Você está na página 1de 22

Fichamento O Capital - Letícia Almeida

Capítulo 1 - A Mercadoria

1. Os dois fatores da mercadoria: Valor de uso e valor


(substância do valor, grandeza do valor)

-Mercadoria = “um objeto externo, uma coisa a qual pelas suas propriedades satisfaz
necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se
originam do estômago ou da fantasia, não altera nada na coisa.” (p.165)
“Descobrir esses diversos aspectos e, portanto, os múltiplos modos de usar as coisas é um ato
histórico.”

-Valor de Uso = “O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo. Os valores de


uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social
desta.”(p.166). É qualitativo, ou seja, subjetivo, portanto não é ele que estabelece as relações
de equivalência entre as mercadorias.

-Valor de Troca = “a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de uma espécie
se trocam contra valores de uso de outra espécie, uma relação que muda constantemente no
tempo e no espaço.” (é relativo) A troca pressupõe que “algo em comum da mesma grandeza
existe em duas coisas diferentes”, portanto uma relação quantitativa.

“Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho (mercadoria), desaparece o caráter
útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas
concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua
totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato.” (p.168) Assim, o que o
valor de uso e o valor de troca têm em comum, não é uma propriedade da mercadoria,
mas o trabalho humano medido pelas horas para produzí-la, é a substância que dá valor
as coisas nos preços, por meio do dinheiro. Na época, durante o padrão-ouro, era reproduzida
a equivalência na compra e venda do valor do ouro.

→ Valor para Marx: tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de


mercadorias, representado pelo dinheiro.

-O trabalho humano é mercadoria, pois, assim como os produtos da produção, também é


adicionado ao trabalho uma abstração de valor comum a todos, o qual a unidade de medida é
o tempo do trabalho : “O que essas coisas ainda representam é apenas que em sua produção
foi despendida força de trabalho humano, foi acumulado trabalho humano. (independente de
como ele foi despendido) Como cristalizações dessa substância social comum a todas elas,
são elas valores — valores mercantis.” (p.168)
-O trabalho é o que adiciona valor à mercadoria: “um valor de uso ou bem possui valor,
apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato.” e “Enquanto
valores todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho
cristalizado.”

“Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de


uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente normais, e com o grau social
médio de habilidade e de intensidade de trabalho.” Socialmente = de acordo com a produção
tecnológica mais rápida existente.

-A medida que as técnicas de produção avançam, mais barata é a mercadoria que resulta dela:
“Genericamente, quanto maior a força produtiva do trabalho, tanto menor o tempo de
trabalho exigido para a produção de um artigo, tanto menor a massa de trabalho nele
cristalizada, tanto menor o seu valor.” (p.170)

“Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano, sem ser mercadoria. Quem com seu
produto satisfaz sua própria necessidade cria valor de uso mas não mercadoria. Para produzir
mercadoria, ele não precisa produzir apenas valor de uso, mas valor de uso para outros, valor
de uso social.” (p.170)

2. Duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias

“O trabalho cuja utilidade representa-se, assim, no valor de uso de seu produto ou no fato de
que seu produto é um valor de uso chamamos, em resumo, trabalho útil.”, assim “Valores de
uso não podem defrontar-se como mercadoria, caso eles não contenham trabalhos úteis
qualitativamente diferentes.”

“Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição
de existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade
natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana.”,
mas não necessariamente transformação de valores de uso em mercadoria.

3. A forma de valor ou o valor de troca

“as mercadorias apenas possuem objetividade de valor na medida em que elas sejam
expressões da mesma unidade social de trabalho humano, pois sua objetividade de valor é
puramente social e, então, é evidente que ela pode aparecer apenas numa relação social de
mercadoria para mercadoria.” (p.176)
-Deve-se reduzir o valor das mercadorias à mesma unidade, pois “Somente como expressões
da mesma unidade, são elas homônimas, por conseguinte, grandezas comensuráveis.” (p.178)
“Ao equiparar-se, por exemplo, o casaco, como coisa de valor, ao linho, é equiparado o
trabalho inserido no primeiro com o trabalho contido neste último. [...] Somente a
expressão de equivalência de diferentes espécies de mercadoria revela o caráter específico do
trabalho gerador de valor, ao reduzir, de fato, os diversos trabalhos contidos nas
mercadorias diferentes a algo comum neles, ao trabalho humano em geral.”

“Subissem ou caíssem os valores de todas as mercadorias simultaneamente e na mesma


proporção, então seus valores relativos permaneceriam imutáveis. Sua real mudança de valor
seria inferida do fato de que no mesmo tempo de trabalho seria agora fornecido, em geral, um
quantum maior ou menor de mercadorias do que antes.” (p.182)
“A forma equivalente de uma mercadoria é consequentemente a forma de sua
permutabilidade direta com outra mercadoria. [...] a forma equivalente de uma mercadoria
não contém nenhuma determinação quantitativa de valor. A primeira peculiaridade que
chama a atenção quando se observa a forma equivalente é esta: o valor de uso torna-se forma
de manifestação de seu contrário, do valor.” (p.183) (o valor é puramente social)
“Como nenhuma mercadoria pode figurar como equivalente de si mesma, portanto tão pouco
podendo fazer de sua própria pele natural expressão de seu próprio valor, ela tem de
relacionar-se como equivalente a outra mercadoria, ou fazer da pele natural de outra
mercadoria sua própria forma de valor.”

“O corpo da mercadoria que serve de equivalente figura sempre como corporificação do


trabalho humano abstrato e é sempre o produto de determinado trabalho concreto, útil. Esse
trabalho concreto torna-se portanto expressão de trabalho humano abstrato.” (p.185)

Aristóteles: “É, porém, em verdade, impossível que coisas de espécies tão diferentes sejam
comensuráveis, isto é, qualitativamente iguais. Essa equiparação pode apenas ser algo
estranho à verdadeira natureza das coisas, por conseguinte, somente um artifício para a
necessidade prática.” O que representa a igualdade entre as coisas é o trabalho humano,
este expresso socialmente como trabalho humano igual, mas “não podia Aristóteles deduzir
da própria forma de valor, porque a sociedade grega baseava-se no trabalho escravo e tinha,
portanto, por base natural a desigualdade entre os homens e suas forças de trabalho.” (p.187)

