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Bolinha vermelha

O uso do erotismo na televisão

ESAP 2019/2020
Aluno: Pedro Miguel Da Conceição Faísca
Docente: Prof. Isolino Sousa
Índice

1. Introdução............................................................................................................. 3

2. Nudez................................................................................................................... 4
2.1.Terminologia.................................................................................................. 4
2.2.Erotismo......................................................................................................... 4
2.3.Perspetiva Histórica....................................................................................... 6
2.4.Sociedade....................................................................................................... 7

3. Erotismo nas artes................................................................................................ 8


3.1.Pintura............................................................................................................ 9
3.2.Literatura...................................................................................................... 11
3.3.Fotografia..................................................................................................... 13
3.4.Cinema......................................................................................................... 16

4. Erotismo na televisão......................................................................................... 21
4.1.Contexto histórico da televisão em Portugal................................................ 21
4.2.Composição da evolução do erotismo na televisão em Portugal.................. 22
4.3.Bolinha vermelha.......................................................................................... 26
4.4.Publicidade................................................................................................... 27

5. Conclusão........................................................................................................... 29

6. Bibliografia......................................................................................................... 31

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Introdução

As novas tecnologias evoluem de geração para geração e como consequente o resultado


é uma alteração de mentalidades. Cada vez mais os assuntos tabus deixam de o ser,
algumas discriminações e preconceitos vão perdendo importância e o pensamento
começa a ser mais livre dentro da sociedade. Mas até que ponto essa liberdade é aceitável?
Colocar tudo transparente aos olhos de todos é a melhor forma de educar as nossas
crianças? O ser humano aprende a lidar com qualquer assunto quando exposto perante
ele. E a aprendizagem significa crescimento. Viver a infância confrontada com todo o
tipo de informação representa futuros adultos com estilos de vida e reflexão
completamente diferentes dos seus progenitores. Contudo ter acesso a certas informações
faz questionar os limites da consciência humana e a sua educação.

A exploração do erotismo como forma de cativar a atenção do público é um tema que cria
alguma discussão sobre o seu peso na educação de quem vê e até que ponto vão as
fronteiras do que se deve e não ser apresentado para quem se está do outro lado do ecrã.
Nunca a utilização de indícios ao sexo, ou apenas a nudez, foi utilizado com o número
tão grande como nos dias de hoje, seja na televisão (publicidade, novelas, reality shows,
séries) ou no cinema.

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Nudez

Terminologia

Palavra associada à condição em que uma pessoa se encontra sem qualquer peça de roupa
a cobrir o corpo. Pode também ser usada para designar o uso de menos roupa do que o
esperado por uma convenção cultural, profissional ou social. Sendo assim, a nudez pode
ser dividida em parcial ou total. O primeiro caso refere-se quando se usa apenas roupas
íntimas, ou quando algumas dessas partes se contra descoberta. Como no caso dos seios
que tem um nome especifico: topless. O total é atribuído quando existe a exposição de
todas as partes do corpo humano. No entanto, considera-se também nos casos em que
haja exibição dos órgãos genitais, mesmo que o resto do corpo esteja tapado.

A reflexão sobre a nudez também depende da localização espacial e temporal. Nos países
mais liberais passa apenas pela simples ausência de roupa interior, contudo em certos
países e religiões consideram as mulheres sem o véu protetor como “nuas”.

O conceito é associado a vergonha, mas também tem um significado de independência,


poder, amor próprio, confiança e sensualidade. Por isso, por vezes, resulta numa sugestão
sexual, ou seja, erotismo.

Erotismo

Encorajamento a atos sexuais sem apresentar estes mesmos de forma explícita, diferente
da pornografia. Para além de expor ou estimular o desejo sexual, também a glorificação
do sexo no âmbito das artes. É através desse apelo artístico que o conteúdo erótico se
distingue da pornografia, que tem como tendência uma maior preocupação sexual do que
estética.

A classificação para uma obra ser considerada ser erótica ou pornográfica está associada
a uma requerida qualidade, isto é, o erotismo predispõe um cuidado estético que, no nosso
pré-julgamento, imediatamente unimos a uma obra de qualidade. A pornografia, por outro
lado, é rapidamente associada à vulgaridade, imundice e obscenidade, portanto, dotada

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de pouca qualidade. Trata-se de um preconceito para com um assunto proibido, visto que
no seu domínio sempre permaneceu obscuro tendo em conta que o sexo e suas
manifestações, assim como as discussões sobre esse tema, configuram-se como um
assunto tabu ao longo da história. O ato sexual significa o mesmo: reprodução. No
entanto, o erotismo é sexo suspenso da sua finalidade primordial. Além das definições de
sexo e erotismo, é necessário expor um tema, tratado principalmente nas artes, mas
também na televisão, que está ligado ao erotismo e às diversas formas de expressão da
sexualidade: o amor. Nesse sentido, há que destacar a opinião de um estudioso do tema:
Alexandrian. Ele apresenta uma reflexão sobre os limites entre pornografia e erotismo:

A pornografia é a descrição pura e simples dos prazeres


carnais. O erotismo é essa mesma descrição revalorizada
em função de uma ideia do amor ou da vida social. Tudo o
que é erótico é necessariamente pornográfico, com alguma
coisa a mais. É muito mais importante estabelecer a
diferença entre o erótico e o obsceno. Neste caso,
considera-se que o erotismo é tudo o que torna a carne
desejável, tudo o que a mostra em seu brilho ou em seu
desabrochar, tudo o que desperta uma impressão de saúde,
de beleza, de jogo deleitável. Enquanto a obscenidade
rebaixa a carne, associa ela à sujeira, às doenças, às
brincadeiras escatológicas, às palavras imundas.
(ALEXANDRIAN, 1993, p.8)

Posto isto, é possível afirmar que existe uma parecença entre o erotismo e a pornografia,
aquele “primo” que ninguém gosta. A verdade é que tanto um como o outro exploram o
mesmo, mas com intuitos diferentes. A maior diferença está na mentalidade das pessoas
que veem a pornografia como algo obsceno e nojento enquanto o erotismo como algo
artístico e simbólico. Na realidade, a pornografia não está muito distante do mundo
erótico, a distinção está no facto de esta apresentar todos os pormenores, sem qualquer
vergonha ou pudor, de um ato sexual com o objetivo de estimular o espectador. É notório
que há poucas décadas atrás tudo o que era relacionado com a sexualidade era proibido,
e por isso a sociedade ainda discrimina o porno e o associa ao sexo fácil, e os atores como
“prostitutos”. Mas se for colocado de lado esse tipo de pensamento, como também a

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estética e a mensagem do erotismo, e focar apenas a parte física, não estão muito longe
um do outro. Aliás, existem filmes cinematográficos, atualmente, que conseguem
alcançar a pornografia.

Perspetiva Histórica

Os humanos, segundo uma pesquisa, começaram a usar roupas há 72 mil anos atrás. O
estudo é baseado no facto de que, à medida que as espécies evoluem, elas tornam-se
distintas, obrigadas a habitar em ambientes diferentes e mudam constantemente para
adaptar-se a elas. A partir desse momento começou a distinção entre as características de
o homem vestido e do homem nu.

