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Arquitetura Moderna na
Aracaju dos anos 40 a 70:
Bairros Centrais
Arquitetura Moderna na
Aracaju dos anos 40 a 70:
Bairros Centrais
Arquitetura Moderna na
Aracaju dos anos 40 a 70:
Bairros Centrais
Banca examinadora:
__________________________________________________
Profa. Drª. Elyane Lins Corrêa (UFBA)
__________________________________________________
Prof. Dr. Eugênio de Ávila Lins (UFBA)
__________________________________________________
Profa. Drª. Ana Maria de Souza Martins Farias (UFS)
__________________________________________________
Prof. Drª. Anna Beatriz Ayroza Galvão (UFBA)
5
AGRADECIMENTOS
Aos membros da banca examinadora. A Profª. Anna Beatriz Ayroza Galvão, por ter
aceitado me guiar neste percurso, pelas orientações sempre pertinentes, pelos ensinamentos,
pela paciência, disponibilidade, atenção e carinho com as quais me conduziu durante a
realização deste trabalho. Aos professores Elyane Lins Corrêa, Eugênio de Ávila Lins e Ana
Maria de Souza Martins Farias, que já acompanha minha trajetória a longos anos, pela
atenção voltada ao trabalho e pelas críticas elucidativas fundamentais para o formato da
pesquisa.
À minha família. A meu pai, exemplo de determinação e caráter, pela dedicação, amor e
pelas colaborações sem as quais não seria possível o desenvolvimento do trabalho. A minha
mãe, sempre tão amorosa e amiga, pela compreensão, pelo carinho, pelo acolhimento e pelos
conselhos e estímulos. A eles devo tudo. Aos meus irmãos, e minha cunhada, pela amizade e
torcida. A meus avôs e avós tão amados, verdadeiros exemplos de vida. Aos tios, tias e
primos que, mesmo distantes, sempre compartilharam minhas conquistas. Agradeço,
especialmente, a Rosa e as Tias Mônica, Rita e Goretti, pela atenção, pelas nossas conversas e
palavras de apoio sempre tão prestativas.
Ao meu companheiro. A Thiago meu fiel companheiro, pela compreensão, amor, carinho,
atenção e cumplicidade dedicada a mim nessa longa caminhada.
Aos amigos. Ao querido Ricardo Lima, Tiffany Tavares, Venícia Rodomar, Andréa Romão
pela amizade e contribuição neste trabalho. À Larissa Sampaio, Patrícia Lemos, Roberta
Menezes, Izadora Dantas e Rachel Bittencourt, “amigas da vida”, pela torcida e vibração com
minhas conquistas.
A todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para a finalização deste trabalho.
E a Deus, por guiar sempre meus caminhos e por ter permitido essa realização.
7
Le Corbuiser
8
RESUMO
ABSTRACT
This thesis is embedded within the concerns to recognize the production of modern Brazilian
Architecture, addressing its manifestation in Aracaju, capital of Sergipe state. It aims to
contribute in the quest for recognition and redemption of the Modern Architecture in Aracaju
through a critical study of public and private modern buildings samples from the 40’s to 70’s
decades of the twentieth century.It is a new study that proposes the identification and
registration of this production through an inventory, pointing out its peculiarities and their
respective contribution in the modernization process of the city. It aims to identify the modern
architecture profile in the city, as well as to create reference databases that may contribute to
the establishment of possible preservation policies. Therefore, the research is based on the
historical and socio-economic development of the city in that period, on theoretical and
conceptual issues about modern architecture, on the history of modern architecture in Aracaju,
as well as in the understanding of the samples inventory. It notes the configuration of a plural
modern architecture, which conforms under the influence of some agents and the quest to
follow the stylistic references of that time, keeping the modernity aura that involved the
creation of the capital Aracaju.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1.0 Bairros Centro e São José no perímetro urbano da cidade de Aracaju. .............. 24
Figura 1.1 Portos marítimos e fluviais em 1855/ sem esc .................................................... 27
Figura 1.2 Área da localização da nova capital em 1855/sem esc ....................................... 28
Figura 1.3 Plano de Pirro e as atividades portuárias, 1857/ sem esc .................................... 29
Figura 1.4 Igreja Matriz, s/d ................................................................................................. 34
Figura 1.5 Planta de Aracaju segundo reconstituição segundo documentos da época ......... 35
Figura 1.6 Escola Normal, s/d. ............................................................................................. 36
Figura 1.7 Vista de Aracaju em 1912 ................................................................................... 39
Figura 1.8 Praça Olímpio Campos em 1907 ........................................................................ 40
Figura 1.9 Praça Fausto Cardoso .......................................................................................... 40
Figura 1.10 Bondinhos elétricos, s/d ...................................................................................... 42
Figura 1.11 Rua Laranjeiras, década de 20. .......................................................................... 43
Figura 1.12 Praça Fausto Cardoso. ........................................................................................ 44
Figura 1.13 Mercado e Rua da Aurora. ................................................................................. 46
Figura 1.14 Planta baixa de Aracaju 1933 ............................................................................. 47
Figura 1.15 Vista de década de 40 ......................................................................................... 48
Figura 1.16 Vista aérea década de 50. ................................................................................... 50
Figura 1.17 Vista aérea década de 60. ................................................................................... 50
Figura 1.18 Crescimento de Aracaju até os anos 60 / sem esc. ............................................. 51
Figura 1.19 Rua João Pessoa na década de 50/60. ................................................................ 54
Figura 1.20 Vista aérea na década de 70 ............................................................................... 55
Figura 1.21 Vista aérea na década de70 ................................................................................ 56
Figura 1.22 Mapa da Evolução urbana de Aracaju ............................................................... 56
Figura 3.1 Palácio Olímpio Campos em estilo Neoclássico, s/d. ......................................... 92
Figura 3.2 Palácio Olímpio Campos..................................................................................... 94
Figura 3.3 Remanescente da produção da missão italiana ................................................... 95
Figura 3.4 Antiga residência Calumby ................................................................................. 96
Figura 3.5 Antiga sede dos Correios,s/d. ............................................................................ 100
Figura 3.6 “Portfólio” de Altenesch ................................................................................... 102
Figura 3.7 Residências projetadas por Altenesch na Rua Estância .................................... 102
Figura 3.8 Palácio Serigy após remodelação, s/d ............................................................... 104
Figura 3.9 Antiga Associação Atlética, s/d. ....................................................................... 104
11
Figura 4.41 Ex. do claro uso do conceito da planta livre (ii) ............................................... 159
Figura 4.42 Ex. do claro uso do conceito da planta livre(iii) ............................................... 159
Figura 4.43 Ex. de planta livre onde os pilares são absorvidos por compartimentos. Hotel
Palace (pav. térreo) ......................................................................................... 159
Figura 4.44 Ex. de planta livre onde os pilares são absorvidos por compartimentos. Hotel
Palace (pav.tipo) ............................................................................................. 159
Figura 4.45 Ed. Estado de Sergipe (i) ................................................................................... 160
Figura 4.46 Ed. Estado de Sergipe (ii).................................................................................. 160
Figura 4.47 Ed. Estado de Sergipe(iii) ................................................................................. 160
Figura 4.48 Rodoviária Luis Garcia ..................................................................................... 161
Figura 4.49 Edifício do Estado de Sergipe Estádio Lourival Batista ................................... 162
Figura 4.50 Ex. de concreto pintado.Prédio do Inss ............................................................. 163
Figura 4.51 Ex. de azulejo decorado. ................................................................................... 163
Figura 4.52 Exemplo de brises. ............................................................................................ 164
Figura 4.53 Biblioteca Epiphaneo Dórea ............................................................................. 164
Figura 4.54 Detalhe do cobogó............................................................................................. 164
Figura 4.55 Ed. Walter Franco ............................................................................................. 165
Figura 4.56 Painel de Genner Augusto .................................................................................. 165
Figura 4.57 Inss. Detalhe das peças de concreto .................................................................. 165
Figura 4.58 Painel do Ed. Gustavo Capanema RJ ................................................................ 165
Figura 4.59 Residência Barbosa ........................................................................................... 167
Figura 4.60 Projeto de Oswald Brakte, 1957, SP ................................................................. 167
Figura 4.61 Residência Calumby ......................................................................................... 167
Figura 4.62 Projeto de Vilanova Artigas, 1949,SP .............................................................. 167
Figura 4.63 Residência Selma Campos ................................................................................ 168
Figura 4.64 Projeto de Vilanova Artigas, 1949,SP .............................................................. 168
Figura 4.65 Residência M. Silva .......................................................................................... 168
Figura 4.66 Residência Vasconcelos .................................................................................... 169
Figura 4.67 Projeto Oswaldo Correia, 1951 ......................................................................... 169
Figura 4.68 Residência Souza Freire .................................................................................... 169
Figura 4.69 Residência Hora Oliveira .................................................................................. 169
Figura 4.70 Residência Suzana Prudente. ............................................................................ 170
Figura 4.71 Residência Eupídio Teixeira. ............................................................................ 170
Figura 4.72 Residência Oliveira Figueiredo ......................................................................... 171
14
LISTA DE QUADROS
SIGLAS E ABREVIATURAS
SUMÁRIO (i)
VOLUME 01
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 19
SUMÁRIO(ii)
VOLUME 02
INTRODUÇÃO
da verticalização na cidade ainda ser considerada pontuada, outros poucos edifícios foram
erguidos em Aracaju.
É nesta década que se erguem também na cidade os primeiros edifícios
modernistas. Destacam-se como exemplares de iniciativa pública o edifício Walter Franco, o
Hotel Palace e o Estação Rodoviária Luis Garcia e como de iniciativa particular, o edifício
residencial multifamilar Atalaia. Ainda nos anos 50/60, são erguidas também as residências
unifamiliares de expressão modernista. Em geral eram edificações projetadas por “não
arquitetos”, mestres de obras, desenhistas e alguns poucos engenheiros civis, que se valiam de
soluções modernas baseadas em referências externas. Considerada majoritariamente leiga,
esta arquitetura foi paulatinamente se apropriando e estabelecendo formas variadas oriundas
de releituras de vocabulários extraídos de fontes dispersas em outras regiões do país (Recife,
Rio de Janeiro, São Paulo, etc). Destaca-se no universo dos “não-arquitetos” o desenhista
sergipano Walter Freire Barros. De formação autodidata, Walter foi responsável por grande
parte da transformação ocorrida no perfil da habitação aracajuana na década de 50/60. Sua
produção chama a atenção não apenas pela quantidade de suas obras, mas principalmente
pelas soluções residenciais de melhor qualidade compositiva na cidade. No fim dos anos 60,
início de 70, identifica-se na cidade a introdução de uma arquitetura que apresentava
linguagem filiada à corrente brutalista ou de uma arquitetura que se aproximava de tal. São
destaques da época o Edifício Epiphâneo Dórea e Terminal José Rollemberg Leite.
Neste sentido, mediante as considerações, identifica-se que a produção da
arquitetura moderna em Aracaju, além configurar-se como manifestação cultural, marca um
período de inflexão ascendente para o desenvolvimento da cidade. Baseada nesta assertiva e
entendendo que essas manifestações constituem parte importante da história urbana da capital,
chama-se a atenção para a realidade às quais é relegada essa produção nos dias de hoje.
Transcorridos 80 anos da concepção das primeiras expressões, observa-se que as obras deste
universo vêm sendo sistematicamente descaracterizadas ou demolidas, dadas a fragilidade de
suas proteções legais, quando existentes e/ou pela própria dificuldade de manutenção dessas
edificações dentro da dinâmica urbana contemporânea.
No âmbito das proteções legais que contemplam esta produção são identificados
hoje a aplicação de dois instrumentos de preservação: o tombamento estadual1, que incide
1
De acordo com o tombamento estadual: Art.1º - Ficam sob a proteção e vigilância do Poder Público Estadual,
por intermédio da Secretaria da educação e cultura, os bens móveis e imóveis atuais ou futuros existentes nos
limites de seu território, cuja preservação seja de interesse público, desde que se enquadrem em um dos seguintes
incisos: I . Construções e obras de arte de notável qualidade estética ou particularmente representativa de
determinada época ou estilo; II. Edifício, monumentos, documentos e objetos intimamente vinculados a fato
Introdução 21
memorável da História local ou a pessoa de excepcional notoriedade. III. Monumentos naturais, sítios e
paisagens, inclusive os agenciados pela indústria humana, que possuam especial atrativo ou sirvam de “habitat” a
espécimes interessantes da flora e da fauna local; IV. Bibliotecas e arquivos de acentuado valor cultural; V.
Sítios arqueológicos.
2
De acordo com o PDDU: Seção1-Patrimônio Cultural, subseção II: Art. 19 - Consideram-se bens declarados de
interesse cultural, aqueles que, embora não tenham sido tombados, apresentam valores de interesse do
patrimônio cultural, de Aracaju. Art. 20 - A licença prévia para obras de reforma, restauração e ampliação em
bens declarados de interesse cultural será sempre condicionada à manutenção das características essenciais de
fachada e volumetria, devendo o requerimento de licença conter fotos elucidativas e atuais do imóvel.
3
Compreende porção do bairro São José, inscrito no perímetro formado pelas Ruas Duque de Caxias, D. José
Thomaz, Av. Barão de Maruim e Av. Ivo do Prado. Possui como diretrizes gerais: Evitar a dissolução de sua
representação sócio-cultural como paisagem da década de 50, com predomínio de edificações sofisticadas, em 02
pavimentos, lotes grandes, e ótimas condições ambientais e considerar a formação de um pólo de serviços e
comércio com atividades mais especializadas. Diretrizes de Legislação: Altura máxima permitida para as
edificações - 2 pavimentos; Permitida transferência do direito de construir. Diretrizes de intervenção:
Preservação da volumetria das edificações; Alargamento das calçadas; Ampliação da arborização existente;
Manutenção da horizontalidade dominante; Desestímulo à transposição por trânsito de passagem nas vias locais;
Estímulo ao uso de comércio e serviço especializados, tais como: restaurantes, artigos de vestuário, floriculturas,
artigos de decoração, perfumarias, antiquários, serviços de estética pessoal, serviços bancários, serviços
profissionais e técnicos, casas noturnas, turismo, clubes.
Introdução 22
A segunda pesquisa identificada foi realizada pela autora deste trabalho em 2004 em seu
trabalho final de graduação, cujo título é “Análise das residências modernas da cidade de
Aracaju da década de 50 e 60: bairro São José”. Baseada na pesquisa anterior, foi realizado
um estudo que visou identificar as características desta arquitetura em Aracaju, através da
metodologia do inventário e de análise, apontando assim suas especificidades, autores e
influências. Houve também, ao longo desses nove anos, quatro pesquisas que tratavam sobre
revitalizações de edifícios específicos: duas sobre o Hotel Palace, uma sobre a Rodoviária
Luis Garcia e uma sobre a residência Maria Melo. Apesar da existência desses estudos, pode-
se dizer que ainda se fazem incipientes, principalmente quando se trata da contemplação de
um panorama da arquitetura moderna de Aracaju.
Neste sentido, a presente dissertação busca contribuir na jornada de
reconhecimento e resgate da arquitetura moderna aracajuana através de um estudo crítico
sobre as experiências públicas e privadas modernas das décadas de 40 a 70 do século XX.
Trata-se de um estudo que se propõe a realizar a identificação e o registro desta produção,
evidenciando suas particularidades e o seu respectivo papel no processo de modernização da
cidade. Objetiva-se com isso identificar o perfil da arquitetura moderna da cidade, assim
como a criação de bases referenciais que possam contribuir para o estabelecimento de
possíveis políticas para a sua preservação.
O estudo possui como delimitação temporal os anos compreendidos entre 40 e 70,
visto que é durante este período que se delineia e se consolida a prática de construções de
edifícios modernos na cidade. Quanto aos limites espaciais (Fig.01), serão trabalhados os
bairros centrais4 São José e Centro, por serem os espaços urbanos que apresentam o maior
número de edifícios e os mais significativos.
É oportuno ressaltar também que foram incluídas algumas obras que não se
encontravam nestes limites espaciais e/ou temporais, dadas as suas relevâncias na
conformação do cenário da arquitetura moderna de Aracaju. Quanto à definição dos
exemplares a serem analisados, optou-se pela contemplação de edifícios de uso público e
privado, inseridos nos recortes temporal e espacial, que se enquadrassem em pelos menos
quatro dos seguintes critérios: Bom estado do grau de preservação; Qualidade Compositiva;
Interesse coletivo; Relevância histórica; Reconhecimento como marco referencial da cidade.
4
O limite foi estabelecido levando-se em conta a localização das edificações de interesse identificadas na
pesquisa de campo.
Introdução 24
Figura 1.0: Localização dos bairros Centro e São José no perímetro urbano da cidade de Aracaju.
Fonte: Desenho da autora sobre base cartográfica da SEPLAN (Secretaria de Planejamento do Município),
2007.
5 Fichas mínimas são as fichas de identificação aplicadas a obras individualmente analisadas, como uma metodologia
cristovenses de casinhas de palha forradinhas por melão, mas que pressagiava fortes
possibilidades de desenvolvimento econômico.
7
A Cotinguiba era uma vasta expansão geográfica da bacia dos calcáreos cretáceos de Sergipe, que entraram em
decomposição e produziram colinas de encostas suaves, coberta pelo notável “massapé”, a terra preta dos
canaviais. Essa região se localizava sobre a ribeira do rio Vaza-barris, onde a prática da agricultura se
beneficiava das várzeas adubadas pelas enchentes do rio (PORTO, 1945, p. 17).
Capítulo 1 28
que permitissem o acesso à região, possuía uma cortina de coqueiros que desviavam as correntes
de ar, transformando-a numa espécie de fornalha nos dias quentes.
De fato, Inácio estava certo. Pensando em possibilidades de expansão da nova
capital sua opção foi bastante acertada, entretanto equivocou-se ao acreditar na salubridade da
região. Formada por lagoas, pântanos e águas superficiais escuras e de sabor ruim, a região
escolhida para a implantação da nova capital iria necessitar de muitos aterros. Vale ressaltar
que, mesmo que a cidade tivesse sido alocada na Barra, a nova capital passaria pelos mesmos
tipos de problemas (NOGUEIRA, 2006, p. 140). Contudo, segundo Freitas (2003, p. 264),
não se pode compreender a transferência da capital apenas pelo viés do desenvolvimento
econômico, mas é fundamental também reconhecer o interesse da elite sergipana da época em
romper com o passado colonial e preparar o progresso para a Província.
O “plano” urbano da nova capital estava pronto. No entanto algumas questões que
balizavam o projeto e a sua implantação merecem ser apontadas e devidamente esclarecidas.