“Nossa análise provou que a forma de valor ou a expressão de valor da mercadoria origina-se
da natureza do valor das mercadorias, e não, ao contrário, que valor e grandeza de valor
tenham origem em sua expressão como valor de troca.” (p.188)
→ o valor da mercadoria vem de sua natureza (o trabalho humano) ≠ a mercadoria tem
valor pois é possível trocá-la por outra de igual valor. (forma equivalente da mercadoria)
→ o entendimento da segunda forma de valor da mercadoria nos leva a acreditar que “O
número de suas possíveis expressões de valor é apenas limitado pelo número de espécies de
mercadorias diferentes dela.” (p.189), escondendo de nós o primeiro entendimento e
equiparando todos os trabalhos a qualquer outro trabalho.
“O produto de trabalho é em todas as situações sociais objeto de uso, porém apenas uma
época historicamente determinada de desenvolvimento — a qual apresenta o trabalho
despendido na produção de um objeto de uso como sua propriedade “objetiva”, isto é,
como seu valor — transforma o produto de trabalho em mercadoria. Segue daí que a
forma simples de valor da mercadoria é ao mesmo tempo a forma mercadoria simples do
produto do trabalho e, que, portanto, também o desenvolvimento da forma mercadoria
coincide com o desenvolvimento da forma valor.”
→ O produto do trabalho em nossa sociedade só se tornou mercadoria, pois se entendeu que
o trabalho gasto em sua produção adiciona valor a este objeto. Assim, com o aprimoramento
(desenvolvimento) dessa mercadoria, isto é, o aprimoramento das técnicas para produzi-la,
mais valor é adicionado à mercadoria.

- forma valor relativa e forma equivalente. → origem do dinheiro: “Então, o gênero


específico de mercadoria, com cuja forma natural a forma equivalente se funde socialmente,
torna-se mercadoria dinheiro ou funciona como dinheiro. Torna-se sua função
especificamente social e, portanto, seu monopólio social, desempenhar o papel de equivalente
geral dentro do mundo das mercadorias. [...] O ouro só se confronta com outras mercadorias
como dinheiro por já antes ter-se contraposto a elas como mercadoria. Igual a todas as outras
mercadorias funcionou também como equivalente” (p.196)
→ “A forma mercadoria simples é, por isso, o germe da forma dinheiro.”

4. O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo

"A forma mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho, na qual ele se representa,
não têm que ver absolutamente nada com sua natureza física e com as relações materiais que
daí se originam. Não é mais nada que determinada relação social entre os próprios homens
que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas.” (p.198)

“os homens relacionam entre si seus produtos de trabalho como valores não porque
consideram essas coisas meros envoltórios materiais de trabalho humano da mesma
espécie. Ao contrário. Ao equiparar seus produtos de diferentes espécies na troca, como
valores, equiparam seus diferentes trabalhos como trabalho humano.” (p.200)
→ “o caráter de valor dos produtos de trabalho apenas se consolida mediante sua efetivação
como grandezas de valor.” e foi assim que os produtores entenderam o valor de seu trabalho.
“É exatamente essa forma acabada — a forma dinheiro — do mundo das mercadorias que
objetivamente vela, em vez de revelar, o caráter social dos trabalhos privados e,
portanto, as relações sociais entre os produtores privados.”

“A figura do processo social da vida, isto é, do processo da produção material, apenas se


desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente
socializados, ela ficar sob seu controle consciente e planejado. Para tanto, porém, se requer
uma base material da sociedade ou uma série de condições materiais de existência, que, por
sua vez, são o produto natural de uma evolução histórica longa e penosa.” (p.205)

-A Economia Política vê as instituições criadas pelos homens no capitalismo como naturais e


as antigas formas de economia como artificiais: “Até que ponto uma parte dos economistas é
enganada pelo fetichismo aderido ao mundo das mercadorias ou pela aparência objetiva
das determinações sociais do trabalho demonstra, entre outras coisas, a disputa aborrecida
e insípida sobre o papel da Natureza na formação do valor de troca. Como o valor de troca é
uma maneira social específica de expressar o trabalho empregado numa coisa, não pode
conter mais matéria natural do que, por exemplo, a cotação de câmbio.” (p.207)
→ é fetichismo por tratar instituições criadas como livres e independentes dos homens. A
ideia da economia como uma lei natural ou a mão invisível do mercado vem dessa ideia.

Capítulo 2 - O Processo de Troca

-“os personagens econômicos encarnados pelas pessoas nada mais são que as personificações
das relações econômicas, como portadores das quais elas se defrontam.” (p.210)

-Pressuposto para a troca: “Todas as mercadorias são não-valores de uso para seus
possuidores e valores de uso para seus não-possuidores. [...] Se o trabalho é útil para outros,
se, portanto, seu produto satisfaz as necessidades alheias, somente sua troca pode
demonstrar.” (p.210) → “O primeiro modo, pelo qual um objeto de uso é possivelmente
valor de troca, é sua existência como não-valor de uso, como quantum de valor de uso que
ultrapassa as necessidades diretas de seu possuidor.” (p.212)

-“Ser equivalente geral passa, por meio do processo social, a ser a função especificamente
social da mercadoria excluída. Assim ela torna-se — dinheiro.”(p.211) → mercadoria geral

-“A constante repetição da troca transforma-a em um processo social regular. Com o correr
do tempo, torna-se necessário, portanto, que parte do produto do trabalho seja
intencionalmente feita para a troca. A partir desse momento, consolida-se, por um lado, a
separação entre a utilidade das coisas para as necessidades imediatas e sua utilidade para a
troca. Seu valor de uso dissocia-se de seu valor de troca. Por outro lado, torna-se a relação
quantitativa, em que se trocam, dependente de sua própria produção. O costume fixa-as como
grandezas de valor.” (p.213)

-“Essas coisas, ouro e prata, tais como saem das entranhas da terra, são imediatamente a
encarnação direta de todo o trabalho humano. [...] O enigma do fetiche do dinheiro é,
portanto, apenas o enigma do fetiche da mercadoria, tornado visível e ofuscante.”(p.217)
Capítulo 4 - Transformação do Dinheiro em Capital

1. A fórmula geral do capital

-dinheiro = produto último da circulação de mercadorias e primeira forma do capital

D - M = compra e M - D = venda → “A circulação simples de mercadorias começa com a


venda e termina com a compra (M - D - M), a circulação do dinheiro como capital começa
com a compra e termina com a venda. (D - M - D)” (p.269)

“Na circulação M — D — M, o dinheiro é finalmente transformado em mercadoria que seria


de valor de uso. O dinheiro está, pois, definitivamente gasto. Na forma inversa, D — M — D,
o comprador gasta dinheiro para como vendedor receber dinheiro. Com a compra, ele lança
dinheiro na circulação, para retirá-lo dela novamente pela venda da mesma mercadoria. Ele
libera o dinheiro só com a astuciosa intenção de apoderar-se dele novamente.” (p.269)

