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D IS C U R S O SO BRE

O F IL H O -
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D IS C U R S O SO BRE
O F IL H O -
-D A -P U T A
de Alberto Pimenta
Direcção de
Fernando Mora Ramos
(encenação)
e Miguel Azguime
(composição musical)
“EU QUERO SER CREMADO, MAS GOSTAVA QUE O FÓSFORO
FOSSE ACESO POR UMA GATA-PINGADA. DECLARO-O COMO
MINHA ÚLTIMA VONTADE.”

«Falar de mim no passado tem algo colonialista portuguesa levou a que


de incógnita e é transformado pelas fosse demitido do cargo que ocupava
experiências do presente», disse Alberto em Heidelberg. No entanto, a própria
Pimenta em entrevista a António Universidade alemã acabou por
Pocinho (revista LER, Verão de 1999). contratá-lo. Permaneceu por terras
Tentar reconstituir o seu percurso não germânicas entre 1960 e 1977:
é tarefa fácil, se tivermos em conta a «A Alemanha deu-me uma outra língua,
riqueza e multidisciplinaridade de uma com um outro modo de organizar
vastíssima produção. Ainda assim, um mundo em volta, e deu-me uma
arriscamos alguns dados relevantes. perspectiva a partir de um centro — o
Natural do Porto, onde nasceu a 26 de centro da Europa.»
Dezembro de 1937, Alberto Pimenta Publicou o primeiro livro em 1970, com
disse um dia guardar da infância a o título O labirintodonte. Influenciado
memória do racionamento e das sirenes pela poesia concreta alemã, Pimenta
de alarme durante o período da referiu-se aos seus poemas iniciais
II Grande Guerra. Filho de pai militar, enquanto manifesto de salvação
colocado então nos Açores, saiu da possível do indivíduo num meio
cidade invicta em 1952, com 15 anos, colectivo. João Gaspar Simões
para estudar em Coimbra. Licenciou-se comentou o livro de estreia, no Diário
em Filologia Germânica na Universidade de Notícias, sublinhando um arsenal
dessa cidade. lúdico cultivado outrora “pelos nossos
Em 1960 foi contratado pelo governo poetas seiscentistas”. No mesmo artigo
português como Leitor em Heidelberg. menciona-se que esse mesmo arsenal
Data dos anos iniciais na Alemanha a foi utilizado para dizer puras verdades a
produção dos primeiros trabalhos brincar, o que, em certo sentido, será
visuais, nomeadamente colagens. característica essencial em praticamente
Apesar de, contra sua vontade, surgir todo o trabalho subsequente do autor
frequentemente associado ao grupo em causa.
da chamada poesia experimental, cuja Antes de regressar a Portugal, em 1977,
publicação dos primeiros cadernos Pimenta publicou outros livros de
data de 1964, Pimenta não integrou, poesia: Os entes e os contraentes (1971)
por razões biográficas, este movimento e Corpos estranhos (1973), marcando
vanguardista português. Encontrava-se também presença na Antologia da
na Alemanha, onde enraizou o seu Poesia Concreta em Portugal (1973).
interesse por manifestações artísticas O ano do regresso foi assinalado com
tais como o happening e a performance. uma intensa actividade em diversos
Em 1963, a sua oposição à política domínios. Publicou o volume de
poemas Ascensão de dez gostos à boca, peripécias porque fui o que se chamava
o ensaio O último sortilégio, assim como na altura refractário — não fui fazer o
o registo do famigerado happening serviço militar —, e isso acarretou-me
Homo Sapiens. variadíssimos problemas, inclusive o
Cúmplice privilegiado deste espectáculo terem-me negado prorrogar o
performativo, o escritor Almeida Faria passaporte.» E acrescenta: «O Discurso
foi anotando observações dos mirones vendeu bastante e foi traduzido em três
que, no dia 31 de Julho de 1977, deram línguas. É prosa, claro, e com um título
com Alberto Pimenta fechado numa de que muita gente diz, depois de ler,
jaula do Palácio dos Chimpanzés do “porra, não era isto que eu esperava,
Jardim Zoológico de Lisboa. «É um não era nada disto”, porque tem um
macaco que sabe ler», dizia um; «É um rodar em volta de uma ética e não é
literato», comentava outro. O Libération nenhuma exclamação de violência que
noticiou o acontecimento. Em entrevista resolva.»
