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A Alegoria da Caverna, ou mito da caverna, é uma passagem da obra “A República”

escrita pelo filósofo grego Platão. É considerada uma das parábolas mais importantes no
mundo da filosofia, e por essa mesma razão uma das mais estudadas e influentes. Faz
parte do conhecimento geral, e com isto refiro-me a cultura geral, a história relatada
nesta obra. Através deste mito é possível conhecer uma importante teoria platónica,
como, graças ao conhecimento, consegue-se captar a existência do mundo sensível
(conhecimento através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecimento através da
razão).

Esta Alegoria apresenta um diálogo entre o filósofo Sócrates, mentor de Platão, e os


irmãos mais novos de Platão, Glauco e Adimanto. Trata-se de um diálogo metafórico
onde é dado o destaque ao processo do conhecimento, mostrando a visão do mundo por
parte de um ignorante, aquele que apenas vive do senso comum e do filósofo, na sua
eterna busca da verdade. Sócrates tinha como principal objetivo transmitir ao Glauco o
que era o conhecimento verdadeiro, estabelecendo uma analogia entre conhecer e ver.
Nós apenas temos conhecimento daquilo que nos foi transmitido, o que nos foi
instruído, e daquilo que vemos. Ou seja, eu tenho noção do que é um lápis porque desde
cedo me foi ensinado que aquele objeto é um lápis. Para além disso foi possível a minha
pessoa visualizar o mesmo objeto de modo a associá-lo à dita palavra. No entanto se os
meus pais, professores ou outros, me tivessem transmitido a ideia de que aquele objeto
tivesse outro nome, com toda a certeza que eu nunca iria olhar para ele de outra forma.
Estaria a viver através do senso comum, porque não teria ido em busca da verdade. E
para além disso, se nunca houvesse a oportunidade de ver um lápis, este faria parte do
meu desconhecimento. Nós só temos conhecimento daquilo que vemos porque é isso
que faz parte da ação do ser humano. A menos que seja do nosso interesse fugir da
ignorância e ir em busca do desconhecido. Mas para tal existe uma obrigação para com
a nossa mente de ter a capacidade de sair do berço, do que nos é confortável porque é
apenas o único conhecimento que temos, e ir à luta do que não sabemos.

Para explicar isto, Sócrates “obriga” Glauco – e “obriga” a nós também – a imaginar
uma caverna subterrânea e no seu interior estão seres humanos, acorrentados, que
nasceram e cresceram ali. Estes encontram-se de costas para entrada, e sem se
conseguirem ver uns aos outros, a única coisa que conseguem ver é uma parede ao
fundo da caverna. Os prisioneiros não têm nenhum conhecimento, seja do mundo
exterior, seja do que se encontra na caverna. Afinal não se conseguem mexer e desde
que nasceram a única coisa que observam é aquela parede. Atrás dos prisioneiros está
uma fogueira que transmite sombras do que se passa do mundo exterior para essa
mesma parede. Sendo assim os prisioneiros observam sombras de pessoas a passarem
com objetos às costas. Pelas paredes da caverna também ecoam sons vindos de fora que
os prisioneiros acabam, e bem, por ligar às sombras. No entanto como viveram sempre
naquele “buraco” e visto nunca se viram a eles sequer, só conhecem a escuridão e
aquela parede, não sabem ao que associar aquelas sombras. Como tal concluem na
mente deles que aquilo representa a realidade, e que eles também são assim.

No entanto Sócrates muda por completo o cenário e faz-nos pensar como seria se um
dos prisioneiros fosse libertado, ou conseguisse escapar. Afinal o único conhecimento
que ele tinha da realidade eram aquelas sobras, como seria quando ele se apercebesse de
como tudo era diferente do que ele acreditava? “Portanto, se alguém o forçasse a olhar
para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos
objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais
nítidos do que os que lhe mostravam?”, através desta análise de Sócrates é percetível
que o prisioneiro não conseguiria inicialmente adaptar-se à verdadeira realidade. A luz
do sol iria ferir-lhe os olhos, toda a confusão do que é a nova realidade iria fazer com
que ele não tivesse força suficiente para abandonar aquilo que lhe era do seu
conhecimento e decidisse voltar para a caverna, para o seu “berço”, para a única coisa
que ele realmente conhece. No entanto com o tempo iria acabar por se habituar a toda
aquela realidade, ou seja, iria começar a adquirir verdadeiro conhecimento sobre o sol, a
luz, as cores, os objetos, tudo o que mundo tem para vender e acabaria por ficar
encantado. Como tal ele voltaria à caverna para contar tudo o que descobriu sobre as
sombras e tentaria convencer os prisioneiros a escaparem para irem ver o mesmo que
ele. No entanto os prisioneiros apenas conseguiriam ver as suas sombras e o eco da sua
voz, e não acreditariam nele. Eles iriam chamá-lo de louco e ameaça-lo de morte caso
ele não parasse.

Na Alegoria nós, os seres humanos, somos os prisioneiros que vivemos cegos apenas
pelo que vemos e pelo que achamos que sabemos em vez de ir ao encontro do
verdadeiro conhecimento. O homem tem uma visão distorcida da realidade. Apenas
acredita na imagem criada pela cultura, conceitos e informações que recebe durante a
vida. A caverna simboliza o mundo, pois apresenta imagens que não representam a
realidade. E só nos é possível adquirir conhecimento sobre o que é a realidade quando
somos capazes de olhar para mais além do que nos é transmitido, isto é, quando saímos
da caverna. Desta forma Platão tenta passar a mensagem de que não se deve viver na
ignorância e apenas naquilo que nos dizem ou nos mostram. É preciso fazer uma buscar
pela verdade por nós mesmo e adquirir o conhecimento do que é a realidade. Toda esta
mensagem tem um significado atual, se olharmos para o mundo moderno, este continua
a girar sem que ninguém se pergunte, “porque isto é assim?” ou “porque faz parte de
mim ter que fazer isto desta forma?”. A verdade é que homem todos os dias é enganado
e manipulado pela falta de busca de conhecimento pelos mais poderosos como políticos
e cientistas. O ser humano ainda vive cego dentro da caverna e se tentasse fugir e
descobrir os maiores segredos encobridos pelas nações poderosas, que nos controlam
como se eles tivessem direito de decidir se devemos ou não ter acesso à verdade, não
seria capaz de suportar tanta informação. Existe muito por descobrir e enquanto não
deixarmos de ser cegos, vamos continuar a ser uns ignorantes “paus mandados”.

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