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Plano de Desenvolvimento

Urbano Comunitário
para o Bairro Caximba
Projeto de Extensão 2018–2019
Projeto de Extensão “Plano de Desenvolvimento Urbano Comunitário para o Bairro Caximba”
(PDUC Caximba)

Curitiba – Paraná
Abril de 2020

Laboratório de Habitação e Urbanismo


Universidade Federal do Paraná – UFPR

Integrantes da equipe

Alexandre Pedrozo Juliana de Fátima Mansur


André Victor Igarashi Laura Mazzottini Serra
Beatriz Madalena dos Santos Letícia Pille
Bernardo Donasolo Lucas Maurício Guimarães de Lima
Cláudia da Silva Macedo Bocon Luiz Fernando Botelho Cordeiro
Cris Evelin Tortato Maria Beatriz Bueno de Carvalho
Daniel Fabricio da Veiga Mariana Melendes de Brito
Denis Marcos Pinheiro de Medeiros Maurício Guimarães de Lima
Eduardo Machado Wagner Nayara Gabriela Litz de Souza
Gabriela Rodrigues Mattos Otavio Trevizan Socachewsky
Giovana Kucaniz Pedro Portugal Sorrentino
Jéssica Ketlin de Araújo Ramos Thais de Araujo Oliveira

Orientadores

Prof.ª Dr.ª Madianita Nunes da Silva


Prof. Dr. Marcelo Caetano Andreoli
Prof.ª Dr.ª Maria Carolina Maziviero
Dr.ª Olenka Lins e Silva Martins Rocha

Elaboração deste caderno

Jéssica Ketlin de Araújo Ramos


Luiz Fernando Botelho Cordeiro
Otavio Trevizan Socachewsky
Pedro Portugal Sorrentino
Sumário
5 Apresentação
12 Evolução da ocupação do Caximba
16 Linha do tempo
23 Formação do grupo
26 Cine Caximba
29 Acompanhamento das Audiências Públicas
35 Oficinas de mapeamento comunitário
41 A Vila Primeiro de Setembro
47 A Vila Espaço Verde
53 A Vila Dantas
59 O Caximba a partir do projeto
52 O Caximba mapeado… e o Caximba Real
64 Aprendizados
66 Referências
Apresentação
Origem do Projeto
O Projeto de Extensão nasce durante a elaboração do Trabalho Final
de Graduação (tfg) de Pedro Portugal Sorrentino (2018) no Curso de
Arquitetura e Urbanismo (cau) da UFPR, que estudou o conflito entre
conservação ambiental e a produção dos espaços de moradia popular
no Caximba. Durante esse processo, ocorreu a aproximação do aluno
com as comunidades do bairro e outras instituições e grupos que já
desenvolviam atividades no Caximba, tais como a Promotoria de Justiça
das Comunidades do Ministério Público do Paraná, Organizações Não
Governamentais e o Projeto de Extensão do Núcleo de Comunicação e
Educação Popular (NCEP) do Curso de Comunicação Social da UFPR.

Dessa aproximação e a partir da realidade observada no bairro foi cons-


truído no segundo semestre de 2018 o presente Projeto de Extensão que, a
partir da aprovação pela Pró­-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), ini-
ciou sua execução em 15 de janeiro de 2019. Ainda na fase de elaboração do
projeto, alunos de diferentes cursos da UFPR se interessaram pelos obje-
tivos e atividades propostas no âmbito do Plano de Desenvolvimento
Urbano Comunitário para o Bairro Caximba (PDUC Caximba) e
manifestaram interesse em compor a equipe. O desafio era o de pensar
um Plano de Desenvolvimento Urbano que enfrentasse as contradições
urbanas e as complexidades do Caximba, a partir da vida cotidiana e junto
com seus moradores.

Como antecedentes do PDUC Caximba destaca-se também o exercí-


cio didático para desenvolvimento de diagnóstico, estudo preliminar
e anteprojeto de urbanização da Vila Primeiro de Setembro, uma das
comunidades do bairro, no segundo semestre de 2018 na disciplina de
Desenho Urbano 4, que integra o currículo do Curso de Arquitetura e
Urbanismo (CAU) da UFPR.

5
também de muito proveito para a própria comunidade que receberia a atuação
dessa equipe em serviço de suas necessidades
Contexto
O contexto do Caximba Em direção oposta às interpretações que Na Regional do Tatuquara, da qual fazem parte
O Caximba, bairro no extremo sul de Curitiba, constitui um importante vetor de Objetivos
utilizam-se desse cenário para criminalizar os bairros Tatuquara, Campo do Santana e
expansão
Curitiba, da moradia
assim como as demaispopular
grandesno município,urbanas
aglomerações marcado nos últimos anos pela ex-
brasilei- a população que habita tais espaços, a apre- Caximba, de acordo com o IPPUC (2017), em
ras, apresenta uma realidade de contrastes, exemplarmente materiali-
pansão de assentamentos precários. Esse processo espacial em curso revela as sentação desses dados tem como objetivo 2017 existiam 39 assentamentos informais, -
zada pelos espaços de moradia. Tais contrastes colocam à prova a lógica a explicitar logia
as contradições do modelo de urba- que representam 18,36% de todos os
para elaboração de planos urbanísticos, com participação social e interdis- domi-
contradições do modelo de produção da cidade, materializadas pela precarieda-
partir da qual nossas cidades têm sido produzidas, planejadas e geridas, nização deciplinaridade;
Curitiba, que coincide com o das
(ii) promover espaçoscílios da regional.
de diálogo, Nesse contexto,
formação marcadocoletiva
e construção
desafiando-nos a (re)pensar as práticas de ensino-aprendizagem ado-
- demais cidades brasileiras, onde as áreas pela pressão da expansão urbana em direção à
texto o desenvolvimento deque
projetos do conhecimento, pela interação entre universidade e sociedade; (iii) subsidiar a
tadas na formação de profissionais atuarãourbanísticos por parte da gestão municipal
no campo do planeja- mais centrais, com infraestrutura, serviços periferia e pelo conflito derivado da ocupação
mentonosurbano,
últimose a anos,
refletirque criam
de forma expectativas
crítica acerca das e apreensões
estratégias, açõesna população residente, comunidade
e ambientalmente parapara
adequados participar
a reali- de forma
de ativa e crítica
áreas de dosambiental,
fragilidade projetos destacam-se
de intervenção
em especial
e ferramentas nos na
adotadas que vivem em
execução assentamentos
da política informais.
urbana municipal. urbana.
zação da vida das pessoas, não estão dispo- os espaços de moradia popular do Caximba
níveis nem acessíveis para a população que produzidos nas últimas duas décadas.
ocupa a base da pirâmide social e/ou que faz
parte de grupos sociais em condição de mar- O Caximba localiza-se no extremo sul de
Metodologia
49°16'24'' ginalização, como raça, gênero, origem etc. Curitiba, faz divisa com os municípios de
Araucária e Fazenda Rio Grande, e seu ter-
BRASIL O desenvolvimento do
Esse modelo de urbanização que caracte- PDUC pressupõe
ritórioaé marcado
inter-relação entre ensino,
pela presença de glebaspesquisa
PARANÁ
e fragmentação
riza-se pela extensão, que se realizará
do território e a pela adoção de procedimentos
não parceladas metodológicos
e antigas chácaras. Segundo que
25°25'42''
segregação socioespacial, explica porque a informações oficiais o sul de Curitiba carac-
Centro
ocupação de áreas de risco e ambientalmente teriza-se também pela presença de remanes-
frágeis é para muitas famílias a única opção centes florestais e várzeas de rios preservadas,
textos, planejamento, gestão e avaliação das ações desenvolvidas; execução de
para viver na cidade, mesmo que esta condi- com áreas de fragilidade ambiental e rema-
24''
atividades em articulação com disciplinas
ção os sujeite a um cotidiano de permanente
da graduação em Arquitetura e Urba-
nescentes da Floresta Ombrófila Mista, que
nismo
precariedade, e outros
violência projetos de extensãoabrigam
e estigmatização. em curso no bairro;
espécies construção
de vegetais de espaços
e animais,
de formação junto à comunidade; ealguns acompanhamento das ações
ameaçados de extinção, emosexecução
dentre
pelo poder
A interpretação muitaspúblico.
vezes parcial e equi- quais a Araucária e o Bugio (IPPUC, 2010).
25'42'' PARANÁ
vocada da ocupação de áreas impróprias para
moradia por estes grupos sociais, conforme Na década de 1990 ocorreram as primeiras
Município de Curitiba argumenta Bolaffi (1976), tem historicamente ocupações populares no bairro, implanta-
Divisas de regionais ignorado as reais causas e a natureza dos pro- das principalmente na várzea do rio Barigui,
Divisas de bairros blemas da habitação no Brasil. A primeira diz situada no limite de Curitiba com o Município
respeito à lógica que conduz a produção da de Araucária. Parte dessas ocupações estão
Caximba Regional Pinheirinho
cidade capitalista, que de acordo com o autor, assentadas em áreas destinadas à formação
Bairro Caximba confere ao solo urbano funções econômicas de wetlands – margens de rios sujeitas a alaga-
que se afastam do papel que ele deveria desem- mentos parciais ou completos, que segundo o
penhar para a realização da vida das pessoas, e Decreto Estadual 5.412/2005, integram o Sistema
6 que priorizam a sua realização como mercadoria. de Recuperação Ambiental do Rio Barigui e por 7
Uma questão historicamente presente na execução da política urbana isso devem ser protegidas. (SORRENTINO, 2018).
e habitacional do Município de Curitiba deriva da relação entre a pro- A esta dimensão, da priorização da realização
dução dos espaços populares de moradia e a dimensão ambiental, a do solo urbano como mercadoria, somam-se Conforme diagnóstico realizado pela Organi-
partir da qual explicitam-se uma série de contradições e conflitos. outros aspectos, ligados à lógica a partir da zação Não Governamental TETO (2017), a auto-
De acordo com Silva (2012), 61,88% dos espaços informais de mora- qual a sociedade brasileira se estruturou, mar- construção das casas nesses assentamentos
dia na metrópole de Curitiba estão situados em Áreas de Preservação cada por enormes fraturas sociais derivadas iniciou com barracos de madeira e lona e a maior
Permanente (APPs) e 10,26% em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). da origem, raça, credo, gênero dos diferentes parte das famílias morava anteriormente de
A ocupação dessas áreas acompanha a urbanização de Curitiba e demais grupos sociais, aprofundadas e ao mesmo tempo aluguel na região sul de Curitiba, em especial
municípios metropolitanos, não está restrita aos espaços de mora- viabilizadas pelo modelo de desenvolvimento nos bairros Pinheirinho e Sítio Cercado. A renda
dia popular, tem ocorrido de maneira formal e informal, mas nas últi- econômico, que nas cidades se materializa espa- mensal dessas famílias era de no máximo
mas duas décadas tem se destacado pela produção de novas favelas cialmente, conforme apontamos, pela fragmen- R$ 1 mil (aproximadamente 2 salários mínimos
na região sul do município polo, onde se localiza o bairro Caximba. tação territorial e a segregação socioespacial. na época) e dentre os principais motivos que