a João Céu e Silva (Diário de Notícias, 17 O Discurso Sobre o Filho-da-Puta é hoje
de Agosto de 2019), o autor revelou que um dos livros mais apreciados em
a acção lhe custou o lugar para o qual Portugal, com sucessivas reedições, e
tinha sido convidado na Universidade tem sido objecto de várias traduções
do Porto «porque houve alguém que e publicações no estrangeiro. Logo
disse que um tipo que se mete numa no ano seguinte à primeira edição,
jaula no Jardim Zoológico, por razões encontramos Alberto Pimenta a fazer
curriculares, não pode celebrar um para a RTP o programa A Arte de Ser
contrato para dar aulas». Resultado: Português. No Parlamento foi discutido
8 anos no desemprego. o “eventual carácter ofensivo” da série.
A primeira edição do Discurso sobre o Ainda para televisão, além de
filho-da-puta, principal livro em prosa colaborações avulsas, o autor do
de Alberto Pimenta, sai logo a seguir ao relevante ensaio O Silêncio dos Poetas
escândalo zoológico. O autor refere- fez Seis Árias para Cesário e participou
-se-lhe nos seguintes termos: «É um como comentador no programa da SIC
livro que sai no fim do ano de 1977 mas Noite da Má Língua.
estava pronto em Setembro, depois de Ao longo das últimas décadas, o labor
ter regressado ao país. É um dos raros criativo de Alberto Pimenta foi-se
livros que escrevi em prosa, embora seja dividindo por obras visuais, livros de
uma prosa poética pelas repetições poesia, intervenções artísticas de
estilísticas. Eu estava regressado a diversa ordem, ensaios, ficções e
Portugal após ter passado 17 anos na antologias, num mapa complexo de
Alemanha, um regresso com bastantes actividades que pode ser consultado
nas páginas finais da reunião da sua EDIÇÕES DO DISCURSO
obra poética, à qual deu o título Obra SOBRE O FILHO-DA-PUTA
Quase Incompleta (Fenda, Maio de
1990). Na realidade, são variadíssimos os 1977 – Discurso sobre o filho-da-puta
volumes subsequentes a esta primeira (Lisboa: Teorema)
tentativa de reunião. Não sendo este o 1979 – 2.ª edição, anotada por Telles
lugar para um inventário exaustivo dos Capêlo (Lisboa: A Regra do Jogo)
mesmos, cabe sublinhar que, na História 1980 – Discorso sul figliodiputtana
da Literatura Portuguesa, Pimenta (Milão: All’Insegna del Pesce)
surge referenciado como um dos mais 1981 – 3.ª edição, ampliada (Lisboa:
originais e extravagantes poetas que A Regra do Jogo)
se revelaram nos anos de 1970, de 1982 – Discurso sobre o filho da puta
acentuada agressividade iconoclasta, (Rio de Janeiro: Codecri)
repto eficaz a todas as convenções de 1987 – 4.ª edição, com comentários
seriedade comunicativa, recorrendo a de Capêlo Filho (Coimbra: Centelha)
efeitos de absurdez narrativa ou retórica 1990 – Discurso sobre el hijo-de-puta
e de dessacralização radical. (Valencia: trad. Víctor Orenga)
Voluntariamente independente de 1990 – Discurso sobre el hijo-de-puta
movimentos, grupos, caciques, a sua (Catalunha: trad. Amós Belinchón)
obra é um exemplo de subversão 1991 – 5.ª edição, com novas
satírica dos valores e de desconstrução circunstâncias e doutrinas gerais e
da retórica oficial. úteis para o seu melhor conhecimento
(Lisboa: Fenda)
1996 – Adresse aux fils de pute (Paris:
L’insomniaque)
2000 – Discurso sobre o filho-de-deus,
ao qual se segue o Discurso sobre
o filho-da-puta (Lisboa: Teorema)
2010 – 6.ª edição (Porto: 7 Nós)
DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA PELO TEATRO DA RAINHA

Pegar no Discurso sobre o filho-da-puta FDP que vive para ocupar os lugares
para dele fazer um objecto cénico não que ocupando lhe possibilitam chegar
é tão improvável como possa parecer, ao topo, ao mando, ao comando,
nem tem nada de vanguardismos repetindo técnicas e modos de trair.
