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O Cenário: qual a sua importância?

Formador: Francisco Piedade

Formando: Pedro Faísca

Etic Algarve
Cenário é o espaço real, ou virtual, onde se desenrola todo o enredo. É
composto por elementos físicos e/ou virtuais que definem o espaço cénico, bem
como todos os objetos no seu interior, como cores, texturas, estilos, mobiliário e
pequenos objetos. Todos estes com a finalidade de caracterizar a personagem,
e tendo como base os perfis psicológico e económico determinados na sinopse.
Sem ele todo o filme perdia o sentido. Quer isto significar que o cenário tem mais
importância do que aquela que é dada. É de conhecimento comum que todo o
filme precisa de um lugar para filmar, contudo nem todo o sujeito dá o devido
valor aos cenógrafos, diretores de arte e fotografia. Por vezes o homem
disponibiliza toda a sua atenção aos atores, à história e a muitos outros
pormenores mais populares que se esquece que existe perícia na escolha do
sítio onde se vai filmar. Afinal que importância pode ter o cenário num filme?
Pode ele falar tanto quanto a câmara? Para responder a estas perguntas é
obrigatório mudar a nossa forma de pensamento, e analisar o cujo cenário no
cujo filme. Como tal a principal pergunta é: Qual o motivo de terem escolhido
aquele local?

Algumas ciências como sociologia e psicologia tentarão explicar a força do


ambiente sobre o indivíduo afirmando que o ambiente molda o ser inserido nele.
Algumas dessas teorias já foram dissimuladas, contudo ainda há uma definição
por parte das ciências que o ambiente tem poder sobre o indivíduo. A hipótese
que o cenário pode controlar todo o enredo não é assim tanto estranho quanto
aparece. Após uma breve análise torna-se percetível que ele pode
ditar/transmitir a mensagem que o realizador pretendia para o público. São tudo
particularidades, por vezes pequenas, mas que representam muito mais do que
um mero “lugar onde o filme foi gravado”.

Para obras de cinema, televisão e teatro o cenário é uma parte essencial. É nele
construído o mise-en-scène que ajudará a contar a história ali exposta. Em
alguns filmes o ambiente não serve apenas como definição do espaço e sua
importância chega ao ponto de modificar os personagens, interagir com eles,
refleti-los ou até exaltar traços deles, como é afirmado por alguns estudos ainda
válidos.
Como exemplo vamos ter em conta duas cenas, de “Padrinho” e “Padrinho 2″:
no primeiro filme, conhecemos Vito Corleone, e aprendemos, logo, que o chefe
da família mafiosa separa o ambiente de negócios do ambiente familiar. Vito
nunca permite que mulheres e crianças vejam ou façam parte desse meio. A
famosa cena inicial deixa isso claro: as janelas quase não permitem a passagem
de luz do exterior, onde ocorre a festa do casamento da filha, para o interior,
onde homens e sombras se misturam de forma proposital. Como é possível
verificar na imagem a seguir:

No caso do segundo filme, “Padrinho 2″, Michael, agora o Don da família,


negoceia como o seu pai fazia durante uma festa de família – a primeira
comunhão de seu filho. Em seu escritório, mafiosos de outras famílias e políticos
corruptos conversam com ele, mas, desta vez, não há, no cenário, uma
separação visível entre os dois mundos de Michael – ele mistura esses mundos,
e é justamente ao não isolar sua família dos negócios com o mesmo zelo que
seu pai (uma promessa que faz a sua esposa no primeiro filme, de limpar o nome
da família) que ele começa a sua decadência. O cenário, nas duas cenas,
escancara essa diferença entre os dois personagens. O cenário também “fala”
com o espectador.
Um outro exemplo é o filme “O Grande Hotel Budapeste” de Wes Anderson. Um
enorme filme quando se trata de cenário. A exuberância na caraterização do
hotel fazem dele um dos melhores filmes na área da cenografia. Por essa mesma
razão ganhou um Óscar para melhor direção de arte.
O Grande Hotel Budapeste’ é ambientado na Europa, em um país fictício
chamado República da Zubrowka. No ano de 1932, o país está à beira da guerra
e o jovem Zero Moustafa (Tony Revolori) está trabalhando como funcionário do
hotel - uma luxuosa propriedade dirigida pelo charmoso M. Gustave H (Ralph
Fiennes), que passa seus dias fazendo companhia íntima aos hóspedes mais
ricos e de idade mais avançada.

Quando a notícia do falecimento de uma hóspede querida, Madame D (Tilda


Swinton), chega até Gustave, ele decide fazer uma breve viagem para prestar
sua homenagem. Gustave logo percebe que é o protagonista do conflito que
envolve a disputa dos bens de Madame D, um quadro precioso e falsas
acusações sobre a morte da matriarca, o que leva Gustave à prisão. Mas com a
ajuda de Zero e Ágatha (Saoirse Ronan), ele tentará fugir da cadeia para provar
sua inocência.
Como sempre, o mundo pitoresco de Wes Anderson foi criado para parecer uma
maquete perfeita, que alimenta os sonhos de quem é fã dessa estética
minimalista. O grande hotel Budapeste é um resort excêntrico, com lindos salões
e corredores majestosos. O cenário segue a ideia de uma incrível casa de
bonecas, cheia de cômodos coloridos, personagens, histórias, diversão,
confusões e mistérios.

A assinatura de Wes Anderson é marcada por imagens simétricas e detalhadas,


que foram envolvidas por um clima nostálgico para oferecer uma experiência
única. É impossível não admirar o cuidado, a vaidade e dedicação na construção
do filme. ‘O Grande Hotel Budapeste’ realiza uma homenagem ao cinema
clássico, arrancando sorrisos e suspiros durante os seus 100 minutos de
duração.

Entre todas as peculiaridades de ‘O Grande Hotel Budapeste’, existe uma cena


que leva a medalha de ouro. É impossível não comentar o momento quando os
presos arquitetam sua fuga da cadeia, utilizando equipamentos em versão
miniatura que foram colocados dentro de doces extravagantes, fabricados por
uma confeitaria luxuosa de Zubrowka.

Destaque para Gonçalo Jordão que foi responsável pela pintura das paredes do
lobby do hotel.
Desta forma é possível perceber que o cenário tem mais importância do que
aparenta ter. Ele faz parte da história. Como se fizesse parte da personalidade
das personagens. Através dele conseguimos interpretar melhor certas situações
da história. Por vezes é como se o cenário também fosse uma “personagem”
com carácter. Um filme de máfia dentro de um escritório cor de rosa passaria,
certamente, a imagem errada do filme. É verídico que o cenário tem mais
importância em alguns filmes do que em outros. Contudo, sejamos sinceros, o
que seria do Harry Potter sem Hogwarts?

Para finalizar, um individuo a não esquecer quando se trata de cenários é o


diretor europeu Roman Polanski, conhecido por criar ambientes claustrofóbicos
em seus filmes.

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