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CONCEITOS GERAIS:
M→D primeira metamorfose da mercadoria: venda. mercadoria com valor de troca se transforma
em dinheiro. Passagem de uma forma inferior para uma forma superior de riqueza.
D→M segunda metamorfose da mercadoria: compra. dinheiro se transforma em mercadoria com
valor de uso. Passagem de uma forma superior para uma forma inferior de riqueza.
mais-valia: excedente sobre o valor original presente no processo D→M→D, em que D’= D + ΔD.
processo de produção do capital/fórmula do capital:
força de trabalho/capacidade de trabalho: conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem
na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que
produz valores de uso de qualquer espécie.
trabalho concreto:o trabalho concreto é particular (trabalho do marceneiro, do torneiro, analista,etc.)
É universal, ou seja, é comum a todas as formas históricas de produção; a-histórico e não social, pois
é constituído tecnicamente.
trabalho abstrato:socialmente igualado na forma específica que adquire numa economia mercantil.
Uma forma impessoal adquirida através da troca das mercadorias. Medido pelo tempo de trabalho
socialmente necessário.
trabalho:processo de modificação da natureza para a criação de produtos que auxiliam na
sobrevivência. Hoje o trabalho não é feito somente para a sobrevivência, como prova o sistema
capitalista.
Fichamento: O capital - Marx
⛏ LIVRO I - O CAPITAL ⛏
CAPÍTULO I - A MERCADORIA
O valor de uso de uma coisa se refere à sua utilidade. Somente se realiza em seu uso ou em seu
consumo. O valor de uso é abstrato, pois não determina a forma da mercadoria. É suporte material do
valor de troca.
valor de troca:
“O valor de troca aparece, de início, como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de
uso de uma espécie se trocam contra valores de uso de outra espécie, uma relação que muda
constantemente no espaço. O valor de troca parece, portanto, algo casual e puramente relativo; um
valor de troca imanente, intrínseco à mercadoria (valeur intrisèque), portanto uma contradictio in
adjecto.”
“Como valores de uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de diferente qualidade, como valores
de troca só podem ser de quantidade diferente, não contendo, portanto, um átomo de valor de uso.”
“Um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho
humano abstrato. Como medir a grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da
“substância constituidora do valor”, o trabalho. A própria quantidade de trabalho é medida pelo seu
tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua vez, sua unidade de medida nas
determinadas frações do tempo, como hora, etc.”
trabalho abstrato: Socialmente igualado na forma específica que adquire numa economia mercantil.
Uma forma impessoal adquirida através da troca das mercadorias. Medido pelo tempo de trabalho
socialmente necessário.
Contradição entre trabalho concreto e trabalho abstrato: O trabalho concreto, que é o único
elemento passível de ser afetado quantitativamente, como mais ou menos eficiente, mais ou menos
produtivo ao longo do tempo. Não existe produtividade no trabalho abstrato.
diferença negativa entre trabalho concreto e trabalho abstrato: abstração das formas concretas de
trabalho.
diferença positiva entre trabalho concreto e abstrato: a igualação de todas as formas de trabalho
numa troca multilateral dos produtos do trabalho.
modificações do produto como mercadoria: Quando o produto é levado ao mercado para ser
trocado, o trabalho privado adquire a determinação do trabalho social, o trabalho concreto adquire a
determinação de trabalho abstrato ( técnica → quantum do trabalho ), o trabalho complexo é reduzido
a trabalho simples (igualação feita no mercado, trabalho complexo como uma soma de trabalhos
simples) e o trabalho individual é reduzido a trabalho socialmente necessário (o tempo de trabalho é
dado por uma média social dada pelo mercado).
A abstração do valor de uso se dá com a equiparação do valor dos produtos dada pelo mercado.
A forma simples do valor é a relação do valor de uma mercadoria com uma única mercadoria de um
tipo diferente.
Forma Relativa:
→ qualitativamente: o valor de uma mercadoria (no caso, o linho) se manifesta no valor de uso de
outra (o casaco).
Forma Equivalente: Inversões: Personificação do valor, casaco como valor; Atividade criadora do
casaco se apresenta como criadora do valor; A atividade criadora das 20 varas de linho ganha forma
social através da atividade criadora do casaco.
1 casaco
2 onças de ouro
20 varas de linho = 10 libras de chá
1 quarter de trigo
etc. mercadorias
Não é a troca que regula a grandeza de valor, mas sim a grandeza de valor que regula a troca. A forma
relativa possui valor dentro dela, que é dada através do trabalho abstrato medida pelo tempo de
trabalho socialmente necessário. O fundamento regulador do mercado é determinado de modo interno
à mercadoria.
