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Urbano Comunitário
para o Bairro Caximba
Projeto de Extensão 2018–2019
Projeto de Extensão “Plano de Desenvolvimento Urbano Comunitário para o Bairro Caximba”
(PDUC Caximba)
Curitiba – Paraná
Abril de 2020
Integrantes da equipe
Orientadores
5
também de muito proveito para a própria comunidade que receberia a atuação
dessa equipe em serviço de suas necessidades
Contexto
O contexto do Caximba Em direção oposta às interpretações que Na Regional do Tatuquara, da qual fazem parte
O Caximba, bairro no extremo sul de Curitiba, constitui um importante vetor de Objetivos
utilizam-se desse cenário para criminalizar os bairros Tatuquara, Campo do Santana e
expansão
Curitiba, da moradia
assim como as demaispopular
grandesno município,urbanas
aglomerações marcado nos últimos anos pela ex-
brasilei- a população que habita tais espaços, a apre- Caximba, de acordo com o IPPUC (2017), em
ras, apresenta uma realidade de contrastes, exemplarmente materiali-
pansão de assentamentos precários. Esse processo espacial em curso revela as sentação desses dados tem como objetivo 2017 existiam 39 assentamentos informais, -
zada pelos espaços de moradia. Tais contrastes colocam à prova a lógica a explicitar logia
as contradições do modelo de urba- que representam 18,36% de todos os
para elaboração de planos urbanísticos, com participação social e interdis- domi-
contradições do modelo de produção da cidade, materializadas pela precarieda-
partir da qual nossas cidades têm sido produzidas, planejadas e geridas, nização deciplinaridade;
Curitiba, que coincide com o das
(ii) promover espaçoscílios da regional.
de diálogo, Nesse contexto,
formação marcadocoletiva
e construção
desafiando-nos a (re)pensar as práticas de ensino-aprendizagem ado-
- demais cidades brasileiras, onde as áreas pela pressão da expansão urbana em direção à
texto o desenvolvimento deque
projetos do conhecimento, pela interação entre universidade e sociedade; (iii) subsidiar a
tadas na formação de profissionais atuarãourbanísticos por parte da gestão municipal
no campo do planeja- mais centrais, com infraestrutura, serviços periferia e pelo conflito derivado da ocupação
mentonosurbano,
últimose a anos,
refletirque criam
de forma expectativas
crítica acerca das e apreensões
estratégias, açõesna população residente, comunidade
e ambientalmente parapara
adequados participar
a reali- de forma
de ativa e crítica
áreas de dosambiental,
fragilidade projetos destacam-se
de intervenção
em especial
e ferramentas nos na
adotadas que vivem em
execução assentamentos
da política informais.
urbana municipal. urbana.
zação da vida das pessoas, não estão dispo- os espaços de moradia popular do Caximba
níveis nem acessíveis para a população que produzidos nas últimas duas décadas.
ocupa a base da pirâmide social e/ou que faz
parte de grupos sociais em condição de mar- O Caximba localiza-se no extremo sul de
Metodologia
49°16'24'' ginalização, como raça, gênero, origem etc. Curitiba, faz divisa com os municípios de
Araucária e Fazenda Rio Grande, e seu ter-
BRASIL O desenvolvimento do
Esse modelo de urbanização que caracte- PDUC pressupõe
ritórioaé marcado
inter-relação entre ensino,
pela presença de glebaspesquisa
PARANÁ
e fragmentação
riza-se pela extensão, que se realizará
do território e a pela adoção de procedimentos
não parceladas metodológicos
e antigas chácaras. Segundo que
25°25'42''
segregação socioespacial, explica porque a informações oficiais o sul de Curitiba carac-
Centro
ocupação de áreas de risco e ambientalmente teriza-se também pela presença de remanes-
frágeis é para muitas famílias a única opção centes florestais e várzeas de rios preservadas,
textos, planejamento, gestão e avaliação das ações desenvolvidas; execução de
para viver na cidade, mesmo que esta condi- com áreas de fragilidade ambiental e rema-
24''
atividades em articulação com disciplinas
ção os sujeite a um cotidiano de permanente
da graduação em Arquitetura e Urba-
nescentes da Floresta Ombrófila Mista, que
nismo
precariedade, e outros
violência projetos de extensãoabrigam
e estigmatização. em curso no bairro;
espécies construção
de vegetais de espaços
e animais,
de formação junto à comunidade; ealguns acompanhamento das ações
ameaçados de extinção, emosexecução
dentre
pelo poder
A interpretação muitaspúblico.
vezes parcial e equi- quais a Araucária e o Bugio (IPPUC, 2010).
25'42'' PARANÁ
vocada da ocupação de áreas impróprias para
moradia por estes grupos sociais, conforme Na década de 1990 ocorreram as primeiras
Município de Curitiba argumenta Bolaffi (1976), tem historicamente ocupações populares no bairro, implanta-
Divisas de regionais ignorado as reais causas e a natureza dos pro- das principalmente na várzea do rio Barigui,
Divisas de bairros blemas da habitação no Brasil. A primeira diz situada no limite de Curitiba com o Município
respeito à lógica que conduz a produção da de Araucária. Parte dessas ocupações estão
Caximba Regional Pinheirinho
cidade capitalista, que de acordo com o autor, assentadas em áreas destinadas à formação
Bairro Caximba confere ao solo urbano funções econômicas de wetlands – margens de rios sujeitas a alaga-
que se afastam do papel que ele deveria desem- mentos parciais ou completos, que segundo o
penhar para a realização da vida das pessoas, e Decreto Estadual 5.412/2005, integram o Sistema
6 que priorizam a sua realização como mercadoria. de Recuperação Ambiental do Rio Barigui e por 7
Uma questão historicamente presente na execução da política urbana isso devem ser protegidas. (SORRENTINO, 2018).
