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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

AULA 1 – A MERCADORIA

Cap. I, livro I, O Capital


Profª Dayani Cris de Aquino
Objetivo da aula
• Compreender a teoria do valor-trabalho de Marx.
• Compreender os seguintes conceitos:
• Mercadoria
• Valor de uso
• Valor
• Características do valor
• Substância
• Trabalho concreto
• Trabalho abstrato
• Medida
• Tempo de trabalho socialmente necessário
• Forma
• Forma simples
• Forma desdobrada
• Forma geral
• Forma dinheiro = ouro
O que é mercadoria?
• Definição: É um objeto, resultado do trabalho humano,
capaz de satisfazer necessidades humanas e que é
transferido a outro através da troca.
• Dois fatores que caracterizam uma mercadoria:
• Valor de uso
• Valor
Valor de uso
• Capacidade (não intrínseca, mas sim histórico-social) do objeto
satisfazer necessidades humanas, ou seja, de ser útil.
• Ex.: o ímã tornou-se útil apenas depois da descoberta da polaridade
magnética (fator histórico); o calçado (sapato, sandália etc.) é útil
apenas em algumas sociedades (fator social).
• Valores de uso são qualitativa e quantitativamente diferentes
entre si. Por exemplo, 1 computador  1 casaco. Logo, a
utilidade não pode servir como reguladora da troca.
• O valor de uso realiza-se somente no consumo.
Valor
• Os economistas clássicos (Smith e Ricardo) já haviam teorizado
que o valor das mercadorias seria determinado pela quantidade
de trabalho humano contido na mercadoria ou necessário para
produzir a mercadoria.
• Marx compartilha dessa ideia clássica, mas avança na explicação
do valor identificando três aspectos que o caracterizam:
• Substância
• Medida
• Forma
A substância do valor
• O valor de uso não explica como duas mercadorias podem ser
concebidas como grandezas equivalentes no ato da troca, já que
como valores de uso são qualitativa e quantitativamente diferentes.
• Para que duas mercadorias possam ser trocadas, uma pela outra, é
preciso haver nelas algo quantitativamente equivalente.
• Esse algo “quantitativamente equivalente” chamamos de substância.
• Qual é, portanto, a substância do valor?
A substância do valor
• Essa substância não pode ser uma propriedade geométrica,
física, química ou qualquer outra propriedade natural dos
objetos, essa substância deve ter um caráter social.
• A única coisa que possui caráter social e que está contida em
todas as mercadorias, ou seja, que é comum à todas as
mercadorias é o trabalho humano.
A substância do valor: o duplo caráter do trabalho
humano
• Na explicação clássica sobre o valor não está claro como é possível o
trabalho humano ser algo homogêneo e, portanto, comum a todas as
mercadorias, uma vez que cada atividade laboral é absolutamente
diferente uma da outra e resulta em valores de uso também diferentes.
Ou seja, como o trabalho do pedreiro pode ser comparado ao do
cabelereiro?
• Para superar isso Marx analisa o trabalho humano por duas óticas
diferentes. Todo trabalho humano é a unidade entre:
• Trabalho concreto
• Trabalho abstrato
A substância do valor: o trabalho concreto
• Trabalho Concreto (útil): É a dimensão do trabalho humano
que se diferencia de acordo com cada atividade produtiva.
Por exemplo: o trabalho do pedreiro é qualitativamente
diferente do trabalho do padeiro ou do cabelereiro.
A substância do valor: o trabalho abstrato

• O trabalho abstrato é o que sobra do trabalho concreto ao abstrairmos


todas as características diferenciadoras entre as diversas atividades.
• Trabalho abstrato é “trabalho humano igual”
• É “gelatina de trabalho humano indiferenciado”
• Trabalho Abstrato: É o trabalho reduzido a dispêndio de força de trabalho
humano no sentido fisiológico, é igual quantidade de trabalho humano.
• O trabalho abstrato é validado apenas no ato da troca, por isso ele é de
fato uma categoria social. É a troca que efetua a homogeneização dos
trabalho concretos em trabalho abstrato.
A substância do valor: o trabalho concreto x
trabalho abstrato
• O trabalho concreto e o trabalho abstrato não são atividades
diferentes, mas sim a mesma atividade considerada em seus aspectos
diferentes:
“De um lado todo trabalho é um dispêndio de força de trabalho
humana, no sentido fisiológico, e é nessa qualidade , de trabalho
humano igual, ou abstrato, que ele constitui o valor das mercadorias.
Por outro lado, todo trabalho é um dispêndio de força de trabalho
humana de uma determinada forma e com um objetivo definido e é
nessa qualidade de trabalho concreto útil que produz valores de uso.”
(Marx, p. 53)
A substância do valor: definição
• Portanto, o trabalho abstrato é a substância do valor que
permite colocar diferentes valores de uso dentro de uma
relação de troca, porque é somente o trabalho abstrato a
característica comum à todas as mercadorias.
A medida do valor
• Tempo de trabalho (abstrato) socialmente necessário (TTSN):
• “Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele
requerido para produzir um valor de uso nas condições
dadas de produção socialmente normais, e com o grau social
médio de habilidade e de intensidade de trabalho” (Marx,
livro I, p. 48).
A medida do valor: características do tempo de
trabalho socialmente necessário (TTSN)