D - M - D’ = “Esse incremento, ou o excedente sobre o valor original, chamo de —


mais-valia (surplus value). O valor originalmente adiantado não só se mantém na circulação,
mas altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta mais-valia ou se valoriza. E esse
movimento transforma-o em capital.” (p.271)
→ “A repetição ou renovação da venda para compra encontra, como este mesmo processo,
medida e alvo num objetivo final situado fora dela, o consumo, a satisfação de
determinadas necessidades (M- D - M). Na compra para a venda, pelo contrário, começo e
término são o mesmo, dinheiro, valor de troca, e já por isso o movimento é sem fim. (D - M
- D)”(p.271)
→ A circulação do dinheiro como capital é, pelo contrário, uma finalidade em si
mesma, pois a valorização do valor só existe dentro desse movimento sempre renovado. Por
isso o movimento do capital é insaciável. (p.272) - seu possuidor = capitalista

-Quem é capitalista? “O valor de uso nunca deve ser tratado, portanto, como meta imediata
do capitalismo. Tampouco o lucro isolado, mas apenas o incessante movimento do ganho.
Esse impulso absoluto de enriquecimento, essa caça apaixonada do valor é comum ao
capitalista e ao entesourador, mas enquanto o entesourador é apenas o capitalista demente, o
capitalista é o entesourador racional.” (p.273)

"O meio circulante (!) que é usado para fins produtivos é capital." (MACLEOD. 1855)
"Capital (...) valor que se multiplica permanentemente." (SISMONDI.)

2. Contradições da fórmula geral

- A troca:
para o valor de uso = transação em que ambas as partes ganham
para o valor de troca = “Onde há igualdade, não há lucro”
“Afirmar que a mais-valia para os produtores surja de que os consumidores pagam as
mercadorias acima do valor significa apenas mascarar essa simples frase: o possuidor de
mercadorias possui como vendedor o privilégio de vender caro demais.” (p.280)

"O intercâmbio de dois valores iguais não aumenta a massa dos valores existentes na
sociedade nem a diminui. O intercâmbio de dois valores desiguais (...) também não altera
nada na soma dos valores sociais, já que acrescenta à fortuna de um o que retira da do outro."
(SAY,) → portanto, nenhum dos dois exemplos tem mais valia. → “A circulação ou o
intercâmbio de mercadorias não produz valor” (p.282)

“Mostrou-se que a mais-valia não pode originar-se da circulação, que, portanto, em sua
formação deve ocorrer algo por trás de suas costas e que nela mesma é invisível.” (p.283)
→ o trabalho!!

3. Compra e venda da força de trabalho

Força de trabalho = “o conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem na


corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez
que produz valores de uso de qualquer espécie.” (p.285)

“Ele (o livre proprietário de sua capacidade de trabalho) e o possuidor de dinheiro se


encontram no mercado e entram em relação um com o outro como possuidores de
mercadorias iguais por origem, só se diferenciando por um ser comprador e o outro,
vendedor, sendo portanto ambos pessoas juridicamente iguais.” (p.285)

“A Natureza não produz de um lado possuidores de dinheiro e de mercadorias e, do outro,


meros possuidores das próprias forças de trabalho. Essa relação não faz parte da história
natural nem tampouco é social, comum a todos os períodos históricos. Ela mesma é
evidentemente o resultado de um desenvolvimento histórico anterior, o produto de muitas
revoluções econômicas, da decadência de toda uma série de formações mais antigas da
produção social.” (p.287)

“O que, portanto, caracteriza a época capitalista é que a força de trabalho assume, para o
próprio trabalhador, a forma de uma mercadoria que pertence a ele, que, por conseguinte,
seu trabalho assume a forma de trabalho assalariado. Por outro lado, só a partir desse instante
se universaliza a forma mercadoria dos produtos do trabalho.” (p.288)
→ “O valor da força de trabalho, como o de toda outra mercadoria, é determinado pelo tempo
de trabalho necessário à produção, portanto também reprodução, desse artigo específico. [...]
o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à
manutenção do seu possuidor.” → representado no valor de um salário, incluindo os meios
de sobrevivência de seus substitutos, seus filhos.
“o trabalhador adianta ao capitalista o valor de uso da força de trabalho; ele deixa consumi-la
pelo comprador, antes de receber o pagamento de seu preço; por toda parte, portanto, o
trabalhador fornece crédito ao capitalista.” (p.291)
→ “O processo de consumo da força de trabalho é, simultaneamente, o processo de produção
de mercadoria e de mais valia.”

Capítulo 5- Processo de Trabalho e Processo de Valorização


1. O preço de trabalho

-O comprador da força de trabalho transforma a potência da força de trabalho em força de


trabalho de fato ao comprá-la.

“o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por


sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se
defronta com a matéria natural como uma força natural.” (p.297)
→ ele também modifica sua própria natureza

“Toda matéria-prima é objeto de trabalho, mas nem todo objeto de trabalho é matéria-prima.
O objeto de trabalho apenas é matéria-prima depois de já ter experimentado uma modificação
mediada por trabalho.” (p.298)

→ meio de trabalho: “A própria terra é um meio de trabalho, mas pressupõe, para servir
como meio de trabalho na agricultura, uma série de outros meios de trabalho e um nível de
desenvolvimento relativamente alto da força de trabalho.” (p.299) ex: pedra e madeiras
trabalhadas e animais domesticados. → “Não é o que se faz, mas como, com que meios de
trabalho se faz, é o que distingue as épocas econômicas.”

“No processo de trabalho a atividade do homem efetua, portanto, mediante o meio de


trabalho, uma transformação do objeto de trabalho, pretendida desde o princípio. O
processo extingue-se no produto. Seu produto é um valor de uso; uma matéria natural
adaptada às necessidades humanas mediante transformação da forma. O trabalho se uniu com
seu objetivo. O trabalho está objetivado e o objeto trabalhado. O que do lado do trabalhador
aparecia na forma de mobilidade aparece agora como propriedade imóvel na forma do ser, do
lado do produto. Ele fiou e o produto é um fio.” (p.300)
→ meios de produção = meio de trabalho + objeto de trabalho

“O trabalho gasta seus elementos materiais, seu objeto e seu meio, os devora e é, portanto,
processo de consumo. Esse consumo produtivo distingue-se do consumo individual por
consumir o último os produtos como meios de subsistência do indivíduo vivo, o primeiro,
porém, como meios de subsistência do trabalho, da força de trabalho ativa do indivíduo. O
produto de consumo individual é, por isso, o próprio consumidor, o resultado do consumo
produtivo um produto distinto do consumidor.” (p.302)
2.O processo de valorização

(o capitalista) “Quer produzir não só um valor de uso, mas uma mercadoria, não só valor de
uso, mas valor e não só valor, mas também mais-valia.” (p.305)
Não quer produzir o produto em si, mas o seu valor é o que lhe interessa.
→ processo de produção = processo de geração de valor no tempo socialmente necessário

? conceito de “adiantar” o dinheiro ?