Nas civilizações antigas observa-se a natureza erótica do ser humano. Na mitologia grega
encontra-se o inicio da sensualidade do corpo humano como ato de sedução. Os deuses
eram traçados à imagem do homem e da mulher, principalmente na beleza. Eles eram o
expoente máximo da beldade e existem imensos mitos sobre humanos seduzidos pelos
deuses. Desta forma começam os primeiros contos eróticos. Sendo assim, a nudez era
muito bem aceite. Os soldados espartanos combatiam nus como demonstração do seu
lado guerreiro e masculinidade. Uma ideia que foi transportada até aos dias de hoje que
consiste na maior prova de virilidade é a exposição dos seus músculos, e visto como o
lado mais sedutor do homem para com a mulher. Também nos jogos olímpicos, os atletas
competiam nus e os juízes estavam geralmente despidos. Na época do império romano a
nudez era habitual nos banhos públicos. Contudo, a exposição de um corpo nu fora destes
contextos era considerado humilhante. No antigo Egipto, as crianças viviam nuas até o
inicio da puberdade, homens costumavam andar com o torso descoberto, mulheres
costumavam fazer espetáculos nuas.

O erotismo presente nas civilizações sofreu uma enorme evolução através do crescimento
da indústria gráfica. Poetas e escritores voltaram-se para a pornografia. Os manuais de
sexo taoista, segundo Tannahill (op. cit. p. 348) inspiraram álbuns eróticos ilustrados e
novelas pornográficas. A exploração do erotismo no mercado editorial vem atravessando
os séculos. O que atualmente é transmitido nos meios de comunicação pouco difere da
iniciativa do século XVIII, que viram na necessidade da afirmação sexual masculina uma
oportunidade de mercado. O erotismo está presente na história literária seguindo as

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tendências dos géneros que marcaram as épocas como o medieval, o renascimento, o
romantismo, o realismo e o surrealismo.

No universo erótico há uma linha frágil entre o permitido e o proibido. A repressão


presente na sociedade, mantida por convenções sociais ou ideologias religiosas, favorece
o desejo de transgressão. O proibido exerce fascínio nos indivíduos levando-os a
transgredir ou não certas normas sociais. O fruto proibido é sempre o mais apreciado e o
erotismo tornou-se nesse fruto. Contudo cada vez mais a sociedade aceita o mundo erótico
como algo natural.

Sociedade

Nos países desenvolvidos a exposição da nudez é visto de uma forma humilhante e


perturbante, exceto alguns casos artísticos e profissionais, contudo, ainda existe zonas no
mundo onde se vive em pleno nu. A maioria dos grupos indígenas localizados na
América, na África, na Ásia e na Oceânia, ainda têm o costume viver nus.

As tradições das tribos indígenas são provenientes de períodos mais antigos e


provenientes. Enquanto o mundo foi-se desenvolvendo, as tribos acabaram por estagnar
o seu crescimento, e por consequente, as suas mentalidades. Como tal, aceitam o nudismo
como algo natural sem a introdução de preconceitos ou religião. Existem vários
programas televisivos, desde documentários a reality shows, que estiveram por dentro
deste ambiente e revelou-se a falta de sensibilidade, ou a falta de conhecimento, em
relação ao nudismo. É certo que eles não têm a noção da força da televisão, mas é possível
concluir que na mente deles não existe qualquer desconforto em relação às suas tradições.

Na sociedade, devido ao crescido valor dado à vergonha, a nudez é fortemente


relacionada à sexualidade, por isso, costuma ser aceite apenas em determinadas situações.
Contudo, segundo passagens pela bíblia, essa importância dada ao constrangimento não
devia acontecer, afinal o primeiro casal criado por Deus – Adão e Eva – não tinham
vergonha da sua nudez. Só depois de o fruto proibido da árvore do “conhecimento do
bem e do mal” ter sido ingerido é que eles começaram a ter vergonha dos seus corpos e
de estarem nus. Um pensamento que caminhou até aos dias de hoje e a demonstrar a forte
influência da igreja.

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A nudez pública depende da cultura, do horário, do contexto e da atividade, e maioria das
sociedades adotam a nudez como exceção e não como regra. Algumas legislações
permitem a nudez parcial ou total em determinados lugares, principalmente em parques
ou praias. Também pode ser permitido a nudez em certos eventos, festivais, ou eventos
fotográficos/filmagens e publicitários. A nudez também é usada em protestos, popular na
década anos 50/60, geralmente contra guerras ou exploração, ou a favor de direitos.

A existência de várias culturas diferentes, e mentalidades, formou um grupo na sociedade


que tem como conceito aproveitar o que a natureza tem para dar. Sendo assim, o nudismo
e o naturismo são dois movimentos culturais que defendem a nudez social, privada e
familiar, e que existem em vários países do mundo. O nudismo é a simples prática da
nudez social. O naturismo é a prática da nudez junto à natureza. É comum ser praticado
em locais específicos e autorizados como praias, lagos e rios. Contudo fica a questão a
respeito da opinião de quem o pratica sobre essa mesma exposição em locais como
televisão ou cinema.

Erotismo nas Artes

A arte não é linear e costuma transpor a linha entre o certo e o errado, aliás essas palavras
nem fazem parte do seu dicionário. Existe quem goste ou quem não aprecie, contudo a
não aprovação vai contra o que a arte defende. Por essa razão os artistas têm um
pensamento diferente da sociedade e lutam pela liberdade de fazerem o que querem das
suas obras. A utilização de temas tabus em obras artísticas tornou-se uma linguagem de
expressão contra o sistema, e o erotismo está incluído. A vergonha associada ao nudismo,
e ao lado erótico das pessoas, provocou a inspiração nos artistas em contornar essa
mentalidade com mensagens capazes de atingir a sociedade. A arte tem a capacidade de
ultrapassar barreiras, não só referente ao erotismo, mas, também, em outros assuntos,
como a censura, e por isso a arte de intervenção tenha tido tanta importância no mundo.
Afinal criar peças artísticas é o maior simbolismo da palavra “livre”.

A história do erotismo na arte não é somente uma forma dos artistas quererem exprimir
um recado de condescendência para com o sistema. Vive também a ideia artística sem
qualquer outra intenção sem ser a de executar a sua imaginação. A maior prova disso é o

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facto de ser encontrado arte erótica milhares de anos antes de Cristo. A voluptuosa Vênus
de Willemdorf, esculpida em calcário entre 28 mil e 25 mil anos atrás, é uma das primeiras
obras artísticas que se tem notícia. A pré-história, aliás, foi prolífica em imagens assim,
que acabaram apelidadas de “deusas da fertilidade”. Não se sabe se eram mesmo imagens
de deusas, ou qual era o propósito dessas estátuas. Mas o tom erótico está ali, sem dúvida.
A verdade é que todas as formas de arte trataram todo tipo de expressão sexual possível.

A discussão que surge é: se por ser arte pode quebrar as regras? Ou, ver algo como uma
obra de arte já é justificação para tudo?

Pintura

As primeiras marcas que o ser humano deixou nas paredes das grutas que deu início à
pintura rupestre foi, segundo estudos, a primeira tentativa de representação pintural. Esta
terá sido uma mão pintada em negativo sobre a parede de uma caverna. Esse artista
primitivo, após obter um pó colorido a partir da trituração de rochas, sopra, através de um
cano, sobre a mão posada na parede rústica. A carga de erotismo dessa imagem pode ser
vista nessa representação fragmentária do corpo humano. É evidente que a mão representa
também a força bruta, o poder eventualmente afrodisíaco, e suas formas alongadas a
transformam também em um iminente símbolo sexual. Contudo, as mãos são apenas uma
entre as múltiplas imagens que sugerem erotismo na pintura rupestre. Também animais
másculos pintados sobre as paredes, como touros, búfalos e cavalos, sugerem uma forte
dose de erotismo, que cresce significativamente na representação viril de situações de
caça, que contrastam com a cor vermelha de certas figuras. Posto isto, é possível dizer
que o erotismo também estava presente no momento do próprio nascimento das Artes
Visuais. Não é imprescindível a presença de corpos nus ou sexo explícito para que a
sensualidade esteja composta no texto pintural.