A primeira delas diz respeito à primazia da regularidade excessiva, que trazia consigo o
agravante da não-adaptação do projeto à realidade geográfica do lugar. Sob a perspectiva de
Porto essa deficiência atribuída à falta de tempo para a realização de um levantamento
Capítulo 1 30
Neste sentido, faltava ao “plano” de Aracaju muitas outras definições. Ele se valia
apenas de um único traçado. A exemplo disso, pode-se citar a “não-previsão” de localização
inicial dos edifícios públicos, que segundo Fernando Porto (1945), os locais onde foram
implantados – Pças. Fausto Cardoso, Guilherme Campos e Olímpio Campos – foram
resultado de um acaso. Somam-se mais colocações acerca do “não-planejamento”. Dentre
8
O termo “urbanização” foi utilizado como um neologismo por Idelfonso Cerdá, em 1867, em sua obra Teoria
Geral da Urbanização (PINHEIRO, 2002, p.44).
Capítulo 1 31
apoio dos capitalistas que não tinham coragem de investir, a província de Sergipe encontrava-
se inerte sob a ótica progressista. Não havia nenhum tipo de atrativo à cidade. Nesta época
seus limites restringiam-se apenas a uma localização paralela ao rio Sergipe, devido à
existência de solos menos alagados, o que facilitaria as construções. A cartografia de 1856
retrata, de fato, um triste testemunho da cidade em seu primeiro ano de vida, onde podia
observar edificações isoladas sem definições de qualquer alinhamento. A província
necessitaria de algum tipo de política que gerasse estímulos.
A fim de garantir o desenvolvimento da cidade o governo provincial tomou uma
série de medidas: iniciou obras de drenagens e aterros, principalmente no espaço entre as
atuais Praças General Valadão e Fausto Cardoso; transferiu para essa área os mais importantes
órgãos públicos para a nova capital - a alfândega, o palacete provisório da presidência, o
quartel para a polícia e a primeira casa de orações da cidade, a atual Igreja São Salvador;
ofereceu concessões de aforamento de terrenos de marinha e realizou adiantamentos nos
salários dos funcionários públicos para a construção de residências de uso pessoal, ainda que
muito deles as fizessem contra suas vontades (LIMA, 2007).
Ainda no ano de 1856, para potencializar ainda mais desmotivação e a resistência
frente à província, eclode em Sergipe um surto de cólera - o mais grave da sua história. Esta
epidemia dizimou em torno de 23% da população da capital, que na época totalizava 1.484
habitantes. Dentre as vítimas estava o próprio fundador da cidade Inácio Barbosa, que veio a
falecer. Na época Aracaju era habitada apenas por casebres de taipa - onde muitas vezes o
barro era retirado de locais indevidos –, cobertos por palha de coqueiro, onde até as famílias
mais abastadas os habitavam. Segundo os saberes médicos estariam nessas casas os focos da
doença. Vale ressaltar que possivelmente este fato tenha ocorrido por uma dificuldade de
transporte de material e/ou escassez de mão-de-obra especializada em alvenaria. Neste sentido
consideram-se diversos os incômodos enfrentados pelos primeiros migrantes que se
instalaram nas praias insalubres de Aracaju, pois além da morbidade, a segurança pública era
deficiente (CARDOSO, 2003, p. 112).
Após a morte do governador foram retomadas algumas obras que haviam sido
paralisadas devido sua morte, assim como fora sancionada pela Câmara Municipal uma
espécie de “Código de Posturas” 9. Com função de normatizar o uso do espaço urbano este
código regulamentava não só a construção de edificações situadas no “Quadrado de Pirro”,
mas também os costumes de seus habitantes, sob a pena de demolição, no caso do edifício
9
Primeiras Posturas elaboradas a partir da Resolução n. 458, de 3 de setembro de 1856. Aracaju – Sergipe.
Capítulo 1 33
e/ou pagamento de multa, em casos referentes aos costumes. Dentre eles podem-se citar: a
necessidade de obter licença prévia para a construção da edificação, a qual deveria possuir
alinhamento pré-determinado por fiscais a serviço da província; proibição de coberturas de
palha; a determinação de dimensões para pé-direito, janelas, portas, largura de passeios, assim
como exigência pelo uso de alguns elementos arquitetônicos a exemplo da corninja; a
obrigação dos proprietários de caiar a frente de suas casas duas vezes por ano; a exigência de
respeito à integridade física das fachadas das casas, sendo proibida terminantemente a
elaboração de riscos ou quaisquer tipos de figura; a proibição do disparo de tiros ou caça
dentro dos limites desta cidade, dentre outros. Segundo a historiografia a partir deste
momento surge o primeiro fenômeno de diferenciação social de Aracaju.
Motivados pela realização do sonho da melhoria de vida muitos migrantes
oriundos do interior passaram a ocupar paulatinamente a cidade. No entanto, devido aos
elevados preços das terras, as posturas exigidas pelo código e as baixas condições financeiras
desta classe, essa ocupação era dada nos arredores do “quadrado de Pirro”, através de casas de
palha. É a cidade de palha, localizada à parte daquela projetada para ser a capital, a qual
Amâncio Cardoso (2003) se refere com tanta propriedade. No geral, essas casas eram vistas
10
pelas autoridades como locais que atrairiam pessoas de “moral corrompida” que, por isso,
precisavam ser disciplinadas. Sobre esse tipo de segregação Foucault já relatou:
Aracaju portanto nasceu segregada. Esta segregação pode ser vista não só numa
abordagem espacial, mas também sob o ponto de vista dos materiais construtivos e do tipo
“estético” da edificação a ser erguida. Sobre este fato Nogueira evidencia a “não previsão”
deste fenômeno no projeto de Pirro, atestando que o “plano” não abrangia nada além do seu
“quadrado” e que desta forma não poderia ser reconhecido dentre as cidades que foram
criadas a partir de uma ação de planejamento. Sobre este assunto Loureiro (1983) comenta
que Pirro delimitou dentro do seu quadrado a zona nobre da cidade. Desta forma percebe-se
mais uma notável contradição no ideário de civilização que inspirou a mudança da colonial
São Cristóvão para a planejada Aracaju.
10
Segundo Amâncio (2003), as pessoas de moral corrompida eram considerados indivíduos que ofereciam
perigo à sociedade. Eram acusados de atrasados, inferiores e pestilentos.
Capítulo 1 34
Itabaiana e Itabaianinha, onde essas duas últimas, na época, eram chamadas oficialmente de
Rua da Conciliação (VILAR, 2006). Sobre este assunto Lima (2007) afirma:
Figura 1.5: Planta de Aracaju segundo reconstituição segundo documentos da época s/ esc.
Fonte: PORTO (1945, p. 45).
impaludismo crônico e de outras doenças epidêmicas, onde não existia melhoramento algum,
nem mesmo pavimentação das ruas” (CAMPOS apud VILAR, 2006, p. 50). Em
concordância com Campos, Bonifácio Fortes comenta sobre a Aracaju do final do século
XIX: “Os aterros até aquela época eram feitos sem regularidade pelo poder público. A cidade
continuava com imensas lagoas no seu centro e os aterros indiscriminados, sem preocupação
de drenagem metódica e científica, às vezes contribuíram para o aumento da insalubridade na
cidade” (FORTES apud VILAR, 2006, p. 50). Essas limitações urbanísticas, arquitetônicas e
de infra-estrutura básica de Aracaju são em muitos relatos atribuídas, dentre outros fatores, à
morosidade do desenvolvimento do comércio interno da cidade da época. Segundo Vilar a
nova capital de Sergipe não reunia as condições para instaurar um comércio ostensivo, não
havendo demanda suficiente para a instalação de um terciário mais bem equipado.
Em 1870 fora criado em Aracaju o colégio Ateneu Sergipense, que funciona até
os dias atuais e a Escola Normal - hoje Instituto de Educação Rui Barbosa -, garantindo a
escolarização dos jovens sergipanos. Muitos deles ganhando destaque em todo o País, como o
poeta Pedro de Calasans, o filósofo Tobias Barreto, o crítico Sílvio Romero, dentre muitos
outros vultos ilustres, com suas respectivas obras (BARRETO, 2005).
não ofereciam projeções promissoras aos seus investidores; sua máquina fiscal ainda era
obsoleta - dependente de repasses do governo do Estado, não dispunha de autonomia
financeira para realizar obras (SANTOS, 2002). No entanto, seria através de transformações
urbanas que a capital alcançaria o tão enfatizado sonho da modernidade. Desta forma
priorizaram a necessidade de realizar alguns beneficiamentos referentes às questões da
salubridade, tão característicos dos processos de modernização urbana:
Segundo Ilma Fontes, entre 1911 e 1920, Aracaju se impõe como maior centro
urbano do Estado, sendo considerada a cidade mais industrializada de Sergipe, confirmando a
visão político-administrativa prevista em sua fundação por Inácio Barbosa (FONTES apud
RIBEIRO, 2008, p.31). Para autores que noticiaram e noticiam sobre a história urbana da
cidade são essas décadas que melhor caracterizam o início do processo de modernização da
cidade. Nestes termos, referia-se Alcebíades Paes (1912), num artigo com o sugestivo título
de uma “Cidade olvidada que progride”:
Há doze anos isto aqui era uma cidade absolutamente primitiva. Não
tínhamos então rua calçada. A praça da Matriz era um lago majestoso, em
que o coaxar dos sapos era eterno, onde se pescava em pleno verão, e em
cujo centro, como uma ilha, se destacava a igreja. Não havia ponte para
embarque e desembarque de passageiros ou antes, a que existia, ancianica,
Capítulo 1 41
No entanto, apesar dessa verdade ainda ser absoluta para alguns, identificou-se outra
leitura diferenciada. A pesquisadora Fabrícia Santos (2003) dentro de uma abordagem
bastante crítica, fala que as representações para a cidade de Aracaju eram oscilantes,
definindo paradoxos apresentados sob os caracteres de “pântano” e de uma cidade que
progredia sensivelmente. A exemplo cita dizeres veiculados no Jornal do Século XX, datado
de 06/07/1900:
[...] como podia embelezar a cidade se esta continuava em viveiro de
mosquitos? Sabemos que há perto de mil contos em cofre público para
higienizar a cidade. Mas higienizar como? Construindo um belo cais e
fazendo uma linda avenida na frente da cidade? [...] desperdício do dinheiro
público com obras supérfluas [...] (JORNAL SÉCULO XX apud SANTOS,
2003, p. 17).
11
Outras inovações também fizeram parte da construção do “mosaico moderno”
que definiria a nova imagem de Aracaju. O anúncio de produtos passou a fazer parte dos
jornais e revistas, estimulando um crescimento na leitura dos periódicos. Era uma nova forma
de comunicação pública que surgia na capital:
11
Expressão utilizada por Fabricia Santos (2003) ao definir a construção da modernidade de Aracaju.
Capítulo 1 44
12
Sergipe chega a pretender competir pelo mercado do tecido (e não apenas do algodão): “As nossas condições,
a barateza de nossa vida, permitem que o salário do operário seja pequeno e por isso os nossos tecidos podem
competir com similares de ouras fábricas” (LOUREIRO apud VALADÃO, p. 58).
Capítulo 1 46
o Oeste”. Para ele Aracaju parecia emitir tentáculos que serviam de vetores de expansão,
bordejando as estradas.
Muita coisa estava acontecendo no Oeste da capital. Crescia a leva de imigrantes do
sertão que, em busca de melhoras condições de vida, eram atraídos para a cidade. Surgiam
novos bairros, dentre eles o Joaquim Távora e o Dezoito do Forte. Há também aumento
significativo da população no Siqueira Campos. Segundo Loureiro (1983) estes bairros
cresceram quase sem o apoio governamental. Iam se conformando a partir da iniciativa da
população mais pobre, que, em busca de um solo mais barato, distanciava-se da área definida
como “rica e elegante”. Iniciou-se neste período, sem qualquer imposição do poder público, o
zoneamento espontâneo da cidade, definindo assim os bairros de comércio, de residências
abastadas, de habitações operárias e das indústrias (PORTO, 2003, p. 11).
De fato, a essa altura, a cidade não se restringia apenas ao centro. Entretanto, as
obras do governo persistiam em contemplar apenas as áreas limítrofes ao quadrado de Pirro.
Várias foram as benfeitorias. Foram abertas vias ao sul, onde hoje se situa o Bairro São José.
Nesta área a Prefeitura fez aterros em áreas alagadiças e implantou iluminação pública nas
vizinhas.
Por volta de 1935 Aracaju possuía em torno de 11.000 prédios, sendo 10.900
térreos, 143 apresentando dois pavimentos e 6 com mais de dois pavimentos. Sua base
econômica mais uma vez se fincava na agricultura. A industrialização, neste período, resumia-
se apenas a duas fábricas: uma de fiação e tecelagem e outra de leite de coco. Entretanto, no
final da década, mais precisamente antes da Segunda Guerra Mundial, a economia de Aracaju
revivia seus dias de euforia. De acordo com Loureiro (1983) estes dois últimos fatos estavam
co-relacionados. Com a cisão dos grandes blocos imperialistas, Alemanha e Japão elegem o
Brasil como o novo fornecedor de o algodão. Desta forma as fábricas sergipanas, que viviam
Capítulo 1 48
Chegava-se aos anos 50. Nesta década são observados dois fatores de cunho sócio-
econômico que faziam com que a capital apresentasse um crescimento de quase 98% em 10
anos, chegando à marca de 19 km². São eles: o surto demográfico causado pela migração do
campo para a cidade e o crescimento do número de fábricas de pequeno porte, que ao menos
possuía condições de construir núcleos residenciais. Consolidava-se assim a expansão dos
novos vetores de expansão: Oeste e Norte, sendo o primeiro em maiores proporções. Surgiam
novos bairros, dentre eles o América, Palestina, Bairro Vermelho, Dezoito do Forte, Cirurgia,
Grageru etc. O bairro Siqueira Campos se tornou o mais populoso da cidade. A cidade
crescia, mas crescia sem nenhuma espécie de Plano de Governo local que pudesse ordenar o
crescimento da cidade, o que só surgiria em 1966. O crescimento da capital acontecia de
forma aleatória, esmerando-se em interesses privados e no fenômeno da segregação espacial,
Capítulo 1 49
onde os “pobres” se estabeleciam ao Norte e Oeste e os “ricos” ao sul. Nada mudava na sua
configuração sócio-espacial. Sobre esse tipo de segregação Nogueira (2006) afirma:
proporcionou uma valorização das áreas localizadas em seu entorno. Segundo Loureiro “(...) a
burguesia expulsou as classes menos desfavorecidas que ali habitavam” (1983, p. 69).
O Hotel Palace, com seus treze pavimentos, com sua boa arquitetura, com
seus apartamentos de luxo e serviço de primeira, lhe dá a certeza de que
Aracaju cumpre o desígnio de seus fundadores: é uma cidade civilizada e
moderna, e que continua a crescer, não só no sentido inicial, horizontal, mas
agora ambiciosamente vertical14 (BREVE ROTEIRO TURÍSTICO DE
ARACAJU apud LIMA, 2007).
“Agora Sergipe vestirá uma roupa nova. Será o macacão. Do chapéu de couro de
há séculos para capacete de alumínio” (LOUREIRO, 1983, p. 71). No segundo semestre de
1964 estava confirmada a descoberta de petróleo em Carmópolis, município localizado a 47
km da capital. Este fato se tornou marco inicial de uma nova “alavancada” na economia do
13
Ver: Diário Oficial do Estado de Sergipe, Ano XLII, nº 14.451 de 09 de abril de 1962, p 2.
14
Breve Roteiro Turístico de Aracaju. In: Revista da 4º Convenção do Comércio Lojista do Nordeste. Aracaju,
1965, p. 15.
Capítulo 1 53
casas), em 1969; e construía-se o conjunto habitacional Gentil Tavares na Av. Hermes Fontes
(78 unidades). No fim da década de 60 descobriam petróleo em frente à cidade de Aracaju.
Por conseqüência, transferiu-se a sede da Petrobrás para a capital, onde consequentemente são
estimulados os setores bancários e o comércio de gêneros alimentícios e imobiliários
(LOUREIRO, 1983, p. 73).
Porém ainda no fim desta década o comércio aracajuano perdurava em seus
caracteres, através do aspecto monocêntrico visto na cidade. Sobre este assunto os geógrafos
José Alexandre Diniz e Terezinha de Castro, em seus estudos na compreensão mais ampla da
espacialidade monocêntrica aracajuana, sugerem traços de uma ambivalência geográfica que
acompanhavam a evolução do tecido. Segundo Vilar (2006) essa visão é reflexo de uma
sociedade marcadamente desigual, que produzia uma geografia de consumo também
heterogênea e ambivalente, mas que, no entanto, se comunicavam. Desta forma, o comércio
foi subdivido da seguinte forma: na zona localizada no entorno portuário encontravam-se os
comércios atacadista e informal, enquanto na zona que circundava o Palácio Olímpio
Campos, principalmente na Rua João Pessoa, localizava-se o comércio mais elegante e fino da
cidade.
É mister destacar também a alteração dos caracteres técnicos vistos nas próprias
fachadas ou na presença de estabelecimentos com mais de uma planta e na proposta de
exposição dos seus respectivos produtos. Eram as técnicas de marketing que asseguravam a
visibilidade, o destaque e a luminosidade, estruturando o espaço onde se localizavam as
Capítulo 1 55
mercadorias. (VILAR, 2006, p. 57). Era a modernidade que num ritmo contínuo e paulatino se
processava. Sobre esse assunto Machado (1990) afirma:
Decerto o fim dos anos 60 é definido como um período de grande avanço para
Aracaju. Até meados desta década verificavam-se apenas obras derivadas do governo, que se
limitavam à implantação de infra-estrutura básica, que em sua maioria restringia-se às áreas
centrais da capital. Apenas no final desta década, que já se definia pela ausência da
democracia e pela intensa centralização estatal, que segundo as proposições de Vilar (2006),
se iniciavam 1969 num período de elaboração, compilação e aplicação dos primeiros planos
urbanísticos para a capital sergipana. Financiados pelas esferas estatais e federais o “Plano de
Urbanismo da Cidade de Aracaju” (1969) e o “Plano de Desenvolvimento Integrado do
Município de Aracaju” (1972) foram os primeiros a trazer à tona questões históricas,
demográficas, físico-territoriais, de estrutura urbana e econômica, ainda que muitas vezes de
maneira apenas teórica (LIMA, 2007).
