Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AUTORA:
ANA JULIA SCORTEGAGNA SOCAL
COAUTOR:
MARCELO RIBEIRO
AUTORA:
Ana Julia Scortegagna Socal
COAUTOR:
Marcelo Ribeiro
HISTÓRIA E ARQUITETURA
EXPEDIENTE
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-73896-4
23-163099 CDD-720.98165
Índices para catálogo sistemático:
Este trabalho é fruto da pesquisa realizada durante o mestrado profissional do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio
Cultural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolvido por Ana Júlia Scortegagna Socal e orientado pelo
professor Dr. Marcelo Ribeiro.
APRESENTAÇÃO 06
GLOSSÁRIO 150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 152
HOFFMANN-HARNISCH
apud FLÔRES, 2007, p. 161
A INFLUÊNCIA DA FERROVIA NA CIDADE DE SANTA MARIA, RS 11
A INFLUÊNCIA
DA FERROVIA
NA CIDADE DE
SANTA MARIA, RS
O
município de Santa Maria, estadual. Ao contrário do que ocorreu em
localizado na região central outras regiões, onde o sistema ferroviário
do Rio Grande do Sul, teve normalmente era resultado da união ocasional
o seu desenvolvimento de trechos, a malha ferroviária do Rio Grande
particularmente influenciado pela chegada e do Sul foi desenvolvida de forma planejada e
implantação do sistema ferroviário no estado, estrategicamente estruturada, a partir de um
na segunda metade do século XIX. Assim plano de implementação.
como ocorreu em outros núcleos urbanos,
a ferrovia foi sinônimo de desenvolvimento, Em setembro de 1885, então, a ferrovia
melhorias em infraestrutura, crescimento chega a Santa Maria, com a conclusão do
populacional e prosperidade econômica, trecho entre o município e Cachoeira do
alavancando o progresso da cidade. Sul. A partir disso a cidade passa a estar
conectada com a capital gaúcha, trazendo
Em 1877 teve início a construção da linha Porto grandes transformações sociais e econômicas
Alegre – Uruguaiana, que cortava o estado do que representavam o progresso e o
Rio Grande do Sul de leste a oeste. Uma das desenvolvimento. Ganhando cada vez mais
primeiras linhas da rede férrea rio-grandense, ares de cidade grande, Santa Maria assume
a ferrovia era uma das quatro linhas principais posição de destaque no estado. Segundo
projetadas para estruturar a malha férrea Flôres (2007, p. 166), “O advento da ferrovia e
A INFLUÊNCIA DA FERROVIA NA CIDADE DE SANTA MARIA, RS 12
MARCELINO
RAMOS
Erechim
Basílio Pelotas
a chegada de suprimentos à cidade. Nesse
PEDRAS
ALTAS
sentido, Flôres (2007, p. 161) afirma que, RIO GRANDE
Vila Siqueira
LEGENDA
Ferrovia
Estação Ferroviária
Av. Rio Branco
Praça Saldanha Marinho
Cabe pontuar que até o final do século XIX a Entre 1899 e 1900 foi concluída a segunda
estação ferroviária estava localizada em um estação de alvenaria, em local onde permanece
trecho atualmente extinto da rua Visconde até hoje. A localização da nova edificação foi
de Ferreira Pinto, próximo ao entroncamento condicionada pela topografia da região, que
das atuais ruas Comissário Justo e Ernesto influenciava o traçado da ferrovia, além de uma
Beck. Em um primeiro momento a estação preocupação em não criar obstáculo a um
funcionava em um chalé de madeira, construído possível prolongamento da Avenida Progresso,
provisoriamente no final de 1885, até que o atual Avenida Rio Branco, em direção ao
prédio de alvenaria, edificado contíguo ao chalé, norte. Por fim, existia ainda a necessidade de
fosse concluído e passasse a assumir a função que a estação ferroviária e o largo estivessem
de estação ferroviária. Tal edificação continuou a localizados em uma área extensa o suficiente
existir pelo menos até a década de 1940. para acomodar o grande fluxo de pessoas e
A INFLUÊNCIA DA FERROVIA NA CIDADE DE SANTA MARIA, RS 15
VILA BELGA:
O CONJUNTO
A
Vila Belga é um conjunto estado de leste a oeste. Posteriormente,
habitacional construído no em 1905, a Compagnie Auxiliaire firmou
início do século XX na cidade um novo contrato com o governo, quando
de Santa Maria, Rio Grande do expandiu o número de linhas sob sua
Sul. Localizadas nos arredores da antiga administração, tornando-se responsável
Estação Ferroviária da cidade, as 80 por grande parte da malha ferroviária
residências geminadas remanescentes gaúcha.
estão distribuídas em quatro ruas: Rua
Manoel Ribas, Rua Ernesto Beck, Rua Dr. Com o arrendamento da ferrovia, Santa
Wauthier e Rua André Marques. Maria passou a receber novos fluxos de
pessoas, oriundas de outras partes do
A origem da Vila Belga está Brasil e também de países como Bélgica
intrinsecamente relacionada à e França, que se estabeleceram na cidade,
implantação do sistema ferroviário no junto com suas famílias, para trabalhar
estado e ao arrendamento da ferrovia à para a empresa belga. Paralelamente, a
Compagnie Auxiliare de Chemins de Fer decisão da Compagnie Auxiliaire de sediar
au Brésil, empresa belga que em 1889 a diretoria da empresa na cidade, em
passou a administrar a linha Porto Alegre função da posição privilegiada de Santa
– Uruguaiana, importante linha tronco Maria, aumentou ainda mais o contingente
que passava por Santa Maria, cortando o populacional vinculado à ferrovia.
VILA BELGA: O CONJUNTO 20
1
Disponível em: http://www.belgianclub.com.br/pt-br/creator/vauthier-gustave-1861-1923. Acesso em 02 fev. 2023.
VILA BELGA: O CONJUNTO 24
2
Arquiteto e engenheiro de pontes e estradas, nascido na Bélgica em 1849. Foi professor na Universidade de Gante e no Instituto
de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica, onde teve uma produção teórica significativa.
VILA BELGA: O CONJUNTO 25
A VILA BELGA,
localizada próxima
à estação ferroviária
e à Av. Rio Branco,
está distribuída
em quatro ruas:
Rua Manoel Ribas,
Rua Dr. Wauthier,
Rua Ernesto Beck e
Rua André Marques.