Passando a arte rupestre, o erotismo marca obras na Arte Clássica grega do século V a.
C., como pinturas em porcelanas e mosaicos. O erotismo na arte grega será muito bem
representado pela figura de Eros, que é o deus grego do amor. As primeiras representações
artísticas de Eros mostram-no como sendo um belo jovem elegante, com traços de
criança, normalmente despido, e transportando consigo um arco e uma flecha. No entanto,
se para a arte grega o erotismo é representado pelo deus Eros, na arte romana quem o

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representa é a correspondente da deusa grega Afrodite, identificada como Vénus pelos
Romanos.

A sufocante presença da Igreja na sociedade ocidental levou artistas, em diversos


momentos da história, a associar o erotismo ao inferno. Em diversas obras artísticas, o
componente erótico é atravessado pelo sofrimento, e pela presença angustiante da morte.
No entanto, alguns mestres da pintura inundaram suas obras de beleza, de poesia e de
erotismo. Em pleno Renascimento, por exemplo, Caravaggio, em Judite e Holofernes,
realiza uma síntese deliciosa: de um lado, delicadas mãos e sereno rosto de uma bonita
mulher e do outro, a aterrorizante feição de um bárbaro, cujo pescoço é cortado pelas
mãos da jovem e bela Judite.

Eugène Delacroix, cuja obra “A morte de Sardanapalo” representa uma cena de horror,
entranha na sua tela um erotismo mais evidente do que o de Caravaggio, em que o
erotismo é sutilmente sugerido na beleza de Judite. Na pintura “A morte de Sardanapalo”,
o domínio do vermelho dá o tom de sensualidade e, também, de morte. A cama em que o
rei está deitado sugere uma atmosfera de luxúria, prolongada nos belos corpos das suas
amantes. O foco encontra-se principalmente na Myrrha, a amante favorita de
Sardanapalo, que é executada, e inscreve um paradoxo entre o erotismo e a morte.

Avançando na história, as figuras desnudas de Beckmann nada inspiram o erotismo


genital, e ainda menos o sentimento de obscenidade. Na sua leitura, dá-se à palavra
erotismo o sentido de pulsão de vida. Como tal, erotismo nomeia, ao invés de significados
diretamente relacionados à sexualidade, um instinto biológico mais abrangente. Criou
uma perspetiva diferente do pensamento sobre o erotismo e deu poder à ideia que a arte
foge por completo aos ideais obscenos.

Ao falar de Beckmann é quase obrigatório introduzir Pablo Picasso. Um pintor


carismático que soube como ninguém deixar em suas gravuras uma mistura de confissão
autobiográfica e fantasia. Ele soube mostrar as suas experiências e os seus mais íntimos
desejos, numa tentativa de deixar a mais completa documentação de si mesmo e de sua
imaginação extravasante. Criador de energia pulsante, o artista produziu entre 1899 e
1972 cerca de 2.200 gravuras, passando pelo realismo dos primeiros anos e pelo cubismo
que o consagrou no cenário mundial. O erotismo faz parte da sua alma artística, grande

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parte pela sua personalidade perversa e infiel, e outra parte por querer transmitir o lado
materno, e sensual, da mulher.

O séx. XXI trouxe novas modernidades, novas tecnologias e novas liberdades aos artistas.
Não quer dizer que a falta de livre-arbítrio fosse de alguma forma um impedimento no
mundo artístico, no entanto, maior tolerância incentivou o artista a explorar melhor o
erotismo. A pintura ganhou imenso com isso e vários pintores dedicam-se aos nus. Na
maior parte das escolas de artes plásticas é dedicado algum tempo a essa mesma matéria.

Uma outra arte, embora mais pornográfica do que erótica, que nasceu, entretanto, foi o
hentai, que consiste na exploração da manga – banda desenhada japonesa – como
divulgação de atos sexuais.

Literatura

A escrita erótica iniciou com o intuito de homenagear Eros, mas não só. Na antiga Grécia
eram escritos contos sobre romances entre os deuses e os humanos. Não deve ser
caracterizada como sendo o “patinho feio” da literatura, pelo contrário, a escrita erótica
pode reclamar a sua ilustre linhagem.

No século XII, em Portugal, desenvolve-se uma literatura que pode ser dividida em dois
géneros: o lírico-amoroso e o sarcástico. É no lírico-amoroso, subdividido em cantiga do
amor e cantiga do amigo, que se encontra a presença do erotismo literário. Na cantiga do
amor, o poeta executa a confissão dolorosa da sua pouca e angustiante experiência frente
a uma dama incorrespondida pelos seus apelos. Enquanto que na cantiga do amigo, o
lírico focaliza o outro lado da relação amorosa: o foco do poema é representado pelo
sofrimento da mulher. Em ambas as literaturas, transparecem, ao longo dos textos,
sugestões a eventuais relações de natureza sexual, ainda que de maneira tímida e apenas
sugestiva.

Mais tarde, no período renascentista, o erotismo emerge fortemente no continente


europeu, e traz consigo um enorme número de imagens e palavras que insultavam os
costumes da época. A literatura do Renascimento caracterizou-se pela divulgação de
imagens e palavras que feriam o embaraço, e faziam da representação explícita do sexo a

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sua especialidade. O escritor italiano Pietro Aretino, autor dos Sonetos Luxuriosos
(1524), traz a público essa literatura que é mais obscena do que erótica. Na França,
começam a aparecer os seguidores de Aretino. Escritores que pretendiam revelar certos
costumes imorais da aristocracia francesa. Os escritores franceses destacam-se, em
particular, pela inauguração da literatura livre no Antigo Regime.

O final do século XVIII será marcado pela Revolução Francesa e pelas obras do célebre
escritor e filósofo francês Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade. Sade
associava sexo e crueldade à luxúria cortesã, tendo em conta que o termo sadismo – que
indica a excitação e prazer provocados pelo sofrimento alheio – é derivado do seu nome.
Além de demonstrar as mais estranhas práticas sexuais, a obra de Sade representar uma
pluralidade de géneros literários, tais como o panfleto político, os diálogos, entre outros.

Por intermédio da literatura europeia, o erotismo afirma-se como sendo um género


literário e artístico. Progredindo cronologicamente, o erotismo instaura parâmetros
estéticos que acabam por marcar todo o Modernismo. O erotismo da literatura moderna
não se assemelha nem ao erotismo da literatura pagã, e nem ao erotismo das literaturas
posteriores. O erotismo da literatura pagã mantém toda a inocência, a brutalidade e a
densidade de uma natureza que o pecado, no sentido cristão, ainda não percebeu e
direcionou contra si mesmo. Por outro lado, o erotismo da literatura moderna não pode
não se dar conta da experiência cristã. Ou seja, o erotismo da literatura moderna nasce
não de um fato natural, mas, sim, de um processo de desoneração das proibições e dos
tabus já existentes. A liberdade dos pagãos era um facto inconsciente, ingénuo. A
liberdade dos modernos é, ao contrário, recuperada, reencontrada e reconquistada. Em
compensação o erotismo da literatura moderna tem, ou deveria ter, um caráter especial
no que diz respeito aos argumentos que não causam escândalos nem sobressaltos. Desta
forma, o termo “erotismo” é associado à transformação do sexo em algo cientificamente
conhecido e poeticamente válido, e, por isso, insignificante do ponto de vista ético. Pela
primeira vez depois das literaturas pagãs, o sexo torna-se matéria de poesia sem que haja
necessidade de recorrer aos apoios dos símbolos e aos disfarces da metáfora. Pode-se hoje
representar o sexo de modo direto, explícito, realístico e poético, em uma obra literária,
sempre que a própria obra acredite ser necessário. Surge a questão: é realmente
necessário falar de sexo? E quando é necessário? Nem sempre é necessário falar dele,
assim como não é necessário falar de questões sociais ou de aventuras africanas, mas

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quando se torna inevitável, visto que hoje não sobrevivem mais os tabus e as proibições
que o impediam, o silêncio não é mais uma questão moral, mas sim uma incapacidade
expressiva. Por outras palavras, o escritor que atualmente não fala de sexo, quando a
narrativa do seu livro o pede, comporta-se como um cidadão que se abstém de falar de
política em tempos de democracia, após a queda definitiva da ditadura que havia até então
proibido sua manifestação. Como se ainda estivesse preso numa ilusão, ou numa mente
conservadora, que o impede de expressar certos assuntos.

