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# 2
THIERRY JOCHUM
JANSSEM CARDOSO
Sylvia Sleigh
Bom Dia!
O Homem Nu
FALO© é uma publicação bimestral.
Sumário
maio 2018.
ISSN 2675-018X
versão 10.04.20
R
capa: Nudez masculina, acrílica em madeira de Thierry
queno? E a resposta é tão boa que pro- Phallus nouveau
Jochum
epresentatividade. A pa- vavelmente o tamanho P passará a ser o
FC Design
R. Mario Portela 161/1603 C, Laranjeiras
Rio de Janeiro – RJ 22241-000
APRESENTAÇÃO Quando o art nouveau chegou à Alemanha, foi
chamado de Jugendstil, “estilo jovem”, devido
ABC
viu O Códido Da Vinci sabe que essa forma representa o masculino) Uma das premissas da revista é trazer conhecimento e, para isso, a
ou padrões geométricos semicirculares que induziam a repetição do legibilidade seria fundamental. Bodoni e Gill Sans foram as famí-
formato fálico. lia tipográficas escolhidas, fugindo do art nouveau. Claro que não de
Mas como escapar de um nome tão perfeito? De uma marca tão per-
feitamente harmônica com o projeto? Não seria possível criar uma
marca genérica com um nome genérico que poderia servir para qual-
todo… note que a capitular da sessão Falo na História (aquela letra
que inicia o texto) e a numeração de página são uma fonte curvilínea.
É a tipografia Eckmann, criada por Otto Eckmann, pintor alemão
que seguiu o estilo jovem e trabalhou no início da revista Jugend.
abc
quer tipo de nudez. Não. A essência da Falo é a Arte sobre a nudez
masculina. Isso deveria estar traduzido em todas as suas nuances. Acredito que agora fez sentido conhecer o art nouveau. Espero que sua
experiência com a revista se torne mais completa e harmônica. 8=D
Assim, a concepção do projeto gráfico seguiu fácil. Sem querer per-
der legibilidade ou carregar na ornamentação e na sinuosidade que o
O
francês Thierry Jochum considera a arte seu
desejo primário, sua escolha de vida. Apesar
de ter estudado design e hoje ser cabeleireiro
freelancer, livrou-se das amarras que impediam
sua expressividade e sua diversão com as cores.
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Thierry
Jochum
por Filipe Chagas Intervalo passivo, acrílica em díptico de madeira.
Nascido em 1981, em Estrasburgo, Fran-
ça, Thierry pinta com tinta acrílica em
pranchas de madeira, misturando sua pa-
leta de cores frias diretamente no supor-
te. Tendo Rembrandt, Rodin, Schiele e
Klimt como referências de corpo humano
e erotização, ele aplica seu olhar e teste-
munho sobre a sexualidade e usa a nudez
masculina para exercitar seu senso estéti-
co e causar ruído.
Eu gosto de retratar
o pênis em estado
normal. É tão erótico
quanto as preliminares.
Toda tensão corporal é meio de expressão
para Thierry, então, a ereção se torna im-
portante mesmo que difícil de ser retrata-
da e aceita. Vai construíndo um “jardim
de imagens” com fotos até que sente a
necessidade de criar algo que traduza sua
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sensibilidade sem filtros. Em certas ocasi-
ões, opta pelo uso de modelos para poder
alterar iluminação e posição da forma que
deseja, permitindo-o sentir a sensualidade
que quer transmitir.
É estranho e, ao mesmo
tempo, excitante ver o
constrangimento das
pessoas.
Casal nu, acrílica sobre madeira. Homens sexy, acrílica sobre madeira.
14 Esboços para Nu de costas, Homem nu, Masturbação I e Masturbação 2. 15
Cirurgia
nudez é proibida! Então, eu
mostro o nu frontal masculino
como uma arma! Não preciso
seguir dogmas puritanos.
plástica
Thierry em seu ateliê.
para
tiguidade eram homens nus, mas percebe que hoje a nudez mascu-
lina revela a vulnerabilidade do mundo liderado pela testosterona.
Thierry usa, então, sua arte para ampliar essa discussão. 8=D
você!
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CRM 5246681-1
Sensibilidade, acrílica sobre tela.
Janssem Q
uando criança, na cidade de Benjamim Constant,
no Amazonas, fronteira com o Peru, Janssem Car-
doso gostava muito de arte, mas ainda não pensa-
va que poderia fazer isso para a vida. Ao estudar
Cardoso
pintura digital, voltou ao desenho, às animações,
ao design e à produção de imagens em fotografia e vídeo. Um
processo demorado, porém, necessário.
20 21
Nesse projeto, Janssem se preocupa em re-
tratar a pessoa sem pose, sem roupa, sem
armaduras, de forma que ela se reconheça
como ela é de verdade em suas próprias “co-
res” interiores. Para isso, se isenta de seus
próprios desejos e preconceitos para se con-
centrar na melhor imagem. A nudez frontal
masculina, portanto, aparece normalmente:
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Falo de História
por Filipe Chagas
Sylvia
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Sleigh 1916 - 2010
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S
ylvia Sleigh (1916-2010) foi uma
pintora realista nascida no País de
Gales e naturalizada estadunidense.
Estudou pintura na Brighton Art
School, numa época em que as alu-
nas de arte eram, como ela lembrava, “tra-
tadas de uma forma de segunda classe”. De-
pois de finalizar seus estudos, trabalhou em
uma loja de roupas femininas e disse sentir
orgulho por ter despido Vivien Leigh. Abriu
sua própria loja em Brighton, fazendo cha-
péus, casacos e vestidos, mas fechou quando
a Segunda Guerra Mundial começou.
curador e crítico de arte Lawrence Alloway (que deu o nome à Pop Art), enquanto tinha
aulas noturnas na Universidade de Londres e ele era seu “muso”; casaram-se em 1954 e mu-
daram-se para os EUA em 1961. Juntos criaram uma casa que recebeu artistas, escritores e
músicos, muitos dos quais Sylvia pintou em obras que irradiam uma sensação de amizade e
apego emocional entre o artista e seus assistentes, além de apresentar uma série de figuras
culturais significativas da época.