LEGENDA
1 Rua Manoel Ribas
2 Rua Dr. Wauthier
3 Rua Ernesto Beck
4 Rua André Marques
Vila Belga
Estação Ferroviária
Av. Rio Branco
A Vila Belga também cumpre esse requisito. Portanto, a decisão de construir a Vila
As residências estão distribuídas nas ruas Belga nessa região e não do outro lado dos
Manoel Ribas, Ernesto Beck, Dr. Wauthier e trilhos, caso a preocupação fosse somente
André Marques, todas vias locais, ou seja, de a proximidade com o local de trabalho,
menor importância na hierarquia urbana, mas considerando que aquela era uma área ainda
ainda assim próximas a uma das principais incipiente, denota que havia outras questões
avenidas da cidade, a Avenida Rio Branco. a serem consideradas, como a integração
Com a construção da ferrovia, no final do do morador com a malha urbana existente,
século XIX, a Avenida Rio Branco tornou-se tornando-o parte da cidade.
uma das principais vias de Santa Maria, pois
funcionava como um elo de ligação entre Segundo Blois Filho (2018, p. 140) “O tecido
a estação ferroviária e a Praça Saldanha proposto se integra ao tecido adjacente
Marinho, no centro da cidade. Por este motivo, criando várias possibilidades de acessibilidade,
concentrava grande parte do comércio e da significando a liberdade que o trabalhador
rede hoteleira, além de muitas residências de dispõe para ir e vir”. Ou seja, há uma fluidez
alto padrão e vários empreendimentos. entre a Vila Belga e o restante da malha
VILA BELGA: O CONJUNTO 28
VILA BELGA:
A ARQUITETURA
A
Vila Belga é composta por 41 teriam direito a residências semelhantes.
edificações com arquitetura
eclética, todas térreas e As edificações foram construídas todas com
geminadas, ou seja, agrupadas um pavimento, alinhadas à testada do lote,
duas a duas. A exceção fica por conta de ou seja, sem recuos frontais, e com pequenos
uma única unidade da tipologia 5, que segue recuos laterais. Essa característica está de
as mesmas características arquitetônicas acordo com o que era produzido em Santa
das outras edificações de mesma tipologia, Maria na época, quando as construções
porém se apresenta como uma residência eram regidas por ‘posturas municipais’, ou
isolada, sem a sua ‘dupla’ geminada. seja, por uma série de condicionantes e
parâmetros que visavam ordenar o espaço
A opção por edificar todo o conjunto urbano de forma a proporcionar um aspecto
seguindo um mesmo modelo – casas uniforme às ruas. Esse conjunto de regras
geminadas, ou chamadas de accolée por estabelecia a construção no alinhamento
Cloquet (1900) – pode ser explicada da das ruas, o que pode ser observado em
mesma forma que a não existência de uma diversas outras edificações da época. Além
hierarquia entre as ruas do conjunto. A disso, a configuração dos lotes da Vila Belga,
Vila Belga foi projetada para trabalhadores estreitos e longos, também segue um
de um mesmo nível dentro da estrutura padrão similar aos outros lotes da cidade
administrativa da empresa e que, portanto, nesse período.
VILA BELGA: A ARQUITETURA 35
dos lotes faz com que esse requisito seja acordo com os materiais encontrados na região
cumprido, e que a profundidade permita ainda e as necessidades locais.
modificações e a expansão das unidades, de
acordo com a necessidade de seus moradores. Quanto à materialidade, as edificações
apresentam técnicas mistas. As paredes
Ainda para garantir uma ventilação adequada, externas, as de meação – que separam duas
Cloquet (1900) recomendava a utilização unidades geminadas – e algumas internas
de um pé direito mínimo de três metros. As foram construídas em alvenaria de tijolos
residências da Vila Belga, com pé direito entre maciços, rebocados com argamassa de cal
três e quatro metros, cumprem esse requisito. e areia. Outras divisórias internas eram de
madeira, de forma a facilitar a adaptação
De modo geral, as unidades são compostas por da residência às necessidades específicas
sala, cozinha, ‘varanda’ (sala de jantar), quarto(s) e de cada família, possibilitando a integração
latrina, esta geralmente em edificação separada, ou alteração no tamanho dos cômodos.
localizada aos fundos. A distribuição está em As fachadas externas possuíam todas uma
consonância com o que era recomendado por mesma cor, acabamento este que não é mais
Cloquet (1900), para o qual o programa de uma visível atualmente em função das reformas e
residência operária geralmente incluía: uma sala, pinturas ocorridas ao longo dos anos.
uma cozinha-lavanderia, quartos em número
de dois ou três, pátio e banheiro. O autor ainda Os forros e os pisos internos também eram,
ressalta que o ideal para uma família são três originalmente, de madeira. O piso era
quartos, “[...] um para os pais e outro para os filhos elevado a fim de controlar a umidade, outra
de cada um dos dois sexos” (CLOQUET, 1900, p. preocupação presente nas vilas operárias,
102, tradução nossa). associada à busca pela salubridade e boas
condições de habitabilidade das residências.
O conjunto possui arquitetura eclética, com
inspiração Art Nouveau, principalmente Em função da topografia dos lotes, em
nos elementos decorativos das aberturas, e algumas edificações essa altura entre o
utilização de técnicas construtivas tradicionais piso e o solo propiciou a criação de um vão
da época. Assim como outras edificações ao qual alguns autores se referem como
ligadas à ferrovia, o projeto da Vila Belga sofreu ‘porões’. Apesar do nome, esses espaços
influência do que era produzido na Europa, não se configuravam como um cômodo
em razão da nacionalidade da Compagnie propriamente dito, visto que sua altura não
Auxiliaire, porém contou com adaptações de permitia que uma pessoa ficasse em pé no
VILA BELGA: A ARQUITETURA 37
“Bandeiras”
localizadas na
parte superior
das portas
VILA BELGA: A ARQUITETURA 40
“Bandeiras”
localizadas na
parte superior
das portas
LEGENDA
Exemplo de edificação com
planta baixa retangular
Exemplo de edificação com
planta baixa em L
Exemplo de edificação com
planta baixa em C
VILA BELGA: A ARQUITETURA 42
CUNHAL
Reforço do ângulo
externo formado
pelo encontro da
fachada frontal com PILASTRA
a lateral Espécie de pilar
aderido à parede
da edificação
ARREMATES
DAS ABERTURAS
SOCO
Base aparente
da parede da
fachada principal
Nesse sentido, destaca-se a estratégia adotada edificação. Dentre esse conjunto de detalhes
em relação ao tratamento das fachadas, destacam-se os cunhais, pilastras, socos e
nas quais se observa um “expressivo jogo arremates das aberturas.
de detalhes arquitetônicos” (SCHLEE, 1996,
p. 7 apud LOPES, 2002, p. 184), que variam Os cunhais, elementos que fazem a ligação
conforme a tipologia e, também, conforme a entre duas paredes, nesse caso entre
VILA BELGA: A ARQUITETURA 43
Alguns exemplos do
tratamento de cunhais
e pilastras nas fachadas
4
Somente em uma edificação, localizada na Rua Manoel Ribas, não foi identificada a presença de cunhal. Essa é uma das
edificações que apresenta descaracterização da fachada em relação à composição original.