Fotografia

Nas artes visuais, o erotismo sempre esteve presente como tema. Desde os primeiros dias
da fotografia, o nu foi uma fonte de inspiração para aqueles que adotaram o novo meio.
Para além de Robert Demachy, autores como Henry Voland e Edward Steichen, entre
outros, trouxeram-no para o registo fotográfico. Barthes define a fotografia erótica como
aquela em que o campo cego sai para fora do enquadramento e a nossa imaginação vai
além da imagem fixa. O punctum é, portanto, uma espécie de extra-campo subtil, como
se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver: não somente para "o
resto" da nudez, não somente para o fantasma de uma prática, mas para a excelência
absoluta de um ser, alma e corpo intrincados.

Os primeiros fotógrafos de belas artes das culturas ocidentais, com o desejo de estabelecer
a fotografia como um meio de arte, frequentemente escolhiam as mulheres como temas
para seus nus. Antes da fotografia, os nus artísticos costumavam usar referências à
antiguidade clássica: deuses e guerreiros, deusas e ninfas. Poses, iluminação, foco suave,
vinhetas e retoques manuais foram empregados para criar imagens fotográficas que eram
semelhantes às outras artes da época. Embora os artistas do século XIX, em outros meios
de comunicação, muitas vezes usassem fotografias como substitutos para modelos ao
vivo, as melhores dessas fotografias também eram destinadas a obras de arte.

Após a Primeira Guerra Mundial, fotógrafos da vanguarda como Brassaï, Man Ray, Hans
Bellmer, André Kertész e Bill Brandt tornaram-se mais experimentais nas suas
representações da nudez, através da utilização das distorções refletivas e técnicas de
impressão para criar abstrações ou retratando a vida real em vez de menções clássicas.
As fotos da Georgia O'Keeffe, tiradas pelo Alfred Stieglitz, são exemplos de alguns dos

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primeiros nus apresentados em um estilo íntimo e pessoal, em vez de uma idealização
desapaixonada. Edward Weston, Imogen Cunningham, Ruth Bernhard, Harry Callahan,
Emmet Gowin e Edward Steichen continuaram esta tendência. Weston desenvolveu uma
estética particularmente americana, usando uma câmera de grande formato para capturar
imagens da natureza e paisagens, bem como nus, e desta forma, estabeleceu a fotografia
como um meio de artes plásticas. Em 1937, Weston tornou-se o primeiro fotógrafo a
receber uma bolsa do Memorial John Simon Guggenheim. Fotógrafos de arte têm uma
variedade de assuntos em seu trabalho, sendo o nu um deles.

A distinção entre arte e glamour está relacionada com o marketing, com a arte a ser
vendida através de galerias, ou revendedores em edições limitadas assinadas pelo artista.
As fotos de glamour costumam ser distribuídas através das revistas, ou outros meios de
comunicação. Para alguns, a diferença está no olhar do modelo. Os modelos de glamour
olham para a câmera, enquanto os modelos de arte não. Os fotógrafos de glamour e moda
aspiraram o estilo de arte em alguns dos seus trabalhos. Um desses fotógrafos foi Irving
Penn, que progrediu na revista Vogue para fotografar modelos de moda como Kate Moss
nua. Richard Avedon, Helmut Newton e Annie Leibovitz seguiram um caminho
semelhante com retratos dos famosos, muitos deles nus, ou parcialmente vestidos. Na era
pós-moderna, onde a fama é muitas vezes o tema da arte, a foto da Nastassja Kinski com
uma cobra, e as capas da Demi Moore, da Leibovitz, grávidas e da pintura corporal
tornaram-se icónicas. O trabalho de Joyce Tenneson foi para o outro lado, desde belas
artes com um estilo único e suave, mostrando mulheres em todas as fases da vida até
retratos de pessoas famosas e fotografia de moda.

As fotografias de glamour enfatizam o modelo, geralmente feminino, de uma maneira


romântica e atraente, sexualmente sedutora. O modelo pode estar completamente vestido
ou semi-nu, mas a fotografia de glamour não chega a intimidar sexualmente o espectador
e a ser pornográfica. Antes da década de 1960, a fotografia de glamour era referida como
fotografia erótica.

Embora os fotógrafos trabalhem amplamente dentro das normas estabelecidas que


mostram corpos como abstrações esculturais, alguns, como Robert Mapplethorpe,
criaram obras que deliberadamente confundem as fronteiras entre literatura erótica e arte.

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A maioria das primeiras imagens foram muito bem guardadas, ou circuladas
fraudulentamente como violações das normas sociais da época, já que a fotografia captura
a nudez real. Muitas culturas, embora aceitem a nudez na arte, evitam a nudez real. Por
exemplo, uma galeria de arte que exibe pinturas de nudez normalmente não aceita nudez
em um visitante. Alfred Cheney Johnston (1885–1971) foi um fotógrafo americano
profissional que muitas vezes fotografou para a Ziegfeld Follies. Ele também manteve
seu próprio estúdio fotográfico comercial de grande sucesso, produzindo anúncios em
revistas para uma ampla gama de produtos comerciais de alto padrão—principalmente
moda masculina e feminina - e também fotografou centenas de artistas e dançarinas,
incluindo fotos nuas de alguns. A maioria de suas imagens nuas eram, de facto, garotas
da Ziegfeld Follies, mas tais imagens frontais completamente ousadas e sem retoques
certamente não seriam públicas nas décadas de 1920–1930. Como tal, especula-se que
estes eram simplesmente seus próprios trabalhos artísticos pessoais, e/ou feitos a mando
de Flo Ziegfeld para o prazer pessoal.

Nudez e imagens sexualmente sugestivas são comuns na cultura moderna e amplamente


usadas em publicidade para ajudar a vender produtos. A questão mais pertinente dessa
forma de publicidade é que as imagens usadas normalmente não têm conexão com o
produto anunciado. O objetivo dessas imagens é atrair a atenção de um potencial cliente,
ou público. As imagens usadas podem incluir nudez, real ou sugestiva, ou fotografia de
glamour.

Atualmente, e através da inovadora rede social instagram, cada vez mais a fotografia de
nus é vista com naturalidade, não só pelo espetador, mas também pelo modelo. As
mentalidades mais novas conseguem distinguir a arte da perversidade o que resulta em
mais segurança e descontração para o fotógrafo e modelo trabalharem. É um conceito que
está em constante crescimento. Em Portugal são vários os fotógrafos que começaram a
investir nesse género de fotografia, sendo o Ivo Lazaro - criou um projeto chamado “girls
in my bedroom” - o mais reconhecido.

