES NOMES
75 da arquitetura catarinense
“ Boa parte dos meus projetos tem na estrutura a sua expressão
mais abusiva, mais escancarada. Isso está nos prédios em
concreto e mesmo nos de estrutura mista”.
P E D R O PA U L O D E M E L O S A R A I VA

Arquitetura
Moderna 76
Ponte Colombo
Salles, em foto atual
e no seu projeto
original (1970-1972),
com o tabuleiro
de pedestres na
parte inferior.

GRANDES NOMES
77 da arquitetura catarinense
Arquitetura “para olhar o céu”

“Nossa arquitetura é sem grades, uma arqui- mas ele se sentia contrariado e dizia: ‘não, tem
tetura do espaço aberto”. Era assim que Pedro que ser aberto, as pessoas precisam ocupar esse
Paulo de Melo Saraiva definia a arquitetura que lugar, circular, se encontrar e olhar para o céu’”,
desenvolvia, como frisou na entrevista à revista conta o filho e ex-sócio de Saraiva.
Brasileiros. “É inclusiva, generosa, com grandes “Saraiva nos convence que um bom arquiteto
vãos e abertura para a cidade”, complementou. é aquele que reconhece critérios superiores, que
De acordo com Pedro Saraiva, essa postura de é convicto de sua maneira de ordenar os proble-
Croqui do projeto “muita generosidade nos espaços”, que ele apre- mas da construção da forma, que sua importân-
do Paço Municipal sentava desde a época da faculdade, foi reforça- cia é diretamente proporcional à seriedade de
(1977). Classificado
da a partir da convivência com Vilanova Artigas. sua experiência. Importa perceber que o arquite-
em primeiro lugar
em concurso nacio- “Era uma generosidade muitas vezes cara para o to não cede às coisas fáceis para causar sensa-
nal, não chegou a cliente, mas fazia parte do ímpeto dele de projetar. ção, que a arquitetura não estabelece uma solu-
ser executado. Nós, eu e o Fernando, sempre queríamos diminuir, ção peculiar para cada problema específico, mas

Arquitetura
Moderna 78
SARAIVA
reconhece a adequação das respostas conheci- gente o conhecia. Ele esteve no auge nos anos
das”, expressa o arquiteto Luis Espallargas Gime- 1970 e no início dos anos 1980, depois passou por
nez, doutor pela Faculdade de Arquitetura e Ur- um ostracismo de mídia e voltou a ser valorizado
banismo da Universidade de São Paulo, autor do nos anos 2000, principalmente pelo projeto do
livro “Pedro Paulo de Melo Saraiva, arquiteto”, no Mercado Municipal de São Paulo (2002-2004), já
site da Romano Guerra Editora. comigo como sócio, e pela retomada do projeto
Produzido a partir de ampla pesquisa docu- de ampliação da Alesc (2003)”, considera o arqui-
mental e iconográfica, além de entrevistas com o teto Pedro de Melo Saraiva. Segundo ele, a partir
próprio Pedro Paulo, o livro foi lançado em 2016, do lançamento desse livro, houve uma “revalori-
com recursos obtidos via edital do Conselho de zação” do seu trabalho. “Com o seu falecimento,
Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP, ele virou um arquiteto mais badalado do que era
em evento no saguão da FAU-Mackenzie. “O livro antes, em vida, infelizmente”, lamenta o filho de
foi lançado um pouco antes de ele falecer. Pouca Pedro Paulo de Melo Saraiva.

GRANDES NOMES
79 da arquitetura catarinense
Inovação na arquitetura residencial

Em Florianópolis, Pedro Paulo de Melo Sarai- ano, a Pequena Medalha de Prata no Salão Pau-
va também desenvolveu projetos de habitações lista de Arte Moderna.
unifamiliares. Os primeiros datam de 1953, quan- Outro projeto residencial de destaque na pro-
do ainda era estudante na FAU-Mackenzie, em dução do arquiteto é o da Residência Paulo Bauer
São Paulo: as residências de Linesio Laus, de Filho (1968), erguida em uma encosta com vista
Aderbal Ramos da Silva e de Hercílio Luz Filho, para a baía Norte, “por representar o emprego do
como descreve o arquiteto Alexandre dos Santos concreto armado em edifícios de pequeno porte,
na sua tese de doutorado. no qual os grandes vãos resultantes garantiam a
A Residência Hercílio Luz Filho foi projetada distribuição do programa de maneira funcional e
com estrutura em concreto armado, desenhada adequada”, argumenta a arquiteta Grace Abrah-
“em um único volume prismático retangular, as- ão Souza de Frias e Vasconcellos na sua disserta-
sentado numa rigorosa modulação estrutural e ção de mestrado “A Arquitetura de Pedro Paulo
apoiado em paredes longitudinais de pedra que de Melo Saraiva: 1954 a 1975 e o Edifício 5ª Aveni-
suportam a estrutura principal”, como explica da” junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanis-
Alexandre. O projeto rendeu a Saraiva a conquis- mo da Universidade São Judas Tadeu, em 2012.
ta do primeiro prêmio do DAFAM – Diretório De acordo com a pesquisadora, é o resultado da
Acadêmico da Faculdade de Arquitetura do Mac- justaposição de seis pórticos de concreto arma-
kenzie -, em evento realizado no Museu de Arte do que abriga o programa da residência. De for-
de São Paulo (MASP) em 1954. O projeto da resi- ma inovadora, Saraiva dispôs a área social no tér-
dência de Linesio Laus garantiu-lhe, no mesmo reo, tratada como uma ampla varanda, voltada

Arquitetura
Moderna 80
para a vista panorâmica do mar, com garagem, co-
zinha e serviços do lado oposto, e localizou a área
íntima no pavimento inferior, com acesso direto
para o espaço da piscina. “Ele ficava muito orgulho-
so desse projeto. Era algo diferente porque, nor-
malmente, a piscina está perto da sala. Ele inverte
essa lógica e depois replica esse partido em algu-
mas casas em São Paulo”, revela Pedro. Na fachada,
destaque para os arcos de importante efeito estéti-
co que assumem a condição de brises-soleils.
“A tensão entre a tendência orgânica e o bru-
talismo marca a troca de escala na obra de Saraiva”,
afirma o arquiteto Alexandre dos Santos no artigo
“Resgate da Obra Residencial de Pedro Paulo de
Melo Saraiva: estrutura formal e tectonicidade”.
“Logo seus primeiros projetos de programas resi-
denciais passam a um segundo plano frente à re-
solução de edifícios verticais para escritórios e re-
sidências, utilizando o concreto como solução es-
trutural”, complementa.

Residência Paulo Bauer Filho (1968): arcos em concreto armado como


brises-soleils e área íntima conectada com o espaço da piscina.

GRANDES NOMES
81 da arquitetura catarinense
Assembleia
“Peço que não vejam na majestade da sua ar-
quitetura se não o propósito de significar a majes-
tade do Poder que ela vai abrigar”. A afirmação é

Legislativa: um trecho do discurso proferido por Ivo Silveira,


então Governador do Estado, no evento de inau-

respeito ao
guração do Palácio Barriga Verde, a nova sede da
Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
Naquele dia 14 de dezembro de 1970, o então go-

direito autoral
vernador oficializava a entrega “homenageando a
cultura política da população catarinense e acom-
panhando o surto de progresso que surpreende a
capital”, conforme discurso reproduzido na ínte-
gra na edição do dia seguinte do Jornal O Estado, e
citou o empenho pela construção da nova sede,
referenciando a liderança de Pedro Paulo de Melo
Saraiva, do secretário Anne Gualberto (PLAMEG)
e do engenheiro Olavo Arantes.

Os dois projetos
desenvolvidos para
a Alesc: o de 1957,
uma torre de oito
pavimentos que
não chegou a ser
construída, e, na
página seguinte, o
de 1964, inaugurado
em 1970 e ampliado
em 2003.

Arquitetura
Moderna 82
Com 12 mil metros quadrados, o edifício inau- “São dois projetos distintos. O primeiro, ver-
gurado foi projetado pelos arquitetos Pedro Pau- tical, e o novo projeto, mais horizontal, com ên-
lo de Melo Saraiva, Paulo Mendes da Rocha e Al- fase mais modernista, no concreto aparente, e
fredo Paesani – vencedores do concurso público influência maior de Vilanova Artigas, dessa Esco-
realizado em 1957 para construção do novo pré- la Paulista da qual eles fizeram parte”, pontua
dio da Alesc. Na ocasião, a área de implantação Pedro Saraiva. O projeto vencedor do concurso
seria o terreno ocupado pela sede anterior, des- de 1957 previa uma torre laminar de oito pavi-
truída por um incêndio em 1956, na Praça Pereira mentos “estruturada por uma sequência de lajes
de Oliveira. Aquele foi o “primeiro projeto rele- de concreto apoiadas por uma linha de telas de
vante da arquitetura institucional em concreto concreto com balanços laterais e frontais”, como
em Florianópolis”, como afirma Melissa Laus descreve o arquiteto Alexandre dos Santos em
Mattos em sua dissertação de mestrado. O pro- sua tese de doutorado. O novo projeto, de 1964,
jeto, contudo, não chegou a ser executado. A “seguia um dos partidos tradicionalmente ado-
partir da decisão do governo de transferência do tados pela chamada escola paulista de arquite-
local para a área atual, na Praça das Bandeiras, tura: o ‘grande abrigo’, que consistia, basicamen-
eles foram recontratados em 1964 para adequa- te, em um grande vão a cobrir os espaços destina-
ção do projeto ao novo espaço. dos às atividades para as quais os edifícios eram

GRANDES NOMES
83 da arquitetura catarinense
Edificação de construídos”, explica Melissa Laus em sua disser-
estrutura arrojada, tação. De acordo com a pesquisadora Grace
com grandes vãos Abrahão Souza de Frias e Vasconcellos, a intenção
e extremidades
dos arquitetos seria resgatar a ideia da grande es-
em balanço.
planada cívica, a partir do desenho de uma praça
elevada do solo e uma grande estrutura como co-
bertura, “o que dá caráter ao projeto”. “Foi proje-
tada laje de concreto nervurada com suas extre-
midades em balanço, com vãos de 15 x 30 metros,
que abriga a circulação, apoiada em robustos pila-
res que compõem a estética do conjunto plenário,
estrutura em concreto armado, com rasgos de luz
em sua base, configurado como tronco de cone, é
uma estrutura que emerge em meio à praça eleva-
da, sob a grande cobertura nervurada”, ela deta-
lha em sua dissertação.
Para Pedro Saraiva, esse projeto foi considera-
do muito arrojado estruturalmente, e reconhece o
empenho dos construtores, em especial do enge-
nheiro Olavo Arantes, que se preocupava em se-
guir fielmente a proposta. “Ele (Saraiva) contava
que viajava constantemente para Florianópolis
para acompanhar a obra e era muito bem recebi-
do. Ele sempre se orgulhava dessa época. Para
toda e qualquer alteração necessária no projeto

Arquitetura
Moderna 84
ele era consultado e o trabalho fluía com naturali-

Orgulho e descontentamento
dade e respeito”, ressalta o arquiteto.
O respeito e a confiança no seu trabalho fo-
ram reforçados em 2003, quando Saraiva foi no- Pedro Paulo de Melo Saraiva sentia-se envaidecido por
vamente procurado para a ampliação do edifício ter participado do processo de desenvolvimento de Floria-
da Alesc. O programa seria desenvolvido em três nópolis nos anos 1970 com os projetos de urbanização do
etapas, contemplando auditório, anexo Norte e aterro da baía Sul e da ponte Colombo Salles. “Foi um re-
anexo Sul, totalizando 3.550 metros quadrados. nascer sem precedentes na história do desenvolvimento
Para este projeto, Saraiva formou nova equipe, urbano da cidade. Tenho um grande orgulho, como floria-
integrando os arquitetos Fernando de Magalhães nopolitano, por ter contribuído de forma significativa
Mendonça e Pedro de Melo Saraiva – seus sócios para a cidade e para o Estado de Santa Catarina”, disse ele
no escritório –, com a colaboração de Vivian Hori em entrevista publicada no Jornal Imagem da Ilha em
Hawthorne, Gustavo Faria e Luciano Braga de 2005. Mesmo orgulhoso, fez questão de registrar sua crí-
Lima. “Eu pude vivenciar toda a problemática e o tica à transformação da área em um “grande estaciona-
que ele queria para o conjunto dos dois poderes, mento de ônibus e de outros veículos”. “O aterro foi mui-
o Judiciário e o Legislativo, as frustrações e a sa- to mal ocupado e definitivamente não responde – no que
tisfação dele de ter sido chamado novamente, se refere às áreas verdes e institucionais – ao projeto que
ter sido lembrado e ter tido seu direito autoral fizemos”, frisou. “Ficou para trás a ideia de uma cidade
mantido”, revela Pedro de Melo Saraiva. equilibrada entre Ilha e Continente, onde as diferenças so-
ciais não fossem tão evidentes”, lamentou Saraiva.
Na mesma entrevista, o arquiteto também registrou
seu descontentamento em relação à redução do vão cen-
tral da ponte Colombo Salles, originalmente de 240 me-
tros, a partir do veto do DNER, segundo ele, ao tramo cen-
tral metálico de 80 metros que permitiria a execução de
dois tabuleiros, de três faixas cada, afastados 25 metros
entre si. “Fora esta frustração, não foram construídos um
sistema de transporte leve sobre pneus, um restaurante
turístico e um teatro em duas plataformas que ligariam os
pilares principais (dois pares)”, acrescentou. Todo este con-
junto, proposto sob os tabuleiros, não foi executado. “So-
mente uma passarela coberta para pedestres foi construí-
da”, complementou.

GRANDES NOMES
85 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 86
Fernando Carneiro
Pioneiro no Sul de Santa Catarina, arquiteto pode ser considerado
o precursor da Arquitetura Moderna na região, com ampla
produção pautada no funcionalismo e racionalismo inspirada em
grandes mestres, como o arquiteto austríaco Eugen Steinhof.

P O R J OYC E D I E H L

NÃO SE PODE FALAR da Arquitetura no Sul de do Sul) que, ouvindo ao apelo dos alunos, uniu-se
Santa Catarina sem citar Fernando Carneiro. Nas- ao IBA (Instituto de Belas Artes de Porto Alegre),
cido Fernando Jorge da Cunha Carneiro (Araran- formando a Faculdade de Arquitetura da UFRGS,
guá, 1931), mudou-se para Criciúma na primeira in- em 1952. Teve professores renomados, como Eu-
fância, iniciando seus estudos na tradicional Es- gen Steinhof, Demétrio Ribeiro, Edgar Graeff, e li-
cola Básica Professor Lapagesse, conhecida por nha de ensino com conceitos modernos de arqui-
formar grandes nomes da cidade. O motivo da tetos consagrados — Le Corbusier, Frank Lloyd
mudança: seu pai, Jorge da Cunha Carneiro, assu- Wright, Mies Van Der Rohe, Eero Saarinen - além
mira como diretor da Companhia Carbonífera dos brasileiros Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Vi-
Próspera, dentro do movimento que se pode cha- lanova Artigas.
mar de segunda colonização da região por conta Fernando dedicou sua paixão pela Arquitetura
da descoberta do carvão mineral. ao arquiteto austríaco Eugen Steinhof, professor
Dos 12 aos 18 anos estudou no Instituto Porto de universidades pelo mundo todo. “Veio dele
Alegre (IPA), em regime de internato. Seu primeiro minha escolha por arquitetura”, declarou em en-
interesse foi pela Agronomia. Influenciado pelo trevista. Diz que aprendeu com o mestre um dos
cunhado, o engenheiro Jorge Frydberg, proprietário elementos mais usados em suas obras, de quem
da pioneira Construtora Cresciumense, entrou lembra bem a lição: “nunca feche os pátios inter-
no curso de Arquitetura da Escola de Engenharia nos”. Conforme Fernando, enquanto os profes-
da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande sores da Engenharia estavam mais ligados às

GRANDES NOMES
87 da arquitetura catarinense
questões tecnológicas, Steinhof trouxe o “toque que sua formação foi mais pautada na constru-
de arquitetura”. Renomado artista plástico for- ção de uma base sólida de conceitos, perspectivas
mado pela hoje Universidade de Artes Aplicadas e croquis, do que em desenhos detalhados. Como
de Viena (1905), Steinhof tinha formação como urbanista, são dele a Cidade Mineira (1957) e o Lo-
arquiteto e engenheiro estrutural. Estudou arte teamento Treviso (1958), com terrenos não de-
com grandes nomes, como Henri Matisse, e com- marcados e estrutura viária perimetral e o uso de
partilhou da amizade de homens influentes, como “cul-de-sac”, privilegiando o pedestre, e a consul-
Le Corbusier, Walter Gropius, Mies van der Rohe, toria para a Urbasul, de Porto Alegre (RS), para o
Frank Lloyd Wright e Albert Einstein. Plano Diretor do município de Criciúma, junto aos
Carneiro formou-se em 1954 com base con- arquitetos Carlos Maximiliano Fayet, Demétrio
ceitual no racionalismo e funcionalismo da esco- Ribeiro e Roberto Veronese. Do mesmo período, o
la corbusiana e no organicismo de Frank Lloyd Conjunto Irapuá (1972), com residências de um e
Wrigth e Louis Kahn. São conceitos que permeiam dois pavimentos, é visto como pioneiro como
seus pensamentos até hoje: o arquiteto relembra condomínio residencial privado para a região.

Sede do Criciúma Clube (1961) em registro atual e de diferentes


épocas: planta em “T”, arrojados balanços, áreas nobres
circundadas por vidro e varandas com vista para as pisci­nas.

Arquitetura
Moderna 88
CARNEIRO
Pioneirismo

Ainda como estudante, Fernando Carneiro atenção os elementos vazados na fachada - em


projetou um edifício em Criciúma, já com traços cerâmica, ligando o pátio interno com o exterior
modernos, mas foi a partir da viagem pelo Velho da casa, e também em “furos feitos no concreto”,
Continente, em 1955, junto a seleto grupo de es- conforme comentou em entrevista, bem como
tudantes da universidade acompanhados pelo o uso de platibanda e de revestimentos cerâmi-
professor Evaldo Paiva, que diz ter vindo referên- cos na fachada, marcas do arquiteto em várias
cias atemporais, como os pátios internos, as obras. A ligação dele com o setor extrativista
plantas baixas em formatos de U ou L, diferen- começou aí: o proprietário era engenheiro de
ciais que guarda até hoje. empresa carbonífera.
Iniciou sua carreira como arquiteto autôno- Da descoberta das “pedras fumegantes” ao
mo junto à Construtora Cresciumense, sendo, teste em laboratório confirmando a presença do
por muito tempo, o único arquiteto da região, já carvão mineral, inúmeras são as histórias sobre o
com obras marcantes, como o Posto Texaco chamado ciclo do carvão na região, que iniciou
(Araranguá, 1957), com projeto aprovado pela em 1913, com auge entre 1940 e 1970, período em
Companhia Texaco, em Nova Iorque (EUA) e a que a cidade ficou conhecida como a “capital bra-
sede do Aeroporto Leoberto Leal (Criciúma, sileira do carvão”. O chamado “ouro negro” revo-
1957), palco de fatos históricos da cidade, ambos lucionou a cidade, que ganhou destaque nacio-
demolidos. Do mesmo ano, a Residência Sebas- nal, gerando muitos empregos, atraindo investi-
tião Toledo dos Santos (1957), obra ainda existen- mentos e pessoas de todas as áreas, fim marcado
te, apesar de amplamente modificada, apresenta- pela retirada da Ferrovia Donna Thereza Christi-
va características modernas, como ambientes so- na que cortava a cidade, instalando-se ali a hoje
ciais voltados para o jardim interno. Chamavam a Avenida Centenário.

GRANDES NOMES
89 da arquitetura catarinense
Sede da SATC (1959):
grandes blocos
organizados por
função e volta­dos
para um pátio
interno aberto.

Arquitetura
Moderna 90
CARNEIRO
O ciclo do carvão e a carreira do arquiteto se A sede da SATC (Sociedade de Assistência aos
entrelaçaram, como na Igreja Nossa Senhora da Trabalhadores do Carvão, 1959) nasceu para ser o
Salete (1957), referência histórica desse período. braço social da indústria carbonífera da região. O
Posicionada junto à caixa de descarga de carvão projeto atendia à crescente classe de mineiros,
da Companhia Carbonífera Próspera, na então com foco na preparação de mão de obra qualifi-
Vila Próspera, vila de mineiros da cidade, que foi cada e especializada para o setor. O projeto tem
construída com o esforço da comunidade. A planejamento com base na lição de Steinhof:
planta em forma de cruz grega chama a atenção, grandes blocos organizados por função e volta-
assim como o amplo telhado até o chão, recurso dos para um pátio interno aberto. A obra é mar-
usado por necessidade – de rapidez e de poucos cada pelo desenho organizacional, dividido em
recursos –, facilitando a obra, inclusive com o uso três setores – auditório, administrativo e bloco
de telhas de fibrocimento, e a preocupação ter- de ensino, esse com salas de aula, laboratórios,
moacústica, por conta da movimentação de ca- cantina, entre outros –, além do internato em
minhões da carbonífera e posterior instalação da bloco separado.
estrada de ferro, com trabalho inédito para a No prédio do auditório, a fachada se destaca
época. Ainda, a presença da arte: seu interior pelo grande mosaico, feito de sobras da fabrica-
abriga a sequência da “Via Crucis” do artista ca- ção de azulejos da cidade, simbolizando a missão
tarinense Willy Zumblick. da escola. Ao lado, o setor administrativo em

GRANDES NOMES
91 da arquitetura catarinense
formato semicircular, inédito para a época. A marcantes na cidade, incluindo as da então Vila
parte de ensino, com blocos interligados, apro- dos Engenheiros, hoje o valorizado Bairro Pio
veita o desnível do terreno. O pátio central ajuda Corrêa, com residências encomendadas pela em-
na organização, circulação, iluminação natural e presa Carbonífera Próspera para abrigar funcio-
convivência. Já o internato, em bloco separado ao nários do alto e médio escalão e suas famílias, al-
fundo do terreno e pensado para receber alunos gumas intactas até hoje.
Posto Texaco (1954), das cidades vizinhas, hoje abriga parte da escola. Um bom exemplo é a Residência Jacy Fretta
em Araranguá, um dos No mesmo complexo, fora inaugurada a Escola In- (1957), que abrigava a família do engenheiro e di-
primeiros projetos de
dustrial (1963) em parceria com o SENAI, e seis retor da companhia , um dos idealizadores da Vila
Carneiro. E o prédio
anos depois, com o nome de Escola Técnica Gene- dos Engenheiros. Em terreno de esquina, tem
do Cine Ópera (1964),
marcante no cenário ral Osvaldo Pinto da Veiga, já supria as necessida- planta organizada em alas, atendendo aos con-
de Criciúma à época des do mercado. Por fim, vieram os cursos supe- ceitos de funcionalismo e racionalismo, que se-
por sua imponência. riores, em 1990. São da mesma época, residências guem certa hierarquia de volumes e acabamentos.