6 7
levaram a população a morar nas ocupações do suas necessidades habitacionais. A narrativa Justificativa e Resultados
bairro foram a falta de recursos para se manter da ausência e da carência tem justificado mui-
no lugar de origem e o fim do aluguel social. tos processos de remoção de comunidades que Considerando a justificativa para a concepção do PDUC Caximba, bem como os
Nos últimos dez anos as ocupações do Caxi- vivem nesses espaços, marcadas na maioria resultados observados a partir da sua execução, podem ser destacadas diferentes
m­ba vêm apresentando um crescimento da vezes pela violência, cujas soluções muitas dimensões: do ensino, da produção do conhecimento, da formação crítica, do
expressivo, se expandindo em direção a novas vezes pioram e aprofundam as condições de impacto e da transformação social. Em primeiro lugar, possibilitou experimentar
áreas e também por adensamento dos assen- vida dessa população, como observou Vasco e (re)pensar práticas de ensino, especialmente as voltadas à formação de profis-
tamentos existentes. Este processo agrava (2018) ao estudar o caso de remoção de famílias sionais que atuarão no campo do planejamento e do projeto urbano, que partis-
a situação de risco de acidentes ambientais uma favela em Curitiba, com mais de 40 anos de sem da vida cotidiana, da práxis e do reconhecimento do espaço urbano como
e as condições de precariedade habitacio- existência, para um conjunto habitacional pro- um produto social. Além disso, sua execução desafiou os estudantes envolvidos
nal, que caracterizam em geral os assenta- duzido pelo Programa Minha Casa Minha Vida. a colocar em prática o arcabouço teórico-metodológico adquirido durante sua
mentos populares e informais no Brasil. formação acadêmica na universidade. Outro aspecto foi a oportunidade de troca
A partir do exposto, entendemos que o desafio de saberes entre docentes e discentes de diferentes campos disciplinares, e des-
Embora o enfrentamento do risco e da preca- proposto por Nascimento (2019) não é apenas tes com a comunidade externa envolvida, em especial a população residente no
riedade ainda constitua um grande desafio para um desafio da gestão pública, mas também das bairro. Além disso, a experiência proporcionou a concretização da relação entre
a promoção do desenvolvimento socioespacial instituições de ensino superior, responsáveis ensino-pesquisa-extensão, a partir da articulação das atividades desenvolvidas,
das cidades brasileiras e os esforços para seu pela formação dos urbanistas que receberão a com temas e questões investigados pelos docentes que integram a equipe. Por fim,
enfrentamento não possam ser arrefecer, as atribuição de conceber e executar os planos, no que diz respeito ao impacto e transformação social, viabilizou a construção
experiências de urbanização de assentamentos programas e projetos de intervenção nesses coletiva do pensamento crítico acerca da realidade vivida no bairro e o fomento da
precários implementadas nas últimas déca- assentamentos populares. Este desafio articu- autonomia da comunidade.
das no país revelaram também a necessidade la-se diretamente à realidade encontrada no
de revisar e repensar indicadores, critérios e Caximba, bairro para o qual tem sido pensadas
linguagens a partir dos quais os planos, pro- intervenções que criam expectativas e apreen- Objetivos
gramas e projetos de intervenção têm sido sões na população residente, em especial nas
justificados, concebidos e implementados, comunidades que vivem nos espaços de moradia Contribuir com a formação dos estudantes envolvidos,
tornando imperativo reconhecer também a com algum tipo de restrição legal à ocupação, a partir da experiência concreta da vida das comunidades num bairro popular;
potência desses espaços de moradia popular e caracterizados pelas condições urbanísticas
não apenas suas carências. Conforme destaca mais precárias e frágeis, que convivem com o Exercitar e construir coletivamente uma metodologia para elaboração de planos
Nascimento (2019), considerando que entre 70 medo do despejo e a condição de transitoriedade e projetos de intervenção urbana, com participação social e interdisciplinaridade;
e 85% da provisão habitacional brasileira deriva permanente, derivados das práticas de remoção
da autoconstrução, a narrativa da precariedade e violência a que historicamente estão sujeitos. Promover espaços de diálogo, formação e construção coletiva do conhecimento,
e do baixo desempenho dessas casas não deve por meio da interação entre universidade e sociedade;
e não pode se sobrepor e/ou ignorar as efica-
zes respostas dadas pelos seus moradores às Subsidiar a comunidade para participar de forma ativa e crítica
da elaboração de planos e projetos de intervenção urbana no bairro.

Vila 29 de Outubro Metodologia


Fonte: QUEIROZ (2019)
O desenvolvimento do PDUC Caximba realizou-se pela inter-relação entre
ensino, pesquisa e extensão, por meio da adoção de procedimentos que envol-
veram incursões e oficinas no bairro; encontros para apresentação e debate
de resultados de pesquisas afins à realidade local; reuniões para discussão
de textos, planejamento, gestão e avaliação das ações desenvolvidas pelos
alunos e alunas; atividades em articulação com disciplinas do curso de gra-
duação em Arquitetura e Urbanismo e outros projetos de extensão em curso
no bairro; construção de espaços de formação junto à comunidade; e moni-
toramento das ações em execução por parte do poder público municipal.

9
Delimitação aproximada das Vilas
de acordo com relatos de moradores
APA do Iguaçu
e Queiroz (2019)
Lei Municipal 9.800/00

Refúgio do Bugio
Decreto Municipal 327/2015

Espaços de moradia popular


abordados no PDUC Caximba Vila Milhinho

Ar
uca
á
ria
al
municip
Campo de Santana Vila São João Batista

Divisa
Vila dos Cruz

Vila Juliana

Di
vis
a
de
ba
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a
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Vila 29 de Março

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Vila Dantas

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ARAUCÁRIA P

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de
ao
lin
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Aterro
do Caximba
Rio Barigui

Rio Barigui
Vila Espaço Verde

Caximba Vila Primeiro de Setembro

Vila Abraão
l
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Di

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açu aç
Rio Igu Igu

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Almeid
de
no
ru
oB
FAZENDA RIO GRANDE

ad
leg
De
de
tra
Es
1999

Evolução da ocupação
do Caximba 2007

Fonte das imagens:


1999 e 2007: IPPUC
2011, 2014, 2016 e 2019: Google/Maxar Technologies

12
2011 2016

2014 2019
Linha do tempo
Reunião para formação da equipe no MPPR, com palestra
da Assistente Social e Mestre em Planejamento Urbano
Kelly Maria Christine Mengarda Vasco, que apresentou os
resultados da sua Dissertação de Mestrado defendida no
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano da
UFPR, intitulada “O Programa Minha Casa Minha Vida como
ferramenta de intervenção nas favelas de Curitiba: o caso da
Vila Santos Andrade”