VILA BELGA: A ARQUITETURA 44
ou quase imperceptível. Visto que esse é alegre e pitoresca; sendo a beleza pitoresca
um detalhe condicionado à topografia do a única que não é dispendiosa, não se pode
terreno, observa-se a existência de edificações privar dela os pobres” (CLOQUET, 1900, p.
pertencentes à mesma tipologia, porém 101, tradução nossa). Assim, percebe-se que
com linhas de soco e/ou tamanhos de base houve também a preocupação em projetar
diferentes, resultando em residências de o conjunto pensando em seus atributos
aparência distintas. estéticos – e não só na funcionalidade ou
economicidade – de forma a fornecer ao
Por fim, um dos elementos que mais confere morador uma residência bela, harmoniosa e
singularidade às edificações são os arremates visualmente agradável.
das aberturas, ou seja, os relevos em massa que
ornamentam as portas e janelas das fachadas O conjunto de características apresentadas
externas. Ora elaborados em formas curvas, com denota uma dualidade existente na Vila Belga
floreios e detalhes vazados que remetem ao entre as noções de uniformidade e diversidade.
estilo Art Nouveau, ora seguindo uma tendência “Ao percorrermos o conjunto podemos sentir a
retilínea, com linhas e formas simplificadas, tais peculiar impressão de unidade na diversidade
elementos se apresentam de formas diferentes, e ao mesmo tempo, diversidade na unidade”
imprimindo um caráter único para cada uma (LOMPA, 2001, p. 152).
das edificações. A partir da combinação entre
esses elementos, é possível afirmar, portanto, A construção das edificações, todas alinhadas
que não existem duas construções totalmente ao passeio e ocupando quase toda a testada
iguais em todo o conjunto. do lote, além da repetição de elementos, como
os telhados e cimalhas entre as unidades,
Visto que, originalmente, as edificações da Vila demonstra a intenção de preservar a ideia de
Belga eram todas da mesma cor, trabalhar a conjunto, promovendo uma identidade para a
fachada a partir da composição de diferentes vila ferroviária. Paralelamente, o cuidado com
elementos era uma forma de promover a a diferenciação das residências, em planta e
diferenciação das unidades conforme a sua volumetria, mas principalmente através do
aparência e enfatizar a individualidade entre tratamento de fachadas, revela a preocupação
as residências. Além disso, a ornamentação da em atender às diferentes necessidades das
fachada atende, ainda, a outro ponto exposto famílias e resguardar a sua individualidade. Ou
por Cloquet (1900), relativo à estética das seja, ao mesmo tempo em que era importante
edificações. Segundo o autor, “Serão feitos que o morador se sentisse parte do coletivo, este
esforços para dar à construção uma aparência também deveria sentir-se individualizado.
É desejável que
as moradias dos
trabalhadores sejam
variadas em razão da
diversidade das famílias,
seus costumes e suas
necessidades.
CLOQUET, 1900,
p. 99, tradução nossa
VILA BELGA:
AS TIPOLOGIAS
S
eguindo os preceitos das vilas Um mapa datado de 27 de agosto de 1920,
operárias, e também dentro do que portanto mais de uma década depois da
era recomendado por Cloquet (1900), construção da Vila Belga, e que apresenta
as residências da Vila Belga foram um levantamento das edificações mostra 85
divididas em diferentes tipologias, de forma a unidades divididas em 9 tipologias, sendo que
acomodar perfis distintos de famílias. três delas apresentam variações (tipologias 3
e 3a, 4 e 4a, 7 e 7a). A legenda do mapa traz
As edificações não foram divididas por as informações acerca de quais unidades
importância ou classe, visto que o conjunto pertencem a cada uma das tipologias,
era direcionado para trabalhadores relacionando-as pelo número da residência.
pertencentes a um mesmo grupo, o
que levou à construção de todas as Das 9 tipologias elencadas, a demolição de
unidades dentro de uma mesma solução uma (tipologia 8) e o uso não residencial de
projetual (casas geminadas). Ao invés outra (tipologia 9) reduzem o conjunto para
disso, a preocupação com a diferenciação 7 tipologias. A única unidade da tipologia 8,
das residências, de forma a atender às localizada na esquina das Ruas Manoel Ribas
diferentes necessidades das famílias, e Dr. Wauthier, foi demolida, juntamente com
manifestou-se através da diversificação das uma unidade da tipologia 4, para dar lugar
unidades em planta baixa e em número de ao prédio da Associação dos Empregados da
cômodos. Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 50
Mapa da Vila Belga de 1920 mostra a divisão do conjunto em 9 tipologias. No detalhe aumentado,
a legenda do mapa, que identifica quais edificações pertencem a cada tipologia.
Fonte: Acervo pessoal de Caryl Eduardo Jovanovich Lopes, adaptado pela autora (2022).
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 51
Rua
An
a s
an oel Rib
Rua M
dré M
Rua D
arqu
r. Wau
es
Av
thier
.R
io
B
ran
Beck
co
rn esto
Rua E
LEGENDA
Tipologia 4 (demolida) Tipologia 3 (demolida) Tipologia 9 (demolida)
Apesar de não terem sido encontrados registros Comparando com seu estado atual percebe-
da planta baixa dessa tipologia, conclui-se que se que a edificação foi descaracterizada ao
a edificação já foi construída com finalidade longo do tempo, principalmente com relação
não residencial. A análise da fachada suporta às esquadrias, que foram substituídas e
essa conclusão, ao observar-se que esta difere convertidas em quatro janelas, e à falta dos
das outras do conjunto, principalmente com arremates decorativos, que foram suprimidos.
relação às esquadrias e ornamentação. Apesar
de possuir alguns elementos similares a outras Portanto, das 85 unidades que constam no
unidades, a fachada dessa edificação não mapa, conclui-se que o conjunto residencial da
mantém o mesmo ritmo entre as aberturas, que Vila Belga era originalmente composto por 83
normalmente são igualmente espaçadas. Uma unidades. Com a demolição de duas unidades
fotografia da Vila Belga datada de 1914, na qual (tipologia 8 e uma unidade da tipologia 4) e a
é possível visualizar a edificação parcialmente, utilização conjunta de uma edificação da tipologia
revela que a fachada original era composta por 3a, o conjunto passou a contar com 7 tipologias
duas portas centrais e duas janelas, uma para residenciais, distribuídas em 41 edificações
cada lado. Além disso, observa-se o uso de e 80 unidades, número que se mantém
frisos e uma forma de ornamentação nas portas até hoje, apesar de algumas apresentarem
diferente do que se vê nas outras unidades. descaracterizações e mudanças de uso.
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 53
Rua
ibas
A nd
R
anoel
Rua M
Rua D
ré M
arqu
r. Wau
es
thier
Av
.R
io
Br
B e ck
an
o
rnest
Rua E
o c
LEGENDA
Tipologia1 Tipologia 4a
Tipologia 2 Tipologia 5
Tipologia 3 Tipologia 6
Tipologia 3a Tipologia 7
Tipologia 4 Tipologia 7a
TIPO 1
Morada geminada com acesso na fachada lateral,
caracterizada por apresentar quatro janelas de
guilhotina em sua fachada frontal e uma porta central
na fachada lateral.
TIPO 2
Morada geminada com acesso na fachada principal
(I), caracterizada por apresentar quatro janelas de
guilhotina separadas, duas a duas, pela união das duas
portas das unidades habitacionais.