e habitacional do Município de Curitiba deriva da relação entre a pro- A esta dimensão, da priorização da realização
dução dos espaços populares de moradia e a dimensão ambiental, a do solo urbano como mercadoria, somam-se Conforme diagnóstico realizado pela Organi-
partir da qual explicitam-se uma série de contradições e conflitos. outros aspectos, ligados à lógica a partir da zação Não Governamental TETO (2017), a auto-
De acordo com Silva (2012), 61,88% dos espaços informais de mora- qual a sociedade brasileira se estruturou, mar- construção das casas nesses assentamentos
dia na metrópole de Curitiba estão situados em Áreas de Preservação cada por enormes fraturas sociais derivadas iniciou com barracos de madeira e lona e a maior
Permanente (APPs) e 10,26% em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). da origem, raça, credo, gênero dos diferentes parte das famílias morava anteriormente de
A ocupação dessas áreas acompanha a urbanização de Curitiba e demais grupos sociais, aprofundadas e ao mesmo tempo aluguel na região sul de Curitiba, em especial
municípios metropolitanos, não está restrita aos espaços de mora- viabilizadas pelo modelo de desenvolvimento nos bairros Pinheirinho e Sítio Cercado. A renda
dia popular, tem ocorrido de maneira formal e informal, mas nas últi- econômico, que nas cidades se materializa espa- mensal dessas famílias era de no máximo
mas duas décadas tem se destacado pela produção de novas favelas cialmente, conforme apontamos, pela fragmen- R$ 1 mil (aproximadamente 2 salários mínimos
na região sul do município polo, onde se localiza o bairro Caximba. tação territorial e a segregação socioespacial. na época) e dentre os principais motivos que
6 7
levaram a população a morar nas ocupações do suas necessidades habitacionais. A narrativa Justificativa e Resultados
bairro foram a falta de recursos para se manter da ausência e da carência tem justificado mui-
no lugar de origem e o fim do aluguel social. tos processos de remoção de comunidades que Considerando a justificativa para a concepção do PDUC Caximba, bem como os
Nos últimos dez anos as ocupações do Caxi- vivem nesses espaços, marcadas na maioria resultados observados a partir da sua execução, podem ser destacadas diferentes
mba vêm apresentando um crescimento da vezes pela violência, cujas soluções muitas dimensões: do ensino, da produção do conhecimento, da formação crítica, do
expressivo, se expandindo em direção a novas vezes pioram e aprofundam as condições de impacto e da transformação social. Em primeiro lugar, possibilitou experimentar
áreas e também por adensamento dos assen- vida dessa população, como observou Vasco e (re)pensar práticas de ensino, especialmente as voltadas à formação de profis-
tamentos existentes. Este processo agrava (2018) ao estudar o caso de remoção de famílias sionais que atuarão no campo do planejamento e do projeto urbano, que partis-
a situação de risco de acidentes ambientais uma favela em Curitiba, com mais de 40 anos de sem da vida cotidiana, da práxis e do reconhecimento do espaço urbano como
e as condições de precariedade habitacio- existência, para um conjunto habitacional pro- um produto social. Além disso, sua execução desafiou os estudantes envolvidos
nal, que caracterizam em geral os assenta- duzido pelo Programa Minha Casa Minha Vida. a colocar em prática o arcabouço teórico-metodológico adquirido durante sua
mentos populares e informais no Brasil. formação acadêmica na universidade. Outro aspecto foi a oportunidade de troca
A partir do exposto, entendemos que o desafio de saberes entre docentes e discentes de diferentes campos disciplinares, e des-
Embora o enfrentamento do risco e da preca- proposto por Nascimento (2019) não é apenas tes com a comunidade externa envolvida, em especial a população residente no
riedade ainda constitua um grande desafio para um desafio da gestão pública, mas também das bairro. Além disso, a experiência proporcionou a concretização da relação entre
a promoção do desenvolvimento socioespacial instituições de ensino superior, responsáveis ensino-pesquisa-extensão, a partir da articulação das atividades desenvolvidas,
das cidades brasileiras e os esforços para seu pela formação dos urbanistas que receberão a com temas e questões investigados pelos docentes que integram a equipe. Por fim,
enfrentamento não possam ser arrefecer, as atribuição de conceber e executar os planos, no que diz respeito ao impacto e transformação social, viabilizou a construção
experiências de urbanização de assentamentos programas e projetos de intervenção nesses coletiva do pensamento crítico acerca da realidade vivida no bairro e o fomento da
precários implementadas nas últimas déca- assentamentos populares. Este desafio articu- autonomia da comunidade.