Reunião para formação


da equipe e dos discentes
do curso de Arquitetura
e Urbanismo, com
Reunião para formação da aula ministrada pela
equipe no MPPR, com aula coordenadora do Núcleo
ministrada pela Profª Drª Itinerante das Questões
Andrea Luiza Curralinho Fundiárias e Urbanísticas
Braga, do Curso de Serviço da Defensoria Pública
TFG de Pedro Pedro Portugal Contato com o NCEP da Aproximação do grupo da Social da PUCPR, que do Estado do Paraná, Oficina de formação com
Sorrentino, monografia UFPR para integração entre extensão com discentes da apresentou a metodologia Olenka Lins e Silva Martins empresa que realizou o
intitulada “Conflito entre os projetos de extensão disciplina de Desenho Urbano de elaboração de Rocha, sobre regularização levantamento topográfico
Conservação Ambiental e em execução no Caximba e 4 e a comunidade da Vila Diagnóstico Rápido Urbano fundiária, na disciplina de da Primeiro de Setembro,
Habitação nas Ocupações partilha de experiências Primeiro de Setembro Participativo (DRUP) Desenho Urbano 4 no MPPR
Populares do Bairro
Caximba – Curitiba/PR”
JULHO

AGOSTO

NOVEMBRO
SETEMBRO

DEZEMBRO
OUTUBRO
2018

Início da construção do Reunião para formação Realização de três Reuniões no MPPR para Concepção e produção Visitas ao Caximba para
projeto de extensão PDUC da equipe no MPPR, com visitas ao Bairro articulação dos Projetos de das primeiras maquetes e escuta com a comunidade
Caximba; aproximação palestra ministrada pela Caximba, para Extensão em curso no Caximba mapas para mapeamento e balanço das atividades
do MPPR, formação Profª Madianita Nunes da reconhecimento do (reuniões inter-extensões) participativo com a realizadas no semestre
da equipe de trabalho, Silva sobre a produção dos local, levantamento comunidade
articulações institucionais espaços informais de moradia de dados técnicos
na metrópole de Curitiba e conversas com a
comunidade

16 17
Acompanhamento
Abertura da disciplina
da Audiência Pública
“Tópicos Especiais em
organizada pelo
Urbanismo IV: Cartografias
IPPUC e a Regional
para uma outra Curitiba”,
do Tatuquara, para
que articulou atividades
com o Projeto de Extensão Oficina na Vila Primeiro apresentação do projeto
PDUC Caximba e o Curso de Setembro para Cinedebate com a de intervenção “Bairro
de extensão “Cartografias apresentação e discussão presença dos diretores do Novo do Caximba”. A
para uma outra Curitiba”, do projeto de urbanização filme “Quem mora lá” para Audiência foi cancelada
que dentre as estratégias do assentamento Produção dos materiais os moradores do bairro, no dia da realização e
de ensino-aprendizagem desenvolvidos na disciplina para realização do realizado na Associação de o motivo apresentado
organizou uma aula de de Desenho Urbano 4 no mapeamento comunitário moradores da Vila Primeiro pela administração
campo no bairro segundo semestre de 2018 junto às Vilas do bairro de Setembro pública municipal foi a
execução do programa
p. 25 p. 26 de castração de animai

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO
FEVEREIRO

2019
Oficina na Vila dos Cruz
para apresentação e
p. 41 discussão do projeto
Aula magna aberta à Articulação com o curso Aula de campo da disciplina Oficina de mapeamento Realização da de urbanização
comunidade, no âmbito da o Núcleo de Direitos de Desenho Urbano 4 comunitário na Vila primeira tentativa do assentamento,
disciplina de “Cartografias Humanos e o curso de na Vila dos Cruz, para os Primeiro de Setembro de mapeamento desenvolvido na disciplina
para uma Outra Curitiba” Serviço Social da PUC-PR discentes matriculados comunitário na de Desenho Urbano 4 no
e Oficina no MPPR com para contribuição com o na turma do primeiro Vila dos Cruz primeiro semestre de 2019
a Profª Drª Cecilia Maria DRUP do Bairro Caximba semestre de 2019 e equipe
de Morais Machado com todas as comunidades do projeto, acompanhada
Angileli, da UNILA, que de moradores, para
trouxe sua experiência levantamento de
no desenvolvimento de reconhecimento da área
projetos de extensão em visando o desenvolvimento
cursos de Arquitetura e de projeto de urbanização
Urbanismo do assentamento

18 19
Acompanhamento da
Audiência Pública realizada Acompanhamento Confecção e produção
no IPPUC para apresentação da oficina do DRUP, dos primeiros mapas e Idealização
do projeto de intervenção Apresentação de relatório organizada pelo curso de Oficina de mapeamento experimentos cartográficos e elaboração
“Bairro Novo do Caximba” parcial no SIEPE Serviço Social da PUC-PR comunitário na Vila Dantas para produtos apresentados deste caderno

p. 53

NOVEMBRO
JULHO

AGOSTO

DEZEMBRO
SETEMBRO

OUTUBRO
p. 29

p. 47
Segunda tentativa Apresentação dos Produção de relatórios e Fechamento e balanço
Oficina de mapeamento resultados parciais finalização da confecção das atividades
realização do comunitário na Vila Espaço
mapeamento do PDUC Caximba e dos produtos cartográficos realizadas na extensão
Verde participação na roda de
comunitário na
Vila dos Cruz conversa na 11ª SIEPE
com outras equipes de
Acompanhamento Projetos de Extensão em
da Audiência Pública desenvolvimento da UFPR
realizada no Caximba para
apresentação do projeto de
intervenção “Bairro Novo
Caximba”

20 21
Formação do grupo
Os resultados obtidos na execução do projeto foram fruto da soma
de diferentes saberes, que eram constantemente compartilhados
entre os envolvidos, durante esse processo. Os principais espaços
e atividades nos quais essas trocas se efetivaram foram:

Reuniões de formação e planejamento


Essas reuniões, realizadas ao longo de 2018 e 2019, foram essenciais
para a construção e a execução do PDUC Caximba. Alguns encontros
foram organizados especificamente para encaminhar demandas liga-
das ao andamento das ações e ao planejamento do projeto, outros
tiveram como objetivo discutir e aprofundar questões observadas na
realidade do Caximba, como por exemplo: a problemática habitacional
e a dificuldade de acesso à terra urbanizada, os processos de regulari-
zação fundiária, a política de habitação executada no município, entre
outros temas. A realização desses momentos contou com a participa-
ção de docentes, pesquisadores e profissionais, sendo alguns destina-
dos exclusivamente ao grupo do projeto de extensão e outros abertos
ao público externo e comunidade acadêmica. Esses encontros foram
considerados pelo grupo como um importante espaço de formação.

Organização e desenvolvimento de atividades


A organização e execução das atividades foram cruciais para a for-
mação do grupo. Tais atividades foram consideradas educadoras,
porque a partir delas o(a)s extensionistas tiveram que buscar solu-
ções para as dificuldades encontradas, em especial na comuni-
cação com a comunidade e demais envolvidos, nas restrições do
grupo, no enfrentamento de imprevistos, na carência de recursos
e/ou no desconhecimento dos limites de atuação do projeto.

23
Mapeamento comunitário Participação em eventos e encontros
interextensão
Esta atividade tornou-se um dos produtos e ações mais relevantes exe-
cutados pelo grupo, a partir da qual foi possível aproximar-se da rea- A participação em eventos, como o 11a SIEPE, e em encontros
lidade e da vida cotidiana das comunidades e identificar os conflitos em que estiveram presentes extensionistas de outros proje-
e contradições presentes no território. Em função das características tos, NCEP e o DRUP (PUC/PR), permitiram a troca de experiências,
da metodologia aplicada, constituiu um dos momentos mais ricos de a percepção da necessidade de organização e o registro perma-
aprendizado, pela possibilidade de troca de conhecimento entre os sabe- nente da memória do projeto, o exercício de capacidade de sín-
res popular e da academia e pela necessidade de enfrentamento das tese e das ferramentas e habilidade de comunicação do grupo.
dificuldades observadas na sua realização, que precisaram ser contor-
nadas com criatividade, alteridade, perseverança e responsabilidade.

Articulação com disciplinas do Curso de


Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Rodas de conversa
A articulação de atividades do PDUC Caximba com as discipli-
Outra etapa de formação do grupo aconteceu por meio da parti- nas de Desenho Urbano 4 e Cartografias para uma Outra Curitiba
cipação nas rodas de conversa, em geral, organizadas pelo MPPR, permitiu a incorporação de conteúdos, linguagens e ferramen-
parceiro no desenvolvimento do PDUC Caximba. A participa- tas, qualificando as ações executadas no projeto e capacitando o
ção nesses espaços foi estimulada e inserida na agenda do grupo grupo, composto por discentes de diferentes cursos e formação.
como momentos importantes para o andamento do projeto. Essa troca também se realizou da extensão para o ensino, pelo
apoio e ações desenvolvidas no projeto que contribuíram na orga-
nização de atividades realizadas no âmbito das disciplinas.