1 casaco
2 onças de ouro
10 libras de chá = 20 varas de linho
1 quarter de trigo
etc. mercadorias
A forma geral do valor representa de modo unitário e comum a todas as mercadorias aquilo que há
nelas de social, o trabalho humano abstrato. Todas as mercadorias agora, de modo unitário, espelham
na corporalidade natural do linho a sua natureza social.
D) FORMA DINHEIRO
1 casaco
2 onças de ouro
10 libras de chá = 2 onças de ouro
1 quarter de trigo
etc. mercadorias
Fichamento: O capital - Marx
O dinheiro é mercadoria geral que serve como materialização do trabalho humano abstrato. O
dinheiro apaga, “magicamente”, todas as determinações da forma valor equivalente parecendo
possuir valor por natureza. Ele encobre o caráter social dos trabalhos privados ao invés de revelá-los.
“O caráter místico da mercadoria não provém, portanto, de seu valor de uso. Ele não provém,
tampouco, do conteúdo das determinações do valor [...] De onde provém, então, o caráter enigmático
do produto do trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria? Evidentemente dessa forma mesmo.
A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material de igual objetividade de valor dos
produtos de trabalho, a medida do dispêndio de força de trabalho do homem, por meio de sua
duração, assume a forma da grandeza de valor dos produtos de trabalho, finalmente, a relação entre
os produtores, em que aquelas características sociais de seus trabalhos são ativadas, assumem a
forma de uma relação social entre os produtos de trabalho.”
“Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias provém, como a análise precedente já
demonstrou, do caráter social peculiar do trabalho que produz da mercadoria.”
Diferença entre o processo de troca e a troca. No processo de troca não são apenas duas mercadorias
que interagem entre si, entram em cena os portadores da mercadoria (proprietários privados). Todas as
pessoas são portadoras de mercadoria. Analisa não somente as mercadorias, mas também os homens
portadores dessas mercadorias. A troca entre proprietários privados aparece subjetivamente como ato
de duas vontades livres e autônomas.
“O conteúdo dessa relação jurídica ou de vontade é dado por meio da relação econômica mesma”
O indivíduo encena o papel legado pela relação econômica. Ele é livre para realizar as necessidades
da mercadoria. Essa torna-se a condição de existência humana, algo totalmente externo ao ser
humano. Marx começa, a partir desse capítulo, a utilizar uma linguagem que remete ao teatro.
A contradição entre trabalho social e trabalho individual (cada indivíduo enxerga sua mercadoria
como equivalente a todas as outras e vice-versa) exige a existência da forma dinheiro. Mas dinheiro
não aparece enquanto produto específico do trabalho individual, ele é produto do trabalho social, ele é
o valor.
“todas as mercadorias são não valores de uso para seus possuidores e valores de uso para não
possuidores.”
de um agente que funcione como medida de valor para as mercadorias, que seria o dinheiro como
ouro (fruto do trabalho social).
Parte da forma dinheiro enquanto mediadora do processo de circulação das mercadorias. Irá descrever
as várias funções do dinheiro no processo de troca.
“Como medida de valor, serve para transformar os valores das mais variadas mercadorias em preço,
em quantidades imaginárias de ouro.”
A mercadoria não é medida em tempo de trabalho socialmente necessário, mas sim através de uma
medida ideal e imaginária. Surge assim a figura do preço, que é a representação da medida do valor.
Padrão dos preços: “O padrão dos preços, ao contrário, mede as quantidades de ouro em um
quantum de ouro, e não de um quantum de ouro no peso do outro. Essa função é determinante para a
legalidade Estatal.” Exemplo: dólar, euro, real, libra esterlina, etc.
“Eu não sei nada sobre o homem sabendo que seu nome é Jacobus.” → A relação do valor que no
início aparecia como valor de uso e valor, vai se afastando de sua origem.
“A confusão sobre o sentido secreto desses signos cabalísticos (dólar, euro, etc.) é tanto maior na
medida em que as denominações monetárias expressam ao mesmo tempo o valor das mercadorias e
partes alíquotas de um peso metálico, do padrão monetário. Por outro lado, é necessário que o valor,
em contraste com os coloridos corpos do mundo das mercadorias, evolua para essa forma reificada
sem sentido próprio, mas também simplesmente social.” Impressão de uma relação unilateral com o
dinheiro, sem a sua significação social do trabalho por trás.
o preço pode mudar, mantendo o mesmo valor. O preço vai sempre orbitar de acordo com a atribuição
social de valor (oferta e demanda), mas sua unidade monetária (padrão) pode mudar o tempo inteiro.