das no país revelaram também a necessidade la-se diretamente à realidade encontrada no
de revisar e repensar indicadores, critérios e Caximba, bairro para o qual tem sido pensadas
linguagens a partir dos quais os planos, pro- intervenções que criam expectativas e apreen- Objetivos
gramas e projetos de intervenção têm sido sões na população residente, em especial nas
justificados, concebidos e implementados, comunidades que vivem nos espaços de moradia Contribuir com a formação dos estudantes envolvidos,
tornando imperativo reconhecer também a com algum tipo de restrição legal à ocupação, a partir da experiência concreta da vida das comunidades num bairro popular;
potência desses espaços de moradia popular e caracterizados pelas condições urbanísticas
não apenas suas carências. Conforme destaca mais precárias e frágeis, que convivem com o Exercitar e construir coletivamente uma metodologia para elaboração de planos
Nascimento (2019), considerando que entre 70 medo do despejo e a condição de transitoriedade e projetos de intervenção urbana, com participação social e interdisciplinaridade;
e 85% da provisão habitacional brasileira deriva permanente, derivados das práticas de remoção
da autoconstrução, a narrativa da precariedade e violência a que historicamente estão sujeitos. Promover espaços de diálogo, formação e construção coletiva do conhecimento,
e do baixo desempenho dessas casas não deve por meio da interação entre universidade e sociedade;
e não pode se sobrepor e/ou ignorar as efica-
zes respostas dadas pelos seus moradores às Subsidiar a comunidade para participar de forma ativa e crítica
da elaboração de planos e projetos de intervenção urbana no bairro.
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Delimitação aproximada das Vilas
de acordo com relatos de moradores
APA do Iguaçu
e Queiroz (2019)
Lei Municipal 9.800/00
Refúgio do Bugio
Decreto Municipal 327/2015
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Campo de Santana Vila São João Batista
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Vila dos Cruz
Vila Juliana
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Vila 29 de Março
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ARAUCÁRIA P
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Aterro
do Caximba
Rio Barigui
Rio Barigui
Vila Espaço Verde
Vila Abraão
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FAZENDA RIO GRANDE
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Es
1999
Evolução da ocupação
do Caximba 2007
12
2011 2016
2014 2019
Linha do tempo
Reunião para formação da equipe no MPPR, com palestra
da Assistente Social e Mestre em Planejamento Urbano
Kelly Maria Christine Mengarda Vasco, que apresentou os
resultados da sua Dissertação de Mestrado defendida no
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano da
UFPR, intitulada “O Programa Minha Casa Minha Vida como
ferramenta de intervenção nas favelas de Curitiba: o caso da
Vila Santos Andrade”
AGOSTO
NOVEMBRO
SETEMBRO
DEZEMBRO
OUTUBRO
2018
Início da construção do Reunião para formação Realização de três Reuniões no MPPR para Concepção e produção Visitas ao Caximba para
projeto de extensão PDUC da equipe no MPPR, com visitas ao Bairro articulação dos Projetos de das primeiras maquetes e escuta com a comunidade
Caximba; aproximação palestra ministrada pela Caximba, para Extensão em curso no Caximba mapas para mapeamento e balanço das atividades
do MPPR, formação Profª Madianita Nunes da reconhecimento do (reuniões inter-extensões) participativo com a realizadas no semestre
da equipe de trabalho, Silva sobre a produção dos local, levantamento comunidade
articulações institucionais espaços informais de moradia de dados técnicos
na metrópole de Curitiba e conversas com a
comunidade
16 17
Acompanhamento
Abertura da disciplina
da Audiência Pública
“Tópicos Especiais em
organizada pelo
Urbanismo IV: Cartografias
IPPUC e a Regional
para uma outra Curitiba”,
do Tatuquara, para
que articulou atividades
com o Projeto de Extensão Oficina na Vila Primeiro apresentação do projeto
PDUC Caximba e o Curso de Setembro para Cinedebate com a de intervenção “Bairro
de extensão “Cartografias apresentação e discussão presença dos diretores do Novo do Caximba”. A
para uma outra Curitiba”, do projeto de urbanização filme “Quem mora lá” para Audiência foi cancelada
que dentre as estratégias do assentamento Produção dos materiais os moradores do bairro, no dia da realização e
de ensino-aprendizagem desenvolvidos na disciplina para realização do realizado na Associação de o motivo apresentado
organizou uma aula de de Desenho Urbano 4 no mapeamento comunitário moradores da Vila Primeiro pela administração
campo no bairro segundo semestre de 2018 junto às Vilas do bairro de Setembro pública municipal foi a
execução do programa
p. 25 p. 26 de castração de animai
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
FEVEREIRO
2019
Oficina na Vila dos Cruz
para apresentação e
p. 41 discussão do projeto
Aula magna aberta à Articulação com o curso Aula de campo da disciplina Oficina de mapeamento Realização da de urbanização
comunidade, no âmbito da o Núcleo de Direitos de Desenho Urbano 4 comunitário na Vila primeira tentativa do assentamento,
disciplina de “Cartografias Humanos e o curso de na Vila dos Cruz, para os Primeiro de Setembro de mapeamento desenvolvido na disciplina
para uma Outra Curitiba” Serviço Social da PUC-PR discentes matriculados comunitário na de Desenho Urbano 4 no
e Oficina no MPPR com para contribuição com o na turma do primeiro Vila dos Cruz primeiro semestre de 2019
