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INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO CINEMA

AULA 03 - O Cinema Moderno

O NEORREALISMO ITALIANO

Pode-se dizer que o moderno surgiu entre as duas Grandes Guerras, mas estabeleceu-se
em definitivo no final da Segunda.

Um dos primeiros movimentos modernos, o Neorrealismo Italiano, mostrava os efeitos da


guerra na Itália e na Europa. Ele apareceu como uma reação artística à destruição causada
pela guerra.

Roma, Cidade Aberta (1945) - Roberto Rossellini

Diferente do clássico, aqui as filmagens eram mais cruas e realistas, enquanto que a
decupagem não seguia convenções do naturalismo Hollywoodiano. Além disso, os fatores
humanos e subjetivos eram mais valorizados. Sob o ponto de vista financeiro, as obras
tinham um orçamento menor.

O Neorrealismo Italiano ajudou a definir a estética e a temática de vários outros movimentos


modernos ao redor do mundo.

A NOUVELLE VAGUE FRANCESA

Os críticos da Cahiers du Cinéma, posteriormente os principais diretores da Nouvelle Vague


Francesa, tinham grande admiração pelo clássico e pelo cinema de gênero, mas buscavam
a inovação de um movimento moderno e também eram grandes admiradores de Roberto
Rossellini
Os primeiros filmes de Chabrol, Varda e Truffaut sofreram influência do realismo exposto no
Neorrealismo Italiano. Já Godard, em Acossado (1960), faz uma obra de estética realista
associada a um experimentalismo muito mais disruptivo.

Acossado (1960) - Jean-Luc Godard

Os cineastas da Nouvelle Vague também se inspiram em obras pré-modernas do seu


próprio país. Toni (1935), de Jean Renoir, e O Atalante (1934), de Jean Vigo, já dialogam
com aspectos modernos que seriam explorados nas próximas décadas.

CINEMA MODERNO BRASILEIRO

No final dos anos 40, José Carlos Burle fez uma das primeiras obras brasileiras com
indícios modernos: o filme Também Somos Irmãos (1949). Porém em 1955, Nelson Pereira
dos Santos fez a primeira obra assumidamente moderna, com cenários realistas e temática
com forte apelo social, Rio, 40 Graus.

Glauber Rocha, Paulo César Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade e Nelson Pereira
integraram o Cinema Novo Brasileiro. A obra mais importante desse ciclo é Deus e o Diabo
na Terra do Sol (1964), pois inaugurou definitivamente a estética e a temática desse
movimento, sob influência da literatura de cordel e da poesia popular nordestina. Rocha
reuniu elementos dissonantes, como a filmagem em estilo documental e atuações
exageradas, teatrais.
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) - Glauber Rocha

Além do Cinema Novo, o Cinema Marginal foi outro movimento moderno brasileiro. O
Marginal trazia elementos mais urbanos e com locações reais, e buscava se apropriar da
cultura de massa, com referências que iam desde o rádio e a publicidade até quadrinhos
norte-americanos. Um dos nomes mais importantes desse movimento foi Rogério
Sganzerla.

CINEMA MODERNO NORTE-AMERICANO

Joseph H. Lewis e Allan Dwan foram cineastas norte-americanos inseridos em um momento


clássico, porém cujas obras já apresentavam, nos anos 50, indícios modernos. Na virada
para os anos 60, John Cassavetes reinventa o cinema moderno norte-americano, sofrendo
grande influência dos movimentos modernos europeus.
Quem Bate à Minha Porta? (1967) - Martin Scorsese

O grande movimento moderno norte-americano foi a Nova Hollywood. Nos anos 60, a Nova
Hollywood passou por uma fase na qual os cineastas se inspiravam em obras européias
modernas enquanto dialogavam com o dinamismo do cinema clássico.

Já nos anos 70, diretores como George Lucas e Steven Spielberg inauguram o conceito de
blockbuster. Eles trazem para as telas o espetáculo esquecido com o fim da Era de Ouro,
através de premissas simples como um tubarão assassino ou guerreiros espaciais.

O CONCEITO DO CINEMA MODERNO

Além dessas questões históricas envolvendo contextos políticos, podemos dizer que a ideia
principal do Cinema Moderno é subverter os elementos do Cinema Clássico.

Pela definição de naturalismo, de Ismail Xavier, em um filme clássico os elementos se


equilibram de tal modo que nenhum se sobressai e existe uma ilusão que fascina o
espectador. No Cinema Moderno, esse equilíbrio é quebrado, já que alguns desses
elementos são subvertidos e se tornam mais evidentes.

SUBVERSÕES MODERNAS

Nos filmes de Tarkovski, por exemplo, a ideia tradicional do tempo é subvertida. Um plano
de Tarkovski pode mostrar presente, passado ou futuro; há uma ambiguidade nesse ponto.
Stalker (1979) - Andrei Tarkovsky

Já o cinema de Robert Bresson é caracterizado por atuações evidentemente comedidas e


robóticas. Michelangelo Antonioni mostra os espaços oprimindo seus personagens, por
composições sugestivas e pelo modo como a câmera aborda esses espaços.

Chantal Akerman, em Jeanne Dielman (1975), acaba sintetizando todos os exemplos


anteriores. As ações da personagem são robóticas, inseridas em um cotidiano repetitivo. O
tempo é dilatado e ela se mostra presa naquele espaço doméstico.

Segundo André Bazin, Cidadão Kane (1941) também pode ser chamado de moderno.
Welles subverte a decupagem clássica, com planos sequências filmados com profundidade
de campo. A montagem não dita o ritmo e é possível passear o olhar pelas imagens.

Em síntese, mesmo que não façam explicitamente parte de algum movimento moderno,
existem diretores ou filmes modernos que são caracterizados por essas subversões de uma
representação tradicional.

O CINEMA MODERNO E O RESPEITO À REALIDADE

No livro A Mise en Scène no Cinema, Luiz Carlos Oliveira Jr. apresenta a ideia de Rohmer
de que o cinema moderno economiza em escolhas de linguagem para se aprofundar no
viés dramático.

Júnior ainda fala que a abordagem de um diretor como Rossellini respeita o objeto filmado
como ele é, sem tentar deformar sua realidade. Rossellini busca evidenciar uma instância
criadora do mundo através da abordagem realista.
Stromboli (1950) - Roberto Rossellini

Em Stromboli (1950), por exemplo, a personagem se mostra vulnerável diante da natureza;


ela é influenciada pela natureza em um nível físico e também místico. O gesto moderno do
diretor italiano é o de rejeitar convenções de representação e testemunhar a grandiosidade
da natureza.

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO CINEMA


Minicurso ministrado por Arthur Tuoto
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