No capitalismo, as contradições não se resolvem, se cria uma camada superficial por cima dessas
contradições. A contradição entre valor de uso e valor precisa de um equivalente universal: o dinheiro.
O dinheiro se torna apenas meio de circulação, sem um fim em si mesmo.
“viu-se que o processo de troca das mercadorias encerra relações contraditórias e mutuamente
exclusivas. O desenvolvimento das mercadorias não suprime estas contradições, mas gera a forma
dentro da qual elas podem mover-se. Este é, em geral, o método com o qual as contradições reais se
resolvem.”
Fichamento: O capital - Marx
“esse processo produz uma duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro, uma antítese
externa, dentro da qual elas representam sua antítese imanente entre valor de uso e valor.”
M→D primeira metamorfose da mercadoria (venda): mercadoria com valor de troca se transforma
em dinheiro. Passagem de uma forma inferior para uma forma superior de riqueza.
D→M segunda metamorfose da mercadoria (compra): dinheiro se transforma em mercadoria com
valor de uso. Passagem de uma forma superior para uma forma inferior de riqueza.
Síntese do processo, vender para comprar: “na medida em que compra e venda são reciprocamente
indiferentes não precisam de modo algum coincidir.” → Lei de Say
“metamorfose total de uma mercadoria envolve, em sua forma mais simples, quatro extremos e três
pessoas dramáticas”: “O vendedor do primeiro ato torna-se comprador no segundo, onde um
terceiro possuidor de mercadorias confronta-se com ele e como vendedor.”
O processo de troca é uno e dúplice simultaneamente. Uno porque compreende tanto a venda como a
compra simultaneamente, dado que um não existe sem o outro, e dúplice porque estão separados, não
apenas conceitualmente, mas, também, temporal e espacialmente.
“da função do dinheiro como meio circulante surge sua figura de moeda.”
“Se o próprio curso do dinheiro dissocia o conteúdo real do conteúdo nominal da moeda [...] ele já
contém latentemente a possibilidade de substituir o dinheiro metálico em sua função de moeda por
senhas de outro material ou por símbolos.”
III. DINHEIRO
“A mercadoria que funciona como medida de valor e também, corporalmente ou por intermédio de
representantes, como meio de circulação, é dinheiro.”
“Como dinheiro tal mercadoria funciona não só apenas de forma ideal, como na medida de valor,
nem sendo suscetível de representação, como no meio circulante. Fixa-o como figura de valor
exclusiva ou única existência adequada do valor de troca.”
a) entesouramento
Vendem-se mercadorias não para comprar mercadorias, mas para substituir a forma mercadoria pela
forma dinheiro. Esta mudança de forma torna-se um fim em si mesma.
Fichamento: O capital - Marx
“O nosso entesourador surge como mártir do valor de troca, um santo asceta no ápice de sua coluna
de metal.”
Ainda não é o modo capitalista pleno, o entesouramento rege formas de sociedade em que as
necessidades sociais estão petrificadas. É um momento do modo de produção capitalista: crises.
b) meio de pagamento
“a luta de classes no mundo antigo, por exemplo, apresenta-se fundamentalmente sob a forma de uma
luta entre credores e devedores.”
c) dinheiro mundial
“o dinheiro se despe de suas formas locais de padrão de medida dos preços, de moeda, de moeda
simbólica e de símbolo de valor, e retorna à sua forma original de barra de metal precioso.”
“é só no mercado mundial que o dinheiro funciona plenamente como mercadoria, cuja forma natural
é, ao mesmo tempo, forma diretamente social de realização do trabalho humano em abstrato.”
Como dinheiro mundial, funciona como forma abstrata da riqueza universal. Ele assume a forma de
metais preciosos, autônoma e universal. (ainda que o dólar seja representante mundial, os metais
preciosos ainda possuem relevância.) A existência da mercadoria se torna condicionada pela
existência do dinheiro.
Na forma de sociedade capitalista, o homem desenvolveu uma forma de organização social que,
embora seja produto exclusivo da ação humana, se desgarra e sobrepõe a todos os homens,
controlando, dirigindo, valorando e mesmo conferindo existência a todo o mundo humano. O dinheiro
aparece,assim, como o ser, o absoluto, a perfeição, o supremo bem, o suprassensível diante das coisas
e pessoas mundanas como não-ser, relativo, imperfeito e sensível. A vida humana, aqui, é um teatro
em que cada um encena o papel das relações econômicas cujo rei é o dinheiro.