Três características:
1. Trabalho nas condições dadas de produção socialmente
normais (nível científico e tecnológico)
2. Trabalho com o grau social médio de habilidade e de
intensidade (qualificação do trabalhador)
3. Tudo isso resulta numa eficiência média, numa
produtividade média
IMPORTANTE

• Valor na teoria do Marx é sempre:

“ tempo de trabalho abstrato socialmente necessário para


produzir uma mercadoria”
A medida do valor: valor x valor de troca

• O valor de troca não é algo casual, não é uma relação


puramente quantitativa intrínseca à mercadoria.
• O valor de troca é o modo de expressão, é a forma de
manifestação de algo externo às mercadorias, mas que as
reduz à mesma unidade: o valor.
• Então, o valor de troca é a expressão do valor das
mercadorias numa relação de troca.
A Forma do valor
• Qual é a forma física que o valor assume?
• DINHEIRO

• O que é dinheiro?
• Dinheiro não é sinônimo de moeda.
• Dinheiro é mercadoria que se tornou, por motivos históricos/sociais, o
equivalente geral do valor das mercadorias.
• Diversas mercadorias podem assumir, e de fato historicamente assumiram (sal,
gado, etc) esse papel.
• Marx deriva logicamente a gênese do dinheiro no capitalismo concluindo que o
ouro é a mercadoria que historicamente assume este papel no capitalismo.
A Forma do valor
A. Forma simples, singular ou acidental
1) A forma relativa do valor
2) A forma equivalente do valor
B. Forma de valor total ou desdobrada
1) A forma relativa do valor desdobrada
2) A forma equivalente particular
C. Forma geral de valor
D. Forma dinheiro: ouro
Forma simples do valor

20 varas de linho = 1 casaco

Forma equivalente (passiva): é


Forma relativa (ativa): é equivalente porque empresta seu
relativa porque expressa “corpo” para expressar, para
seu valor por meio de equivaler o valor de outra
outra mercadoria mercadoria

O importante a se notar aqui é que essas duas mercadorias só se confrontam numa relação de
igualdade porque possuem a mesma substância: o trabalho humano. Contudo, a primeira vista,
este confronto aparece como meramente acidental
Forma desdobrada do valor

= 1 casaco
= 10 libras de chá
= 40 libras de café
20 varas de linho = 1 quarter de trigo
= 2 onças de ouro
Forma relativa = ½ tonelada de ferro
= etc

Forma equivalente
O importante a se notar aqui é as diversas formas nas quais uma mercadoria pode manifestar o
seu valor mostra com mais clareza que o que equivale tais mercadorias no ato da troca é o valor
enquanto gelatina de trabalho humano indiferenciado, e não uma coincidência meramente
acidental
Forma geral do valor

1 casaco =
10 libras de chá =
40 libras de café =
1 quarter de trigo = 20 varas de linho
2 onças de ouro =
½ tonelada de ferro = Forma equivalente
etc =

Forma relativa
O importante a se notar aqui é a forma geral do valor tem de ser uma forma socialmente válida, é
um corpo material que empresta seu valor para equivaler o valor de todas as demais
mercadorias. Este corpo material assumiu diversos tipos ao longo da história: gado, peles, pedra,
tabaco, sal...etc
Forma dinheiro

1 casaco =
10 libras de chá =
40 libras de café =
1 quarter de trigo = 2 onças de ouro
20 varas de linho =
½ tonelada de ferro = Forma equivalente
etc =

Forma relativa

O importante a se notar aqui é o ouro conquistou historicamente a posição privilegiada de ser o


equivalente geral de todas as mercadorias, portanto, o ouro a mercadoria-dinheiro por
excelência.
Dinheiro = mercadoria ouro
• Portanto, na teoria de Marx a mercadoria que foi eleita histórico e
socialmente como dinheiro, mesmo tendo concorrido com outros
metais como o cobre e a prata, foi o ouro.

• Assim, na teoria do Marx dinheiro é necessariamente uma


mercadoria (dinheiro-mercadoria) e no capitalismo essa mercadoria é
o ouro.
Forma preço
• “A expressão relativa simples de uma mercadoria, por exemplo, do linho, na
mercadoria que já funciona como mercadoria-dinheiro, por exemplo, o ouro, é
a forma preço. A “forma preço” do linho é, pois:
20 varas de linho = 2 onças de ouro”

OBS: 1 onça = 28,35 gramas, logo 2 onças de ouro = 56,7 gramas de ouro.

Entre 1717 a 1931: 1 libra esterlina (moeda inglesa) equivalia a 8 gramas de ouro, então no período em que
Marx escreveu 20 varas de linho custavam 7 libras esterlinas .
Conclusão
• Mercadoria é o resultado do trabalho humano, capaz de satisfazer necessidade
humanas e produzido com o intuito da troca.
• Toda mercadoria tem valor e valor de uso.
• As 3 características do valor na teoria de Marx são:
• Substância: trabalho abstrato
• Medida: tempo de trabalho abstrato socialmente necessário
• Forma: dinheiro = ouro
• Na teoria de Marx o dinheiro é necessariamente uma mercadoria
• E no capitalismo essa mercadoria-dinheiro é necessariamente o ouro
• E mais: o ouro, por necessidade lógica, na teoria de Marx, é ainda hoje o equivalente
geral que está por trás dos padrões de preços, ou seja, das moedas de cada país.
Referências
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro I, vol. I, cap. I – A mercadoria. Versão em pdf
disponível no TEAMS.

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