TIPO 3
Morada geminada com acesso por recuo lateral,
caracterizada por apresentar quatro janelas de
guilhotina em sua fachada frontal, fachada lateral cega
e as portas das unidades nos fundos do bloco principal.
TIPO 4
Morada geminada com acesso na fachada principal (II),
caracterizada por apresentar seis janelas de guilhotina,
três por unidade, e duas portas afastadas uma da outra.
TIPO 5
Morada geminada com acesso na fachada principal
(III), caracterizada por apresentar quatro janelas de
guilhotina, duas por unidade e duas portas afastadas
uma da outra.
priorizou aspectos como os acessos a cada tipo 1, já que todas também possuem quatro
uma das edificações (frontal, lateral e pelos janelas na fachada frontal, mas acesso principal
fundos do bloco principal) e a conformação pela fachada lateral.
das esquadrias na fachada frontal. Portanto,
edificações que apresentam variação em Neste estudo optou-se por trabalhar com
planta (configuração ou número de quartos), as tipologias identificadas no mapa de 1920,
mas que são semelhantes em relação à considerando residências que possuem
fachada frontal ou ao acesso, foram agrupadas mesma fachada mas disposições de planta
no mesmo tipo. diferentes como tipologias distintas. Entende-
se que aspectos como as variações de planta
O quadro 1 mostra a relação entre as tipologias baixa e o número de quartos também são
discriminadas no mapa de 1920 e os tipos relevantes para a classificação das edificações,
identificados por Schlee (1996). As tipologias 1, visto que contribuem para promover a
2 e 3 (e a variação 3a) foram consideradas como diversificação do conjunto. Além disso, esses
um mesmo tipo (tipo 3) pelo fato de todas aspectos estão em consonância com o que era
apresentarem quatro janelas na fachada frontal recomendado para as vilas operárias, e o que
e acesso pelos fundos do bloco principal. Da dizia o Traité d’Architecture de Cloquet (1900),
mesma forma, as edificações da tipologia 4 e com relação à diferenciação de unidades
das variações 4a e 7a foram classificadas como conforme os tamanhos das famílias.
Quadro 1 – Relação entre as tipologias do mapa de 1920 e os tipos identificados por Andrey Schlee
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 58
TIPOLOGIA 1
2 3 4
5 1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5 5. LATRINA
2 3 4 ACESSO
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 60
TIPOLOGIA 1
Rua Dr. Wauthier nº 32-42
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 61
TIPOLOGIA 1
Rua Ernesto Beck nº 2102-2112
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 62
TIPOLOGIA 1
Rua Ernesto Beck nº 2116-2126
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 63
TIPOLOGIA 1
Rua Ernesto Beck nº 2130-2140
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 64
TIPOLOGIA 2
1
ACESSO
2 2 3 4
5 1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5 5. LATRINA
2 2 3 4
ACESSO
1
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
Bran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 66
TIPOLOGIA 2
Rua Dr. Wauthier nº 04-14
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 67
TIPOLOGIA 2
Rua Dr. Wauthier nº 18-28
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 68
TIPOLOGIA 2
Rua Ernesto Beck nº 2131-2141
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 69
TIPOLOGIA 2
Rua Ernesto Beck nº 2145-2155
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 70
TIPOLOGIA 3
As edificações da tipologia 3
possuem planta em C, com acesso A tipologia 3 pode ser
pelos fundos do bloco principal. encontrada em sete
Cada residência contava edificações, totalizando
originalmente com sala, varanda quatorze residências. Essas
(sala de jantar), cozinha e três edificações estão localizadas
quartos, além da latrina, localizada nos seguintes endereços:
nos fundos e separada do bloco Rua Ernesto Beck nº 2045-
principal. 2055, nº 2059-2071, nº 2075-
2085, nº 2103-2113,
A fachada frontal da tipologia 3 é nº 2117-2127.
composta por quatro janelas do Rua Dr. Wauthier nº 140-
tipo guilhotina com caixilharia de 150, nº 141-151.
doze vidros, sendo duas janelas
por unidade.
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 71
1 ACESSO
2
2 2 3 4 5
1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
5 4. COZINHA
5. LATRINA
2 2 3 4
ACESSO
1 2
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 72
TIPOLOGIA 3
Rua Dr. Wauthier nº 140-150
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 73
TIPOLOGIA 3
Rua Dr. Wauthier nº 141-151
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 74
TIPOLOGIA 3
Rua Ernesto Beck nº 2045-2055
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 75
TIPOLOGIA 3
Rua Ernesto Beck nº 2059-2071
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 76
TIPOLOGIA 3
Rua Ernesto Beck nº 2075-2085
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 77
TIPOLOGIA 3
Rua Ernesto Beck nº 2103-2113
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 78
TIPOLOGIA 3
Rua Ernesto Beck nº 2117-2127
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 79
TIPOLOGIA 3a
1 ACESSO 2
2 2 3 4
5 1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
5 4. COZINHA
2 2 3 4 5. LATRINA
1 ACESSO 2
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 81
TIPOLOGIA 3a
Rua Manoel Ribas nº 1923-1935
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 82
TIPOLOGIA 3a
Rua Manoel Ribas nº 1924
TIPOLOGIA 3a
Rua Manoel Ribas nº 1928-1938
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 84
TIPOLOGIA 4
ACESSO
1 2
2 3 4 5 1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5 5. LATRINA
2 3 4
1 2
ACESSO
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 86
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 1907-1919
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 87
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 1942-1954
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 88
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 1958-1972
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 89
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 1976-1990
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 90
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 1994-2008
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 91
TIPOLOGIA 4
Rua Manoel Ribas nº 2009-2021
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 92
TIPOLOGIA 4a
ACESSO
1. SALA
2 2 2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5. LATRINA
5
2 3
4
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
TIPOLOGIA 4a
Rua Manoel Ribas nº 2005
TIPOLOGIA 5
5 5
2 4 4 2
1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5. LATRINA
2 3 3 2
2 1 1 2
ACESSO ACESSO
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
TIPOLOGIA 5
Rua André Marques nº 111-119
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 98
TIPOLOGIA 5
Rua André Marques nº 129-137
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 99
TIPOLOGIA 5
Rua André Marques nº 147-157
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 100
TIPOLOGIA 5
Rua André Marques nº 167
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 101
TIPOLOGIA 6
As edificações da tipologia 6
possuem planta retangular, com A tipologia 6 está presente
acesso pela fachada frontal. Cada em três edificações,
unidade conta com sala, três totalizando seis residências,
quartos, varanda (sala de jantar), todas localizadas na Rua
além da latrina, que, ao contrário André Marques, entre a
das tipologias anteriores, localiza-se Rua Manoel Ribas e a Rua
anexa ao bloco principal. Dr. Wauthier, nos seguintes
endereços:
A fachada frontal é composta por Rua André Marques nº
seis janelas do tipo guilhotina com 15-31, nº 45-61, nº 73-89.
caixilharia de doze vidros, sendo três
janelas por unidade, além de duas
portas de acesso, uma por unidade.