Arquitetura
Moderna 92
GRANDES NOMES
93 da arquitetura catarinense
A Residência Carneiro (1959) apresenta elementos
que se tornaram característicos nas obras do arquiteto,
como platibanda e revestimento cerâmico na fachada.
No topo, as residências Fretta e Toledo, ambas de 1957.

Arquitetura
Moderna 94
CARNEIRO
Na ala social, voltada para a rua principal, janelas exemplos, além de toques arrojados: para a reno-
tipo piso-teto com brises verticais para proteger vação do ar do salão principal, inspiração nas “fu-
da insolação vespertina formam um só bloco em moir”, as salas de fumantes, com aberturas no
balanço, destacando-se das demais. A fachada teto que ajudavam a renovar o ar, unindo função
de esquina, marcada por parede cega revestida e estética. As preocupações ambientais apare-
de pedras, e o telhado parcialmente embutido, cem na parede de plantas circundando o prédio,
chamam a atenção. Atualmente, abriga um es- a preservação da vegetação e da nascente do ter-
critório administrativo. reno, fazendo uso de suas águas para as piscinas.
Nos mesmos conceitos, há a própria casa do Outro marco daquela década – na arquite-
arquiteto, no mesmo bairro. Na Residência Car- tura e na memória da cidade – o Cine Ópera
neiro (1959), é evidente a organização da planta (1964), revolucionou pela imponência. Sua ar-
aproveitando os desníveis e os volumes retos, re- quitetura é citada em trabalhos sobre os cine-
cortados por terraço e coroados por platibanda, e mas de rua pelas características modernas: pi-
toques de personalização, como o uso de revesti- lotis monumentais na entrada, marquise de
mento cerâmico em cor contrastante na fachada, concreto, grandes vãos, ausência de ornamen-
o piso da área social em composição de mármore tações. Destaque para a laje saliente, compon-
com desenho detalhado pelo arquiteto e painéis do com os pilotis, que protegia os transeuntes e
de correr em madeira, com desenho inspirado no anunciava os filmes em exibição. Internamente,
gradil das janelas, separando a sala de jantar. contava com luxuosas instalações, além de
Na sequência, o Criciúma Clube (1961), funda- 1.250 poltronas em madeira, com estofado em
do por um grupo de amigos de grande importân- vermelho, além do tradicional piso em mosaico
cia social por muitos anos. Os traços modernos de mármore. Na fachada, o conjunto de brises
iniciais eram muitos: planta em formato de “T”, alinhados protege da incidência do Sol e traz
pilotis nas áreas de lazer e nobres circundadas privacidade aos apartamentos existentes nos
por vidro e/ou varandas com vista para as pisci- andares superiores, com suas varandas contí-
nas, os arrojados balanços, a cobertura plana e a nuas. Vendido para ser sede de igreja, mantém,
escadaria semicircular em concreto são bons a grosso modo, traços de sua proposta inicial.

GRANDES NOMES
95 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 96
CARNEIRO
Fase circular

Os detalhes circulares aparecem, tanto em projeto, algo inusitado: em viagem com o cliente,
planta baixa quanto em fachadas, em obras já o empresário Manoel Dilor de Freitas, até Porto
demolidas. Destaque para o Hospital São João Alegre (RS) para tratativas sobre a sede, Fernando
Batista (1968), em Criciúma, com ala de interna- deparou-se com a marca no volante do carro, um
ção em torre circular. Sobre a arrojada proposta, Mercedes. “Ali, as ideias clarearam”, relembrou,
o arquiteto foi taxativo: “para encurtar as distân- em entrevista. E completou: “era exatamente onde
cias entre os quartos, as alas de enfermaria e de eu queria chegar”. Detalhe: os cálculos estruturais
descanso”, explicou em entrevista para este livro. para a obra complementar, com Torre e Mirante
E continuou: “no centro do círculo, elevador e es- (1977), foram de autoria do também arquiteto
cadas, centralizando a circulação vertical”, uma Tuing Ching Chang, atuante em Florianópolis, au-
questão puramente funcional. toridade máxima em estruturas por muitos anos.
Planta circular também no projeto da sede É da mesma época, a parceria de Fernando Carnei-
Rádio e TV Eldorado (1975), adquirida pela RBS ro com o arquiteto Roberto Veronese no complexo
(Rede Brasil Sul de Televisão), hoje NSC (Nossa Laguna Tourist Hotel, em Laguna, constante neste
Santa Catarina). Instalada em terreno com vista livro. A convite do colega dos tempos de faculda-
para toda a cidade, contempla três setores – admi- de, Fernando trabalhou o que chama de “acaba-
nistração, sede da rádio e sede da televisão. O for- mentos”, além da boate, área das piscinas, sauna,
mato circular exigiu telha de fibrocimento projeta- área de apoio dos hóspedes na praia, portões, e a
da pelo arquiteto e produzida especialmente para própria residência do proprietário do hotel, o em-
o complexo telhado. Sobre a inspiração para esse presário Santos Guglielmi, no mesmo local.

Na página anterior,
a planta circular
em evidência na
vista aérea da
sede da Eldorado,
projetada em 1975.

GRANDES NOMES
97 da arquitetura catarinense
“ sirva
O funcionalismo da Arquitetura é fazer com que o projeto
àquilo que se propõe, utilizando os materiais da época
e com função para tudo bem determinado. Em um projeto
bem feito, olhando por fora você consegue definir o que há
dentro. E, por dentro, a Arquitetura tem de ser boa também”.
FERNANDO CARNEIRO

Arquitetura
Moderna 98
CARNEIRO
Outras obras desse período ainda permane- Com trajetória que vai além da arquitetura,
cem em pleno funcionamento na cidade, como a em 2012, aos 81 anos, Fernando lançou o livro
Estação Rodoviária de Criciúma (1975), aos mol- “Narrativas de Minha Memória”, escrito de pró-
des das utilizadas em rodoviárias da época. A prio punho, com fatos contados como protago-
obra confunde-se com a implantação da Avenida nista ou testemunha desde a infância. O arquite-
Centenário, obra do prefeito e também arquiteto to consta como sócio-fundador do CREA–SC, da
Altair Guidi, que transformou totalmente o de- ASCEA (Associação Sul-Catarinense de Enge-
senho e o funcionamento da cidade. Da mesma nheiros e Arquitetos), do IAB-SC e SENGE (Sindi-
fase é a construção do Paço Municipal, que inclui cato dos Engenheiros no Estado de Santa Catari-
sede da prefeitura, teatro, espaço esportivo e de na), em Criciúma. Foi homenageado pelo CREA-
exposições, com desenho do arquiteto Manoel -SC, IAB-SC, SENGE-SC e UFRGS pelos 50 anos de
Coelho, nos anos de 1980, obras destacadas como formatura, em 2004, conquistando, em 2011, a
“Expressões” neste livro. “O funcionalismo da Ar- Medalha do Mérito do CREA-SC, mesmo ano em
quitetura é fazer com que o projeto sirva àquilo que participaou da instalação e da posse dos
que se propõe, utilizando os materiais da época e conselheiros do CAU-SC. Em 2013, foi homena-
com função para tudo bem determinado. Em um geado pelo CAU-SC por ser um dos primeiros ar-
projeto bem feito, olhando por fora você conse- quitetos e urbanistas registrados em Santa Cata-
gue definir o que há dentro. E, por dentro, a Ar- rina. É Cidadão Honorário de Criciúma pela Câ-
quitetura tem de ser boa também”, disse Fernan- mara de Vereadores do município desde 1995.
do Carneiro, em entrevista publicada no Portal Em entrevista para esta publicação, Fernando
Engeplus em julho de 2021. Carneiro contou sobre suas outras paixões, além
Trabalhando diariamente até 2020 no escritório da arquitetura. Uma delas é viajar, uma constante
Carneiro Arquitetos Associados, com o filho, o ar- na sua vida. Visitou cidades em todos os conti-
quiteto Maurício da Cunha Carneiro (UFSC, 1989) e nentes, colecionando, inclusive, objetos trazidos
a neta, a arquiteta Júlia Carneiro Lucchese (UNESC, dos muitos lugares que conheceu e lembrando
Na página
2008), participou ativamente do projeto e da obra detalhes de cada viagem a quem o visita. A outra anterior, a ala de
da Vinícola Villa Francioni, em São Joaquim (2002- é o futebol, tendo acompanhado ao vivo algumas internação do
2004), de relevante importância turística na Serra Copas, como as do México, em 1970, e da Rússia, Hospital São João
catarinense, e do Santuário Sagrado Coração de em 2018. Aos 91 anos de idade, Carneiro prepara- Batista (1968),
projetada em
Jesus (2012-2017), em Içara, complexo incluído na va-se para mais uma viagem internacional, com
formato circular
Rota de Turismo Religioso de Santa Catarina, com paradas na Europa e destino no Catar, sede da “para encurtar
área de 13,5 hectares. Copa do Mundo 2022. distâncias”.

GRANDES NOMES
99 da arquitetura catarinense
R OB E R T O F É L I X V E R ONE S E [ 192 6 -19 9 1]

Arquitetura
Moderna 100
Roberto Félix Veronese
Formado na primeira turma do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre,
o arquiteto gaúcho está entre os precursores da Arquitetura Moderna
no Sul do país. Seus projetos mudaram o cenário de hotelaria de luxo da
orla de Santa Catarina.

P O R J OYC E D I E H L

VERONESE É UM RESPEITADO arquiteto gaúcho, funcional-estrutural atrelada à estética, como o uso


nascido em Caxias do Sul em 1926. Mudou-se de pilotis no pavimento térreo, trazendo imponên-
para Porto Alegre para estudar no Instituto de cia e soltando-o do chão, e a organização em blocos
Belas Artes da Universidade Federal do Rio Gran- bem definidos como unidades.
de do Sul (UFRGS), formando-se na primeira tur- Já formado, Veronese trabalhou com colegas
ma de arquitetos dessa instituição, em 1949. de renome da época, como Holanda Mendonça, ci-
Veronese teve professores de renome como tado como pioneiro no exercício da arquitetura de
Jorge Machado Moreira, arquiteto-chefe do pro- linhagem Corbusiana em Porto Alegre, segundo
jeto do Campus da UFRJ e participante do grupo Luís Henrique Luccas, em “Arquitetura Moderna
de arquitetos liderados por Lúcio Costa no projeto em Porto Alegre (Parte I): Antecedentes e a linha-
e obra do então Ministério de Educação e Saúde gem Corbusiana dos anos 50”. Participou com Emil
Pública (MESP, 1936-1945), além de Edgar Graeff, Bered e Luís Fernando Corona no projeto da Com-
reconhecido como um dos principais introduto- panhia Riograndense de Telecomunicações (CRT,
res da Arquitetura Moderna carioca na capital 1964), reconhecido como patrimônio da Arquitetu-
gaúcha e grande defensor do ensino de Arquite- ra, além de projetos urbanos, como a Cidade Indus-
tura no Brasil, e Demétrio Ribeiro, um dos funda- trial de Porto Alegre (1961) e a cidade de Xangri-lá,
dores da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. no litoral do estado. Consta, ainda, o projeto do
Conforme os arquitetos e pesquisadores Luiz Novo Hotel Cassino Xangri-lá (1955), com a arquite-
Eduardo Fontoura Teixeira e Guilherme Freitas Grad, ta Vera Fabrício, de acordo com levantamento apre-
no artigo “Arquiteturas da modernidade em risco: sentado por Ana Luiza Oliveira na dissertação “As
dois casos em Florianópolis”, Veronese formou-se no duas Atlânticas 1939|1952: o veraneio moderno e a
seleto grupo que influenciou a Arquitetura Moderna constituição dos balneários do Litoral Norte gaú-
no Sul do Brasil, a qual propunha, entre outras cho”. Acredita-se que foi essa obra que deu início à
ideias compositivas, a preocupação com a modulação sucessão de projetos na orla catarinense.

GRANDES NOMES
101 da arquitetura catarinense
Os traços de Veronese
em Santa Catarina
É marcante a presença da arquitetura de Ve- única do continente com a ilha, mas também
ronese em Santa Catarina, mais precisamente em pela característica de baía, com águas tranquilas.
projetos de hotéis na orla. São dele alguns dos Tais características faziam do bairro o principal
mais lendários empreendimentos hoteleiros no local de veraneio e de lazer da região. Conhecido
litoral, de Florianópolis a Laguna. Por conta de como “Copacabana de Florianópolis”, Coqueiros
mudanças culturais. Conforme Thayse Fagundes, era o destino da vida noturna da cidade, o que
em sua dissertação “Enseada de Cabeçudas: a perdurou até os anos 1980. Essa realidade, se-
formação socioespacial do balneário”, o banho de gundo Thayse, levou a empresa Consórcio de De-
mar, antes visto como desvio de conduta, passou senvolvimento Econômico S.A., apoiada por ex-
a ser recomendado por médicos como fonte de pressivos cotistas da elite da cidade, a lançar um
saúde no início do século XX, o que fomentou a empreendimento à altura do glamour do lugar: o
formação de balneários — e de hotéis, principal- Coqueiros Cassino Hotel.
mente de luxo — ao longo do litoral, inclusive Complexo, o projeto de Veronese previa ho-
com projetos voltados para cassinos, verdadeira tel-cassino, luxuosas instalações de boate, bar,
“febre” após a liberação no país, com seu auge na restaurante, salões de festa e de jogos, além de
década de 1940, frequentados pela alta sociedade playground, serviço próprio de condução e um
para momentos de lazer e espetáculos musicais. loteamento, o Jardim Residencial Coqueiros. A
É o caso do Edifício Normandie (1959), apon- primeira e única edificação construída, a sede do
tado como o primeiro projeto de Veronese para hotel, transformou-se em empreendimento resi-
hotelaria em Santa Catarina. Aqui, faz-se neces- dencial: Edifício Normandie – um marco da Ar-
sário entender o contexto. Sabe-se que as praias quitetura Moderna, atestado por Teixeira e Grad:
continentais de Florianópolis — e mais ainda a “a difusão dessa nova formulação construtiva,
praia do bairro Coqueiros — eram, na época, o que se propunha a liberar o pavimento térreo
principal destino de moradores e turistas que para uso coletivo (espaço coberto-aberto), pelo
procuravam balneários na cidade, não só pela Brasil afora, chegou assim a Florianópolis”, res-
proximidade com a Ponte Hercílio Luz, ligação saltando a importância da edificação.

Arquitetura
Moderna 102
Marco da Arquitetura Moderna
em Florianópolis, Normandie
(1959) foi transformado de hotel-
cassino em edifício residencial.

GRANDES NOMES
103 da arquitetura catarinense
“ (eAssua
características gerais da arquitetura do Edifício Normandie
autoria), conferem a ele um destaque na paisagem do
lugar, diferenciando-se das demais edificações e marcando
na cidade marinheira a presença de uma nova e exuberante
arquitetura brasileira, a moderna”.
TEIXEIR A E GR AD EM “ARQUITETUR AS DA MODERNIDADE EM RISCO:
DOIS C ASOS EM FLORIANÓP OLIS”

A arquitetura do edifício Normandie mostra Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do


um bloco único longilíneo de quatro pavimentos, município de Florianópolis, o Normandie foi tom-
com total visão da praia, caraterística reforçada bado em dezembro de 2011 pelo Decreto n. 9528.
pela presença abundante do vidro – artifício mui- A edificação foi classificada como P2, o que deter-
to usado pelo arquiteto. A implantação frontal mina que o imóvel não pode ser demolido, “de-
em relação ao terreno, liberando o restante do vendo ser preservada sua volumetria externa, ou
lote, deixa clara a intenção de futura instalação seja, fachadas e cobertura”. No interior, conforme
dos demais equipamentos originalmente previs- o decreto, deverão ser mantidas as áreas comuns,
tos. Ainda em Teixeira e Grad temos que, aos a escada helicoidal e uma unidade residencial ori-
moldes da Arquitetura Moderna, o volume apre- ginal, “sendo ressalvadas as obras de conservação
senta variação de alturas no seu interior, usando e restauração que se fizerem necessárias”. O pro-
pilotis em duplo pé-direito, em inédita proposta cesso de tombamento estadual tramita há mais
compositiva, rompendo com as práticas constru- de uma década. Nesse período, a falta de manu-
tivas tradicionais da arquitetura presente até en- tenção e de conservação do imóvel provocou da-
tão na cidade, de parede sobre parede. Os pes- nos estruturais que colocaram a edificação e seus
quisadores chamam a atenção para os detalhes: moradores em risco, conforme decisão judicial da
“a fachada principal também obedece aos pre- 3ª Vara da Fazenda Pública da comarca da Capital,
ceitos modernos, com amplo e horizontal des- ajuizada a favor do Ministério Público de Santa Ca-
cortinar de aberturas (fenêtre a longuer), marca- tarina em março de 2022 para determinar ao con-
das por requadro saliente (nos dois últimos pavi- domínio a realização das reformas estruturais a
mentos), o que confere uma movimentação à fim de garantir a integridade do edifício. Durante a
face frontal da edificação”. produção deste livro, o edifício estava em obras.

Arquitetura
Moderna 104
VERONESE
Marcas de uma época

Considerado o primeiro hotel de Arquitetura fato relevante levantado pela revista Praias, em
Moderna de Santa Catarina, o antigo Hotel Bal- edição de 2012. Na mesma década da abertura,
neário Cabeçudas, hoje Marambaia Cabeçudas, abrigou a primeira boate da região, em uma par-
foi projetado por Veronese em 1962. O prédio ceria dentre o artista Rodrigo de Haro e o cinéfilo
tem relevância histórica e artística na região, o Gilberto Gerlac. Um painel do artista traz a arte
que o coloca no rol de patrimônio, tanto da ar- para o salão de café. Pioneiro no quesito hotéis
quitetura quanto da comunidade. de luxo e considerado o mais completo do estado
Conforme Thayse, Cabeçudas, já na década no período, chamava a atenção pela volumetria
de 1920, atraía o interesse para a construção de em prisma retangular, o que dá ao prédio um as-
casas de veraneio por abastadas famílias do Vale pecto longilíneo. Piloti em pé-direito duplo divide
do Itajaí. Consagrava-se, assim, a Praia de Cabe- o volume em duas partes, sendo a superior para
çudas como a “sala de visitas” do estado. Prova os quartos de hóspedes e a inferior para as alas
disso é o Hotel Marambaia Cabeçudas, o primei- sociais, que se abrem para o terraço. Já na sala de
ro empreendimento da Companhia de Melhora- refeições, no nível da rua, a presença do vidro,
mentos de Itajaí, fundada em 1959, que tinha além de “soltar” o restante do prédio, cria uma
como objetivo fomentar o desenvolvimento e o relação mais próxima do hotel com a rua, com a
turismo da região. Formada pelos empresários praia e com tudo que acontece nelas.
Osmar Nunes, Eduardo Lins, Heth de Almeida A arquitetura marcadamente moderna está
Barros e Afonso Liberato, a empresa foi respon- na fachada livre da estrutura, com a prumada do
sável pela construção de três hotéis: Marambaia prédio recuada, e no acesso principal ao lobby do
Cabeçudas, Marambaia Florianópolis e Maram- hotel, localizado no primeiro andar, por meio de
baia Cassino Hotel. rampa para veículos e escadaria para pedestres.
Mais que um hotel, o Marambaia Cabeçudas A solução deu origem a um espaço externo de
aliava praia e vida noturna. Contava com luxuoso destaque logo na entrada – o terraço – e valori-
restaurante, salão de beleza e salão de festas en- zou ainda mais as colunas entremeadas com es-
tre outras atrações, sendo reconhecido como o quadrias envidraçadas do piso ao teto e o piso de
mais completo e bonito de toda Santa Catarina, mosaico. Considerado gigantesco para a época, e

GRANDES NOMES
105 da arquitetura catarinense
Hotel Marambaia Cabeçudas, em Itajaí, tem preservadas as
características do projeto original, desenvolvido em 1962.

