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Instituto de Comunicação
Belo Horizonte
2020
O “mestre do suspense” Alfred Hitchcock foi um grande cineasta, responsável por dirigir
clássicos do cinema que hoje em dia são referências para quem estuda esse campo da arte.
Hitchcock começou a dirigir seus filmes em 1920 e marcou a indústria cinematográfica, inovou
em movimentos de câmera, jogos de sombra e histórias elaboradas (Caprino, 2018). Esse grande
diretor deixou para sempre o seu nome na história e serve de fonte de inspiração para todos que
desejam se aventurar no fazer do cinema. Dentre sua enorme filmografia é possível citar:
Rebeca- A mulher Inesquecível (primeiro longa-metragem que ganhou notoriedade) Um Barco e
Nove destinos, Quando fala o coração, Janela indiscreta e Psicose; todas estas obras foram
indicadas ao Oscar, entretanto Hitchcock não chegou a ganhar o prêmio de melhor diretor em
nenhuma de suas indicações. O cineasta foi um dos principais responsáveis por definir a
diferença entre mistério e suspense e ,também por ter dirigido tantos suspensas incríveis para as
telas do cinema, ficou conhecido como o “mestre do suspense” e tem garantido o seu lugar de
extrema importância no desenvolver do cinema. (Oliveira, 2015)
Pensando em Hitchcock, e em como ele dirige suas obras, é interessante ressaltar que suas
produções são conhecidas por suas inovações (nas trilhas sonoras, ângulos, planos, etc) e os
choques causados aos espectadores. Apesar de refletirem e reforçarem o auge do cinema
clássico, devido a época em que algumas de suas obras foram lançadas (como Janela Indiscreta,
filme em questão analisado), Hitchcock também apresenta características e elementos do cinema
moderno. É possível afirmar que essa é uma de suas marcas: mesclar o clássico e o moderno,
deixando-se pesar para o lado que mais o convém, sem seguir muito os preceitos já estabelecidos
em Hollywood. Sendo assim, é possível afirmar que para analisar uma obra de Hitchcock é
necessário levar em conta o cinema clássico e moderno. (Caprino, 2018)
Para a então análise do filme Janela Indiscreta, dentro da mudança da época clássica para a
época moderna do cinema, torna-se importante reconhecer os traços dos dois movimentos ao
decorrer do longa. Enquanto de um lado, a câmera mais parada, a história seguir uma ordem
cronológica, sem mudanças bruscas na montagem, o fato do espectador não perceber todos os
cortes e a falta de um contato do personagem diretamente com o espectador ( quebra da quarta
parede) reforçam os traços clássicos. Pelo outro, ao analisar aspectos como a trilha sonora do
filme, percebemos características que vem do cinema moderno, como músicas e sons diegéticos
– tanto os personagens quanto os espectadores conseguem ouvir, o que ,além de uma abordagem
criativa com a trilha sonora, difere do que o espectador estava acostumado no cinema clássico. O
uso de músicas calmas, em cenas que o personagem está inserido em um momento tenso
reforçam essa mudança, como por exemplo o momento em que Liza (Grace Kelly) entra no
apartamento do assassino. Além disso, Janela Indiscreta tem uma forte característica que marcou
a transição do cinema clássico para o moderno, que foi o chamado Cinema Intimista, ou o drama
do cinema intimista, em que foca a maior parte do filme na ótica do personagem principal e
auxilia o espectador a avaliar os acontecimentos a partir do seu ponto de vista. Hitchcock faz o
espectador trabalhar junto com Jeff, sendo como um cúmplice do protagonista. Ambos recebem
praticamente as mesmas informações e detalhes o que induz o espectador a torcer e desejar o
mesmo que o personagem, ainda que esse desejo seja imoral e só sirva para confirmar o
pensamento de Jeff. Dessa forma, a ânsia para que o vendedor tenha realmente assassinado sua
esposa, e que Liza consiga invadir o apartamento e pegar a prova necessária, são ações e desejos
eticamente errados, na perspectiva moral, mas na perspectiva do personagem e de seu espectador
fazem sentido. (Gois, 2012)
Existe apenas um momento claro em que o olhar do espectador não está junto com o de Jeff: a
cena em que o cachorro morre e todos os moradores aparecem em suas janelas para observar o
que estava acontecendo. Nesse corte, o foco passa a ser a dona do cachorro e o olhar é de todos
que moram naquele conjunto, temos novas perspectivas. Além disso, é interessante dizer como
cada apartamento no filme representam o recorte da sociedade. Cada janela é uma
contextualização e colocação de mundos diferentes, são histórias que servem como um pano de
fundo para o acontecimento principal. Esses enquadramentos vão revelando para os espectadores
várias vidas e contextos, Hitchcock consegue nos contar a história de todas as janelas, mesmo
que não tenha um foco direto em cada uma, ou fala desses personagens.
Em conclusão, é interessante observar outros detalhes do filme, que nos contam sobre a
história e os personagens construídos nela. Como por exemplo, os casais, que, ao longo do filme
são filmados juntos, enquanto o vendedor e sua esposa, são sempre filmados em cômodos
diferentes( o que que indica ao espectador que o relacionamento dos dois é frágil e não passa por
uma boa fase), em outro momento temos também em algumas cenas a música transformando a
história, como a da visita de Liza à casa do assassino, também há a demonstração de distância
entre os vizinhos, ainda que morem um ao lado do outro, eles não tem nenhuma outra ligação ou
aproximação, questão que fica explícita na cena em que a dona do cachorro grita sua indignação
com a falta de sensibilidade de todos uns para com os outros. Assim, Janela Indiscreta é um
filme que foi um marco e inspiração para que surgissem mais filmes contados apenas de uma
perspectiva e para mostrar que outros diretores podiam ter a audácia do gênio do cinema
Hitchcock e construírem mais obras incríveis como essa.
Referências:
CAPRINO, Andréia Rosin. O cinema clássico-narrativo em Hitchcock: Comentários sobre o filme
“Janela Indiscreta”. Paraná: UFPR, 2018.
GOIS, Maíra Lima. Cinema e Voyerismo em Hitchcock: Do olhar á Apropriação do Desejo. São
Paulo: Revista Anagrama, 2012.
OLIVEIRA, Luís Carlos Gonçalves. Vertigo, a teoría artística de Alfred Hitchcock e seus
desdobramentos no cinema moderno. São Paulo: Escola de comunicação e artes/ USP, 2015.