Aplicadas com afinco ou não, o fato era que a elaboração desses planos reforçava
cada vez mais a dualidade campo-cidade. Em Aracaju projetavam-se obras progressivamente
arrojadas, a exemplo do Prédio do “Estado de Sergipe”, com 28 pavimentos e o Estádio de
Futebol “Lourival Batista”, também chamado de “Batistão”, com capacidade para 70 mil
lugares.
construídas pelo Banco Nacional de Habitação (BNH) mais 787 unidades residenciais que
deram origem aos bairros Luzia e Lourival Baptista. A cidade nesta década apresentava um
número de migração significativa proveniente do interior que cresce em ritmo paulatino. Em
1973 o Estado prosseguia com a produção de habitações. Em 1976 o Sistema Financeiro de
Habitação (SFH) apresentou umas das maiores crises, onde, segundo Nogueira (2004), a
diminuição do poder da moeda ocasionou numa crescente valorização da terra urbana, em
especial a privada. Desta forma o imóvel acabou possuindo um valor maior de troca, pois
entendia-se como um investimento seguro. Segundo atesta Loureiro (1983), a Aracaju desta
época já possuía um mercado especulativo, devido ao fato de a COHAB-SE ter retido uma
área de um milhão de metros quadrados com a finalidade de construir um conjunto de
habitações e prevenindo-se contra a alta de preços da terra urbana. Em seguida, o Conselho
Nacional restringiu as medidas de financiamento para aquisição de terrenos. Caía a procura
por imóveis de luxo. No entanto, em 1978 o BNH reabriu os financiamentos: era o boom do
mercado imobiliário de Aracaju. Desta forma, no final dos anos 70, Aracaju se apresentava
com uma nova configuração embasada por cinco agentes (LOUREIRO, 1989, p. 79):
1. ocupação dos vazios urbanos existentes;
2. abertura de novas avenidas e a consequente ocupação do entorno, determinando o
surgimento de loteamentos e conjuntos residenciais;
3. expansão da zona sul em direção ao Povoado Mosqueiro, que possibilitou a
proximidade ao mar e a conseqüente elitização do local;
4. expansão da zona oeste em direção à BR 101;
5. aumento da densidade na área central da cidade.
Era também nesta década que se verificava a saída da classe média e alta do bairro
Centro, que passava a residir na zona sul em bairros como Treze de Julho, São José, Salgado
Filho, Grageru e Luzia. Esse tipo de ação se tornava responsável pela ratificação da
segregação residencial de Aracaju, derivando daí o surgimento de novas centralidades e a
conseqüente perda de importância comercial e simbólica do centro na configuração urbana da
capital de Sergipe (LIMA, 2007).
Uma vez configurado o histórico de Aracaju mediante as suas buscas incessantes
de querer ser moderna, faz-se necessário, para que haja um entendimento da arquitetura
moderna de Aracaju, a contextualização de referências conceituais acerca da arquitetura
moderna e seus princípios.
Capítulo 2 58
(NERY, 2001, p. 38). Por fim, na terceira fase, iniciada no século XX, caracterizou-se a
expansão do processo de modernização que abrange quase todo o mundo ocidental, levando a
cultura do moderno a atingir nesta época espetaculares triunfos na arte e no pensamento.
A modernidade, portanto, foi marcada pelo desenvolvimento de um novo estado
de consciência do homem, que configurou, entre outros aspectos, uma nova estética nos
ideários das artes. Na busca da ruptura com o passado, emitiam-se manifestos, e
conformavam-se projetos e obras que refletiam uma postura oposta à condição outrora
vigente. Essa forma de expressão, denomina-se Modernismo, que, segundo Giulio Carlo
Argan (1993), resume as correntes artísticas da última década do séc. XIX e da primeira do
séc. XX e se propõe a interpretar, apoiar e acompanhar o esforço progressista e econômico-
tecnológico da civilização industrial. Estas tendências expressam idéias que vão do
materialismo ao espiritualismo, aos técnico-científicos e aos alegóricos poéticos, humanitários
e sociais. Instaurando-se por volta de 1910, estas expressões artísticas visavam não somente a
modernização ou atualização, mas uma revolução radical das modalidades e finalidades das
artes em geral.
No campo específico da arquitetura e do urbanismo, o modernismo trazia consigo
propostas de racionalização construtiva, de novos programas (principalmente de um novo
morar) e novas configurações de cidades e edifícios. Baseadas na negação de um passado
historicista e figurativo e fomentadas pela perspectiva da industrialização, as novas
configurações se afirmam na primeira metade do séc. XX e têm como ponto comum o
comprometimento com a abstração estética, que já vinha sendo explorada pelas vanguardas
artísticas, na tentativa de unificar arte, funcionalidade e técnica.
Em paralelo à produção arquitetônica propriamente dita, é na historiografia da
Arquitetura Moderna que mais se identifica esta tentativa de unificação de discursos que se
revelam hoje a partir de revisões críticas, enquanto relatos multifacetados de um mesmo
momento, que vão do Arts & Crafts ao Brutalismo, do Purismo ao Expressionismo Alemão,
passando pelo Art Déco, entre outras vertentes modernas, como será abordado a seguir.
Sabe-se que a exposição realizada pelo MoMa de Nova York, em 1932, acerca do
International Style, buscou enquadrar a estética estabelecida pelos pioneiros europeus do
Modernismo dos anos vinte, excluindo o americano Frank Lloyd Wright.
Para o historiador N. Pevsner, em sua obra Pioneers of the modern movement:
from William Morris to Walter Gropius, publicada em 1936, a arquitetura moderna foi
iniciada por Morris. Segundo ele os verdadeiros pioneiros são aqueles que desde o princípio
foram partidários da apologia à máquina. Sabe-se que Morris e os demais arquitetos do Arts
Capítulo 2 60
identificou princípios organicistas em Frank Loyd Wright e Alvar Aalto, cujas abordagens
teóricas estavam calcadas em questões culturais e topológicas. No fim da década de 50,
contemplando uma linha mais historiográfica do que crítico-positivista, Henri Russel
Hitchcock, com Architecture, Nineteenth and Twentieth Centuries (1958), e Leonardo
Benevolo, com Storia dell’architettura moderna (1960), reiteraram a visão de Zevi. Os
aspectos supramencionados eram vistos nas duas obras através da preservação do
determinismo supra-histórico que configurava o projeto moderno universalista (ANDRADE,
2006).
Em sua obra Leonardo Benévolo admite que o Movimento Moderno é conformado
por inúmeras contribuições, não sendo possível atribuir sua gênese a um lugar específico ou
mesmo ao âmbito cultural. Desta forma ele relata as experiências modernas a partir de 1927,
destacando a inovação da obra didática de Gropius e de seus discípulos da Bauhaus e da obra
de Le Corbusier como arquiteto.
Em 1962, a partir da construção da crítica pós-moderna, flexibilizaram o conceito
da unicidade para a absorção de tendências diversas. Este fato foi comprovado na integração –
proposta por Pevsner – de Gaudí e Sant´Elia na edição brasileira de Pioneiros do desenho
moderno, de 1962:
Ainda nos anos 60 ocorrem inovações no discurso sobre o Art Déco, em função da
exposição Les annés 25, em Paris, em função de dois aspectos: (a) a revisitação por parte dos
teóricos e críticos que se propunham realizar releituras dos discursos da modernidade e da
historiografia da arquitetura moderna e (b) a emergência do conceito de Art Déco e da
produção estética a que ele passou a servir de referência. O reflexo dessas inovações
discursivas já é visto no próprio título da exposição, que assume uma perspectiva de não
hierarquia da outras correntes em relação ao Art Déco: Les Année 25: Art Déco/ Bauhaus /
Stijl / Espírito Nouveau. Este título não apenas concede um nome para essa produção artística,
como também o coloca lado a lado às correntes estéticas consideradas referência para as artes
e para a arquitetura (GALEFFI, 2004).
Capítulo 2 62
16
Este item foi baseado nos argumentos de COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica: ensaios
sobre arquitetura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
Capítulo 2 64
2004, p. 102). Para ele tal qualidade da abstração possui como corolários a música e a
arquitetura. Sobre arquitetura, falava a respeito da expressão exibida pela configuração
cúbica, que poderia ser vista nas formas de cristais minerais. Segundo ele, estes cristais eram
únicos dentre as formas naturais, de forma que supostamente revelam subjacentes estruturas
da natureza. “Arquitetura é uma questão de composição de volumes, de justaposição do sólido
e do vazio, sombra e da luz”, dizia Provensal, segundo Tuner. Desta forma Turner traça um
paralelo entre este pensamento e os “jogos de volumes reunidos sob a luz”, de Corbusier,
visto em Por uma Arquitetura, ratificando o claro paralelo entre os dois discursos, em que o
corbusiano fundamenta-se no de Provensal.
Colquhoun (2004) também afirma a influência de outras experiências que
contribuíram para a estruturação da concepção corbusiana de uma nova arquitetura. Dentre
elas destacam-se três outras doutrinas. A primeira foi de ordem regionalista e artesanal, que
Le Corbusier assimilou do seu professor L’Eplattenier em La Chaux-de-Fonds. Decorrente do
movimento Arts and Crafts e das teorias de ornamento de Owen Jones, a doutrina pregada por
L’Eplattenier ensinava que a natureza podia ser reduzida a uma estrutura geométrica que lhe
era subjacente e era revelada ou exposta nas condições concretas de determinadas épocas.
Tratava-se de uma tradição que pensava nos termos de um significado contingente em vez de
universal e procurava uma renovação da arquitetura por meio do ornamento e do artesanato.
Frequentemente tentado em seus vinte anos a criar uma arte popular baseada nas condições
locais, Le Corbusier, ao mesmo tempo que apresentava tais intentos, afastava-se desta visão,
aproximando-se de uma visão universalista. Entretanto, apesar da adoção do cunho
universalista, pode-se dizer que ele nunca abandonou inteiramente a noção de uma arquitetura
que abolisse inteiramente as técnicas artesanais. Na década de 30, por exemplo, ele já fazia
uso conciliador de tais elementos com as formas abstratas da tecnologia, o que ocasionou um
descontentamento dos puristas da Nova Objetividade.
A segunda experiência/doutrina tratava sobre a tradição arquitetônica. Até certo
ponto Le Corbusier partilhava a atitude moralista que protagonistas do movimento moderno
exibiam mediante a história da arquitetura. No entanto, por mais radicais que parecessem
muitos dos seus julgamentos, Corbusier nunca deixou de se fundamentar em estudos
aprofundados de textos e edifícios do passado. Para ele a tradição que devia ser preservada e
transformada era mais do que o conjunto de preceitos morais postulados pelos protagonistas
modernos: “Era acima de tudo um conjunto de exemplos concretos e a maneira por meio da
qual ele comunicava esse conhecimento era o desenho”. (COLQUHOUN , 2004, p. 104)
Capítulo 2 65
17
Ver: COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura. São Paulo: Cosac
& Naify, 2004.
Capítulo 2 66
edifício corbusiano como um todo está presente na planta. Desta maneira, apesar da ordem
ideal do edifício implicar uma organização simétrica e axial da planta e de todas as suas
partes, a utilidade exige que essa ordem ideal seja modificada (COLQUHOUN 2004, p. 119).
Neste sentido, Le Corbusier fornece um exemplo pragmático do Poeta Trágico em Pompéia,
sobre o qual ele comenta:
Tudo está no eixo, mas dificilmente se poderia traçar uma linha reta. O eixo
está nas intenções, e o fausto propiciado por ele se estende às coisas
humildes que ela incorpora com um gesto hábil [...] você constata que tudo
está em ordem, mas a sensação é rica. “Você observa, então os hábeis
desvios de eixo, que conferem intensidade aos volumes”. (CORBUSIER
apud COLQUHOUN, 2004, p. 119).
Para Colquhoun (2004), diante de tal comentário, fica claro que para Corbusier as
necessidades pragmáticas e utilitárias não enfraquecem o significado estético – pelo
contrário, enriquecem e o tornam mais estético. Portanto, entende-se que o ideário corbusiano
relativo à superfície e à planta são baseados nos mesmos princípios. Trata-se de uma lei
primordial que conflita com a utilidade, de modo que ambas interajam com a complexa
totalidade da obra de arquitetura, uma totalidade configurada tanto por ordem como por
desordem.
Com relação aos cinco pontos da arquitetura corbusiana, Colquhoun (2004) afirma
que através deles há uma reinterpretação dos elementos tradicionais segundo esta dialética.
Em primeiro lugar a planta e os volumes são liberados das restrições estruturais e há
conseqüente flexibilização das disposições de paredes na compartimentação. Trata-se do
princípio da planta livre. Ao mesmo tempo tal liberdade permite que os volumes assumam
uma importância antropomórfica por meio de metáforas visuais, de uma maneira que estejam
intimamente relacionadas aos objetos representados nas pinturas puristas (COLQUHOUN,
2004, p. 120). Assim sendo, o edifício é erguido sobre pilotis, possuindo cobertura plana e a
fachada (superfície) projeta-se mais à frente da estrutura. Logo Colquhoun (2004) afirma que
essas três ações ajudam a “imprimir” ao volume total o máximo de isolamento e pureza.
Por fim, propondo uma continuidade da análise e da teoria de Le Corbusier, serão
abordados em seguida não só os princípios modernos estabelecidos por ele, mas seis linhas de
racionalismos. Entretanto, desta vez sob a ótica de Gulio Carlo Argan.
Capítulo 2 67
A casa como volume erigido sobre pilares (pilotis), de maneira que se possa
circular por baixo dela, sem que o movimento da cidade seja interrompido
pelos blocos maciços das construções nem canalizado para cunículos
sufocantes das ruas; a cidade que entra nas vias internas dos edifícios com o
seu reduzido tráfego de lojas e serviços para a vida cotidiana; os
apartamentos não estratificados, e sim encaixados uns nos outros em
múltiplos níveis; os jardins nas sacadas, a natureza que entra na construção
(1993, p. 266).
Rio de Janeiro, Bogotá (América do Sul), Chandigarh (Índia); e ainda unidades habitacionais
que atrelavam a intimidade individual à convivência em comunidade. Na escala da construção
civil suas experiências contemplaram desde edifícios públicos, escolas e museus a prédios de
apartamentos e casas. Na escala de objeto, cita-se a capela de Ronchamp, considerada uma
escultura ao ar livre e os móveis de metal, projetados para a indústria. Desta forma, foi
através da apresentação destas experiências que o ideário corbusiano tornou-se corrente e veio
a ser apreendido e aplicado na concepção e materialização de obras por diversos seguidores
do mundo.
A segunda orientação a ser destacada segundo Argan (1993) é a do Racionalismo
metodológico, protagonizada por Walter Gropius. Ao fim da Primeira Guerra Mundial
estabelecia-se na Alemanha uma série de conflitos de classe em que os militares e os grandes
capitalistas transpunham a culpa pelo derrostismo da guerra à classe operária. Como se não
bastasse arcar com todos os transtornos de uma guerra, o povo teria que também carregar as
conseqüências da derrota. E foi nesta atmosfera que um grupo de intelectuais propôs o
renascimento de um ideal que se opusesse ao irracionalismo político corrente e que possuísse
base num racionalismo crítico, capaz de alcançar soluções para estas questões através do
intelecto. Enquanto Le Corbusier, na França, trazia à tona uma política própria, balizada por
inúmeras idéias, ditando regras, discutindo, criticando e persuadindo, Gropius, na Alemanha,
defende com afinco a idéia de um programa e de uma metodologia. Em 1919 Gropius funda a
Bauhaus de Weimar, uma escola que iria se fundamentar a partir de uma política da social-
democracia. Para ele os artistas conceituados deveriam assumir a colaboração no ensino das
artes como uma tarefa de cunho social.
Desta forma convoca os artistas mais avançados da época como Kandinsky, Klee,
Alers e outros e os convence a participar do corpo docente da escola. Com isto Gropius,
pretendia alcançar seu principal objetivo: resgatar o vínculo que existia outrora entre a arte e o
artesanato e transpô-lo para a nova realidade: arte e indústria. Em 1933, quando o nazismo se
estabelece no poder, a Bauhaus foi suprimida. Este fato é justificado mediante os ideais da
escola, que pregava a democracia, fosse ela na qualidade de escola democrática ou na de
escola de democracia. O princípio de escola democrática era visto na própria relação de
colaboração de pesquisa conjunta entre mestres e alunos, em que muitos se tornaram
docentes. Já o da escola de democracia era visto no ideal da sociedade democrática, que era
apreendida como uma sociedade que se auto-conforma, orienta e organiza seu próprio
progresso. Naquele momento o progresso era a educação e esta só seria adquirida na escola.
Assim, conclui-se que a escola é a base de uma sociedade democrática. Neste sentido o
Capítulo 2 69
urbanismo assume um papel fundamental e cada ação educativa demonstra os moldes de fazer
a cidade e vivenciá-la como cidadãos. Cidadania, por sua vez, significaria viver de forma
racional. A racionalidade deveria estar presente desde a cidade e a casa em que se mora até a
roupa que se veste. Tudo deveria ser planejado para a indústria, uma vez que ela produzia
tudo. O plano urbanístico de uma cidade, por exemplo, deveria ser equiparado ao desenho
industrial. Guardadas as devidas funções sociais de qualquer plano urbano - habitação,
trabalho, lazer etc -, ele deveria também eliminar os empecilhos que impossibilitassem a
“circularidade e continuidade das funções”. Parte-se do princípio de que a dinâmica da função
determina forma e tipologia do edifício. E é neste sentido que é citável o projeto do próprio
edifício da Bauhaus, uma das grandes obras-primas do funcionalismo europeu, que foi
construído a partir de um profundo estudo da unidade funcional.
Além das questões da função somava-se ao perfil dessa sociedade democrática um
novo olhar perante o quesito da comunicação lingüística na arquitetura e no design. Se no
passado os edifícios representativos e monumentos comunicavam uma escala de hierarquia à
sociedade, para Gropius uma comunicação revestida de democracia deveria acontecer de
forma intersubjetiva, ou seja, de pessoa para pessoa. Além da arquitetura entendiam-se como
itens constituintes da comunicação o traçado da cidade, dos veículos, dos móveis, dos objetos,
das roupas, da publicidade, das marcas de fábricas, dentre outros. Tudo que era considerado
no âmbito da comunicação visual tornava-se objeto de análise e projeto na Bauhaus. Nesta
escola também teorizava-se sobre o princípio da “forma-padrão”. Esse Este princípio se fazia
extremamente relevante tanto do ponto vista técnico, através da produção em série, quanto do
ponto de vista sociológico, supondo a forma mais adequada de um produto, seja ela de que
natureza for.
Em relação à configuração de formas adotadas havia na teoria e na didática da
Bauhaus uma tendência de geometrização da formas, entretanto, que não se tratava da
formulação vista no Purismo francês. Tratava-se de uma modelagem pré-padronizada que
poderia assumir diferentes significados conceituais mediante as circunstâncias. Tratava-se de
uma escola que se esquivava de uma didática de um racionalismo mecânico da tecnologia
industrial e trazia à tona a capacidade de percepção do sujeito em captar as raízes primeiras e
mais secretas da consciência, afinal “a percepção já é a consciência”.