Arquitetura
Moderna 106
VERONESE
“ pois
A valorização do Hotel Marambaia Cabeçudas é essencial,
ele traz à memória partes significantes da história de
Santa Catarina. Com o contexto de sua construção e a
formação do arquiteto que o projetou, pode-se afirmar que
esse edifício é de grande importância patrimonial para a
cidade de Itajaí, estabelecendo-se como um ícone para a
arquitetura moderna da cidade, bem como do litoral de
Santa Catarina.”
T H AY S E FA G U N D E S E M “ E N S E A D A D E C A B E Ç U D A S :
A F O R M A Ç Ã O S O C I O E S PA C I A L D O B A L N E Á R I O ”.

em pleno funcionamento na atualidade, o Ma- decidissem investir “onde o Presidente da Re-


rambaia Cabeçudas contempla 43 apartamen- pública investia”, como publicado no Jornal
tos, todos posicionados de forma a garantir a Santa em reportagem sobre o aniversário da
ampla vista para as belezas do lugar. cidade. O fato foi eternizado na década de 1970
O hoje Marambaia Hotel & Convenções – com a inauguração de uma estátua que repro-
nascido Marambaia Cassino Hotel em 1964, mes- duz João Goulart e seus filhos sentados em um
mo sem ter funcionado como tal — é considera- banco no local, quando do início da reurbani-
do uma referência espacial na memória de mora- zação da orla.
dores e turistas. E exatamente por conta da sua “Com seu estilo marcante de linhas moder-
arquitetura. Assim como a região de Cabeçudas, nistas, meu pai me ensinou a valorizar o binômio
a então praia de Camboriú, hoje Balneário Cam- forma/função, a base para um bom projeto”, afir-
boriú, recebeu as primeiras casas de veraneio mou a arquiteta Beatriz Veronese, filha do arqui-
ainda nos anos 1920. Conta-se que, na contra- teto, em depoimento para este livro. A dupla
mão da crise econômica de 1962, a praia ganhou atuou em parceria entre os anos 1975 e 1985, em
relevância quando o presidente João Goulart Porto Alegre (RS), e entre 1987 e 1990, em Salvador
adquiriu uma casa de frente para o mar, hoje (BA), onde Beatriz reside atualmente. “Foi um pri-
Avenida Atlântica, o que fez com que empresários vilégio termos trabalhado juntos”, acrescenta.

GRANDES NOMES
107 da arquitetura catarinense
Formato singular

Aproveitando incentivos do governo para o tu- Camboriú, em grandiosa festa com a presença de
rismo e a fama da praia, a Companhia de Melhora- personalidades políticas e artísticas, fazendo com
mentos de Itajaí adquiriu, em 1961, o terreno de que o nome do município fosse colocado em evi-
frente para o mar para construir um hotel-refe- dência no cenário nacional e internacional.
rência, aos moldes do empreendimento de Cabe- O Marambaia, como é chamado, segue o pa-
çudas. A ousadia dessa obra começou pela forma drão de quatro andares dos projetos para hotéis
circular do prédio, proposta do próprio arquiteto, da época, dispensando elevadores. Estudos dão
conforme entrevista do sócio proprietário Osmar de conta de que o desenho circular nos andares de
Souza Nunes Filho para o jornal Página 3. O cha- apartamentos foi pensado para explorar melhor
mado “primeiro hotel circular do Brasil” foi consi- o formato estreito do terreno e privilegiar o
derado ousado para a pequena cidade, tanto na maior número de quartos com vista para o mar,
questão estrutural como na sua viabilidade pela todos com varanda e portas envidraçadas do
precariedade da região, inclusive de acesso. Fato é piso ao teto. Sua imponência é marcada pelo vão
que a construção da rodovia BR-101, entre 1953 e central com pé-direito correspondente aos quatro
1971, foi decisiva para o desenvolvimento da re- pavimentos, para onde se voltam todos os corre-
gião. Seu traçado, cortando a faixa litorânea, pro- dores. Segundo Thayse, um “espaço cenográfico” em
porcionou esse desenvolvimento, exercendo pa- relação à entrada de luz pela claraboia na cobertura.
pel decisivo para o crescimento do turismo. O desenho cria um espaço de convivência no térreo,
Situado em privilegiada área do hoje Pontal com piso em mosaico de mármore reforçando o
Norte da Avenida Atlântica, e já com características formato, onde se pode ver um mural de Rodrigo de
próprias, o empreendimento foi inaugurado no final Haro. O hotel continua em pleno funcionamento,
de 1964, mesmo ano da emancipação de Balneário sendo ainda um dos mais requisitados da cidade.

Arquitetura
Moderna 108
Marambaia Hotel, em
Balneário Camboriú,
inaugurado em 1964,
foi considerado o
primeiro hotel
circular do país.
Mais tarde, ganhou
torre anexa de 10
pavimentos. Nas
fotos, registros de
1970 e de 2022.

GRANDES NOMES
109 da arquitetura catarinense
Glamour em Laguna

O Laguna Tourist Hotel, do empresário Santos Outra hipótese veio de entrevista com o ar-
Gugliemi, apesar de inaugurado em 1972 na Praia quiteto Fernando Carneiro, pioneiro da região Sul
do Gi, em Laguna, teve seu processo iniciado ainda de Santa Catarina, incluso nesse livro. Carneiro
nos anos de 1950, quando da contratação de Vero- relata que Veronese, seu contemporâneo de es-
nese. Poderia ser considerada a primeira obra do cola de arquitetura e, posteriormente, seu pro-
arquiteto no estado, mas as questões de acesso, fessor, o teria convidado para que fizesse o que o
de localização e do projeto idealizado pelo pro- arquiteto chama de “acabamentos”. Coube a ele
prietário são apontadas como fatores da demora. os elementos diferenciados e espaços que pare-
Removeu-se areia das dunas, além da retirada de cem “destacados”, enquanto característica de
parte do Morro do Iró, um costão rochoso, para projeto, do restante do hotel, alguns em formato
criar passagem entre as praias do Gi e Mar Grosso, circular – já trabalhado por Carneiro em outras
bem como acesso ao terreno e implantação do obras –, como a boate, além das áreas da piscina
empreendimento. Essas etapas iniciais, nada co- (com cobertura em vidro), saunas, área de apoio
muns para a época, atrasaram a execução do em- junto à praia, o belvedere, os portões, entre ou-
preendimento. Ou seja: 20 anos separam o proje- tros, e a própria casa da família Guglielmi, locali-
to inicial da obra finalizada. zada no mesmo terreno.
Thayse Fagundes afirma que “o próprio em- Fato é que a construção do hotel e da boate,
preendedor reconheceu que não deu muita liberda- além de projeto de urbanização em áreas próxi-
de para que o arquiteto Veronese fizesse seu dese- mas teria elevado o conceito da região como “um
nho, o hotel deveria ser exatamente como o que empreendimento a longo prazo e que fará de La-
Guglielmi havia imaginado”. Ainda segundo ela, tais guna, nos anos 1980, talvez a Miami Beach brasi-
características – do lugar, do terreno, do cliente e leira” como citado pelo jornalista Aramis Millar-
do tempo – podem ter descaracterizado as ideias ch em coluna do jornal Estado do Paraná, no iní-
iniciais do arquiteto, dado que esse empreendimen- cio de 1975. O texto enfatiza a presença de gran-
to não mantém em sua totalidade características des nomes da música da época, como Dorival
dele em outros projetos aqui mostrados. Caymmi, Elis Regina e Paulinho da Viola.

Arquitetura
Moderna 110
Ao observar o empreendimento, nota-se di- e iluminação natural. Um grande pilar central apoia Inaugurado em 1972,
ferentes partidos de projeto. A ala de hospeda- o conjunto. o Laguna Tourist Hotel,
projeto de Veronese,
gem, em dois grandes blocos lineares em forma- São características comuns do arquiteto
com “acabamentos”
to de C, com quartos com varandas e vista para nessa obra os pilotis, a planta livre, a valoriza- de Fernando Carneiro.
as praias e região que, implantados de forma ar- ção das vistas, a abundância do vidro, os amplos
ticulada, parecem se adaptar ao terreno. Já nas pés-direitos nas áreas sociais e de convívio, os
alas social e de lazer, de formas variadas, algu- quartos com varandas. Já o uso de revestimen-
mas recebem cobertura em laje maciça bem de- tos cerâmicos, detalhe não visto até então nas
talhada, se apropriando da plasticidade do con- demais obras de Veronese, aparece compondo
creto. Detalhe que se repete na boate, entre ou- tanto fachadas quanto paredes internas, como
tros. Nelas, bandeiras fixas em esquadrias e vidro na piscina térmica – recurso muito usado em
soltam a cobertura. Tal particularidade traz leveza obras de Fernando Carneiro.

GRANDES NOMES
111 da arquitetura catarinense
GO T T F R IE D B ÖHM [ 192 0 - 2 02 1]

Arquitetura
Moderna 112
Gottfried Böhm
Igrejas idealizadas pelo arquiteto alemão em Santa Catarina
são símbolos da Arquitetura Moderna e da tradição da família
Böhm na construção de espaços religiosos, unindo elementos
de diferentes linguagens arquitetônicas em edificações
monumentais, com linhas e materiais simples.

P O R TAT I A N A G A P P M AY E R

A ARQUITETURA E A ESCULTURA fundem-se nos O impacto dramático de suas obras é uma das
projetos de Gottfried Böhm (1920-2021) que, em características ressaltadas pelos estudiosos de sua
1986, tornou-se o primeiro arquiteto alemão a trajetória, assim como o uso da topografia dos ter-
ganhar o Prêmio Pritzker, principal distinção da renos como um dos elementos que ajudam na
área. Telhados cônicos, escadas em espiral, pon- composição de uma edificação, criando tanto ar-
tes, cúpulas, torres e pilares altíssimos e constru- quitetura como paisagem. A Catedral de São Paulo
ções monumentais que exploram os efeitos da Apóstolo, em Blumenau, e a Igreja Matriz São Luís
luz em materiais como concreto e vidro marcam Gonzaga, em Brusque, são exemplos brasileiros da
as igrejas, as residências e os prédios públicos e da vasta obra de Gottfried, que teve a maioria de
culturais elaborados pelo profissional ao longo seus projetos realizados na Alemanha, com desta-
de seus 101 anos de idade. Nascido na cidade de que para a Prefeitura de Bensberg (1962-1967), a
Offenbach (próxima a Frankfurt), Gottfried foi Catedral de Santa Maria de Neviges, em Nieder-
influenciado pelas linguagens arquitetônicas de berg (1963-1973), o Centro Provincial de Informática
seu tempo, como o modernismo, mais precisa- e Estatística em Düsseldorf (1969-1979) e o Teatro
mente o expressionismo e o brutalismo. Hans Otto de Potsdam (1995-2006).

GRANDES NOMES
113 da arquitetura catarinense
Os vitrais característicos da Igreja Matriz
São Paulo, em Blumenau

Arquitetura
Moderna 114
BÖHM
“Gottfried Böhm conseguiu interpretar e transformar
riquezas arquitetônicas dos séculos passados em estruturas
contemporâneas, emocionantes em si mesmas”.
B R E N D A N G I L L , J O R N A L I S TA E S TA D U N I D E N S E

O arquiteto que queria ser escultor manteve a Dominikus foi condecorado com a Ordem de
relação entre esses dois saberes ao longo de toda São Silvestre pelo Papa Pio XII, em 1953, por suas
a sua carreira: durante o processo de desenvolvi- inovações, como adotar novos materiais, reduzir as
mento de seus prédios, Gottfried fazia modelos igrejas a sua forma essencial, simplificando a orga-
de argila para ver suas ideias materializadas. Após nização interna, e utilizar a luz natural como um
formar-se em arquitetura pelo Instituto Técnico elemento de construção e como parte da liturgia
de Munique em 1946, ele passou um ano estu- católica – contribuindo ativamente para a atualiza-
dando escultura na Academia de Belas Artes do ção da tradição. Em entrevista para o jornal Süd-
mesmo município alemão. De 1947 a 1950, Gott- deutsche Zeitung, de Munique, em 2020 – ano do
fried atuou no escritório do seu pai, Dominikus seu centenário –, Gottfried revelou que foram as
Böhm (1880-1955), um dos nomes mais respeita- palavras e os pensamentos de seu pai as suas princi-
dos da arquitetura religiosa da Europa e figura já pais referências. Nos anos em que trabalhou com
conhecida em Santa Catarina, onde havia projeta- ele, colaborou com a Sociedade para a Reconstru-
do a igreja de Timbó, em 1937 (não construída), e, ção de Colônia, que foi destruída por bombardeios
ainda, a igreja de Presidente Getúlio (1947-1954). durante a Segunda Guerra Mundial.

GRANDES NOMES
115 da arquitetura catarinense
Perspectiva de Gottfried Böhm
da residência Renaux, na praia
de Cabeçudas, em Itajaí.
Projeto não executado.

Arquitetura
Moderna 116
BÖHM
A arquitetura faz parte da família Böhm há que conheceu Mies van der Rohe e Walter Gropius,
gerações, uma história que começa com o avô de arquitetos que ele admirava. Após a morte do
Gottfried, Alois Böhm, e segue agora com três de pai, Gottfried assumiu o escritório do pai e
seus quatro filhos: Stephan, Peter e Paul, frutos continuou o legado dos Böhm por meio de edi-
da sua união, em 1948, com a também engenhei- ficações simbólicas erguidas em diversas cida-
ra e arquiteta, Elisabeth Böhm (1921-2012). O uni- des alemãs.
verso familiar de Gottfried foi, inclusive, tema Mais que encaixar seus projetos em uma lin-
para o filme “Concrete Love”, que acompanhou guagem arquitetônica específica, Gottfried afir-
por dois anos a rotina do arquiteto com seus fi- mou que preferia ser lembrado pela criação de
lhos e a esposa em sua residência, em Colônia – “conexões”, aliando tradição e modernidade, o
que funciona ainda como espaço para as criações mundo das ideias com o mundo físico, integrando
dos Böhm. Lançada em 2015, a obra do diretor a arquitetura de um prédio ao ambiente urbano,
Maurizius Staerkle-Drux foi a vencedora do Prê- considerando a forma, o material e a cor de um
mio Goethe de documentário no mesmo ano. edifício na área que ele vai ocupar. O jornalista
O caminho trilhado por Gottfried para en- estadunidense Brendan Gill (1914-1997), na ocasião
contrar o seu próprio estilo o levou, em 1951, até em que foi secretário do júri do Prêmio Pritzker,
Nova York, onde atuou por seis meses no escritó- em 1986, escreveu que Gottfried “conseguiu inter-
rio de arquitetura de Cajetan Baumann. Antes de pretar e transformar riquezas arquitetônicas dos
retornar à Alemanha, no ano seguinte, Gottfried séculos passados em estruturas contemporâneas,
viajou pelos Estados Unidos, oportunidade em emocionantes em si mesmas”.

GRANDES NOMES
117 da arquitetura catarinense
“ do
Gosto muito da igreja de Blumenau. Acredito que muito
espírito de meu pai está dentro dela.”
GOT TFR IED B Ö H M

Arquitetura
Moderna 118
BÖHM
Imponente, Catedral de
São Paulo Apóstolo sobressai
na paisagem de Blumenau

Vivendo um período de prosperidade, a cidade e João Francisco Noll, no escritório do arquiteto


com forte presença de imigrantes alemães viu, ao em Colônia, que os padres franciscanos convida-
longo da década de 1950, muitas transformações ram o seu pai, Dominikus, para conceber o espa-
ocorrerem no seu espaço urbano. Foi nessa época ço sacro, mas naquela ocasião ele afirmou não
que surgiu a necessidade de um novo projeto ter condições de viajar e indicou o filho para ir ao
para a Igreja Matriz de Blumenau, que precisava Brasil. A idade avançada de Dominikus, que fale-
acolher os fiéis, que aumentavam de número, e ceu em 1955, pode ter sido a razão que o impediu
também acompanhar os tempos modernos. Do de ficar à frente da iniciativa.
alto da Rua XV de Novembro, no Centro do municí- Nessa mesma entrevista, publicada no portal
pio e no mesmo terreno onde ficava a edificação Vitruvius em 2014, ele mencionou que esteve em
anterior, os moradores acompanharam a cons- Blumenau em 1953 por um período entre quatro e
trução do que é hoje um dos ícones arquitetôni- seis semanas, quando desenvolveu todo o projeto
cos da localidade: a Igreja Matriz São Paulo Após- arquitetônico com o qual os franciscanos já pode-
tolo – atual Catedral de São Paulo Apóstolo. riam iniciar as obras. De volta à Alemanha, deu con-
Coordenada pelo Frei Brás Reuter, uma co- tinuidade, dedicando-se ao detalhamento, realizado Na página
missão foi formada, em 1952, para transformar a com muita limpeza projetual. As obras foram inicia- anterior, a Igreja
ideia de uma nova igreja em realidade. Gottfried das no mesmo ano e finalizadas uma década depois, Matriz São Paulo
Apóstolo, em
contou, em entrevista feita em 2012 pelos arqui- tendo Franz Hrozek como engenheiro responsável e
Blumenau
tetos e urbanistas e professores Silvia Odebrecht August Köster como diretor da construção.

GRANDES NOMES
119 da arquitetura catarinense
O projeto monumental abrange três elemen- por Gottfried e executados, em 1957, por Lorenz
tos: a torre de 45 metros de altura com três sinos Heilmair, proprietário da empresa Arte Sul de
na entrada do complexo, o batistério e o prédio São Paulo (SP), complementam e trazem a luz
que abriga o templo. Uma escadaria em granito natural para dentro do edifício.
maciço com 44 degraus e seis metros de largura A catedral, que foi tombada como Patrimônio
conecta rua, torre e igreja. Com uma planta re- Cultural Edificado de Blumenau, em 2008, tem
tangular – que tem essa particularidade acen- 23 metros de largura, 15 metros de altura e 75
tuada visualmente por duas fileiras de pilares que metros de comprimento. Internamente, uma rosá-
sustentam a cobertura e dividem a nave em três cea gótica com oito metros de diâmetro, cercada
–, a estrutura do amplo ambiente religioso foi er- por outras 20 de 60 centímetros, é o ponto focal
guida com concreto armado revestido, interna e atrás do altar. Quatro confessionários em már-
externamente, por placas de granito rosa de 15 more branco e 60 bancos centrais e 50 laterais,
centímetros de espessura. Vitrais desenhados feitos em madeira maciça, estão distribuídos pelo

Igreja Matriz São Paulo


Apóstolo na perspec-
tiva de Gottfried Böhm.
Na página seguinte,
detalhes do interior
do templo.

Arquitetura
Moderna 120
espaço, que tem capacidade para quatro mil pes- do interior. Nesse espaço, encontra-se o batisté-
soas, sendo mil delas sentadas. “A ausência de rio, feito com concreto, granito, mármore e vi-
decoração, imagens e formas rebuscadas de aca- trais quadriculados nas cores amarelo, verde, cin-
bamento permitem que a estrutura, materiais e za e natural. A inovação do projeto não está ape-
luz sejam os protagonistas do ambiente”, anali- nas no seu sistema construtivo, mas também na
sou o arquiteto e urbanista Leodi Antônio Covat- linguagem arquitetônica adotada, na sua organi-
ti em sua pesquisa de mestrado: “Matizes da mo- zação e materialidade, impactando a paisagem
dernidade. A Igreja Matriz São Paulo Apóstolo de ao seu redor.
Dominikus e Gottfried Böhm”. “Gosto muito da igreja de Blumenau. Acredi-
Antes de entrar no templo, na parte mais ele- to que muito do espírito de meu pai está dentro
vada do terreno, há um grande volume formado dela”, disse Gottfried em entrevista para Silvia
por pilares altos que dão suporte para a fina co- Odebrecht e João Francisco Noll. Ele reforçou
bertura de concreto. O elemento tem ainda, no que nesse complexo caracteriza-se muito o fato
acesso principal, uma parede com imagens enta- de ele ser filho de Dominikus, com o estilo do re-
lhadas em madeira. Em toda a sua altura, a fa- nomado arquiteto de edificações católicas muito
chada recebeu vitrais que aproximam o exterior presente nas soluções arquitetônicas.

GRANDES NOMES
121 da arquitetura catarinense
Igreja Matriz São Luís Gonzaga de
Brusque combina elementos da
arquitetura moderna e da gótica

O caráter monumental das obras de Gott- ampliado foi do também alemão Simão Gramli-
fried Böhm, o uso de materiais simples, como pe- ch (1887-1968), arquiteto imigrado cujo projeto
dra com concreto armado, e a exata mescla entre para a Matriz de Blumenau também havia sido
distintos momentos arquitetônicos podem ser preterido em favor do de Böhm. Os trabalhos co-
percebidos na Igreja Matriz São Luís Gonzaga, em meçaram em 1955 e foram concluídos em 1962,
Brusque. Assim como o templo de Blumenau, am- quando as celebrações de missas voltaram a ser
bas construções são símbolos da Arquitetura Mo- realizadas no local.
derna de Santa Catarina, apresentando caracte- O complexo, idealizado por Gottfried na Ale-
rísticas espaciais e aspectos que remetem às edifi- manha – o próprio arquiteto lamentou, em en-
cações góticas, como verticalidade, simetria, abó- trevista para Silvia Odebrecht e João Francisco
badas, vitrais e arcobotantes. Na entrevista, Gott- Noll, não ter podido acompanhar a execução do
fried mencionou que a igreja de Brusque tem a projeto –, destaca-se na paisagem de Brusque
sua personalidade. por sua grandiosidade. Para implantar o templo
Com necessidade de mais lugares para seus na área, com topografia acidentada e um desní-
fiéis, a paróquia decidiu que era preciso substi- vel de mais de 20 metros, foi necessário fazer a
tuir a antiga igreja, concluída em 1877 e demolida terraplenagem do terreno, formando um platô.
em 1954, e erguer uma nova no mesmo ponto Uma grande escadaria aproxima a rua e o espaço
central da cidade colonizada por alemães. Antes sacro, que tem uma torre com quatro sinos co-
do convite feito para Gottfried, que ocorreu du- nectada ao volume principal, funcionando como
rante a sua estadia de cerca de um mês em Blu- um imenso portal que conduz as pessoas à parte
menau, a proposta inicial para o ambiente religioso interna da construção.

