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INTRODUÇÃO
A principal referência desta aula é o artigo de Fernão Pessoa Ramos sobre o Cinema Novo,
texto encontrado no livro Nova História do Cinema Brasileiro: Volume 2.
Nos anos 40 e 50, alguns movimentos surgem no mundo após a Segunda Guerra. Filmes
de baixo orçamento que buscavam novas formas de filmar, buscavam formas de retratar a
situação social do pós-guerra na Europa. Eram filmes que possuíam uma relação muito
próxima com a realidade.
A Nouvelle Vague francesa, nos anos 50 e 60, tinha preceitos parecidos. Demonstrava uma
relação mais livre e espontânea com a linguagem.
Nos anos 60, na Alemanha, um grupo de cineastas começou a fazer filmes de baixo
orçamento com uma abordagem mais política. Esse movimento ficou conhecido como Novo
Cinema Alemão.
Nos anos 50, essa estética do pós-guerra aparece no Brasil. Rio, 40 Graus (1955), de
Nelson Pereira dos Santos, mudou a história do cinema brasileiro. O diretor expressa uma
relação moderna com a linguagem e com o tema do filme.
A obra acompanha um dia na vida de cinco meninos moradores de uma comunidade do Rio
de Janeiro. Isso acontece de forma realista, que lembra o Neorrealismo Italiano pela
maneira como o filme retrata essa realidade social.
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São usadas locações reais que retratam uma movimentação urbana legítima, repercutindo
em uma visão mais humanista da realidade social das pessoas menos favorecidas.
Dois anos depois, Nelson Pereira dos Santos lança Rio, Zona Norte ( 1957). O filme junta a
abordagem realista de Rio, 40 Graus com uma aproximação melodramática.
Nelson Pereira dos Santos é uma figura de transição entre o cinema moderno brasileiro e o
que a partir dos anos 60 foi denominado Cinema Novo.
Em 1957, Glauber Rocha, a figura mais importante do Cinema Novo, começa a filmar o
curta O Pátio, que veio a ser finalizado somente em 1959.
O filme não tem muita relação com a estética do Cinema Novo. É um curta experimental, no
qual um casal se movimenta e interage de maneira simbólica (que lembra o simbolismo de
Tramas do Entardecer, de Maya Deren), sobre um piso que parece um tabuleiro de xadrez.
Em 1959, Roberto Pires fez o primeiro longa produzido na Bahia. Redenção é um filme que
remete ao cinema noir. Nele, dois homens hospedam em casa um indivíduo misterioso.
Roberto Pires era bastante interessado em cinema de gênero. Ele tinha uma abordagem
mais tradicional e mais narrativa do que os diretores do Cinema Novo.
Pires criou uma lente anamórfica para filmar em cinemascope. Em algumas cenas de
Redenção ele usa o enquadramento mais largo do cinemascope para criar efeitos
estilizados.
A produtora Iglu Filmes, de Pires, produziu vários filmes nos anos 60, como Barravento
(1962), o primeiro longa de Glauber Rocha.
Por buscar uma estética mais tradicional, Roberto Pires ficou de fora do núcleo do Cinema
Novo.
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Na virada dos anos 50 para os anos 60, enquanto na Bahia a Iglu Filmes de Roberto Pires
fazia filmes mais tradicionais, jovens cineastas cariocas buscavam novas formas de cinema.
Glauber Rocha então passa a se interessar por essa estética. Rocha começa a viajar para o
Rio de Janeiro e na cidade forma-se uma espécie de núcleo inicial do Cinema Novo.
Glauber Rocha, Paulo César Saraceni e Joaquim Pedro de Andrade foram as figuras mais
importantes dessa época. Saraceni e Joaquim Pedro fizeram, no início dos anos 60, dois
curtas que deram início oficial ao Cinema Novo.
Arraial do Cabo (1960) mostra uma comunidade de pescadores afetada por uma indústria
que se instala na região. Saraceni codirigiu o curta com Mário Carneiro, um grande diretor
de fotografia. O curta apresenta imagens bem estilizadas e expressivas da comunidade e
do ambiente no qual é filmado.