Embora nos primeiros anos de escola se tenha negado a relevância da inspiração
do artista e se impusesse a obrigação moral de uma práxis produtiva, a Bauhaus sempre foi
considerada uma escola de arte, um núcleo artístico dinâmico que dialogava com todas as
tendências de referência da arte européia naquele momento, como o Neoplasticismo holandês,
Capítulo 2 70
projeta para mínimas, em extensão” (ARGAN, 1993, p. 276). Sua arquitetura se valia de
paredes de vidro, estruturas de sustentação e sua entidade de forma era o plano. Era um
crédulo racionalista, o que o fazia colocar em meio à cidade prismas com cem metros de
altura em média, que eram revestidos por figuras quadriculadas e que dispensavam os antigos
corpos estruturais de pilares e vigas maciças, que até então compunham o cenário dos antigos
arranha-céus americanos. Ele acreditava que um arquiteto deveria ser um artista que, através
do domínio da ciência e da técnica de época, alcançaria um resultado belo. A grandeza de
Mies, segundo Argan, não consiste apenas em ter se sido poeta enquanto praticava tecnologia,
e sim, por ter descoberto que para se trabalhar com uma postura em série não se excluí o
ritmo. Este ritmo era concebido através da qualidade das formas emitidas pela boa arquitetura.
A terceira orientação a ser apontada por Argan é o Racionalismo ideológico, que
proveu forma ao Construtivismo Soviético. Segundo ele, apesar da existência de alguns
movimentos de vanguarda na Rússia das artes figurativas e do teatro nos primeiros anos do
século XX, as dificuldades políticas e econômicas impossibilitaram o desenvolvimento de
programas construtivos. Todas as manifestações relacionadas ao “vanguardismo”
arquitetônico estavam relacionadas às artes plásticas e não a um legado arquitetônico
propriamente dito. Desde o princípio, apesar das conclamações e manifestos a respeito do
tema, conferiram uma dificuldade de ordem de capacitação por parte dos profissionais que se
propunham a adotar os preceitos construtivistas e de ordem financeira. Estes preceitos
consistiam na indistinção das artes, em que a arquitetura era vista como uma grande escultura
de estrutura efêmera e possuía funcionalidade técnica de sistema de comunicação e
expressividade simbólica. Em se tratando dos preceitos, a nova arquitetura soviética
apresentava modelos formais fortemente inspirados nas obras de Malevich, Tatlin e Pevsner.
Fundamentava-se na ousadia e dinâmica adquiridas nas experiências teatrais soviéticas de
cenografia, coreografia e direção às quais o povo vivenciava em seu cotidiano. Para eles o
teatro era uma espécie de “fonte vital” em que os artistas acreditavam estar um poderoso meio
de comunicação com o povo. Logo, uma vez que a arquitetura apreendeu, releu e revelou
características da arte, despertaria facilmente uma identificação por parte do público.
Dentre os nomes de destaque do Construtivismo, cita-se Vladimir Tatlin,
responsável pela obra que sugere a instauração dessa nova estética: o projeto para o
Monumento à Terceira Internacional (1919). Citado também é El Lissitzky, que era arquiteto,
pintor, artista gráfico e teórico. Em seus projetos Lissitzky se valia do geometricismo, pois
segundo ele a geometria expressava o espírito racionalista da revolução; das soluções formais
potencialmente ousadas, pois as técnicas construtivas possibilitavam resultados que refletiam
Capítulo 2 72
artes delas derivadas: “As técnicas deveriam ser reduzidas ao mínimo necessário para
manifestá-lo. Segundo a poética neoplástica, o puro ato construtivo é estético: unir uma
vertical e uma horizontal ou duas cores elementares já é construção” (ARGAN, 1993, p. 287).
No que diz respeito à questão da função social o De Stijl e a arquitetura moderna
funcionalista holandesa se destacaram. Este quesito foi tratado com habilidade pelos
holandeses, que distinguiram a função social da finalidade do edifício e deste modo
alcançaram resultados satisfatórios, afinal uma arquitetura pode apresentar uma função social
sem com isto se propor a realizar uma reforma na sociedade. Foi neste sentido que o De Stijl
apresentou relevância fundamental em sua contribuição ao quadro geral da arquitetura
moderna européia, definindo uma tipologia da construção civil a partir da análise dos
esquemas de distribuição de espaços correspondentes a múltiplas situações funcionais.
Dentre os arquitetos que se destacaram aderindo ao neoplasticismo cita-se Rietveld
(que atuou entre 1918 a 1924) e Oud. Rietveld desmonstrou ser o arquiteto mais ligado às
premissas teóricas e ao rigor formal do movimento (ARGAN, 1993, p. 288). Para ele,
nenhuma forma existe a priori: a forma é resultado da ação de construir, juntar e compor.
Rietveld construiu em Utrecht (1924) a Casa Schröder, que é considerada um modelo de
habitação neoplástica. A casa que se diria feita “para” os moradores e era feita “pelos”
moradores, que utilizavam elementos pré-fabricados com material de construção que crianças
fazem em brincadeiras. Utiliza-se a forma geométrica por ser a mais conhecida, a menos
inventada, e não uma proporcionalidade abstrata; mas essa familiaridade psicológica com a
forma torna o espaço arquitetônico “neoplástico” um espaço a medida do homem (ARGAN,
1993, p. 289). Já para Oud a poética neoplástica tratava-se da simplificação radical dos
processos construtivos, abrindo caminhos permissíveis para construir em série com elementos
pré-padronizados e pré-fabricados. Os bairros de casas enfileiradas construídas para famílias
operárias, projetadas Scheveningen (1917) e Rotterdam (1918-20), são experiências que
refletem não só a economia funcional, de clareza distributiva e de formas de qualidade
estética relacionada à utilidade, mas também o caráter da função social propriamente dito,
onde os edifícios são oferecidos à sociedade como um serviço e não como mais um programa
social.
Em 1928 o movimento De Stijl deixa oficialmente de existir, exatamente quando a
revista com o nome do movimento interrompe suas publicações. Nesta situação, apenas Van
Doesburg, idealizador do movimento, era o único que concebia o neoplasticismo como
vanguarda. Para os outros arquitetos o neoplasticismo era apenas uma ordem nova e mais
clara.
Capítulo 2 74
cumprir apenas com o papel de técnicos qualificados frente a um serviço social que seria
fundamental naquele momento. E é nos Estados Unidos que nascia o mito da obra-prima e do
artista gênio, protagonizado por Frank Loyd Wright. Seu reconhecimento é obtido
principalmente na fase em que os esforços de Sullivan em demonstrar uma arquitetura
racional americana à altura da racional européia estavam quase extintos. Seu diferencial está
exatamente em não querer demonstrar uma arquitetura que se equiparasse a européia, e sim no
propósito de apresentar uma arquitetura completamente diferente. Neste sentido, une-se a
Ruskin e a Morris na tentativa de criar uma base intelectual capaz de estabelecer uma união
entre artista e natureza, cujo ideal havia sido destruído pelo intelectualismo do Renascimento.
No discurso de Wright a arquitetura é concebida como pura criação, e como tal não deriva da
história, logo a contesta, tornando-se anti-história. Argan (1993) reitera que enquanto a
arquitetura européia preparava-se para levar às últimas conseqüências o historicismo
romântico, engajando a arte nas lutas políticas do discurso, Wright nega a existência de
relação entre a arte e a história. Desta forma ele afirma que somente um povo como o
americano, que não trazia consigo uma carga simbólica histórica, que estaria apto a
desenvolver em sua plenitude uma arte criativa. Todos os acontecimentos daquele momento
levavam à aproximação de Wright com a Europa, que denotavam sinais cada vez mais
evidentes da crise cultural européia. Após a exposição de Berlim, em 1910, Wright se tornou
uma das referências essenciais da cultura artística e moderna. Nos primeiros vinte anos de
suas atividades Wright se apoiava na classe média, com quem encontra bases sólidas que
proveriam o progresso americano. São produtos desta época a Prairie houses e a Robie house,
de 1909. Wright se refere à casa como um meio de um contato com a realidade, onde cada
indivíduo realiza a si próprio. Em se tratando de formas, este conceito se aplicaria através da
“eliminação da caixa espacial, da redução das determinantes formais às horizontais e verticais
e ao cruzamento de planos, planta livre articulada, concentração das forças de sustentação
num núcleo plástico interno, anulação das separações nítidas entre espaço interno e externo,
união entre edifício e o ambiente natural entendido como local determinado, situado”
(ARGAN, 1993, p. 296).
Em torno de 1915 Wright seguiu suas atividades em território japonês, onde
demonstrou entusiasmo pela arquitetura do Extremo Oriente. Diante disso, Argan (1998)
questiona como conciliar este interesse dentro de uma linha anti-historicista que ele defendia.
A resposta se encontra na forma como é vista a arquitetura japonesa, onde mesmo pertencente
ao passado, não é intrinsecamente histórica: “é o sinal de uma aliança íntima, profunda,
capilar entre o homem e natureza, quase de sublimação da realidade na inteligência e na obra
Capítulo 2 76
18 Método desenvolvido pela Escola de Belas Artes de Paris, nos séculos XVIII e XIX, referente que consistia em
três etapas: o primeiro momento é o desenvolvimento do partido (“parti pris”), que é o esquema conceitual básico
definido a partir de esquemas tipólogicos tradicionais previamente catalogados; em seguida desenvolvia-se o
“esquisse”, o estudo que definia com maior precisão as características gerais da edificação; finalmente preparavam-se
os desenhos finais (“rendu”), tratados de forma requintada e fiéis ao “esquisse” original.
19
Refere-se aqui a escola carioca das primeiras gerações da escola carioca, sabendo portanto da existência de
outras gerações da mesma escola.
Capítulo 2 81
Nesta visita ofereceu sua maior contribuição pessoal para os arquitetos brasileiros
(da equipe liderada por Lúcio Costa) apresentando uma série de princípios que eram até então
desconhecidos, dentre os quais se destaca o uso das suas premissas com flexibilidade.
Tratava-se da elucidação das inúmeras possibilidades de aplicação derivadas dos cincos
pontos da arquitetura. Sobre isto é oportuno ressaltar, que quando se coloca aqui a restrição da
teoria de Le Corbusier a apenas os cinco pontos está sendo levado em consideração o fato de
que dentre as teorias corbusianas esta foi definida com maior adesão por parte dos arquitetos
brasileiros.
Este foi o estímulo necessário para que em alguns anos a arquitetura brasileira, que
nesta época possuía como referência a escola carioca, encontrasse seus próprios caminhos e
configurasse uma suposta “identidade brasileira”20. Esse “abrasileiramento” é entendido como
processo de busca de originalidade própria identificado na arquitetura moderna brasileira, no
fim dos anos 30, que culminou na definição desse caráter, ratificado em meados dos anos 40.
Caracterizam este processo o desprendimento dos preceitos do estilo internacional (fonte de
20
Identidade nacional adquirida por conveniência que se valeu da excepcionalidade e do reconhecimento
internacional de algumas obras da escola carioca a fim de validar o aspecto “brasilidade” encontrado em todas
as outras produções oriundas deste grupo. Acreditava-se que conforme este aspecto fosse reconhecido, haveria a
legitimação de um conjunto de características com as quais a arquitetura modernista brasileira poderia
idealmente se expandir (BASTOS,ZEIN, 2010).
Capítulo 2 82
Por volta dos anos 40 quase toda a produção brasileira moderna (mesmo as não
cariocas, mas que por vezes a utilizavam como referência) já apresentavam soluções de
adaptação ao clima, tornando esta questão parte inerente da arquitetura moderna brasileira. De
forma concomitante, outras regiões do Brasil também apresentam soluções referentes ao
clima. Devido à necessidade que o próprio clima exigia, o Nordeste foi o que mais se
Capítulo 2 83
Ainda em meados dos anos 40 no centro-sul outros arquitetos como Lúcio Costa e
seu discípulo Francisco Bolonha também trataram sobre esta questão. Nesta fase partes dos
seus projetos apresentavam um caráter remanescente. Tratava-se de uma nova corrente da
escola carioca, que liderada por Lúcio se valia da conciliação de preceitos da arquitetura
racionalista com uma inspiração luso-brasileira, o que originava uma arquitetura moderna
atenta às particularidades locais. Dentre os elementos que caracterizaram esta arquitetura
pode-se citar o uso de telhados de telhas-canal com grandes beirais, de venezianas e
muxarabis, de varandas e galerias de circulação externas, de revestimentos de azulejos etc.
(BRUAND, 2008). Além do referido caráter remanescente, todos os elementos também se
fazem presentes frente às questões climáticas. Neste sentido, algumas dessas soluções também
puderam ser vistas no nordeste.
Desta forma, no Recife dos anos 50, no que diz respeito às questões climáticas,
dois arquitetos tornaram-se protagonistas: Delfim Amorim, português, formado na Escola do
Porto em 1947 e Acácio Gil Borsoi, formado em 1949 na Faculdade Nacional de Arquitetura.
Apesar das suas diferentes formações, Borsoi e Amorim procuravam elaborar uma arquitetura
Capítulo 2 84
moderna que estabelecesse relação com a tradição local. E era a idéia de adequação dos
preceitos modernos às peculiaridades do clima quente e úmido que ambos transpunham aos
seus alunos, na Escola de Belas Artes de Pernambuco. Dentre as técnicas por eles utilizadas,
pode-se citar as seguintes utilizações: da telha canal sobre laje (idéia constatada por Amorim),
cuja finalidade era minimizar os efeitos de isolação; da laje dupla, uma outra solução que
consistia em isolar termicamente as edificações através da disposição de lajes que eram
arrematadas paralelamente; de planos opacos recobertos por materiais cerâmicos, que além de
possuírem efeito decorativo, protegia as paredes contra a ação das intempéries; do uso de
aberturas móveis - esquadrias, nas suas diversas formas e materiais, o brise-soleil móvel
horizontal ou vertical; e aberturas fixas - o elemento vazado, nos seus diversos materiais e
desenhos, o brise-soleil em concreto e o peitoril ventilado (HOLANDA apud AMORIM,
2000).
Uma vez explorado o aspecto de “abrasileiramento” sobre as questões do clima
até a década 50, faz-se necessário o retorno à década de 40 para a contemplação das questões
que diziam respeito ao supracitado vocabulário plástico deste processo. Definia-se uma
terceira corrente da escola carioca, com ênfase no formalismo, protagonizada por Oscar
Niemeyer.
Após o projeto do Pavilhão do Brasil em Nova York, em 1940, Niemeyer foi
convidado a elaborar um projeto para o Conjunto Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Neste
complexo, composto por cinco edifícios, Niemeyer inaugurou uma fase em sua carreira onde
passou a projetar sozinho e imprimiu uma nova linguagem, de caráter próprio. Por apresentar
soluções inovadoras e até então desconhecidas no cenário da arquitetura moderna, estas obras
o fizeram ser reconhecido como “gênio nacional21”. Sobre essas obras Segawa comenta que
Niemeyer “produziu neste conjunto uma arquitetura que se afastava da sintaxe corbusiana em
direção a uma expressão mais pessoal, decerto amadurecida com a sua experiência
novaiorquina” (2002, p. 98). Tratava-se de uma expressão particular que se valia da
exploração do concreto armado em suas máximas possibilidades plásticas, estabelecendo por
vezes jogos de volumes, instaurando novas formas e apresentando ao mesmo tempo
apresentado leveza e uma linguagem sóbria para as composições. Sobre esse projeto Lemos
(1979) comenta:
21
Ver: BASTOS, Maria Alice; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: Arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva,
2010.
Capítulo 2 85
22
Ver: BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2008.
23
Tratava-se da arquitetura de corte corbusiano, mas que apresentava o caráter brasileiro.
Capítulo 2 86
24
Refletindo igualmente certas mudanças importantes nas trajetórias e obras dos mestres internacionais.
25
O que Zein (2007) considera difícil é a possibilidade de encontrar, em tantas e tão diversas manifestações
ditas “brutalistas”, definir o que ela chama de “ar de família”, algo de especial que transcende persitências
formais e materiais e cuja ausência suprime a possibilidade que a obra possui de ser considerada como tal.
Capítulo 2 87
maneira parcial ou integral (se é que seja possível), mesmo que cada obra revele uma análise
individual e apresente diferenças conceituais: 26
[...] pode-se simplesmente afirmar, com base nos fatos, que determinadas
obras serão brutalistas, apenas e suficientemente porque parecem ser; e que o
que determina sua aproximação e inserção na tendência não é sua essência,
mas sua aparência, não é seu íntimo, mas sua superfície, não são suas
características intrínsecas, mas suas manifestações extrínsecas [...] (ZEIN,
2007).
Sobre o conjunto de características formais, Zein (2007) considera como dois dos
possíveis conjuntos as descrições definidas por Banham e por Renato Pedio. Para Banham
uma arquitetura brutalista deve apresentar:
Já para Rentao Pedio, numa linguagem mais poética, o brutalismo deve apresentar:
26
Segundo Zein (2007) a variedade de diferenças conceituais vistas nas obras ditas brutalistas não impede a sua
inserção neste conjunto.
Capítulo 2 88
Artigas (1961); Santa Casa de Misericórdia, SP de Fábio Penteado (1967); Pavilhão Oficial
do Brasil na Expo’ 70, de Paulo Mendes da Rocha; UNB-BSB (1962), Oscar Nieymeyer com
participação de ouros arquitetos, etc. Uma vez identificado o brutalismo, retornemos a meados
dos anos 50 (BASTOS, ZEIN, 2010).
Conforme acima referido, paralelamente ao despontarem os paradigmas do
brutalismo, os arquitetos da escola carioca também apresentam uma alteração nas questões
que dizem respeito à forma. Dentre eles destacou-se Oscar Niemeyer. O processo de inflexão
na obra de Niemeyer pôde ser constatado em sua própria autocrítica:
se erroneamente do entendimento27 de que esta produção foi de fato o apogeu dos arquitetos
da escola carioca, à qual Niemeyer fazia parte. Identifica-se nos dias atuais que esta visão, que
tornou-se por muitos anos o senso comum, não priorizou a análise cuidadosa dos edifícios.
Outra questão também abordada erroneamente é a visão que atrela o encerramento do ciclo da
arquitetura moderna brasileira a Brasília. A prova cabal de que se trata de um equívoco é toda
a inovadora produção brutalista desenvolvida (principalmente em São Paulo).