Arquitetura
Moderna 122
GRANDES NOMES
123 da arquitetura catarinense
A grandiosidade da Espacialmente, a igreja tem uma planta retan- resultado dos blocos de granito cinza utilizados
Igreja Matriz São Luís gular e conta ainda com uma área de apoio lateral, na obra, que foram trazidos de uma pedreira lo-
Gonzaga evidenciada
onde ficam o depósito, banheiro e escada de acesso cal que ficava no bairro Volta Grande.
na página anterior e,
ao órgão. Sua ampla nave também é dividida em três “A Igreja Matriz São Luís Gonzaga permite-
acima, no contexto
da cidade. Na página por duas fileiras de pilares e possui cobertura abo- -nos a percepção de uma dramaticidade que en-
seguinte, a perspec- badada, seguindo a ideia de simplificar os ambientes, volve o homem dentro de um espaço criado para
tiva de Gottfried deixando todos facilmente visíveis. Sóbria, interna refletir o sagrado em sua forma mais simples
Böhm e a Igreja de e externamente, a edificação foi idealizada com mediante o uso de materiais retirados do entor-
Nossa Se­nhora do
paredes de pedra cinza e concreto aparente. no do terreno. A riqueza reside na disposição dos
Rosário, projetada
por Domi­nikus. A iluminação interna é feita por grandes aber- vitrais que permitem o acesso da luz que, junto
turas cobertas com vitrais nas partes da frente e de com as pesadas paredes de pedra, geram uma at-
trás da construção, por pequenas janelas pivo- mosfera celestial”, descreveu , em artigo publica-
tantes laterais e por cobogós que remetem a es- do no portal Archdaily, a arquiteta e urbanista e
camas de peixes. Já a monocromia do prédio é pesquisadora Angelina Wittmann.

Arquitetura
Moderna 124
BÖHM
Böhm em SC
» Os originais dos projetos de Gottfried Böhm,
incluindo os das igrejas em Santa Catarina,
fazem parte do acervo do Museu Alemão de
Arquitetura de Frankfurt.
» O arquiteto esteve cinco vezes em Santa
Catarina, sendo a primeira em 1953. Ele visitou
a igreja de Blumenau, quando ela já estava
concluída, com a sua esposa Elisabeth Böhm,
depois de uma viagem de três semanas de
navio. Gottfried também esteve em Brusque.
» Além das igrejas em Blumenau e Brusque,
Gottfried Böhm desenvolveu o projeto da
Igreja Nossa Senhora da Piedade e de um
centro de acolhida para crianças com defi-
ciências visuais, em Tubarão, da Igreja São
Francisco Xavier, em Joinville e de uma resi-
dência em Itajaí (ver imagem na página
116), nenhum deles saiu do papel.
» Na construção da Catedral de São Paulo
Apóstolo foram usados 3.662 metros cúbicos
de granito rosa, 985 metros quadrados de vi-
dros para os vitrais, 1.875 metros quadrados
de mármore para o piso e 20 metros cúbicos
de mármore branco para o altar, confessio-
nários, púlpito e mesa de comunhão.
» A relação da família Böhm com Santa Cata-
rina teve início a partir do projeto para a igre-
ja de Timbó (não executado), em 1937, e o
projeto da igreja de Presidente Getúlio (1947-
1954), ambos de Dominikus.

GRANDES NOMES
125 da arquitetura catarinense
H A N S B R OO S [ 192 1 - 2 011]

Arquitetura
Moderna 126
Hans Broos
Arquiteto europeu considerado um dos grandes nomes da
Arquitetura Moderna Brasileira, projetou em Blumenau e em
outras cidades de Santa Catarina algumas de suas obras mais
relevantes, entre fábricas, igrejas e inúmeras residências.

P O R C R I S T I A N O S A N TO S

INDELEVELMENTE, O LEGADO de Hans Broos exigida dos estudantes nos cursos de arquitetura.
(1921-2011) figura entre os mais expressivos da Ar- “Quem queria chegar à faculdade de arquitetura
quitetura Moderna Brasileira. E a trajetória pro- tinha que aprender profissões práticas, como
fissional do arquiteto de origem eslovaca percor- carpinteiro e pedreiro. Além disso, tínhamos de
re o território catarinense desde a chegada em viajar e conhecer a Europa: a torre de Pisa, na Itá-
Blumenau, nos primeiros anos da década de lia, a Grécia. O ensino era mais prático...”, comen-
1950. Distante dos grandes centros, na pequena tou ele em uma entrevista publicada no portal da
cidade do Vale do Itajaí, ele materializou algumas revista Projeto, em 2005.
de suas grandes obras. Nos primeiros anos de profissão e com uma base
De nacionalidade alemã, Hans Broos nasceu significativa para a construção de sua personalidade
em 9 de outubro de 1921 em Gross-Lomnitz, na arquitetônica, ainda estudante, Hans Broos teve
época pertencente à Tchecoslováquia, atualmente, contato direto com o professor Friedrich Wilhelm
território da Eslováquia. Jovem, iniciou a faculda- Kraemer, participando da criação de projetos
de de Arquitetura na Universidade de Praga quase sempre voltados ao urbanismo na reconstru-
(Tchecoslováquia), mas com a Segunda Guerra ção de praças e prédios históricos. Da mesma forma
mudou-se para Braunschweig (Alemanha), onde foi sua relação com o professor Egon Eiermann,
concluiu o curso de engenheiro-arquiteto na Uni- em Karlsruhe, também na Alemanha. Para os
versidade Técnica, em 1947. Dessa época, trouxe a pesquisadores, a arquitetura pós-guerra foi defi-
experiência prática como pedreiro e marceneiro, nidora de sua consciência profissional.

GRANDES NOMES
127 da arquitetura catarinense
“ Secomo
o projeto de uma fábrica é bom, os operários se sentem
uma comunidade, e o mesmo ocorre em uma igreja.
Quando isso não acontece, só tem briga e poeira”.
HANS BROOS

Doutora em Arquitetura e Urbanismo com a família que seria sua maior cliente, e para quem
tese “A Modernidade em Hans Broos”, apresen- construiria obras desde seus primeiros anos até
tada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da sua última grande obra, a Indústria Têxtil Hering
Universidade de São Paulo (FAU/USP), em 2011, a do Nordeste”.
arquiteta Karine Daufenbach apresenta em sua Depois de uma temporada carioca, para reva-
pesquisa, recentemente lançada em livro, a rela- lidação do diploma estrangeiro, publicado em
ção do arquiteto com o Brasil, descrita por ele 2002 como “Construções antigas em Santa Cata-
como “terra da salvação”. Na obra, a autora rela- rina”, o arquiteto se estabeleceu em São Paulo e
ta com detalhes como ocorreu esse processo: deu início a uma extensa produção que chega, se-
“Sua saída do país (Alemanha) não está relacio- gundo a pesquisa de Karine Daufenbach, a mais de
nada, portanto, às agruras de meados dos anos 400 projetos país afora, 100 deles executados, in-
1940. Broos desfrutava de boas oportunidades cluindo fábricas, igrejas e residências, parte signifi-
de trabalho ao lado de Kraemer e Eiermann, e já cativa deles em solo blumenauense. Projetos tam-
dava início a uma – já visível – prolífera carreira bém foram concebidos em outras regiões brasilei-
como autônomo. Tampouco o Brasil foi o único ras, como Centro-oeste e Nordeste.
destino imaginado ou perseguido pelo arquiteto. Em Santa Catarina, sua obra mais conhecida e
Durante aquele mesmo ano, Broos troca inúme- reconhecida é a sede da matriz da Cia. Hering, cra-
ras cartas com escritórios de vários países. Todas vada entres os verdes morros do Bom Retiro, em
as respostas, quando vinham, eram negativas. Blumenau, um dos marcos da indústria têxtil. A
Parece ter sido mais um conjunto de coincidên- relação do arquiteto com a empresa iniciou no fi-
cias do que uma decidida vontade o fato de Broos nal dos anos 1960 com a criação de um Plano Dire-
ter optado pelo Brasil – através de um contato tor. Na ampliação do parque fabril, já nos anos
em comum com a família Hering, de Blumenau. 1970, Broos projetou novas edificações - o concre-
Broos foi assim recepcionado fortuitamente na to armado aparente como material onipresente

Arquitetura
Moderna 128
- em integração com a natureza exuberante da longitudinais que apresentam continuidade nos Complexo da
área e com as construções antigas, já presentes no espaços, e são organizados de acordo com a mo- Indústria Têxtil
Hering Matriz, em
terreno. O paisagismo é assinado por Roberto Burle dulação interna do edifício seguindo a regulari-
Blumenau, a obra
Marx com a participação do geógrafo Aziz Ab’Sa- dade do volume externo. O acesso aos ambien- mais conhecida
ber, e até hoje mantido, como poucos, em sua for- tes é facilitado pela presença de circulações hori- de Hans Broos em
mação original. Outros projetos de destaque para zontais externas, que também reúnem a circula- Santa Catarina
a Cia. Hering foram as unidades satélites de Água ção vertical, e protegem os ambientes contra a
Verde, em Blumenau, e as das cidades de Ibirama e incidência solar e intempéries”. Ao estabelecer
Rodeio, todas desativadas, além da já citada He- uma relação sinérgica entre o paisagismo e a ar-
ring do Nordeste, em Paulista (PE), que não per- quitetura e percebendo e respeitando a geografia
tence mais à companhia. do vale onde está cravada a companhia, o profis-
Karine Daufenbach, no estudo “Continuida- sional ainda sugeriu a construção de outras uni-
des e Dissonâncias na Arquitetura Industrial de dades em bairros e cidades próximas.
Hans Broos”, destaca as especificidades do proje- Alguns anos antes, e logo após seu desembar-
to da Hering: “Os edifícios são grandes blocos que em Blumenau, Hans Broos projetou uma de

GRANDES NOMES
129 da arquitetura catarinense
suas primeiras obras na cidade e no país. A Igreja cidade nunca foi esquecido. “Eu sempre fiz prédios
Luterana Itoupava Seca, localizada no bairro de individuais, em princípio muitos mosteiros e fábri-
mesmo nome, é um dos exemplos da arquitetura cas, que, de fato, são projetos parecidos. Se o pro-
religiosa moderna de Santa Catarina. Com recur- jeto de uma fábrica é bom, os operários se sentem
sos escassos e em processo de aprendizado das como uma comunidade, e o mesmo ocorre em
novas tecnologias da época, a cobertura da igreja, uma igreja. Quando isso não acontece, só tem bri-
construída com um sistema estrutural indepen- ga e poeira”, disse o arquiteto na mesma sabatina
Unidades da Hering
dente, parece flutuar sobre os fechamentos late- publicada no portal da revista Projeto.
de Ibirama e, na página
seguinte, a de Água rais, permitindo ainda o controle da temperatura Como um marco do desenvolvimento blume-
Verde, em Blumenau, por meio de aberturas irregulares em uma se- nauense e da ampliação das ideias modernas de
ambas desativadas. quência de brises. O clima quente e úmido da Hans Broos, o Grande Hotel, situado na esquina da

Arquitetura
Moderna 130
BROOS
Alameda Rio Branco com a Rua XV de Novembro, dos apartamentos receberam um painel de re-
carrega na essência a renovação da área central da vestimento cerâmico vazado. Atualmente, o ho-
cidade, demarcando uma espécie de limite entre tel encontra-se fechado e em um processo de re-
o “centro antigo” e o “centro novo”. Inaugurado vitalização sem previsão de reabertura.
em 1962, o majestoso prédio de 14 andares e 76 Nessa continuidade da modernização central
apartamentos tem inspiração na Escola Carioca. de Blumenau, outro projeto de Broos é o Edifício
Entre suas características, a estrutura indepen- Visconde de Mauá, também localizado na Rua XV
dente do prédio vertical com o bloco horizontal de Novembro e voltado quase em sua completude
central mantendo distância das edificações vizinhas, ao rio Itajaí-Açu. É o primeiro nessa posição, inclu-
onde também se destacam os pilotis e a passagem sive diante da ainda não inaugurada Avenida Bei-
vazada. Em um dos lados da fachada, os corredores ra-Rio. Outro ponto da modernidade do arquiteto

GRANDES NOMES
131 da arquitetura catarinense
O Grande Hotel, inaugurado em
1962, é um marco do desenvolvimento
de Blumenau. Na próxima página,
o Edifício Visconde de Mauá,
na mesma cidade.

Arquitetura
Moderna 132
BROOS
foi a definição de um edifício misto, com parte
dele destinado à área comercial e o restante para
a residencial. Mais uma vez, os pilotis surgem nos
pavimentos térreo, mezanino, com continuidade
em outros pavimentos. Inclusive, a fachada trans-
parente de vidro permite a visão dos pilares man-
tidos próximos às esquinas do prédio.
A obra de Broos não se resume somente a
Blumenau, incluindo cidades como Rio do Sul e
Florianópolis. Na capital catarinense, há duas obras
de grande interesse. Uma delas, a Casa Zipser (1959),
localizada no Centro, que, mesmo com a abertura
de processo de tombamento municipal no Serviço
do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do
Município de Florianópolis (SEPHAN), foi demolida
em 2012 para dar lugar a um residencial. A outra é
o atual Fórum Desembargador Eduardo Luz
(1967), na Praça da Bandeira, originalmente sede
da CELESC e que já abrigou também a sede do
Governo do Estado. Do projeto original, muitas
das características da Arquitetura Moderna já
não mais presentes, como as proteções solares
nas fachadas longitudinais do edifício e o próprio
comportamento estrutural transparente na fa-
chada. São Paulo, onde morou por mais tempo,
conta também com outras criações importantes
como a sua casa e escritório, no Morumbi, e a Igreja
São Bonifácio, na Vila Mariana.

GRANDES NOMES
133 da arquitetura catarinense
Casa Zipser Depois de mais de cinco décadas de profis- Hering, em Blumenau, sua obra passou a ter
(1959-1967), em são, Hans Broos escolheu voltar para Blumenau, acesso público. São 2,4 mil itens entre documen-
Florianópolis,
onde se estabeleceu definitivamente em 2006 tação de projetos, fotografias, cadernos de cro-
demolida em 2012
apesar da abertura
para observar, da varanda de casa, no bairro Boa quis, livros, objetos pessoais e raridades, recolhi-
do processo de Vista, as belezas do rio Itajaí-Açu e das monta- dos dos arquivos pelos professores Karine Dau-
tombamento nhas esverdeadas do Vale. Ele faleceu no dia 23 fenbach e Bernardo Brasil Bielschowsky após o
municipal. de agosto de 2011, aos 89 anos. falecimento do arquiteto.
Em 2018, foi lançado o livro “Hans Broos: Em 2021, chegou aos festivais de cinema o
memória de uma arquitetura”, assinado por An- documentário eslovaco Architekt Drsnej Poetiky
dré Luís de Lima, Guilherme Freitas Grad e João (O Arquiteto da Poética Bruta), dirigido por Ladis-
Serraglio, fazendo um resgate da obra e da me- lav Kaboš, contando a história do homem que
mória do arquiteto. A publicação apresenta pre- contribuiu para a construção da arquitetura bru-
fácio de Luiz Eduardo Fontoura Teixeira e posfá- talista brasileira. Junto à comemoração do cente-
cio de Bernardo Brasil Bielschowsky. Desde 2020, nário de nascimento do arquiteto, Karine Dau-
por meio do projeto “Memória edificada: catalo- fenbach, também em 2021, lançou o livro “A Mo-
gação e digitalização de acervos no Centro de dernidade em Hans Broos”, resultado de sua tese
Memória Ingo Hering”, da Fundação Hermann de doutorado defendida pela FAU-USP.

Arquitetura
Moderna 134
BROOS
Fórum Desembargador
Eduardo Luz, em
Florianópolis: projeto
original (1966-1968),
desenvolvido para servir
de sede para a CELESC.
Imagens atuais, como a
que está acima, revelam
alterações na fachada.
Fábrica Hering Matriz

Em Santa Catarina, a obra mais conhecida e com as do mestre alemão Egon Eiermann, com
reconhecida de Hans Broos é o Complexo da In- quem havia trabalhado, como colaborador, no
dústria Têxtil Hering Matriz, em Blumenau. O projeto da Indústria Têxtil de Blumberg, na Ale-
planejamento foi iniciado em 1968, com o plano manha, vinte anos antes. “Os rasgos horizontais, a
diretor, sendo concluído em 1975 com o projeto marcação externa dos pilares, os volumes das es-
dos edifícios, distribuídos ao longo do estreito cadas e a concepção geral do volume não deixam
vale onde fora implantado o parque fabril. dúvida quanto sua filiação, ainda que reformulado
De acordo com a arquiteta Karine Daufenbach e elaborado com novos materiais, neste caso,
em “A Modernidade em Hans Broos”, este foi o concreto armado aparente”, relaciona Karine.
primeiro edifício fabril de grande porte realizado Na definição dos projetos dos diversos edifícios
por Broos no Brasil, dando início a uma parceria de fabris que compõem o complexo, Hans Broos
mais de 20 anos de colaboração com a empresa teve de considerar a integração deles com edifi-
como arquiteto e consultor. Parceria essa que cações de características tradicionais da imigração
rendeu inúmeros projetos industriais e, também, o alemã, da época da fundação da empresa, em
“renome de ‘arquiteto industrial’, uma experiência 1880. “Embora a importância particular dos edi-
que tivera seus passos iniciais em sua curta car- fícios, também o planejamento físico da fábrica
reira alemã”, destaca Karine. Neste projeto, segundo desperta enorme interesse, pela convivência que
a pesquisadora, Hans Broos mescla referências do propõe entre os novos prédios e o entorno natu-
Brutalismo Paulista, marcas de sua própria obra, ral e construído”, destaca Karine Daufenbach.

Arquitetura
Moderna 136
O claro contraste arquitetônico entre o “brutalismo”
de Broos e as tradições da imigração alemã.

GRANDES NOMES
137 da arquitetura catarinense
Todas as influências de Broos foram aplicadas no
projeto da Hering Matriz, o primeiro edifício fabril
de grande porte realizado por ele no Brasil.

Arquitetura
Moderna 138
BROOS
Os amigos
contemporâneos
A relação próxima com os herdeiros da
Cia Hering proporcionou, além dos contatos
essenciais na chegada ao Brasil, grande parte
da materialização das ideias de Hans Broos.
Mas o arquiteto alemão de origem eslovaca
também criou uma extensa agenda de ami-
gos e colegas de profissão que figuram entre
os mais importantes da arquitetura nacional.
Na temporada no Nordeste, por exem-
plo, entre outros acontecimentos, o arquiteto
ajudou Francisco Brennand a organizar o ate-
liê no Recife. Broos contou que ficou impres-
sionado que o escritório do artista plástico fi-
cava dentro de um dos fornos de cerâmica. E
que essa mesma cerâmica foi utilizada em
projetos como a Abadia de Santa Maria e em
sua residência, ambas em São Paulo. É nessa
casa - uma joia moderna que serviu de mora-
dia e de escritório - que o paisagismo de Ro-
berto Burle Marx também aparece com des-
taque, dando mais um exemplo da relação
profissional da dupla. Na já citada Cia. Hering,
há um jardim suspenso também projetado
por Burle Marx a partir dessa relação.

GRANDES NOMES
139 da arquitetura catarinense
E GON B E L Z [ 19 3 1 - 2 00 7 ]

Arquitetura
Moderna 140
Egon Belz
Blumenauense, parceiro de Hans Broos e Sérgio Bernardes, Egon Belz
soube mesclar as lições aprendidas da Arquitetura Moderna com a
história do Vale do Itajaí e suas realizações como atleta recordista.

P O R C R I S T I A N O S A N TO S

A INFLUÊNCIA GERMÂNICA na disciplina blume- publicados no site do Conselho Estadual de Es-


nauense sempre esteve impressa na identidade porte. Em um dos exemplos dessa versatilidade,
de Egon Belz (1931-2007). Filho único, nascido e desligou-se do renomado Esporte Clube Pinhei-
criado entre as montanhas do Ribeirão Fresco, ros (SP) para participar da primeira edição dos Jo-
perto das curvas do rio Itajaí-Açú em uma Blu- gos Abertos de Santa Catarina (JASC), em 1960,
menau ainda rural, na juventude tornou-se um em Brusque, de onde trouxe as medalhas de pri-
esportista multitalentoso, inspirado na convi- meiro lugar em quatro modalidades: voleibol,
vência paterna. Paralelamente aos treinos, nunca disco, peso e salto triplo. Foi recordista em mui-
abandonou outra paixão, o desenho, que, segun- tas outras competições das quais participou.
do os familiares, tomou forma a partir de um “O desportista precisa viver naquele esforço,
presente de Natal na infância. naquele estilo de corredor ou nadador. Precisa
Anos antes de começar a trajetória como um sentir o esforço e a dedicação do atleta. É preciso
dos profissionais mais importantes da Arquitetu- portanto para tudo a educação do espírito e da
ra Moderna catarinense, Belz foi destaque ao re- alma. Este viver no esforço do atleta, este sentir,
presentar Blumenau em diversos esportes. Do é a educação principal no esporte porque o es-
atletismo ao voleibol, passando pelo salto em al- porte significa Educação, desperta Inteligência,
tura ou arremesso de disco e peso, não havia traz Amizade, manifesta Saúde e Higiene, é For-
muitos obstáculos para o rapaz, segundo dados ça; enfim, o esporte enaltece a alma”, escreveu

GRANDES NOMES
141 da arquitetura catarinense
A trilogia de Belz em um artigo publicado no jornal A Nação como o Hospital de Santos e o Hospital Oswaldo
residências de Belz: (Blumenau), na edição de 11 de janeiro de 1951. Cruz. Outro nome importante com quem Belz
acima, Steinbach, e
Do Colégio Santo Antônio, na cidade natal e, trabalhou foi o carioca Sérgio Bernardes, conside-
Sotto. Na página
graças ao esporte, Egon Belz terminou os estudos rado um dos principais expoentes da segunda ge-
seguinte, Rebello
em Curitiba. E da capital paranaense migrou para ração de arquitetos modernos brasileiros.
São Paulo, onde de maneira prática começou o in- “Entre os anos marcados pelo final de sua
teresse pela Arquitetura com a formação em téc- formação em técnico em edificações e criação de
nico em edificações pelo Colégio Presbiteriano seu próprio escritório, Belz projetou, essencial-
Mackenzie - ainda não existiam cursos acadêmi- mente, residências e edifícios comerciais. No
cos de Arquitetura em Santa Catarina. acervo presente na Universidade Regional de Blu-
Os primeiros anos de prática na profissão vie- menau, a FURB, existem poucos projetos data-
ram pela atuação nos escritórios da maior cidade dos que se referem a essa época. Possivelmente,
do país. A convivência muito próxima a Hans parte significativa de sua produção e colabora-
Broos, um dos nomes fortes da arquitetura nacio- ção ficou na cidade de São Paulo”, destacam as
nal, contribuiu na formação do catarinense, as- pesquisadoras Aretha Lecir Rodrigues dos San-
sim como o contato com as obras de Oscar Nie- tos, Bárbara Guimarães Fernandes e Karine Dau-
meyer. Nessa parceria com Broos, entre tantas, fenbach no estudo “Egon Belz: Arquitetura Mo-
está a colaboração em projetos de destaque, derna em Santa Catarina”.