“O fato de que meia jornada seja necessária para mantê-lo vivo durante 24 horas não impede
o trabalhador, de modo algum, de trabalhar uma jornada inteira. O valor da força de
trabalho e sua valorização no processo de trabalho são, portanto, duas grandezas
distintas. Essa diferença de valor o capitalista tinha em vista quando comprou a força de
trabalho. [...] Na verdade, o vendedor da força de trabalho, como o vendedor de qualquer
outra mercadoria, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso. Ele não pode obter
um, sem desfazer-se do outro. O valor de uso da força de trabalho, o próprio trabalho,
pertence tão pouco ao seu vendedor, quanto o valor de uso do óleo vendido, ao comerciante
que o vendeu. (p.311)

“Todo esse seguimento, a transformação de seu dinheiro em capital, se opera na esfera da


circulação e não se opera nela. Por intermédio da circulação, por ser condicionado pela
compra da força de trabalho no mercado. Fora da circulação, pois ela apenas introduz o
processo de valorização, que ocorre na esfera da produção.” (p.312)

“Como unidade do processo de trabalho e processo de formação de valor, o processo de


produção é processo de produção de mercadorias; como unidade do processo de trabalho e
processo de valorização, é ele processo de produção capitalista, forma capitalista da produção
de mercadorias.” (p.314)

-“a mais-valia resulta somente de um excesso quantitativo de trabalho, da duração


prolongada do mesmo processo de trabalho”, independente do que o trabalhador produz
(trabalho abstrato, ou seja, independente de suas formas históricas, como processo entre
homem e natureza).
Capítulo 8 - A jornada de trabalho

1. Os limites da jornada de trabalho

determina a taxa da mais-valia: tempo de mais trabalho /tempo de trabalho necessário

“A jornada de trabalho não é, portanto, constante, mas uma grandeza variável. É verdade
que uma das suas partes é determinada pelo tempo de trabalho exigido para a contínua
reprodução do próprio trabalhador, mas sua grandeza total muda com o comprimento ou a
duração do mais-trabalho. A jornada de trabalho é, portanto, determinável, mas em si e
para si, indeterminada.” (p.346)
→ no capitalismo, não é possível que a duração do mais-trabalho seja zero

“O capitalista apóia-se pois sobre a lei do intercâmbio de mercadorias. Ele, como todo
comprador, procura tirar o maior proveito do valor de uso de sua mercadoria. De repente,
porém, levanta-se a voz do trabalhador, que estava emudecida pelo estrondo do processo de
produção:” (p.347)

“O capitalista afirma seu direito como comprador, quando procura prolongar o mais possível
a jornada de trabalho e transformar onde for possível uma jornada de trabalho em duas. Por
outro lado, a natureza específica da mercadoria vendida implica um limite de seu consumo
pelo comprador, e o trabalhador afirma seu direito como vendedor quando quer limitar a
jornada de trabalho a determinada grandeza normal.” (p.349)
→ “a regulamentação da jornada de trabalho apresenta-se na história da produção capitalista
como uma luta ao redor dos limites da jornada de trabalho — uma luta entre o capitalista
coletivo, isto é, a classe dos capitalistas, e o trabalhador coletivo, ou a classe trabalhadora.

2. A avidez por mais-trabalho. Fabricante e boiardo

“Se se prolonga a jornada de trabalho diariamente de 5 minutos, acima da duração normal,


obtém-se 2 1/2 dias de produção por ano. Uma hora adicional diariamente, ganha com o furto
de um pedacinho de tempo aqui, logo ali de outro pedacinho, faz dos 12 meses do ano 13.”
(p.355)
→ “A esses “pequenos furtos” pelo capital do tempo das refeições e do tempo de descanso
dos trabalhadores chamam os inspetores também de “petty pilferings of minutes”, pequenas
furtadelas de minutos,“snatching a few minutes”, escamotear minutos,ou, como os
trabalhadores os denominam tecnicamente, “nibbling and cribbling at mealtimes”. (p.356)
(Mostrando que o sobre-trabalho não é nenhum segredo)
3. Ramos da indústria inglesa sem limite legal da exploração

“O relatório da comissão opina ingenuamente que o temor de algumas “firmas líderes” de


perderem tempo, isto é, tempo de apropriação do trabalho alheio, e por meio disso “perderem
lucro”, não é “motivo suficiente” para “privar” crianças com menos de 13 anos e jovens com
menos de 18, “de seu almoço” durante 12 a 16 horas, ou para fazê-los ingerirem sua refeição
como a máquina a vapor consome carvão e água, a lã, sabão, e a roda, óleo, e assim por
diante — durante o próprio processo de produção, como mera matéria auxiliar do meio de
trabalho.” (p.362)

“Entende-se, pelo exposto, por que o relatório da Comissão classifica os oficiais de padeiros
entre os trabalhadores de vida curta, que, depois de terem a sorte de escapar à dizimação
normal de crianças que se verifica em todos os setores da classe trabalhadora, raramente
alcançam o 42º ano de vida.” (p.366)

→ menção de “nossos escravos brancos” ao se referir ao trabalhador fabril inglês em paralelo


aos escravos negros nas colônias americanas.

4. Trabalho diurno e noturno. O sistema de revezamento


→ para “saciar a sede vampiresca por sangue vivo do trabalho”

- Apresenta o sistema de revezamento para uma produção durante 24hs e as desculpas e


justificativas chulas dos capitalistas para manter a mão de obra infantil nos turnos da noite
por ser mais barata que o trabalho dos adultos

“Em alguns ramos, as meninas e as mulheres trabalham também à noite junto com o pessoal
masculino.”432: [...] “Essas mulheres que trabalham junto com os homens e que pelas
roupas mal se distinguem deles, sujas e enfumaçadas, expõem-se à degenerescência de
caráter, causada pela perda de seu auto-respeito, conseqüência quase inevitável dessa
ocupação não feminina.” (p.371) → Marx, como um homem de seu tempo, expondo uma
visão particular a respeito do sexo feminino e sua “degradação” no sentido tradicional.