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 102
1. SALA
2. QUARTO
3. VARANDA
4. COZINHA
5 5 5. LATRINA
2 3 4 4 3 2
1 2 2 2 2 1
ACESSO ACESSO
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 103
TIPOLOGIA 6
Rua André Marques nº 15-31
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 104
TIPOLOGIA 6
Rua André Marques nº 45-61
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 105
TIPOLOGIA 6
Rua André Marques nº 73-89
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 106
TIPOLOGIA 7
2 2 2
5
1 2
3 4 1. SALA
ACESSO
2. QUARTO
3. VARANDA
ACESSO 4. COZINHA
5. LATRINA
3 4
1 2
5
2
2 2
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
Bran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 108
TIPOLOGIA 7
Rua Manoel Ribas nº 1943-1945
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 109
TIPOLOGIA 7
Rua Manoel Ribas nº 1961-1963
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 110
TIPOLOGIA 7
Rua Manoel Ribas nº 1979-1981
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 111
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 1990-1992
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 112
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 2008-2010
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 113
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 2024-2026
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 114
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 2042-2046
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 115
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 2060-2062
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 116
TIPOLOGIA 7
Rua Ernesto Beck nº 2076-2078
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 117
TIPOLOGIA 7a
2 2 2 1. SALETA
5 2. QUARTO
6 3. VARANDA
4. COZINHA
5. LATRINA
2 3 4 6. AVARANDADO
1
ACESSO
Ribas
anoel
Rua M
Rua
And
Rua D
ré M
r. Wa
arqu
es
uthie
r
k
o Bec
rnest
Rua E
Av
.R
io
B
ran
co
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 119
TIPOLOGIA 7a
Rua Manoel Ribas nº 1991
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 120
Um aspecto que pode ser observado após a análise prédio da Associação dos Ferroviários, na esquina
das tipologias, em conjunto com a planta baixa do da Rua Manoel Ribas com a Rua Dr. Wauthier, o
conjunto de 1920, é que possivelmente existia algu- acesso à passagem foi inviabilizado e fechado.
ma diferença da tipologia 7 (e a variação 7a) para as
demais em termos de hierarquia. Percebe-se que Observa-se que a ‘servidão’ existe somente nesta
no meio da quadra onde estão localizadas as edifi- quadra, mesmo que as outras também contas-
cações dessa tipologia, entre a Rua Pinheiro Macha- sem com dimensões suficientes para possibilitar a
do (atual Manoel Ribas) e a Rua Ernesto Beck, existia implantação dessa passagem. Considerando ainda
uma espécie de corredor, ou viela, que dava acesso que a tipologia 7 é a que possui maior número de
aos fundos dos lotes. Chamada de ‘servidão’, essa quartos (quatro), é possível que esta fosse destinada
passagem era acessada pela Rua Garibaldi (atual a famílias maiores ou funcionários com algum grau
Dr. Wauthier) e servia para que mantimentos como de diferenciação dentro do grupo-alvo ao qual as
carvão, lenha, leite, ovos, etc. fossem entregues às residências eram destinadas, que também teriam
residências. Posteriormente, com a construção do direito a usufruir da 'servidão'.
MAPA DE 1920
mostra que existia
uma "servidão" na
quadra onde estão
as residências da
tipologia 7 e 7a
Servidão
Tipologia 7
Tipologia 7a
Fonte: Acervo pessoal de Caryl Eduardo Jovanovich Lopes, adaptado pela autora (2023)
VILA BELGA: AS TIPOLOGIAS 121
A VILA BELGA
ALÉM DAS RESIDÊNCIAS:
COMÉRCIO, SERVIÇOS,
EDUCAÇÃO E SAÚDE
A
proximidade da Vila Belga com a 40% mais baratos do que aqueles praticados
estação férrea, além do perfil de pelo mercado. Denominada Economat,
seus moradores, em sua maioria a organização ocupava uma edificação
trabalhadores da ferrovia, foram localizada na esquina da Rua Pinheiro
fatores que contribuíram para que junto ao Machado (atual Manoel Ribas) com a Rua
conjunto habitacional fossem instalados uma Garibaldi (atual Rua Dr. Wauthier).
série de empreendimentos e serviços tendo
como público alvo os ferroviários. Com a venda, em 1912, da maioria das ações
para a Brazil Railway, que passou a administrar a
Um dos primeiros estabelecimentos viação férrea, o Economat foi vendido à iniciativa
comerciais da cidade voltado aos privada, visto que a nova administração não
trabalhadores da ferrovia surgiu em 1906, tinha interesse em dar seguimento ao sistema.
quando os operários entraram em greve Os produtos continuaram a ser comercializados
reivindicando um aumento de 30% em seus com descontos para os ferroviários, porém os
salários. Apesar de o pedido não ter sido valores das mercadorias subiram, causando
atendido, buscou-se uma forma de diminuir descontentamento entre os trabalhadores,
as dificuldades enfrentadas por esse grupo que se queixavam da alta nos preços e da
através da criação de uma organização que diminuição no padrão dos serviços com os quais
fornecesse mercadorias com valores até estavam acostumados.
VILA BELGA: ALÉM DAS RESIDÊNCIAS 127
2 3 4
6
LEGENDA
1 Economat,
posteriormente
7 Armazém Central
2 Primeiro açougue,
8 salsicharia e escritórios
5 3 Depósito
4 Farmácia
5 Escola, fábrica de
confeccções e padaria
6 Sede Administrativa
7 Sede da Associação
dos Empregados da
Viação Férrea
8 Residências isoladas
Propriedade da
CCEVFRGS
Vila Belga
necessidade. O local, que ficou conhecido que até então localizava-se em casas alugadas.
então como Armazém Central, funcionou de
forma provisória entre 1914 e 1920, ano em Em 1924, a crescente demanda no número
que a Brazil Railway saiu da direção da Viação de sócios e o aumento da complexidade nos
Férrea e a Cooperativa comprou o prédio, processos tornou necessária a expansão do
estabelecendo o Armazém de forma definitiva. setor administrativo, que passou a ocupar
também parte do Armazém Central. Nesse
Ainda em 1920 a Cooperativa construiu um mesmo ano o prédio passou por reformas para
edifício próximo ao Armazém Central, também a inclusão de instalações sanitárias.
na esquina das Rua Pinheiro Machado (atual
Manoel Ribas) com a Rua Garibaldi (atual Rua Com a reforma, e em função do crescimento
Dr. Wauthier), para abrigar as instalações do nas vendas, surge a necessidade de melhorar
primeiro açougue, a salsicharia e os escritórios a infraestrutura de acondicionamento das
centrais. Este foi o primeiro edifício de posse da mercadorias. Até então os produtos eram
Cooperativa ocupado pela sua administração, guardados em uma edificação de madeira
VILA BELGA: ALÉM DAS RESIDÊNCIAS 129
contígua ao armazém, mas este espaço CCEVFRGS, ficou acordado entre as duas
mostrou-se insuficiente para o volume entidades que a Caixa de Socorro se manteria
de vendas mensal, visto que ali também com a companhia belga e a farmácia passaria a
eram estocadas as mercadorias que seriam ser propriedade da Cooperativa, sendo que esta
distribuídas para outros armazéns em outras contribuiria também com a Caixa de Socorro.
cidades do estado.