Arquitetura
Moderna 142
BELZ
Foram 15 anos de parceria com alguns dos no- definem uma trilogia: Residência Steinbach (1968-
mes mais expressivos da época até que o blume- 72), Residência Sotto (1975-76) e Residência Rebe-
nauense voltasse para o Vale do Itajaí para realizar lo (1987-88), as quais formam uma proposta de
um grande desejo. Como um marco na indepen- Arquitetura Moderna para Blumenau, respeitan-
dência de sua própria história, em 1966, ele abriu do a tradição construtiva da região, implantada
as portas do Ebelza Projetos, seu primeiro escritó- pelos imigrantes, no que diz respeito aos mate-
rio. A partir daí realizou inúmeros projetos, alguns riais do passado, representados pela madeira e
não concluídos ou somente em partes, nas áreas pelos elementos cerâmicos, como os tijolos apa-
residencial, fabril e esportiva, entre outras. rentes”. A pesquisa segue com outros aponta-
As também pesquisadoras Alessandra Coelho mentos sobre a relação de Belz com o espaço e a
e Silvia Odebrecht, em “Arquitetura moderna: re- história: “É uma tentativa de demonstrar que é
conhecimento e análise de edifícios representati- possível fazer uma arquitetura adequada à mo-
vos em Blumenau, SC”, citam a importância do ar- dernidade que então estávamos atravessando,
quiteto, principalmente para a região onde ele sem ferir o passado e a tradição construtiva da re-
mais atuou: “Como conciliador da Arquitetura gião. Ao mesmo tempo, foi uma tentativa de
Moderna com a tradição germânica, figura Egon compreender que o uso de um material novo,
Belz, que desenvolveu obras que utilizam elemen- como o concreto aparente, quando usado ade-
tos da arquitetura vernacular da região. Desta- quadamente, demonstra o potencial construtivo
cam-se as residências que, conforme o arquiteto, dessa nova época que estava sendo assumida”.

GRANDES NOMES
143 da arquitetura catarinense
Ginásio Sebastião Cruz

Eternamente apaixonado pelos esportes, do ‘quadradão’ por meio de duas vias circulares in-
apenas dois anos depois de abrir as portas do ternas. Essas, em conjunto com as claraboias situa-
próprio escritório Egon Belz concretiza aquele das na periferia, permitem a formação de um mi-
que é considerado seu projeto de maior notorie- croclima, arejando e iluminando as dependências.
dade: o Ginásio Sebastião Cruz, conhecido por A nossa preocupação, desde a fase do projeto origi-
todos como Galegão. A preocupação sobre a nal, foi a de minimizar o calor interno na arquiban-
usabilidade da edificação — por esportistas cada e na área de jogo através de procedimentos
como ele — é visível em todos os processos do naturais, uma vez que a climatização por meios
projeto. A grande edificação, não concluída mecânicos estava fora de cogitação devido ao alto
como no projeto original, abriga dois espaços a custo financeiro, ambiental e de manutenção”.
partir de seu grande pé-direito com o espaço in- Desse amor incondicional ao desporto surgi-
ferior no formato quadrado e, o superior, no for- ram pelo menos outros dois projetos de destaque
mato de circunferência. A preocupação de Belz ligados à área: o Edifício Esportivo Ipiranga e a am-
era acomodar cinco mil lugares em uma arena pliação do parque esportivo da Cia. Hering. Ambos
que permitisse a alternância de espetáculos, trazem suas marcas como arquiteto, e no primeiro,
priorizando espaços para chegada e saída de pú- Belz projetou uma construção, diferentemente do
blico com conforto e segurança até a calçada e o Galegão, em formato quadrado, com dois pavi-
estacionamento. Isso ocorre a partir dos corre- mentos erguidos por uma sequência de pilares.
dores entre as dependências e os acessos, três Dessa forma, criou uma malha usada para definir
para o público e um exclusivo para atletas ou ou- o desenho da planta baixa. Já no segundo projeto,
tros usuários da arena. evidencia-se a preocupação em inserir o esporte
O próprio Egon Belz, em um artigo publicado na vida do blumenauense, principalmente unindo
na revista Blumenau em Cadernos (2006), escreveu trabalho e lazer. O projeto contempla do paisa-
sobre o projeto do Galegão e suas especificidades: gismo às áreas das edificações, sendo a principal
“Verifica-se pelo projeto que as dependências rela- um ginásio, cercado por outros espaços de conví-
tivas à arena de jogo são independentes das áreas vio e prática de esportes. “A circulação nas obras

Arquitetura
Moderna 144
O Galegão, em foto atual, e
como ele foi originalmente
projetado pelo arquiteto.

GRANDES NOMES
145 da arquitetura catarinense
Parque das Itoupavas
foi inaugurado em
2021, mantendo a
diversidade de
equipamentos para a
prática de esportes e
de áreas de convivência
proposta no projeto
inicial, de 2001.

Arquitetura
Moderna 146
BELZ
de Egon Belz também é uma característica que Já em 2001 o escritório apresentou o projeto
merece destaque. Existe uma preocupação em do Parque das Itoupavas, não concluído à época, e
dispor circulação que contemple todos os espa- localizado no entroncamento entre as partes Sul e
ços. No caso do ginásio da Cia. Hering, há um cor- Norte da cidade. Em parceria com a prefeitura, a
redor único que circunda toda a extensão da plan- proposta resumiu de certa forma a capacidade do
ta do subsolo dando acesso a todos os ambien- arquiteto de transitar entre diferentes escalas.
tes. O acesso ao pavimento superior é através de Com diversas alterações relacionadas ao projeto
duas escadas em extremidades opostas”, desta- inicial e depois de alguns anos de atraso, o parque
cam as autoras de “Egon Belz: Arquitetura Mo- foi inaugurado em 2021 com mais de 14 mil metros
derna em Santa Catarina”. quadrados de estrutura — e assim como pensou
Mesmo depois de tantos anos atuando na Belz — oferecendo equipamentos e ambientes
área sem formação acadêmica, já reconhecido — para a prática esportiva e áreas de convivência.
somava 10 anos somente com seu próprio escritó- Egon Belz faleceu em 21 de dezembro de
rio —, em 1977 o blumenauense entrou para a uni- 2007. Seu acervo foi cedido ao Curso de Arquite-
versidade, de onde nunca mais saiu. Como aluno, tura e Urbanismo da FURB pelo Instituto de Ar-
buscou ainda mais aprimoramento em uma das quitetos do Brasil (IAB) - Núcleo Blumenau, de
primeiras turmas do curso de Arquitetura e Urba- onde foi transferido para o Centro de Memória
nismo da Universidade Federal de Santa Catarina Universitária (CMU). Sob a coordenação da pro-
(UFSC) para, depois, entre 1996 e 2006, lecionar fessora Silvia Odebrecht, em parceria com diver-
no curso de mesmo nome na FURB. sos acadêmicos, a catalogação desse material
Sempre focado em soluções para sua terra na- em categorias e a elaboração das fichas foram
tal, logo após a grande enchente de 1983, Belz fez realizadas através de Projeto de Iniciação Científi-
parte de uma equipe multidisciplinar que passou a ca da Secretaria de Estado da Educação, por meio
discutir alternativas para Blumenau e a população do Artigo 170 (PIPE/Artigo 170). Com cerca de 300
enfrentarem as águas. Com inspiração em projetos projetos, totalizando mais de cinco mil pranchas,
de Le Corbusier e Sérgio Bernardes para o Rio de Ja- o acervo de Egon Belz está disponível para con-
neiro, o blumenauense propôs uma cidade elevada sulta pública, mediante agendamento, em su-
considerando o aumento do nível do rio Itajaí-Açu. porte original (papel) no CMU.

GRANDES NOMES
147 da arquitetura catarinense
A Casa do Arquiteto para os arquitetos
Egon Belz nasceu e foi criado em charmosa Belz | A Casa e o Arquiteto”, produzido pela Lam-
residência na até hoje silenciosa rua Pastor Os- breta Filmes. “O IAB/Núcleo Blumenau realizou
waldo Hesse, no bairro Ribeirão Fresco, região várias ações com objetivo de preservar a memó-
central de Blumenau. Projetada pelo arquiteto ria da vida e obra do nosso querido amigo, pro-
alemão Simon Gramlich, a residência materna fessor e arquiteto Egon Belz. Seu acervo é riquís-
voltou a ser o lar do blumenauense, onde viveu simo em detalhes, textos, reflexões e obras con-
até falecer, depois da temporada em Curitiba e cluídas. A obra de Egon nos ensina sobre a crítica
São Paulo. e a precisão do gesto de projetar”, afirma a arqui-
Em seu testamento, e como prova da devo- teta e urbanista Daniela Sarmento, membro fun-
ção à profissão, Belz deixou o imóvel em como- dadora da Casa do Arquiteto e presidente do IAB
dato para o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) – Núcleo Blumenau (2017-2019), em depoimento
- Núcleo Blumenau. Durante os 10 anos acorda- para este livro. Atualmente, Daniela é conselhei-
dos em contrato, a instituição, em parceria com ra federal e 1ª Vice-Presidente do CAU/BR.
historiadores, arquitetos, professores e a FURB, Em fevereiro de 2019, depois de mais de 10
manteve a partir do edital A Casa do Arquiteto — anos de mobilização em torno da Casa do Arqui-
com apoio do CAU/SC — o acervo e suas memó- teto, o IAB - Núcleo Blumenau postou em seu
rias vivos, além de disponibilizar o local para di- blog oficial uma nota informando o desfecho da
versas atividades ligadas à arquitetura, assim relação com o imóvel. Após a notificação do her-
como encontros de profissionais da região. deiro legal com opções como o aluguel do imóvel
Na Casa do Arquiteto, fundada em 2011, o ou a entrada em disputa judicial, os dirigentes do
IAB/Núcleo Blumenau realizou exposição com Núcleo concluíram que não seria possível arcar
uma programação especial em homenagem a com os custos e, em 9 de janeiro de 2019, opta-
Egon Belz apresentando detalhes sobre a sua ram pela saída da Casa. Segundo postagem no
vida e sua obra, a partir da conquista de um edi- blog da arquiteta e pesquisadora Angelina Witt-
tal de patrocínio do CAU/SC, em 2014. A iniciati- mann, em 2021, a residência de Egon Belz encon-
va incluiu o lançamento do documentário “Egon trava-se à venda.

Arquitetura
Moderna 148
BELZ
Residência
particular de Egon
Belz transformada
na Casa do Arquiteto
pelo IAB - Núcleo
Blumenau.

GRANDES NOMES
149 da arquitetura catarinense
R UB E N S ME I S T E R [ 192 2 - 2 00 9 ]

Arquitetura
Moderna 150
Rubens Meister
Precoce, inovador e detalhista podem ser qualidades apontadas
para conceituar a produção e o caráter desse engenheiro-arquiteto
que faz jus à tradução de seu sobrenome: mestre.

P O R J OYC E D I E H L

PARA OS DESATENTOS, algumas dúvidas pairam projetos arquitetônicos públicos e privados, não
sobre o nome de Rubens Meister. Primeiro, sobre a só no Paraná, e mais ainda em Curitiba, como
naturalidade: nasceu em Botucatu (SP), mas mu- também em Santa Catarina.
dou-se com a família para Curitiba (PR) ainda Ainda no primeiro ano como estudante de
bebê. Segundo, se era, enfim, engenheiro ou arqui- Engenharia, venceu, junto a Romeu Paulo da Cos-
teto. O próprio Meister responde, com texto colo- ta, o concurso para o Panteão dos Heróis (1943),
cado na íntegra no livro “Rubens Meister: projeto e monumento histórico de Lapa (PR). Mas foi o
obra”, resultado de ampla pesquisa dos arquitetos concurso para o Teatro Guaíra (Curitiba, 1948),
Paulo Chiesa e Fábio Domingos e da historiadora como recém-formado, que deu início à longa car-
Deborah Carvalho: “se formação se entende como reira: mesmo com premiação em terceiro lugar,
‘a maneira pela qual se constitui uma personalida- foi o projeto escolhido para a construção. A pri-
de, um caráter, uma mentalidade’, a minha é de ar- meira grande experiência arquitetônica de Meis-
quiteto e não de engenheiro: agora, a minha ‘for- ter se tornaria “um ícone da arquitetura moderna
matura’, diplomação escolar, esta sim, é de enge- paranaense”, como descreve o arquiteto Fábio
nheiro”. Recém-matriculado em Engenharia Civil na Domingos no capítulo “Narrativa Arquitetônica”
UFPR (Universidade Federal do Paraná), classifi- do livro “Rubens Meister: projeto e obra”.
cou-se no curso de Arquitetura na Escola Nacional Atuante na Escola de Engenharia da UFPR,
de Belas Artes do Rio de Janeiro, não seguindo começou como professor assistente, chegando a
com os estudos. Mas o título de Arquiteto Honorá- chefe do departamento, além de integrante do
rio concedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil Conselho Técnico e Administrativo e do Conse-
(IAB) em 1997, não deixa dúvidas: trata-se de um lho de Curadores. Presidiu a comissão para criação
arquiteto nato. Meister foi responsável por inúmeros do curso de Arquitetura no Centro Tecnológico

GRANDES NOMES
151 da arquitetura catarinense
da mesma universidade, em 1962. Na procura por historiador Marcelo Sutil, doutor em História
professores, convidou pessoalmente João Batista pela UFPR. Com agenda que incluía relevantes
Vilanova Artigas, como destaca o arquiteto Sal- trabalhos apresentados em convenções interna-
vador Gnoato, mestre e doutor pela USP, no capí- cionais, é descrito como detalhista, de raciocínio
tulo “Rubens Meister, um clássico da arquitetura rápido e alto senso de responsabilidade, qualida-
de Curitiba” no livro “Rubens Meister, Vida e Ar- des que podem ser traduzidas pelo profundo en-
quitetura”, produzido por ele em coautoria com o volvimento com projetos e obras.

Estação Rodoviá­ria
mantém a base do
projeto original de
Meister, de 1968:
sucessivos pórti­cos
modulares de
concreto armado
aparente moldados
in loco servindo de
suporte para lajes
pré-fabricadas.

Arquitetura
Moderna 152
MEISTER
“ Sua arquitetura é clássica e universal, dentro do contexto
da Arquitetura Moderna Brasileira, consagrada
internacionalmente. Meister manteve rigor e coerência
em seu pensamento e na sua poética.”
SALVADOR GNOATO, ARQUITETO, EM “RUBENS MEISTER, VIDA E ARQUITETUR A”

GRANDES NOMES
153 da arquitetura catarinense
Hotel Colon (1963)
em registro de
cartão-postal dos
anos 1970. Prédio
mais alto de Joinville
à época, inovou com
lojas voltadas para
a rua, estrutura
aparente e pilares
recuados.

Arquitetura
Moderna 154
MEISTER
A maestria de Meister
em terras catarinenses

A cidade catarinense que mais concentra Cinema e arquitetura, duas grandes artes eman-
obras de Meister é Joinville, entre públicas, insti- cipadas pela expansão da indústria na passagem
tucionais e residenciais. A marca do arquiteto se do século XIX para o XX, reunidas em um ponto
faz presente também em Jaraguá do Sul, Balneá- da cidade, irradiavam curiosidade e movimento”,
rio Camboriú, Lages, Fraiburgo e Florianópolis. destacam os autores.
Em comum, a identidade própria – do lugar, do Nesse contexto, foram projetados o Cine Co-
uso ou do usuário. lon (Joinville,1956) e o Cine Marrocos (Lages,1964).
Os cine auditórios eram a sua especialidade. Segundo as publicitárias Carina Britto e Emely
No artigo “Espaço e cultura: as antigas salas de Grawe no documentário “Memórias do Cinema
cinema de Santa Catarina”, Bhrenda Batista, Luís de Rua de Joinville”, o Cine Colon, moderno e lu-
Eduardo Candeias, Marillyan Souza, Willian Dal- xuoso para a época, fez parte da vida social da ci-
labrida, Renata Rogowski Pozzo, acadêmicos de dade até fechar, em 1983, tomado por um incên-
Arquitetura e Urbanismo da UDESC, abordam a dio. Pensado como multiuso, foi palco para gran-
importância desses espaços: “o cinema, esta ar- des apresentações, como a Orquestra Casino de
te-técnica, trouxe a magia da modernidade para Sevilla, da Espanha, além de Elis Regina e Nelson
as pequenas cidades catarinenses”, unindo a ex- Mota, e com detalhes: “veio mais moderno, com
periência do cinema com a experiência arquitetô- poltronas mais confortáveis e maiores, com uma
nica. “É notável, que o espectador interiorano beleza estética diferenciada, passando a ser a
frequentava o cinema não apenas para assistir ao primeira opção para a elite da cidade”. O luxo vi-
filme, mas, também, para estar naquela magnífi- nha das 1.200 poltronas estofadas e do moderno
ca construção e usufruir daquela arquitetura. sistema de refrigeração. Junto ao cinema estava

GRANDES NOMES
155 da arquitetura catarinense
o Hotel Colon (1963), o prédio mais alto da cidade elemento vazado na fachada. Internamente, carac-
por anos, com seus 50 quartos distribuídos em terísticas luxuosas como a imponência do saguão
sete andares. No térreo, lojas voltadas para a rua em pé-direito duplo, mezanino, paredes revestidas
em arquitetura inovadora para a época: estrutu- em madeira ou pastilhas, pisos e rodapés em már-
ra aparente, pilares recuados em relação à pru- more, poltronas avantajadas. Pensado para ser
mada e em pé-direito avantajado. Como hotel, multiúso, com seus 1.650 metros quadrados de
Cine Marrocos,
encerrou suas atividades no final de 2021. área construída e palco de 250 metros quadrados,
em Lages, mantém
preservadas as
Já o Cine Marrocos, da então Empresa Lageana tudo nele é original. Chama a atenção a fachada em
características de Cinema e Teatro, é um dos poucos cinemas de painéis de vidro recuados e sobrepostos pelos ele-
originais do rua em pleno funcionamento no país. Remete à mentos vazados. Fechado em 2011 para reforma,
projeto, de 1964. Casa Renaux, obra de Meister (Curitiba, 1952), pelo restauro e adequações às normas de acessibilidade,

Arquitetura
Moderna 156
MEISTER
manteve sua arquitetura e acabamentos originais implantação a 3,5 metros acima da cota origi-
devido ao processo de tombamento do imóvel, que nal, às margens do rio Cachoeira. A obra não
corre na Fundação Catarinense de Cultura. concretizada deu lugar à construção de outro
O Teatro Municipal de Joinville (1988), proje- projeto, tornando-se uma das grandes frustra-
to contratado pela Fundação Cultural de Joinvil- ções de sua vida profissional.
le, com capacidade para 1.200 pessoas, entre Meister teve estreita ligação com Joinville,
plateia e balcão, foi pensado em duas etapas fortemente atrelada ao caráter empresarial da
para a maior diversidade possível de espetácu- cidade, como o pavilhão da Expoville (1968) para
los e para detalhes, como o uso de tijolos apa- abrigar a Feira de Amostras de Santa Catarina (V
rentes para respeitar a cultura local. Meister te- Famosc). Fruto de concurso (1966), o primeiro
ria ajudado, inclusive, na escolha do terreno e na dessa categoria na carreira de Rubens Meister, o

GRANDES NOMES
157 da arquitetura catarinense
A sede da Ciser e,
na página seguinte, o
pavilhão da Expoville,
em Joinville: fachadas
humanizadas.

contrato previa, além do pavilhão, um parque tu- Também de grande porte, a Estação Rodoviá-
rístico. Para atender tamanha complexidade com ria (1968) representou a inserção de uma nova
rapidez de construção, Meister propôs um pro- linguagem na cidade, mesclando a função princi-
cesso construtivo econômico, “um edifício leve, pal com as de centro de convivência e lazer, aos
com apenas quatro apoios, executado em estru- moldes da arquitetura desse setor na época. Ar-
tura treliçada metálica aparente, que foi preen- quitetura como grande “praça coberta” é carac-
chida com tijolos assentados de modo a configu- terizada pelo arquiteto Diogo Mondini Pereira no
rar elementos vazados, possibilitando, assim, a artigo “O imaginário das estações rodoviárias
ventilação natural”, como descrito pelo arquiteto modernistas nas décadas de 1960, 1970 e 1980”,
Fábio Batista no texto sobre a obra, incluída no bem como a “implantação de sucessivos pórti-
capítulo “Narrativa Arquitetônica” do livro “Ru- cos modulares de concreto armado aparente
bens Meister: projeto e obra”. No térreo, planta moldados in loco, suportes para um sistema de
livre, conforme explica Fábio: “a sofisticada solu- cobertura em lajes pré-fabricadas”, no mesmo
ção estrutural possibilitou a existência de apenas texto, citando, inclusive, os projetos de Meister
quatro pilares, o que garantia uma grande diver- em Curitiba e Joinville. De acordo com Fábio Do-
sidade de uso e flexibilidade, como defendeu mingos, o projeto de Joinville serviu de experiência
Meister”. No pavimento superior, carga e descar- para o proposto na Rodoferroviária de Curitiba
ga, aproveitando o desnível do terreno. Com (1969): a organização espacial de forma a não cru-
inauguração divulgada em vários jornais e revis- zar a área de ônibus com a de pedestres e outros
tas da época, o empreendimento segue em pleno veículos, com setor de vendas de passagens vol-
funcionamento como Centro de Convenções e tados para a cidade e setor de embarque e desem-
Exposições Expoville, contemplando cerca de 20 barque voltados para a parte interna. No andar
mil metros quadrados de área coberta. superior, praça de alimentação e outros serviços.

