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Ficha de leitura de um excerto do livro “Processo de Produção do Capital”

de Karl Marx

O excerto que passo a analisar integra a obra de Karl Marx, O Capital. Esta obra surge
como uma crítica ao capitalismo e é considerado por muitos uma obra que originou o
pensamento socialista marxista.
Marx, ao examinar o capitalismo, mostrou como as relações de desigualdade
estrutural entre pessoas aparecem como meras relações entre coisas.
“À primeira vista, uma mercadoria parece uma coisa evidente”. Analisando-a,
observamos certas complicações e subtilezas.
No que diz respeito ao valor de uso, não há qualquer mistério nas mercadorias, uma
vez que satisfazem necessidades humanas pelas suas propriedades e são produto do
trabalho humano. 
O caráter enigmático do produto de trabalho, quando este se assume uma
mercadoria, advém da própria forma mercadoria.
A mercadoria representa aos homens as características sociais do seu próprio trabalho
como características objetivas próprias dos produtos de trabalho, como propriedades
naturais sociais dessas coisas e, por isso, também reflete a relação social dos
produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles, entre
objetos.
A forma mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho, na qual o valor se
representa, não têm mais nada a ver com sua natureza física e com as relações
materiais. Agora, essa relação social, estabelecida entre os homens, assume a “forma
fantasmagórica de uma relação entre coisas”. Os produtos resultantes do trabalho
humano parecem ter vida própria, mantendo relações entre si e com os homens. Isto é
o feitiço, proveniente do caráter social próprio do trabalho que produz mercadorias.
Um feitiço é algo que tem poderes inexplicáveis, de origens misteriosas. Para Marx a
mercadoria assemelha-se com isto, “no facto de ela reflectir para os homens os
caracteres sociais do seu próprio trabalho como caracteres objectivos dos próprios
produtos de trabalho, como qualidades naturais sociais dessas coisas e por isso,
também a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social
entre objectos fora deles.”
Marx explica o processo através do qual o feitiço da mercadoria se coloca:
“Os objectos de uso só se tornam mercadorias porque são produtos de trabalhos
privados realizados independentemente uns dos outros. O complexo destes trabalhos
privados forma o total social. Como os produtores só entram em contacto social
através da troca dos seus produtos de trabalho, os caracteres especificamente sociais
dos seus trabalhos privados também só aparecem no interior dessa troca. Ou seja, os
trabalhos privados só se afirmam, de facto, como membros do trabalho total social e,
por intermédio destes, os produtores.”
A separação do produto de trabalho em coisa útil e coisa de valor acontece somente
na prática, quando exista a extensão e importância suficientes para que se produzam
coisas úteis para serem trocadas, fruto do processo de desenvolvimento das relações
capitalistas de produção.
Anteriormente aos homens terem tomado conta do caráter histórico das formas que
certificam os produtos do trabalho como mercadorias, estas já possuíam a estabilidade
de formas naturais da vida social, já se mostravam “imutáveis”. Assim, apenas a análise
dos preços – a expressão monetária das mercadorias - levou à determinação e fixação
da grandeza do valor. Essa forma acabada (a forma dinheiro ) do mundo das
mercadorias esconde o caráter social dos trabalhos privados e, portanto, as relações
sociais entre os produtores privados.
Em suma, concluo que o feitiço da mercadoria designa o facto de o valor dos produtos
acabar por ser atribuído às suas qualidades intrínsecas, fazendo assim esquecer que
elas foram fabricadas pelo homem. Esta ilusão faz com que o mundo do objeto acabe
por dominar o mundo dos homens. Todos os valores tornam-se, assim, objetos das
relações mercantis.

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