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199.03 planejamento urbano ano 17, dez. 2016

Entendendo os vazios urbanos de Campo Grande MS


Ângelo Marcos Arruda

199.03 planejamento
urbano
sinopses
como citar

idiomas

original: português

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199

199.00 urbanização
A metrópole híbrida
Uma perspectiva
histórica da
urbanização de
Fortaleza
Ricardo Paiva

199.01 crítica
Default urbano
O espaço urbano e suas
tipologias
Frederico Canuto e
Luciana Souza Bragança
199.02 história
Para além das reformas
Reflexões sobre o lugar
de memória do Maracanã
pelo viés da ambiência
Natália Rodrigues de
Campo Grande, área central Melo e Cristiane Rose
Foto Allexanndr3 [Wikimedia Commons] de Siqueira Duarte

199.04 tecnologia
Avaliação do Ciclo de
Preâmbulo Vida Energético (Acve)
de uma habitação de
Inegavelmente, um dos maiores problemas urbanísticos de Campo Grande MS light steel framing
são os vazios urbanos existentes em seu território. Avaliação do desempenho
térmico e simulação
Desde os primórdios dos planos diretores, diversas diretrizes tentaram computacional
regular a produção do espaço urbano, levando em conta sempre a Lucas Caldas e Rosa
necessidade de urbanizar os vazios, de sorte a permitir que a mancha Maria Sposto
urbana fosse contínua. A partir da década de 1970, a cidade recebeu 199.05 patrimônio
contingentes populacionais em função de sua futura condição de capital de O bairro histórico de
Mato Grosso do Sul em 1979 e, com isso, acelerou-se a urbanização Paraty
descontrolada e os limites do perímetro foram sendo ampliados e os Autenticidade,
parcelamentos novos surgindo, disputando espaço com os conjuntos homogeneidade e
habitacionais públicos e com as ocupações irregulares em curso. Resultado integridade
ao fim da década, a cidade teve quase 200 favelas, mais de 10 mil novas Mariana Freitas
casas construídas e uns 120 mil lotes vazios ao fim dos anos 1990. Priester e Analucia
Thompson
Campo Grande, em 1995, parou para repensar seu planejamento e, no Plano
Diretor daquele ano, decretou a prioridade de combater os vazios urbanos 199.06 história
com políticas de habitação e de urbanização. Mas, os instrumentos de Acácio Gil Borsoi
controle não tinham uma base de dados que revelassem a real situação da A formação clássica do
cidade naquele momento e, sem essa informação precisa, as diretrizes arquiteto moderno
expressaram-se, apenas, nas zonas de uso e nos índices urbanísticos em Amanda Rafaelly Casé
vigor. Monteiro

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Em 2006, com a discussão da revisão do Plano Diretor, foi que o tema 199.07 urbanismo
“vazios urbanos”, retomou seu protagonismo. Mesmo assim, o plano não Redesenhos para Marabá
expressou as diretrizes fundamentais para o tema e apenas o mapa de uma PA
divisão da cidade em macrozonas (exigida pelo Estatuto da Cidade) e zonas Aspectos
especiais, contextualiza a necessidade de urbanização prioritária nas socioambientais e
Macro Zona 1 e Macro Zona 2. Naquele momento da revisão não havia dados desenho urbano
de nenhum levantamento consistente de toda a cidade para delimitar os Luna Bibas e Ana
necessários encaminhamentos de planejamento para a discussão dos vazios Cláudia Cardoso
urbanos.
199.08 história
Arquitetura de Chácara
A cidade caminhava para um perímetro urbano de quase 360 km2em 2014, mais
no Recife
de 130 mil lotes vazios e, à olho nu, muitas glebas e áreas livres quando
A história e o traço de
tomamos a decisão, por meio do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da
Giácomo Palumbo em uma
UFMS, de procurar parceiros para a realização de uma ampla pesquisa em
reforma estética e
todo o território urbano, visando mapear e identificar os vazios urbanos
higienista de sobrado
em nossa cidade.
residencial
Juliana Cunha Barreto
Este trabalho apresenta a síntese do Relatório Final, depois de quase
dois anos de intenso trabalho técnico e urbanístico, com uma equipe de
acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo lideradas pelo autor (1).

