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Parte Il A Teoria de Marx Sobre o Valor-Trabalho 1 A TEORIA MARXISTA DO VALOR Teoria e Historia 13 Os criticos de Marx, freqiientemente, langam a ele a censura de no ter provado inteiramente sua teoria do valor-trabalho, mas sim- plesmente decretado como algo ébvio, Outros criticos tém-se mos- ‘trado dispostos a ver algum tipo de prova nas primeiras paginas de O Capital, e langam sua artilharia pesada contra as afirmages com que Marx inicia sua obra. Essa é a abordagem de Béhm-Bawerk em sua critica (Karl Marx e o Fechamento de Seu Sistema: A Teoria Positiva do Capital). Os argumentos de Bohm-Bawerk parecem to convin- centes, & primeira vista, que se poderia, ousadamente, dizer que ne- ‘nhuma critica posterior foi formulada sem repeti-los. Entretanto, toda a critica de Bohm-Bawerk se sustenta ou cai juntamente com os su- postos sobre os quais é construfda: a saber, que as cinco primeiras paginas de O Capital contém a tinica base sobre a qual Marx construiu sua teoria do valor. Nada é mais errbneo do que essa concepgo, Nas primeiras paginas de O Capital, Marx, através do método analitico, passa do valor de troca ao valor, e do valor ao trabalho. Mas o funda. mento dialético completo da teoria de Marx sobre o valor s6 pode ser dado com base em sua teotia do fetichismo da mercadoria, a qual analisa a estrutura geral da cconomia mercantil. Somente apés des- cobrir as bases da teoria de Marx sobre o valor torna-se claro 0 que ‘Marx diz no famoso primeiro capitulo de O Capital, Sé entio a teoria de Marx sobre o valor, bem como numerosas criticas a ela, aparecem sob uma luz adequada, Somente ap6s a obra de Hilferding' comegou- (1) “Béhm-Bawerks Marx-Kritk", Viena, 1904, © artigo citado anterormente, ‘Zur Problemsteliung der theorstichon Oekonomie bei Karl Marx”, Die Neue Zeit Statgart, 1904 ATTEORIA MARXISTA DO VALOR ” se a compreender exatamente o cariter sociol6gico da teoria de Marx sobre o valor. ponto de partida da teoria do valor-trabalho é um ambiente social determinado, uma sociedade com uma determinada estrutura produtiva. Esta concepedo foi freqdentemente repetida pelos marxistas; mas, até Hilferding, ninguém fizera dela a pedra funda- mental de todo 0 edificio da teoria de Marx sobre o valor. Hilferding merece um grande elogio por isto, mas, infelizmente, ele limitou-se a uum tratamento geral dos problemas da teoria do valor, e nao apre- sentou sistematicamente suas bases. Come foi visto na Primeira Parte, sobre o fetichismo da merea~ doria, a idéia central da teoria do fetichismo da mercadoria nao é a de que a Economia Politica desvenda relagdes de producdo entre pessoas por trés das categorias materiais, mas a de que numa economia mer- cantil-capitalista essas relagbes entre as pessoas adquirem necessaria- ‘mente uma forma material, e s6 podem ser realizadas sob esta forma. A habitualmente breve formulagdo dessa teoria sustenta que o valor da ‘mercadoria depende da quantidade de trabalho socialmente necessirio para sua produgio; ou, numa formulagdo geral, que o trabalho esti ‘oeulto por trés do, ou esta contido no, valor: valor = trabalho “mate- tislizado”, E mais exato expressar inversamente a teoria do valor: na economia mercantil-capitalista, es relagdes de producZo entre os ho- ‘mens em seu trabalho necessariamente adquirem a forma de valor das coisas, ¢ $6 podem aparecer nesta forma material; 0 trabalho social s6 pode expressar-se no valor. Aqui, o ponto de partida para a inves- tigaglo no é o valor, mas o trabalho, ndo as transagdes de troca no mereado enquanto tais, mas a estrutura de produgio da sociedade mercantil, a totalidade das relagdes de produgo entre as pessoas. As transagdes de troca no mercado so as conseqiiéneias necessérias, centio, da estrutura interna da sociedade; elas so um dos aspectos do processo social de produgio. A teoria do valor-trabalho nfo est ba- seada numa andlise das transages de troca enquanto tais em sua forma material, mas na anilise das relagbes sociais de produgo que se expressam nas transagves. Capitulo 8 As Caracteristi eristica i da Teoria de Mare 88 Sobre o Valor os capitulo seguintes, coisa qualquer, ou — ois, » Obviamente). Essa segundo as flutuagses 'S, Modifica-se qui sido no mercado, eo seu pegs eon ala arsbin (1 arshin = 71 centimetros ibiu a3 rublos e uma escassez de 20 copeques por lente — tradutor], ATEORIA MARXISTA DO VALOR 7% de uma semana, a quantidade de tecido ofertada ao mercado o fornecimento normal, e seu prego cai para 2 rublos e 75 por atshin. Essas flutuagSes ¢ desvios digrios dos presos, ‘considerados dentro de um perfodo de tempo mais longo, ‘em torno de um prego médio de, por exemplo, 3 rublos por Na sociedade capitalista, esse prego médio nao é proporcional 1-trabalho do produto, isto 6, & quantidade de trabalho neces- para sua producto, mas propercional ao assim chamado “prego yproducio”, que é igual ao custo de producto desse produto mais 0 ero médio sobre o capital investido. Entretanto, para simplificar a , podemos abstrair 0 fato de que o pano & produzido pelo capi- ‘com 0 concurso de trabalhadores assalariados. O método de como vimos anteriormente, consiste em destacar ¢ analisar tipos iuais de relegdes de producdo, que s6 em sua totalidade nos dio ‘quadro da economia capitalista, Neste momento, estamos interes- fem apenas um tipo bisico de relagio de produgdo entre as jas na economia mercantil, a saber, a relaglo entre as pessoas ito produtores de mercadorias isoladas e formalmente indepen tes uns dos outros, Sabemnos apenas que o tecido € produzido pelos jutores mercantis e levado ao mercado para ser trocado ou vendido ‘2 outros produtores de mercadorias. Trata-se de uma sociedade de ‘produtores mereantis, a chamada “economia mercantil simples”, dife- ‘ente da economia capitalista mais complexa. Nas condigbes da econo- mia mercantil simples, os pregos médios dos produtos so proporcio~ nais a seu valor-trabalho. Em outras palavras, 0 valor representa 0 nivel médio em torno do qual flutuam os pregos de mercado, ¢ com ‘0 qual coincidiriam se 0 trabalho social estivesse proporcionalmente distribuido entre os diversos ramos de produgio. Estabelecer-se-ia assim um estado de equilibrio entre os diferentes ramos de produgao. Toda sociedade baseada numa divisio do trabalho desenvolvida supée, necessariamente, certa distribuigdo do trabalho social entre os vvérios ramos da produgo, Todo sistema com divisdo de trabalho é, a0 ‘mesmo tempo, um sistema com distribuigdo de trabalho. Na sociedade comunista primitiva, na famflia patriarcal camponesa, ou na sociedade socialista, 0 trabalho de todos os membros de uma determinada uni- dade econémica é distribuido de antemdo, e conscientemente, entre as tarefas individuais, segundo o carter das necessidades dos membros do grupo e 0 nivel de produtividade do trabalho, Numa economia ‘mereantil, ninguém controla a distribuigao do trabalho entre ramos individuais de produgao e empresas individuais. Nenhum fabricante de ‘tecido sabe quanto de tecido a sociedade necesita mum dado momento,

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