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Alguns fundamentos para

entender a relação Capital e


Trabalho em Marx
Profa. Francilene Costa - Notas de aula
Universidade Federal Do Pará
Instituto De Ciências Sociais Aplicadas
Programa De Pós-graduação Em Serviço Social
Cursos De Mestrado E Doutorado
Marx, ao analisar o modo de produção capitalista e as suas
correspondentes relações de produção e de circulação,
com a finalidade de descobrir e elucidar a lei econômica
que movimenta a sociedade moderna, desenvolveu sua
teoria social tomando o trabalho como processo histórico
fundante da sociabilidade.

Para Marx, em “O Capital”, o trabalho é o fundamento


ontológico-social do ser social; é ele que permite o
desenvolvimento de mediações que instituem a
diferencialidade do ser social em face de outros seres da
natureza. Assim, a condição ontológico-social ineliminável
do trabalho, na (re)produção do ser social, dá a ele um
caráter universal e sócio-histórico
O capitalismo
É uma relação sui generis que se caracteriza pela
compra e venda da força de trabalho e que só se
tornou possível sob determinadas condições e
visando determinados fins.

Surge quando tudo se torna mercadoria, inclusive a


força de trabalho.

Para que isto ocorra é necessário que uma classe (a


burguesia) se torne proprietária exclusiva dos meios
de produção e que outra (o proletariado), não tendo
mais como produzir o necessário para sobreviver,
seja obrigada a vender no mercado sua força de
trabalho.
Em “O capital” Marx começa a desenvolver sua teoria
fazendo o estudo da mercadoria e da sociedade
mercantil simples.

Marx inicia a análise do Modo de Produção capitalista


pela análise da mercadoria. Para o autor, a mercadoria
é a célula da moderna sociedade burguesa. Portanto,
“a riqueza das sociedades onde rege a produção
capitalista configura-se ‘em uma imensa acumulação
de mercadorias’ e a mercadoria, isoladamente
considerada é a forma elementar dessa riqueza”.
A mercadoria
“A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto
externo, uma cosa que, por suas propriedades,
satisfaz necessidades humanas, seja qual for a
natureza, a origem delas, provenham do estômago ou
i
da fantasia.”
“ Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de
ser empregado em valores-de-uso, em coisas que
sirvam para satisfazer necessidades de qualquer
natureza.”
Economia Mercantil

Os homens tiveram inicialmente dificuldades para


intercambiar seus produtos. O produtor buscava
trocar a jarra que havia produzido por um saco de
trigo que ele precisava. Outro produtor oferecia
um carneiro por dois machados que o ferreiro
produzia.
Entretanto, era necessário uma mercadoria, algo que
servisse como medida de valor de todas as demais
mercadorias visando com isso facilitar o intercâmbio
= MOEDA (equivalente geral)
Na sociedade mercantil simples, as mercadorias são
produzidas para serem trocadas no mercado, mas
ainda não existe a divisão entre proprietários dos
meios de produção e proprietários da força de
trabalho. Todos possuem meios de produção e
trocam entre si mercadorias específicas.
Simbolizando mercadoria por M e dinheiro por D,
temos o seguinte esquema:

M – D – M’

Onde M’ é uma mercadoria qualitativamente diferente


de M; caso contrário não teria sentido a troca. Se se
troca M por M’ é porque ambas têm serventia
diferente.
No modo de produção capitalista a situação é outra: a
mercadoria torna-se um meio. O que interessa é o
dinheiro (D) ou, mais especificamente, o aumento do
dinheiro (D’).

O capitalista vai ao mercado e compra mercadorias (M)


(força de trabalho e meios de produção – máquinas,
instalações e instrumentos) com a finalidade de
aumentar o dinheiro. O esquema é este:
D – M – D’
Onde D’ é maior que D; caso contrário o processo de
troca não teria sentido.
Capitalista: compra para vender, isto é, o que ele visa com a
produção de mercadoria é obter mais dinheiro.

A fórmula D – M – D’ exprime o movimento do capital: o ponto


de partida é o dinheiro e o ponto de chegada é mais dinheiro
(Sentido da ação capitalista).

D’ = LUCRO (constitui-se seu objetivo)

✔ Lucro: não se deve a diferença entre os preços de compra


e venda, ocorrentes na esfera de circulação.
✔ O lucro capitalista provém de processos ocorrentes na
esfera da produção, provém de um acréscimo de valor,
cristalizado em M’ e realizado quando o capitalista obtém
D’.
Mercadoria: é o produto que se destina à troca no
mercado.