A fórmula acima é a fórmula geral do capital. O capital só existe com a transformação do dinheiro em
mercadoria e a transformação da mercadoria em dinheiro (que nessa fase do processo já é capital.)
Fichamento: O capital - Marx
“A forma completa desse processo é, portanto, D - M - D’, em que D’ = D + ΔD, ou seja, igual à
soma de dinheiro originalmente adiantado mais um incremento. Esse incremento, ou excedente sobre
o valor original, chamo de - mais-valia. O valor originalmente não só se mantém na circulação, mas
altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta mais-valia ou se valoriza. E esse movimento
transforma-o [ dinheiro ] em capital.”
“Dinheiro como dinheiro e dinheiro como capital diferenciam-se primeiro por sua forma diferente de
circulação.”
“Na fórmula inversa, D-M-D, o comprador gasta dinheiro para como vendedor receber dinheiro.
Com a compra, ele lança dinheiro na circulação, para retirá-lo dela novamente pela venda da mesma
mercadoria. Ele libera o dinheiro só com a astuciosa intenção de apoderar-se dele novamente. Ele é,
portanto, adiantado.”
“A circulação do dinheiro como capital é, pelo contrário, uma finalidade em si mesma, pois a
valorização do valor só existe dentro desse movimento sempre renovável. Por isso o movimento do
capital é insaciável.”
“O valor torna-se, portanto, valor em processo, dinheiro em processo e, como tal, capital. Ele provém
da circulação, entra novamente nela, sustenta-se e se multiplica nela, retorna aumentado dela e
recomeça o mesmo ciclo sempre de novo. D-D’, dinheiro que gera dinheiro - money which begets
money [...]”
Contradição: como é possível produzir mais-valia se na troca de equivalentes sempre se troca valores
de igual magnitude um pelo outro?
“Nosso possuidor de dinheiro, que ainda é apenas um capitalista em larva, tem de comprar as
mercadorias pelo seu valor, vendê-las pelo seu valor e, no entanto, no final do processo, retirar da
circulação mais valor do que nela lançara inicialmente.”
I. Se forem trocados equivalentes → Não nasce daí mais-valia. Troca entre valores iguais.
II. Se forem trocados não-equivalentes → Não nasce daí mais-valia. Um ganha e outro perde.
Não. O produtor de mercadorias, fora da órbita da circulação, sem entrar em contato com outros
possuidores de mercadorias, não consegue “valorizar o seu valor e consequentemente transformar
dinheiro ou mercadoria em capital”.
“Capital não pode, portanto, originar-se da circulação, e tampouco, pode não originar-se fora da
circulação. Deve, ao mesmo tempo, originar-se e não se originar dela.”
Oposição circulação-produção não é contrariedade. Não pode ser pensada como uma oposição entre
duas coisas externas. De um lado a circulação, de outro a produção.
Oposição circulação-produção é contradição. Isto é, uma oposição entre gêneros que se entrelaçam e
engendram um ser novo contraditório (D-M-D’), ou seja, um ser que possui no interior de si e ao
mesmo tempo a oposição circulação-produção.
D-M-D’: é um gênero contraditório. Produção e circulação ao mesmo tempo e na mesma relação. Não
podem ser consideradas separadamente, constituem/determinam um ao outro.
A modificação do dinheiro em capital só pode ocorrer com a mercadoria comprada no primeiro ato do
ciclo (D-M), mas não com o seu valor, pois são trocados equivalentes, a mercadoria é paga por seu
valor. Assim, a modificação só origina-se do seu valor de uso enquanto tal, ou seja, de seu
consumidor. Para extrair de uma mercadoria o valor de consumo, é necessário encontrar uma
mercadoria cujo próprio valor de uso fosse fonte de valor, cujo verdadeiro consumo fosse objetivação
de trabalho, por conseguinte, criação de valor. Essa mercadoria é a força/capacidade de trabalho.
Apenas o consumo da força de trabalho produz valor, ou seja, apenas o trabalho produz valor.
I. Ela deve ser oferecida à venda pelo seu próprio possuidor. O possuidor deve ser livre proprietário
de sua capacidade de trabalho, de sua pessoa; O possuidor deve vender a sua força de trabalho
somente por um determinado período de tempo, se vende-la em bloco ele deixa de estar vendendo sua
mercadoria (força de trabalho) e se torna um escravo;
II. O possuidor deve vender sua força de trabalho diretamente, e não mercadorias objetivas através de
seu trabalho;
Fichamento: O capital - Marx
Para alguém vender mercadorias distintas de sua força de trabalho deve-se possuir os meios de
produção.