a Profª Drª Cecilia Maria DRUP do Bairro Caximba semestre de 2019 e equipe
de Morais Machado com todas as comunidades do projeto, acompanhada
Angileli, da UNILA, que de moradores, para
trouxe sua experiência levantamento de
no desenvolvimento de reconhecimento da área
projetos de extensão em visando o desenvolvimento
cursos de Arquitetura e de projeto de urbanização
Urbanismo do assentamento
18 19
Acompanhamento da
Audiência Pública realizada Acompanhamento Confecção e produção
no IPPUC para apresentação da oficina do DRUP, dos primeiros mapas e Idealização
do projeto de intervenção Apresentação de relatório organizada pelo curso de Oficina de mapeamento experimentos cartográficos e elaboração
“Bairro Novo do Caximba” parcial no SIEPE Serviço Social da PUC-PR comunitário na Vila Dantas para produtos apresentados deste caderno
p. 53
NOVEMBRO
JULHO
AGOSTO
DEZEMBRO
SETEMBRO
OUTUBRO
p. 29
p. 47
Segunda tentativa Apresentação dos Produção de relatórios e Fechamento e balanço
Oficina de mapeamento resultados parciais finalização da confecção das atividades
realização do comunitário na Vila Espaço
mapeamento do PDUC Caximba e dos produtos cartográficos realizadas na extensão
Verde participação na roda de
comunitário na
Vila dos Cruz conversa na 11ª SIEPE
com outras equipes de
Acompanhamento Projetos de Extensão em
da Audiência Pública desenvolvimento da UFPR
realizada no Caximba para
apresentação do projeto de
intervenção “Bairro Novo
Caximba”
20 21
Formação do grupo
Os resultados obtidos na execução do projeto foram fruto da soma
de diferentes saberes, que eram constantemente compartilhados
entre os envolvidos, durante esse processo. Os principais espaços
e atividades nos quais essas trocas se efetivaram foram:
23
Mapeamento comunitário Participação em eventos e encontros
interextensão
Esta atividade tornou-se um dos produtos e ações mais relevantes exe-
cutados pelo grupo, a partir da qual foi possível aproximar-se da rea- A participação em eventos, como o 11a SIEPE, e em encontros
lidade e da vida cotidiana das comunidades e identificar os conflitos em que estiveram presentes extensionistas de outros proje-
e contradições presentes no território. Em função das características tos, NCEP e o DRUP (PUC/PR), permitiram a troca de experiências,
da metodologia aplicada, constituiu um dos momentos mais ricos de a percepção da necessidade de organização e o registro perma-
aprendizado, pela possibilidade de troca de conhecimento entre os sabe- nente da memória do projeto, o exercício de capacidade de sín-
res popular e da academia e pela necessidade de enfrentamento das tese e das ferramentas e habilidade de comunicação do grupo.
dificuldades observadas na sua realização, que precisaram ser contor-
nadas com criatividade, alteridade, perseverança e responsabilidade.
24
Cine Caximba
A atividade consistiu na exibição, na Vila Primeiro de Setembro, do
documentário “Quem mora lá” (2018) com o objetivo de estabelecer um diálogo
entre as realidades retratadas no documentário, um retrato da luta por moradia
em Recife, e a política habitacional em Curitiba e Região Metropolitana.
L
ançado
em 2018, o documentário foi pro- mais moradores. Os alunos, envolvidos tam-
duzido por Valete de Copas Filmes, em bém na montagem, distribuíram panfletos
parceria com a Habitat Brasil e distri- informando sobre a atividade nas redondezas.
buído pela produtora Taturana Mobilização Durante a realização da atividade, no entanto,
Social. Nesta atividade estiveram presentes por conta da chuva, foi preciso deslocar a pro-
tanto alunos e professores envolvidos no jeção do filme para o interior da Associação.
projeto, quanto os diretores do filme – César Ainda assim, muitos moradores comparece-
Vieira e Conrado Ferrato, que fizeram inter- ram e participaram ativamente do debate.
venções durante o filme e abriram um diá-
logo com a comunidade ao final. O objetivo Temas relacionados à efetivação do direito
foi mobilizar os moradores do Caximba pela à moradia, tais como especulação imobi-
aproximação entre suas histórias de vida e liária, políticas habitacionais e segrega-
a resistência contra remoções forçadas das ção socioespacial, entre outras, fizeram
famílias da pequena Comunidade do Pocotó, parte das questões levantadas na tarde
no bairro de Boa Viagem, retratada no filme. do dia 27 de abril de 2019, em Curitiba.
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Acompanhamento das
Audiências Públicas
Com o anúncio pela Prefeitura Municipal de Curitiba, no primeiro
semestre de 2019, da realização de Audiências Públicas para a
apresentação do projeto de urbanização denominado “Projeto
Bairro Novo Caximba”, o acompanhamento dessa instância de
participação foi incluída entre as atividades do PDUC Caximba.
A Vila 29 de Outubro
A Vila 29 de Outubro está localizada no Caximba e a ocupação da área data
do final de 2009, ano que coincide com o encerramento das atividades
do Aterro Sanitário do Caximba. Desde então a Vila foi alvo de ações de
reintegração de posse, com ações de resistência por parte os moradores,
que acabam voltando para a área. Atualmente é a maior e mais reconhecida
Vila entre as ocupações do bairro, com uma estimativa de 1.233 domicílios.
Apresenta um cenário de extrema precariedade em termos de infraes-
trutura e serviços urbanos e ausência de políticas públicas por parte do
estado. Além disso, condições construtivas das habitações, de materiais
e técnicas, precárias e insalubres. Outra limitação relaciona-se à ocupação
de áreas de inundação e/ou do Refúgio do Bugio, que apresentam restri-
ções legais e físicas para edificação (SORRENTINO, 2018).