(...) O produto, para se tornar mercadoria, tem de


ser transferido a quem vai servir como valor de
uso por meio de troca.” (Marx, Op. cit: 47/8)
VALOR DE USO E VALOR DE TROCA

Valor de uso: capacidade de um bem


responder a necessidades específicas.
Exemplo: o martelo tem valor de uso
diferente da caneta. O valor de uso é a
serventia do bem
Valor de troca: qualidade de um bem ser
equivalente a outro com o qual pode ser
trocado.
Os bens têm diferentes valores de uso, mas
devem ter o mesmo valor de troca para serem
intercambiados.
Por exemplo: a função do martelo é martelar e a
da caneta é escrever. Mas, se meu parceiro tiver
um martelo e precisar de uma caneta, terá que
conseguí-la de algum modo, podendo trocá-la pelo
martelo.
Suponhamos que só efetue a troca se lhe dermos
20 canetas por um martelo. Podemos, então, dizer
que o valor de troca de um martelo é 20 canetas
ou que um martelo vale 20 canetas.
O Valor da Mercadoria
Toda mercadoria tem valor e seu valor é
determinado pelo trabalho que está incorporado
nela mesma.

Portanto, o valor de uma mercadoria é igual ao


tempo de trabalho socialmente necessário
para produzí-la.

Tempo de trabalho socialmente necessário:


Para confeccionar um casaco alguns alfaiates
levarão dois ou mais dias. Mas, existe um tempo
social médio para a confecção de um casaco, e este
tempo dependerá do grau de desenvolvimento das
forças produtivas.
São pré-condições para a produção de
mercadorias:

Divisão da sociedade em classes sociais;

Divisão social do trabalho ;

Propriedade privada dos meios de produção.


LEI DO VALOR: É a lei que explica a origem e a
magnitude ou grandeza do valor das mercadorias. Sendo a
mercadoria fruto do trabalho humano e sendo o trabalho
humano a fonte do valor, temos que o valor de uma
mercadoria é determinado pela quantidade ou tempo de
trabalho socialmente necessário para a produção de
determinada mercadoria.

PREÇO: É a expressão monetária do valor, a forma como o


valor aparece para a sociedade. O preço pode divergir do valor,
influenciado pelas condições de oferta e procura, especialmente
pelas condições de monopolização na venda ou mesmo na
compra.
Organização do Trabalho
O PROCESSO DE TRABALHO

São considerados elementos abstratos ou


complexos do processo de trabalho tudo
que, de forma direta ou indireta, interferir
na execução do próprio trabalho: seja o
controle da tarefa; as condições das
ferramentas e do ambiente de trabalho; a
satisfação do trabalhador; a pressão do
empregador etc.
Para conseguir produzir uma mercadoria ou uma quantidade de
mercadorias em menor quantidade de tempo, o produtor não
apenas busca ter instrumentos de trabalho aperfeiçoados como
também busca racionalizar a forma de produção, ou seja,
organizar o trabalho em função do tempo que ele dispõe para
produzir mercadorias.
Com o desenvolvimento da economia mercantil o tempo passa a
ter valor: “ tempo é dinheiro”
Quanto mais barato lhe sai uma mercadoria, maior
facilidade terá de vendê-lo no mercado.
❖ A ERA DAS MÁQUINAS

Os séculos XVIII e XIX caracterizaram-se por uma


profunda transformação econômica que firmou a
burguesia e alterou o processo de industrialização
– de artesanal para mecanizada-, substituindo a
mão-de-obra direta por máquinas.

O aparecimento da máquina hidráulica e da


máquina a vapor, gerou a REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL.
Investiu-se muito no aprimoramento dos processos
produtivos industriais, com expansão de fábricas e
equipamentos com grande capacidade de
industrialização.

Algumas características econômicas desta época:


✔ busca de diminuição de custos e aumento de
lucros;
✔ introdução de equipamentos automatizados;
✔desenvolvimento da produção em série;
✔ maior divisão do trabalho nos processos de
fabricação.
Com o advento da Revolução Industrial, a
produção se complicou mais ainda.
Antes: um alfaiate começava e terminava seu
produto → desenvolvia sozinho todo o
processo produtivo.
Depois: o artesão vendeu sua oficina por não poder
concorrer com a fábrica ou por dívidas e
transformou-se em um trabalhador assalariado.