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Cinema

Durante muito tempo, a única manifestação sexual no cinema era o beijo. Embora
representado de forma breve e superficial, a demonstração da intimidade já era alvo de
desagrado e de duras críticas. O primeiro beijo da história do cinema foi apresentado na
curta metragem de Thomas Edison, “The Kiss”, em 1896. Com duração de mais ou menos
22 segundos, o filme tem o plano fechado e um clima de vergonha e romantismo entre os
atores. Por mais que hoje pareça uma cena artística e experimental, o filme foi rejeitado
pela sociedade da época, levando até um jornal de Nova York a descrever a cena como
“absolutamente repugnante”.

A representação do sexo na tela e o seu impacto sempre foram bons exemplos para
demonstrar como a sociedade transmitia e consolidava todo o tabu. A atriz Marlene
Dietrich ficou conhecida por atuar em filmes que infringiam a proibição sexual no seu
tempo. No filme “Marrocos”, de 1930 - dirigido por Josef von Sternberg – em uma das
cenas, a atriz dá um breve beijo noutra mulher. Apesar de “Marrocos” não ter sido o
primeiro filme a mostrar um beijo homossexual, o filme causou polémica pela exuberante
sensualidade de Dietrich.

O primeiro nu frontal no cinema do circuito comercial foi da atriz Hedy Lamarr no filme
“Êxtase”, em 1933, gravado na antiga Checoslováquia. Lamarr interpreta Eva, uma
mulher que resolve deixar o marido e retorna para a casa do pai. Um dia, no lago, ela
conhece um jovem, com o qual descobre o desejo e o amor. Os enquadramentos
contribuíam para a sexualização da mulher, já que não exibiram o homem e nem a sua
sensualidade. Por muitos anos, o filme foi proibido em diversos países.

A censura não era tão radical, muitos filmes passavam despercebidos, por vezes nem
chegavam a ser avaliados já que a supervisão era fraca. Com o surgimento do cinema
sonoro em 1927, as produções ficaram mais ousadas. As trilhas sonoras ajudavam a
evidenciar o clima sensual, os ruídos dos beijos em cena e diálogos mais explícitos sobre
relacionamento fizeram com que a desaprovação de grande parte do público crescesse.
Hays recebe um maior apoio social e consegue decretar, vigorosamente, o famoso código
que leva o seu nome.

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A consolidação das regras puritanas foi instaurada com firmeza em 1934. A partir desse
ano, foi exigido que todos os filmes lançados passassem por uma aprovação para obter
um certificado definindo se poderiam ou não ser estreados. Eles tinham poder desde
alterar roteiro e modificar a edição do filme como até mesmo interditar produções.

Além disso, foi criada uma lista de códigos divididos em “Dont’s” (no qual o uso era
absolutamente proibido) e “Be carefuls” (seja cuidadoso). Eram condenados filmes que
tivessem alusão à homossexualidade ou relação sexual, aparição de casais inter-raciais,
nudez, tráfico de droga, sátira da alta sociedade, palavras de cunho religioso em vão e
expressões vulgares. Era impedido mostrar casais – mesmo que casados – dormindo na
mesma cama, as cenas de beijo deveriam ter apenas 3 segundos. Temas como prostituição
e aborto também eram proibidos.

Na lista para ter cuidado, eles pediam cautela ao retratar o adultério, e caso fosse
mostrado, deveria ser de forma negativa. Uso de arma, roubo, assassinato ou qualquer
outro tipo de violência também eram ultrajados, além do uso da bandeira dos Estados
Unidos, religião e história de outros países, palavras de baixo calão, entre outras
restrições. Era recomendado que os roteiristas e diretores exaltassem os valores
familiares, religiosos e patrióticos. O objetivo era transformar os tais galãs de Hollywood
em modelo de virtude e exemplo de moral.

Para não terem suas obras banidas, os cineastas usavam a sua criatividade para enganar o
sistema, como foi o caso do Hitchcock no filme “Interlúdio” (1946). O diretor criou, em
relação à regra dos 3 segundos, a cena que hoje é considerada como o beijo mais
demorado do cinema, com aproximadamente 2 minutos e meio de duração: os atores
interrompem os beijos e depois voltam a beijar-se por mais três segundos, e assim o fazem
consecutivamente.

Na década de 1960 para a frente, as leis da censura já eram mais descontraídas. Entretanto,
foi só oito anos depois que o Código foi realmente abandonado e que a MPAA aderiu ao
sistema de classificação da faixa etária, o qual regula até hoje.

Com o fim da censura, os filmes começaram a escandalizar. Foi a época da revolução


sexual. Lutava-se pela libertação dos paradigmas impostos sobre o corpo, pelo fim do

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sistema patriarcal e por uma maior liberdade sexual. Contudo, mesmo sendo menor, a
parte puritana e tradicionalista do público ainda se mantinha fervorosa nas críticas.

Foi lançado, em 1968, o filme “Barbarella”, estrelado por Jane Fonda. Considerado uma
comédia erótica, Fonda é uma astronauta enviada da Terra para o universo e ela precisa
de capturar o perverso Durand Durand, que criou uma máquina de sexo destinada a matar
de prazer os que são submetidos a ela. Há constantes trocas de roupas transparentes e
insinuantes da personagem e cenas com acessórios sexuais, o que contribuiu para tornar
Barbarella uma sex symbol.

Começou a existir uma nova liberdade disponível para os cineastas que ambicionavam
tratar de temas eróticos ou inseri-los em suas histórias. Mulheres nuas, drogas e sexo
voltaram ao ativo para violar os tabus. Diversos filmes com ligação erótica tornaram-se
indispensáveis para a história do cinema, com o intuito de tratar esses temas com
naturalidade. Filmes como “O Desprezo” (1963, de Jean-Luc Godard), “A Primeira Noite
de um Homem” (1967, de Mike Nichols), “O Último Tango em Paris” (1972, de Bernardo
Bertulucci), “O Império dos Sentidos” (1976, de Nagisa Oshima), “Veludo Azul” (1986,
de David Lynch), “Ata-me” (1989, de Pedro Almodóvar), entre outros, consagraram o
erotismo e a ousadia sexual no cinema, caminhando entre a arte erótica e a pornografia,
o explícito e o implícito.

Quando questionadas sobre as filmagens eróticas no set, as equipes de produção desse


género alegavam usar recursos técnicos nas cenas de sexo, sem pressão nos atores.
Demorou um tempo, mas os questionamentos sobre os danos físicos e morais das atrizes
e dos atores começou a ser revelado e debatido, alertando ao público, inclusive, acerca da
forma que o papel da mulher foi representado em algumas obras e os absurdos que
viveram nas gravações.

A busca social começou a mudar, e o cinema não ficou para trás: com o tempo, os
enquadramentos tinham a tendência a ser mais igualitários, o interesse do público
feminino em filmes eróticos crescia e novas produções como “E Sua Mãe Também”
(2001, de Alfonso Cuarón), “Os Sonhadores” (2003, de Bernardo Bertolucci) e
“Ninfomaníaca” (2013, de Lars von Trier) voltaram a interessar os espectadores que
lidam com o género com mais atenção e consciência, já que os filmes também apresentam

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narrativas que tratam o sexo como complemento necessário para o público entender o
conceito da história e compreender o caráter dos personagens.

O cinema torna-se mais real, a mostrar fases da vida, o amadurecimento, experiências,


dúvidas, descobertas e questionamentos que cercam o ser humano. Sem reservas e
constrangimentos. O sucesso de “Azul é a Cor Mais Quente” (2013, de Abdellatif
Kechiche), e a sua exibição em diversos festivais, comprova como o erotismo tem
tornado-se um pouco mais habitual aos olhos dos espectadores.

O público de várias gerações foi privado de assistir a filmes que hoje seria permitido
existir. Cenas que foram cortadas, ou nem chegaram a ser gravadas. Histórias que não
foram contadas e apresentadas, e toda a arte que foi repreendida por uma desaprovação
moral é um dano irreparável para a trajetória do cinema.