Arquitetura
Moderna 158
MEISTER
A rodoviária de Joinville vem sofrendo diversas livro “Rubens Meister: projeto e obra”: “a convi-
reformas, mas sem descaracterizar a base do vência no decorrer da elaboração do projeto e,
projeto original em termos de concepção espa- posteriormente, na execução da obra favoreceu
cial e construtiva. o surgimento da amizade entre Rubens Meister e
Na sequência deste projeto, Meister desen- grande parte de sua clientela”. Como exemplo, a
volveu obras para grandes empresas da região, de longa data estabelecida com o empresário
como Fundição Tupy, Lumière — Casemiro Silvei- Carlos Adolfo Schneider, fundador da Ciser, que
ra, Ciser (1970 e 1980) em Joinville, e WEG (anos começou bem antes dos projetos planejados
1980), em Jaraguá do Sul, entre outras. É sabido para a família, como se lê no depoimento de seu
que os clientes chegavam ao escritório de Meister filho Carlos Schneider, presidente do Grupo Ciser,
por recomendação, atrelada ao reconhecido pro- enviado com exclusividade para este livro, publi-
fissionalismo e assistência permanente às obras. cado ao final deste texto. E outras: Schneider te-
A convivência com os clientes levou a grandes ria apresentado Meister aos demais empresários,
amizades, fato confirmado por Deborah Carvalho como Eggon da Silva, sócio-fundador da WEG, na
no capítulo “Narrativa pessoal e profissional” do ocasião da festa de 100 anos da empresa.

GRANDES NOMES
159 da arquitetura catarinense
Igreja Santa Inês (1967), Esse envolvimento emerge naquilo que Meis- projetos como “contemporâneos e atuais”, mesmo
em Balneário ter chamou de “identidade própria” a ser preser- passadas tantas décadas.
Camboriú, nesta e
vada. Identidade essa que, tendo a liberdade de Mesmas características são notadas nas obras
na próxima página:
dizer, traz muito do projeto da Casa Carlos F. Sch- em Jaraguá do Sul. São de Meister dois prédios para a
claraboia planejada
para garantir foco neider, dos anos de 1960, para os projetos da Ci- empresa WEG (anos 1980) e a Casa Eggon da Silva.
de luz natural sobre ser (1970-1980), como a presença do tijolo à vista Os projetos apresentam características conhecidas
o altar, centralizado e das telhas cerâmicas mesclados com o concre- do arquiteto, como os tijolos e o concreto aparentes,
no espaço. to aparente, humanizando a fachada. Interna- além de janelas em fita recuadas e ladeadas de bri-
mente, a funcionalidade já conhecida da planta ses, mostrando a preocupação com insolação e chu-
flexível e adaptável à evolução das empresas. Esco- vas. A planta baixa do prédio principal, por exemplo,
lhas que, conforme Carlos Schneider, marcam os segue livre e flexível, com o diferencial de um jardim

Arquitetura
Moderna 160
interno, para onde se voltam vários ambientes, tra- poltronas em colocação radial. Internamente, o
zendo ventilação e iluminação naturais. Além de telhado recebe estrutura em contraste com forro
outras demandas, como área de exposições na am- de madeira. Uma claraboia no topo traz luminosi-
pla recepção e auditório, aos moldes do autor. dade e cria um foco sobre o altar. Já a Capela Ecu-
Não menos importante é a produção de Meis- mênica (1984), em meio ao Parque Ecológico René
ter na arquitetura religiosa. Com amplo trabalho Frey, em Fraiburgo, também nasceu de uma ami-
nesse campo, foge dos padrões tradicionais. Em zade, quando da contratação de Meister para o
comum, o fato de serem pontos turísticos de suas projeto da residência de Willy Frey. Toda em ma-
cidades e a preocupação com a identidade local. deira, material importante para a região, traz a
A Igreja Santa Inês (1967), em Balneário Cambo- modulação triangular, muito usada pelo arquite-
riú, tem formato circular, com altar centralizado e to em seus projetos.

GRANDES NOMES
161 da arquitetura catarinense
Casas atemporais
As casas desenhadas por Meister apresentam A Casa F. Schneider (1964) era uma das prefe-
características da arquitetura orgânica do arquiteto ridas de Meister, conforme conversa com o arqui-
Frank Lloyd Wright, com a obra integrada ao entor- teto Fábio Domingos que, além de um dos auto-
no e individualizadas em termos de demanda e at- res do livro “Rubens Meister: projeto e obra”, é
mosfera esperada por cada cliente. Em comum, os doutorando na USP (Universidade de São Paulo)
materiais – madeira, tijolos aparentes, concreto, sobre o mesmo tema. E é ele mesmo que a des-
pedras naturais – em projetos bem detalhados. creve, em depoimento enviado para este livro:

“A Casa Schneider é um dos projetos residenciais mais relevantes de Rubens Meister devido ao seu por-
te e local de implantação. É localizada em um amplo terreno arborizado, com cota elevada. A residência é
distribuída em três blocos, formando um H. Ao centro, encontra-se a área social, composta pela sala de
estar e um amplo terraço, que tira partido do protagonismo da exuberante paisagem. Ao Norte, encontra-
-se o setor íntimo, formado por três quartos, banheiros, suíte e um pequeno escritório. Ao Sul, parte da
área social, composta pela sala de jantar e sala de almoço. E área de serviço, com cozinha, depósito, quar-
to de empregados, áreas técnicas e acesso ao subsolo. No pavimento inferior, garagem e demais áreas de
apoio. A piscina foi implantada na área central, em um nível de transição entre o terreno e a residência,
protegida por um muro de pedra e pelo jardim.
A topografia acidentada do terreno possibilita que parte da edificação fique em balanço, expondo a
racionalidade do sistema estrutural. Este planejamento, aliado à horizontalidade da construção, confere
leveza e elegância ao edifício. Os materiais utilizados são a pedra, o tijolo, madeira e o concreto aparente,
muito presentes nos projetos residenciais de Rubens Meister. A composição volumétrica e a estratégia pro-
jetual conferem à residência certo ar atemporal pois, mesmo tendo quase 60 anos, a casa ainda se man-
tém contemporânea e perfeitamente adaptada aos dias atuais”.
FÁBIO DOMINGOS BATISTA, ARQUITETO E PESQUISADOR

Vasta, intensa, marcante. Assim se pode tentar — se dermos a ela o devido valor — a identidade de
resumir, em poucas palavras, a vida e a obra desse um ciclo, de um lugar. São projetos que, como os do
arquiteto. Essa, talvez, seja a mais relevante possibi- mestre Rubens Meister, representam um pensa-
lidade da arquitetura quando construída: perpetuar mento, uma evolução, extrapolam uma época.

Arquitetura
Moderna 162
MEISTER
Palavra de cliente
“Meu pai tinha uma amizade muito grande
com o Rubens Meister. As famílias eram amigas.
Meister passou a veranear na prainha da Penha,
próxima à ‘Bacia da Vovó’, como é chamado o lo-
cal, por indicação do meu pai. Como também te-
mos casa na região, tanto eu quanto meu pai o vi-
sitávamos frequentemente durante o verão.
Meister era uma pessoa de boa conversa, inteli-
gente e de muitos bons valores.
Fez os projetos de dois escritórios para a Ciser,
um na década de 1970 e outro na de 1980. Ambos
contemporâneos e atuais até hoje. Projetou a casa
da nossa família (residência Schneider) em mea-
dos da década de 1960. Meu pai valorizava, além
da beleza da arquitetura, os conceitos de durabili-
dade e facilidade de conservação das construções.
Encontrou no Rubens Meister a parceria perfeita.
Meister usava com muita propriedade e arte
os elementos vidro, tijolo e concreto, que aten-
diam a essas expectativas. Posso dizer da nossa
residência que, mesmo após tantos anos, ela con-
tinua absolutamente atual. Características na
casa como ambientes amplos, corredores largos,
muita luminosidade devido às amplas aberturas
de vidro, são mais atuais do que nunca. Mobiliário
de Sergio Rodrigues fazem a decoração. Realmen-
te, um projeto do Meister que nos orgulha.”

CARLOS SCHNEIDER
PRESIDENTE DO GRUPO CISER

GRANDES NOMES
163 da arquitetura catarinense
JO Ã O A R GON P R E T O DE OL I V E IR A F IL HO [ 19 3 1 - 2 02 1]

Arquitetura
Moderna 164
João Argon Preto
O arquiteto e urbanista gaúcho, que criou raízes em Lages, deixou
como legado obras que alteraram o desenho da cidade e trouxeram
melhorias estruturais, assim como projetos que resultaram nas
primeiras edificações verticalizadas e modernas do município.

P O R TAT I A N A G A P P M AY E R

LAGES, NA SERRA CATARINENSE, tem marcas até Naquela época, o jovem porto-alegrense, re-
hoje do traço do arquiteto e urbanista João Argon cém-formado na segunda turma da Faculdade de
Preto de Oliveira Filho, que ajudou a transformar Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande
e modernizar a cidade, criando projetos arquite- do Sul (UFRGS), encontrou Lages vivendo um mo-
tônicos pioneiros na região e no estado. Influen- mento de forte crescimento econômico, impulsio-
ciado pelos movimentos de seu tempo e com um nado pela exploração de madeiras das matas de
olhar voltado para o futuro, João Argon Preto – araucária presentes na área. A partir da década de
que faleceu em janeiro de 2021, aos 89 anos – é o 1940, a cidade começou a deixar suas “feições pro-
idealizador, entre outras obras, do INCO, o pri- vincianas” e a expandir e qualificar o seu espaço
meiro edifício do município, e do Centenário, que urbano, como ressalta a dissertação de mestrado
por cerca de uma década foi o prédio mais alto de “Arquitetura dos cinemas: um estudo da moder-
Santa Catarina. São construções que traduzem nidade em Santa Catarina”, do arquiteto e urba-
em sua linguagem e materiais as referências da nista Ulisses Munarim.
escola moderna que o profissional trouxe com É nesse contexto que João Argon Preto, que é
ele quando chegou à localidade, em 1954. apontado como o primeiro arquiteto da região

GRANDES NOMES
165 da arquitetura catarinense
Cartão-postal serrana do estado e que, em 2013, foi homenageado veio depois dele”, comenta a arquiteta e urbanis-
apresenta a área pelo CAU/SC por ser também um dos primeiros ta, professora e coordenadora do curso de Arqui-
central de Lages
profissionais registrados em Santa Catarina, inicia tetura e Urbanismo da Universidade do Planalto
na década de 1960.
sua carreira, contribuindo com muitas das melhorias Catarinense (Uniplac), Kareenn Zanela Diener.
A imagem revela
projetos de João efetuadas em Lages ao longo de 1950 e 1960. Nesse Durante a pesquisa para o seu livro “Lages
Argon Preto, como intervalo de tempo, foram implementados siste- em Detalhes – Arquitetura e Arte”, lançado em
as largas avenidas mas de tratamento de água e esgoto e de transporte 2018, Kareenn entrevistou João Argon Preto so-
e o Monumento a público, iluminação, houve o remodelamento de bre os desafios que ele enfrentou no começo de
Getúlio Vargas.
praças e jardins e a definição do desenho urbano da sua trajetória e suas principais obras. O arquiteto,
localidade. “Até agora estamos colhendo os frutos que veio para a cidade a convite de um amigo
do trabalho do arquiteto na qualificação viária do para trabalhar, logo abriu uma empresa, a Planalto,
município. Foi ele que planejou nossas grandes ave- em conjunto com outros dois desenhistas, co-
nidas, os primeiros edifícios de vários pavimentos e nheceu sua esposa e fincou raízes no local, onde
alavancou toda uma geração de profissionais que residiu durante a maior parte de sua vida.

Arquitetura
Moderna 166
PRETO
“ na
Até agora estamos colhendo os frutos do trabalho do arquiteto
qualificação viária da cidade. Foi ele quem planejou nossas
grandes avenidas, os primeiros edifícios de vários pavimentos
e alavancou toda a geração de profissionais que veio depois.”
K A R E E N N Z A N E L A D I E N E R , A R Q U I T E TA E U R B A N I S TA .

Enquanto desenvolvia seus primeiros proje- de água e esgoto que concebia. Além disso, nesse
tos, em 1956 o profissional foi convidado a fazer período, ele fez concurso para catedrático em de-
parte da equipe da prefeitura municipal, onde senho – ensinar foi uma de suas grandes paixões.
permaneceu por 15 anos. “Naquela época, ele era Neusa, que é fundadora e presidente da Ong
o único arquiteto atuando no governo da cidade, Casa de Apoio Colibri, voltada a familiares de pa-
que abrangia uma grande região – a qual depois cientes com câncer, acrescenta que, antes de sair
foi desmembrada em novas localidades”, lembra da administração pública, o arquiteto planejou
Neusa Lopes de Oliveira, viúva de João Argon Pre- relevantes obras para o município, como a Aveni-
to. Ela recorda ainda que o marido foi responsá- da Duque de Caixas, efetuada em conjunto com
vel por obras de infraestrutura, como estações o batalhão rodoviário.
de tratamento de água e esgoto e estradas, em “Com esse projeto, o João acabou criando um
todo o extenso território que fazia parte de La- novo eixo de desenvolvimento e o acesso principal
ges. João Argon foi o responsável pela criação da da cidade”, complementa o arquiteto e urbanista
Diretoria de Obras de Viação da cidade. Para o ar- Jorge Raineski, ex-presidente do IAB/SC, inclusive,
quiteto e urbanista, mestre em História e douto- João Argon Preto é um dos fundadores da entidade
rando em Arquitetura e Urbanismo na Universi- no estado, tendo participado da Assembleia Geral
dade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fabiano de Constituição, em três de outubro de 1969. Para
Teixeira dos Santos, o profissional fez trabalhos Raineski, que foi amigo do profissional e a quem
importantes para a cidade, tanto com o seu es- chamava de “meu guru”, a Duque de Caxias é a
critório – projetando edifícios particulares – grande intervenção urbana do arquiteto, com ele-
como em sua passagem pelo poder público. mentos que evidenciam o desenho moderno, por
No tempo em que permaneceu na prefeitura, ser uma longa avenida reta, larga e bem demarca-
João Argon Preto foi também convidado, no final da da, como as de Brasília. “Além do vasto conheci-
década de 1960, a participar de um curso de espe- mento técnico, ele trazia um conceito novo de ar-
cialização na Carolina do Norte (Estados Unidos) quitetura para a região, trazia o modernismo. O
no segmento de hidráulica, conhecimento que João vinha com a influência de Oscar Niemeyer,
contribuiu para a concretização das estruturas Lúcio Costa e de Le Corbusier”, salienta.

GRANDES NOMES
167 da arquitetura catarinense
O INCO, em detalhe de cartão-postal: primeiro empreendimento
moderno e verticalizado da cidade.

Arquitetura
Moderna 168
PRETO
Arquiteto queria introduzir
o que havia de mais moderno
em seus empreendimentos

Antes de planejar edificações alinhadas com Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina
a escola da Bauhaus, João Argon Preto fez um (INCO), que ocupava os dois primeiros andares –
grande trabalho de ampliação da prefeitura de os demais são residenciais. O prédio foi pensado
Lages. Uma construção eclética com viés clássico com sacadas intercaladas, com guarda-corpo me-
por causa dos elementos que constituem o pré- tálico ou de alvenaria, repetição do pavimento
dio e sua fachada, como explica Fabiano Teixeira tipo, fachada com pastilhas cerâmicas e um ele-
dos Santos. A obra foi uma das preferidas do pro- mento característico da arquitetura moderna bra-
fissional, assim como de sua esposa. Com apenas sileira, os brises metálicos – que foram retirados
um pavimento, a estrutura precisava de mais es- há alguns anos por questões de segurança.
paço para abrigar as diversas atividades ali reuni- Na entrada da agência bancária, além dos
das. Para isso, o arquiteto aproveitou o porão dois pilotis da estrutura, havia uma parede
alto para criar um andar novo, mantendo a lin- curva de tijolos de vidro com o logotipo do
guagem e a tipologia do projeto, o que faz com banco. Atualmente, essa parte do INCO tem
que muitas pessoas não percebam a intervenção outra configuração. “Nas fotos da época em
realizada no local. Minucioso, ele empregou blo- que ele foi construído, o edifício está sempre
cos de pedra natural da região da mesma lavra de em destaque na paisagem e se vê a importân-
onde foram extraídos os materiais originais. cia da obra no contexto urbano, marcando
Já no final dos anos 1950, João Argon Preto essa ânsia por modernidade que se tinha em
elaborou o primeiro empreendimento moderno Lages”, pontua Santos. O INCO, na opinião do
e verticalizado da cidade: o INCO. Inaugurado em doutorando em Arquitetura e Urbanismo, é
1958, o edifício com sete pavimentos fica em um um ícone, um dos melhores prédios modernos
ponto central do município e foi financiado pelo de Santa Catarina.

GRANDES NOMES
169 da arquitetura catarinense
Centenário em construção, em cartão-postal da década
de 1960, edifício mais alto do estado na época.

Arquitetura
Moderna 170
PRETO
“Além do vasto conhecimento técnico, ele trazia um
conceito novo de arquitetura para a região, trazia o
modernismo. O João vinha com a influência de Oscar
Niemeyer, Lúcio Costa e de Le Corbusier.”
J O R G E R A I N E S K I , A R Q U I T E T O E U R B A N I S TA

O Edifício Centenário, que é um ponto de re- parte das cabeças das estacas de cimento de 17
ferência até hoje e foi nomeado em alusão à co- metros de profundidade que ele colocou cabia
memoração dos 100 anos de fundação do muni- um fusca”, detalha. Com 24 unidades residenciais
cípio, em 1966, é outro símbolo da cidade conce- e 48 salas comerciais, o edifício tem fachada com
bido pelo profissional. Desenvolvido com linhas pastilhas, que recentemente recebeu uma pintu-
retas e simples, a construção de 12 andares foi, ra 3D em uma de suas faces, e paredes duplas
por aproximadamente uma década, a mais alta para garantir a privacidade dos moradores e dos
do estado. A arquiteta Kareenn Diener revela escritórios, que têm entrada independente.
que, durante a entrevista com o arquiteto, João O local foi escolhido por João Argon Preto e
Argon Preto disse que com essa obra ele “queria por Neusa Lopes de Oliveira para ser a casa da fa-
ser pioneiro”, trazendo o que havia de mais mo- mília – eles casaram-se em 1957 e tiveram três fi-
derno para Lages. Os traços modernos estão im- lhos – João Argon, Paulo Roberto e Mara Delmin-
pressos no empreendimento, com seu volume da (falecida há 21 anos) – e seis netos. Assim que
prismático, verticalização, reprodução do pavi- foi concluído, em 1967, eles se mudaram para o
mento tipo e uso intenso do concreto armado. À Centenário, onde Neusa vive até hoje, passados
frente do seu tempo, a professora da Uniplac as- mais de 50 anos. “Os apartamentos são grandes
sinala que o profissional previu garagens para o e muito bem divididos. O prédio fica na rua cen-
prédio, o que não foi aprovado por aqueles que o tral e chama a atenção de quem chega a Lages”,
contrataram. enfatiza ela. Foi nesse edifício que o profissional
“Ele teve uma preocupação muito grande passou muitas noites trabalhando em sua mesa
com a estrutura e a circulação do Centenário. O de desenho – Neusa conta que ele, quando mais
João Preto falou muito sobre os cálculos que fez jovem, era notívago e fazia todas as suas plantas
para garantir a segurança da edificação e que na com nanquim.

GRANDES NOMES
171 da arquitetura catarinense
Modernismo influenciou
também a criação do monumento
a Getúlio Vargas

No mesmo ano em que a construção do INCO Oliveira. O monumento idealizado pelo arquite-
era finalizada, mais uma das obras de João Argon to foi derrubado no final de 2019, permanecen-
Preto era lançada no município. Em 1958, com a do apenas o painel, que foi realocado. A ação,
presença do então vice-presidente da República que conforme a administração pública foi moti-
João Goulart, como informa reportagem do Jor- vada pela remodelação da praça, gerou mani-
nal Correio Lageano de 2018, era inaugurado na festações contrárias por parte do núcleo de La-
cidade o monumento a Getúlio Vargas. Erguido ges do IAB-SC.
na Praça João Ribeiro, na área central de Lages, a Mas, não foi apenas na arquitetura que João
estrutura em concreto armado era composta por Argon Preto deixou suas marcas. Além de ter
um painel metálico com imagens de trabalhado- sido vereador por um mandato, entre 1970 e 1972,
res do campo e da indústria e de araucárias, pe- uma grande parte da sua carreira foi dedicada ao
destal com o busto do ex-presidente da Repúbli- magistério. Entre ensino médio e superior, ele le-
ca e uma curva sinuosa conectada a um eixo ver- cionou por 49 anos, dando aulas de física e de
tical. “O desenho do João quase desafiava a lei da matemática. O arquiteto, que é descrito por Neu-
gravidade e mostrava a imponência da figura de sa como uma pessoa extremamente estudiosa e
Getúlio Vargas”, observa Jorge Raineski. que adorava ler, fez ainda parte da equipe direti-
O arco do conjunto arquitetônico foi por dé- va que fundou a Universidade do Planalto Catari-
cadas utilizado como uma espécie de escorrega- nense (Uniplac). “Ele foi meu professor no curso
dor. “Muitas crianças adoravam brincar ali, as de Administração da Uniplac. O João foi muito
minhas inclusive. Essa parte foi retirada pela admirado, lembram dele como um homem cul-
prefeitura recentemente para dar mais visibili- to, alegre e comunicativo. Características muito
dade para a Catedral”, destaca Neusa Lopes de próprias dele”, compartilha emocionada.

Arquitetura
Moderna 172
Monumento a
Getúlio Vargas, na
Praça João Ribeiro,
eternizado em
cartão-postal.
Inaugurado em 1958,
foi demolido em
2019, apesar dos
protestos de
arquitetos locais.