1. Quem é Campo Grande?

De acordo com as projeções estatísticas, Campo Grande deve ter um milhão


de habitantes em 2027. No entanto, a capital de Mato Grosso do Sul,
fundada em 1872 e emancipada em 1899, segundo o IBGE, tem hoje pouco
menos de 900 mil habitantes e um pouco mais de 35 mil hectares de
perímetro urbano. O crescimento médio anual gira em torno de 1,72% e a
quantidade de pessoas por domicílio é 3,12, ou seja, a família média
campo-grandense, atualmente é de um casal e menos de dois filhos. No ano
de 2015 o município tinha uma população estimada em 853.622 habitantes,
segundo o IBGE.

Mapa do município de Campo Grande [Perfil sócio econômico de Campo Grande.


Campo Grande, Planurb, 2015]

Campo Grande é um município urbano. Quase 99% de sua população (776.242


habitantes em 2010) residem na cidade enquanto pouco mais de 10 mil
pessoas residem na área rural e nos distritos de Anhandui e Rochedinho. A
área do município é equivalente ao tamanho de alguns países como Porto
Rico, Cabo Verde, Brunei, Luxemburgo e um pouco maior que o Líbano e
Jamaica.

Já a área urbana é imensa. Tem capacidade para abrigar quatro milhões de


habitantes. A área urbanizada (170km²) é menos da metade do imenso
perímetro urbano (359km²). Maior que Porto Alegre (160km²); Salvador
(159km²) ou Recife (121km²).

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Planta do Rossio de Campo Grande de 1910 [Acervo do Observatório de Arquitetura
e Urbanismo da UFMS / Ângelo Arruda]

De acordo com o Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande –


Planurb, a cidade possuía em 2015, um perímetro urbano com área total de
35.903,52 hectares abrigando uma população estimada 2015 de 853.622
habitantes, o que dá uma densidade de 23,77 hab./ha, muito pouco
expressiva para uma capital. Ou seja, os dados sobre a cidade apontam um
perímetro urbano pouco denso e por consequência, com possibilidades de
muitas áreas ainda não urbanizadas ou desocupadas.

A malha urbana de Campo Grande [Os vazios urbanos na cidade de Campo Grande]

O Plano Diretor de Campo Grande, aprovado pela Lei complementar n.


94/2006 que sofreu inúmeras alterações nesses últimos anos especialmente
em 2011, instituiu a política de desenvolvimento de Campo Grande e a Lei
complementar n. 74/2005 e suas alterações, dividiu a cidade em 07 (sete)
regiões urbanas e cada região está dividida em bairros, para fins de
planejamento da cidade. A cidade possui hoje 74 bairros e 793
parcelamentos que formam o poliedro de Campo Grande.

Divisões Territoriais Urbanas [Os vazios urbanos na Cidade de Campo Grande]

1.1. Densidade urbana e demografia

Com relação à densidade urbana bruta por cada uma das regiões e bairros
da cidade, Campo Grande, segundo dados do Planurb, tem variação de 0,65
hab./ha até 63,68hab/ha, ou seja, bairros como Caiobá, Los Angeles, Mata
do Segredo ou Maria Aparecida Pedrossian, com densidades muito baixas –
menores que 10,00hab/ha, até os mais densos como Guanandy, Taquarussu ou
Estrela Dalva, mas com taxas nunca maiores que 100,00hab/ha.

Por outro lado, a evolução demográfica verificada nas últimas décadas


aponta para uma taxa decrescente desde os anos 1980, apresentando uma
média de 1,72% ao ano nos últimos cinco anos, conforme se verifica
abaixo.

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Densidade demográfica Bruta por Bairro – IBGE 2010 [Os vazios urbanos na cidade
de Campo Grande]

2. Vazios urbanos em Campo Grande

A discussão dos vazios urbanos em Campo Grande não é recente. O Plano


Diretor da cidade de 1968, elaborado pela empresa Hidroservice
Engenharia, já mapeava os locais de uma cidade com menos de 250 mil
habitantes na época e apontava a necessidade de planejar o solo para a
sua ocupação futura.

Anos depois, em 1977, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ao estudar a


cidade e o seu modelo de ocupação, indicava que os fundos de vale, áreas
vazias deixadas às margens dos diversos córregos da cidade, devessem ter
um controle de uso para atividades de recreação e lazer e com isso,
preservar para o futuro.