Atualmente, ideias livres tendem a falar mais alto, e desta forma, filmes com temática
íntima continuarão a ser produzidos, e cada vez mais serão tratados com naturalidade em
suas narrativas. As produções cinematográficas nem sempre são audazes como
imaginamos, muitas vezes surgem apenas como reflexo do momento social em que
vivemos, e enquanto o caminho for nesse sentido a abordar com normalidade temas como
sexo, o cinema, no seu sentido mais artístico e significativo, caminhará junto.

O cinema é cada vez mais ousado e excêntrico. Deixou de haver limites. A maior prova
disso é o filme “50 sombras de Grey”, um enorme sucesso não pelo filme ou narrativa em
si, mas sim pelas imagens sexuais. Apesar da restrição de idade, houve um alto número
de pessoas abaixo dos 16 anos a ir ver. Um filme que ultrapassa todas as barreiras da ética
e da educação sexual e que faz refletir que informação uma jovem criança retrai.

Também em Portugal, onde o cinema do Estado Novo se comportava como se os bebés


fossem realmente trazidos por cegonhas, a libertação pós-25 de Abril trouxe também a
sexualidade para o grande ecrã. Nos anos 70 e 80, filmes como Sofia ou a Educação
Sexual, de Eduardo Geada; O Lugar do Morto, de António-Pedro Vasconcelos, Sem
Sombra de Pecado, de José Fonseca e Costa, ou Relação Fiel e Verdadeira, de Margarida
Gil, trataram amplamente o tema.

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O escândalo longe de dissuadir o público, atraía-o de forma ainda mais sedutora. Foi o
que aconteceu em 1972 quando o italiano Bernardo Bertolucci dirigiu O Último Tango
em Paris (que em Portugal só foi exibido após o 25 de Abril, levando à formação de
grandes filas junto à bilheteira do Cinema São Jorge) e, já no final dessa década, com O
Império dos Sentidos, do japonês Nagisa Oshima. Centrado na relação sexual obsessiva,
frequentemente violenta, entre Sada e o seu patrão, Kichizo, o filme desencadeou uma
horda de protestos quando, em 1991, a RTP o programou para uma noite de cinema.

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Erotismo na televisão

Contexto histórico da televisão em Portugal

A data oficial de criação da televisão, em Portugal, é o dia 15 de Dezembro de 1955, data


da constituição da Radiotelevisão Portuguesa. Contudo, foi só alguns meses após a sua
constituição, que foi realizada a primeira emissão, ainda experimental, a partir da Feira
Popular de Lisboa, a 4 de Setembro de 1956. Alguns meses mais tarde, em Março de
1957, iniciam-se finalmente as emissões regulares, e no final do ano já grande parte do
país podia aceder às emissões. Os primórdios da televisão portuguesa coincidiram com o
período de Ditadura, e por isso, nos primeiros anos, os conteúdos emitidos eram bastante
restritos, e alvo de apertados controlos pela censura.

O 25 de Abril, e a queda do regime ditatorial em Portugal, trouxe à televisão portuguesa


a liberdade dos apertados controlos estatais. Além dos já tradicionais conteúdos, como os
telejornais, programas de entretenimento, foi também neste período que se iniciaram as
emissões de programas importados do estrangeiro.

O facto de não existirem em Portugal outros canais para além dos generalistas, não
impediu o surgimento inesperado de inúmeros canais estrangeiros recebidos por satélite.
Este movimento remonta à primeira metade da década de 80, e, pouco tempo depois era
já possível receber através das antenas parabólicas mais de uma dezena de canais
estrangeiros, desde os europeus aos americanos.

A discussão concorrencial tem vindo a intensificar-se, especialmente nos últimos anos,


com o rápido crescimento da rede de televisão por cabo. A RTP foi a primeira a emitir
através de TV Cabo, seguida pela SIC e pela TVI, as quais, além de canais noticiosos,
apostaram ainda em canais temáticos, como a SIC Mulher, SIC Radical ou TVI Ficção.
A par da expansão dos canais já existentes, na segunda década do século XXI surgem
ainda diversos canais portugueses, todos na rede privada. Além de canais temáticos, como
a MTV Portugal ou FOX, filiais portugueses de grandes canais norte-americanos,
diversas equipas de futebol lançam também os seus próprios canais, bem como meios de
comunicação tradicionalmente associados à imprensa escrita, como o Correio da Manhã.

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Composição da evolução do erotismo na televisão em Portugal

O nascimento da televisão em Portugal coincidiu com a época de ditadura, e por


consequente, com a censura e a falta de liberdade que havia no país. Por essa razão existia
um enorme controlo no conteúdo que era transmitido. Como tal, a data que marca o inicio
da revolução sexual é posterior a 1975. Contudo, é preciso ter em conta que, mesmo após
o 25 de Abril, vivia-se um período com costumes conservadores e a sexualidade e a
sensualidade feminina não era bem vista e até condenada pela sociedade.

Apesar da censura existente, a juntar à mentalidade conservadora, a emancipação da


mulher aconteceu nos anos 60, principalmente no estrangeiro. O uso da mini-saia foi o
prenúncio da rebelião da mulher como um ser independente e sensual, e as televisões
entusiasmaram-se com as imagens das jovens que aderiram a esta moda. Um indicio de
que a mulher seria o maior símbolo de liberdade e independência, mas também a criação
dos primeiros estereótipos sobre a sua sensualidade. Numa reportagem da RTP, feita em
2007, Jacinto Godinho afirma:

“A música dos Beatles e o furor das jovens inglesas


vestindo roupas ousadas marcaram o inicio de uma
revolução de costumes que contagiou toda a Europa (...) os
jovens foram realmente os protagonistas dos anos 60. As
modelos com ar de adolescente substituíram as curvas
avantajadas das mulheres dos anos 50.”

A irreverência que é passada de geração para geração é o que faz o mundo crescer e andar
para a frente. Embora a intenção do estado em controlar o pensamento das pessoas, não
conseguiu impedir os mais jovens de pensarem por si próprios e querem seguir as modas
que corriam o mundo. Desta forma, e apesar do regime, surgem as primeiras imagens
com o intuito de promover a sensualidade da mulher na televisão. Em 1964, num
telejornal, são transmitidas imagens de um desfile de moda de lingerie de senhora. Uma
peça que acabou por cair mal na opinião da sociedade e da administração, como acabou
por contar o jornalista Vasco Hogan Teves:

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“Nós fomos dando algumas coisas até um dia que nós
passámos no telejornal umas imagens de um desfile de
moda de lingerie de senhora. Deve ter caído o carmo e a
trindade porque no dia seguinte fomos todos convocados à
administração para justificar porque se tinha metido uma
passagem de modelos feminina no telejornal”

Em Portugal defendia-se a moral dos bons costumes e tal passava pela propaganda da
mulher tradicional. A televisão na generalidade dos seus programas tentava cuidar da
imagem da mulher doméstica ou mãe de família. Um exemplo desses conteúdos era o
concurso “mulher ideal portuguesa”. Contudo a televisão veio quebrar barreiras. As
pessoas eram educadas num ambiente difícil e a televisão ajudou a derrubar isso tudo.
Não era evitável esconder a moda nas imagens que tinha um efeito contagiante. As novas
modas ajudaram a criar um foço entre as gerações. Enquanto o regime cuidava das
mensagens politicas, não percebeu que a censura às formas de vestir e aos
comportamentos liberais não tinha nenhum efeito nos jovens, especialmente
universitários. Apesar de nunca terem sido transmitidas, existem imagens em discotecas
para provar que existia uma aspiração, por parte dos jovens, à modernidade que o regime
de Salazar recusava a dar. Era um toque fatal de que com mais liberdade a televisão iria
alcançar patamares para além de assuntos tabus.