Mário Carneiro utiliza ângulos interessantes. Filma tanto a indústria como a paisagem
natural de maneira expressiva. O filme tem alguns momentos didáticos, narrados por uma
voz off, mas é um documentário que depende mais do aspecto visual.
Couro de Gato (1960) conta a história de alguns garotos de uma comunidade do Rio de
Janeiro que tentam roubar gatos para que o couro dos animais seja usado para fazer
tamborins. É um curta com uma narrativa dinâmica. Ele mistura situações. A fotografia
também é de Mário Carneiro. Joaquim Pedro concilia um olhar lírico com o retrato da
realidade popular.
Tanto Arraial do Cabo como Couro de Gato foram para festivais europeus e tornam-se
conhecidos. Eles refletem o novo olhar do cinema brasileiro da época.
A trilogia formada por Arraial do Cabo, Couro de Gato e Barravento estabelece o movimento
nomeado em um artigo do crítico Ely Azeredo como Cinema Novo. Sendo assim, o
movimento nasce oficialmente no Rio de Janeiro.
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Em 1962, Paulo César Saraceni lança seu primeiro longa. Porto das Caixas é um filme
sobre uma mulher pobre de uma cidade do interior do Rio de Janeiro que quer encontrar
alguém para matar o marido, que a faz muito infeliz.
O trabalho chama a atenção por lidar com a estética realista de uma maneira muito mais
intimista. Saraceni gostava dessa abordagem mais lírica. Porto das Caixas i lustra, além dos
temas sociais característicos do movimento, temas existenciais. A fotografia usa o contraste
do preto e branco de um modo sombrio, mas ainda lírico e poético.
Em 1962, Ruy Guerra também lança seu primeiro longa. Os Cafajestes conta a história de
dois homens que tiram fotos comprometedoras da amante do tio de um deles para
chantageá-lo.
É um filme que não dialoga nem com a vertente mais social do Cinema Novo e nem com a
abordagem mais lírica do Saraceni. Os Cafajestes remete muito mais à Nouvelle Vague
francesa. É filmado de maneira moderna, tem uma decupagem espontânea e possui
personagens imorais.
O filme conta com um dos planos mais icônicos de todo o cinema brasileiro. Nele, os
personagens do Jece Valadão e Daniel Filho deixam a personagem da Norma Bengel sem
roupa em uma praia. Os homens dirigem ao redor dela nua enquanto tiram fotos.
O Pagador de Promessas (1962) é o único trabalho brasileiro até hoje a ganhar a Palma de
Ouro no Festival de Cinema de Cannes.
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O filme não faz parte do Cinema Novo. O diretor propõe uma abordagem mais tradicional e,
tecnicamente, é mais sofisticado. Porém é uma obra essencial para entendermos o contexto
do cinema brasileiro da época.
Em 1963 o cineasta Cacá Diegues, um dos integrantes do núcleo inicial do Cinema Novo,
lança seu primeiro longa, Ganga Zumba. O personagem que dá nome ao filme foi um dos
líderes do Quilombo dos Palmares. O filme mostra a fuga de alguns escravos de um
engenho de cana de Pernambuco, entre eles o próprio Ganga Zumba.
CONCLUSÃO
O ápice expressivo acontece com Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Vidas Secas
(1963) e Os Fuzis (1964). Esses três filmes têm abordagens diferentes, mas que são muito
fortes com o que propõem. Eles serão abordados na segunda parte da aula.
CITAÇÕES DA AULA
FILMES
Alemanha, Ano Zero (1948) - Roberto Rossellini
Os Incompreendidos (1959) - François Truffaut
Acossado (1960) - Jean-Luc Godard
O Medo Consome a Alma (1974) - Rainer Werner Fassbinder
Os Não-Reconciliados (1965) - Jean-Marie Straub
Rio, 40 Graus (1955) - Nelson Pereira dos Santos
Rio, Zona Norte (1957) - Nelson Pereira dos Santos
Vidas Secas (1963) - Nelson Pereira dos Santos
O Pátio (1959) - Glauber Rocha
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LIVRO
Nova História do Cinema Brasileiro - Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman (org.)