Você está na página 1de 4

A alegoria da caverna e a sua conexão com o presente

(Adaptado de www.greekreporter.com 06-09-2023)

A alegoria da caverna de Platão é uma das histórias mais conhecidas da filosofia, e


aparece no livro “República” — onde Platão apresenta uma forma ideal de como se
deve governar uma cidade (polis). Esta permite-nos entender como o filósofo grego
percebia o mundo nos tempos antigos.

A alegoria envolve uma explicação metafórica na qual o ser humano se depara com a
sua natureza face à educação e, por conseguinte, ao entendimento.

Na sua teoria, Platão explica a existência de dois mundos e como cada um pode ser
capturado ou apreendido: o mundo sensível (que é o conhecido através dos sentidos);
e o mundo inteligível (que é percebido através do entendimento sem a intervenção dos
sentidos).

A Alegoria da Caverna

Na alegoria da caverna, Platão descreve um grupo de homens que permanecem


acorrentados às profundezas de uma caverna desde o nascimento; a sua condição é tal
que eles só podem olhar para a parede à sua frente, já que estão acorrentados e
incapazes de se mover. A ideia que nos deve deixar espantados e curiosos, logo no
início da narração, é quando Platão nos diz que todos nós estamos na mesma condição
desses prisioneiros no que diz respeito à educação ou à falta dela.

Logo atrás dos prisioneiros, a uma certa distância e acima de suas cabeças, uma
fogueira ilumina a parede. No meio, há um corredor no qual os homens circulam com
vários objetos que, graças à iluminação da fogueira, projetam as suas sombras de
forma a que os prisioneiros as possam ver.

Os prisioneiros consideram as sombras dos objetos que são projetados a verdadeira


realidade, já que eles não sabem nada do que se passa atrás das suas costas.

Sócrates, que é o interlocutor desta história escrita em diálogo, propõe uma experiência
mental: e se um dos homens se libertasse das correntes e olhasse para trás?

Para ele, o homem ficaria confuso e irritado com a nova realidade com que se depararia.
A luz do fogo faria com que ele desviasse o olhar, e as figuras desfocadas (por causa
da ofuscação) que ele via agora pareceriam menos reais para ele do que as sombras
que ele tinha visto toda a sua vida.

Da mesma forma, se alguém forçasse essa pessoa a andar na direção do fogo e a


passar por este até que estivesse fora da caverna, a luz do sol seria ainda mais
incómoda para ele, e ele preferiria voltar para a sombra da caverna, onde os olhos
ficariam mais confortáveis.

Para Platão, quem resistisse às sucessivas ofuscações seria contemplado com a clareza
da visão do mundo sensível primeiro, e, mais tarde, através da educação, com o acesso
ao mundo inteligível (das ideias).

A alegoria termina, no entanto, com o prisioneiro a voltar à caverna para “libertar” os


seus ex-companheiros duplamente acorrentados — física e mentalmente (por estarem
a ver sombras e pensarem que é a própria realidade). Mas a sua tentativa provoca o
riso dos ex-companheiros. A piada explica-se com o facto dos outros acharem que a
sua visão foi danificada aquando da passagem da luz solar para a escuridão da caverna.

Quando esse prisioneiro tenta desamarrar e levantar os seus ex-companheiros em


direção à luz, Platão acredita que eles são capazes de matá-lo; ele tem certeza de que
eles realmente lhe tirariam a vida se tivessem a oportunidade.
A Alegoria da Caverna hoje

A história reúne uma série de temas filosóficos muito comuns, a saber, a existência de
uma verdade que existe independentemente das opiniões dos indivíduos; a presença
de enganos constantes que nos impedem de chegar à verdade; e a mudança qualitativa
necessária para ter acesso à verdade.
Vários cenários são facilmente comparáveis a essas ideias; um ótimo exemplo são as
informações que são compartilhadas hoje em todos os média mundial, incluindo redes
sociais e o resto da internet.

Se compararmos isso por meio dos estágios da alegoria de Platão, obteremos uma
análise mais detalhada da relação da história com o presente.

Em primeiro lugar, há um engano que pressupõe que a realidade fornecida por essas
fontes de informação são meramente sombras ou migalhas de pão da mensagem
pretendida ou da verdade real; em outras palavras, a população em geral consome
informações sem sequer questioná-las.

Uma das explicações sobre como o engano é tão profundamente impactante na vida
humana é que, para Platão, é composto pelo que parece ser um ponto de vista
obviamente superficial. Se não temos razão para questionar algo, não questionamos, e
sua falsidade, portanto, prevalece.

Poucos conseguem aceder ao segundo estágio, a libertação, que é alcançada através


do questionamento, pesquisa e estudo.

A libertação envolve analisar objetivamente em que medida é que as nossas crenças


vacilam e perdem a firmeza, o que, é claro, produz incerteza e ansiedade. Para passar
por esse estado, no entanto, é necessário avançar e continuar a descobrir novos
conhecimentos.

A aceitação pode ser considerada o estágio mais complicado, pois implica deixar de
parte as crenças anteriores. Isso é difícil de aceitar, mas uma vez alcançado, não há
como voltar atrás.
Platão levou em conta a maneira como as nossas condições passadas influenciam a
maneira como experienciamos o presente, e é por isso que ele assumiu que uma
mudança radical na nossa compreensão das coisas tinha que necessariamente ser
acompanhado de desconforto.

O estágio final para chegar à verdade envolve o “retorno”, que é o culminar do processo
de aprendizagem entre as diferentes realidades. Isso consiste na disseminação de
novas ideias, cuja soma pode gerar confusão, desprezo ou ódio por ter a temeridade
de questionar os dogmas básicos que estruturam a sociedade.

Você também pode gostar