Em 1921 a farmácia da CCEVFRGS instalou-se
Em 1925 são inaugurados três pavilhões de pela primeira vez em um prédio próprio da
alvenaria, contíguos ao Armazém Central, Cooperativa, de forma provisória, no edifício
para servirem de Depósito Central da que abrigava o primeiro açougue, a salsicharia
cooperativa. O primeiro pavilhão ao lado do e os escritórios centrais. Entre 1924 e 1925,
Armazém era o da Secção de Expedição, então, ganhou sede própria, localizada na Rua
ou seja, o setor responsável pela entrada e Pinheiro Machado (atual Rua Manoel Ribas), ao
saída de mercadorias que seriam distribuídas lado do Depósito de Bebidas. Além do espaço
aos armazéns filiais da CCEVFRGS e seus de farmácia, a edificação contava com salas de
associados. Ao lado funcionava a Secção de Via espera e duas salas para consultas médicas.
Permanente, responsável por fazer a distribuição
de mercadorias ao longo da via férrea para os Voltado ao cooperativismo e buscando atender
associados da cooperativa. Por fim, no terceiro às necessidades básicas dos empregados da
pavilhão estava a Secção do Depósito de Bebidas, ferrovia, em 1922 começam as obras de outro
onde eram armazenadas as bebidas, como prédio, em terreno de testada voltada à Rua
refrigerantes, cervejas, cachaças, vinhos, grappa, Ernesto Beck, entre as ruas Garibaldi (atual Rua
uísques, espumantes, conhaques e licores. Dr. Wauthier) e André Marques. No relatório
da CCEVFRGS de 1923 foi divulgado o projeto
No mesmo período da instalação dos dessa nova edificação, que mostrava a intenção
depósitos, entre 1924 e 1925, foi construída de alocar uma padaria no primeiro pavimento
ainda uma edificação destinada à farmácia. e a Escola de Meninas, no segundo pavimento.
Quando a Cooperativa foi criada, já existia Porém, com o aumento na procura de meninas
uma farmácia e uma Caixa de Socorro , ambas 5
pelas aulas da escola naquele mesmo ano, o
de posse da Compagnie Auxiliaire e voltadas espaço existente passa a ser insuficiente, o que
para seus funcionários. Com a fundação da faz a cooperativa redirecionar todos os seus
5
“A Caixa de Socorro visava ao atendimento de associados e seus familiares no caso de funerais, receituários médicos e
pagamento de despesas de farmácias, uma vez que muitos não possuíam assistência pública na maioria das cidades do Estado”
(ALCÂNTARA, 2015, p. 91).
VILA BELGA: ALÉM DAS RESIDÊNCIAS 130
realizadas pelo seu quadro de sócios” Por fim, outras edificações situadas nas
(FLÔRES, 2008, p. 274). imediações da Vila Belga e relacionadas
com a ferrovia são quatro residências
A sede da Associação possuía espaço para isoladas localizadas na Rua André Marques.
a prática de diversos esportes, como xadrez, Construídas posteriormente, provavelmente
dominó, dama, bocha, bilhar, ping-pong na metade do século XX, as casas não estão
e bolão. Foi local, também, de frequentes relacionadas ao projeto original da Vila Belga,
reuniões-dançantes e bailes, além do famoso mas também foram pensadas para alojar
carnaval promovido pela AEVF, que se tornou trabalhadores da ferrovia.
referência da cidade. Conforme Bartolomeu
Ceccin Segundo, em depoimento para o As edificações foram instaladas para abrigar
livro Vila Belga: Memória Cidadã, “Durante os engenheiros da Viação Férrea, o que condiz
os bailes de carnaval, saíam daqui grandes com a arquitetura das unidades. A opção
alegorias e o clube disputava os concursos da por edificações isoladas, ao contrário das
mais bela santa-mariense, sempre obtendo residências geminadas da Vila Belga, indica
bons resultados” (CENTRO DE HISTÓRIA que os seus ocupantes eram funcionários
ORAL, 2002, p. 104). A Associação continuou a mais graduados, para os quais existia uma
funcionar e receber eventos até 2003, quando preocupação maior com questões de
o prédio foi interditado devido à situação privacidade e isolamento.
precária em que se encontrava.
VILA BELGA: ALÉM DAS RESIDÊNCIAS 133
A EDIFICAÇÃO DA FARMÁCIA,
em primeiro plano, e dos três depósitos,
em 1925. Fonte: (ALCÂNTARA, 2015, p. 92)
VILA BELGA: ALÉM DAS RESIDÊNCIAS 136
PATRIMONIALIZAÇÃO
E PRESERVAÇÃO
DA VILA BELGA
S
e por muitas décadas Santa Maria observar, porém, que foi no meio desse cenário
viu o seu desenvolvimento estar que o poder público municipal começou a
diretamente atrelado à ferrovia, e a dar os primeiros passos para o processo de
todas às dinâmicas relacionadas a patrimonialização da região.
ela, a cidade também sofreu com os impactos Nesse sentido, a primeira medida de
causados pelo desmantelamento do sistema reconhecimento veio com a Lei Municipal nº 2.983,
ferroviário. Esse processo de retração teve início de 6 de junho de 1988, que considera a Vila Belga
na década de 1950, quando o modal rodoviário como patrimônio histórico e cultural do município.
passou a receber incentivos maciços, em O tombamento de fato só ocorreu quase uma
paralelo à estagnação de investimentos no setor década depois, por meio do Decreto Executivo nº
ferroviário, e culminou com a privatização da 161, de 8 de agosto de 1997, quando o conjunto foi
RFFSA na década de 1990 e com a interrupção inscrito no Livro Tombo do Município.
no transporte de passageiros, em 1996.