29
Síntese das Audiências Públicas
Conforme veiculado na mídia, a administração De acordo com a Prefeitura Municipal as
municipal organizou Audiências Públicas para Audiências Públicas seriam realizadas semanal-
apresentar a proposta de intervenção no bairro mente no Centro de Referência de Assistência
aos moradores e interessados. As Audiências Social (CRAS) Caximba. O grupo do PDUC
Públicas foram conduzidas por gestores da Caximba fez cinco tentativas de participar das
Prefeitura Municipal, de forma expositiva, Audiências Públicas no bairro, sendo duas can-
sendo a apresentação sinteticamente composta: celadas sem aviso prévio ou divulgadas em um
i. de um breve diagnóstico com dados acerca da veículo de comunicação e as demais ocorridas
extensão territorial e da população residente na nos dias 11/07, 18/07 e 25/07 de 2019. O grupo do
Bacia do Rio Barigui, contabilizada como aquela projeto de extensão conseguiu também par-
a ser beneficiada pelo projeto; ii. de imagens da ticipar de uma apresentação do projeto ocor-
Vila 29 de Outubro, com destaque para a áreas rida no Instituto de Pesquisa e Planejamento
de habitação que ocupam as várzeas do rio Urbano de Curitiba (IPPUC), durante a reunião
ou estão sujeitas a riscos ambientais; iii. pela do Conselho Municipal de Urbanismo (CMU).
Prefeitura x Mídia delimitação da área ocupada e do número de
domicílios a serem removidos (1.147), bem como
Grande parte do reconhecimento da existência da Vila 29 de Outubro, da área ser regularizada e urbanizada com 546
para além do território do Caximba, deriva da repercussão de uma maté- unidades habitacionais; iv. da área que, após
ria apresentada no programa “Caldeirão do Huck”, exibido pela Rede a remoção dos domicílios, será destinada para
Globo no dia 8 de setembro de 2018 (TRIBUNA, 2018). A visibilidade e a recuperação ambiental, implantação do par-
polêmica em torno da área surgiu da negativa do apresentador em refor- que, da infraestrutura de macrodrenagem e a
mar a casa da moradora, em função da situação irregularidade da ocupa- localização do dique de drenagem; v. e da área
ção e da comparação feita pelo apresentador da realidade do local, com destinada a receber as famílias removidas.
o Haiti, um dos países mais pobres do continente americano, devido
ao cenário de extrema pobreza e precariedade urbana encontrados.
30
Questões formuladas pelo grupo do PDUC Considerações da equipe do PDUC Caximba acerca do
Caximba durante a apresentação no CMU no acompanhamento das Audiências Públicas para apresentação do
IPPUC e respostas obtidas “Projeto Bairro Novo Caximba”
1. Qual a previsão de tempo de implementação do projeto, após A dinâmica de apresentação da proposta nas qualitativos de precariedade habitacional, como
a resolução dos trâmites burocráticos necessários? Audiências Públicas realizadas no bairro foi coabitação familiar, renda insuficiente para
expositiva e adotou ferramentas gráficas e de pagamento de aluguel ou aquisição de habitação.
Resposta: Em até 5 anos. linguagem que nem sempre são facilmente
traduzidas pela população em geral. Além disso, Outra questão importante na definição de proces-
2. Por que não foram incluídas as outras Vilas na proposta e não previu espaços para coleta de sugestões e/ou sos de relocação necessários a atenção ao direito
promovido um processo mais participativo na sua elaboração? demandas dos moradores. Não obstante, obser- à moradia adequada, que não foi possível obser-
vou-se que a população presente manifestava var nos produtos apresentados nas Audiências
Resposta: As outras Vilas são loteamentos clandestinos e o poder interesse no desenvolvimento do projeto. Públicas, refere-se a aspectos que são próprios
público não pode intervir. Em relação ao processo participativo, dos modos de vida construídos pelas comuni-
estão ocorrendo ações de capacitação e assistencialismo no A proposta da intervenção foi apresentada em dades, que deveriam condicionar as soluções
bairro (consideradas participação), mas a parte técnica da nível de estudo preliminar, com desenhos ela- para a organização da estrutura fundiária, a
proposta não foi elaborada de forma participativa. borados sobre imagem aérea, sem levantamento regularização jurídica da posse ou da proprie-
preciso da estrutura fundiária, implantação dos dade, a tipologia das habitações e a definição do
4. Como pretende-se enfrentar a questão do domicílios, vias e caminhos e outros elemen- local de recepção de cada uma das famílias no
tráfico de entorpecentes no bairro? tos e informações socioespaciais necessários novo assentamento. Esses aspectos têm relação
ao detalhamento de um projeto de intervenção com a composição e tamanho das famílias, as
Resposta: Não foi dada uma resposta objetiva nesse aspecto. urbana desta natureza, tais como número e perfil relações de vizinhança e solidariedade desen-
de composição das famílias, renda, forma de volvidas, o tipo de acesso à habitação (compra
6. Qual o valor do financiamento solicitado para a Agência acesso à habitação (própria ou aluguel), for- ou aluguel) no local de origem, dentre outros.
Francesa para a implantação do projeto? mas de apropriação e uso dos espaços públicos,
padrões de ocupação e tipologia das moradias, Outro ponto refere-se ao fato de que a inter-
Resposta: 39 milhões de euros. dentre outros. Foram apresentadas também venção proposta restringe-se à Vila 29 de
perspectivas aéreas da intervenção, que des- Outubro e não atinge as demais Vilas do bairro,
tacavam o parque a ser implantado e algumas que também enfrentam questões de natureza
Durante a apresentação os técnicos do IPPUC reforçaram também a quadras nas quais figuram novas habitações urbanística, complexas e diversas, conforme
tese de que, apesar da intervenção incluir apenas a Vila 29 de Outubro, a serem construídas. Nessas perspectivas, as constatado no mapeamento comunitário
a urbanização do bairro e os projetos de ampliação dos equipamentos novas habitações estão implantadas na área elaborado no âmbito do PDUC Caximba.