“O valor da força de trabalho, como o de toda outra mercadoria, é determinado pelo tempo de
trabalho necessário à produção, portanto também reprodução, desse artigo específico.” “Em antítese
às outras mercadorias, a determinação do valor da força de trabalho contém, por conseguinte, um
elemento histórico e moral. No entanto, para determinado país, em determinado período, o âmbito
médio dos meios de subsistência básicos é dado.”
“O que, portanto, caracteriza a época capitalista é que a força de trabalho assume, para o próprio
trabalhador, a forma de uma mercadoria que pertence a ele, que, por conseguinte, seu trabalho
assume a forma de trabalho assalariado. Por outro lado, só a partir desse instante se universaliza a
forma mercadoria dos produtos do trabalho.”
“Em todos os países com modo de produção capitalista, a força de trabalho só é paga depois de ter
funcionado durante o prazo previsto no contrato de compra, por exemplo, no final de cada semana.
Por toda parte, portanto, o trabalhador adianta ao capitalista o valor de uso da força de trabalho;
ele deixa consumi-la pelo comprador, antes de receber o pagamento de seu preço; por toda a parte,
portanto, o trabalhador fornece crédito ao capitalista.”
O que determina o valor de troca da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência e o grau de
especialização. Isso depende de valores históricos, culturais, políticos, morais e sociais.
I. O PROCESSO DE TRABALHO
“Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem,
por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se
defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria
natural numa forma útil para a sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a
Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica ao mesmo tempo, sua própria natureza.”
“O estado em que o trabalhador se apresenta no mercado como vendedor de sua própria força de
trabalho deixou para o fundo dos tempos primitivos o estado em que o trabalho humano não se desfez
ainda de sua primeira forma instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence
exclusivamente ao homem.”
O processo de trabalho é a-histórico, ele existe em todas as formas de organização social e antes
destas (abstração).
“O produto - a propriedade do capitalista - é um valor de uso, fio, botas, etc. Mas, embora as botas,
por exemplo, constituam de certo modo a base do progresso social e nosso capitalista seja um
decidido progressista, não fabrica as botas por causa delas mesmas. O valor de uso não é, de modo
algum, a coisa qu’on aime pour lui-même [que se ama por si mesma]. Produz-se aqui valores de uso
somente porque e na medida em que sejam substrato material, portadores de valor de troca. E para
nosso capitalista, trata-se de duas coisas. Primeiro, ele quer produzir um valor de uso que tenha um
valor de troca, um artigo destinado à venda, uma mercadoria. Segundo, ele quer produzir uma
mercadoria cujo valor seja mais alto que a soma dos valores das mercadorias exigidas para
produzi-la, os meios de produção e a força de trabalho, para as quais adiantou seu bom dinheiro no
mercado. Quer produzir não só seu valor de uso, mas uma mercadoria, não só valor de uso, mas
valor e não só valor, mas também mais-valia.”
A mais-valia é a forma social do trabalho excedente no capitalismo. Sua (mais-valia) produção não
ocorre somente na esfera de produção. O trabalhador não recebe por seu trabalho, apenas por sua
capacidade de trabalhar (que foi vendida previamente).
Fichamento: O capital - Marx
capital constante: é a parte do capital que se converte em meios de produção, matéria-prima, materiais
auxiliares e meios de trabalho, que não altera sua grandeza de valor no processo de produção.
capital variável: é a parte do capital que é convertida em força de trabalho muda o seu valor no
processo de produção. Ela reproduz seu próprio equivalente, e além disso, produz um excedente, uma
mais-valia que ela mesma pode variar, ser maior ou menor. Essa parte do capital transforma-se
continuamente de grandeza constante em grandeza variável. Não se resume à soma de salários.
Os meios de produção não podem agregar valor por si só. Apenas o consumo da força de trabalho
agrega valor no produto.