estéreis. O texto possui qualidades O mundo convocado é o das
rítmicas, sendo uma contrafacção em solenidades institucionais, o do
tom cómico sério do nosso mundo oficialismo, de que de alguma maneira
oficial, institucional, em particular dos parecia termos saído no 25 de Abril,
universos escolar e eclesial. Sério com todos os aspectos aparentes de
cómico revela um orador — é um fachada bem realizada de fresco para
discurso que segue as regras da retórica esconder todas as hipocrisias e podres
para ludicamente as implodir — por que por detrás habitavam, pois era
detrás, um astucioso autor, alguém que nesse ambiente malsão e bolorento
entre o rigor gramatical e o desejo de que as características favoráveis ao
fustigar o preconceito corre atrás do desenvolvimento do vírus da filha
prazer de jogar as palavras a partir do da putice e das pessoas dos filhos da
seu sentido dúplice, ambivalente, puta, se encontravam e progrediam: a
polissémico, musical, seguindo delação e a figura do pide informador,
consonâncias e estruturando fragmentos muito disseminada e que ainda aí anda
textuais associados por blocos de em muitos comportamentos reais, os
sentido que vão derivando por associação, caminhos do arrivismo e as técnicas de
tanto puramente literal, ortográfica, sacanear o parceiro, a traição dos ideais
como poética, brincando à retórica que se diziam defender, a ortodoxia
filosófica, cientista, glosando e gozando burra, o complot, a manobra obscura, a
a figura do tratado de sapiência, por capacidade de insinuação, o jeito parti-
vezes de modo burlesco, por vezes num cular para oportunamente mentir, o faz
excesso de fidelidade mimética — o que que faz e o faz que não faz para tudo
fazendo cair no ridículo além de matar ficar na mesma e parecer o contrário,
traz o riso. a roupa apropriada na circunstância, o
O ruído verbal que emana da simulada nepotismo, saber subir, saber ser lacaio
consistência discursiva, assente na para vir a ser chefe, saber torturar, saber
repetição, assim como a circularidade manipular e sobretudo amar a pátria ao
tautológica que variando reafirma o já ponto de usar gravata verde rubra e ser
afirmado, mostram como o “raciocínio” cidadão cumpridor amante de
do discursista tem aquele fulgor de cerimoniais de fausto e vazios de
alcançar horizontes no momento em sentido vital — o FDP é um
que morde a cauda — tal como faz o comemorativista, um amante das datas
que celebram mortes, um militante da acto de iconoclastia necessário — seria
acumulação de regressos evocadores altura para estarmos longe das águas
do passado egrégio como peso, inércia paradas que o inspiraram. Fazê-lo na
dramática e kitch, ele grita em surdina perspectiva que ilumina esta
para si mesmo “viva a morte”, como o concretização cénica, segundo a
general de Franco, pois cultua as abordagem que tentamos levar para a
abstracções herói-maníacas, a frente, cénico-musical e cómica séria,
megalomania e a grandiloquência, rítmica e coral — o orador é um coro a
sendo admirador da tortura e do quatro vozes, convertendo-se a oração
castigo, da sevícia. Sim, nele, tudo tem de sapiência num comentário amplo
que ver com a morte, como refere e politizado, coro igual a delegação da
Pimenta, com celebrar a morte, mas cidade — é, além do mais, plantar um
também com flores de plástico. antídoto difícil de definir e de classificar
O FDP é avarento, como o de Molière, — é nessa medida que é uma
poupado, cobiça a mulher e o marido experimentação — em pleno
dos próximos, não está longe da figura conservadorismo prá frentista tecno-
de Tartufo — um fdp eminente — nem -informático, esse que marca o ambiente
da do manobrador Iago, nem da figura nacional e nos impede, de facto, de ser
abundante do religioso pedófilo, nem um país com outro amor das liberdades,
do cinzentismo salazarento do um amor culto na diversidade do que
funcionário cumpridor que nada faz e qualifica a cultura como pontos de vista,
tudo cumpre, nem do novo-rico informado, laico, republicano e
trauliteiro da política, cujo emancipado.