Na continuidade de um olhar dos dias atuais, onde já se passaram quase 80 anos
das primeiras manifestações da arquitetura moderna no Brasil, julga-se pertinente assinalar
alguns pontos que se apresentam como relevantes. O primeiro ponto diz respeito à suposta
hegemonia das formulações dos arquitetos da primeira geração no cenário brasileiro.
Fundamentando-se na perspectiva de Maria Alice Bastos e Ruth Zein (2010), entende-se que
de fato nunca houve nenhuma arquitetura moderna hegemônica, mesmo em determinada
época, a ponto de poder ser considerada como “a” arquitetura moderna brasileira. Identificou-
se que este rótulo atribuído à escola carioca foi proveniente de uma conveniência que se valeu
da excepcionalidade e do reconhecimento internacional de algumas obras desta produção, a
fim de validar o aspecto “brasilidade” encontrado em todas outras produções oriundas deste
grupo. Acreditava-se que conforme este aspecto fosse reconhecido haveria a legitimação de
um conjunto de características com as quais a arquitetura modernista brasileira poderia
idealmente se expandir. E foi devido à validação deste aspecto que houve não só o errôneo
reconhecimento hegemônico desta arquitetura, durante muitos anos, assim como de fato a
expansão de suas características que contribuíram para a consolidação desta arquitetura em
parte do panorama internacional e nacional (nunca aconteceu na totalidade).
O segundo ponto também inscreve numa visão defendida por Maria Alice Bastos e
Ruth Zein (2010), que propõe ativar um olhar de cunho plural para a arquitetura moderna do
Brasil. Julgaram as autoras como imprecisa a visão canônica, que estabelece a existência de
uma unidade formal, conceitual e histórica da arquitetura moderna brasileira, que poderia ser
definida em três momentos: a. Movimento Moderno (foco nas realizações dos arquitetos da
primeira geração); b. Brasília; c. Pós-Brasília (foco na multiplicidade de tendências do
período após 1980). Compartilhada com enfoque também de outros pesquisadores, Bastos e
Ruth Zein (2010) criticam a “não inserção” de quase todas arquiteturas realizadas no Brasil
durante 1955-1970 e na desconsideração das profundas mudanças de paradigmas que
ocorreram ao longo da década de 50. Desta forma elas também julgam a visão canônica como
27
Ver: BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2008.
Capítulo 2 90
Neste sentido, longe de esgotar este tema, foi proposto, a partir de uma linha
cronológica, o relato de forma breve sobre alguns dos princípios que configuraram a
arquitetura moderna brasileira, fazendo uma predileção da explanação daqueles que se
fizeram presentes na arquitetura de Aracaju.
28
Até então, a capital era conformada apenas por edificações bastante singelas.
Capítulo 3 92
Há quem dissesse que este neoclássico não se tratava de uma tendência eclética,
disfarçada. Para Fernando Porto as edificações apresentavam traços e elementos do
neoclássico, apenas no frontão triangular e no arco pleno de algumas janelas, que segundo ele
caracteriza este estilo no Nordeste29. No que se refere à influência deste estilo a residências,
observava-se incorporações de alguns elementos nos poucos exemplares que pertenciam a
famílias abastadas localizados aos limites do quadrado de Pirro. Segundo Santos (2002) essas
primeiras residências possuíam em comum o uso de platibanda, que era uma oposição
normativa impostas pelo código de posturas da época.
29
Ver: PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: Gráfica Editora J.
Andrade Ltda., 2003.
Capítulo 3 93
Posteriormente, como final desta fase neoclássica, Porto (1945) chama a atenção
para um novo estilo: o neogótico, que possivelmente chegou a Sergipe via Bahia, expressão
que não obteve muito êxito na cidade, dado à exigüidade das obras nesta linguagem (NERY;
SANTOS, 2007, p.3). São exemplos deste estilo algumas obras (templos religiosos) que
foram adaptadas nos finais de 1910 para que se tornassem neogóticas. Dentre elas pode-se
citar a Igreja de Santo Antônio, que se distinguia por ter acompanhado algumas
transformações estilísticas que passou pela cidade. Inicialmente identificava-se na fachada
desta igreja uma proximidade nos moldes do barroco, que posteriormente foi substituída pelo
uso de um frontão de inspiração neoclássica e pela privação do uso de decoração. Sua
passagem para uma expressão neogótica em moldes ecléticos, configuração vista até os dias
atuais, inseriu-se no universo de reformas pelas quais passava a capital, onde o ecletismo
italiano predominou. Não era de estranhar que, de alguma forma, a instituição da Igreja
Católica desejasse apresentar expressões exibidas pelos edifícios idealizados pelo Estado. No
entanto, um fato que chama atenção é que ainda na década de 30, em meio ao fervor da
modernidade, a Igreja ainda optasse pela conciliação desses dois estilos. A exemplo disso,
pode-se citar a construção da Igreja São José e a reforma da Catedral, realizadas nessa década.
(NASCIMENTO; SANTOS 2003, p. 231). Arrisca-se a hipótese de que essa conciliação
estilística tenha se dado no caso do eclético, pela necessidade de acompanhar as tendências, e
no caso do gótico, pela simbologia trazida pela verticalidade e as suas respectivas
características que propiciavam uma atmosfera mística. Não mais atendo-nos a hipóteses,
voltemos a 1910, mais precisamente ao fim desta data.
de uma forte mão-de-obra decorrente da grande imigração italiana na capital paulista, que
impõe um ritmo maior às construções urbanas. Caindo no gosto da burguesia, o ecletismo
italiano se disseminará no restante do país. (SANTOS, 2003, p. 34).
30
Em seu primeiro mandato de governo, iniciado em 1912, José Joaquim Seabra, conhecido como J.J. Seabra,
foi a São Paulo buscar referências de mão-de-obra especializada - arquitetos, pintores, decoradores, artesãos
especializados – a fim de modificar a fisionomia plástica da capital baiana. (SANTOS, 2002, p. 30)
Capítulo 3 95
Desta forma, a partir do fim da década de 10, início de 20, Sergipe encontrava-se
infestada de uma nova “febre”, só que desta vez a “febre” era eclética. Segundo o Professor
Luís Fernando Ribeiro Soutelo, o ecletismo31, tido como uma mistura caótica dos estilos,
representou, em Aracaju, um momento de transição entre o neoclássico e a modernidade,
desfazendo assim o entendimento sobre tal manifestação ter sido apenas uma colagem de
características estilísticas para a cidade (SOUTELO, 2003).
31
Ver PATETA, Luciano. Considerações sobre o Ecletismo na Europa. Milão:1935.
32
Também nesta época a cidade passa por inúmeras transformações, das quais se destacam os melhoramentos da
infra-estrutura, dos serviços e dos equipamentos públicos, devido à emancipação política.
Capítulo 3 96
fato mais curioso de toda a questão se encontra no desconhecimento da presença deste tipo de
adorno em outras obras arquitetônicas do Brasil no mesmo período (SANTOS, 2002). Sem
mais detalhes, retomemos a seqüência cronológica das correntes estilísticas.
33
Isso ocorre devido a ausências de estudos aprofundados que contemplem o tema.
Capítulo 3 97
do Art Nouveau. Por falar em Art Nouveau, pouco se viu deste estilo em Aracaju. Na Europa
esta corrente estilística surgiu em reação ao academismo e ao ecletismo vigente. No Brasil e
em Aracaju este estilo não ganharia a mesma conotação, sendo muitas vezes parte da
decoração do próprio ecletismo, muito utilizado em manifestações em ferro de gradil,
corrimão e guarda-corpo de escadas. Por exemplo, observa-se este uso na escadaria do Palácio
do Governo e nos portões laterais do Palácio Inácio Barbosa (SANTOS, 2003).
Moderno, e sim de uma vertente estética também moderna que acontecia em paralelo ao
“consagrado” racionalismo clássico.
Em Aracaju, assim como na maioria das capitais brasileiras (e por que não dizer
em todas?), a implantação da estética de um “suposto”34 Art Déco e suas variantes foi
derivada de um discurso de personalização política e racionalista que ostentava do poder
através dos signos emitidos por esta arquitetura, exibindo modernidade e monumentalidade.
No plano nacional o final dos anos 20 foi marcado pela implantação do ideal getulista e por
um modelo nacionalista que impulsionava o setor industrial do Brasil. Com a ascensão de
Getúlio Vargas ao governo, atrelada os ideais de nova ordem e progresso, vieram à tona os
conceitos de funcionalidade, eficiência e economia na arquitetura e em especial nos que se
referiam às obras públicas. E foi dentro deste discurso que se elegeu a arquitetura Art Déco
como representante deste poder calcado pela personalização da Era Vargas. Como já visto no
Capítulo 2 deste trabalho, o Art Déco trata-se de uma arquitetura definida pela apreensão e
uso de caracteres como simplificação geométrica, linhas retas, horizontalidade, simetria,
presença de adornos, sobriedade, centralidade e escalonamento, dentre outros que
contribuíram para a constante reafirmação da personalização do poder.
34
Admite-se neste trabalho como “suposto” Art Déco uma arquitetura que apesar de apresentar linguagens que
faziam remissão ao Art Déco, também se valia de repertórios remissivos a outras linguagens modernas e que têm
sido erroneamente incorporadas pela linguagem Art Déco. Um exemplo a ser citado é a menção ao
expressionismo alemão, ao cubismo e ao futurismo italiano, facilmente identificados na produção brasileira e
aracajuana.
Capítulo 3 99
35
Apesar de Segawa (2002) atribuir essas produções ao Art Déco é oportuno observar que muitas delas
apresentam menção a outras linguagens modernas, como foi o caso da agência de Aracaju, que apresentou uma
linguagem próxima ao cubismo. Neste sentido, prefere-se relacionar a linguagem apresentada nesta agência
como uma arquitetura que apresentava um suposto Art Déco.
36
Ver: LACERDA, Ana Maria Cavelheiro; SANTANA, Mariely Cabral de; AFFONSECA, Silvia Pimenta.
Soluções Técnicas e Materiais Utilizados na Arquitetura Moderna Salvador 1920-40. Trabalho produzido
pelo Centro de Estudos da Arquitetura na Bahia.- CEAB. Salvador.
Capítulo 3 100
37
Ver: Cf. PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU. Ato N.38 -10 set 1935, nomeia comissão para elaborar
o ante-projeto do Código de Posturas do Município. In: Actos do Governo Municipal e Leis e Resoluções de
Câmara Municipal – 1935. Aracaju: Est. Graph. J. Lins de Carvalho, 1936. p .31-31.
Capítulo 3 101
curioso é que este tipo de propaganda incorporada pelo governo de Sergipe estava além das
possibilidades históricas, físicas e econômicas de Aracaju. Sobre isso Santos afirma:
Sem dúvida este fato nada mais era do que a ratificação do comprometimento de
Eronides com o discurso “modernizante” de Vargas. Com relação a este aspecto ressalta-se a
relevância e concordância de Godofredo Diniz Gonçalves (na posição de Prefeito de Aracaju)
com todo este discurso. Ainda com relação a Diniz foi observada nesta época a realização de
intervenções por parte da Prefeitura durante a aprovação do novo Código de Posturas (1938).
Dentre as melhorias, propostas pelo código, foram verificados vários decretos e atos que
foram deferidos e favoreceram a presença de elementos arquitetônicos nunca vistos nas
construções da cidade. Certamente o Art Déco ou parte dos seus elementos decorativos se
enquadrariam neste contexto. Disseminava-se assim o Art Déco e suas variantes.
38
A nacionalidade de Altenesch é algo bastante discutido. Fortes Neto (1955, p. 39) assim como e Luiz Antônio
Barreto - Jornalista e historiador - dizem ser ele alemão. Já Porto, que foi engenheiro da Prefeitura na década de
30 e conviveu com Altenesch, afirma que seria de nacionalidade austríaca. De fato, muitas de suas construções
possuem uma linguagem estética que remete ao Art Nouveau da região de Sessezion na Áustria, mas até hoje
nada se pôde comprovar (SANTOS, 2002).
39
A palavra bungalow teve origem na Índia e deriva de bãnglã que designava casas baixas com galerias ou
varandas em seu redor. Passou a ser utilizada pelos colonizadores ingleses para indicar pequenas residências
urbanas de um pavimento e para diferenciá-las dos cottages – pequenas casas rurais. No Brasil, a expressão foi
Capítulo 3 102
“suposto” Art Déco. Ele costumava dizer que a arquitetura que ele propunha era “a gosto do
cliente”, o que não determinava um só estilo a ser seguido.
Para Barreto “talvez seja Altenesch o engenheiro e construtor que tenha dado,
individualmente, a maior contribuição à arquitetura de Aracaju, construindo dezenas de casas
em várias ruas da cidade: Pacatuba, Barão de Maruim, Estância, Itabaiana, Capela, Vila
Cristina, dentre elas”. Ainda hoje sobrevivem alguns exemplares dos bangalôs de Altenesch.
Outros foram derrubados, modificados e destruídos, cedendo terreno para novas edificações.
aportuguesada para bangalô – “pequena residência provida de varanda alpendrada, pretensiosamente pitoresca e
geralmente levantada em bairros da cidade” (CORONA apud SCHLEE, 2003, p. 6) Os bungalows representam
apenas mais uma opção para moradia da classe média, que podia contar com uma pequena residência e
reproduzir os modelos da habitação burguesa em uma escala reduzida – jardins, chaminés, estilos etc. (SCHLEE,
2003, p. 6).
Capítulo 3 103
Para muitos dos que relatam a historiografia sergipana foi Altenesch o primeiro a
aplicar sistematicamente o cimento armado e a introduzir nas residências as modificações que
visavam o conforto térmico mediante articulação espacial. Dentre as alterações, pode-se citar
a nova forma de implantação que consistia em centralizar o edifício no lote, possibilitando a
existência de recuos e a inserção da varanda na frente da edificação. Apesar de reconhecido
pelos feitos, parte desta historiografia considera a sua arquitetura residencial de mau gosto e
inapropriada:
Ainda que o gosto possa ser duvidoso, pelos detalhes exagerados de cada
uma dessas casas, quase todas de projetos recortados, não se pode ignorar
essa presença criativa e criadora, que deixou uma marca indelével no
conjunto do casario aracajuano (BARRETO, 2004).
Desta forma, não há dúvidas de que Altenesch se tornou uma das figuras
responsáveis pela transformação da paisagem da capital sergipana nos anos 30 e 40. Apesar
de suas obras serem questionadas mediante a qualidade, é incontestável o caráter inovador,
que refletia o espírito da época. Muitas críticas partiam do princípio de que sua arquitetura
não se adaptava ao clima. Sobre isso Alencar Filho ironiza: “Modificou a arquitetura da
época. Até hoje podemos ver algumas ruas, sob temperatura de 32º à sombra, suas casas a
espera de neve” (FILHO apud SANTOS, 2002, p. 45).
No entanto, sobre essa questão outras colocações devem ser consideradas, a
começar pelo período antecedente ao de maior fomento da sua obra considerada entre 30-39.
A esta altura as proposições do International Style já estavam consagradas. “Por uma
arquitetura” (1923) já teria se tornado um corolário e influenciava na arquitetura de vários
países e Warchavchik já teria construído a casa da Rua Santa Cruz (1925). Partindo deste
princípio e levando em consideração o fato de Altenesch não possuir nacionalidade brasileira,
questiona-se se a sua não preocupação com a adaptação ao clima não teria sido proveniente do
momento em que a arquitetura deveria ser universal. Se sim, o que Altenesch estaria
propondo nada mais era do que a “nova” arquitetura se propunha a fazer. No entanto, para
afirmar isso se faz necessário uma análise completa, ou ainda parcial da sua obra, incluindo o
edifício como um todo: fachadas, implantações, articulações espaciais, materiais utilizados
etc. Somente desta forma, poderia se emitir um prognóstico se de fato a “arquitetura
alteneschiana” seria fruto de uma maturação proveniente dos moldes de uma arquitetura de
propósito moderno, tão logo, universal, ou se trataria de reproduções infundamentadas
trazidas para servir de novidade à cidade.
Capítulo 3 106
sabe-se que boa parte destas obras eram produto de uma linguagem moderna apresentada
apenas nos elementos formais da fachada. Utilizava-se em muitos casos os processos
artesanais e os elementos primários de construção, que se opunham ao emprego de novos
materiais construtivos – símbolos da modernidade (SANTOS, 2002). Mesmo no caso do
concreto, que possibilitava as composições do estilo, verifica-se que até a década de 1937 o
seu uso era bastante limitado. Isto se modificou discretamente a partir desta data, com a
chegada da Construtora Emílio Odebrecht & Cia, que, responsável por parte de construções
de edifícios públicos, introduziu novas tecnologias à construção civil da cidade. No entanto,
para grande parte da população, somente a aparência “moderna” era o que importava para os
aracajuanos: não necessitaria ser “moderno”, bastaria parecer.
Esta modernidade simplificada materializava-se quase sempre através de
elementos que funcionavam como signos de uma estética moderna Art Déco. Dentre eles
pode-se citar o uso de figuras geométricas nas fachadas, em especial a do losango; de
estruturas escalonadas; de janelas bay window e bow window; de varanda semi-embutida; de
elementos que remetiam ao náutico, a exemplo das janelas tipo escotilhas etc. (SANTOS,
2002).
Traduzindo o retrato desta década, estes signos foram reproduzidos nos anos 40
em muitos exemplares em Aracaju, quando no Brasil o Art Déco, como ornamento, decaía no
gosto dos arquitetos. No entanto, nesta época, esta reprodução era vista apenas em edifícios de
ordem particular. Na arquitetura oficial, cuja intenção era imprimir uma personalização do
poder, esta linguagem foi iniciada com afinco no fim do Governo de Augusto Maynard e toda
a gestão de Eronides de Carvalho e encerrada juntamente com este governo. Estava por vir à
introdução de outras arquiteturas modernas.
40
Quando se remete aos termos “já conhecidos”, refere-se ao fato nas metrópoles brasileiras. A introdução se
deu na década de 30.
Capítulo 3 108
41
Os apicuns são terrenos formados por sedimentos arenosos margeando as áreas do ecossistema manguezal,
podendo aparecer em variadas dimensões. (BARRETO; BOAS, GOMES; RIBEIRO; SANTANA; UCHA,
2008).
Capítulo 3 109
havia ido por medo de que a sua obra desmoronasse. (A PROVÍNCIA,... 2008, p.1) Para os
que partilhavam desta opinião, o prédio se encontra erguido até os dias de hoje.