comunitários previstos beneficiarão todos os moradores do Caximba. remanescente da Vila 29 de Outubro que sofrerá
relocação, e que está indicada na implantação Embora considere-se necessária a intervenção
do projeto como aquela a ser urbanizada. urbanística no bairro, em função das condições
de precariedade e das questões de natureza
Embora se reconheça como um ponto positivo o socioambiental, a partir do acompanhamento
fato da área destinada para receber os domicílios das Audiências Públicas não foi possível cons-
removidos estar localizada a uma distância de tatar a adequabilidade do projeto à realidade
600 metros da área de origem, conforme infor- e complexidade do Caximba, a atenção aos
mado pelo técnicos, na proposta apresentada critérios para promoção do direito à moradia
não é possível verificar com segurança se a área adequada, nem a exequibilidade do projeto no
destinada para os novos domicílios será sufi- prazo informado pela Prefeitura Municipal.
ciente para receber os 1.147 domicílios a serem
removidos de acordo com o projeto. Além disso,
se tal número corresponde na realidade ao total
de famílias residentes da área onde está prevista
a remoção, nem se ele considerou indicadores
32 33
Oficinas de
mapeamento
comunitário
O que é e quais O mapeamento comunitário é uma meto-
os objetivos da dologia de análise, reconhecimento e apro-
atividade? ximação do território, a partir da ótica da
população. Parte do princípio de que os
moradores são os indivíduos melhor capacitados para reconhecer
e qualificar os problemas e potencialidades existentes no território
em que vivem. O objetivo foi produzir um entendimento territorial
a partir da perspectiva comunitária, considerando os imaginários
individuais e coletivos que legitimam e oportunizam olhares frag-
mentados ou contínuos nesta área da cidade. Além disso, buscou
empoderar as pessoas que vivem nas diferentes comunidades, tor-
nando-os sujeitos na elaboração da leitura da realidade do Caximba.
35
Como foram Cada Oficina foi realizada ao longo de uma Em quais
desenvolvidas tarde, em dias previamente definidos pelas Vilas foram
as Oficinas? comunidades, a partir da utilização de maquete, realizadas as
fotos aéreas e ícones gráficos, para identificação Oficinas?
dos lugares, usos e formas de apropriação do território pelos moradores.
A partir do uso dessas ferramentas, o mapeamento era realizado de forma Foram realizados em três das nove Vilas que compõem o
voluntária pelos moradores. Na escala do bairro o mapeamento comuni- bairro: Primeiro de Setembro, Espaço Verde e Dantas.
tário teve como principais objetivos convidar moradores e moradoras a
mostrar sua visão do Caximba como um todo, evidenciando os principais
acessos, usos, problemas, potencialidades e rotinas diárias na apropriação
do território, bem como as relações existentes entre as diferentes Vilas Primeiro Mapeamento: Vila Primeiro de Setembro
que compõem o bairro. Na escala do assentamento o mapeamento teve
como objetivo identificar sujeitos, lugares, relações e formas de apropria- A primeira oficina aconteceu na Vila Primeiro Setembro e consistiu em
ção do espaço, que dão identidade àquela comunidade e as famílias que uma atividade proposta pelos alunos e parceiros do projeto de extensão,
nelas vivem. a ser realizada em conjunto com seus moradores. A atividade mapeou
numa maquete elaborada na escala do loteamento os pontos considerados
O grupo do projeto de extensão foi responsável por planejar a atividade, importantes no cotidiano dos moradores, como comércios, ruas, a loca-
produzir com antecedência os mapas e ícones, preparar o espaço para a lização das residências dos participantes, entre outros. Além do mapea-
realização da Oficina, divulgar e motivar a comunidade das Vilas para mento, nesse dia foram programadas outras atividades, com o objetivo de
participar e, após a realização da atividade, organizar e registrar as infor- se aproximar da comunidade e conhecer melhor a realidade local.
mações do material produzido pelos moradores. O registro das atividades
produziu mapas e diagramas das ocupações e um registro fotográfico do
processo de mapeamento de cada encontro. Segundo Mapeamento: Vila Espaço Verde
37
Dificuldades A desmobilização social foi o principal desa-
encontradas fio encontrado ao longo da atividade. No
e aprendizados entanto, a percepção desta limitação reafirmou
a necessidade dos mapeamentos comunitários
como mecanismo de investigação das condições socioespaciais da área,
assim como, uma ferramenta de reafirmação dos moradores enquanto
sujeitos-cartografantes.
38 39
A Vila
Primeiro de Setembro
30 de março de 2019, sábado
14h–18h
25 pessoas
Em 2018 a Vila era abastecida pelos serviços de A Primeiro de Setembro está situada no Setor
água, coleta de lixo, energia elétrica e iluminação Especial de Habitação de Interesse Social
pública. A comunidade relatou que o início da (SEHIS) e possui uma pequena área alagável
implantação de infraestrutura, especialmente a nas proximidades do assentamento com a Vila
drenagem urbana, foi realizada pelos próprios 29 de Outubro, com a qual faz limite a oeste.
41
Como foi organizado o mapeamento?
