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A França dominou o cinema entre os anos de 1895 e 1914, antes da Primeira Guerra
Mundial que se estenderia até 1918. Declinou com a guerra, devido às dificuldades
sonoro no final da década de 1920 deu um novo impulso ao cinema francês, mas o
declínio regressou nos anos 1930 e, depois, com a Segunda Guerra Mundial (1939-45). A
O cinema francês era diverso, como sempre foi desde o início do cinema, mas tinha
uma marcada sensibilidade poética. René Clair, por exemplo, brincava frequentemente
nos seus filmes com as imagens e os sons, com os adereços e os actores, revelando uma
forte ligação ao dadaísmo e ao surrealismo. Le Million (O Milhão, 1931) está cheio de tais
imagens. Numa cena passada numa loja de penhores, esconderijo de dois criminosos,
um cantor lírico é obrigado a cantar. Rodeado de estranhos objectos, ouve as vozes dos
criminosos e é forçado por duas mãos armadas à frente de manequins. As armas, que
parecem estar a ser seguradas pelos bonecos, são mais tarde usadas como batutas que
Jean Vigo, um dos mais importantes cineastas desta época, deixou uma obra muito
Em Zéro de conduite: Jeunes diables au collège (Zero em Comportamento, 1933) lança um olhar
imaginativo sobre a vida das crianças de um colégio interno. Os professores são quase
todos grotescos, roubando as crianças do entusiasmo que deviam ter pela vida e pelo
dormitório, Vigo consegue dar a ver a explosão de liberdade que os miúdos sentem,
improvisando uma procissão que celebra a ousadia e utilizando a câmara lenta como
Sacha Guitry é outro nome a reter. Autor de sofisticadas peças de teatro cómico,
Aventureiro, 1936) adapta precisamente um dos seus romances. O início do filme mostra
bem o estilo deste cineasta que defendeu um “teatro filmado” que pouco tinha de
estático, que com mais acerto pode ser denominado de “cinema teatral”. O genérico
representa um café de rua. O narrador lança depois um flashback para a sua infância. A
síncrono, e o inventivo humor visual são outros traços inconfundíveis deste cinema.
poder lidar com a actualidade ou de tocar no assunto da guerra. Les Enfants du paradis
(Os Rapazes da Geral, 1945) ficou como um dos grandes filmes deste período de ocupação,
passado na Paris do séc. XIX. Trata-se de uma grande produção feita com muitas
também entre outra actriz, Nathalie, e Baptiste. De modo delicado, o filme faz ecoar
estas relações no palco.
Outro grande nome que se começou a afirmar nesta altura foi Robert Bresson. Les
Dames du Bois de Boulogne (As Damas do Bosque de Bolonha, 1943) partilha muitos aspectos
com os chamados filmes de ocupação, dado que a narrativa se centra na alta sociedade
e opta por cenas de interiores, desviando a atenção dos problemas da actualidade dessa
altura. A cena em que Paul espera Agnès à porta da sua casa demonstra bem como
Bresson integrou essa ideia na mise-en-scéne do filme. A encenação organiza-se a partir
Realismo Poético
O termo “realismo poético” foi cunhado por Jean Paulhan em 1929, a propósito do
romance La Rue sans nom (A Rua Sem Nome) de Marcel Aymé, adaptado ao cinema por
Pierre Chenal em 1934. Críticos como André Bazin defendiam que “realismo” e “poesia”
estão ligados nas melhores obras de cinema, mas o realismo poético francês tinha
das camadas pobres da sociedade; optava por finais tristes, mas não necessariamente
sem esperança; e dava muita importância ao trabalho dos actores. Este movimento foi
Em La Petite Lise (Little Lise, 1930), dirigido por Jean Grémillon, encontramos as
características atrás mencionadas. Para além disso, o filme deve ser destacado no contexto
francês pelo seu uso pioneiro do som. Berthier é um condenado que anseia pelo reencontro
com a sua filha, que mais tarde descobre que se teve de prostituir. Um grande plano dele a
olhar para a fotografia dela transmite, de modo expressivo, a sua saudade e impotência e o
seu aprisionamento. O som intensifica esses sentimentos com a cantiga que os outros
presos cantam, confrontando aqueles que sentem que só se têm uns aos outros com um
deles que sente que ainda tem a sua filha. No realismo poético, trata-se de filmar situações
que, mesmo sendo desesperadas e tristes, adquirem uma dimensão poética, através de
uma forma sensível e imaginativa de abordar essas emoções. Sem negar o desespero e a
(ou lógica narrativa) por um cinema de pessoas, linguagem, e meio social.5 O cenário ou
5. Ver Dudley Andrew, Mists of Regret: Culture and Sensibility in Classic French Film (Princeton, NJ: Princeton
University Press, 1995), 5.