Por volta de 1970, a partir de princípios feministas, Sylvia pintou uma série de obras rever-
tendo temas artísticos estereotipado ao colocar homens em posições tradicionalmente femi-
ninas, como uma Vênus reclinada ou uma odalisca. Alguns de seus trabalhos aludiam à obras
existentes, como sua versão para o Banho Turco, de Ingres (1892), onde retratou seu marido e
outros críticos de arte. Seu marido, reclinado e olhando para a pintora - e, consequentemen-
te, para o espectador – nos oferece um olhar íntimo, um vislumbre de sua relação pessoal.
Concert Champêtre,
óleo sobre tela, 1976. Em um momento em que o discurso feminista estava surgindo, sua
pintura destacava as desigualdades sociais e históricas de gênero no
nível do que é ou não é considerado uma representação aceitável.
Usava-a como ferramenta para induzir, através da lembrança das
pinturas famosas, um efeito de estranhamento (ou distanciamento)
para mostrar que o que percebemos como natural é, de fato, uma
convenção ideologicamente carregada. Sua pintura Lilith (1976),
por exemplo, criada como composição de uma instalação colabora-
tiva, retrata os corpos sobrepostos de um homem e de uma mulher
para esclarecer as semelhanças fundamentais entre os gêneros.
Convite para uma viagem: o rio Hudson em Fishkill, painéis a óleo, 1979-1999.
O Homem Nu
por Filipe Chagas
Nu não, livre
Encorpado, num corpo sem cuidados Encorpado, num corpo sem cuidados
Havia tudo que em qualquer outro tinha Havia tudo que em qualquer outro tinha
Corpo de homem. Corpo pelado. Corpo de homem. Corpo pelado.
44 Era um corpo, mas havia mais a vista. Era um corpo, mas havia mais a vista. 45
Aliás, não havia, e tudo estava exposto. Aliás, não havia, e tudo estava exposto.
Não havia vergonha, não havia falsidade. Não havia vergonha, não havia falsidade.
Não estava pelado, estava nu, sem medos. Não estava pelado, estava nu, sem medos.
Estava nu e aberto aos olhos sem pudores. Estava nu e aberto aos olhos sem pudores.
— Mas que vergonha! – Gritou um senhor indisposto. — Mas que vergonha! – Gritou um senhor indisposto. Com dois finais, a poe-
— É uma maravilha! – Suspirou uma estudante. — É uma maravilha! – Suspirou uma estudante. sia muda apenas os dois
— Será uma pegadinha? – Indagou uma senhorita. — Será uma pegadinha? – Indagou uma senhorita. últimos versos e expres-
Era um corpo sem embalagem, sem imposto. Era um corpo sem embalagem, sem imposto. sa a liberdade da nudez
através da loucura de
Parado, observou os passantes e riu-se. Parado, observou os passantes e riu-se. um homem que des-
Sacudiu-se todo, como se dançasse. Sacudiu-se todo, como se dançasse. pe-se completamente e
E em passos longos, braços no ar, girava E em passos longos, braços no ar, girava dança como se o mundo
Passeou pelo gramado, cantarolando baixo. Passeou pelo gramado, cantarolando baixo. não tivesse problemas.
Em um final, a realida-
Ouviu um som agudo e o giroflex ligado. Ouviu um som agudo e o giroflex ligado. de é evidenciada e nada
Foi levado algemado para o primeiro DP. Foi levado algemado para o primeiro DP. muda. No outro, vence a
Julgado e liberado por ser mais do que parece Julgado e condenado pela liberdade de ser. loucura. Ou a liberdade.
Taxado de louco, saiu rindo da normalidade. Foi preso e morreu vestido sem seu querer. O que o leitor preferir.
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Bom Dia! 47
Nada disso.
O
enquanto, “ginásio” era o local de se exerci-
s gregos antigos ficaram famosos por suas escul- tar nu. Logo, o tamanho do pênis dos gregos
54 turas de homens poderosos e ilustres com corpos 55
era desde sempre bem conhecido por toda
perfeitos, músculos tensos e marcados. Às vezes, a sociedade. Apesar de muitos dos modelos
essas figuras apareciam parcialmente cobertas que posavam para as estátuas terem sido
por um pano; porém, em sua maioria, estavam atletas durante ou após exercício físico (isso
completamente nuas. Para o olho contemporâneo, seus corpos influencia na circulação sanguínea do corpo
se aproximam do ideal, exceto por um “pequeno” detalhe: seu e – consequentemente – no tamanho), havia
falo de tamanho abaixo da média. um motivo real para essa escolha estética.
Hércules Farnese (estátua em mármore)
Enquanto hoje ser bem dotado é muitas vezes
mostra o grande heroi grego da huma-
equiparado ao poder e mesmo à boa lideran-
nidade em toda sua glória... e civilidade.
ça, o pênis nunca foi um sinal de virilidade ou
masculinidade na Grécia Antiga. A potência
vinha do intelecto necessário para responsa-
bilizar o homem pela paternidade, prover à
linha familiar e sustentar a polis (cidade-es-
tado). Em sua peça “As Nuvens” (c. 419-423
a.C.), o dramaturgo grego Aristófanes resu-
miu os traços ideais de seus pares masculinos:
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ISSN 2675-018X
falonart@gmail.com