conservadorismo fascizante, sendo Esta peça textual — um sermão
praticante das fake news é, de algum burlesco contemporâneo — é um grito
modo, bem-sucedido no “nosso meio” gramaticalmente impecável, rigoroso
de forma a que, percentualmente — é de sentidos e forma, pela liberdade livre
assim que se medem os valores — é e contra o preconceito e o amiguismo
uma existência real, um vírus legal e hipócrita e nepótico que continua a
visível, em acção, numa democracia constituir os modos da nossa
que, tendo gerado a aberração e seu sociabilidade, muito atravessados de
direito de antena, só pode estar doente, ambições de poder e poderes de facto.
doente de costumes e saudade do fedor A palavra é SUBIR na vidinha e para
sacristão e policial dos tempos da velha isso sempre que necessário “dar à anca”,
senhora. como escreveu o Mário-Henrique Leiria.
Fazer o FDP do Alberto Pimenta, em
2020, é, por paradoxal que pareça, um Fernando Mora Ramos
A MÚSICA NO DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA

Desde há muito que procuro fomentar Por outro lado, é ritual e conforma
no meu trabalho um estado de ironicamente, práticas comuns aos
“integração” entre o semântico e o concertos de música erudita, tanto pelo
fonético — música enquanto texto e protocolo exacerbado, como pela carga
texto enquanto música, talvez pelo simbólica, mas também pelo rigor e a
ofício múltiplo que caracteriza a minha depuração do gesto, do gesto poético
actividade artística, repartida entre o tornado gesto musical.
intérprete, o performer, o compositor e O Discurso acolhe assim um quarteto
o poeta. de actores, como se um quarteto de
Abordar este texto prodigioso estava músicos se tratasse, quarteto de cordas
faz tempo no horizonte, não só por vocais pois, para dar voz a um discurso
aquilo que enuncia e pela sua coral no qual a palavra se faz música e
intemporalidade — e como tal se organiza em timbres, ritmos,
actualidade, mas também porque harmonias, melodias; ora em uníssono,
nele se projectava uma cumplicidade ou em homofonia, ou em heterofonia,
crescente de ideais e de pesquisa com o ou em polifonia, ou em contraponto.
Fernando Mora Ramos, por conseguinte Assim mais do que ser música
a vontade de uma parceria criativa entre acrescentada ao texto poético de Alberto
o Teatro da Rainha e a Miso Music Pimenta, a música que aqui está em
Portugal. causa é sobretudo o reconhecimento e o
O Discurso sobre o filho-da-puta desvendamento da música que o texto
oferece-nos do ponto de vista musical já contém, dando a ouvir diversamente,
uma quase partitura, pelas dando a ouvir de novo; e assumindo a
características com propriedades palavra na sua vocalidade plena; e a voz
sonoras da escrita poética de Alberto falada nas suas extraordinárias
Pimenta, e contém pois, desde logo, os possibilidades de emissão múltipla,
elementos propícios a uma repartição sonoras e expressivas.
por várias vozes, de um personagem
simultaneamente uno e múltiplo. Miguel Azguime
ACERCA DO DISCURSO

A primeira edição do Discurso Sobre prova do renovado interesse pela


o Filho-da-Puta data de 1977, ano em reflexão então levada a cabo. De resto,
que Alberto Pimenta (n. 1937) regressou o próprio objecto de análise presta-se a
a Portugal após 17 anos de afastamento tais atenções, dada a sua elevada
em terras germânicas e 3 anos passados capacidade reprodutiva e notável
sobre a Revolução de 25 de Abril de dispersão pelo globo terrestre. Por
1974. Ao contrário de outros portugueses comparação a outro discurso, o do
exilados no estrangeiro durante a método, tenderíamos a considerar, ao
ditadura, Pimenta não regressou logo contrário de Descartes, a forte
a seguir ao derrube do antigo regime. possibilidade de ser o “filho-da-puta”,
Diversas peripécias burocráticas, e não o bom senso, a coisa do mundo
relacionadas com uma atitude mais bem distribuída.