Em 1987, quando o Planurb elaborou a revisão da Lei de Ordenamento de Uso


e de Ocupação do Solo Urbano de Campo Grande, se procedeu a levantamento
inédito de uso do solo e percebeu os vazios existentes no interior do
perímetro urbano e, ao calcular a população para o ano 2000, indicava que
nem todos os vazios deveriam ser ocupados, visto a necessidade de
reservar áreas estratégicas para a cidade no futuro.

A questão da ocupação socialmente responsável dos vazios urbanos entrou


fortemente na agenda política da administração das cidades brasileiras
com a Constituição de 1988 e, mais importante, com o Estatuto da Cidade,
em 2001 (2). No entanto, muita coisa mudou nas cidades brasileiras entre
as primeiras propostas, na década de 1970, e as possibilidades concretas
de intervenção que se desenham hoje.

Nesse sentido, cabem algumas reflexões, mais como propostas para uma
agenda de estudos e de pesquisa que possam orientar os atores sociais nas
suas ações. Em primeiro lugar, em muitas cidades já não parece ser
realidade a ideia, vigente nos anos 1970, de vastas extensões de terra
infraestruturada e desocupada à espera da valorização. Nossas cidades são
hoje mais densas e compactas do que eram nos anos 1970, com a redução do
ritmo da expansão periférica e com o aproveitamento de oportunidades de
valorização que abertas pelo deslocamento das fronteiras da atuação do
capital imobiliário em relação aos mercados de comércio, serviços e
residências de média e alta renda.

Neste segmento, é hoje mais importante do que nunca que se qualifiquem os


terrenos vazios em Campo Grande, em função da sua situação real de
disponibilidade jurídica e de possibilidades físicas para ocupação.

Uma boa parte destes vazios, por exemplo, pode ser formadas por lotes de
pequenas dimensões, de pequenos proprietários (de renda baixa ou média
baixa) que, além de serem pouco adequados para pensarmos uma ampliação
efetiva da oferta de moradias, não se constituem exatamente como imóveis
para especulação, mas como patrimônio de camadas populares ou de camadas
médias empobrecidas, de defesa do capital contra a inflação (3). Existem
ainda muitas áreas com problemas de titularidade jurídicos ou submetidos
a regimes institucionais específicos e, portanto, inadequadas para
ocupação.

Há que se considerar ainda, nas propostas de ocupação de vazios, que


muitos bairros não estão com níveis altos de densidade, o que dá aos
vazios existentes um papel importante na manutenção da qualidade de vida
local.

O trabalho em tela se fundamentou em Iris de Almeida Rezende Ebner (4),


no Estatuto da Cidade de 2001 e em Ermínia Maricato (5) como fontes
expressivas e indicadoras de caminhos a serem perseguidos no mapeamento
indicado para este trabalho.

2.1. Conceituação

A expressão “vazio urbano” começou a figurar como um elemento instigante


no contexto da vida urbana a partir de meados do século 19, como

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consequência pós-industrial, quando as cidades atingem dimensões
metropolitanas em razão do crescimento tanto físico quanto populacional,
decorrente do êxodo rural (6).

Para Nuno Portas, vazio urbano é uma expressão ambígua, “até porque a
terra pode não estar literalmente vazia, mas encontrar-se simplesmente
desvalorizada com potencialidade de reutilização para outros destinos,
mais ou menos cheios” (7). Segundo Sérgio Magalhães (8), o conceito de
vazio urbano é bastante amplo, envolvendo termos como terrenos vagos,
terras especulativas, terras devolutas, terrenos subaproveitados,
relacionando-se com a propriedade urbana, regular ou irregular, ao
tamanho e à localização.

Flávio Villaça (9) utilizou a definição de vazio urbano como uma grande
extensão de área urbana equipada ou semi-equipada, com quantidade
significativa de glebas ou lotes vagos. Atualmente esse conceito se
expandiu, pois surgiram diversas tipologias de vazios urbanos em estudos
variados.

Vazio urbano para fins deste trabalho é qualquer área privada, desocupada
ou subocupada (ocupação menor que 25% de sua área), localizada no
interior do perímetro urbano, independente de possuir, ou não,
infraestrutura e serviços públicos. As demais áreas vazias públicas foram
classificadas como espaços livres ou áreas de domínio público, conforme
gráfico abaixo (10).