O primeiro mapeamento aconteceu na Vila dos mapeamentos realizados com o auxílio de
Primeiro Setembro. Tal atividade consistiu no uma maquete do território elaborada anterior-
mapeamento de pontos considerados importan- mente. Esse conjunto de atividades foi pen-
tes no cotidiano dos moradores, como comér- sado com o objetivo de aproximar o grupo da
cios, ruas, suas próprias residências e outros. extensão da comunidade e conhecer melhor
Além dessa atividade, nesse dia foram apresen- a realidade do local. Destaca-se que até esse
tados para a comunidade os anteprojetos de momento a atividade de mapeamento no con-
urbanização para o assentamento desenvolvidos texto da extensão tratava-se de um atividade
na disciplina de Desenho Urbano 4 e foi reali- secundária. Após esse momento notou-se a
zada uma dinâmica em grupos com objetivo de importância desse artifício no reconhecimento
identificar as principais carências e anseios da do território e no empoderamento das pessoas.
população local, bem como, a primeira versão
Estabelecimentos
Associação de Áreas de lazer
A
moradores
Campinho
Sorveteria
29 de Outubro
Pesque
Material de Pague
construção
Rua Principal da Vila
Primeiro de Setembro Vias principais
Quitanda
e acesso a Vila 29 de
Outubro Terra
Panificadora
Asfalto
Lanchonete
AA Espaço Verde
eida
de Alm
ado Bruno
g
Estrada Delegado Bruno de Almeida:
ele
concentra uma maior diversidade de servi-
da D
ços públicos - escolas e postos de saúde -
a
além de comércios e pontos de ônibus
Es tr
44 45
A Vila Espaço Verde
27 de agosto de 2019 07 de setembro de 2019
terça-feira, 14h–18h sexta-feira, 09h–12h
5 pessoas 30 pessoas
47
Como foi organizado o mapeamento?
O mapeamento realizado na Espaço Verde foi pensado a partir de uma
metodologia diferente da realizada na Primeiro de Setembro. Nesta Oficina
foram elaborados mapas a partir de ortofotos e imagens de satélite e
pré-definidas pelo grupo da extensão questões consideradas importantes
para compreender a realidade local. A partir delas foram produzidos um
conjunto de ícones para guiar o mapeamento, permitindo a melhor com-
preensão o território do assentamento e a comparação entre as demais
Vilas em que seriam aplicados os mesmos procedimentos e metodolo-
gia. As etapas para a organização da atividade pelo grupo consistiram:
48
Dantas
a
Estrade Delegado Bruno de Almeid
Primeiro de Setembro
1 pessoa
53
Como foi organizado o mapeamento?
O mapeamento seguiu os mesmos procedimentos e a mesma metodologia
adotada na Vila Espaço Verde.
O Carreiro
Como mencionado, existe uma impor-
tante conexão entre as Vilas ao sul da
ocupação do Caximba e as ao norte
(marcada nos mapas anteriores e
seguintes). O carreiro cruza terre-
nos gramados e arborizados entre as
Vilas Dantas e dos Cruz, passando
entre casas da Vila Espaço Verde.
54
Vila Dantas Rua
Fra
ncisc
aB
era
Demandas lde
Pao
lini
Pavimentação
da rua
Drenagem
Retirada de lixo
Aproximadamente metade do
Espaços de lazer assentamento é atendida pela
rede de esgoto
Parquinho
oto
pelas crianças como
área de lazer
esg
Lava car
dee
Red
Mercado
a
ptic
Reciclagem
a sé
s
Fos
Oficina
Limíte da Vila Espaço Verde,
de acordo com os moradores
Igreja
59
Estabelecimentos
Venda de pipas
Venda de doces
Caixa Postal
no mercado
Espaços de lazer
Campinho
Avenida do Comércio:
Carreiro
via que concentra diversos
Pesca comércios do bairro
Demandas
Iluminação
Ponto de alagamento
Vagas em creche
Vagas em escola
Vagas em CMEI
Maior capacidade
na USB Caximba
Falta farmácia
próxima
60 61
O Caximba mapeado … e o Caximba Real
O mapeamento comunitário permitiu verificar Arruamento
relações e interdependências entre as Vilas, problemas Uma das primeiras características observadas
nesse cruzamento de dados foi a inexistên-
compartilhados e falta de informações oficiais cias das ruas criadas entre as disponíveis nos
mapas produzidos pelo Instituto de Pesquisa
precisas e atualizadas sobre a realidade do bairro. e Planejamento Urbano de Curitiba. Sabe-se
que muitas dessas ruas foram abertas pelos
próprios moradores, ou ainda, por aqueles Vias públicas
responsáveis por lotear clandestinamente a cadastradas na
área. Algumas dessas ruas hoje são abasteci- base cartográfica
das por alguns serviços públicos, como por do IPPUC
exemplo, energia elétrica e iluminação pública,
no entanto encontra-se fora do radar da ges- Vias existentes
Observou-se que algumas comunidades compartilham uma relação tão. Porém, em geral, não possuem nome nem não mapeadas
cotidiana mais próxima, como a observada entre a Primeiro de Setembro número de código postal ou pavimentação.
e a Espaço Verde, que não se restringe utilização da via de acesso a esses
assentamentos, mas ao uso dos espaços de lazer e o comércio.