Ainda no início dos anos 50, no governo de Arnaldo Garcez, surge a construção do
pioneiro exemplar modernista público de Aracaju, a sede do D.E.R-SE (Departamento de
Estradas e Rodagens de Sergipe). Localizado na Av. São Paulo, no bairro Siqueira Campos, o
edifício foi construído em menos de um ano, entre os anos de 53-54, sob a supervisão do
engenheiro e diretor do órgão Fernando Garcez Vieira. Com três pavimentos - incluindo o
térreo -, sua composição é definida por um monobloco de traços reguladores, suspenso
parcialmente por pilotis. Externamente, em suas quatro fachadas identifica-se a existência de
uma marcação horizontal dos seus dois pavimentos superiores, determinada através de um
discreto recuo existente na vedação das janelas, realizadas por um “pano de vidro”. Quanto ao
reconhecimento deste edifício frente ao pioneirismo do uso da linguagem moderna em prédios
públicos, algumas considerações merecem ser apontadas. Possivelmente pelo fato de o prédio
não estar inserido no contexto do centro da cidade e sim em zona considerada periférica, este
edifício não estabelecia relações diretas com a sociedade. Dado este fato, ocorreu, por parte
dos aracajuanos, uma espécie de não legitimação deste prédio como pioneiro frente ao
moderno. Normalmente, quando alguns pesquisadores referem-se ao pioneirismo desta
linguagem num contexto público, imediatamente há uma associação ao Ed. Walter Franco,
que além se apresentar qualidade na composição, localiza-se no centro que é visto como o
“core” da cidade. Desta forma, considera-se que é a partir da construção do Ed. Walter Franco
que erguem as primeiras obras modernas na cidade, que mais tarde se tornariam importantes
marcos referenciais locais desta arquitetura. Ligadas ao poder público ou à iniciativa privada,
ressalta-se que em sua maioria seriam implantadas no Centro da cidade.
Capítulo 3 110
Sete anos após a construção do primeiro edifício alto, o Mayara, seria inaugurado
o segundo edifício alto da cidade, que também seria de iniciativa particular: o Aliança. Na
esquina da rua Laranjeiras com Itabaianinha, o edifício apresentava 4 andares e possuía a
responsabilidade técnica do engenheiro Paulo Barreto de Menezes. Apresentando uma
linguagem que fazia referência a um racionalismo, sua composição é definida por um
generoso bloco ortogonal que apresenta dinamismo determinado pelas saliências e
reentrâncias de alguns volumes que se projetam discretamente a partir das suas fachadas.
Nelas observa-se a demarcação dos pavimentos, com exceção do térreo, concebido através do
uso das janelas de tipo “guilhotina”, dispostas de forma ritmada, do uso de marquises e de
varandas semi-embutidas. Considerado um dos lugares mais bem freqüentados da época, o
Aliança trazia a novidade de ser um edifício de uso misto e apresentava apartamentos
residenciais e comerciais. Dentre as salas de uso comercial pode-se citar o consultório do
aclamado Dr. José Augusto Barreto (médico cardiologista) e a sede da Procuradoria da
República de Sergipe.
Neste mesmo período, em 1957, foi inaugurado o primeiro edifício alto financiado
pelo governo, o Edifício Walter Franco. Executado na gestão do governador Leandro Maciel
(1955-1958), responsável por grandes obras durante seu mandato, o edifício localizava-se na
Praça Fausto Cardoso, onde funcionava a antiga Intendência. Sob a supervisão do secretário
de obras, na época o engenheiro Jorge Neto, a construção deste edifício seria a referência de
primeira obra de caráter público em Aracaju a exibir uma linguagem modernista42. Exibindo
7 pavimentos e uma composição cúbica, o edifício apresenta o uso de pastilhas e “pano de
vidro” na fachada principal, brise-soleil na fachada lateral, planta livre e áreas de circulação
em pilotis. Na área em pilotis observa-se um painel em cerâmica de Jenner Augusto43, cujo
42
Leia-se a expressão “modernista” no sentido que se faz das referências arquitetônicas corbusianas e da escola
carioca.
43
Nascido em Aracaju, Jenner é uma das grandes referências das artes visuais em Sergipe e Bahia. Iniciou sua
carreira como pintor, cartazista, ilustrador, desenhista, gravador. Após residir em diversas cidades de Sergipe,
fica temporariamente em Laranjeiras e estuda a pintura de Horácio Hora. Volta a morar em Aracaju em 1944,
quando se dedica à pintura. Foi um dos precursores das artes de caráter público no Estado de Sergipe e
Capítulo 3 111
tema era “A economia sergipana”, que foi tombado pelo Governo do Estado através do
decreto n° 9.990, de 26 de outubro de 1988.
Figura 3.14: Ed. Walter Franco, s/d. Figura 3.15: Ed. Aliança, s/d.
Fonte: Acervo particular de Murilo Mellins Fonte: Acervo particular de Paulo Barreto
responsável pela introdução da arte muralista no Estado. Dentre as obras de sua autoria em destaque em Aracaju,
podem-se citar os murais do Cacique Chá, considerado o marco do modernismo em Sergipe (ENCICLOPÉDIA
ITAÚ CULTURAL, s/d).
Capítulo 3 112
casebres de palha que reuniam zonas de prostituição e de moradia familiar de classes pobres44.
Com relação ao destino da areia, foi observada a distribuição em vários pontos alagados da
cidade, nivelando os terrenos, erguendo novas áreas residenciais. Barreto afirma que “Mais do
que retirar de sua paisagem um morro inconveniente, Aracaju ganhou um novo bairro, justo
como presente do Centenário”. Além de criar alternativas para a urbanização do centro
comercial e das ruas centrais, o desmonte do Morro do Bonfim propiciaria terrenos
disponíveis para a construção de edifícios e residências. Dentre os edifícios pode-se-iam citar
o Prédio do antigo INAMPS/ IAPC e a Estação Rodoviária Luiz Garcia, construída pelo
governo seguinte, na década de 60. Voltemos à década de 50.
Figura 3.16: Desmonte do Morro do Bomfim, s/d. Figura 3.17: Desmonte do Morro do Bomfim
Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto. Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto.
44
Comenta-se que para a distinção dos casebres da zona de prostituição dos que eram de moradia familiar,
colocava-se uma luz vermelha nas portas dos “prostíbulos”.
Capítulo 3 113
Em 1958, na sucessão a Leandro Maciel, Luiz Garcia foi eleito o novo governador
do Estado. Instaurava-se assim uma administração de grandes inovações e empreendimentos,
que modernizaria Sergipe. Dentre as ações governamentais de maior relevância pode-se citar
as criações do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe - Condese45 -, do Banco
de Fomento - atual Banese -, da Energipe, do Ipes, da Secretaria de Educação, Cultura e
Saúde e da Faculdade de Medicina (BARRETO, 2005, p. 1).
45
Uma espécie de escola de Governo que priorizava o planejamento e a formação de quadros para a
administração pública, fixando grandes linhas da administração (BARRETO, 2005).
Capítulo 3 114
É também nesta gestão que a cidade irá ganhar inúmeras construções, dentre
edifícios públicos46 e privados. Resultado da nova dinâmica urbana associada à euforia pós–
Brasília, esses edifícios apresentavam em alguns casos soluções modernistas, com destaque
para o Terminal Rodoviário Governador Luiz Garcia e o Hotel Palace. (NERY, 2003, p. 4).
Localizado na área resultante do desmonte do Morro do Bomfim, o Terminal Rodoviário Luiz
Garcia foi inaugurado em 1962 com a função de disciplinar o trânsito dos ônibus entre o
interior do Estado e a capital. Projetada por Rafael Grimaldi (engenheiro de Salvador) e
construída por uma comissão de engenheiros - José Garcia Neto, Paulo Barreto de Menezes,
Candido Machado Tavares – esta obra denotaria caráter instaurador frente à sua tipologia de
uso: “quase a totalidade das cidades brasileiras nessa época desconhecia a tipologia da estação
rodoviária – ou algo mais organizado que uma sala de espera, uma garagem ou abrigo
improvisado para passageiros munidos de bagagem” (SEGAWA, 1998, p. 168). Outro
aspecto deste prédio que merece destaque é a sua composição. Com dois pavimentos, sua
configuração é definida por um volume ortogonal parcialmente envidraçado e circundado por
pilares, que possuem o coroamento determinado por uma marquise que extrapola os limites
do edifício. Esta composição, de fato, apresentaria concepção inovadora e condizente com a
época, trazendo referências de uma linguagem modernista que remetiam ao Palácio da
Alvorada, em Brasília.
Há alguns anos atrás, mesmo após receber alguns acréscimos indevidos e passar
por algumas descaracterizações, a Estação Luis Garcia foi tombada pelo Governo do Estado
46
No que se diz respeito a obras, Luis Garcia foi responsável pela execução de obras fundamentais ao estado, a
exemplo do Centro de Reabilitação Ninota Garcia, da velha Usina do bairro Industrial, do Salão de Passageiros
do Aeroporto Santa Maria, do Museu Histórico de Sergipe, em São Cristóvão.
Capítulo 3 115
Em 2004, devido ao abandono do local, foi transposta uma obra de Jenner Augusto
que se localizava no antigo hall do hotel. Tombada pelo Governo do Estado através do
Decreto nº 9.990 de 26 de outubro de 1988, esta obra se encontra desde então no hall de
entrada do Teatro Gov. Arnaldo Rollemberg Garcez, conhecido como Teatro Atheneu.
Em 2007, o Palace de fato passou pela sua pior descaracterização ou ainda a sua
“mutilação”: foram realizadas obras emergenciais determinadas pelo Ministério Público
Estadual, onde foram retiradas todas as marquises e esquadrias e as aberturas preenchidas por
alvenaria de bloco e em seguida, pintadas de tinta branca perfazendo toda a fachada frontal e
posterior. Neste momento, como dizia Brandi, “perde-se a unidade potencial da obra”.
Chega-se a década de 60 e com ela uma guinada fundamental nos rumos da
economia de Aracaju e do Estado de Sergipe. É durante este período que o crescimento da
cidade ganha fôlego, a população urbana do município de Aracaju passa de 67.519 habitantes
em 1950 para 112.516 em 1960 e 179.276 em 1970. (LOUREIRO apud NERY, 2003, p. 3).
Tudo era atribuído a um único fato: a descoberta do petróleo e a instalação da Petrobrás. Este
acontecimento representou acima de tudo a chegada de um “progresso” para uma cidade que
até então não conseguia obter um real desenvolvimento:
Em 1975 assumia por mais um mandato o governador José Rollemberg Leite. Sob
a ótica de um panorama sócio-econômico, é nessa época que Aracaju apresenta condições
possíveis para a dinamização do mercado imobiliário ainda para uma demanda “seletiva”.
Propiciada pela fase Pós-Petrobrás e pelo reflexo do “boom econômico” deflagrado no país
pelo milagre econômico brasileiro, esta fase é definida pela transnacionalização da economia
nacional e pelo processo de concentração de renda, que resultaria a potencialização do
consumo da classe média e a procura de novos espaços urbanos residenciais (MACHADO,
1990). É nesta fase também que os governos municipal e estadual implantam o Distrito
Industrial de Aracaju e inúmeras “obras de base”. A exemplo dessas “obras de base” pode-se
citar: abertura e calçamento de ruas, iluminação pública, abastecimento de água, saneamento e
drenagem, calçadão e transportes coletivos.
Ainda beneficiando os cidadãos, principalmente os usuários que faziam viagens
interestaduais e ainda para outros municípios de Sergipe, foi construído o Terminal
Rodoviário José Rollemberg Leite. Na gestão do próprio governador José Rollemberg, o
terminal foi concebido devido à demanda não mais comportada pelo Terminal Luis Garcia.
Projetada em 77 pelo escritório baiano Berbert e Peixoto Arquitetos Associados LTDA e
construído pela também baiana Odebrecht, o edifício apresentava acepção de imponência.
Devido à associação do uso do “peso” da estética brutalista e das suas generosas dimensões, o
edifício se tornou um marco na cidade. Localizado na Av. Tancredo Neves, o prédio possui
uma composição definida por uma generosa coberta de concreto que é sustentada a partir de
inúmeros pilares de dimensões também generosas que possuem o mesmo material.
Apresentando configuração em forma de cruz, estes pilares apresentam em suas bases secções
menores que vão se alargando à medida que vão ao encontro da coberta. Com relação a seu
estado de conservação, verifica-se que atualmente o edifício apresenta estado razoável.
Capítulo 3 121
Desta forma Aracaju chegou aos anos 80. E com essa data o limite do recorte
proposto por este trabalho (40-80). Após a junção de fragmentos políticos, sociais e
econômicos, foi estabelecido o escrito de parte de uma história urbana a partir da construção
de alguns exemplares localizados nas áreas centrais e considerados marcos referenciais da
arquitetura moderna em Aracaju. Envolto por obras públicas e privadas de uso comum, este
relato identificou o Estado como o maior agente do desenvolvimento desta arquitetura, o que
de fato já era esperado, igualmente ao que aconteceu em inúmeras capitais brasileiras, onde a
necessidade de apresentar o novo como significância de progresso era iminente. Eleito como
ícone de uma modernidade, o uso do Movimento Moderno seria a legitimação do almejado
progresso. Entende-se que esta ideologia, que fora intensificada na fase Pós-Brasília, foi
responsável por grande parte da produção aqui analisada. O motivo da inserção de alguns
exemplares que não estavam dentro deste rígido momento, como no caso dos dois últimos
citados, aconteceu devido ao fato de eles serem reconhecidos perante uma linguagem que
remetia de alguma forma ao movimento moderno.
Apesar desses exemplares denotarem papel de grande relevância na história da
arquitetura da cidade, não só por propiciarem a inserção de equipamentos de uso, mas como a
introdução de linguagens modernas, identificava-se na cidade uma produção que também se
destaca em meio a esse âmbito, tratava-se da residências. Localizadas áreas centrais da
Capítulo 3 123
capital, essas soluções são em sua maioria releituras de produções modernas de referência
advindas de fontes dispersas do país. E é sobre o morar moderno e a residência moderna
nordestina e aracajuana que irá se abordar nos próximos itens.
corporal, na liberação da mulher, dentre outros aspectos. Assim, todas essas modificações
sociais repercutiram também na arquitetura, principalmente no que diz respeito à moradia
(REIS FILHO, 2006).
Quanto à articulação espacial, nas soluções mais eruditas, pode-se dizer que as
residências modernas proporcionaram uma maior liberdade de criação e disposição dos
cômodos. Isso se deu, devido às possibilidades estruturais concebidas pelo concreto armado,
pois a coincidência das paredes dos diversos pavimentos não era mais obrigatória trazendo à
tona princípio da planta livre corbusiana que já inspirava boa parte das soluções nacionais.
Além deste, outros princípios corbusianos passaram a ser temas nas residências entendidas
como modernas. Identificavam-se os usos dos pilotis, da fachada livre, através da
possibilidade de máxima de aberturas como consequencia da planta livre e da negação ao
ornamento, das janelas em fita ou adaptações dela. Quanto às composições observa-se o uso
das formas puras, geométricas e simples, compostas quase sempre de traços ortogonais.
Enfim, pode-se dizer que a residência moderna brasileira surgiu como um símbolo
das alterações dos programas de necessidades e no modo de viver e morar trazidos pela
modernidade. No entanto, vale ressaltar que essa tipologia teve um aspecto bastante singular
no Brasil, pois apesar de seguir as premissas estrangeiras, demonstrou uma linguagem própria
definida pelo uso e reapropriação de materiais e técnicas tradicionais locais.
1. Telha canal sobre laje (idéia de Amorim), cuja finalidade era minimizar os efeitos de
isolação. Vale ressaltar ainda que sua conveniência a transformou em uma técnica usual, tão
comum quanto a alvenaria de tijolos ou taipa e pau-a-pique;
Capítulo 3 127
2. Laje dupla, uma outra solução que consistia em isolar termicamente as edificações através
da disposição de lajes que eram colocadas paralelamente. Assim, a laje superior fazia um
certo sombreamento na inferior, permitindo a circulação constante de ar entre elas,
proporcionando ao ambiente um maior arejamento;
Chega a década de 50. Nela são observados dois fatores de cunho sócio-econômico
que fazem com que a capital apresente um crescimento de quase 98% em 10 anos, chegando à
marca de 19km². São eles: o surto demográfico causado pela migração do campo para a
cidade e o crescimento do número de fábricas de pequeno porte, que ao menos possuía
condições de construir núcleos residenciais. O crescimento da capital acontecia de forma
aleatória, esmerando-se em interesses privados e no fenômeno da segregação espacial, onde
os “pobres” se estabeleciam ao Norte e Oeste e os “ricos” ao sul (DINIZ, 1963, p. 16).
Plano de Pirro
sócio de uma loja que venderia artigos de decoração e em 1957 desenharia a indumentária
utilizada por Maria Helena Silva no concurso Miss Brasil. Anos após desenvolveria um
sistema de tecnologia construtiva de telhado que visava conforto térmico a partir do uso das
telhas Eternit, material que foi muito utilizado em seus projetos. Segundo Mendonça (2007)
Walter desenvolveu uma espécie de “pingueira” a partir de um telhado plano que era colocado
em função do vento predominante. Mendonça (2007) afirma que vieram do Rio de Janeiro
dois engenheiros da Eternit a fim de conhecer esta tecnologia. Pouco se sabe sobre o assunto,
no entanto observa-se a preocupação de Walter frente à adaptação das premissas do
movimento moderno quanto ao clima local. Além de apresentar esse aspecto, esta tecnologia
também visava à economia na construção civil. Foi também nesta mesma época que Walter
foi visto fazendo o uso da leitura dinâmica, o que para a época se tornou algo impressionante.
Na arte da representação projetual, foi o pioneiro, em Aracaju, na utilização da humanização
(figura humana) e na inserção de informações através da simbologia. Após a realização de
toda a produção arquitetônica em Aracaju, morou em Maceió, Recife e São Paulo. Faleceu
ainda jovem, por motivos de doença. Estima-se que tenha sido entre 33 e 40 anos. Sobre sua
produção, poucas são a residências que podem afirmar a sua autoria. A ausência de um
sistema organizado dos arquivos da Prefeitura da época fez com que muitos projetos que
foram aprovados fossem perdidos. Soma-se a este fato a “não formação” profissional de
Walter, que o levava a pagar a profissionais devidamente habilitados para assinar seus
projetos. Desta forma, grande parte de sua produção se tornou desconhecida.
Mesmo não sendo arquiteto demonstrava um domínio sobre o exercício da
arquitetura moderna residencial. Suas composições quase sempre denotavam os valores de
brasilidade incorporados por muitos projetistas em todo país. Trazia consigo também uma
preocupação de adequação frente ao clima do nordeste, que era vista pelo uso de cobogós e
pela inserção de generosos jardins. Como exemplificação desta arquitetura, cita-se a
composição de três de seus projetos residenciais: a Residência Ernani Freire, a Residência
Calumby Barreto e a Residência Alves Sobrinho.
e apresenta sua composição definida por dois planos horizontais (parcialmente em balanço)
que se contrapõem ao volume central vertical, cujo fechamento frontal é um pano de vidro.