Vasta biblioteca
» O arquiteto formou-se em 1953, um ano » Dois dos seus três irmãos foram arquitetos
depois da Faculdade de Arquitetura da – o outro, médico – e influenciaram a deci-
UFRGS ser oficializada a partir da fusão de são dele de seguir a carreira. Apesar de ne-
dois cursos que já existiam no Instituto de nhum dos seus três filhos terem feito Ar-
Belas Artes e na Escola de Engenharia da quitetura, João Argon e Paulo Roberto fize-
instituição. ram Engenharia. Já os netos optaram por
» Ele adorava ler sobre os mais variados te- Medicina e por Direito.
mas, era um exímio conhecedor de Histó- » Era um admirador do arquiteto espanhol
ria e Geografia e deixou uma biblioteca Antoni Gaudí e do seu estilo único, confor-
com mais de seis mil livros. me contou Jorge Raineski.

GRANDES NOMES
173 da arquitetura catarinense
Arquitetura
Moderna 174
EXPRESSÕES

EXPRESSÕES
Exemplares de destaque da Arquitetura
Moderna em Santa Catarina projetados por
diversos profissionais que também fazem
parte da história da arquitetura catarinense.

GRANDES NOMES
175 da arquitetura catarinense
EDIFÍCIO DAS DIRETORIAS
Edifício público que impactou a cidade de Florianó- das fachadas – uma com brise-soleil em toda a sua
polis ao apresentar elementos da moderna cultura extensão e outra com janelas horizontais –, volume
arquitetônica brasileira. É considerado o ícone da em “L” articulado na esquina por uma marquise on-
“variante moderna calcada na chamada Escola Ca- dulada e a utilização de planta livre. A edificação
rioca”, de acordo com o arquiteto Luiz Eduardo Fon- ainda atende às funções do poder público estadual
toura Teixeira. Com 8.542 metros quadrados, em 11 e, em 2022, passa por obras de restauração. O Edifí-
pavimentos, tem sua imponência reforçada pelo pa- cio das Diretorias (1953-1961) foi projetado pelo en-
vimento térreo, de pé-direito duplo. Entre os ele- genheiro Domingos Trindade e está localizado na
mentos, destacam-se o uso de pilotis, o tratamento Rua Tenente Silveira, 162 – Centro, Florianópolis

Arquitetura
Moderna 176
EXPRESSÕES
IPASE IAPC
O prédio do Instituto de Pensão e Aposentadoria dos O prédio do Instituto de Aposentadoria e Pensões
Servidores Estaduais (IPASE) é considerado o primeiro dos Comerciários (IAPC) é uma edificação pública
edifício público de Florianópolis a fazer uso da planta com projeto em planta livre proporcionada pela uti-
livre, em função da estrutura de concreto armado. Os lização da estrutura em concreto armado. Conta
seis pavimentos (subsolo, térreo, quatro pavimentos- com dez pavimentos, sendo subsolo, térreo, oito pa-
-tipo e terraço com apartamento) projetam-se sobre a vimentos-tipo e, no último pavimento, um aparta-
calçada com pilotis, configurando uma galeria coberta, mento para a zeladoria. O IAPC (1954-1958) foi pro-
marcada por pilares. O IPASE (1943-1948) foi projetado jetado pelo arquiteto Hugo de Oliveira Lopes e pelo
pelo arquiteto Raul Pinto Cardoso e está localizado na engenheiro Carlos Francisco Valente e está localiza-
Praça Pereira Oliveira – Centro, Florianópolis. do na Praça Pereira Oliveira – Centro, Florianópolis.

CLUBE DO PENHASCO
O Clube do Penhasco (1954) destaca-se na paisagem,
na encosta de um morro às margens da baía Sul. A edi-
ficação é ícone regional por sua Arquitetura Moderna,
conforme Teixeira e Yunes, “tanto pelas linguagens
formais como pelos experimentos das novas tecnolo-
gias construtivas de concreto”. A característica forma
curva do salão principal proporciona visão panorâmica
do mar, e estabelece referência à Casa do Baile, proje-
tada por Oscar Niemeyer no conjunto da Pampulha de
1942, de acordo com a arquiteta Eloah Rocha Monteiro
de Castro na tese “Jogo de formas híbridas: arquitetura
e modernidade em Florianópolis na década de 50”. Em
2022, a edificação encontra-se sem uso. O edifício foi
projetado por Valmy Bittencourt, com colaboração de
Renato Ribeiro Cardoso, e está localizado no bairro
José Mendes, em Florianópolis. GRANDES NOMES
177 da arquitetura catarinense
TERMINAL RODOVIÁRIO RITA MARIA
O projeto do Terminal Rodoviário de Passageiros de Flo- toneladas cada uma – inicialmente, estava previsto o
rianópolis, de autoria dos arquitetos uruguaios Yaman- concreto protendido, com 75 toneladas cada uma. Com
dú Carlevaro e Enrique Brena, foi vencedor de um con- a substituição, garantiu-se redução de 60% do volume
curso público nacional de arquitetura, conquistando o do material que seria utilizado. A cobertura compreen-
primeiro lugar entre as 33 propostas apresentadas na de dois conjuntos de 77 formas, dispostas lado a lado e
competição, realizada em 1976. Na divisão dos traba- divididas por uma viga/calha central. O edifício foi er-
lhos, Yamandú ficou à frente da coordenação da obra. guido em concreto, vidro e alumínio, com tubulações
No desenvolvimento, contaram com a colaboração do aparentes da rede hidráulica, elétrica e de refrigeração,
arquiteto Ricardo Monti. Um dos elementos mais im- coberto por telhas de argamassa armada. A incidência
portantes foi a cobertura com o uso de uma técnica do vento Sul, constante e forte, embasou a solução das
pouco empregada na época, a argamassa armada, apli- esquadrias de alumínio e vidros temperados e pintados,
cada nos 15.120 metros quadrados de área. As telhas que também permitiram o acabamento plástico final.
em forma de tubos de seção hexagonal foram as maio- Outro fator determinante foi a integração às condições
res peças fabricadas no Brasil, naquele tempo, com o viárias da capital, com condicionantes básicas divididas
material. Elas cobrem vãos de 35 metros, com 2,10 me- em funcionais (acesso direto à ponte Colombo Salles) e
tros de altura, 3 centímetros de espessura e pesam 25 de integração visual da baía Sul com a cidade e do

Arquitetura
Moderna 178
Parque do Aterro com a ponte Hercílio Luz. O sistema de pela relevância construtiva do edifício, quanto no âmbi-
plataformas garantiu fácil visualização e setorização da to pessoal, ao contribuir para a sua vinda definitiva, na
estrutura. Quatro zonas importantes foram definidas década de 1980, para Florianópolis”, afirmou a arquiteta
pelo projeto: setor de embarque, setor de desembarque, Paola Carlevaro, filha de Yamandú, em entrevista ao
plataforma de ônibus e serviços complementares. “O Anuário ArqSC, 10ª edição, 2018. Inaugurado em 1981, o
projeto representa uma das obras mais significativas Terminal Rita Maria está localizado na Av. Paulo Fontes,
de Yamandú Carlevaro, tanto no âmbito profissional, 1.101 – Centro, Florianópolis.

GRANDES NOMES
179 da arquitetura catarinense
CLUBE DOZE DE AGOSTO
Inaugurada em 1964, a edificação representou a ex- foi criada pelo artista Rodrigo de Haro e executada
pansão do Clube Doze de Agosto, até então instala- por Idésio Leal. Uma curiosidade: os arquitetos Moy-
do na Rua João Pinto. Com a nova sede, o clube so- sés Liz e Ademar Cassol são os autores do projeto de
cial tornou-se referência na cidade com a realização interiores do bar e da boate do clube. O edifício foi
de grandes bailes e eventos festivos. Os pilares em interditado em 2013 e permanece com futuro incer-
“V” destacam-se entre os elementos modernos. Em to. A sede do Clube Doze (1956-1964) foi projetada
2010, a fachada recebeu mural de mosaico em cerâ- pelo arquiteto José Rui Soares Cabral e está localiza-
mica, com 3,8 m X 17 m. Batizada de “A Festa”, a obra da na Av. Hercílio Luz, 626 – Centro, Florianópolis.

INSTITUTO ESTADUAL
DE EDUCAÇÃO
Situado em área de expansão do Centro, o edifício,
com frentes para as Avenidas Mauro Ramos e
Hercílio Luz e cuja articulação configura pátios in-
ternos, caracteriza-se por elementos modernos
como a horizontalidade, a sequência de pilares
em “V”, rampas, janelas horizontais e grandes su-
perfícies envidraçadas. O Instituto Estadual da
Educação (1958-1963) foi projetado pelos arquite-
tos Alfredo D’Aquino e Olavo Redig de Campos e
está localizado na Av. Mauro Ramos, 275 – Centro,
Florianópolis.
Arquitetura
Moderna 180
PARQUE FRANCISCO
DIAS VELHO
Como parte do projeto de urbanização do aterro da
baía Sul, em Florianópolis, o projeto do parque me-
tropolitano foi elaborado pelo escritório do paisagista
Roberto Burle Marx, em coautoria com José Walde-
mar Tabacow e Haruyoshi Ono, na década de 1970. Na
zona principal do projeto estava situada uma grande
praça com atividades múltiplas, que seria conectada
às duas demais zonas por passarelas, de acordo com
a arquiteta Luiza Helena Ferraro na dissertação “En-
tre terra e mar: aspectos morfológicos e patrimoniais
do aterro da baía Sul - Florianópolis (SC)”. “Caracteri-
zada como uma praça seca, bastante recorrente nos
projetos de Burle Marx e representativa do paisagis-
mo moderno, possibilitava os usos diversos por meio
de uma composição do desenho de piso, diferentes inserção de duas das três passarelas e de outros ele-
materiais e níveis, e relacionados a alguns elementos mentos previstos, além de fatores relacionados à
vegetais que marcavam determinados áreas de estar ocupação da região nos anos seguintes. Inaugurado
e percursos, como as alamedas de palmeiras impe- em 1979, o parque metropolitano foi batizado de
riais, visíveis até hoje no espaço”, descreve. Conforme Francisco Dias Velho em 1982, em homenagem ao
Luiza Helena, o projeto foi descaracterizado pela não fundador de Florianópolis.

BIBLIOTECA PROF.
BARREIROS FILHO
O arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé) também proje-
tou a biblioteca pública municipal, concebida com ele-
mentos pré-fabricados voltados a um processo de “se-
rialização” da arquitetura, ilustrativo das pesquisas do
arquiteto. De acordo com Teixeira e Yunes, é um “exem-
plar de importante representação arquitetônica no pa-
norama moderno da pré-fabricação nacional”. Inaugu-
rada em 1988, a biblioteca está localizada na Rua Evan-
gelista da Costa, 1.160 – Estreito, Florianópolis.

GRANDES NOMES
181 da arquitetura catarinense
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)
Biblioteca Central Reitoria e Praça da Cidadania
O projeto foi desenvolvido em 1974 pelos arquitetos Implantada na área central do campus, a edificação
Luiz Felipe Gama D’Eça e David Ferreira Lima - filho do foi projetada em 1959 pelo arquiteto Luiz Felipe
fundador e primeiro reitor da UFSC, João David Ferrei- Gama D’Eça em coautoria com a divisão de obras da
ra Lima — para ser executado em etapas. A primeira UFRGS, Fernando Gonzales, Ari Mazzini Canarim e
ala foi inaugurada em 1976 e tinha como diferencial Carlos Max Moreira Maia. Em 1990, a fachada princi-
uma rampa externa para acesso ao segundo pavi- pal recebeu a obra “Muro da Memória”, criada pelo
mento, e o acesso ao térreo pela fachada leste. O pro- artista Rodrigo de Haro. Com 440 metros quadrados
jeto da Ala 2, nos anos 1990, alterou o planejamento, de área, o painel de mosaico foi executado em cerâ-
com a demolição da rampa externa e a incorporação mica pelo artista Idésio Leal.
da área no espaço interno. Diversas intervenções de A praça foi encomendada pela direção do Departa-
reformas foram realizadas ao longo dos anos. mento de Engenharia e Arquitetura da UFSC. O projeto
original, desenvolvido pelo paisagista Roberto Burle
Marx em coautoria com os arquitetos José Wal­demar
Tabacow e Haruyoshi Ono, entre os anos 1969 e 1970,
abrangia todo o campus da universidade, com calça-
das, passarelas, rótulas e a incorporação de 81 espécies
vegetais adaptadas ao clima local. Como os recursos
enviados pelo Governo Federal não foram suficientes,
a obra foi executada parcialmente, limitando-se à Pra-
ça da Cidadania, mas sem atender a proposta inicial de
ser um local de convergência, com áreas de estar, no
centro do campus.

Arquitetura
Moderna 182
PASSARELAS DE PEDESTRES
É do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), um dos mes- metálicas apoiadas em torres circulares, nas quais se ar-
tres da Arquitetura Moderna brasileira, o projeto de ticulam derivações ou acessos. Os pisos foram executa-
importantes passarelas de pedestres em Florianópolis: dos em placas de argamassa armada pré-moldadas e
a do Terminal Rita Maria, na Av. Paulo Fontes, no Cen- rejuntadas no local, “formando um conjunto rígido que
tro, e as do elevado Vilson Kleinübing, na Av. da Sauda- contribui para o contraventamento da estrutura”, nas
de (foto), no bairro Trindade. Elas foram projetadas en- palavras do próprio Lelé, destacadas pelo arquiteto José
tre 1986 e 1989, na mesma época das famosas passare- Fernando Minho no portal Ele-Lelé. O arquiteto proje-
las criadas por ele para integração do sistema de trans- tou passarelas como essas também em Belo Horizonte
porte coletivo de Salvador (BA), as quais foram proje- (MG) e em Brasília (DF), no mesmo período. As de Flo-
tadas com um sistema estrutural simples de treliças rianópolis passam, em 2022, por obras de recuperação.

GRANDES NOMES
183 da arquitetura catarinense
LAGOA IATE CLUBE
O Lagoa Iate Clube (LIC), inaugurado em 1969, é o único em arquitetura pela USP, no artigo “O Lagoa Iate Club
projeto de Oscar Niemeyer executado em Santa Ca- de Oscar Niemeyer, como espaço museográfico para
tarina. O grande mestre da Arquitetura Moderna bra- Florianópolis”, publicado no portal ArquiMuseus. Se-
sileira projetou a sede do clube, com “sentimento de gundo ele, partindo dos croquis de Niemeyer, o enge-
artista”, como destacava a publicidade de lançamen- nheiro Admar Gonzaga e José Cipriano da Silva, técni-
to do empreendimento no jornal O Estado de 10 de co em carpintaria civil-naval, seu funcionário, viabili-
agosto de 1969, assinado por Admar Gonzaga, pro- zaram a construção do clube. Desde a inauguração, o
prietário da imobiliária A. Gonzaga, sócio-fundador espaço sofreu diversas intervenções ao longo do tem-
do LIC. “Concebido sob a forma de um conjunto de po, descaracterizando o projeto inicial.
pranchas de esboços ou croquis elaborados em 1969 Conforme Yunes, a concepção original do clube previa
pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o projeto do Iate Clu- uma grande marquise que abrigava espaços abertos e
be faz parte de um complexo concebido originalmen- setores fechados por esquadrias de madeira e vidro,
te para um loteamento à margem da Lagoa da Con- permitindo a visão e a convivência com a paisagem
ceição, denominado Centro Internacional de Turismo circundante. Quatro espaços/setores fechados foram
– CIT”, destaca o arquiteto e urbanista e professor definidos: sala de estar retangular, duas salas circulares
aposentado da UFSC Gilberto Sarkis Yunes, doutor — uma de jogos infantis e outra de adultos —, e um

Arquitetura
Moderna 184
restaurante em forma elíptica. A forma orgânica do balneário Praia do Forte, atual Jurerê, parcialmente
traçado teria inspiração no desenho do contorno da realizado. A iniciativa foi da Imobiliária Jurerê, dirigida
lagoa. “Observa-se que esta solução formal remete por Aderbal Ramos da Silva, que anunciou o início das
diretamente à projetada para a Casa de Baile, em Belo obras de urbanização do balneário-modelo e a cons-
Horizonte, da marquise do Parque Ibirapuera, em São trução de um hotel, ambos projetados por Oscar Nie-
Paulo, ou mesmo da Casa das Canoas, no Rio de Janeiro”, meyer, no jornal O Estado de 13 de março de 1957.
descreve o pesquisador. “Um dos primeiros loteamentos destinados ao lazer
Outros projetos desenvolvidos por Niemeyer em San- na Ilha seguiu, em seu desenho urbano, o ideário mo-
ta Catarina – conforme catalogação do Centro de Do- derno das superquadras Sul de Brasília. A alternância
cumentação e Pesquisa da Fundação Oscar Niemeyer entre ruas e alamedas conferiu aos lotes assim proje-
– foram a sede da Biblioteca Pública Estadual, em Flo- tados um caráter particular, exemplificando uma
rianópolis, em 1958, e a sede da Escola de Ballet Bol- ocupação compatível e harmoniosa da borda maríti-
shoi, em Joinville, em 2001, ambos não executados. ma”, destacam Teixeira e Yunes em “Itinerários da Ar-
Há registro, ainda, de um marco na cidade de Itajaí, quitetura Moderna de Florianópolis”. O LIC está loca-
sem referência de data. Contudo, há mais um projeto lizado na Rua Hyppólito do Valle Pereira, 620 - Lagoa
atribuído a ele em Florianópolis, o do loteamento do da Conceição, Florianópolis.

GRANDES NOMES
185 da arquitetura catarinense
BANCO NACIONAL
A agência de Joinville traz características vistas em
outros projetos do arquiteto Sidonio Porto para as
agências do antigo Banco Nacional, como esquina
bem marcada, pé-direito duplo, fachada recuada em

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL vidro, o paisagismo, a mistura de materiais, como


concreto aparente, alumínio e tijolos maciços. Inter-
Em terreno de esquina, no Centro de Joinville, a edifi- namente, mantém a mesma linguagem dos demais,
cação chama a atenção pela composição de brises- incluindo escada monumental em concreto. Proje-
-soleils verticais, em desenho detalhado pelo arqui- tada em 1974, a edificação está localizada na Rua
teto Antonio Alberto Cortez, sombreando e ventilando Príncipe, 177 – Centro, Joinville, porém, bastante des-
o interior da edificação, com fachada recuada em es- caracterizada, abrigando atualmente uma farmácia.
quadrias com vidro. A solução proporciona sombra e
proteção para os pedestres, além do apelo estético
por meio da instalação de peças com diversas alturas,
criando um efeito cênico. Cortez foi um dos primeiros
CLUBE DE
RADIOAMADORES DE
arquitetos a atuar na cidade, tendo participado da
fundação do Núcleo Joinville do IAB, em 1980. Proje-

JOINVILLE (CRAJE)
tada nos anos 1970, a edificação está localizada na
Rua do Príncipe, 547.
O projeto da sede tem autoria do arquiteto Joaquim
Guedes – considerado um expoente da chamada
“Escola Paulista” – e, como responsável pela cons-
trução, o engenheiro Harry Schmidt, que nada te-
riam cobrado pelos seus serviços profissionais. O
prédio principal chama a atenção pela cobertura in-
clinada sem laje, com forro de madeira, e os panos
de vidro que não seguem a prumada. Nos demais
ambientes, nota-se a despreocupação com o alinha-
mento dos prédios, o aproveitamento do perfil do
terreno e a presença dos tijolos aparentes. A edifica-
ção, projetada em 1969 e inaugurada em 1973, está
localizada na Rua Saguaçu, 365 - Saguaçu, Joinville.

Arquitetura
Moderna 186
EXPRESSÕES
CENTRO INTEGRADO DE
ATENÇÃO À CRIANÇA (CIAC) MUSEU ARQUEOLÓGICO DE
Como coordenador técnico do Programa CIAC – SAMBAQUI DE JOINVILLE
Centro Integrado de Atenção à Criança do Governo Concebido para a guarda permanente de materiais ar-
Federal, criado pelo Governo Collor no início dos queológicos da região, o projeto foi desenvolvido em
anos 1990, João Filgueiras Lima (Lelé) desenvolveu o 1969 pelo arquiteto mineiro Sabino Machado Barroso,
projeto e assumiu a execução de 5 mil CIACs no país com paisagismo do arquiteto joinvilense Dagoberto
– unidades educacionais com atividades culturais, Koehntopp. Do projeto original, o único volume cons-
esportivas e de atenção à saúde, com a consultoria truído é o que se destina ao pavilhão de exposições:
da Promon Engenharia. O projeto era resultado das uma grande caixa com iluminação natural indireta,
pesquisas projetuais e construtivas desenvolvidas preservando os achados arqueológicos. Uma curiosi-
por ele desde os anos 1980. dade: Sabino atuou como estagiário de Oscar Nieme-
Este foi o projeto escolar “mais intrincado de Lelé”, por yer, integrando a equipe responsável pela construção
empregar mais de 200 tipos diferentes de peças pré- de Brasília, sendo o primeiro a se deslocar à futura ca-
-moldadas de argamassa armada, enquanto as primei- pital federal. Começou a atuar no IPHAN em 1965, e
ras escolas projetadas não utilizavam mais do que 20 ti- um dos seus primeiros projetos foi o estudo para este
pos de elementos, de acordo com o arquiteto Sergio museu. Inaugurado em 1971, o MASJ está localizado
Kopinski Ekerman no artigo “Um quebra-cabeça cha- na Rua Dona Francisca, 600 – Centro, Joinville.
mado Lelé (1)”, publicado no portal Vitruvius. Segundo
ele, com o impeachment do presidente na época, final
de 1992, o projeto perdeu continuidade e apenas poucas
unidades foram construídas conforme o projeto origi-
nal. “Ainda assim, o modelo mostra-se capaz de se
adaptar às mais diversas realidades geográficas, numa
solução de rápida construção e grande eficácia”, destaca
Ekerman. Joinville, por exemplo, recebeu duas unidades,
que foram assumidas pelo município: o CIAC Prof. De-
sembargador Francisco José Rodrigues de Oliveira, na
Rua Agostinho dos Santos, 568, bairro Comasa, e o CIAC
Prof. Mariano da Costa, na Av. Alwino Hansen, 1250,
bairro Adhemar Garcia, ambos inaugurados em 1994.
GRANDES NOMES
187 da arquitetura catarinense
CATEDRAL DIOCESANA SÃO FRANCISCO XAVIER
Pensada para ser grandiosa, a partir do projeto desen- como descreve a arquiteta Farida Mirany de Mira na
volvido pelo arquiteto René Marie Felix Mathieu em dissertação “Arquitetura Moderna em Joinville: A Ca-
1959, a catedral tem desenho orgânico. O átrio recebeu tedral Diocesana São Francisco Xavier”. Arquiteto
cobertura de concreto de dupla curvatura, sustentada formado pela Ecole Nationale Superieuredes Beaux-
por delgadas colunas; a cobertura, em duas cúpulas -Arts de Paris, França, René Mathieu dedicou-se des-
nervuradas em concreto armado em alturas diferen- de cedo à execução de estruturas de concreto arma-
tes, deixa entrar luz natural, apoiadas por pilares em do, especializando-se na construção de igrejas, esco-
cruz; 12 colunas representam os apóstolos. Duas cape- las, pontes, entre outros. É dele também o projeto do
las cilíndricas laterais, com fechamento em elementos Fórum de Blumenau (1960) e da Igreja Cristo Rei do
vazados, assim como os 20 vitrais de Lorenz Heilmair bairro Velha (1969), em Blumenau. Inaugurada em
que mostram uma caminhada teológica, reforçam ain- 1977, a Catedral São Francisco Xavier está localizada
da mais a utilização da luz diurna como protagonista, na Rua do Príncipe, 724 – Centro, Joinville.