5. A luta pela jornada normal de trabalho. Leis compulsórias para o


prolongamento da jornada de trabalho, da metade do século XIV ao fim do
século XVII

“A essas perguntas, viu-se que o capital responde: a jornada de trabalho compreende


diariamente as 24 horas completas, depois de descontar as poucas horas de descanso, sem as
quais a força de trabalho fica totalmente impossibilitada de realizar novamente sua tarefa.
Entende-se por si, desde logo, que o trabalhador, durante toda a sua existência, nada mais
é que força de trabalho e que, por isso, todo seu tempo disponível é por natureza e por
direito tempo de trabalho, portanto, pertencente à autovalorização do capital.” (p.378)

“Ela (a produção capitalista) produz a exaustão prematura e o aniquilamento da própria


força de trabalho. Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador num prazo determinado
mediante o encurtamento de seu tempo de vida. [...] torna-se necessária a mais rápida
substituição dos que foram desgastados. (p.379) → criação de uma reserva de trabalhadores.

“O capital não tem, por isso, a menor consideração pela saúde e duração de vida do
trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade a ter consideração.” (p.383)
→ É interessante observar a essa altura da obra o conceito de “capital” sendo usado como
um sujeito, que coage, que faz. Com impulsos regidos por leis próprias. Entretanto não é um
sujeito! Capital é uma relação encarnada por sujeitos. → “A livre-concorrência impõe a cada
capitalista individualmente, como leis externas inexoráveis, as leis imanentes da produção
capitalista.”

“responde o autor do Essay on Trade and Commerce: “a humanidade em geral tende, por
natureza, para a comodidade e indolência, comprova a experiência fatal com o
comportamento de nossa plebe da manufatura, que não trabalha, em média, mais que 4 dias
por semana, salvo no caso de encarecimento dos meios de subsistência.” (p.388)

6. A luta pela jornada normal de trabalho. Limitação por força de lei do tempo
de trabalho. A legislação fabril inglesa de 1833/64

“Somente a partir da Lei Fabril de 1833 — abrangendo a indústria algodoeira, a indústria do


linho e seda — nasceu para a indústria moderna uma jornada normal de trabalho.” (p.392)
“O Parlamento determinou que depois de 1o de março de 1834, nenhuma criança menor de
11 anos, depois de 1o de março de 1835, nenhuma criança menor de 12 anos, e depois de 1o
de março de 1836, nenhuma criança menor de 13 anos devia trabalhar mais que 8 horas numa
fábrica.” (p.393)

Capítulo 11- Cooperação

“se o tempo de trabalho individualmente necessário se desviasse significativamente do tempo


de trabalho socialmente necessário ou tempo de trabalho médio, seu trabalho não contaria
como trabalho médio nem sua força de trabalho como força de trabalho média. Esta não
se venderia ao todo ou apenas abaixo do valor médio da força de trabalho. Pressupõe-se,
portanto, determinado mínimo de eficiência no trabalho, e veremos mais adiante que a
produção capitalista encontra meios para medir esse mínimo.” (p.441)
-cooperação: “A forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente lado a lado e
conjuntamente, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes,
mas conexos.” (p.442)
→ “Não se trata aqui apenas do aumento da força produtiva individual por meio da
cooperação, mas da criação de uma força produtiva que tem de ser, em si e para si, uma
força de massas.”
→ “Isso (o aumento na produtividade graças ao contato com outros, os quais elevam seus
espíritos mutuamente) resulta do fato de que o homem é, por natureza, se não um animal
político, como acha Aristóteles, em todo caso um animal social.”
→ “Ao cooperar com outros de um modo planejado, o trabalhador se desfaz de suas
limitações individuais e desenvolve a capacidade de sua espécie.” (p.446)

“Com a cooperação de muitos trabalhadores assalariados, o comando do capital converte-se


numa exigência para a execução do próprio processo de trabalho, numa verdadeira condição
da produção. [...] Como função específica do capital, a função de dirigir assume
características específicas.” (p.447)
→ “ela é ao mesmo tempo uma função de exploração de um processo social de trabalho e,
portanto, condicionada pelo inevitável antagonismo entre o explorador e a matéria-prima
de sua exploração. (necessidade de controle)
→ “O capitalista não é capitalista porque ele é dirigente industrial, ele torna-se comandante
industrial porque ele é capitalista.” (p.448)

“Se o modo de produção capitalista se apresenta,portanto, por um lado, como uma


necessidade histórica para a transformação do processo de trabalho em um processo
social, então, por outro lado, essa forma social do processo de trabalho apresenta-se como um
método, empregado pelo capital, para mediante o aumento da sua força produtiva explorá-lo
mais lucrativamente.” (p.451)
Capítulo 12- Divisão do Trabalho e Manufatura

1. Dupla Origem da manufatura

“Um quantum maior de mercadorias prontas tem, por exemplo, de ser fornecido em
determinado prazo. O trabalho é por isso dividido. Em vez de o mesmo artífice executar as
diferentes operações dentro de uma seqüência temporal, elas são desprendidas umas das
outras, isoladas, justapostas no espaço, cada uma delas confiada a um artífice diferente e
todas executadas ao mesmo tempo pelos cooperadores.”(p.454) → “Por um lado a
manufatura introduz portanto, a divisão do trabalho em um processo de produção ou a
desenvolve mais; por outro lado, ela combina ofícios anteriormente separados.” (p.455)

2. O trabalhador parcial e sua ferramenta

“O período manufatureiro simplifica, melhora e diversifica os instrumentos de trabalho,


mediante sua adaptação às funções exclusivas particulares dos trabalhadores parciais.”
“Ele cria com isso, ao mesmo tempo, uma das condições materiais da maquinaria, que
consiste numa combinação de instrumentos simples.” (p.458)

3. As duas formas fundamentais da manufatura — manufatura heterogênea e


manufatura orgânica

“Essa relação externa do produto acabado com seus elementos de diferentes espécies torna
aqui, como em fabricações semelhantes, acidental a combinação dos trabalhadores parciais na
mesma oficina.” (p.459)
→ “Na medida em que tal manufatura combina ofícios originalmente dispersos, ela reduz
a separação espacial entre as fases particulares de produção do artigo. O tempo de sua
passagem de um estágio a outro é reduzido, do mesmo modo que o trabalho que media
essa passagem.” (p.460)