Esse jogo de planos e volumes define um aspecto bastante singular, denotando aspecto de
elegância e leveza, oferecendo à composição um equilíbrio concebido através de seus traços
horizontais e verticais. Com relação à demarcação dos planos, observa-se ainda a utilização
das cores, que proporcionam ao conjunto um outro tipo de jogo, desta vez do claro e escuro.
Verifica-se também na composição frontal duas varandas em balanço que se encontram em
um dos planos e de uma pérgola que dá continuidade ao fechamento da cobertura. Sobre este
pergolado ressalta-se que o seu arremate é realizado por uma a uma parede delgada, que se
eleva do piso em pé direito duplo configurando um vazio que contrasta com o volume central
da sua composição.
Desta forma, torna-se evidente o motivo pelo qual Walter Barros foi reconhecido
pelo domínio da arquitetura moderna habitacional. Sobre o episódio Walter Barros em
Aracaju, Leonardo Alencar (2007) comenta: “Sem ele as características do modernismo na
arquitetura demorariam a existir. Ele foi um marco, ele era um gênio.” Sobre Walter, Rubens
Chaves (2003) também não poupou elogios, chegando até a comparar sua genialidade a de
Lucio Costa, tendo em vista que os dois não eram arquitetos:
48
Lamenta-se o fato de não existir nenhum registro que fale sobre a vida e a produção de Walter Barros. A
primeira tentativa está sendo realizada neste trabalho através do cruzamento de entrevistas realizadas com os
senhores: Leonardo Alencar, artística plástico formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da
Bahia e amigo de Walter; Lúcio Mendonça, um militar reformado, amigo de infância de Walter; e Rubens
Chaves, arquiteto aracajuano formado pela Universidade Federal da Bahia que atuou em Aracaju na década de
60. Também foi procurada a família de Walter, mas as filhas pouco souberam passar informações devido ao fato
de o pai ter falecido enquanto elas eram crianças.
Capítulo 3 138
Com essa chegada vieram muitas pessoas de fora que fixaram residência em
Aracaju. Junto vieram as televisões, adutoras e Aracaju de uma hora para
outra cresceu num bum espetacular. Isso favoreceu a implantação de estilos
realmente marcantes. Isso modificou por completo a cidade, pois grandes
estilos que começaram a aparecer na cidade, foram feitos de fato, por
arquitetos (CHAVES, 2003).
49
Ver: Introdução.
Capítulo 4 141
50
Consideram-se como “grandes centros” as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo por serem os pólos
referenciais das artes e cultura para todo o Brasil.
Capítulo 4 143
década de 50.51 Observou-se dentro desses 2 universos que, dos 16 edifícios, 4 inserem-se ao
grupo do “suposto” Art Déco e 12 no agrupamento da arquitetura modernista brasileira.
Do agrupamento do “suposto” Art Déco, observou-se que dos 4, 3 eram de autoria
de Altenesch e 1 de autoria desconhecida. Na categoria dos edifícios públicos atribuídos a
Altenesch, observou-se a existência de hibridismos com o aporte referencial de linguagem
arquitetônica entre as matrizes européias do século XX (expressionismo alemão, racionalismo
e futurismo italiano, etc.) e referências presentes na classificação de David Gerbrard52 (apud
GALEFFI, 2004). A influência das matrizes européias do século XX é vista na predominância
da massa em detrimento dos vazios. Já as referências de composição da classificação de
Gerbrard eram vistas na arquitetura Déco Zig zag no caso do IHGS e do Arquivo Público e da
arquitetura Déco Streamline no Palácio Serigy. No caso dos dois primeiros, a referência
incomum do zig zag é observada no escalonamento do coroamento e das aberturas. Quanto às
particularidades de cada composição, observou-se:
- IHGS: centralização do acesso principal e a demarcação com a marquise; uso de frisos
verticais decorativos no coroamento, a potencializar a verticalização; uso de vitrais fincados
em estruturas de ferro com motivos geométricos, simetria.
- Arquivo Público de Sergipe: acesso principal localizado nas extremidades do edifício,
demarcado por marquise; frisos verticais decorativos que percorrem da base ao coroamento;
disposição de aberturas que promovem ritmo, harmonia e simetria; e adornos configurados
por 3 pequenos frisos verticais que se distribuem entre as aberturas de cada pavimento, que
remetem à velocidade53.
51
Sobre a relação dessas duas vertentes modernas e suas respectivas décadas de instauração na cidade de
Aracaju, é oportuno ressaltar o caráter tardio que com os mesmos foram introduzidos na cidade. Enquanto, na
Europa, o Art Déco obteve seu reconhecimento formal estilístico na década de 20. Em Aracaju a introdução
dessa vertente só ocorreu em meados de 30, início de 40. O mesmo ocorreu com a instauração da Arquitetura
Modernista Brasileira, que apresentou suas primeiras experiências ainda na década de 40, enquanto em Aracaju
essa vertente só foi incorporada em exemplares arquitetônicos na década de 50. Neste sentido, mensura-se uma
média de 10 anos de defasagem entre a instauração das vertentes modernas enquanto tendências a serem
seguidas e a incorporação das mesmas na arquitetura moderna aracajuana.
52
Mesmo não estando em concordância absoluta com Gerbrard, adotou-se essa classificação devido à
inexistência de literatura que revele definições mais precisas sobre o Art Déco.
53
Sobre esse assunto ver: GALEFFI, Lígia Maria Larcher. Princípios compositivos nas linguagens
arquitetônicas Déco desde a leitura de algumas obras do acervo soteropolitano. In: Cadernos do PPGAU-
UFBA, nº 3, 2004, p. 33-54.
Capítulo 4 144
Neste sentido, no que diz respeito às obras de Altenesch, observou-se que apesar
da apresentação de algumas discrepâncias em relação às referências de classificação zig zag e
streamline, foram identificadas características conceituais relacionadas à linguagem
arquitetônica que perpassam os três exemplares. O que de fato não pode ser apreendido como
surpresa, levando em consideração a autoria incomum. Dentre conceitos incomuns
identificados pode-se citar o uso de uma arquitetura que se vale do maciço em detrimento dos
vazios, da busca da tríade “simetria / harmonia / ritmo”, de alguns repertórios formais
semelhantes e acima de tudo a remissão ao progresso / modernidade / monumentalidade que
Capítulo 4 145
era exibido em cada exemplar. Sobre a remissão ao progresso é oportuno esclarecer que este
fato se dava devido aos três edifícios terem sido concebidos numa época em que o Estado se
valia da arquitetura como ratificação de um discurso de personalização do poder. Esta
constatação é verificada no uso de superfícies escalonadas e de elementos verticais que
denotam a monumentalidade e nos frisos que segundo Galeffi (2004), fazem alusão a fluxos
ou linhas de velocidade simuladas sobre as superfícies. Já sobre a remissão à “arquitetura de
massa”, oriunda das matrizes européias do século XX, justifica-se o fato de Altenesch possuir
formação européia.
Ainda com relação à linguagem arquitetônica do “suposto” Art Déco, concebido
na década de 40 de autoria desconhecida, observa-se o Colégio Estadual Atheneu Sergipense.
Nele o uso de um repertório simplório revela a qualidade de um Art Déco simplificado.
Identifica-se o uso de uma estrutura geometrizada que possui composição fundamentada na
demarcação do acesso principal através da elevação do volume e na definição de pórticos de
entrada. Observa-se ainda o uso de frisos que definem o coroamento e de vitrais estruturados
por ferro, que vedam as aberturas.
54
Sobre este assunto ver capítulo 2, item 2.5,
55
É oportuno ressaltar que o uso do pé-direito duplo dos pilotis foi solução proposta por Oscar Niemeyer a Le
Corbusier durante a concepção do projeto do Edifício do Ministério da Saúde (BRUAND, 2008).
56
Na disposição dos brises - em forma de tabuleiro de xadrez - identifica-se também certa alusão à obra de
Diógenes Rebouças, arquiteto baiano.
Capítulo 4 147
linguagem de cunho modernista. Esta condição elevaria o Edifício Walter Franco a um dos
grandes marcos referenciais da cidade de Aracaju.
57
O termo “Miesiana” neste caso, faz referência a arquitetura desenvolvida por Mies van ver Rohe. Sobre o
assunto ver: XAVIER, Alberto (org.). Lúcio Costa: Sobre Arquitetura. Porto Alegre: CEUA/UFRGS, 1962. p.
124-125.
58
Segundo Bastos e Zein (2010, p. 33) é nesta fase que se percebe “uma importante inflexão da obra de Oscar
Niemeyer em meados nos anos 1950, quando sua obra parece se tornar mais autocentrada, indiferente à situação.
Niemeyer parece ter passado a projetar para espaços genéricos, sem particularidade, onde os volumes deixaram
de sofrer pressões do meio, se mantendo íntegros, sem o jogo de volumes que caracterizou seus primeiros
projetos”. Sobre este assunto ver Capítulo 02, item 2.5.
Capítulo 4 148
Figura 4.8: Estação Rodoviária Luís Garcia Figura 4.9: Palácio da Alvorada, Brasília-DF
Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto. Fonte: Nosrevista, 2010.
Figura 4.12: Hotel Palace Figura 4.13: Hotel na Praia Vermelha, RJ.
Fonte: Acervo do Instituto Tobias Barreto. Fonte: MINDLIN, 2000, p. 103
59
O que Zein (2007) considera difícil é a possibilidade de encontrar, em tantas e tão diversas manifestações
ditas “brutalistas”, definir o que ela chama de “ar de família”, algo de especial que transcende persitencias
formais e materiais e cuja ausencia suprime a possibilidade que a obra possui de ser considerada como tal.
Capítulo 4 150
Figura 4.16: Biblioteca Epiphâneo Dórea. Figura 4.17: Rodoviária José Rollemberg Leite
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: Isabella Aragão, 2008.
Capítulo 4 151
Com relação ao grupo que permeia entre ser ou não brutalista são observadas
apenas duas características comuns aos três exemplares que fazem remissão a esta vertente: o
uso do concreto armado na estrutura e como elemento modelador da composição e como
vedação. Quanto ao restante das possíveis características que configuram o brutalismo,
verifica-se a incorporação das mesmas em um ou outro exemplar, mas de forma isolada.
Vejamos caso a caso. Construído em 1966, o INSS apresenta como composição um generoso
prisma simétrico, vertical e ortogonal que apresenta em sua fachada posterior um volume que
se projeta nos três primeiros pavimentos. Sobre as características apreendidas sobre um
possível brutalismo, identifica-se que além do uso do concreto armado na estrutura e como
elemento modelador da composição e como vedação, já citados, observa-se também a
incorporação da clara exibição da estrutura e dos volumes de configurações geométricas.
Neste sentido, em comparação com as características do brutalismo encontrado no grupo
anterior, a única característica que não se faz presente neste edifício é aspecto de “peso” e
“densidade” da composição, proporcionados pelo uso extremista do concreto. Mas será que
todas as obras brutalistas necessitam exibir “peso” em seus volumes? Fica por ora a pergunta.
Diante das três perguntas oriundas das respectivas análises, faz-se necessário
evidenciar algumas questões. De início, esclarecer que não é propósito deste trabalho
estabelecer respostas para as indagações supracitadas, e sim trazer à tona a urgência de
investigar sob outros olhares os critérios que definem uma obra brutalista ou não. No entanto,
em se tratando desta pesquisa, e da discussão sobre a validação desses três edifícios como
brutalistas, foi considerada a fundamentação proposta por de Ruth Zein (2007). Baseando-se
nas formulações de Zein, pode-se sim considerar tanto Inss e quanto o Conservatório de
música como edifícios brutalistas. Afinal, em sua avaliação, Zein considera também
brutalistas os edifícios que apresentam parcialmente as características do brutalismo. Já no
caso do Terminal Hidroviário a situação é outra, pois o edifício apresenta apenas uma
característica, o que dificulta o seu reconhecimento como tal. Considera-se este edifício,
então, como uma solução configurada numa inspiração do brutalismo.
Neste sentido, tomando de empréstimo as palavras de Ruth Zein (2007) para
reconhecimento de certa arquitetura paulista desenvolvida em 1950-70 como brutalista, e
aplicando sobre certa arquitetura desenvolvida em Aracaju nos anos 1966-1981, que se
subdivide em dois grupos, chega-se à seguinte conclusão: as datas e os conteúdos conferem;
os discursos se aproximam; as aparências confirmam; não há nada que impeça, logicamente,
de considerar como brutalistas um conjunto significativo de obras realizadas na arquitetura de
Aracaju. Podem não ser brutalistas; mas podem ser, legitimamente, consideradas como
brutalistas.
A quarta particularidade a ser evidenciada frente à questão da linguagem
arquitetônica dos edifícios públicos situa-se entre os anos 70 e 80. Trata-se de dois edifícios
que possuem linguagens arquitetônicas particulares e que por isso não puderam ser inseridos
em nenhum dos 3 grupos já analisados. O primeiro é o Edifício do Estado de Sergipe.
Inaugurado em 1970, possui originalmente 28 pavimentos: o térreo, o primeiro e o segundo,
Capítulo 4 154
Figura 4.22: Edifício do Estado de Sergipe Figura 4.23: Edifício Niemeyer. (MG)
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: www.armazemperisc.blogspot.com
Capítulo 4 155
Figura 4.24: Edifício sede da Funasa (i) Figura 4.25: Edifício sede da Funasa (ii)
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: Isabella Aragão, 2008.
60
Segundo Giedion (2004) o conceito de planta livre consiste na independência que o uso da estrutura de
concreto armado proporciona ao edifício, ao organizar a disposição de paredes completamente livre e
individualizada em pavimentos distintos.
Capítulo 4 156
Figura 4.26: Pl. baixa do térreo IHGS Figura 4.27: Pl. baixa do 1° pav. do IHGS Figura 4.28: IHGS
Fonte: Desenho de Avilé (2005) Fonte: Desenho de Avilé (2005) Fonte: Isabella Aragão (2008)
Figura 4.29: Pl. baixa do térreo Colégio e Teatro Atheneu Figura 4.30: Pl. baixa do térreo Colégio e Teatro Atheneu
Fonte: Base da Cheop-SE. Modificações da autora, 2008. Fonte: Base da Cheop-SE. Modificações da autora, 2008.
Figura 4.33: Pl. baixa térreo Serigy Figura 4.34: Pl. baixa 1º pav. Serigy Figura 4.35: Pl. baixa 2º pav. Serigy
Fonte: Arquivo da Secretaria de Saúde Fonte: Arquivo da Secretaria de Saúde Fonte: Arquivo da Secretaria de Saúde
Figura 4.38: Exemplo do claro uso do conceito da planta livre. Estação Rodoviária Luis
Garcia (pav.térreo)
Fonte: Base da Cheop-SE. Modificações da autora, 2008.
Figura 4.39: Exemplo do claro uso do conceito da planta livre. Estação Rodoviária Luis
Garcia (pav.superior)
Fonte: Base da Cheop-SE. Modificações da autora, 2008.
Capítulo 4 159
Figura 4.40: Ex. do claro uso do conceito da planta livre. Figura 4.41: Ex. do claro uso do conceito da planta livre (ii)
Edifício do INSS (1º pav.) Edifício do INSS (2º pav.)
Fonte: Arquivo do INSS. Modificações da autora, 2008. Fonte: Arquivo do INSS. Modificações da autora, 2008.
, preenchendo toda
Figura 4.43: Ex. de a extensão
planta livre onde osda fachada,
pilares são Figura 4.44: Ex. de planta livre onde os pilares são
absorvidos por compartimentos. Hotel Palace (pav. térreo) absorvidos por compartimentos. Hotel Palace (pav.tipo)
Fonte: Base da Cheop. Modificações da autora, 2008. Fonte: Base da Cheop. Modificações da autora, 2008.
Apresentado divisórias ou não, o fato é que a aplicação deste conceito para este
grupo, composto pelos 9 edifícios acima referidos, traz como conseqüência a incorporação de
um outro princípio: a fachada livre. Concebida pela independência das estruturas de concreto
Capítulo 4 160
armado e vedações, a fachada livre possibilita a máxima abertura das paredes externas, em
contraposição às maciças alvenarias que outrora recebiam todos os esforços estruturais dos
edifícios. O que não quer dizer que necessariamente todos os 9 exemplares utilizem as
potencialidades proporcionadas por este princípio.
Como exemplo de edifício que faz o uso de forma explícita do potencial da
fachada livre cita-se o Edifício do Estado de Sergipe. Nele verifica-se como a vedação parcial
das paredes externas do pavimento tipo o uso do vidro. Trata-se de uma “adaptação” da janela
em fita proposta por Le Corbusier em seus cinco pontos, que consiste na apresentação de
aberturas horizontais longilíneas que cortam toda a extensão do edifício, possibilitando vistas
panorâmicas e iluminação mais homogênea do exterior. Neste sentido, levando em
consideração a referência da Villa Sovoye, a forma mais “pura” de aplicação deste conceito,
verifica-se que em momento algum parte da estrutura -pilar- interrompe a janela. O que de
fato acontece no Ed. Estado de Sergipe é que apesar de as janelas possuírem praticamente a
mesmas extensões de cada pavimento do edifício, identifica-se a presença de dois pilares que
fazem a interrupção da janela. Desta forma, entendendo que apesar do Ed. Estado de Sergipe
não apresentar essa característica, conforme identificada na Vila Savoye, observa-se no uso de
suas aberturas, que o conceito da vista panorâmica e iluminação (contemplados por Le
Corbusier) são preservados. Sendo assim, pode-se dizer na apropriação dessa característica de
aconteceu neste edifício de forma adaptada.
Pilar
Figura 4.45: Ed. Estado de Sergipe (i) Figura 4.46: Ed. Estado de Sergipe (ii) Figura 16: Ed. Estado de Sergipe(iii)
Aberturas longilíenas Fonte: Isabella Aragão, 2008. Vista do pilar
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: Isabella Aragão, 2008.
Uma outra questão que merece ser considerada no quesito fachada livre é a sua
interferência na composição das fachadas. Devido à independência estrutural das vedações, a
Capítulo 4 161
estrutura poderá ou não interferir na composição volumétrica, pois se torna uma opção do
projetista deixá-la aparente ou não. Sabe-se que no Movimento Moderno este tipo de
exposição estrutural era perseguido, principalmente na composição de fachadas. Logo se
estabelece a relação planta-volume-estrutura. Em Aracaju, dentro do grupo dos 9 edifícios que
apresentaram planta livre, foram identificados alguns exemplares que se valiam da exposição
estrutural na composição das fachadas. Dentre eles destacam-se: Rodoviária Luis Garcia com
a exposição dos pilares plástico-funcionais na composição; e Hotel Palace, INSS e
Conservatório de Música, com a distribuição de pilares na fachada de forma ritmada.