Na fábrica, já não produzia sozinho todo o artigo –


a roupa, seria feita por muitos operários.
❖ Divisão Técnica do Trabalho
À medida que aquele artesão que se tornou operário
com uma única tarefa de cortar bolsos ou pregar
botões, já não realiza todo o processo produtivo,
cabendo-lhe apenas uma parte desse processo, nada
mais.

Então, para fabricar uma blusa, por exemplo, eram


necessários vários operários, onde cada um
desenvolvia uma tarefa especifica.

Estabelece-se, assim, a Divisão Técnica do Trabalho,


ou seja, é a divisão de atividades dentro de um só
produto, uma só peça ⇒ ALIENAÇÃO
A FÓRMULA GERAL DO CAPITAL OU COMO O DINHEIRO SE
TRANSFORMA EM CAPITAL:

Segundo Marx o ponto de partida para o entendimento da


fórmula geral do capital é o de “que a produção de
mercadorias e o comércio, forma desenvolvida de
circulação de mercadorias, constituem as condições
históricas que dão origem ao capital. Portanto a circulação
de mercadoria é o ponto de partida do capital".

Desenvolvimento da sociedade, evolução e complexidade das


trocas, surgimento do equivalente universal, o dinheiro.
D – M – D’ Comprar para vender.

Partindo das premissas de que o valor tem na


circulação das mercadorias a sua origem e de que,
seguindo estritamente as leis da economia, compra-se
uma mercadoria pelo seu valor, vende-se uma
mercadoria pelo seu valor e, mesmo assim, no final do
processo tem-se mais dinheiro do que o investido
inicialmente, esta fórmula proporciona as bases para a
explicação do surgimento e expansão do valor e do
mais (sobre) valor.
A FORÇA DE TRABALHO É
MERCADORIA

A força de trabalho
humana tem
valor-de-uso para os
donos dos meios de
produção e são
adquiridas por meio
da troca pelo salário.
FORÇA DE TRABALHO: É o conjunto de
faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e
na personalidade viva do ser humano, as quais ele
põe em ação toda vez que produz valores de uso
de qualquer espécie. No modo de produção
capitalista a força de trabalho transforma-se em
mercadoria, pois passa a possuir um valor de uso e
um valor de troca.
VALOR DE USO DA FORÇA DE TRABALHO: É a
capacidade que a mesma possui de produzir valor de uso e valor
quando transforma a matéria prima em novos produtos úteis para a
sociedade.

VALOR DE TROCA OU VALOR DA FORÇA DE


TRABALHO: É a quantidade de tempo de trabalho socialmente
necessário para mantê-la e reproduzi-la, ou seja, o valor da força de
trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção
e reprodução do trabalhador. O valor da força de trabalho é
representado pelo salário.
TRABALHO NECESSÁRIO: É o tempo de trabalho que
o trabalhador necessita para a produção do valor equivalente ao
valor dos seus meios de subsistência.

TRABALHO EXCEDENTE: É o tempo de trabalho em


que o trabalhador produz gratuitamente para o empregador ou
patrão.

MAIS VALIA: É o valor adicional que a força de trabalho


gera no processo de produção e que é apropriado pelo capitalista.
É o sobre-valor: o trabalho não pago pelo capitalista.
TAXA DE MAIS VALIA: A taxa de mais valia ou grau de
exploração do trabalho é dada pela razão entre trabalho
excedente e trabalho necessário (taxa de mais valia = t.e. / t.n.).

A mais valia é a lei econômica fundamental do modo de produção


capitalista, pois mostra que a produção e a acumulação
capitalistas ocorrem através da exploração do trabalho
assalariado pelo capital, ou seja, por meio da exploração do
proletariado pela burguesia.

A força de trabalho produz mais valia, pois o seu valor é sempre


menor do que o valor que ela cria no processo de trabalho.
MAIS VALIA RELATIVA

É o aumento da extração de mais valia através do aumento da


produtividade obtido pelo incremento do progresso técnico, nos
setores que produzem bens e serviços para os trabalhadores. O
aumento da produtividade baixa o valor destas mercadorias, com
uma conseqüente redução do tempo de trabalho necessário e
aumento do tempo de trabalho excedente
.
A introdução de inovações tecnológicas contribui
para o aumento do tempo de trabalho excedente
sem ampliação da jornada e contribui, pois para o
acréscimo do excedente apropriado pelo capitalista.

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