Definição de Vazios Urbanos para a pesquisa em esquema de definição [Os vazios


urbanos na cidade de Campo Grande]

3. Vazios urbanos em Campo Grande: dados gerais

Analisando os 793 parcelamentos dos 74 bairros das sete regiões urbanas


de Campo Grande, o trabalho identificou um expressivo número de áreas
privadas com nenhuma ocupação, ou seja, um quarto de todo o perímetro
urbano da cidade, algo em torno de 25,74 % que correspondem a 9.241,61
hectares que, somados aos mais de 4,246 hectares que tinham ocupação de
até 25%, totalizam 13.488,46 hectares, ou seja, 37,57% do perímetro
urbano são de áreas privadas consideradas vazios urbanos.

Já as áreas de domínio público somam 1.701,08 hectares (4,74%) e outros


2.785,36 hectares (7,76%) de espaços livres que totalizam 12,50% ou
4.486,44 hectares. Se totalizarmos as áreas privadas com ocupação de até
25% com as áreas de domínio público e os espaços livres tem-se algo em
torno de mais de 50% do perímetro envolvido com uma pequena ocupação
territorial, conforme a Tabela 1.

Tabela 1 – Vazios urbanos em Campo Grande: total da cidade [Observatório de


Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

O que é mais significativo nessa Tabela 1 são as áreas privadas com taxa
de ocupação de 0%. Esses 9.241,61 hectares, conforme imagem abaixo, estão
localizados em sua maioria expressiva, nas bordas do perímetro urbano, e
constitui uma área maior do que todas as sete regiões urbanas: mais de
quatro vezes o tamanho da região do Centro e mais de duas vezes a
dimensão da região do Segredo.

Essas áreas privadas vazias, sem uso, constituem enorme estoque de terra
urbana disponível para a urbanização futura, seja de novos parcelamentos,

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condomínios, ou até de novos empreendimentos habitacionais ou ainda áreas
destinadas a parques, praças, urbanizações integradas ou serem
necessárias para a drenagem urbana futura. De qualquer forma, esse
estoque precisa ser mais estudado com o fim de identificar suas condições
econômicas e urbanísticas. Grande parte dessas glebas e áreas está nas
Zonas Z1, Z2 e Z6, com baixos coeficientes de aproveitamento.

Porcentagem de áreas sem edificação – Taxa de Ocupação 0% (25,74%)


[Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Como podemos observar nos mapas abaixo, os vazios urbanos estão muito
localizados nas bordas do perímetro urbano, em lotes, áreas e glebas
muito distantes da urbanização e dos centros de emprego e, do ponto de
vista do zoneamento em vigor, as suas localizações, em sua maioria,
vincula-se às zonas de uso Z1, Z2, Z5 e Z6, especialmente. Essas são
zonas de uso com baixo poder de ocupação e restrições de usos diversos e
pouco atraentes nos coeficientes urbanísticos e indicam um estoque de
áreas para o futuro da urbanização da cidade, muito embora com enorme
pressão da própria urbanização em curso na cidade. Essas zonas
correspondem às antigas Zonas de Transição (ZT) da Lei municipal n.
2.567/1988, que foram criadas como áreas de estoque da urbanização
futura. Distantes da urbanização e desprovidas de infraestrutura, essas
áreas assistiram, nos últimos 30 anos, a urbanização chegar bem próxima
delas e com isso, há uma enorme capacidade de uso das mesmas em curto
espaço de tempo e que dependem da capacidade de investimento do mercado
imobiliário e das normas dos planos da cidade para elas.

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Porcentagem de áreas sem edificação – Taxa de Ocupação 0% [Observatório de


Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Porcentagem de Vazios Urbanos [Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Tabela 2 – Vazios urbanos em Campo Grande: tipologia de lotes campo grande


total e região urbana [Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

A Tabela 2 nos mostra outra radiografia dos vazios urbanos, agora por
meio da tipologia dos lotes e das unidades não parceladas (glebas). O
estoque de lotes não ocupados –sejam eles comuns ou especiais - somam-se
mais de 3.334 hectares e correspondem a mais de 9,2% do perímetro da

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cidade. Se considerarmos o lote médio com 360,00 m2 de área (essa é a
dimensão do lote de Campo Grande que mais foi produzido nos últimos 70
anos), teremos mais de 92 mil lotes vagos na cidade.