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espaço cenográfico era portanto um elemento fundamental, como podemos ver nos
dois exemplos que se seguem. Em Pépé le Moko (1937), o cenário é usado para criar um
cobertura — ainda que o filme tenha sido rodado no sul de França e em estúdio. Le Jour
se lève (Foi uma Mulher que o Perdeu, 1939), outra obra de Carné, é um dos mais conhecidos
de Pépé le Moko, Jean Gabin, que participou em muitos destes filmes. Ele faz de François,
através do modo como ele olha pela janela, como não consegue encontrar saída e, no
exterior, através do edifício alto e estreito onde ele se encontra e que é um elemento
Jean Renoir
Jean Renoir era filho do conhecido pintor impressionista Auguste Renoir. Renoir
de propaganda La Vie est a nous (Life Is Ours, 1936), que foi dirigido por outros artistas
além dele, incluindo o cineasta Jacques Becker e o fotógrafo Henri Cartier-Bresson. O
filme tornou-se muito influente nos anos 1960 e foi recuperado no Maio de 68. É uma
rapariga no baloiço essa brincadeira torna-se numa coisa etérea, com um sentido de
são Cartier-Bresson e Georges Bataille, o que mostra a forte ligação de Renoir aos mais
drama de uma comunidade que é ameaçada por Batala, que finge que morreu deixando
uma editora nas mãos de um cooperativa da qual Lange faz parte. A cena em que Lange
assassina Batala, depois deste último assediar a mulher que Lange ama, ficou na
que vai acompanhando Lange do piso superior ao piso térreo. Não vimos Lange a
atravessar o pátio em direcção a Batala, antes de lhe dar um tiro, porque a câmara roda
interior ao percorrer os limites do pátio. O facto de não vermos Lange não quer dizer
que não sintamos a sua deslocação. O filme cria um afastamento, uma possibilidade de
meditação para reflectirmos sobre as acções dele. Por alguns breves momentos, não
La Règle du jeu (A Regra do Jogo, 1939) faz a súmula de muitas das vertentes do
realismo poético francês. É um filme realista com uma grande carga poética. A ideia de
jogo do título remete para as brincadeiras que vamos acompanhando nos interesses
românticos e na caça que envolvem. Mas a regra do jogo pode ser tomada como algo
mais vasto que está relacionado com as dimensões sociais. O filme estabelece uma
espaços são sendo definidos como palcos e as personagens estão condenadas a fazer
um papel determinado pela estrutura social — ou não. É um filme que aposta numa
sofisticada interacção entre os actores no ecrã. Com uma grande mobilidade e fluidez,
a câmara vai seguindo os actores que entram e saem de campo em planos largos,
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encontram, inseridos nos diversos ambientes, da cozinha ao salão, aos quais o filme
Renoir comentar sobre a vida social, estratificada, sem que isso passe de uma forma
menos subtil através de simples declarações das personagens. Há uma personagem que
diz: “Neste mundo, o mais assustador é que cada um tem as suas razões.” Esta frase
pode ser entendida como um lema para Renoir, condensando o modo como ele olha