“Sendo o produto parcial de cada trabalhador parcial apenas um degrau particular no


desenvolvimento do mesmo artigo, cada trabalhador ou grupo de trabalhadores fornece ao
outro sua matéria-prima. O resultado do trabalho de um constitui o ponto de partida para
o trabalho do outro. Um trabalhador ocupa, portanto, diretamente o outro.” (p.461)

“Uma vez que as diferentes funções do trabalhador coletivo podem ser mais simples ou
mais complexas, mais baixas ou mais elevadas, seus órgãos, as forças de trabalho individuais,
exigem diferentes graus de formação, possuindo por isso valores muito diferentes. A
manufatura desenvolve portanto uma hierarquia das forças de trabalho, à qual corresponde
uma escala de salários.” (p.465) → “surge a simples separação dos trabalhadores em
qualificados e não qualificados.”
→ “A desvalorização relativa da força de trabalho, que decorre da eliminação ou da
redução dos custos de aprendizagem, implica diretamente uma valorização maior do
capital, pois tudo que reduz o tempo de trabalho necessário para reproduzir a força de
trabalho amplia os domínios do mais-trabalho.” (p.466) (Quanto mais específica a função no
processo de produção, menos conhecimento sobre todo o processo e assim mais barata a mão
de obra, pois é menos custosa mantê-la)

4. Divisão do trabalho dentro da manufatura e divisão do trabalho dentro da


sociedade

“O que estabelece porém a conexão entre os trabalhos independentes do criador de gado, do


curtidor e do sapateiro? A existência de seus produtos respectivos como mercadorias. O que
caracteriza, ao contrário, a divisão manufatureira do trabalho? Que o trabalhador parcial
não produz mercadoria.”(p.469) Torna-se mercadoria o produto comum dos trabalhadores.
“A divisão manufatureira do trabalho pressupõe a autoridade incondicional do capitalista
sobre seres humanos transformados em simples membros de um mecanismo global que
a ele pertence; a divisão social do trabalho confronta produtores independentes de
mercadorias, que não reconhecem nenhuma outra autoridade senão a da concorrência, a
coerção exercida sobre eles pela pressão de seus interesses recíprocos, do mesmo modo que
no reino animal o todos contra todos. (HOBBES)” (p.471)

“Enquanto a divisão do trabalho no todo de uma sociedade, seja ou não mediada pelo
intercâmbio de mercadorias, existe nas mais diferentes formações sócio econômicas, a
divisão manufatureira do trabalho é uma criação totalmente específica do modo de
produção capitalista.” (p.473)

5. O caráter capitalista da manufatura

“Ela (a força de trabalho) apenas funciona numa conexão que existe somente depois de sua
venda, na oficina do capitalista. Incapacitado em sua qualidade natural de fazer algo
autônomo, o trabalhador manufatureiro só desenvolve atividade produtiva como acessório da
oficina capitalista.” (p.475)

“A divisão manufatureira do trabalho cria, por meio da análise da atividade artesanal, da


especificação dos instrumentos de trabalho, da formação dos trabalhadores especiais, de sua
agrupação e combinação em um mecanismo global, a graduação qualitativa e a
proporcionalidade quantitativa de processos sociais de produção, portanto determinada
organização do trabalho social, e desenvolve com isso, ao mesmo tempo, nova força
produtiva social do trabalho. [...] Ela desenvolve a força produtiva social do trabalho não
só para o capitalista, em vez de para o trabalhador, mas também por meio da mutilação do
trabalhador individual. Produz novas condições de dominação do capital sobre o trabalho.
Ainda que apareça de um lado como progresso histórico e momento necessário de
desenvolvimento do processo de formação econômica da sociedade, por outro ela surge
como um meio de exploração civilizada e refinada.” (p.478)
Tomo 2:

Capítulo 13 - Maquinaria e Grande Indústria

1.Desenvolvimento da maquinaria

finalidade da maquinaria: “baratear mercadorias e encurtar a parte da jornada de trabalho que


o trabalhador precisa para si mesmo, a fim de encompridar a outra parte da sua jornada de
trabalho que ele dá de graça para o capitalista. Ela é meio de produção de mais-valia.” (p.7)

“A máquina, da qual parte a Revolução Industrial, substitui o trabalhador, que maneja uma
única ferramenta, por um mecanismo que opera com uma massa de ferramentas iguais ou
semelhantes de uma só vez, e que é movimentada por uma única força motriz, qualquer que
seja sua força.” (p.11)

“O revolucionamento do modo de produção numa esfera da indústria condiciona seu


revolucionamento nas outras. Isso é válido primeiro para os ramos da indústria que estão
isolados pela divisão social do trabalho, de forma que cada um deles produz uma mercadoria
autônoma, mas que, mesmo assim, se entrelaçam como fases de um processo global. [...]
Mas a revolução no modo de produção da indústria e da agricultura exigiu também uma
revolução nas condições gerais do processo de produção social, isto é, nos meios de
comunicação e transporte.” (p.18)

“Como maquinaria, o meio de trabalho adquire um modo de existência material que


pressupõe a substituição da força humana por forças naturais e da rotina empírica pela
aplicação consciente das ciências da Natureza. [...] A maquinaria, com algumas exceções a
serem aventadas posteriormente, só funciona com base no trabalho imediatamente
socializado ou coletivo. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se agora,
portanto, uma necessidade técnica ditada pela natureza do próprio meio de trabalho.” (p.20)

2.Transferência de valor da maquinaria ao produto

“Como qualquer outro componente do capital constante, a maquinaria não cria valor, mas
transfere seu próprio valor ao produto para cuja feitura ela serve. À medida que tem valor e,
por isso, transfere valor ao produto, ela se constitui num componente de valor do mesmo. Ao
invés de barateá-lo, encarece-o proporcionalmente a seu próprio valor.” (p.21)

→ “A produtividade da máquina se mede portanto pelo grau em que ela substitui a força de
trabalho humana.” (p.25) → “Como ele (capitalista) não paga o trabalho aplicado, mas o
valor da força de trabalho aplicada, o uso da máquina lhe é delimitado pela diferença
entre o valor da máquina e o valor da força de trabalho substituída por ela. (p.26)
3. Efeitos imediatos da produção mecanizada sobre o trabalhador

a) Apropriação de forças de trabalho suplementares pelo capital.