Avaliação das atividades


Além das reuniões para planejamento e execução das atividades, foram
organizados encontros para avaliar as ações postas em prática e seus efei- Apresentação, na Vila dos Cruz, dos trabalhos da disciplina de Desenho Urbano 4 realizados em 2019.
tos, considerando os objetivos do projeto de extensão. Esses momentos
foram importantes para redefinição de ações e cronograma, a explicita-
ção das limitações e o enfrentamento das dificuldades, a partir dos quais
foi possível aprender com os erros, acertos e restrições encontradas.

Produção de base de dados territorial


Outra etapa importante, mais relacionada ao conteúdo de formação
técnica, foram as atividades destinadas ao levantamento dos dados e
produção de informações sobre o território, realizadas em visitas de
campo e no contato com as comunidades do Caximba e também pela
utilização de ferramentas de geoprocessamento e representação carto-
gráfica. Considerada uma ação essencial para elaboração deste caderno,
a criação dessa base de dados territorial tem como objetivo subsidiar a
elaboração de projetos futuros de intervenção, a partir de uma leitura da
realidade em que a população do Caximba participou de modo ativo.

24
Cine Caximba
A atividade consistiu na exibição, na Vila Primeiro de Setembro, do
documentário “Quem mora lá” (2018) com o objetivo de estabelecer um diálogo
entre as realidades retratadas no documentário, um retrato da luta por moradia
em Recife, e a política habitacional em Curitiba e Região Metropolitana.

A estrutura foi montada, inicialmente, na área


externa da Associação de Moradores da Vila
Primeiro de Setembro, para que pudesse atrair

L
ançado
‌ em 2018, o documentário foi pro- mais moradores. Os alunos, envolvidos tam-
duzido por Valete de Copas Filmes, em bém na montagem, distribuíram panfletos
parceria com a Habitat Brasil e distri- informando sobre a atividade nas redondezas.
buído pela produtora Taturana Mobilização Durante a realização da atividade, no entanto,
Social. Nesta atividade estiveram presentes por conta da chuva, foi preciso deslocar a pro-
tanto alunos e professores envolvidos no jeção do filme para o interior da Associação.
projeto, quanto os diretores do filme – César Ainda assim, muitos moradores comparece-
Vieira e Conrado Ferrato, que fizeram inter- ram e participaram ativamente do debate.
venções durante o filme e abriram um diá-
logo com a comunidade ao final. O objetivo Temas relacionados à efetivação do direito
foi mobilizar os moradores do Caximba pela à moradia, tais como especulação imobi-
aproximação entre suas histórias de vida e liária, políticas habitacionais e segrega-
a resistência contra remoções forçadas das ção socioespacial, entre outras, fizeram
famílias da pequena Comunidade do Pocotó, parte das questões levantadas na tarde
no bairro de Boa Viagem, retratada no filme. do dia 27 de abril de 2019, em Curitiba.

27
Acompanhamento das
Audiências Públicas
Com o anúncio pela Prefeitura Municipal de Curitiba, no primeiro
semestre de 2019, da realização de Audiências Públicas para a
apresentação do projeto de urbanização denominado “Projeto
Bairro Novo Caximba”, o acompanhamento dessa instância de
participação foi incluída entre as atividades do PDUC Caximba.

A Vila 29 de Outubro
A Vila 29 de Outubro está localizada no Caximba e a ocupação da área data
do final de 2009, ano que coincide com o encerramento das atividades
do Aterro Sanitário do Caximba. Desde então a Vila foi alvo de ações de
reintegração de posse, com ações de resistência por parte os moradores,
que acabam voltando para a área. Atualmente é a maior e mais reconhecida
Vila entre as ocupações do bairro, com uma estimativa de 1.233 domicílios.
Apresenta um cenário de extrema precariedade em termos de infraes-
trutura e serviços urbanos e ausência de políticas públicas por parte do
estado. Além disso, condições construtivas das habitações, de materiais
e técnicas, precárias e insalubres. Outra limitação relaciona-se à ocupação
de áreas de inundação e/ou do Refúgio do Bugio, que apresentam restri-
ções legais e físicas para edificação (SORRENTINO, 2018).

O “Projeto Bairro Novo Caximba” destina-se à intervenção na Vila 29 de


Outubro, embora no bairro existam outras sete áreas de moradia popular,
entre ocupações e loteamentos clandestinos, cuja origem é mais antiga
que esta Vila.

29
Síntese das Audiências Públicas
Conforme veiculado na mídia, a administração De acordo com a Prefeitura Municipal as
municipal organizou Audiências Públicas para Audiências Públicas seriam realizadas semanal-
apresentar a proposta de intervenção no bairro mente no Centro de Referência de Assistência
aos moradores e interessados. As Audiências Social (CRAS) Caximba. O grupo do PDUC
Públicas foram conduzidas por gestores da Caximba fez cinco tentativas de participar das
Prefeitura Municipal, de forma expositiva, Audiências Públicas no bairro, sendo duas can-
sendo a apresentação sinteticamente composta: celadas sem aviso prévio ou divulgadas em um
i. de um breve diagnóstico com dados acerca da veículo de comunicação e as demais ocorridas
extensão territorial e da população residente na nos dias 11/07, 18/07 e 25/07 de 2019. O grupo do
Bacia do Rio Barigui, contabilizada como aquela projeto de extensão conseguiu também par-
a ser beneficiada pelo projeto; ii. de imagens da ticipar de uma apresentação do projeto ocor-
Vila 29 de Outubro, com destaque para a áreas rida no Instituto de Pesquisa e Planejamento
de habitação que ocupam as várzeas do rio Urbano de Curitiba (IPPUC), durante a reunião
ou estão sujeitas a riscos ambientais; iii. pela do Conselho Municipal de Urbanismo (CMU).
Prefeitura x Mídia delimitação da área ocupada e do número de
domicílios a serem removidos (1.147), bem como
Grande parte do reconhecimento da existência da Vila 29 de Outubro, da área ser regularizada e urbanizada com 546
para além do território do Caximba, deriva da repercussão de uma maté- unidades habitacionais; iv. da área que, após
ria apresentada no programa “Caldeirão do Huck”, exibido pela Rede a remoção dos domicílios, será destinada para
Globo no dia 8 de setembro de 2018 (TRIBUNA, 2018). A visibilidade e a recuperação ambiental, implantação do par-
polêmica em torno da área surgiu da negativa do apresentador em refor- que, da infraestrutura de macrodrenagem e a
mar a casa da moradora, em função da situação irregularidade da ocupa- localização do dique de drenagem; v. e da área
ção e da comparação feita pelo apresentador da realidade do local, com destinada a receber as famílias removidas.
o Haiti, um dos países mais pobres do continente americano, devido
ao cenário de extrema pobreza e precariedade urbana encontrados.

Em resposta à avaliação do bairro de Curitiba, veiculada em rede


nacional de televisão pelo programa, a gestão municipal deu início
em outubro 2018 a iniciativas que iriam resultar no “Projeto Bairro
Novo Caximba”, que em fase de estudo preliminar passa a ser apre-
sentado à sociedade e comunidades no primeiro semestre de 2019.

Projeto Bairro Novo Caximba


A proposta de intervenção no bairro a ser imple- Públicas para apresentação do projeto a popu-
mentada pela gestão municipal, que passa a ser lação do bairro. De acordo com a Prefeitura
veiculada com o nome de “Projeto Bairro Novo Municipal, o objetivo do projeto e da atual admi-
Caximba”, iniciou sua concepção em outubro de nistração é tornar o bairro uma referência eco-
2018, com o desenvolvimento de estudo preli- lógica, à partir da limpeza dos rios, implantação
minar por técnicos do município e a captação de de um parque, relocação de habitações situadas
recursos para execução das intervenções pensa- áreas de risco e da construção de um dique de
das. Tais recursos foram obtidos pelo município contenção de cheias (GAZETA DO POVO, 2018).
junto à Agência Francesa de Desenvolvimento
(AFD), que exigiu a elaboração de Audiências