Os anos 90 coincide com o aparecimento dos canais Tv Cabo e, como tal, programas
vindos do estrangeiro que trouxeram outro tipo de conteúdos. Portugal, devido ao período
de ditadura, acabou por não desenvolver a televisão tendo em conta que grande parte dos
programas serviam para promover o estado. Noutros países, onde a liberdade era outra,
começou a inovar não só para chamar a atenção dos espectadores, mas também para
explorar outros territórios. Por isso a televisão seja o maior motivo da libertação das
mentes dos mais jovens, e por consequente, a sua irreverência. O canal MTV foi um dos
canais que trouxe imensas novidades para Portugal, principalmente pelo seu forte foco
em questões relacionadas com censura e ativismo social. MTV é um canal dedicado à
cultura pop e tem como público-alvo os jovens. Numa época em que o acesso à música
era de extrema dificuldade, rádio ou cassetes, e não existia plataformas como o youtube,
ter um canal que consistia na transmissão dos videoclipes das músicas que estavam na
moda acabou por ter um sucesso enorme e mudar as mentes dos mais jovens. Os

23
videoclipes são como publicidade, têm como objetivo vender um produto e neste caso
uma música. Como tal, são obrigados a ser inovadores e quebrar barreiras de forma a
chamar a atenção. Por isso começaram a ser cada vez mais excêntricos e a influenciar os
seus admiradores que começaram a querer imitar o que viam e a seguir os passos dos
artistas. Uma das excentricidades que apareciam nos vídeos foi a utilização do movimento
erótico, ou seja, situações que encorajam ao sexo. Era muito habitual aparecerem
mulheres seminuas a dançarem de forma ousada, e nos casos do género musical hip hop
muitas vezes as próprias letras incentivavam a sexualidade.

O canal foi acompanhando a evolução das gerações e como a expressão indica, “dás a
mão e já querem o braço”, com a liberdade foi igual. Os desejos dos mais jovens
começaram a ser cada vez mais exagerados e a televisão teve a missão de acompanhar.
Atualmente a MTV tem na sua programação, para além da continuidade de apresentar os
videoclipes, vários programas, séries e filmes, grande parte originais do canal. Todos eles
apresentam um conteúdo que ultrapassa os limites do aceitável que era vivido a duas
décadas atrás. No entanto, os reality shows são o que provocam as piores influências nos
mais jovens, considerando o “Jersey Shore” o pior de todos. Este programa consiste em
juntar várias pessoas numa casa e única coisa que fazem é ter festas onde ficam
excessivamente alcoolizados e fazem asneiras, discussões e por vezes agressões. E no dia
seguinte resolvem os seus problemas e voltam a ir festejar. E o ciclo do programa é este.
O programa tem como público-alvo os adolescentes que estão na fase de descobrimentos
e encontram ali uma forma de explorar a sexualidade, a vida de borga e a utilização de
vocabulário inapropriado.

No caso dos canais generalistas, em meados dos anos 90, surge, na SIC, uma série com o
nome de “Buffy, a caçadora de vampiros” e que trouxe várias cenas sexuais para o horário
nobre. Não tardou muito até as novelas portuguesas começarem a serem cada vez mais
ousadas. Mais tarde, em 2000, na TVI, surge o primeiro reality show português, “Big
Brother”. Nesse programa foram colocadas 14 pessoas a viverem dentro de uma casa e a
serem vigiadas 24h por câmeras que transmitiam para todo o país. Foi algo
completamente novo em Portugal e tornou-se o programa mais visto de sempre na
televisão portuguesa. O abuso de privacidade e os limites da ética acabaram nesse dia.
Era captado todos os momentos como relações sexuais, momentos mais ousados e uma
agressão quando um concorrente do sexo masculino, chamado Marco, deu pontapé numa

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outra concorrente. Imagens que eram oferecidas ao público geral sem preocupação com
a idade dos espectadores. Se as crianças do séc. XX tinham uma educação conservadora,
a partir do séx. XXI começaram a ser atingidas com tanta informação descarada que a
tendência seria para piorar. A partir desse momento foi sempre a abrir nas questões morais
da televisão, principalmente tudo o que envolvesse o erotismo.

A verdade é que a televisão controlou o conteúdo transmitido, principalmente em horário


nobre, de modo a não afetar as crianças com informação imprópria. Os programas que
não fossem considerados adequados para todo o público só eram transmitidos depois das
23h e normalmente tinham um pequeno aviso, uma bolinha vermelha. O mesmo acontecia
com os filmes que costumavam dar na sessão da tarde e que tinham o cuidado de ter as
cenas mais ousadas cortadas ou então o aviso da bolinha vermelha. No entanto, até que
ponto todo o esforço – cortar momentos sexuais e linguagem indecente - pela educação
das crianças era necessário quando depois era passado em canal aberto um programa
como “morangos com açúcar”? Apesar de ser um programa realizado para jovens e
considerado adequado, não deixava de ter certas situações que eram tão atrevidas como
em vários filmes. A televisão, com o tempo, foi-se tornando hipócrita na forma como
trata a informação que é transmitida. Contudo, por outro lado, e possivelmente a real
razão da hipocrisia, a televisão não deixou de ser um sistema para abrir mentes e por isso
foi cada vez mais destemida nos seus programas até que deixou de pensar numa linha
como limite.

Atualmente, a televisão é cada vez mais transparente. Os assuntos tabus tornaram-se


moda e a competição pelas audiências transformou-se numa batalha por quem é mais
atrevido. As polémicas deixaram de ser precavidas, pelo contrário, são aceites de braços
abertos. Os programas vitais são os reality shows e as novelas e o seu enredo consiste no
sexo e poder. O erotismo ganhou uma força enorme na televisão, e a sensualidade do
corpo da mulher tornou-se num produto com o objetivo de cativar a atenção dos
espectadores. Os filmes da sessão da tarde já não sofrem qualquer controlo a pensar nas
crianças, pelo contrário, todo o género desde os mais violentos até os mais radicais são
transmitidos. O único canal que ainda se preocupa com o que passa para o espectador e
com a cultura do país é a RTP.

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Bolinha vermelha

A representação de uma bola vermelha no canto da televisão é usada para simbolizar que
o programa que se encontra em emissão é inapropriado para o visionamento de menores.
Segundo a lei, ou seja, o artigo 24º da Lei da Televisão que estipula os limites à liberdade
de programação. O primeiro ponto do artigo afirma que “os programas devem respeitar”
(...) “a dignidade da pessoa humana, os direitos fundamentais e a livre formação da
personalidade das crianças e adolescentes, não devendo, em caso algum, conter
pornografia em serviço de acesso não condicionado, violência gratuita ou incitar ao ódio,
ao racismo e à xenofobia”. As emissões suscetíveis de afetar “públicos vulneráveis” só
podem ser transmitidas entre as 23h00 e as 06h00.

Embora o efeito pretendido por este símbolo tenha ocorrido com êxito, a verdade é que
ele foi-se perdendo com o tempo. As mentalidades são outras, e o avanço da liberdade
nos pensamentos das pessoas provocou na televisão a intenção de começar a superar a
linha entre o apropriado e o inapropriado. Hoje em dia, vários programas que são
transmitidos em canal aberto, e em horário nobre, e que não têm a bolinha vermelha,
muito provavelmente tê-la-iam se fosse há uma década atrás.