“O que se consome dos meios de produção é seu valor de uso, pelo consumo do qual o trabalho
forma produtos. Seu valor não é , de fato, consumido, nem pode, portanto, ser reproduzido. Ele é
conservado, não porque uma operação ocorre com ele mesmo no processo de trabalho, mas porque o
trabalho de uso, em que existia originalmente, na verdade desaparece, mas desaparece apenas em
outro valor de uso. Os valores dos meios de produção reaparece, por isso, no valor do produto, mas,
falando exatamente, ele não é reproduzido. O que é reproduzido é o novo valor de uso, em que
reaparece o antigo valor de troca.”
tempo de trabalho necessário: primeiro período do processo do trabalho; tempo necessário para o
trabalhador produzir o valor de sua própria força de trabalho, em que produz o valor de sua própria
subsistência.
jornada de trabalho: é medida através do tempo de trabalho necessário e do tempo de mais trabalho.
Apresenta, neste capítulo, a questão da jornada de trabalho no século XIX. Uma luta constante entre
os direitos dos trabalhadores e os direitos dos capitalistas; este capítulo evidencia a luta de classes no
sistema capitalista. A exploração do trabalhador se torna evidente ao analisar casos na Inglaterra em
que a jornada de trabalho chega de 12h até 15h. A diminuição da jornada de trabalho tem sido lenta,
com relutância por parte dos capitalistas.
A massa de mais-valia está em razão direta com o capital variável. Se diminui o número de
trabalhadores, explora-se mais o trabalhador, aumentando a taxa de mais-valia. Portanto, mais-valia
absoluta é obtida:
a) aumentando a jornada de trabalho;
b) aumentando a intensidade do trabalho, e com isso aumentando também o número de mercadorias.
m/v x V
M = { k x a’/a x n ”
O capitalismo não subordina o trabalho apenas formalmente, mas também efetivamente, ao mudar não
apenas a forma social, mas também seu conteúdo.
Fichamento: O capital - Marx
A mais-valia relativa é outra forma de encurtar o tempo de trabalho socialmente necessário fazendo
prevalecer o tempo de trabalho excedente e ampliando assim a taxa de mais-valia. Isso barateia o
preço geral dos produtos no mercado (quantidade menor de trabalho socialmente necessário).
“[...] o processo inteiro só afeta finalmente a taxa geral de mais-valia se o aumento da força
produtiva do trabalho atingiu ramos de produção, portanto barateou mercadorias, que entram no
circuito dos meios de subsistência necessários e consequentemente constituem elementos do valor da
força de trabalho.”
Ou seja, só se aumenta ou diminui a exploração de trabalho (taxa de mais-valia) caso incida sobre os
produtos que estão na cesta de consumo do trabalhador.
Existe uma tendência de aumentar a força produtiva do trabalho para o barateamento da mercadoria
que, consequentemente, gera o barateamento do trabalhador, o que aumenta a geração de mais-valia.
“A mais-valia relativa está na razão direta da força produtiva do trabalho. Sobe com força produtiva
em aumento e cai com força produtiva em queda [...] Por isso, é impulso imanente e tendência
constante do capital aumentar a força produtiva do trabalho para baratear a mercadoria, e mediante
o barateamento da mercadoria, baratear o próprio trabalhador.”
“A realização da mais-valia implica, por si mesma, a reposição do valor adiantado. Uma vez que a
mais-valia relativa cresce na razão direta do desenvolvimento da força produtiva do trabalho,
enquanto o valor das mercadorias cai na razão inversa desse mesmo desenvolvimento, sendo,
portanto, o mesmo processo idêntico que barateia as mercadorias e eleva a mais-valia contida nelas,
fica solucionado o mistério de que o capitalista, para quem importa apenas a produção de valor de
troca, tenta constantemente reduzir o valor de troca das mercadorias.”
A mais-valia relativa nos remete diretamente à produtividade do trabalho advinda de sua forma de
cooperação. Faz-se necessário analisar o processo de trabalho do ponto de vista da cooperação.
CAPÍTULO XI - COOPERAÇÃO
Faz um panorama geral dos tipos de cooperação presentes antes do surgimento do capitalismo para
melhor entendimento do sistema atual de cooperação. Dá alguns exemplos:
Ambas formas diferem completamente da cooperação no capitalismo, que se caracteriza pelo fato de
que os indivíduos não são dominados de antemão, mas sim a partir do momento em que “assinam” o
contrato do trabalho - efetivamente vendem sua força de trabalho e entram no mecanismo de
trabalho. No capitalismo, a dominação não é direta, e muito mesmo palpável. Dessa forma os
trabalhadores se veem como livres, iguais e autônomos.
“A forma capitalista (de cooperação) pressupõe, ao contrário (das formas de dominações diretas),
desde o princípio o trabalhador assalariado livre, que vende sua força de trabalho ao capital.