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Questões formuladas pelo grupo do PDUC Considerações da equipe do PDUC Caximba acerca do
Caximba durante a apresentação no CMU no acompanhamento das Audiências Públicas para apresentação do
IPPUC e respostas obtidas “Projeto Bairro Novo Caximba”
1. Qual a previsão de tempo de implementação do projeto, após A dinâmica de apresentação da proposta nas qualitativos de precariedade habitacional, como
a resolução dos trâmites burocráticos necessários? Audiências Públicas realizadas no bairro foi coabitação familiar, renda insuficiente para
expositiva e adotou ferramentas gráficas e de pagamento de aluguel ou aquisição de habitação.
Resposta: Em até 5 anos. linguagem que nem sempre são facilmente
traduzidas pela população em geral. Além disso, Outra questão importante na definição de proces-
2. Por que não foram incluídas as outras Vilas na proposta e não previu espaços para coleta de sugestões e/ou sos de relocação necessários a atenção ao direito
promovido um processo mais participativo na sua elaboração? demandas dos moradores. Não obstante, obser- à moradia adequada, que não foi possível obser-
vou-se que a população presente manifestava var nos produtos apresentados nas Audiências
Resposta: As outras Vilas são loteamentos clandestinos e o poder interesse no desenvolvimento do projeto. Públicas, refere-se a aspectos que são próprios
público não pode intervir. Em relação ao processo participativo, dos modos de vida construídos pelas comuni-
estão ocorrendo ações de capacitação e assistencialismo no A proposta da intervenção foi apresentada em dades, que deveriam condicionar as soluções
bairro (consideradas participação), mas a parte técnica da nível de estudo preliminar, com desenhos ela- para a organização da estrutura fundiária, a
proposta não foi elaborada de forma participativa. borados sobre imagem aérea, sem levantamento regularização jurídica da posse ou da proprie-
preciso da estrutura fundiária, implantação dos dade, a tipologia das habitações e a definição do
4. Como pretende-se enfrentar a questão do domicílios, vias e caminhos e outros elemen- local de recepção de cada uma das famílias no
tráfico de entorpecentes no bairro? tos e informações socioespaciais necessários novo assentamento. Esses aspectos têm relação
ao detalhamento de um projeto de intervenção com a composição e tamanho das famílias, as
Resposta: Não foi dada uma resposta objetiva nesse aspecto. urbana desta natureza, tais como número e perfil relações de vizinhança e solidariedade desen-
de composição das famílias, renda, forma de volvidas, o tipo de acesso à habitação (compra
6. Qual o valor do financiamento solicitado para a Agência acesso à habitação (própria ou aluguel), for- ou aluguel) no local de origem, dentre outros.
Francesa para a implantação do projeto? mas de apropriação e uso dos espaços públicos,
padrões de ocupação e tipologia das moradias, Outro ponto refere-se ao fato de que a inter-
Resposta: 39 milhões de euros. dentre outros. Foram apresentadas também venção proposta restringe-se à Vila 29 de
perspectivas aéreas da intervenção, que des- Outubro e não atinge as demais Vilas do bairro,
tacavam o parque a ser implantado e algumas que também enfrentam questões de natureza
Durante a apresentação os técnicos do IPPUC reforçaram também a quadras nas quais figuram novas habitações urbanística, complexas e diversas, conforme
tese de que, apesar da intervenção incluir apenas a Vila 29 de Outubro, a serem construídas. Nessas perspectivas, as constatado no mapeamento comunitário
a urbanização do bairro e os projetos de ampliação dos equipamentos novas habitações estão implantadas na área elaborado no âmbito do PDUC Caximba.
comunitários previstos beneficiarão todos os moradores do Caximba. remanescente da Vila 29 de Outubro que sofrerá
relocação, e que está indicada na implantação Embora considere-se necessária a intervenção
do projeto como aquela a ser urbanizada. urbanística no bairro, em função das condições
de precariedade e das questões de natureza
Embora se reconheça como um ponto positivo o socioambiental, a partir do acompanhamento
fato da área destinada para receber os domicílios das Audiências Públicas não foi possível cons-
removidos estar localizada a uma distância de tatar a adequabilidade do projeto à realidade
600 metros da área de origem, conforme infor- e complexidade do Caximba, a atenção aos
mado pelo técnicos, na proposta apresentada critérios para promoção do direito à moradia
não é possível verificar com segurança se a área adequada, nem a exequibilidade do projeto no
destinada para os novos domicílios será sufi- prazo informado pela Prefeitura Municipal.
ciente para receber os 1.147 domicílios a serem
removidos de acordo com o projeto. Além disso,
se tal número corresponde na realidade ao total
de famílias residentes da área onde está prevista
a remoção, nem se ele considerou indicadores

32 33
Oficinas de
mapeamento
comunitário
O que é e quais O mapeamento comunitário é uma meto-
os objetivos da dologia de análise, reconhecimento e apro-
atividade? ximação do território, a partir da ótica da
população. Parte do princípio de que os
moradores são os indivíduos melhor capacitados para reconhecer
e qualificar os problemas e potencialidades existentes no território
em que vivem. O objetivo foi produzir um entendimento territorial
a partir da perspectiva comunitária, considerando os imaginários
individuais e coletivos que legitimam e oportunizam olhares frag-
mentados ou contínuos nesta área da cidade. Além disso, buscou
empoderar as pessoas que vivem nas diferentes comunidades, tor-
nando-os sujeitos na elaboração da leitura da realidade do Caximba.

Como surgiu Foi motivada pela percepção da existência


a ideia de de incoerências entre as informações dispo-
mapear o nibilizados pelos órgãos públicos e a reali-
Caximba? dade do bairro, que se explicitaram durante
as atividades desenvolvidas pelo projeto de
extensão nas comunidades e visitas ao Caximba. O distanciamento
entre o Caximba real e o oficial foi observado, inicialmente, pela desa-
tualização e a inexistência de levantamentos e cartografia, e se aprofun-
dou com as incursões pelo bairro, reconhecendo-se a necessidade de
se apropriar da sua realidade à partir da ótica daqueles que vivem dia
após dia o território, perspectiva que muitas vezes não é identificada ou
considerada nos planos, programas e projetos de intervenção urbana.

35
Como foram Cada Oficina foi realizada ao longo de uma Em quais
desenvolvidas tarde, em dias previamente definidos pelas Vilas foram
as Oficinas? comunidades, a partir da utilização de maquete, realizadas as
fotos aéreas e ícones gráficos, para identificação Oficinas?
dos lugares, usos e formas de apropriação do território pelos moradores.
A partir do uso dessas ferramentas, o mapeamento era realizado de forma Foram realizados em três das nove Vilas que compõem o
voluntária pelos moradores. Na escala do bairro o mapeamento comuni- bairro: Primeiro de Setembro, Espaço Verde e Dantas.
tário teve como principais objetivos convidar moradores e moradoras a
mostrar sua visão do Caximba como um todo, evidenciando os principais
acessos, usos, problemas, potencialidades e rotinas diárias na apropriação
do território, bem como as relações existentes entre as diferentes Vilas Primeiro Mapeamento: Vila Primeiro de Setembro
que compõem o bairro. Na escala do assentamento o mapeamento teve
como objetivo identificar sujeitos, lugares, relações e formas de apropria- A primeira oficina aconteceu na Vila Primeiro Setembro e consistiu em
ção do espaço, que dão identidade àquela comunidade e as famílias que uma atividade proposta pelos alunos e parceiros do projeto de extensão,
nelas vivem. a ser realizada em conjunto com seus moradores. A atividade mapeou
numa maquete elaborada na escala do loteamento os pontos considerados
O grupo do projeto de extensão foi responsável por planejar a atividade, importantes no cotidiano dos moradores, como comércios, ruas, a loca-
produzir com antecedência os mapas e ícones, preparar o espaço para a lização das residências dos participantes, entre outros. Além do mapea-
realização da Oficina, divulgar e motivar a comunidade das Vilas para mento, nesse dia foram programadas outras atividades, com o objetivo de
participar e, após a realização da atividade, organizar e registrar as infor- se aproximar da comunidade e conhecer melhor a realidade local.
mações do material produzido pelos moradores. O registro das atividades
produziu mapas e diagramas das ocupações e um registro fotográfico do
processo de mapeamento de cada encontro. Segundo Mapeamento: Vila Espaço Verde

O mapeamento na Espaço Verde foi pensado a partir da adoção de uma


metodologia que partiu da avaliação crítica da experiência realizada na
Apresentação, durante a oficina feita na Vila Primeiro de Setembro, dos
Vila Primeiro de Setembro. Foi utilizado o mesmo conjunto de ícones
trabalhos da disciplina de Desenho Urbano 4 realizados em 2018:
adotados na primeira oficina, para que fosse possível comparar a reali-
dade vivida pelos moradores das diferentes comunidade e identificar as
inter-relações entre elas. Ao invés da maquete foram utilizadas fotografias
aéreas nas escalas do bairro e do assentamento. A atividade na Espaço
Verde foi realizada em duas etapas. A primeira com um pequeno grupo
de moradores, no espaço externo de uma habitação e a segunda, duas
semanas depois, com um número maior de moradores, no espaço da rua.
O espaço público se mostrou mais atrativo para os moradores e efetivo
considerando os objetivos da atividade.