Já as unidades não parceladas totalizam 5.906,72 hectares ou 16,45% do


perímetro urbano e, quando colocadas no processo de urbanização pela
tipologia parcelamento de gleba, são suficientes para produzir mais de
200 mil lotes. O total de lotes e unidades não parceladas existentes em
Campo Grande é de 13.488,56 hectares, que correspondem a 37,57% do total
do perímetro urbano. Esse estoque de propriedades privadas, existentes na
cidade, é importante indicador de elaboração de diversos projetos e ações
públicas, que podem contemplar o planejamento urbano.

Fundamentais para o desenvolvimento urbano futuro, essas áreas – lotes e


glebas –, sinalizam e evidenciam a necessidade de cuidados e
acompanhamento de sua urbanização. Por um lado pela quantidade: mais de
1/3 do perímetro de Campo Grande com nenhum ou pouco uso, para qualquer
finalidade. Por outro lado, os custos da urbanização social podem ser
minimizados com algumas definições estratégicas de ocupação, sejam com
equipamentos sociais ou de lazer ou ainda de infraestrutura.

Essas áreas interessam ser estudadas com a finalidade de proteção e


desenvolvimento, olhando para o futuro de Campo Grande e sua evolução.

Áreas pouco ocupadas [Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Tabela 3 – Vazios urbanos em Campo Grande: tipologia dos espaços livres total
[Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Já a Tabela 3 nos apresenta outros dados sobre o detalhamento do uso dos


espaços livres, conforme metodologia do trabalho. Ao todo, como vimos, a
cidade tem 2.785,33 hectares e, de acordo com a tabela supra, estão
divididos assim: 150,46 hectares de praças que correspondem a 0,42% do
total da cidade e 5,38% do total dos espaços livres; 793,87 hectares de
parques, ou seja, 2,21% do total da cidade e 28,47% do total dos espaços
livres; 265,05 hectares de canteiros de avenidas que correspondem a 0,74%
de todo o perímetro e 9,51 % do total dos espaços livres; 599,68 hectares
de áreas de terminais e leitos ferroviários, ou seja 1,67% do total e
outros 845,62 hectares de áreas militares que somam 2,36% do total das
áreas da cidade, em suma.

Se somarmos as três primeiras categorias, teremos um olhar sobre o


estoque de áreas públicas destinadas ao lazer ativo e passivo. Elas não
são o total desse campo de discussão mas nos remete a uma forma de ver os
dados. Elas somam 1.208 hectares que, divididos pela população da cidade

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em 2014 (época dos dados da pesquisa), nos dava 14,32m2 de área verde
organizada por habitante quando a ONU indica 15,00 m2 de áreas verdes por
habitante. Já as áreas militares, fazem parte da história e da cultura da
cidade e estão presentes no território urbano desde o começo do século 20
e são e foram importantes para o desenvolvimento de Campo Grande e
sozinhas, somam mais de 845 hectares, utilizadas pelas forças militares
do Exército, da Aeronáutica e das policias civil, militar e federal.

Tabela 4 - Vazios urbanos em Campo Grande: tipologia das áreas de domínio


público total [Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS]

Por fim a Tabela 4, que nos demonstra o total e o estoque de áreas de


domínio público municipal. Sem nenhuma ocupação (0%), eram 868,92
hectares ou 2,42% do total das áreas da cidade e ainda havia outros
832,16 hectares com uma subocupação de menos de 25% da área, que somam
2,32% do perímetro.

Essas são áreas públicas de enorme interesse para o futuro da urbanização


e que devem ser preservadas e quando utilizadas que sejam para benefício
coletivo, da comunidade, com obras de equipamentos sociais e comunitários
e equipamentos de lazer e recreação ativos e passivos.

Já as áreas de domínio público com alguma ocupação de 0 a 25%, são


consideradas pelo trabalho como subocupadas, constituem uma categoria de
áreas que, embora tenham algum uso, possuem espaço físico seja para
ampliar as atividades existentes, ou seja, para incorporar outras
atividades sociais no mesmo terreno.