Historicamente, no entanto, ela se desenvolve em oposição à economia camponesa e ao exercício
independente dos ofícios, possuindo esta forma corporativa ou não. Nesse confronto, a cooperação
capitalista aparece não como forma específica da cooperação, mas a cooperação mesma aparece
como uma forma histórica peculiar do processo de produção capitalista que o distingue
especificamente.”
Os diversos tipos de cooperação não fundam formas diversas da sociedade, ao contrário, são as
formas específicas de sociedade que fundam modos distintos de cooperação. O capitalismo não é uma
forma de cooperação, mas a cooperação é uma forma do capitalismo.
divisão técnica do trabalho: organização do trabalho dentro de uma empresa (entre pessoas);
taylorismo, fordismo, etc.
divisão social do trabalho: divisão do trabalho entre produtores privados isolados (incluindo
empresas), referente à mercadoria, mais-valia relativa, etc. A forma divisão social do trabalho
permanece, e para isso modifica o tempo todo a divisão técnica do trabalho.
As relações entre pessoas dentro da empresa tem um caráter exclusivamente técnico. Os dois aspectos
(técnico e social) ajustam-se um ao outro, mas cada um tem caráter diverso.
Fichamento: O capital - Marx
Todo processo de cooperação exige uma direção. A direção característica do sistema capitalista é
extremamente hierarquizada e despótica em sua forma. Ela não expressa apenas este caráter útil
intrínseco ao processo cooperativo, mas o caráter duplo do trabalho que este dirige.
“Se portanto a direção capitalista é, pelo seu conteúdo, dúplice, em virtude da duplicidade do
próprio processo de produção que dirige, o qual por um lado é processo social e trabalho para a
elaboração de um produto, por outro, processo da valorização do capital, ela é enquanto forma
despótica.”
cooperação simples: caráter geral da cooperação. Mais abstrata, encontrada em todos os modos de
produção, de maneira mais ou menos desenvolvida. Pode produzir mais-valia relativa pela economia
dos meios de produção. Apenas um momento da cooperação capitalista, que é mais complexa.
“A cooperação simples continua sendo ainda a forma predominante nos meios de produção em que o
capital opera em grande escala, sem que a divisão do trabalho ou a maquinaria desempenhem papel
significativo.”
“A cooperação permanece a forma básica do modo de produção capitalista, embora sua figura
simples mesma apareça como forma particular ao lado de suas formas mais desenvolvidas.”
Por um lado, ela retalha e divide os ofícios; por outro, ela combina e associa.
Temos aqui uma divisão técnica do trabalho que tem por meta organizar os distintos trabalhadores
individuais numa forma que potencialize sua própria forma de trabalho individual, transformando uma
força de trabalho independente e isolada em uma grande força coletiva.
“Descendo agora aos pormenores, é desde logo claro que um trabalhador, o qual executa a sua vida
inteira uma única operação simples, transforma todo o seu corpo em órgão automático unilateral
dessa operação e portanto necessita para ela menos tempo que o artífice, que executa alternadamente
toda uma série de operações. O trabalhador coletivo combinado, que constitui o mecanismo vivo de
manufatura, compõe-se porém apenas de tais trabalhadores parciais unilaterais. Em comparação
com o ofício autônomo produz por isso mais em menos tempo ou eleva a força produtiva do trabalho.
O método do trabalho parcial também se aperfeiçoa, após tornar-se autônomo, como função
exclusiva de uma pessoa. A repetição contínua da mesma ação limitada e a concentração da atenção
nela ensinam, conforme indica a experiência, a atingir o efeito útil desejado com o mínimo de gasto
de força. Mas como diferentes gerações de trabalhadores sempre convivem simultaneamente e
cooperam nas mesmas manufaturas, os truques técnicos do ofício assim adquiridos se consolidam,
acumulam e transmitem rapidamente.”
Para Adam Smith, a acumulação primitiva seria um processo prévio que engendrou a acumulação
primitiva. Marx contesta essa ideia.
“Em tempos muitos remotos, havia, por um lado, uma elite laboriosa, inteligente,e sobretudo
parcimoniosa, e por outro, vagabundos dissipando tudo o que tinham e mais ainda. A legenda do
pecado original teológico conta-nos, contudo, como o homem foi condenado a comer seu pão com o
suor de seu rosto.”
Para Marx, o capital só surge com a expropriação de produtor (trabalhador) e meios de produção, e
não através da acumulação primitiva. O mito da acumulação primitiva não explica o porquê dos
trabalhadores terem sido expropriados.