No âmbito estadual, as unidades residenciais
Com o cessar dos trens, o movimento intenso da Vila Belga foram consideradas patrimônio
característico da Estação Ferroviária e de seu juntamente com a Estação Férrea (estação
entorno foi reduzido de forma significativa, o de passageiros, pavilhões 1, 2 e 3, a plataforma
que também acarretou a diminuição dos fluxos de embarque e o largo da estação); o edifício
no local e dos investimentos em conservação comercial da Associação de Funcionários
e manutenção das edificações. É interessante da Viação Férrea; o edifício de escritórios,
PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA VILA BELGA 145
vários contatos com a embaixada belga, do tombamento. Esses imóveis tinham seu
com outros órgãos e procuramos trabalhar valor histórico, artístico e cultural e eles
esses dois eixos. A partir da privatização, não poderiam, então, serem depredados e
nós tivemos um processo bem avançado no destruídos. Nós, ferroviários e moradores da
sentido de sucateamento destes imóveis." Vila Belga, achávamos que, naquele momento,
(CENTRO DE HISTÓRIA ORAL, 2002, p. 80) tínhamos esse compromisso com a população
e com a história de preservar aquilo que foi o
Com a privatização da RFFSA, as casas, que não marco de desenvolvimento da nossa cidade,
eram de propriedade dos moradores, foram a nossa região, a Vila Belga. Conseguimos, em
leilão. Inicialmente previsto para acontecer em 13 de novembro de 1997, adquirir os imóveis,
agosto de 1997, o leilão seria aberto a diversos quando praticamente 100% deles ficaram nas
interessados, não sendo restrito aos ferroviários. mãos dos ferroviários." (CENTRO DE HISTÓRIA
Após mobilizações, o processo foi anulado por ORAL, 2002, p. 80-82)
decisão judicial e um novo leilão foi agendado,
para novembro daquele ano, no qual foi dada A Vila Belga sofreu diversas intervenções
prioridade de compra aos moradores. Paulo ao longo dos anos, que modificaram as
Conceição explica que: residências e também a infraestrutura do
conjunto. A maioria das edificações foi ampliada,
"No leilão que estava previsto para agosto, a principalmente em direção ao fundo dos
Rede Ferroviária tinha a intenção de vender lotes, com a adição de novos volumes. Além
as edificações pelo menor preço. Tivemos disso, muitas unidades foram reconfiguradas
um período muito crítico do ponto de vista internamente, com a mudança na distribuição
da perda de direitos da moradia, pois, dos cômodos, substituição de revestimentos e
devido ao processo de privatização, nós não outras adequações. Com mais de um século de
teríamos onde morar. Nós aprofundamos existência, é pouco provável que as residências
esta discussão e conseguimos impedir o mantenham ainda hoje, em sua totalidade, os
leilão da Rede Ferroviária. Este foi o único seus aspectos internos originais.
leilão cancelado pela Rede Ferroviária, devido
à mobilização dos moradores, em todo o No entanto, questões referentes à volumetria
país. Nós impedimos, através de uma ação total do conjunto e fachadas foram, de modo
judicial, quando nos reunimos aqui, às 22 geral, preservadas, visto que são objeto de
horas e 25 minutos; no outro dia, às 10 horas tombamento. Das 80 unidades, somente
seria o leilão, e nós conseguimos impedi-lo, e três tiveram sua fachada descaracterizada.
incluímos neste processo de venda a questão Mesmo as residências que foram ampliadas,
PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA VILA BELGA 147
Entre 2008 e 2012 a Vila Belga passou por Paralelamente às obras realizadas nas ruas
uma série de revitalizações, visando recuperar do conjunto, outra ação contemplou a
o estado de degradação das residências recuperação das residências. Através do projeto
e reestabelecer elementos que estavam Tudo de Cor para Santa Maria, uma iniciativa
descaracterizados. O asfalto, que desagradava das Tintas Coral em parceria com a Prefeitura
os moradores, foi removido e o calçamento Municipal de Santa Maria e as empresas
de pedras irregulares foi reestabelecido. Para Falk Tintas e Atlas Pincéis e Ferramentas, as
reduzir os danos à pavimentação, o fluxo de fachadas das Vila Belga foram restauradas e
trânsito pesado foi desviado, não sendo mais receberam novas cores. As empresas fizeram
permitido nas ruas da Vila Belga. As calçadas toda a doação do material necessário e a
foram recuperadas, a partir de uma paginação comunidade, junto com o Exército, realizou as
padrão, e alargadas na Rua Manoel Ribas, pinturas. A mobilização teve início em outubro
passando a contar, também, com rampas de 2011 e a pintura de todas as fachadas foi
de acessibilidade. Além disso, foi realizada concluída em março de 2012.
PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA VILA BELGA 148
Outra iniciativa que merece destaque por do lugar Vila Belga, a convivência entre os
contribuir com a preservação do conjunto ao participantes e a promoção de atividades e
incentivar o uso e a movimentação na região é da cultura local. A partir de uma programação
o Brique da Vila Belga. Idealizado inicialmente variada que proporciona espaços de lazer
pela Associação de Moradores da Vila Belga, a e entretenimento aos visitantes, o Brique
primeira edição do Brique aconteceu em março aproxima as pessoas do patrimônio cultural,
de 2015, de forma colaborativa, a partir da união fomentando sentimentos de pertencimento,
de um pequeno grupo de moradores. Aos identidade e preservação.
poucos, o evento, tradicionalmente realizado aos
domingos, foi ganhando adesão e visibilidade, Em 2017, a Vila Belga recebeu mais um
com o aumento no número de expositores. reconhecimento através do Prêmio do
Com isso, surgiu a necessidade de formalizar Patrimônio Belga no Exterior, conferido pelo
a entidade e separá-la da associação de Ministério das Relações Exteriores da Bélgica. A
moradores, resultando na criação da Associação iniciativa, que visa reconhecer a herança belga
do Brique da Vila Belga em novembro de 2015. espalhada pelo mundo, trata-se de uma espécie
de concurso realizado pelo Serviço Público
Originalmente estruturado mais como uma Federal Belga dos Negócios Estrangeiros e pela
feira para a comercialização de produtos locais, Fundação Rei Baudouin no qual consulados
o Brique cresceu e passou a incorporar atrações e embaixadas são convidados a submeter
artísticas e culturais na sua programação. propostas. Marc Storms, coordenador do Projeto
Sempre priorizando artistas locais, as edições do Patrimônio Belga no Brasil, foi o responsável
Brique, que atualmente ocorrem todo primeiro por apresentar um estudo e inscrever a Vila
e terceiro domingos do mês, contam com Belga. Em novembro de 2021, a placa de
apresentações musicais e teatrais que dividem o reconhecimento foi entregue para a Prefeitura
espaço com dezenas de expositores e visitantes. Municipal por uma comitiva do consulado da
Quanto aos produtos comercializados, é possível Bélgica em Santa Maria.
encontrar desde roupas, calçados e acessórios
até objetos de decoração, antiguidades e Por fim, outra ação recente na qual a Vila
diversas opções gastronômicas. belga também está inserida é a concepção
do primeiro distrito criativo de Santa Maria.