Fragmentação
Em relação aos fluxos e centralidades, foram destacadas no mapeamento
as vias que concentram o comércio e os fluxos de circulação interna, e do Outra característica observada a partir das visitas
Caximba com os demais bairros de Curitiba e de Araucária. Entre estes realizadas às Vilas no Caximba se relacionam
fluxos destaca-se o de pedestres, mapeados nas vias e caminhos utiliza- ao nível fragmentação dessa. Este foi fator foi
dos para acessar ao comércio, transporte coletivo e escolar, aos espaços de de suma importância para o desenvolvimento Divisão das Vilas
lazer e aos equipamentos públicos pela população. das atividades e compreensão do territó- imaginada no
rio. Destaca-se que embora as ocupações do início do projeto
Observou-se também que existem caminhos e vias no interior dos Caximba sejam majoritariamente derivadas do
assentamentos, que cumprem funções importantes de conexão dentro processo de loteamento clandestino, essa rea-
do bairro, como no caso do eixo que cruza a Vila Dantas conectando as lidade não se aplica a todas as subdivisões da
Vilas situadas ao sul e ao norte, que não figuram no arruamento oficial do ocupação. No início das atividades tínhamos
bairro. Muitas dessas ruas foram abertas ou são mantidas pelos próprios conhecimento de apenas quatro ocupações.
moradores, e hoje abastecidas, mesmo que precariamente, por alguns ser- Ao final, ficou conhecido que, na verdade,
viços públicos, como por exemplo, energia elétrica e iluminação pública, a região é subdividida em nove ocupações.
mas a condição de irregularidade fundiária impossibilita que às suas casas Salienta-se que embora compartilhem uma Divisão das Vilas
seja dado um número predial oficial, deixando seus moradores sem ende- localização geográfica muito próxima, as observada com os
reço, numa condição de subcidadania. vezes diferenciada apenas por uma rua, e moradores ( p. 11)
outras características semelhantes, enfren-
Da mesma forma em que nem todas as ruas constam dos mapas e docu- tam diferentes situações e possibilidades
mentos oficiais, a delimitação e o processo de fracionamento e a dinâmica quanto à regularização e acesso a servi-
de ocupação dos lotes também não é corresponde à realidade. ços, equipamentos e infraestrutura.
62 63
A
partir da experiência de mapeamento com As diferenças também se expressam pelas
a comunidade, num processo de escuta das assimetrias nas relações de poder estabeleci-
suas demandas e reconhecimento da das entre Administração Municipal, lideranças
realidade, foi possível refletir sobre a impor- de grupos, das comunidades e a população em
tância das questões territoriais – localização, geral. Essas diferenças se manifestam na forma
acesso a serviços, equipamentos e infraestrutura como as informações são divulgadas e socializa-
pública, qualidade da moradia, garantia de per- das e como as decisões acerca das intervenções
manência – e como tais impactam diretamente planejadas para o bairro são determinadas.
no cotidiano de cada indivíduo. Notou-se que
uma infinidade de coisas consideradas básicas Além de todos essas características observa-
na rotina de milhares de pessoas localizadas das no território e na troca de vivências com os
na chamada “cidade legal” tornam-se grandes moradores, foi possível estabelecer uma série
diferenciais e dificuldades na vida daqueles de críticas tanto à prática quanto ao ensino
excluídos do processo de acesso a terra, como, da Arquitetura e Urbanismo, que, por vezes,
por exemplo: receber uma encomenda pelos distancia o aluno ou o profissional da realidade
correios, ter seu lixo recolhido na porta de casa, vivida nas diversas partes da cidade – ou, pior,
ter acesso à água tratada e outras tantas coisas do indivíduo e de sua realidade social, racial e de
mínimas que somadas tornam-se de grande gênero. Dessa forma, tratamos essas questões
impacto na rotina e no acesso a oportunidades. muitas vezes como secundárias e não como
diretrizes ou direções possíveis e necessárias
Outra característica observada ao longo dos na tomada de decisões nas diferentes escalas
Aprendizados
trabalhos na comunidade foi a diversidade e a de atuação, especialmente no tocante a cidade.
heterogeneidade do local, sendo este formado Ao longo deste projeto de extensão notou-se
por diferentes tipos de pessoas, comunidades, importância de aproximar-se da persona. Além
faixas etárias e modos de vida. Como destacado disso, foi possível observar que esse processo de
anteriormente, no início do projeto esperáva- aproximação e participação individual e coletiva,
mos encontrar um total de quatro comunida- num prática de mais escutar do que falar, não
des. Ao final, conhecemos a existência de nove se trata de um processo simples e fácil, sendo
Vilas. Embora não tenho sido possível a troca necessário estimular e criar condições para essa
de experiências com todas as Vilas e lideranças participação comunitária, especialmente den-
da comunidade, notou-se que existem “vários tro de uma realidade em que as pessoas estão
Caximbas dentro do Caximba”, que precisam cansadas de falar e não serem ouvidas, tendo
ser reconhecidos tanto nas narrativas do bairro suas demandas e necessidades ignoradas.
como nas propostas de intervenção pública.
O que observamos foi que o Caximba real
A realidade vivida e as demandas da Vila é um Caximba vivido, mas ainda desperce-
Primeiro de Setembro, por exemplo, não são bido. Por fim, salientamos que, mesmo com
exatamente as mesmas da Vila Dantas ou todas as dificuldades encontradas ao longo
da Vila dos Cruz, embora existam questões do caminho, tratou-se de um processo muito
em comum que precisam ser consideradas. enriquecedor para cada um dos participantes
Existem Vilas mais consolidadas e melhor e que esperamos que esse material reflita essa
servidas por infraestrutura, algumas rece- importância, bem como possa auxiliar as mora-
beram atenção da Prefeitura Municipal em doras e os moradores do local no seu reconhe-
relação à regularização fundiária, enquanto cimento e em possíveis diálogos futuros.
outras enfrentam condições mais extremas
de precariedade habitacional e urbanística, e
suas comunidades sofrem mais preconceito.
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