refractária ao serviço militar e Convém sublinhar a opção de
subsequentes consequências em Pimenta pela forma discursiva para
matéria de passaportes, fizeram com aquela que foi a sua primeira obra em
que permanecesse na Alemanha. prosa. Poeta influenciado pelo
Todavia, o retorno não podia ser mais construtivismo alemão, autor de
auspicioso. Acabado de chegar à pátria, poemas onde a dimensão visual se unia
o reconhecido académico português a uma atitude dessacralizadora das
fechou-se numa jaula para macacos em convenções, com uma apurada
pleno Jardim Zoológico de Lisboa. consciência crítica do quotidiano e do
O happening a que chamou “Homo modo como os diferentes níveis ou
Sapiens” custou-lhe o lugar para o qual camadas da linguagem nele se
tinha sido convidado na Universidade do imiscuem, o autor de O labirintodonte
Porto. Estávamos em Julho e o Discurso (1970) optou por um formato clássico
ficou pronto para edição em Setembro, para a sua estreia em prosa. Poema em
acabando editado pela Teorema, na prosa? Monólogo? Narrativa reflexiva?
colecção Lobo Mau, já no final do ano. Ficção? Discurso. E, enquanto tal,
Podemos supor uma atitude catártica de-curso reflexivo, encadeamento de
de tipo revanchista nas palavras dirigidas raciocínios motivados por sucessivas
por Pimenta aos seus “estimados questões acerca de um objecto ao
compatriotas”, suposição que, fazendo mesmo tempo abstracto e concreto, a
algum sentido, não esgota o alcance figura-tipo do “filho-da-puta”.
de uma obra universal e resistente a Foi Aristóteles quem inventariou na
qualquer tentativa de fixação histórica antiguidade clássica os diferentes tipos
ou biográfica. Sucessivas reedições e de discurso, não se ficando Alberto
diferentes traduções aí estão como Pimenta por apenas um deles.
O Discurso Sobre o Filho-da-Puta tem gregária, sublimando invariavelmente a
tanto de lógico quanto de poético, é liberdade individual em detrimento da
um diálogo interior do pensamento e servidão colectiva. Assim é também
percorre os diversos tipos de retórica neste “discurso”, pulverizado com
conhecidos. A adaptação dramática que inúmeros jogos fonéticos, repetições,
o Teatro da Rainha agora concretiza aliterações, cacofonias, numa energética
respeita essa diversidade, fazendo e erótica dança de palavras embaladas
corresponder uma multiplicidade de por um ritmo que salta de parágrafo em
registos coloquiais à variedade de parágrafo, sem pausas, mas contendo
filhos-da-puta aludidos ao longo do no seu interior hesitações, dúvidas,
discursus. Vários num só, como na elipses. Agradável de notar como estes
cabala o Uno são muitos. Do orador em jogos foram ajustados ao palco, numa
assembleia ao professor, do discípulo versão que tem tanto de burlesco como
que defende a tese ao maestro, do de ritual maçónico (enfim, haverá
padre ao político, passando pelo diferença?), não se eximindo da
vendedor de banha da cobra, a retórica expressividade gutural onde o texto o
persuasiva ensaiada nesta peça faz-se exige e até de uma certa abjecção que o
valer tanto da emoção (pathos) como da próprio objecto em análise convoca.