O Brique da Vila Belga tem como objetivo Lançado oficialmente em 27 de abril de 2022, o
não só a comercialização de produtos, mas Distrito Criativo Centro-Gare é um movimento
também a preservação do patrimônio colaborativo, que reúne representantes de
cultural, o incentivo ao uso e apropriação mais de vinte instituições e entidades, entre
PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DA VILA BELGA 149
poder público, iniciativa privada e sociedade da Vila Belga e a outras atividades que já
civil organizada, com o objetivo de transformar ocorrem no território.
a região do Centro Histórico da cidade a
partir do fomento a atividades relacionadas à Essas iniciativas, tanto as que tem como
economia criativa. objetivo a revitalização do conjunto como
as que buscam o uso do espaço, reforçam
Desenvolvido tendo como base um plano o papel da Vila Belga como um importante
de ação com 41 objetivos estratégicos e 237 patrimônio cultural da cidade de Santa
ações de curto, médio e longo prazo, divididas Maria. A sua vinculação com a ferrovia e com
em quatro dimensões, o Distrito Criativo fatores que contribuíram de maneira ímpar
Centro-Gare busca não só revitalizar a região ao desenvolvimento da cidade a tornam
através da recuperação de prédios históricos, um importante testemunho material da
mas também aproximar a população com história e da memória santa-mariense, cuja
o território, incentivando o uso dos espaços preservação é fundamental para que esse
por meio de atividades diversas e assim legado siga sendo transmitido de geração em
promovendo o desenvolvimento econômico geração. Ações que promovam esse atrativo
sustentável daquele local. e que sensibilizem autóctones e visitantes
em relação ao seu valor são essenciais para
A Vila Belga está contemplada em várias contribuir não só com a difusão de ideais
dessas ações e objetivos estratégicos, que de preservação patrimonial, com vistas
incluem desde a revitalização das edificações à conservação e proteção do patrimônio
e a promoção do seu potencial turístico e cultural, como gerar fluxo de visitantes
cultural, até o fomento à economia criativa, que tenham a oportunidade de conhecer,
principalmente por meio do apoio ao Brique compreender e valorizar.
GLOSSÁRIO
GLOSSÁRIO 151
ALCÂNTARA, Marina de. Patrimônio edificado pela CCEVFRGS: identificação de unidades em Santa
Maria/RS. 2015. Dissertação (Mestrado em Patrimônio Cultural) – Universidade Federal de Santa Maria, 2015.
BELÉM, João. História do Município de Santa Maria 1797-1933. 3. ed. Santa Maria: Editora da Ufsm,
2000. 309 p.
BELTRÃO, Romeu. Cronologia histórica de Santa Maria e do extinto município de São Martinho:
1787-1930. 2. ed. Canoas: La Salle, 1979.
BERTOLDO, Adriane Vidal; BISOGNIN, Edir Lucia. Turismo e cultura: resgate da Vila Belga como patrimônio
histórico e arquitetônico de Santa Maria. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Sociais e Humanas,
Santa Maria, v. 3, n. 1, p. 193-206, 2002.
BLOIS FILHO, Hugo Gomes. Arquitetura subjacente à via férrea: relações de lugar e poder no espaço
urbano de Santa Maria/RS - final do século XIX e início do XX. 2018. Tese (Doutorado em História) –
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2018.
CARDOSO, Alice; ZAMIN, Frinéia. Patrimônio ferroviário do Rio Grande do Sul: Inventário das Estações
1874-1859. Porto Alegre, Pallotti, 2002.
CENTRO DE HISTÓRIA ORAL. Memória Cidadã: Vila Belga. Porto Alegre: Sedac: CHO, 2002.
DISTRITO CRIATIVO CENTRO-GARE. Nós. Santa Maria: Prefeitura Municipal de Santa Maria, 2022. Disponível
em: http://www.distritocentrogare.com.br/index.php/pt/distrito/historico. Acesso em: 21 fev. 2023.
FACCIN, Danielle. Entre passos e vozes: percepções de espaços e patrimônios no sítio ferroviário de
Santa Maria, RS. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, 2014.
CONTEXTO HISTÓRICO: A INFLUÊNCIA DA FERROVIA NA CIDADE DE SANTA MARIA | RS 154
FINGER, Anna Eliza. Vilas Ferroviárias no Brasil: os casos de Paranapiacaba em São Paulo e da Vila
Belga no Rio Grande do Sul. 2009. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade
de Brasília, Brasília, 2009.
FLÔRES, João Rodolpho Amaral. Fragmentos da história ferroviária brasileira e rio-grandense: fontes
documentais, principais ferrovias, Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS), Santa Maria, a “Cidade
Ferroviária”. Santa Maria: Pallotti, 2007.
FOLETTO, Vani Terezinha (org.). Apontamentos sobre a história da arquitetura de Santa Maria. Santa
Maria: Pallotti, 2008.
FONTANA, Fernando. Desvendando Manoel Ribas: o homem, a obra, o mito. Curitiba: SESC PR, 2015.
LOMPA, Marta. A arquitetura da Vila Belga. In: MÜLLER, Siomara Ribeiro; LOPES, Caryl Eduardo Jovanovich
(org.). Anais do Seminário Território, Patrimônio e Memória. Porto Alegre: ICOMOS; Santa Maria: UFSM,
2001. p. 148-158.
LOPES, Caryl Eduardo Jovanovich. A Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil e a cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul, Brasil. 2002. 224 f. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidade
Politécnica da Catalunha, Barcelona, 2002.
LOPES, Caryl Eduardo Jovanovich. A Vila Belga. In: MÜLLER, Siomara Ribeiro; LOPES, Caryl Eduardo
Jovanovich (org.). Anais do Seminário Território, Patrimônio e Memória. Porto Alegre: ICOMOS; Santa
Maria: UFSM, 2001. p. 122-147.
MARCHIORI, José Newton Cardoso; MACHADO, Paulo Fernandes dos Santos; NOAL, Valter Antônio Filho.
Do céu de Santa Maria. Prefeitura Municipal de Santa Maria, 2008.
CONTEXTO HISTÓRICO: A INFLUÊNCIA DA FERROVIA NA CIDADE DE SANTA MARIA | RS 155
MARCHIORI, José Newton Cardoso; NOAL, Valter Antônio Filho (org.). Santa Maria relatos e impressões
de viagem. Santa Maria: Ed. da UFSM, 1997.
MELLO, Luiz Fernando da Silva. O espaço do imaginário e o imaginário do espaço: a ferrovia em Santa
Maria, RS. 2002. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional) – Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA. Vila Belga, em Santa Maria, é reconhecida como patrimônio
internacional pelo governo da Bélgica. Santa Maria, 25 nov. 2021. Disponível em: http://www.santamaria.
rs.gov.br/noticias/24175-vila-belga-em-santa-maria-e-reconhecida-como-patrimonio-internacional-pelo-
governo-da-belgica. Acesso em: 21 fev. 2023.
ROCHA, Ricardo. A Vila Belga e o Traité d’Architecture de Louis Cloquet. Cadernos de Arquitetura Ritter
dos Reis, Porto Alegre, v. 3, p. 191-199, 2001.
SANTOS, Júlio Ricardo Quevedo dos. As Origens Missioneiras de Santa Maria. In: WEBER, Beatriz Teixeira;
RIBEIRO, José Iran. (org.). Nova história de Santa Maria: contribuições recentes. Santa Maria: Pallotti,
2010. p. 107-142.
SCHLEE, Andrey Rosenthal. A Mancha Ferroviária de Santa Maria. In: MÜLLER, Siomara Ribeiro; LOPES,
Caryl Eduardo Jovanovich (org.). Anais do Seminário Território, Patrimônio e Memória. Porto Alegre:
ICOMOS; Santa Maria: UFSM, 2001. p. 94-107.
HISTÓRIA E ARQUITETURA