No que diz respeito às plantas baixas dos outros 3 edifícios que compõem o grupo
dos 12 edifícios modernistas construídos na década de 50 a 70 e que não apresentaram planta
livre (no sentido corbusiano), observam-se algumas particularidades que merecem ser
evidenciadas. Sobre estas particularidades é oportuno ressaltar que estão relacionadas aos
tipos de planta que estes edifícios apresentam.
No caso do Terminal Rodoviário José Rollemberg Leite e do Estádio Lourival
Batista, apesar de o primeiro não apresentar planta baixa na ficha mínima e do segundo não
apresentar uma planta tão elucidativa, identifica-se, de acordo com a análise de campo, que
uma nova relação de planta-estrutura-volume é configurada. Trata-se inicialmente de uma
planta que incorpora estrutura e elementos construtivos como arquitetura, designando uma
relação de interdependência mútua entre estrutura, forma e construção. Neste caso a planta em
seu caráter original se apresenta de forma inflexível e rígida, pois todos os elementos que
compõem o edifício fazem parte de um sistema estrutural que não poderá sofrer alterações,
pois comprometeria a integridade do prédio. Já seus volumes são condicionados pela estrutura
de concreto armado em estado bruto.
Capítulo 4 162
exemplo cita-se o INSS, a Biblioteca Epiphâneo Dórea, a Estação Rodoviária Luis Garcia, o
D.E.R, o Arquivo Público, o Colégio e Teatro Atheneu, entre outros. Associado ao concreto,
observou-se o uso da pastilha nos edifícios: Estado de Sergipe, Hotel Palace, Edifício Walter
Franco e sede da Funasa; do tijolinho aparente nos edifícios: Estação Rodoviária Luis Garcia
e Hotel Palace; e do azulejo decorado na Estação Rodoviária Luis Garcia.
Figura 4.50: Ex. de concreto pintado.Prédio do Inss Figura 4.51: Ex. de azulejo decorado.
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Estação Rodoviária Luis Garcia
Fonte: Aracaju e seus Monumentos, 1995
Figura 4.52: Exemplo de brises. Figura 4.53: Biblioteca Epiphaneo Dórea Figura 4.54: Detalhe do cobogó
Prédio do INSS. Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: Isabella Aragão, 2008.
Fonte: Isabella Aragão, 2008.
Figura 4.55: Ed. Walter Franco Figura 4.56: Painel de Genner Augusto
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: Isabella Aragão, 2008.
Figura 4.57: Inss. Detalhe das peças de concreto Figura 4.58: Painel do Ed. Gustavo Capanema RJ
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: MINDLIN, 2000 p. 221
escola tão profícua como a de Recife, mas produziu exemplares interessantes que
apresentaram adequações criativas da linguagem moderna e de grande qualidade compositiva
e construtiva. No que diz respeito à única residência multifamilar contemplada por esta
pesquisa, cita-se o Ed. Atalaia, que foi o primeiro edifício de apartamentos da cidade.
Construído por iniciativa privada e apresentando uma linguagem modernista, este edifício
tornou-se um dos grandes marcos referenciais da cidade. E foi dentro deste universo, que,
neste caso, compreende as décadas de 40 a 60, que se encontram inseridos os 17 edifícios-
objetos que auxiliam na configuração do perfil da arquitetura moderna residencial em
Aracaju.
61
SANTOS, Isabella Aragão Melo. Análise das residências modernas da cidade de Aracaju da década de 50
e 60: Bairro São José. Monografia de conclusão do Curso de Arquitetura e urbanismo. Aracaju: UNIT, 2004.
62
As informações referentes às linguagens arquitetônicas utilizadas sobre Oswald Brakte foram baseadas em
discurso de Bruand (2008, p. 282-289).
63
As informações referentes às linguagens arquitetônicas utilizadas por sobre Vilanova Artigas foram baseadas
em discurso de Bruand (2008, p. 295-305).
Capítulo 4 167
edifícios analisados, 6 possuem esta característica. São eles: Barbosa, Calumby, Dórea Sobral,
Estado da Arte, Selma Campos e M. Silva. Exemplificando:
- Barbosa: Possui dois pavimentos e apresenta sua composição definida por dois volumes
ortogonais sobrepostos em forma de “caixa”. Apresenta a linguagem de Artigas na
composição da forma em “caixa”, e a “linguagem de Bratke” na plasticidade reforçada pelo
recuo do volume térreo, na moldura rígida configurada pela estrutura, pelo uso de pátio
interno de seção geométrica que estabelece relação com a natureza, pelo uso na fachada de
cerâmica tipo tijolinho que faz alusão ao tijolinho em estado bruto utilizado por ele e
incorporação do jardim como parte integrante da composição.
Figura 4.59: Residência Barbosa Figura 4.60: Projeto de Oswald Brakte, 1957, SP
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: MINDLIN, 2000, p. 271
- Calumby: Possui dois pavimentos e apresenta sua composição definida por dois planos
horizontais e paralelos que são interceptados por um volume central de configuração
ortogonal vertical. Identifica-se a linguagem de Artigas nos volumes geométricos definidos,
na transparência e continuidade do interior-exterior e no uso da pérgola atrelada à estrutura e
da linguagem de Bratke à incorporação do jardim como parte da composição.
- Selma Campos: Possui dois pavimentos e apresenta sua composição definida por
dois volumes ortogonais em forma de “caixa” sobrepostas. Verifica-se o uso da composição
formal em “caixa”, dos jogos de rampas e da transparência e continuidade do interior-exterior
vista nas soluções de Artigas e do uso de uma moldura rígida que define muitos dos volumes
da produção de Bratke.
Figura 4.63: Residência Selma Campos Figura 4.64: Projeto de Vilanova Artigas, 1949,SP
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: MINDLIN, 2000, p. 56
Vasconcelos (1960). Possuindo uma composição determinada por planos ortogonais que se
interceptam, compondo um jogo de volumes que contrapõem com os cheios e vazios, a
residência Vasconcelos apresenta similaridade com a Residência Osmar Gonçalves, projetada
pelo arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves. A similaridade é apreendida não só no jogo de
planos e volumes, mas também na configuração da varanda definida por uma parede de
elemento vazado.
Figura 4.66: Residência Vasconcelos Figura 4.67: Projeto Oswaldo Correia, 1951
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: MINDLIN, 2000, p. 68
Figura 4.68: Residência Souza Freire Figura 4.69: Residência Hora Oliveira
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: Isabella Aragão, 2004.
Capítulo 4 170
Figura 4.70: Residência Suzana Prudente Figura 4.71: Residência Eupídio Teixeira
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: Isabella Aragão, 2004.
Figura 4.72: Residência Oliveira Figueiredo Figura 4.73: Projeto Oswaldo Correia, 1951
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: MINDLIN, 2000 p. 68
Figura 4.80: Detalhe do brise do Ed. Atalaia Figura 4.81: Detalhe das colunas em “V” do Ed. Atalaia
Fonte: Isabella Aragão, 2006. Fonte: Autora, 2006.
64
REIS FILHO, (2006, p. 90).
Capítulo 4 175
(9 unidades) pavimento
Residências Social Cozinha/ Serviço térreo
2 pavimentos Copa (Edícula)
pavimento
Íntimo superior
65
Ver capítulo 3, item 3.4.1.
66
Devido ao fato de 3 edifícios não apresentarem plantas baixas em suas fichas, serão considerados neste item a
análise de apenas 13 edifícios.
Capítulo 4 176
Edícula
Social
Íntimo
Figura 4.83: Exemplo de planta baixa fluida Figura 4.84: Exemplo de planta baixa fluida
Fonte: BRITO, 2003. Fonte: BRITO, 2003.
- 3 apresentam o setor íntimo ou parte dele em contato direto com o social e seguida pelo de
serviço. Conforme fluxograma:
Social Serviço
Íntimo
Íntimo
Copa/
cozinha
Figura 4.85: Exemplo de planta baixa tradicional Figura 4.86: Exemplo de planta baixa fluida
Fonte: CLARA;SOARES, 2003. Fonte: FRANCO, 2002.
Capítulo 4 178
Concreto
pintado pastilhas
azulejos
Tijolo
aparente
Dos revestimentos menos utilizados nas fachadas, pode-se citar uma mistura que
se assemelhava ao “fulget”, que continha pedra, brita e quartzolito branco e as pedras
ornamentais. Sobre as pedras vale ressaltar que elas também foram encontradas, desta vez
com maior freqüência nos pisos que revestiam as áreas externas descobertas, assim como o
ladrilho hidráulico nas áreas internas e externas cobertas. Voltemos às fachadas.
Figura 4.91: Maria Melo Figura 4.92: Detalhe do uso da pedra ornamental
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Fonte: Isabella Aragão, 2004.
67
Sobre esse assunto ver: SEGAWA, Hugo. Arquitetura no Brasil 1999-1990. 2ªed. EDUSP: São Paulo. 1999.
Capítulo 4 182
respectivas capitais. No caso do Mayara esta intenção era vista pelo fato de ser o primeiro
edifício alto da cidade. Já no caso da sede dos Correios de Curitiba esta intenção estava
inerente ao projeto oficial de normatização das agências de que este edifício fazia parte.
Figura 5.1: Ed. Mayara Figura 5.2: Sede dos Correios de Curitiba
Fonte: Isabella Aragão, 2008. Fonte: SEGAWA, 2002 p 71
2º Salão
1º Salão
Figura 5.4: Iate Clube de Aracaju
Fonte: Isabella Aragão, 2008.
identificada nenhuma solução específica, a não ser o generoso número de janelas em todas as
composições.
Considerações finais 185
CONSIDERAÇÕES FINAIS
68
Buscou-se considerar alguns aspectos, presentes na modelagem de qualquer arquitetura, cujas análises
serviriam de base para a compreensão da produção arquitetônica moderna aracajuana. São considerados os
aspectos referidos: “Linguagem arquitetônica”, “Articulação espacial” e “Materiais e detalhamentos utilizados
nas fachadas”.
Considerações finais 186
públicos, com exceção dos exemplares de autoria desconhecida, todos foram elaborados por
profissionais de outros estados ou países, ou por profissionais locais, porém com formação em
outros estados, o que torna evidente, neste caso, a influência de referências múltiplas neste
exemplares.
Edifícios Públicos:
Quadro 1. * Desta quantidade vale ressaltar que 2 foram projetados por Altenesch e 2 por Rafael Grimaldi.
Edifícios residenciais
Quadro 2. ** Desta quantidade vale ressaltar que das 6 residências projetadas 2 são de Altenesch e 1 de Rafael
Grimaldi.
*** Desta quantidade vale ressaltar que das 6 residências projetadas 5 delas são de autoria do desenhista Walter
Barros.
No caso dos edifícios que apresentam outros usos, observou-se que dos 3 edifícios,
2 eram de autorias desconhecidas e 1 era de autoria de profissional local com formação em
outro estado, o que revela, nesta última situação, a influência de referências do local de
formação do profissional.
Considerações finais 187
Outros usos
No que diz respeito aos edifícios públicos contemplados por este trabalho,
observou-se a identificação de um perfil arquitetônico plural, configurado por distintas
linguagens arquitetônicas modernas. Salvo algumas exceções, constatou-se a predominância
de variadas linguagens, cujas incorporações se mostraram atreladas rigidamente a
determinadas épocas, de forma que podem ser identificadas as seguintes relações: entre o fim
da década de 30 e o início da década de 40 foram identificados edifícios que apresentavam
linguagens que permeavam entre o Art Déco e um suposto Art Déco69; entre o início e
meados da década de 50 foram identificadas linguagens que faziam remissão à primeira fase
69
Ver Capítulo 3.
Considerações finais 188
70
Considera-se como “grandes centros” as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo por serem os pólos referenciais
das artes e cultura para todo o Brasil.
71
No sentido corbusiano.
Considerações finais 189
princípio tenha sido explorado. Observou-se também que nas residências de famílias
abastadas a articulação espacial se apresentou mais fluida e condizente com a modernidade
exibida em suas fachadas, possivelmente pelo poder aquisitivo dos proprietários, que
permitiam a contratação de serviços de profissionais qualificados, que elaboravam casas com
características modernas em todos seus aspectos (setorização, implantação e articulação
espacial). Já nas residências de famílias de classe média, a articulação espacial se apresentou
sob caráter tradicional (soluções a partir de um corredor central), que expressavam indícios
modernos apenas nas soluções das fachadas, conservando assim os aspectos tradicionais da
distribuição espacial. Este fato ocorria possivelmente por duas questões: a necessidade de
remodelação das fachadas por parte dessas famílias para que exibissem o modismo impresso
pela modernidade ou a falta de preparo por parte dos profissionais contratados. Com relação
aos materiais utilizados, assim como nos edifícios públicos, verificou-se o destaque do uso do
concreto como grande protagonista utilizado nas estruturas e como elemento modelador de
composições. Já em relação aos detalhamentos, observou-se o uso do brise e dos cobogós
como elementos mais utilizados. Constata-se aí, e em outros elementos referentes às
adaptações ao clima, citados no capítulo 04, os únicos pontos de contato dessa produção com
a arquitetura residencial desenvolvida no nordeste, tendo em vista que as referências de
linguagens para o aracajuano encontravam-se nos grandes centros (Rio de Janeiro e São
Paulo). E por fim, identificou-se que em relação à localização frente aos bairros, houve uma
predominância dessas residências no bairro São José. Com relação ao perfil residencial
multifamilar, não se pôde identificar um perfil preciso, devido à existência de apenas 1 único
exemplar.
Com relação aos edifícios modernos que apresentaram outros usos (comercial e
lazer privado), observou-se a configuração de um perfil que se configurou mediante dois tipos
de linguagens: os racionalistas, que se valem de uma arquitetura livre de adornos e da
contraposição de cheios e vazios, no caso de dois edifícios; e híbrido, em se tratando de um
conjunto de edifícios formado por dois edifícios, onde um apresentou remissões a arquitetura
desenvolvida por Oscar Niemeyer, em sua fase anterior a Brasília, e o outro uma linguagem
onde a arquitetura era advinda do resultado estrutural, que se vale do concreto em estado
bruto como elemento modelador, e que devido a isso estabelece pontos de contato com uma
linguagem brutalista. No tocante às articulações espaciais, devido à ausência de plantas, não
puderam ser analisadas. Quanto aos materiais utilizados, assim como no caso das outras duas
categorias, o concreto armado se destaca, não só como presente na estrutura, mas como
Considerações finais 190
elemento modelador das composições. E por fim, identificou-se que com relação à localização
frente aos bairros, dois edifícios estavam localizados no bairro Centro e um no bairro São
José.
Neste sentido, amparando-se nessas informações e refletindo ainda sobre a
modernidade arquitetônica de Aracaju, observou-se que o reconhecimento desse perfil como
plural pôde ser ratificado a partir da revelação das características dos perfis das categorias
evidenciadas, que denotam a diversidade de soluções modernas nacionais e internacionais,
que por vezes apresentaram-se híbridas, incorporadas por essas produções. Sobre essa
condição de um perfil moderno diverso, é oportuno ressaltar que Aracaju se mostrou plural,
assim como se revela, sob “olhares” contemporâneos, a arquitetura moderna do Brasil, onde
abandona-se uma visão de unidade para substituí-la pela diversidade. E é no âmbito dessa
pluralidade, advinda do “espelhamento” de referências de outros lugares, que se identificou
em Aracaju uma diversidade que pode ser comparada, sem intenção pejorativa, a uma “colcha
de retalhos”. O intento é indicar a diversidade do perfil arquitetônico moderno de Aracaju,
afinal todos os retalhos são de um mesmo tecido, que varia de acordo com os tamanhos, cores,
padronagens, onde aqui ou ali identifica-se um pedaço de chita72. Nessa alusão, indica-se: o
mesmo tecido, em se tratando de todos os edifícios serem modernos; os pedaços de tecidos,
como os grupos ou edifícios isolados; a variação de cores, tamanhos e padronagens
correspondendo às diversas linguagens; a chita, aos grupos ou edifícios que apresentavam
uma modernidade arquitetônica de “fachadismo”.
Dentro desta linguagem figurada surge ainda um outro elemento, a linha que
costura unindo todos os retalhos, correspondendo à modernidade, podendo assim ser chamada
de linha da modernidade. Esta linha revela um anseio de modernidade que acompanha
Aracaju desde a criação da capital e que se perpetua até os dias de hoje. Essa A busca
incessante de ser moderno (moderno aqui tem acepção de atual) pode ser indicada nos
seguintes exemplos: buscou ser moderna na negação da antiga capital, a partir de um “plano”
urbanístico de configuração progressista (1855); buscou ser moderna na introdução de
políticas voltadas para a resolução de questões voltadas para a salubridade (1903); buscou ser
moderna nos melhoramentos de infra-estrutura urbana (iniciados em 1900); buscou ser
moderna na arquitetura incorporando “estilos” que eram lançados como tendência nos grandes
centros do país.
72
Chita é um tecido de algodão com estampas de cores fortes, geralmente florais, e tramas simples. As
estamparia é feita sobre o tecido conhecido como morim. (WIKIPEDIA,s/d).
Considerações finais 191
Figura 16: Residência Maria Melo Figura 16: Demolição da Residência Figura 16: Nova edificação
Fonte: Isabella Aragão, 2004. Maria Melo Fonte: Isabella Aragão, 2011.
Fonte: Isabella Aragão, 2006.
Referências Bibliográficas 193
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO 01
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CAPÍTULO 03
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Isabella Aragão; Tifanny Tavares. Aracaju. Setembro de 2003.
ARQUIVOS PESQUISADOS
Acervo particular iconográfico de Murilo Mellins;
Acervo particular iconográfico de Lúcio Silveira Mendonça;
Acervo particular iconográfico de Instituto Tobias Barreto;
Arquivo da Cadastral da Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas de Sergipe
(CHEOP-SE);
Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (CHEOP-SE);
Arquivo da Empresa Municipal de obras e ubanização (CHEOP-SE);
Arquivo da Prefeitura Municipal de Aracaju-Se;
Arquivo da Prefeitura Municipal de Aracaju-Se;
Arquivo do Estado de Sergipe;
Arquivo do Conselho Regional de Engenharia e Aquitetura de Sergipe (CREA-SE)
Biblioteca da Universidade Federal da Bahia;
Biblioteca da Universidade Federal de Sergipe (BICEN);
Biblioteca da Universidade Tiradentes-Se (UNIT);
Biblioteca Pública Epiphâneo Dórea;
Memorial de Sergipe.