De qualquer forma, elas somam 1.701,08 hectares somadas, constituindo


4,74% de todo o perímetro urbano, disponíveis no estoque da
municipalidade para construção de equipamentos sociais e comunitários,
obras de infraestrutura e de recreação e lazer, voltados para a cidade do
futuro. Essas áreas de domínio público existentes no levantamento
deveriam receber do Poder Público, atenção especial, no que tange a
desafetações, doações para o setor público estadual e federal ou mesmo
para a realização de parcerias. Elas são estratégicas para o
desenvolvimento urbano.

Áreas de Domínio Público e Espaços Livres (12,50%) [Observatório de Arquitetura


e Urbanismo da UFMS]

Considerações finais

A discussão de vazios urbanos em Campo Grande é inerente à sua própria


condição urbanística. A cidade é uma colcha de retalhos de lotes e glebas

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há décadas e convive com esse tema, no dia a dia. A partir da década de
1940, a população urbana de Campo Grande passou a dobrar de tamanho a
cada 10 anos. Em 1991 o Censo Demográfico do IBGE acusou 526 mil pessoas,
um crescimento menor que nas últimas cinco décadas. Em 2000 o Censo
acusou 663 mil habitantes e o crescimento médio geométrico anual que era
de mais 8% nas décadas de 70/80, passa para 6% de 80/90 e agora para
pouco mais de 2%. Em 2010 foram contados 786 mil pessoas. Hoje, em 2016,
somam mais de 865 mil pessoas.

Esta velocidade de crescimento urbano e de urbanização acelerada


ocorridas nas décadas passadas em Campo Grande, não correspondia com a
base econômica do Estado, ainda centrada na agropecuária e mais
recentemente na agroindústria.  A cidade de Campo Grande assistiu,
durante mais de 50 anos, a elaboração de leis e normas urbanísticas,
especialmente de uso, ocupação e parcelamento do solo sem que houvesse,
nem a participação da comunidade técnica, empresarial, política ou
popular.

O processo de planejamento ocorrido foi puramente tecnocrático:


contratava-se uma empresa para elaborar planos para a cidade crescer e se
desenvolver calcada nos ideais obreiros da época: planos havia para dar
sustentação às obras que seriam executadas com dinheiro público, a fundo
perdido.

A cidade foi crescendo e sem acompanhamento ou monitoramento para


corrigir as distorções geradas pelas normas urbanísticas, mudanças foram
feitas na legislação, atendendo a interesses já citados. Ao mesmo tempo,
já na década de 1980, os índices de crescimento demográfico batiam nas
nuvens (8,02% a.a.); a migração se intensificara com a nova situação de
capital de Mato Grosso do Sul; novo governo estadual se instala na
cidade, aumentando a procura por imóveis e áreas.

Com este quadro, era possível prever o que aconteceu na década de 1980:
favelas surgiam da noite para o dia, em várias partes da cidade; não
havia transporte coletivo para todos, muito menos energia e água potável;
a rede de educação e de saúde não estava preparada para atender esta
demanda.

Toda esta situação exigia, do setor público e da iniciativa privada,


muita ação. Ao contrário, começou o caos urbano. O Governo do Estado,
através da Companhia de Habitação Popular – Cohab, desrespeitando
qualquer norma urbanística municipal determinou a construção de
gigantescos conjuntos habitacionais, localizados na mais distante
periferia e um deles, as Moreninhas, fora do perímetro urbano. Somente
entre 1980 e 1985, o setor público estadual, construiu mais de 15.000
habitações populares, ou seja, 25% do total de habitações existentes em
1985.

O caos urbano citado deveu-se, de um lado à localização dos conjuntos


habitacionais distantes do centro urbano e do outro a inexistência de
infraestrutura básica e de equipamentos sociais, tais como escola, posto
de saúde, posto policial etc. contribuindo para, ao invés de resolver o
problema habitacional criar mais problemas para a administração
municipal, aumentando investimentos em transporte urbano, pavimentação
etc. e jogando a população para locais distantes do centro de emprego.