“Na história real, como se sabe, a conquista, a subjugação, o assassínio para roubar,em suma, a
violência, desempenham o principal papel. Na suave Economia Política reinou desde sempre o idílio.
Desde o início, o direito e o “trabalho” têm sido os únicos meios de enriquecimento, excetuando-se
de cada vez, naturalmente, “este ano”. Na realidade, os métodos de acumulação primitiva são tudo
menos idílicos.”
Fichamento: O capital - Marx
Marx vai investigar o processo de expropriação dos trabalhadores e que consequentemente foi a
gênese (como processo) do capitalismo.
“Assim, o povo do campo, tendo sua base fundiária expropriada à força e dela sendo expulso e
transformado em vagabundos, foi enquadrado pelas leis grotescas e terroristas numa disciplina
necessária ao sistema de trabalho assalariado, por meio do açoite, do ferro, da brasa e da tortura.”
Ou seja, a transformação dos produtores em trabalhadores assalariados foi feita à força, por meio da
violência, que foi endossada por leis cruéis contra a “vagabundagem” no reinado de Henrique VII e
Eduardo VI, Elizabeth e Jaime I, na França, na Escócia, etc.
“Outro era o caso durante a gênese histórica da produção capitalista. A burguesia nascente precisa e
emprega a força do Estado para “regular”o salário, isto é, para prolongar a jornada de trabalho e
manter o próprio trabalhador num grau normal de dependência. Esse é um momento essencial da
assim chamada acumulação primitiva.”
Fichamento: O capital - Marx
Não foi uma associação voluntária entre capitalista e proletariado que fundou o capitalismo/capital,
mas sim uma associação forçada e violenta endossada pelo Estado. Essa associação só foi possível
com a expropriação prévia dos produtores.
O capitalismo surge no campo, e não nas cidades, porque funda no campo suas próprias cidades e é
nele, também, que se encontra a fonte de trabalhadores assalariados. Ele surge da transformação das
relações sociais agrárias, que transforma o proprietário de terra em arrendatário capitalista.
I. A separação do trabalhador, antes autônomo, da propriedade dos meios de produção, sua conversão
em trabalho assalariado e seu produto em mercadoria, separam ao mesmo tempo o campo da cidade e
a agricultura da manufatura.
II. O capital possui como seu principal consumidor ele mesmo.
primeiro momento: dissolução dos séquitos feudais e estabelecimento das manufaturas no campo.
segundo momento: dissolução do sistema corporativo (corporações de ofício, sistema fixo,
hereditário) e da usura no ambiente urbano.
terceiro momento: guerra comercial entre as potências capitalistas emergentes (determina quem
dissolverá os métodos de produção tradicionais).
A produção agrária de altíssima concentração deu origem a uma guerra comercial entre os países da
Europa ocidental. Marx estabelece uma ordem cronológica dos países que estavam em processo de
“transição” ao sistema capitalista, através dos momentos citados: Espanha, Portugal (séc. XVI),
Holanda (séc. XVII), França e Inglaterra (séc. XVIII). Assim, começou uma guerra para definir quem
,das potências europeias ocidentais, dominaria o mercado mundial e se tornaria potência (foi a
Inglaterra).
Fichamento: O capital - Marx
quarto momento: dissolução dos modos de produção tradicionais no mundo; sistema colonial.
Agora, tendo o mundo como palco, as potências europeias dão origem a uma guerra de extermínio ao
redor do globo, em busca do metal precioso e matéria-prima. As Américas (extração de metais
preciosos), a Ásia (ópio) e a África (mercado escravagista). Mais uma vez, se comprova que a
“acumulação primitiva” é a expropriação baseada na violência.
A dívida pública se torna mecanismo fundamental para a perpetuação do saque das nações feita pelas
potências europeias. Com as dívidas públicas surge um sistema internacional de crédito, que na
maioria das vezes encobria uma das fontes da acumulação (originária). A expropriação, quando não
feita pela dominação e violência direta, pode ser propagada a outros países (colonizados) através da
dívida pública.
A expropriação faz parte da base do capitalismo, não está presente somente no início, mas também no
meio e fim. Agora não são apenas os trabalhadores que estão sendo expropriados, mas também
capitalistas por outros capitalistas. A expropriação faz parte do mecanismo interno do capitalismo, ela
funda o capital e com ele permanece, é o princípio e o principal; hence é uma expropriação
originária.
“Lá tratou-se da expropriação da massa do povo por poucos usurpadores, aqui trata-se da
expropriação dos poucos usurpadores pela massa do povo.”