ELETROSUL
Com 22.770 metros quadrados de área construída, o
edifício caracteriza-se pelo conceito difundido pela “Es-
cola Paulista” de uma arquitetura estabelecida em tor-
no de um vazio central. As quatro fachadas recebem o
mesmo tratamento e são marcadas por brises em alu-
mínio. Destaque para a cobertura translúcida, que pro-
porciona incidência de iluminação natural na área de
circulação, no vazio central do edifício. A estrutura é em
concreto aparente, dividida em módulos separados por
juntas de dilatação. Projetado pelos arquitetos Luiz For-
te Neto e Orlando Busarello, em 1975, e inaugurado três
anos depois, o edifício está localizado na Rua Deputado
Antônio Edu Vieira, 355 – Pantanal, Florianópolis.
Arquitetura
Moderna 188
JARDIM SUSPENSO
Projeto iniciado na década de 1970, o Jardim Suspenso de 2.320 metros quadrados e está implantado na co-
integra o patrimônio histórico e arquitetônico da Cia. bertura do edifício do Centro Social, no ponto central
Hering, em Blumenau, e foi desenvolvido pelo paisa- do complexo industrial. A inauguração aconteceu em
gista Roberto Burle Marx, em coautoria com os arqui- 1980, como parte das comemorações do centenário
tetos José Wal­demar Tabacow e Haruyoshi Ono. O con- da empresa.
vite partiu do arquiteto Hans Broos, responsável pelas Localizado na Rua Hermann Hering, 1.740, no bairro
demais edificações do complexo da companhia. O Jar- Bom Retiro, o Jardim Suspenso está aberto à visitação
dim, que abriga 41 espécies de plantas, tem área total mediante agendamento.

GRANDES NOMES
189 da arquitetura catarinense
PARQUE CENTENÁRIO
Em Criciúma, o conjunto de obras do arquiteto catari-
nense Manoel Coelho inaugurado em 1980, contem-
pla a sede da Prefeitura, o Monumento às Etnias, o
Centro Cultural e o Centro Desportivo, planejados em
celebração ao centenário da cidade. Em comum, o uso
do concreto aparente, as plantas flexíveis e a escolha
dos materiais em paleta mínima, facilitando a manu-
tenção. A sede da Prefeitura apresenta planta quadra-
da em prédio sem frente ou fundo, com pátio central.
Já o Centro Cultural contempla teatro, biblioteca, sa-
las de música e de dança, tendo brises de concreto
protegendo as aberturas e conferindo movimento às
fachadas. Grandes placas de concreto, como portas
pivotantes, marcam esses dois prédios. O Monumen-
to às Etnias faz alusão à riqueza do solo, de onde
emergem cinco placas de concreto de até 33 metros
de altura, representando as etnias colonizadoras de
Criciúma: italiana, polonesa, alemã, portuguesa e afri-
cana. No subsolo, está o espaço destinado às exposi-
ções. Manoel Coelho coordenou o projeto de desen-
volvimento urbano de Criciúma a convite do arquiteto
Altair Guidi, prefeito da cidade entre 1977 e 1983, abran-
gendo essas edificações, além de sistema de circulação
viária, mobiliário urbano e identidade corporativa.

Arquitetura
Moderna 190
HOSPITAL REGIONAL DO OESTE
De caráter monumental, o projeto do Hospital Regio- arquitetura de hospitais de Irineu Breitman”, publica-
nal de Chapecó é um dos destaques do extenso port- do na revista IPH. Outros aspectos destacados por Vi-
fólio do arquiteto gaúcho Irineu Breitman – reverencia- cente são a adoção de porão técnico, permitindo a
dos entre os arquitetos Modernos brasileiros dedica- execução de instalações aparentes, e a cobertura do
dos à humanização do edifício hospitalar, assim como último pavimento da base executada em sheds de
o arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), conforme o ar- concreto armado, para aproveitamento da ilumina-
quiteto Luiz Carlos Menezes de Toledo na tese “Feitos ção e da ventilação naturais. O projeto foi desenvolvi-
para cuidar: a arquitetura como um gesto médico e a do com a consultoria do médico e administrador Pau-
humanização do edifício hospitalar”. Com 19 mil me- lo Lindolfo Lamb, importante colaborador nos proje-
tros quadrados de área, a edificação apresenta um par- tos de Irineu Breitman. De acordo com Toledo, a con-
tido descrito por Toledo como “vertical escalonado”, tribuição do arquiteto “se situa entre as iniciativas
em que as diferentes unidades funcionais, na forma de contemporâneas mais importantes para o desenvol-
blocos superpostos, são claramente identificadas. vimento do edifício hospitalar”. Outros projetos de-
O efeito é resultado da variação entre apartamentos senvolvidos por ele em Santa Catarina são o Hospital
e enfermarias, “que gerou quartos com comprimen- Regional de Joinville (1979), o Hospital Regional de
tos diferentes, sendo que os maiores foram estrutu- São José (1979) e o Hospital Infantil Joana de Gusmão
rados em balanço, conferindo um belo jogo de alter- (1976), em Florianópolis. Inaugurado em 1980, o Hos-
nância volumétrica nas fachadas”, como explica o ar- pital Regional do Oeste está localizado na Rua Floria-
quiteto Erick Rodrigo da Silva Vicente no artigo “A nópolis, 1.448 E – Santa Maria, Chapecó.

GRANDES NOMES
191 da arquitetura catarinense
REFERÊNCIAS
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TOLEDO, L. C. Feitos para cuidar: a arquitetura como um gesto médico Gramlich - Ex “Casa do Arquiteto” - À venda em Blumenau. 22 abr. 2021.
e a humanização do edifício hospitalar. Tese de doutorado. Programa de Disponível em: http://bit.ly/3O4v1Ak. Acesso em: 1 out. 2022.
Pós-Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, YUNES, G. S. O Lagoa Iate Club – LIC, de Oscar Niemeyer, como espa-
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http:// ço museográfico para Florianópolis. [S.l.: s.d.]. Disponível em: http://
bit.ly/3g5Nhgb. Acesso em: 1 out. 2022. bit.ly/3UQrYhn. Acesso em: 1 out. 2022.

GRANDES NOMES
195 da arquitetura catarinense
FICHA TÉCNICA
P R O D U Ç ÃO E D I TO R I A L O R G A N I Z AÇ ÃO E E D I Ç ÃO
E IDEIA ORIGINAL Letícia Wilson
Letícia Wilson
I D E N T I DA D E V I S UA L
T E X TO S Andrezza Nascimento
Cristiano Santos
D I AG R A M AÇ ÃO
Egon Belz e Hans Broos
Eduardo de Faria | Officio
Joyce Diehl
WEBDESIGN
Fernando Carneiro, Roberto Veronese,
Rafael Roza
Rubens Meister e Expressões
I M P R E S S ÃO
Letícia Wilson
Introdução, Ademar Cassol e Carmem Seara Cassol, Gráfica Elbert
Odilon Monteiro, Pedro Paulo de Melo Saraiva e Expressões 300 exemplares
Simone Bobsin C A PA
Moysés Liz e Expressões Edifício Ceisa Center – projeto de Liz Cassol Monteiro.
Tatiana Gappmayer Foto: Fernando Teixeira
Gottfried Böhm e João Argon Preto de Oliveira Filho C A PA I N T E R N A
R E V I S ÃO T E X T UA L
Detalhe fachada Edifício Portobello - projeto Liz Monteiro.
Cláudia Bechler Foto: Fernando Willadino
A S S I S T Ê N C I A D E P R O D U Ç ÃO ISBN
Jade Luckner 978-65-87893-08-2
Josi Tromm Geisler
Patrícia Pozzo
Raquel Mödinger
COM ITÊ ED ITO R IAL
Arquitetos e urbanistas Luiz Eduardo Fontoura Teixeira (in memoriam) e
Karine Daufenbach (UFSC), Gabriela Morais Pereira (UDESC), Amilcar Bogo (FURB),
Aline Eyng Savi (UNESC), Marcia Heck e José Alberto de Oliveira Grechoniak
(UNIPLAC), Marcelo Eichstadt Nogueira (UNISUL), Alessandra Devitte (UNIVALI), Paula
Batistello (UNOCHAPECÓ), Marila Filártiga (CESUSC), Júlia Fiuza Cercal (ESTÁCIO),
Douglas Virgílio (IAB-SC), Thiago Borges Mendes (SASC), Rudivan Cattani e
Alexandre dos Santos (DOCOMOMO BRASIL), além de Ronaldo Martins
(presidente), Marcos Jobim (associado) e Leonardo Bertoldi Borges (convidado) –
AsBEA-SC, e jornalista Letícia Wilson – Santa Editora.

Arquitetura
Moderna 196
CR ÉD ITOS F OTO G R AFIA S E O U T R A S I M AG EN S
Charles Steuck - Acervo Centro Giorgi Elias - Drones FlySul Ronaldo Azambuja Acervo CISER
de Memória Ingo Hering Pág. 96 Págs. 114, 118, 121, 123, 124, 178 e 179 Págs. 158 e 163
Págs. 189 Guilherme Llantada | Diagram Acervo arq. Fernando Carneiro Acervo Criciúma Clube
Cristiano Mascaro - Acervo Págs. 30-31, 33 (acima) e 56 Pág. 94 (acima, à direita) Pág. 88 (direita)
Centro de Memória Ingo Hering Hans Raun / coleção Memória Acervo Arquivo Central CREA-SC Acervo Fanpage Bela Lages
Págs. 129 e 131 Iconográfica Arquivo Histórico Pág. 67 por Julio Vasco
Eduardo Beltrame de Joinville Acervo arq. Angelina Wittmann Pág. 173
Págs. 76-77 (acima) Pág. 154 Pág. 140 Acervo IAB-RS
Elvis Palma Fotografias Henrique Almeida – Acervo Acervo arq. Carmem Seara Cassol Pág. 100
Pág. 111 Fotográfico Agecom/UFSC Pág. 63 Acervo IAB-SC - Núcleo Blumenau
Fabrizio Motta Pág. 182 (acima) Págs. 142, 143, 145 (centro), 146 (abaixo) e 149
Acervo arq. Fabiano
Págs. 152-153, 186 (abaixo) e 187 Lio Simas - Divulgação Letícia Teixeira dos Santos Acervo IPH / Coleção Irineu Breitman
Fabrizio Motta | Acervo Expoville Wilson Págs. 166, 168 e 170 (acima) Pág. 191
Pág. 159 Pág. 199
Acervo arq. Karine Daufenbach Acervo Lagoa Iate Clube (LIC)
Faustino Zappelini - Lucas Peres - Divulgação Joyce Diehl Págs. 130, 132, 133, 134, 135 (abaixo), 137 e 138 Pág. 184
Acervo dos municípios brasileiros Pág. 199
Acervo arq. Leonardo Bertoldi Borges Acervo Noll & Odebrecht
Biblioteca IBGE Marcelo Martins | Acervo Pág. 61 (direita) Págs. 112, 116, 120 e 125
Pág. 93 Prefeitura de Blumenau
Págs. 145 (acima) e 146 (acima) Acervo arq. Luiz Eduardo Acervo PPMS Arquitetos Associados
Felipe Carneiro - Divulgação Fontoura Teixeira Págs. 68, 73, 75, 77 (abaixo), 78-79, 81 e 85
Cristiano Santos Marcos Porto Pág. 176 (direita acima) e 177 (abaixo)
Pág. 199 Págs. 106, 109, 160 e 161 Acervo Santa Editora
Acervo arq. Moysés Liz Pág. 33 (abaixo) e 103
Fernando Teixeira Mariana Boro - Págs. 44, 45 (abaixo), 52 e 53
Pág. 176 (esquerda e à direita abaixo) e capa Divulgação Simone Bobsin Acervo SATC
Pág. 199 Acervo Rubens Meister Pág. 90 e 91
Fernando Willadino Pág. 150
Págs. 12, 26, 34-36, 37 (direita), 38-42, 47, Mariana Eli | Acervo CGT Eletrosul Arquivo Histórico de
49, 54, 58, 60, 61 (esquerda), 66, 71, 83, Pág. 188 (abaixo) Acervo arq. Sidonio Porto Balneário Camboriú
84, 135 (acima), 177 (acima), 180, 181 Pág. 186 (acima à direita) Pág. 109 (acima)
Pipo Quint -
(abaixo), 183 e capa interna Acervo Fotográfico Agecom/ Acervo arq. Ulisses Munarim Acervo dos municípios
Fundação Cultural de UFSC Págs. 156 e 157 brasileiros | Biblioteca IBGE
Florianópolis Franklin Cascaes / Pág. 182 (abaixo) Acervo CAU-SC Pág. 37 (esquerda)
Casa da Memória Roberto Boell | Acervo UDESC Pág. 164 Reprodução Fanpage Ed. Normandie
Págs. 74, 181 (acima) e 185 Pág. 45 (acima) Acervo Centro de Memória Ingo Hering Pág. 103 (croqui)
Gabriel Rosa Mendes Rodrigo Horn Schneider | RHSPhotos Págs. 126 Reprodução Revista Acrópole n. 232
Págs. 86, 88 (esquerda), 92 (sobre acervo Págs. 186 (acima à esquerda) e 188 (acima) Pág. 82
arq. Fernando Carneiro), 94, 98 e 190

A reprodução de imagens de obras nesta publicação tem o caráter pedagógico e científico, amparado
pelos limites do direito de autor no art. 46 da Lei n. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III.

GRANDES NOMES
197 da arquitetura catarinense
OS AUTORES ORGANIZ ADORES

www.asbeasc.org.br

A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura D I R E T O R I A G E S T Ã O 2 0 2 1 -2 0 2 2


(AsBEA), fundada em 1973, é uma entidade independente,
PRESIDENTE CO N S E L H O D E L I B E R AT I VO
de abrangência nacional, sediada na cidade de São Paulo.
Ronaldo Matos Martins Carlos Alexandre Vieira Lopes
É a única representante da atividade empresarial que ATO 9 Arquitetura Carlos Lopes Arquitetura
congrega empresas de arquitetura e fornecedoras de pro- VICE-PRESIDENTE FINANCEIRO Giovani Bonetti
ARK7 Arquitetos
dutos e serviços do setor da construção civil. Patricia Moschen
MM Arquitetura Conectada Henrique Pimont
O papel da entidade é contribuir para a contínua evolu- Pimont Arquitetura
SUPLENTE
ção no campo da arquitetura, para a valorização da sua im- CO N S E L H O F I S C A L
Luiz Eduardo de Andrade
portância no desenvolvimento urbano e melhoria qualita- José Angelo Casagrande Mincache
Arquidois Arquitetura e Interiores
tiva da construção civil no país. Trata também de outros Bittencourt e Mincache Arquitetura
V I C E - P R E S I D E N T E R E L AÇÕ E S
assuntos relacionados à profissão que contribuam para a INSTITUCIONAIS Luiz Fernando Zanoni
Marchetti e Bonetti Arquitetos
formação do arquiteto e urbanista. A troca de conheci- Ricardo Martins da Fonseca
PSF Arquitetura D I R E TO R A G R U P O D E T R A B A L H O
mentos, experiências e vivências são sempre temas em
SUPLENTE Carolina Gobbi Mocelin
voga, trazendo novas ideias e inspirações, mantendo os MM Arquitetura Conectada
André Lima de Oliveira
profissionais atualizados com realidades e soluções. Studio Methafora SUPLENTE

Entre as dez regionais atuais, a AsBEA Santa Catarina V I C E - P R E S I D E N T E E V E N TO S Maria Andrea Triana Montes
DUX Arquitetura Bioclimática
desponta como uma das mais atuantes e representativas Maria Aparecida Cury Figueiredo
Cury Figueiredo Studio de Arquitetura D I R E TO R R E G I O N A L
no país. A entidade foi fundada em 2006 por um grupo de
SUPLENTE Matheus Szomorovszky
oito profissionais que almejava o fortalecimento da ativi- Szoma Arquitetura
Andréa Hermes
dade empresarial profissional no estado, assim como o re-
AT Arquitetura SUPLENTE
conhecimento, a regulamentação e o relacionamento co- Fábio Bubniak
V I C E - P R E S I D E N T E CO M U N I C AÇ ÃO
mercial dos arquitetos com a indústria. Como princípio, as- Elo Arquitetos
Marina Makowiecky
sume a responsabilidade de zelar pela qualidade do exercí- Allume Arquitetura de Iluminação SUPLENTE

cio da arquitetura e do urbanismo e trabalhar com serieda- SUPLENTE Elaine Castro


Queiroz e Castro Arquitetura
de e ética no mercado. Atualmente, a AsBEA-SC conta Ana Carolina Melo da Silva
Elo Arquitetos
com 66 associados, sendo 52 escritórios de arquitetura e 14
empresas/lojistas.

Arquitetura
Moderna 198
Letícia Wilson
Jornalista formada pela Famecos/PUCRS, cria, edita e produz con- À frente da Santa Editora, empresa
teúdo e produtos editoriais desde 1997, especialmente para os que fundou em 2011, é editora, escrito-
segmentos de arquitetura, construção civil e desenvolvimento ra, produtora de conteúdo e atua tam-
urbano. É editora da revista ÁREA, publicação especializada em bém como curadora editorial e como
arquitetura, urbanismo, arte e design da região Sul do país. consultora de comunicação, atenden-
Pós-graduada em Gestão de Responsabilidade Social e do Tercei- do profissionais, empresas e institui-
ro Setor pela Estácio (2008), desenvolve livros, revistas e portais ções dos mais diversos portes e seg-
como ferramentas de relacionamento das empresas com seus mentos. É idealizadora do projeto editorial “Grandes Nomes da Ar-
públicos e investe na pesquisa e na produção de publicações re- quitetura Catarinense”, lançado em 2014 em parceria com a As-
gionalizadas como produtos de valorização da cultura, da histó- BEA-SC, que pretende contribuir para a valorização do legado de
ria e dos atores locais e de promoção do desenvolvimento. arquitetos e urbanistas no desenvolvimento das cidades.

Cristiano Santos Joyce Diehl Simone Bobsin Tatiana Gappmayer


Jornalista formado pela Univali, Arquiteta e urbanista forma- Jornalista, editora e publisher Jornalista formada pela PUCRS,
tem mais de 15 anos de expe- da pela UFSC, é pós-gradua- na multiplataforma ArqSC. tem especialização em Jorna-
riência em produção e edição da em Branding e mestre em Formada pela PUCRS, atua lismo Digital pela mesma ins-
de conteúdo para veículos de Educação, Tecnologias da In- há mais de duas décadas com tituição. Atua há mais de 20
imprensa e publicações seg- formação e Comunicação e produção de conteúdo, em di- anos com produção de con-
mentadas. Atua também na pós-graduanda em Neurorar- ferentes mídias, com eventos teúdo para diversas publica-
área de branded content, mar- quitetura. Desenvolve traba- e mailing nos campos da arqui- ções, como revistas, livros e
keting e relações públicas. lhos de comunicação, bran- tetura, do design e da arte. sites. É criadora do perfil @pe-
ding e editoria na área da Ar- Desenvolve projetos coletivos lacidadebaixa.
quitetura desde 2015. Ideali- de arte com interesse nas re-
zadora e editora do portal lações entre a paisagem cons-
Revestir.com.br, é também truída e a paisagem natural e
coautora do livro Casa 01: ar- pesquisas que envolvam na-
quitetura com significado. tureza, tempo e espaço.

GRANDES NOMES
199 da arquitetura catarinense
www.grandesnomes.arq.br
Este livro resgata um importante momento da
história da arquitetura de Santa Catarina e apre-
senta o representativo legado de profissionais que
ajudaram a construí-la, valorizando e reverenciando
suas obras. Como grandes nomes da arquitetura
catarinense em Arquitetura Moderna estão aqui
destacados Moysés Liz, Ademar Cassol, Carmem
Seara Cassol, Odilon Monteiro, Fernando Carneiro,
Pedro Paulo de Melo Saraiva, Hans Broos, Egon
Belz, Gottfried Böhm, Rubens Meister, Roberto
Félix Veronese e João Argon Preto de Oliveira Filho.
Na seção Expressões estão reunidos exemplares
de referência projetados por diversos outros pro-
fissionais que também merecem reconhecimento.

R E A L I Z AÇ ÃO

PAT RO C Í N I O

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