Terceiro Mapeamento: Vila Dantas

Na oficina para a Vila Dantas foi utilizada a mesma metodologia adotada


na Espaço Verde. Embora tenham sido levantadas informações impor-
tantes, essa oficina teve pouca participação da comunidade. O grupo do
projeto encontrou dificuldades desde o agendamento da atividade nesta
comunidade, que precisou ser remarcado uma vez.

37
Dificuldades A desmobilização social foi o principal desa-
encontradas fio encontrado ao longo da atividade. No
e aprendizados entanto, a percepção desta limitação reafirmou
a necessidade dos mapeamentos comunitários
como mecanismo de investigação das condições socioespaciais da área,
assim como, uma ferramenta de reafirmação dos moradores enquanto
sujeitos-cartografantes.

Destaca-se ainda o impacto na formação dos estudantes, que vindos de


cursos de graduação distintos, foram provocados a desenvolver ferramen-
tas e uma linguagem capaz de estabelecer uma comunicação clara com
a comunidade, efetivando a interação dialógica e a interdisciplinaridade
próprios da atividade da extensão.

Dentre os obstáculos vale destacar a dificuldade de acesso e deslocamento


dos alunos extensionistas até o bairro, que acabou prejudicando a fre-
quência de visitas e o cumprimento do calendário de atividades estipulado
no início do semestre.

Confecção de panfletos para convidar os moradores para o Cine Caximba, durante


uma das reuniões com a líder comunitária da Vila Primeiro de Setembro

Dinâmica de grupo realizada para debater sobre as principais


demandas dos moradores da Vila Primeiro de Setembro

O resultado do A população que vive nas ocupações do


mapeamento bairro se reconhece como moradora de nove
comunitário Vilas (p. 11): Primeiro de Setembro, dos Cruz,
nas Vilas Juliana, São João Batista, Milhinho, Dantas,
Espaço Verde, 29 de Outubro e Abraão.

Apresenta-se a seguir uma síntese do cenário captado nas Vilas onde


foi possível realizar o mapeamento comunitário. Além de derivadas
do mapeamento, as informações apresentadas têm como fontes levan-
tamentos de campo realizados pelos discentes que cursaram a disci-
plina de Desenho Urbano 4, a monografia de Pedro Portugal Sorrentino
(SORRENTINO, 2018) e pesquisas desenvolvidas na UFPR. Apresenta-se
também uma síntese do cenário para o conjunto das ocupações do bairro,
elaborada a partir das atividades desenvolvidas pelo PDUC Caximba.

38 39
A Vila
Primeiro de Setembro
30 de março de 2019, sábado
14h–18h

Associação de Moradores Vila


Primeiro de Setembro

25 pessoas

Ocupando uma superfície de 46.907 m2, em


2018 a estimativa era que na Vila existiam 258
domicílios. A maioria dos moradores afirma que
comprou o lote onde mora, mas existem casos
de famílias que alugam a habitação onde vivem.

O parcelamento do solo apresenta quadras moradores. O assentamento não é servido pelo


retangulares. Os lotes são claramente identi- sistema de esgotamento sanitário e a inexis-
ficados e demarcados com cercas e muros e a tência de numeração predial oficial impede
maioria tem testada de 10 metros e área média que as famílias sejam atendidas pelo serviço
entre 180 e 250 m2. A ocupação dos lotes é de dos correios. A falta de endereço oficial é iden-
habitações autoconstruídas, a maioria em tificada pela comunidade como uma carência
alvenaria, a quase a totalidade deles encontra- da Vila. Além dessa questão, a irregularidade
-se edificado, sendo comum a construção de fundiária, a carência de equipamentos comuni-
mais de um domicílio por lote. Tanto no relato tários e áreas de lazer, e a melhoria da infraes-
dos moradores como em levantamento feito trutura de drenagem e das vias, em especial
em campo, a qualidade das habitações é consi- na que conecta o assentamento com a Estrada
derada boa, observando-se uma média de 2 a 3 Delegado Bruno de Almeida, são consideradas
dormitórios e 1 e 2 banheiros por residência. pela população as demandas mais importantes.

Em 2018 a Vila era abastecida pelos serviços de A Primeiro de Setembro está situada no Setor
água, coleta de lixo, energia elétrica e iluminação Especial de Habitação de Interesse Social
pública. A comunidade relatou que o início da (SEHIS) e possui uma pequena área alagável
implantação de infraestrutura, especialmente a nas proximidades do assentamento com a Vila
drenagem urbana, foi realizada pelos próprios 29 de Outubro, com a qual faz limite a oeste.

41
Como foi organizado o mapeamento?
O primeiro mapeamento aconteceu na Vila dos mapeamentos realizados com o auxílio de
Primeiro Setembro. Tal atividade consistiu no uma maquete do território elaborada anterior-
mapeamento de pontos considerados importan- mente. Esse conjunto de atividades foi pen-
tes no cotidiano dos moradores, como comér- sado com o objetivo de aproximar o grupo da
cios, ruas, suas próprias residências e outros. extensão da comunidade e conhecer melhor
Além dessa atividade, nesse dia foram apresen- a realidade do local. Destaca-se que até esse
tados para a comunidade os anteprojetos de momento a atividade de mapeamento no con-
urbanização para o assentamento desenvolvidos texto da extensão tratava-se de um atividade
na disciplina de Desenho Urbano 4 e foi reali- secundária. Após esse momento notou-se a
zada uma dinâmica em grupos com objetivo de importância desse artifício no reconhecimento
identificar as principais carências e anseios da do território e no empoderamento das pessoas.
população local, bem como, a primeira versão

1. Definição de grupos, planejamento 2. Realização da atividade na Vila:


e divisão do trabalho para O que vimos, Por tratar-se da primeira experiência de mapeamento, algumas informa-
realização da atividade: divisão de tarefas para ouvimos ções coletadas não dialogam diretamente com o foco do estudo, definidos
desenvolvimento das atividades; e aprendemos? posteriormente, esses que tinham como principal objetivo reconhe-
comunicação: produção de materiais cer as problemáticas, potencialidades e condicionantes do território.
para divulgação da atividade e organização do espaço; Nesse sentido, algumas informações como o nome dos proprietários de
contato com os moradores; cada um dos lotes não foram exibidos no mapa, embora se reconheça
mobilização dos moradores; a importância de cada um desses indivíduos. No entanto, informações
base: obtenção de materiais para a realização relativas ao comércio local, principais problemáticas e o cotidiano da
da atividade, lanches e transporte, e realização das atividades. população puderam ser observados tanto na atividade do mapeamento
elaboração da maquete para o mapeamento; quanto ao longo da tarde de trabalho realizado junto à comunidade.
3. Extração de informações para A atividade permitiu notar identificar como principais reclamações
coordenação: elaboração do cronograma uma base de dados comum. a demora do processo de regularização fundiária pela COHAB CT e o
das atividades, apoio ao trabalho dos acesso alguns serviços, como os correios, e a ausência ou carência de
grupos e supervisão das atividades. alguns equipamentos públicos, como áreas de lazer, creches e escolas.
Dantas Vila Primeiro de Setembro

Estabelecimentos
Associação de Áreas de lazer
A
moradores
Campinho
Sorveteria
29 de Outubro
Pesque
Material de Pague
construção
Rua Principal da Vila
Primeiro de Setembro Vias principais
Quitanda
e acesso a Vila 29 de
Outubro Terra
Panificadora
Asfalto
Lanchonete

AA Espaço Verde

Limíte da Vila Espaço Verde,


de acordo com os moradores

eida
de Alm
ado Bruno
g
Estrada Delegado Bruno de Almeida:

ele
concentra uma maior diversidade de servi-

da D
ços públicos - escolas e postos de saúde -

a
além de comércios e pontos de ônibus

Es tr
44 45
A Vila Espaço Verde
27 de agosto de 2019 07 de setembro de 2019
terça-feira, 14h–18h sexta-feira, 09h–12h

Casa de uma líder comunitária Rua Principal

5 pessoas 30 pessoas

A Vila Espaço Verde é separada da Vila Primeiro


de Setembro por apenas uma rua, denomi-
nada pelos moradores como Rua Principal,
porque permite o acesso do assentamento
a outras Vilas e à rua Delegado Bruno de
Almeida. A morfologia espacial se caracteriza
pela distribuição de lotes ao longo de uma
única quadra, com acesso pela Rua Principal.

Não existem informações precisas a respeito


do processo que deu origem à ocupação,
e seus moradores sofrem um processo de
reintegração de posse desde 2012 (QUEIROZ,
2019). Em 2018 estimava-se um número
de 126 domicílios que ocupavam uma área
de 16.565 m2 (SORRENTINO, 2018).

O assentamento não é servido por serviços


públicos de água, luz, esgoto, iluminação
pública e outros (QUEIROZ, 2019), observan-
do-se a utilização de ligações clandestinas de
luz, que se abastecem da infraestrutura regu-
lar disponível na Primeiro de Setembro.