Um forte exemplo de como a televisão atualmente deixa escapar esse controlo é uma
participação feita em 2013. Nessa queixa feita à Entidade Reguladora para a
Comunicação Social, o participante reclama por ter sido questionado pelo seu filho sobre
algumas palavras que apareciam na legenda do filme que estava a ser exibido. Ele
considerou “ofensivo e abusivo o tipo de linguagem em horário normal, sem qualquer
aviso (vulgo bolinha vermelha)”. O filme exibido foi o “Não chamem a polícia”, ou “Cop
Out” na versão original, e apresentou expressões como: “cortem os tomates”, “vai foder
a tua mãe e a tua
irmã também. Maricas de merda”, “quando aqueles caralhos aparecerem, matem-nos” e
“estás morto, cabrão”. A RTP tinha a razão no seu lado porque a classificação atribuída
ao filme permitia a exibição naquele horário e por isso escapou com uma reprimenda.
Contudo o que está em causa a responsabilidade que um canal televisivo deve ter para
com o crescimento e educação das crianças. Seria muito grave colocar um sinal de aviso
ou as audiências estão acima dos valores e da ética moral?

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Publicidade

Os anúncios publicitários também tiveram um papel fundamental na evolução do


erotismo na televisão, e principalmente, no estereótipo em relação ao corpo da mulher
como forma de seduzir o espectador. O objetivo é promover um produto e esse mercado
facilmente percebeu que as pessoas tomavam várias decisões sobre diversos assuntos,
mesmo sem possuir nenhum conhecimento sobre os mesmos, apoiando-se em crenças do
conhecimento geral da sociedade, estereótipos e sexualidade.

A publicidade faz uso de estereótipos verbais como de estereótipos visuais no intuito de


realizar o seu objetivo comercial. O sucesso publicitário está em conhecer os caminhos
que devem ser usados para atingir o consumidor e mostrar como é que os benefícios do
produto ou serviço podem ser agradáveis. Por isso, é fundamental escolher a maneira
mais simples e rápida de atingir grande parte da audiência e que esta consiga captar a
mensagem pretendida. Ao fazer uso dos estereótipos atuais, a publicidade acaba por
atualizá-los e difundi-los, dando muitas vezes a impressão de que ela é a responsável por
tais representações convencionais.

Goffman (1988), argumenta que os publicitários intencionam favorecer o olhar de


potenciais consumidores aos produtos e geralmente fazem isso através da apresentação
de uma versão instigante daquele produto num contexto atraente. Por esse motivo, é
habitual encontrarmos anúncios com mulheres jovens e sofisticadas expressando uma
certa aprovação ao produto, seja este uma esfregona ou um inseticida. Desse modo,
podemos reconhecer que os criadores dos anúncios procuram selecionar tipificações
positivas, assim o produto pode ser associado a um universo positivo.

As mensagens conduzidas pela comunicação social, entre elas, a publicidade, podem ser
assumidas como fornecedoras de padrões de comportamento socialmente desejáveis para
cada um dos sexos e de símbolos de feminilidade e masculinidade que tenderão a ser
rotulados como a norma feminina e a norma masculina, tornando-se parte da identidade
das pessoas. A publicidade não cria apenas imagens de homens e mulheres, ela cria,
inclusive, a diferença entre os dois, e termina dirigindo-se aos homens e mulheres como
se essas diferenças fossem reais e incontestáveis

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Os anúncios negligenciam ou estereotipam rigidamente as mulheres. Na sua
representação das mulheres, a publicidade deporta as mulheres para os papéis de dona de
casa, mãe, fada do lar e objeto sexual, limitando os papéis que as mulheres desempenham
na sociedade

Consequentemente, os anúncios publicitários apresentam determinados padrões de beleza


feminina associados a um corpo magro construído como objeto do desejo masculino,
assim, as imagens fornecidas pela comunicação social tornam-se guiões, modelos de
conduta para as mulheres, as quais cedo percebem que devem possuir um determinado
tamanho e formas corporais se quiserem ser bem aceites em sociedade. Logo, o ideal de
beleza propagado influencia a autoimagem das mulheres e a pressão exercida pelos meios
de comunicação, são mais profundamente dirigidas às mulheres, desde muito jovens.

Os homens também são pressionados para atingir o ideal de beleza masculina. Apesar de
se tratar de uma pressão menor para os homens, a indústria tem vindo a transformar
produtos a fim de criar um nicho de mercado que vislumbra os homens como
consumidores potenciais. Podemos observar um crescente número de anúncios
direcionados aos homens em que o padrão de beleza segue aquele da masculinidade
soberana, ou seja, corpos musculados capazes de expressar virilidade e dominação.

Segundo um estudo sobre a diferença entre anúncios dos anos 80 e dos anos 2000, houve
um enorme crescimento na utilização do sexo e poder como ideia chave do anúncio. Desta
forma vem confirmar a teoria de que o progresso das gerações veio introduzir uma nova
forma de sedução como forma de cativar, sendo o pensamento do sexo a mais atraente.
Num período, influência da televisão, mas também da internet, onde é possível ter acesso
a qualquer tipo informação, cada vez mais o choque e a excentricidade do conteúdo é
procurado pelo espectador. E só aderindo a este conceito é que a publicidade consegue
combater o tédio – facilidade de acesso, menos procura – do público.

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Conclusão

Existe uma enorme diferença entre os primórdios, pós-ditadura, da televisão em Portugal


e os dias de hoje. A educação e mentalidade conservadora transformou-se numa geração
livre e de mente aberta e as estações televisivas tiveram a sua marca de importância.
Foram elas as primeiras a quebrar as barreiras entre o conservadorismo e o livre-arbítrio
do pensamento das pessoas. A facilidade com que transmite a informação para o
espectador deu-lhe o poder de criar influências. Ou seja, ao transmitirem ideias novas
permitia ao espectador crescer e ajustar-se a novas mentalidades.

É caso para dizer que a geração Y foi a ponte para os dias de hoje. Chamada de geração
do milénio, foi ela que surgiu no meio entre “o não existir nada” e o “existir tudo”,
principalmente pela evolução da televisão e o nascimento da internet. Contudo esta será
sido uma geração que soube conciliar os ensinamentos antigos com os mais modernos.
Apesar de trazer algumas mudanças sociais como adiarem casar ou ter filhos, deixarem
de se preocuparem com a estabilidade financeira e dar maior preferência a trabalhos de
escritório do que físicos, conseguem ter uma mentalidade que os leve a serem esforçados,
preocupados e conhecedores do mundo real. Algo que não é possível verificar na geração
Z, que vivem sem quaisquer preocupações do seu futuro e que esperam que “tudo lhes
caia do céu”. Apresentam um descuido completo ao que se passa à sua volta e vivem sob
a futilidade das redes sociais, ou seja, ter vários seguidores e likes e arranjar formas de
ser famoso. Existe uma enorme procura pela satisfação pessoal e pela sua imagem,
perdendo virtudes como companheirismo, humildade e partilha. Essa mesma procura
provocou personalidades mais frágeis, incapazes de lidar com o falhanço e de suportar os
obstáculos que apareçam no caminho.

Para concluir, considera-se o erotismo público, não só o primórdio de novas


mentalidades, mas também uma metáfora de como será a geração futura. Voltando ao
início da história onde era impedido transmitir imagens eróticas e por isso as
pessoas eram mais conservadoras. E depois fazendo a ponte para o tempo da
descoberta que consistiu na transformação de mentalidades e mudança da mulher,
que deixou de ser visto como mulher doméstica e passou a ser vista como sensual,
poderosa e uma referência sexual. A revolução sexual acabou por coincidir com a

29
introdução da liberdade de conteúdo, e isso criou uma alteração “estratosférica” na
geração seguinte, como será nas futuras, tendo em conta a enorme transparência
que existe?

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Bibliografia

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