Trabalho feminino e infantil
→ Mais trabalhadores mais baratos foram introduzidos graças a dispensabilidade de
mão-de-obra mais forte, pois essa era agora realizada pelas máquinas.
→ Diminui o valor dos salários, pois o salário do homem era não só para se manter, mas para
manter toda a sua família. (repartição do valor da força de trabalho)

b) Prolongamento da jornada de trabalho


“Como vimos, a produtividade da maquinaria é inversamente proporcional à grandeza da
parcela de valor por ela transferida para o produto. Quanto mais longo o período em que
funciona, tanto maior a massa dos produtos sobre a qual se reparte o valor por ela adicionado,
e tanto menor a parte do valor que ela adiciona à mercadoria individual.” (p.37)

“Há, portanto, na aplicação da maquinaria à produção de mais-valia, uma contradição


imanente, já que dos dois fatores da mais-valia que um capital de dada grandeza fornece ela
só aumenta um, a taxa de mais-valia, porque reduz o outro fator, o número de trabalhadores.”
(p.40)

c) Intensificação do trabalho
“que a redução forçada da jornada de trabalho, com o prodigioso impulso que ela dá ao
desenvolvimento da força produtiva e à economia das condições de produção, impõe maior
dispêndio de trabalho, no mesmo tempo, tensão mais elevada da força de trabalho,
preenchimento mais denso dos poros da jornada de trabalho, isto é, impõe ao
trabalhador uma condensação do trabalho a um grau que só é atingível dentro da jornada
de trabalho mais curta.” (p.42)

4. A fábrica

“A eficácia da ferramenta é emancipada das limitações pessoais da força de trabalho humano.


Com isso, supera-se o fundamento técnico sobre o qual repousa a divisão de trabalho na
manufatura. No lugar da hierarquia de operários especializados que caracteriza a
manufatura, surge, por isso, na fábrica automática, a tendência à igualação ou
nivelação dos trabalhos, que os auxiliares da maquinaria precisam executar; no lugar das
diferenças artificialmente criadas entre os trabalhadores parciais surgem de modo
preponderante as diferenças naturais de idade e sexo.” (p.52)

→ “Abusa-se da maquinaria para transformar o próprio trabalhador, desde a infância, em


parte de uma máquina parcial.” (p.55)
→ “Mesmo a facilitação do trabalho torna-se um meio de tortura, já que a máquina não livra
o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo.”
“Mediante sua transformação em autômato, o próprio meio de trabalho se confronta, durante
o processo de trabalho, com o trabalhador como capital, como trabalho morto que domina e
suga a força de trabalho viva.” (p.56)

5. Luta entre trabalhador e máquina


“O meio de trabalho mata o trabalhador.”
→ “Revolta-se contra essa forma determinada do meio de produção como base material do
modo capitalista de produção.” (p.60)

→ “É preciso tempo e experiência até que o trabalhador distinga a maquinaria de sua


aplicação capitalista e, daí, aprenda a transferir seus ataques do próprio meio de
produção para sua forma social de exploração.”

“Onde a máquina se apodera paulatinamente de um setor da produção, produz miséria crônica


nas camadas de trabalhadores que concorrem com ela. Onde a transição é rápida, seus efeitos
são maciços e agudos.” (trabalhadores que dependem da venda de sua força de trabalho
concorrendo com as máquinas) (p.62)

“A maquinaria não atua, no entanto, apenas como concorrente mais poderoso, sempre pronto
para tornar trabalhador assalariado “supérfluo”. Aberta e tendencialmente, o capital a
proclama e maneja como uma potência hostil ao trabalhador. Ela se torna a arma mais
poderosa para reprimir as periódicas revoltas operárias, greves etc., contra a autocracia
do capital.” (p.66)

6. A teoria da compensação, relativa aos trabalhadores deslocados pela


maquinaria

“Os fatos verdadeiros, transvestidos pelo otimismo econômico, são estes: os trabalhadores
deslocados pela maquinaria são jogados da oficina para o mercado de trabalho, aumentando o
número de forças de trabalho já disponíveis para a exploração capitalista. [...] Assim que a
maquinaria libera parte dos trabalhadores até então ocupados em determinado ramo
industrial, o pessoal de reserva também é redistribuído e absorvido em outros ramos de
trabalho, enquanto as vítimas originais em grande parte decaem e perecem no período de
transição.” (p.72)

“De forma alguma o economista burguês nega que surjam também aí aborrecimentos
temporários; mas onde existiria uma medalha sem reverso! Para ele, é impossível outra
utilização da maquinaria que não seja a capitalista. A exploração do trabalhador pela
máquina é, por conseguinte, para ele, idêntica à exploração da máquina pelo trabalhador.
Quem, portanto, revela o que realmente ocorre com a utilização capitalista da
maquinaria simplesmente não quer sua utilização, é um adversário do progresso social!
(p.73)
“Sua riqueza (dos capitalistas) crescente e a diminuição relativamente constante dos
trabalhadores exigidos para a produção dos gêneros de primeira necessidade geram,
além de novas necessidades de luxo, simultaneamente novos meios para sua satisfação. Uma
parte maior do produto social transforma-se em produto excedente e uma parte maior do
produto excedente é reproduzida e consumida em formas mais refinadas e mais variadas. Em
outras palavras: cresce a produção de luxo. O refinamento e a diversificação dos produtos
brotam igualmente das novas relações de mercado mundial, criadas pela grande indústria.”
(p.76)

7. Repulsão e atração de trabalhadores com o desenvolvimento da produção


mecanizada. Crises da indústria algodoeira

pag.76 do pdf

Capítulo 14 - Mais-valia Absoluta e Relativa

“A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria, é essencialmente produção de


mais-valia. O trabalhador produz não para si, mas para o capital. Não basta, portanto, que
produza em geral. Ele tem de produzir mais-valia. Apenas é produtivo o trabalhador que
produz mais-valia para o capitalista ou serve à autovalorização do capital.” (p.138)

mais valia absoluta = “O prolongamento da jornada de trabalho além do ponto em que o


trabalhador teria produzido apenas um equivalente pelo valor de sua força de trabalho, e a
apropriação desse mais-trabalho pelo capital”

mais valia relativa = a redução do tempo socialmente necessário para a produção “por meio
de métodos pelos quais o equivalente do salário é produzido em menos tempo.”

→ “A produção da mais-valia absoluta gira apenas em torno da duração da jornada de


trabalho; a produção da mais-valia relativa revoluciona de alto a baixo os processos técnicos
do trabalho e os agrupamentos sociais.”

