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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE

FACULDADE DE CINEMA E AUDIOVISUAL

RENNAN BRAGA DE OLIVEIRA

O CICLO REGIONAL NO NORDESTE: RECIFE

BELÉM – PA

2022
O cinema teve seu começo no Brasil no dia 8 de Junho de 1986 no centro do Rio de Janeiro,
apenas 7 meses após a primeira exibição dos irmãos Lumière na França, no qual teve exibição
de filmes com cerca de 8 minutos, e teve suas primeiras filmagens no país em 1989. Assim
como na Europa os filmes retrataram a paisagem das capitais das cidades ou captavam
movimentos das pessoas e animais, já que como era algo novo existia um deslumbre com essa
nova tecnologia que era diariamente testada nas produções. Uma das características do cinema
brasileiro em mais de um século de sua trajetória é ter sua produção marcada por ciclos, que
se distinguiram por elementos estéticos, temáticos ou por serem realizados em uma
determinada região do país. Seus polos principais de produção se localizam no Sul e Sudeste
do Brasil, mas isso não significa que nos outros estados não existam produção, muito pelo
contrário, a região Nordeste contém um dos ciclos mais importantes do país.
O Ciclo do Recife foi um dos mais importantes e um dos mais produtivos do cinema
brasileiro na sua época, sendo um dos fatores preponderantes para explicar o desejo de fazer
cinema nesta parte do Brasil , que ocorreu de 1923 e foi até 1931. Sua origem se deu origem
pelo desejo de retratar a cidade de forma moderna, para escapar da decadência decorrente da
perda de comerciantes que na época começaram a dar preferência ao sul do brasil e para
contornar isso o prefeito de Recife resolveu reformar sua principal porta de entrada da cidade
a Ponte Boa Vista (que teve sua primeira fotografia em 1851)

Com comerciantes e visitantes chegando cada vez mais novidades foram chegando na cidade
e entre elas o cinema que estava dando seus primeiros passos , que chegou pelos italianos J.
Cambière e Ugo Falangola. Os italianos tiveram um papel fundamental para a propagação do
cinema na cidade. Eram exibidos filmes de cavação, filmes encomendados pelos próprios
governadores, no qual exibiam cenas da cidade destacando seu ar moderno e suas paisagens
reformadas. Outros filmes predominantes eram os americanos e que assim como no resto do
Brasil trouxe um fascínio por eles e pela forma que eram feitos, de forma experimental e
apaixonante.
Nas exibições era comum observar jovens extasiados pelos filmes e se mostravam
apaixonados por eles. Entre eles Edson Chagas que com seus amigos Gentil Roiz e Ary
Severo que se uniram em favor do resgate da memória nacional e fundam sua própria
produtora “Aurora Filmes” com a intenção de trazer filmes com o contexto da sociedade
brasileira . A produtora foi responsável pelo início do Ciclo de Recife tendo realizado 33
longas-metragens no total, consistindo 13 de ficção – entre eles os clássicos Retribuição
(1924) e A Filha do Advogado (1926).
A trajetória da Aurora Film é bem singular, em sua primeira fase, iniciada em setembro de
1922, com Gentil Roiz e Édson Chagas foram produzidos quatro filmes com predominância
do gênero drama e romance, dentre eles Aitaré da praia, um filme mudo de 1925 baseado num
tema regional sobre jangadeiros, considerado o melhor e mais bem acabado filme em 35mm.
Após isso, Édson Chagas e Joaquim Tavares assumem a direção da companhia, iniciando a
segunda fase com a comédia “Herói do Século Vinte”.
Joaquim Soares, mais conhecido como Jota Soares foi um personagem importante para o
Ciclo, desde sua infância teve influência e vivência no cinema – a partir do pioneirismo do
seu pai, que foi obrigado a fechar sua sala de reprodução devido às perseguições dos filmes
proibidos na época. Mesmo assim, a presença assídua de Jota nas salas de reprodução foi
essencial para aprimorar e abrilhantar seus conhecimentos –. Jota se juntou à Aurora Filmes
para viver seu sonho. Sua entrada na produção foi de modo inusitado, ao caminhar pelas ruas
de Recife avistou pessoas em uma filmagem, do filme Retribuição, no qual se aproximou e
perguntou se podia participar daquilo e a partir daí começou sua jornada como ator e logo
depois como produtor e diretor, com destaque a fantástica direção do filme A Filha do
Advogado, já nos últimos dias de vida da produtora.
Apesar do grande sucesso dos filmes em suas exibições na cidade, a produtora não obtinha
lucro direto com os filmes apenas pelas vendas dos ingressos.
Em 1931 deu início a decadência do Ciclo do Recife, devido a fatores econômicos e
principalmente pelo surgimento do cinema sonoro de origem norte americana. O declínio da
Aurora Filmes ocorreu pela falência da produtora, que além de não possuir uma renda para
manter suas produções passou também pela óbvia falta de profissionalização e de estruturas
financeiras de sustentação à cinematografia pernambucana. Com a falência iminente Jota
Tavares vende a firma (incluindo equipamentos e laboratório) por 10 contos de réis a João
Pedrosa da Fonseca, em 1926, iniciando a terceira e última fase daquela que foi a produtora
do primeiro filme do surto produtivo recifense. O fato é que, com a Aurora Filme, o
fascinante Ciclo do Recife nasce, atinge seu apogeu e se fecha deixando um legado para a
história do cinema Brasileiro.

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