47
Como foi organizado o mapeamento?
O mapeamento realizado na Espaço Verde foi pensado a partir de uma
metodologia diferente da realizada na Primeiro de Setembro. Nesta Oficina
foram elaborados mapas a partir de ortofotos e imagens de satélite e
pré-definidas pelo grupo da extensão questões consideradas importantes
para compreender a realidade local. A partir delas foram produzidos um
conjunto de ícones para guiar o mapeamento, permitindo a melhor com-
preensão o território do assentamento e a comparação entre as demais
Vilas em que seriam aplicados os mesmos procedimentos e metodolo-
gia. As etapas para a organização da atividade pelo grupo consistiram:

1. Elaboração de mapas: a partir de ortofotos e/ou imagens de satélite;

2. Definição de questões chaves a serem respondidas:

a. locais com despejo e


acúmulo de resíduos;
h. existência de áreas
b. locais de coleta de lixo, e terrenos vazios;
reciclagem realizados
por particulares; i. quais eram os espaços
de aglomeração, reunião O que vimos, ouvimos
c. áreas de lazer; e confraternização e aprendemos?
da comunidade
d. questões relativas à O mapeamento comunitário na Espaço
educação: qualidade da j. qualidade do acesso Verde contou com o maior número de
infraestrutura, oferta ao sistema de participantes, comparado às demais
de vagas, distância; transporte público; Vilas, com perfis de diferentes idades.
Destaca-se que a atividade na Espaço foi
e. pontos de coleta de lixo k. distribuição e existência realizada em dois momentos, sendo que
de caráter público: locais de um sistema de o segundo contou com maior número de
que o caminho do lixo energia elétrica e demais pessoas e aconteceu na rua, o que atraiu
passa, existência ou serviços públicos; e possibilitou um maior de número de
não de coleta seletiva; participações. De modo sintetizado a
l. imóveis à venda e atividade possibilitou reconhecer quais
f. pontos de acesso ao correio; ou a locação; os principais tipos de comércios locais,
quem são as pessoas que moram e atuam
g. problemas na rua: m. tipos de comércio dentro da comunidade, as principais
qualidade da rua, tipo existentes; problemáticas como à infestação de
de pavimentação, animais (roedores e carrapatos), baixa
existência de buracos, qualidade do sistema de energia elétrica,
sistema de drenagem; problemas de drenagem, locais de acú-
mulo de lixo, bem como criação de atalhos
3. Definições de ícones: baseado nas questões chaves, foram defini- feito pelo próprios moradores, apro-
dos ícones para facilitar o mapeamento pela comunidade e possibili- priação de espaços para lazer e outros.
tar a interpretação do material produzido pela equipe da extensão.

48
Dantas

Carreiro: caminho que


liga as vilas Dantas
e Espaço Verde
29 de Outubro

Terreno não ocupado


utilizado pelas crianças
como área de lazer.

AA Limíte da Vila Espaço Verde,


de acordo com os moradores

a
Estrade Delegado Bruno de Almeid
Primeiro de Setembro

Presença de carrapatos estrela


que podem causar doenças
em animais e pessoas
Vila Espaço Verde

Demandas Áreas de lazer Estabelecimentos

Iluminação Asfalto Lixo Campinho A


Associação de Lavacar Churros do Davi
moradores
A
Terreno Brecho
Esgoto Carrapato Sorveteria
arborizado da Luana
A Vila Dantas
28 de setembro de 2019
sábado, 13h30–16h

Igreja Ministério Mão Amiga


do Brasil

1 pessoa

Os primeiros sinais de ocupação datam de 2009,


de acordo com as imagens de evolução da ocu-
pação do bairro. O acesso ao assentamento se dá
pela rua Francisca Beraldi Paolini, via que liga o
Caximba ao sul da área urbana do Município de
Araucária. O entorno da ocupação é de glebas
não parceladas. Situa-se a norte da Vila Primeiro
Setembro, assentamento ao qual a Dantas está
interligada por meio de um caminho de pedes-
tres construído pelos moradores (carreiro).
Este caminho é intensamente utilizado pela
população do bairro, porque reduz a distância e
facilita o acesso à escola de ensino fundamen-
tal, ao centro municipal de educação infantil e
à unidade de saúde. O caminho também reduz
a distância de acesso e conecta os assentamen-
tos situados ao norte e ao sul da Vila Dantas.

De acordo com o levantamento de campo


realizado pelo PDUC Caximba, estima-se que
possua 73 domicílios. A morfologia espacial
da ocupação é formada por três ruas e três
quadras, que ocupam uma área de 12.150 m2.

Assim como a Vila Primeiro de Setembro,


a Dantas encontra-se no Setor Especial de
Habitação de Interesse Social e é abastecida
pelos serviços de água, esgoto, energia elétrica
e iluminação pública. (SORRENTINO, 2018).

53
Como foi organizado o mapeamento?
O mapeamento seguiu os mesmos procedimentos e a mesma metodologia
adotada na Vila Espaço Verde.

Vale destacar a dificuldade enfrentada pelo agendamento da atividade pela


equipe do PDUC Caximba nesta Vila.

O que vimos, ouvimos e aprendemos?


Apesar da pouca participação na atividade de mapeamento, a partir da
conversa estabelecida pelo grupo com pessoas da comunidade na rua e
nas casas, foi possível mapear comércios, serviços, caminhos utilizados,
produzidos e melhorados pelos próprios moradores, identificar a carência
de infraestrutura, que atende parcialmente a Vila, em especial drenagem,
esgoto sanitário, iluminação pública e pavimentação das vias. Ao mesmo
tempo, a produção de espaços de uso comum pela comunidade, como o
caminho que conecta a Vila Dantas ao sul e norte do bairro, e o terreno
utilizado pelas crianças da comunidade como espaço de lazer.

O Carreiro
Como mencionado, existe uma impor-
tante conexão entre as Vilas ao sul da
ocupação do Caximba e as ao norte
(marcada nos mapas anteriores e
seguintes). O carreiro cruza terre-
nos gramados e arborizados entre as
Vilas Dantas e dos Cruz, passando
entre casas da Vila Espaço Verde.

O caminho é utilizado sobretudo por


crianças e jovens para acessar equipa-
mentos públicos de educação próximos
à Vila Dantas, relatou um morador.

Este é um caminho criado e mantido pelos


próprios moradores, inclusive possibi-
litado através de acordos com os pro-
prietários dos terrenos por onde passa.
É um exemplo de solução para os fluxos
de pedestres e que revela uma dinâmica
interna própria dos assentamentos, nem
sempre considerada nos projetos oficiais.

54
Vila Dantas Rua
Fra
ncisc
aB
era
Demandas lde
Pao
lini
Pavimentação
da rua

Drenagem

Retirada de lixo

Aproximadamente metade do
Espaços de lazer assentamento é atendida pela
rede de esgoto
Parquinho

Estabelecimentos Terreno utilizado

oto
pelas crianças como
área de lazer

esg
Lava car

dee
Red
Mercado

a
ptic
Reciclagem

a sé
s
Fos
Oficina
Limíte da Vila Espaço Verde,
de acordo com os moradores
Igreja

Carreiro: caminho que


liga as vilas Dantas
e Espaço Verde

Descarte e acúmulo de entulhos


O Caximba
a partir do projeto
As primeiras ocupações populares do bairro A dinâmica de expansão das ocupações popu-
datam do início do ano de 1990, logo após a lares no Caximba articula-se ao fenômeno
criação do Aterro Sanitário de Curitiba, popu- observado em toda a extensão da metrópole de
larmente conhecido como Aterro do Caximba, Curitiba. De acordo com a pesquisa elaborada
no ano de 1989. A evolução da ocupação urbana por Silva (2012) em 11 dos 14 municípios que
do bairro ao longo do tempo (p. 12) revela integram a aglomeração metropolitana, entre
também que o processo de expansão desses o final da década de 1990 e o final de década de
assentamentos se intensifica a partir de 2010. 2000 o número de espaços informais de mora-
dia passa de 571 para 984 e o de domicílios de
As primeiras Vilas foram as Vilas Primeiro de 54.662 para 98.444. A autora destaca ainda que o
Setembro, Juliana e dos Cruz. Não existem Município de Curitiba exerce um lugar principal
informações precisas a respeito da data e/ou nesse processo, ocupando o primeiro lugar entre
ano de origem das demais, com exceção da 29 de os municípios metropolitanos em número de
Outubro, datada de 2010. Esta Vila é também a de assentamentos e domicílios informais para fins
maior extensão e a mais populosa. Considerando de moradia popular, e respondendo pelas maio-
a lógica que conduziu a produção desses espa- res taxas de participação no crescimento desses
ços de moradia, as tipologias existentes no espaços entre essas décadas (SILVA, 2012; 2014).
bairro podem ser classificadas em loteamentos
clandestinos e favelas (SORRENTINO, 2018).
Como foi organizado
Como a intensificação do processo de ocupação o mapeamento?
ocorreu a partir de 2010, data do último Censo
Demográfico no país, não existem dados ofi- O mapeamento para a escala do bairro foi rea-
ciais precisos a respeito da população residente lizado em cada uma das oficinas ocorridas nas
atualmente. Relatório Técnico desenvolvido pela Vilas, e teve como principal objetivo identificar
Promotoria das Comunidades do Ministério a visão do morador, em relação à inserção no
Público do Paraná em 2017 estimou que só Caximba, da comunidade onde mora. Para tanto,
nas ocupações do Caximba residiam naquele utilizou-se de uma mesma foto aérea, que abran-
ano entre 7.000 e 9.000 pessoas (MINISTÉRIO gia todas as Vilas e parte do bairro, que foi sendo
PÚBLICO DO PARANÁ, 2017). Para se ter uma mapeada da primeira à última oficina (com
dimensão do crescimento populacional do bairro exceção da oficina realizada na Vila Primeiro
na última década, o Censo de 2010 contabilizava de Setembro), permitindo que os participantes
2522 residentes, sendo majoritariamente com- agregassem novas informações e verificassem
posto por homens brancos entre 15 e 49 anos. as informações anteriormente mapeadas.