"A mera existência dos patrões transformados em capitalistas, como classe especial, depende
da produtividade do trabalho." (RAMSAY. An Essay on the Distribution of Wealth.
Edinburgo. 1836. p 206.) “Se o trabalho de cada homem fosse suficiente apenas para produzir
seu próprio alimento, não poderia haver propriedade.” (RAVENSTONE, Op. cit., p. 14.)
→ “o mais-trabalho de um torna-se a condição de existência do outro.” (p.140)

“Do mesmo modo como o trabalhador individual pode fornecer uma quantidade de
mais-trabalho tanto maior quanto menor for seu tempo de trabalho necessário, assim, quanto
menor for a parte da população trabalhadora exigida para a produção dos meios de
subsistência necessários, tanto maior a parte dela disponível para outras obras.” (p.141)

“Na realidade o trabalhador adianta, de fato, seu trabalho ao capitalista durante uma semana
etc. de graça, para no final da semana etc. receber seu preço de mercado; isso faz dele,
segundo Mill, um capitalista! Na planície, até montes de terra parecem colinas; que se meça a
trivialidade de nossa burguesia hodierna pelo calibre de seus “grandes espíritos”.” (p.146)

Capítulo 23- A Lei Geral da Acumulação Capitalista

1. Demanda crescente de força de trabalho com a acumulação, com composição


constante do capital

“Neste capítulo, tratamos da influência que o crescimento do capital exerce sobre o destino
da classe trabalhadora. Os fatores mais importantes nessa investigação são a composição do
capital e as modificações que ela sofre no transcurso do processo de acumulação.” (p.245)

“Acumulação do capital é, portanto, multiplicação do proletariado.” → Reprodução da força


de trabalho (MARX, KARL. Op. cit. “Com igual opressão das massas, um país é tanto mais
rico quanto mais proletários ele tiver”)

“o próprio mecanismo do processo de acumulação multiplica, com o capital, a massa dos


‘pobres laboriosos’, isto é, dos assalariados, que transformam sua força de trabalho em
crescente força de valorização do capital crescente e, por isso mesmo, precisam perpetuar sua
relação de dependência para com seu próprio produto, personificado no capitalista.”
(p.248)

“A lei da acumulação capitalista, mistificada em lei da Natureza, expressa, portanto, de fato


apenas que sua natureza exclui todo decréscimo no grau de exploração do trabalho ou
toda elevação do preço do trabalho que poderia ameaçar seriamente a reprodução continuada
da relação capital e sua reprodução em escala sempre ampliada.” (p.253)

2. Decréscimo relativo da parte variável do capital com o progresso da


acumulação e da concentração que a acompanha

“Essa mudança na composição técnica do capital, o crescimento da massa dos meios de


produção, comparada à massa da força de trabalho que os vivifica, reflete-se em sua
composição em valor, no acréscimo da componente constante do valor do capital à custa de
sua componente variável.” (p.254)
“Todo capital individual é uma concentração maior ou menor de meios de produção com
comando correspondente sobre um exército maior ou menor de trabalhadores. Toda
acumulação torna-se meio de nova acumulação. Ela amplia, com a massa multiplicada da
riqueza, que funciona como capital, sua concentração nas mãos de capitalistas individuais e,
portanto, a base da produção em larga escala e dos métodos de produção especificamente
capitalistas.” (p.257)

“As massas de capital soldadas entre si da noite para o dia pela centralização se reproduzem
e multiplicam como as outras, só que mais rapidamente e, com isso, tornam-se novas e
poderosas alavancas da acumulação social.” (p.259)

3. Produção progressiva de uma superpopulação relativa ou exército industrial


de reserva

“Como a demanda de trabalho não é determinada pelo volume do capital global, mas por
seu componente variável, ela cai progressivamente com o crescimento do capital global,
ao invés de, como antes se pressupôs, crescer de modo proporcional com ele.” (p.260)
→ quanto mais capital global, menos pessoas empregadas.

"A acumulação capitalista produz constantemente — e isso em proporção à sua energia e às


suas dimensões — uma população trabalhadora adicional relativamente supérflua ou
subsidiária, ao menos no concernente às necessidades de aproveitamento por parte do
capital.” (p.261)

“Mas, se uma população trabalhadora excedente é produto necessário da acumulação ou


do desenvolvimento da riqueza com base no capitalismo, essa superpopulação torna-se,
por sua vez, a alavanca da acumulação capitalista, até uma condição de existência do modo
de produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que
pertence ao capital de maneira tão absoluta, como se ele o tivesse criado à sua própria custa.
Ela proporciona às suas mutáveis necessidades de valorização o material humano sempre
pronto para ser explorado, independente dos limites do verdadeiro acréscimo populacional.”
(p.263)

“Não basta à produção capitalista de modo algum o quantum de força de trabalho disponível
que o crescimento natural da população fornece. Ela precisa, para ter liberdade de ação, de
um exército industrial de reserva independente dessa barreira natural.” (p.265)

“Viu-se que o desenvolvimento do modo de produção capitalista e da força produtiva do


trabalho — simultaneamente causa e efeito da acumulação — capacita o capitalista a pôr em
ação, com o mesmo dispêndio de capital variável, mais trabalho mediante exploração
extensiva ou intensiva das forças de trabalho individuais.” (p.266) → já que é muito fácil
substituir a força de trabalho graças ao exército de reserva.
“Grosso modo, os movimentos gerais do salário são exclusivamente regulados pela
expansão e contração do exército industrial de reserva, que correspondem à mudança
periódica do ciclo industrial. Não são, portanto, determinados pelo movimento do número
absoluto da população trabalhadora, mas pela proporção variável em que a classe
trabalhadora se divide em exército ativo e exército de reserva, pelo acréscimo e
decréscimo da dimensão relativa da superpopulação, pelo grau em que ela é ora absorvida,
ora liberada.” (p.267)

4. Diferentes formas de existência da superpopulação relativa. A lei geral da


acumulação capitalista

3 formas da superpopulação relativa: líquida, latente e estagnada.


→ Líquida: varia conforme o tamanho da indústria e quantas máquinas conseguem substituir
o trabalho vivo.
→ Latente: “Parte da população rural encontra-se, por isso, continuamente na iminência de
transferir-se para o proletariado urbano ou manufatureiro, e à espreita de circunstâncias
favoráveis a essa transferência.”
→ Estagnada: “Ela proporciona, assim, ao capital, um reservatório inesgotável de força de
trabalho disponível. [...] É caracterizada pelo máximo do tempo de serviço e mínimo de
salário.”

“O pauperismo constitui o asilo para inválidos do exército ativo de trabalhadores e o peso


morto do exército industrial de reserva. Sua produção está incluída na produção da
superpopulação relativa, sua necessidade na necessidade dela, e ambos constituem uma
condição de existência da produção capitalista e do desenvolvimento da riqueza.”(p.273)

“A acumulação da riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria,


tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo
oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital.” (p.275)

Você também pode gostar