Ora, se a cidade já tinha um perímetro de 28.500 hectares suficientes


para abrigar mais de quatro milhões de pessoas e na década de 1980 só
tinha 300 mil, porque alterar o perímetro para implantar o maior conjunto
habitacional do Estado – as Moreninhas –, com quatro mil casas? A Câmara
Municipal aprovou a mudança. Esse foi um episódio de um tempo sem
discussão no planejamento. As raízes dos vazios urbanos no planejamento
urbano de Campo Grande estão presentes na história e na sua trajetória de
desenvolvimento, apontados. As nossas heranças culturais e urbanísticas
são intensas e muito presentes em todos os momentos da cidade.

Esse trabalho ajuda e construir o debate de cidades compactas,


sustentáveis, adensadas, melhor distribuição dos benefícios da
urbanização, dentre outros temas caros ao nosso país.

notas

1
Este trabalho apresenta uma síntese do Relatório Final do trabalho técnico-
científico realizado pelo Observatório de AU da UFMS e entidades Secovi-MS e
Planurb, com prefácio da professora Ermínia Maricato, que pode ser baixado no
website www.observatorio.ufms.br. Colaboradores: Arquiteto e urbanista Paulo
Abreu (UFMS) e Poliana Padula (Sindarq-MS); acadêmicos do Curso de Arquitetura
e urbanismo da UFMS Leon Matos, Regina Scatena, Júlia Andrade, Felype Chamorro,
Laura Cella, Millene Macellani e Anna Zamai; pessoal técnico do Instituto de
Planejamento Urbano de Campo Grande (Planub), do Sindicato da Habitação de Mato
Grosso do Sul (Secovi-MS). Relatório final com prefácio da professora Ermínia
Maricato. O download do trabalho integral pode ser feito em: Observatório de
Arquitetura e Urbanismo, Programa de Extensão da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul. Coordenação de Ângelo Marcos Vieira.

2
Sobre o tema do vazio na cidade, ver: JANEIRO, Pedro António Alexandre. {Cheios
inúteis} A imagem do vazio na cidade. Artitextos, n. 8, Lisboa, CEFA/CIAUD,
2009, p. 181-193
<www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/1488/1/Pedro%20Janeiro.pdf>.

https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.199/6347 10/11
30/12/22, 23:22 arquitextos 199.03 planejamento urbano: Entendendo os vazios urbanos de Campo Grande MS | vitruvius
3
SAUER, Leandro; CAMPELO, Estevam; CAPILLE, Maria Auxiliadora Leal. O mapeamento
dos índices de exclusão social em Campo Grande MS: uma nova reflexão. Campo
Grande, Oeste, 2012.

4
EBNER, Iris de Almeida Rezende. Vazios urbanos: uma abordagem do ambiente
construído. Orientador Marcelo de Andrade Roméro. Dissertação de mestrado. São
Paulo, FAU USP, 1997.

5
MARICATO, Ermínia. Brasil Cidades: alternativas para crise urbana. Petrópolis,
Vozes, 2001; MARICATO, Ermínia. O impasse da política urbana no Brasil.
Petrópolis, Vozes, 2011; MARICATO, Ermínia. Para entender a crise urbana. São
Paulo. São Paulo, Expressão Popular, 2015.

6
BORDE, Andréa de Lacerda Pessôa. Vazios urbanos: perspectivas contemporâneas.
Orientadora Denise Pinheiro Machado. Tese de doutorado. Orientadora Roberto
Segre. Rio de Janeiro, FAU UFRJ, 2006.

7
PORTAS, Nuno. Do cheio ao vazio. Publicações da pós-graduação da Faculdade de
Arquitectura e Urbanismo da Universidade de Brasilia, 2000. Disponível em
<www.cidadeimaginaria.org/eu/Dovazioaocheio.doc>.

8
MAGALHÃES, Sérgio Ferraz. Ruptura e contiguidade, a cidade na incerteza.
Orientadora Denise Pinheiro Machado. Tese de doutorado. Rio de Janeiro, FAU
UFRJ, 2005.

9
VILLAÇA, Flávio. As ilusões do Plano Diretor. São Paulo, Edição do autor, 2005.
Disponível em <www.flaviovillaca.arq.br/pdf/ilusao_pd.pdf>.

10
Para uma visão mais histórica da questão urbana, ver: LAMAS, José Manuel
Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa, Fundação para a
Ciência e Tecnologia, 2000.

sobre o autor

Ângelo Marcos Vieira de Arruda é professor da UFMS e coordenador do


Observatório de Arquitetura e Urbanismo.

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