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Estabelecimentos

Loja de brinquedos ARAUCÁRIA

Venda de pipas

Venda de doces

Caixa Postal
no mercado

Espaços de lazer

Campinho
Avenida do Comércio:
Carreiro
via que concentra diversos
Pesca comércios do bairro

Demandas

Iluminação

Ponto de alagamento

Vagas em creche

Vagas em escola

Vagas em CMEI

Maior capacidade
na USB Caximba

Falta farmácia
próxima

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O Caximba mapeado … e o Caximba Real
O mapeamento comunitário permitiu verificar Arruamento
relações e interdependências entre as Vilas, problemas Uma das primeiras características observadas
nesse cruzamento de dados foi a inexistên-
compartilhados e falta de informações oficiais cias das ruas criadas entre as disponíveis nos
mapas produzidos pelo Instituto de Pesquisa
precisas e atualizadas sobre a realidade do bairro. e Planejamento Urbano de Curitiba. Sabe-se
que muitas dessas ruas foram abertas pelos
próprios moradores, ou ainda, por aqueles Vias públicas
responsáveis por lotear clandestinamente a cadastradas na
área. Algumas dessas ruas hoje são abasteci- base cartográfica
das por alguns serviços públicos, como por do IPPUC
exemplo, energia elétrica e iluminação pública,
no entanto encontra-se fora do radar da ges- Vias existentes
Observou-se que algumas comunidades compartilham uma relação tão. Porém, em geral, não possuem nome nem não mapeadas
cotidiana mais próxima, como a observada entre a Primeiro de Setembro número de código postal ou pavimentação.
e a Espaço Verde, que não se restringe utilização da via de acesso a esses
assentamentos, mas ao uso dos espaços de lazer e o comércio.
Fragmentação
Em relação aos fluxos e centralidades, foram destacadas no mapeamento
as vias que concentram o comércio e os fluxos de circulação interna, e do Outra característica observada a partir das visitas
Caximba com os demais bairros de Curitiba e de Araucária. Entre estes realizadas às Vilas no Caximba se relacionam
fluxos destaca-se o de pedestres, mapeados nas vias e caminhos utiliza- ao nível fragmentação dessa. Este foi fator foi
dos para acessar ao comércio, transporte coletivo e escolar, aos espaços de de suma importância para o desenvolvimento Divisão das Vilas
lazer e aos equipamentos públicos pela população. das atividades e compreensão do territó- imaginada no
rio. Destaca-se que embora as ocupações do início do projeto
Observou-se também que existem caminhos e vias no interior dos Caximba sejam majoritariamente derivadas do
assentamentos, que cumprem funções importantes de conexão dentro processo de loteamento clandestino, essa rea-
do bairro, como no caso do eixo que cruza a Vila Dantas conectando as lidade não se aplica a todas as subdivisões da
Vilas situadas ao sul e ao norte, que não figuram no arruamento oficial do ocupação. No início das atividades tínhamos
bairro. Muitas dessas ruas foram abertas ou são mantidas pelos próprios conhecimento de apenas quatro ocupações.
moradores, e hoje abastecidas, mesmo que precariamente, por alguns ser- Ao final, ficou conhecido que, na verdade,
viços públicos, como por exemplo, energia elétrica e iluminação pública, a região é subdividida em nove ocupações.
mas a condição de irregularidade fundiária impossibilita que às suas casas Salienta-se que embora compartilhem uma Divisão das Vilas
seja dado um número predial oficial, deixando seus moradores sem ende- localização geográfica muito próxima, as observada com os
reço, numa condição de subcidadania. vezes diferenciada apenas por uma rua, e moradores ( p. 11)
outras características semelhantes, enfren-
Da mesma forma em que nem todas as ruas constam dos mapas e docu- tam diferentes situações e possibilidades
mentos oficiais, a delimitação e o processo de fracionamento e a dinâmica quanto à regularização e acesso a servi-
de ocupação dos lotes também não é corresponde à realidade. ços, equipamentos e infraestrutura.

62 63
A
partir da experiência de mapeamento com As diferenças também se expressam pelas
‌ a comunidade, num processo de escuta das assimetrias nas relações de poder estabeleci-
‌ suas demandas e reconhecimento da das entre Administração Municipal, lideranças
realidade, foi possível refletir sobre a impor- de grupos, das comunidades e a população em
tância das questões territoriais ­– localização, geral. Essas diferenças se manifestam na forma
acesso a serviços, equipamentos e infraestrutura como as informações são divulgadas e socializa-
pública, qualidade da moradia, garantia de per- das e como as decisões acerca das intervenções
manência – e como tais impactam diretamente planejadas para o bairro são determinadas.
no cotidiano de cada indivíduo. Notou-se que
uma infinidade de coisas consideradas básicas Além de todos essas características observa-
na rotina de milhares de pessoas localizadas das no território e na troca de vivências com os
na chamada “cidade legal” tornam-se grandes moradores, foi possível estabelecer uma série
diferenciais e dificuldades na vida daqueles de críticas tanto à prática quanto ao ensino
excluídos do processo de acesso a terra, como, da Arquitetura e Urbanismo, que, por vezes,
por exemplo: receber uma encomenda pelos distancia o aluno ou o profissional da realidade
correios, ter seu lixo recolhido na porta de casa, vivida nas diversas partes da cidade – ou, pior,
ter acesso à água tratada e outras tantas coisas do indivíduo e de sua realidade social, racial e de
mínimas que somadas tornam-se de grande gênero. Dessa forma, tratamos essas questões
impacto na rotina e no acesso a oportunidades. muitas vezes como secundárias e não como
diretrizes ou direções possíveis e necessárias
Outra característica observada ao longo dos na tomada de decisões nas diferentes escalas

Aprendizados
trabalhos na comunidade foi a diversidade e a de atuação, especialmente no tocante a cidade.
heterogeneidade do local, sendo este formado Ao longo deste projeto de extensão notou-se
por diferentes tipos de pessoas, comunidades, importância de aproximar-se da persona. Além
faixas etárias e modos de vida. Como destacado disso, foi possível observar que esse processo de
anteriormente, no início do projeto esperáva- aproximação e participação individual e coletiva,
mos encontrar um total de quatro comunida- num prática de mais escutar do que falar, não
des. Ao final, conhecemos a existência de nove se trata de um processo simples e fácil, sendo
Vilas. Embora não tenho sido possível a troca necessário estimular e criar condições para essa
de experiências com todas as Vilas e lideranças participação comunitária, especialmente den-
da comunidade, notou-se que existem “vários tro de uma realidade em que as pessoas estão
Caximbas dentro do Caximba”, que precisam cansadas de falar e não serem ouvidas, tendo
ser reconhecidos tanto nas narrativas do bairro suas demandas e necessidades ignoradas.
como nas propostas de intervenção pública.
O que observamos foi que o Caximba real
A realidade vivida e as demandas da Vila é um Caximba vivido, mas ainda desperce-
Primeiro de Setembro, por exemplo, não são bido. Por fim, salientamos que, mesmo com
exatamente as mesmas da Vila Dantas ou todas as dificuldades encontradas ao longo
da Vila dos Cruz, embora existam questões do caminho, tratou-se de um processo muito
em comum que precisam ser consideradas. enriquecedor para cada um dos participantes
Existem Vilas mais consolidadas e melhor e que esperamos que esse material reflita essa
servidas por infraestrutura, algumas rece- importância, bem como possa auxiliar as mora-
beram atenção da Prefeitura Municipal em doras e os moradores do local no seu reconhe-
relação à regularização fundiária, enquanto cimento e em possíveis diálogos futuros.
outras enfrentam condições mais extremas
de precariedade habitacional e urbanística, e
suas comunidades sofrem mais preconceito.

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Referências
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