razão (logos), impondo-se através de um Referindo-se à obra de Alberto Pimenta,
ethos que pressupõe a existência de um Joaquim Manuel Magalhães afirmou
locutor deveras informado acerca do que que “a ética sarcástica não se limita ao
tem a comunicar aos seus receptores. trocadilho ideológico, antes parte daí
Esta autoridade não é, contudo, para atingir conseguimentos estilísticos
permanente, contínua, estanque, ela inovadores”. Isto é especialmente
tem os seus desdobramentos e evidente no Discurso, quer pela
reencarnações, transporta-nos, visual desmontagem operada dos códigos
e musicalmente, do cerimonial retóricos, sedutores e persuasivos,
religioso e monástico até ao cabaret de optando por um tom reflexivo de tipo
Kurt Weill, porque “não há lugar onde, quase acusatório, quer pela ironização
procurando bem, não se encontre um implacável da prelecção académica. Os
filho-da-puta”. caixilhos no cenário, assim como a
Avesso a qualquer tipo de linearidade, estátua ao morto, são leituras de um
como em tempos referiu o crítico e entronizamento de que o “filho-da-puta”
poeta Manuel de Freitas, o corpus se faz valer para se perpetuar no poder
literário de Pimenta tem as suas raízes também como alvo de glorificação e de
nas cantigas de escárnio e maldizer, no adoração. Se o policiamento, o
vigor da sátira desconfiada da existência paternalismo opressor e o
colaboracionismo reverencial, são emigrantes.» Por momentos, uma
características essenciais da pandemia veio tornar ainda mais claros
personagem-tipo dissecada por e evidentes, como pretendia
Pimenta, a absoluta liberdade de análise Descartes com o método, os modus
ou de pensamento é aquilo que melhor vivendi, faciendi e operandi dessas
define o locutor de serviço. E essa criaturas que não deixam nunca espaço
liberdade é o outro lado da porta, é para ilusões e utopias. Às oito cordas
aquilo que se opõe ao endeusamento vocais que em palco se dirigem ao
de um dos lados. público cabe dizer, sem entronizar
Quem se achar atento aperceber-se-á ou censurar, apenas dizer, cantando,
da pertinência subjacente à dançando, rindo, pois é pelo riso e pela
recuperação deste texto no período festa que melhor se combate o “filho-
pelo qual estamos a passar, com ecos de -da-puta” e se resiste aos seus discursos
1977 vaticinando coincidentemente, ou de sedução. O riso é um escudo
não, terríveis realidades actualíssimas: protector, sem dúvida.
«o filho-da-puta em tempos chamava
escravos aos que hoje chama Henrique Manuel Bento Fialho
À CONVERSA COM FERNANDO MORA RAMOS

O Discurso sobre o filho-da-puta é muito disseminada, da palestra, da aula.


difícil de classificar. Algures entre a É todo um universo de referências e
poesia e a chamada prosa poética, modos gestuais, de gestos na
aparentemente distante do que perspectiva do “gestus social” de Brecht,
tendemos a considerar um texto do gesto que revela formas de
dramático. É uma espécie de texto exercício de poder — quem tem a
transgénero. Como surgiu a ideia palavra tem o poder — em
de o adaptar a um contexto teatral? deslocalização de contextos de
referência nem sempre concretos, pois
O Discurso sobre o filho-da-puta tem o texto, na sua abstracção retórica —
potencialidades teatrais, são-lhe quem o discursa pretende convencer,
imanentes, fala longa, sábia, de um seduzir — abre-se a um oceano de
orador, um provoc’autor. Pôr em cena destinatários nas suas ondas
é revelar essas potencialidades numa provocatórias e rigorosas. Quase tudo
escrita corporal, que cénica, não é vem à rede na determinação
previsível e é disciplinarmente classificatória dos tipos e subtipos de
múltipla, pois essas potencialidades, na “fdp’s”, aqui o Discurso é muito
sua imanência e vitalidade anímica taxonomia antropológica, analítica de
presencial, não trazem receita de propósitos, comentário. Imaginámos
conversão audio-visiva, tridimensional, um coro para o seu registo cénico —
presencial, cénica, o que vai surgindo como o coro grego mas mais livre que a
dos ensaios. Escrever é tentar, repetir e visão delegada da cidade, mais
variar, trabalhar hipóteses, comprometido com a figura sempre
descobrir evidências no que parece em “fuga” do autor — para além do
surdo e mesmo incompreensível, que logo se supõe de lógica de orador
procurar na matéria tímbrica das vozes e oratória. O texto começa “Estimados
e corpos as singularidades da compatriotas”, é todo um programa.
transcrição, da transformação do texto
adormecido no papel em vida num Alberto Pimenta é poeta e ensaísta,
espaço contentor. mas também um conhecido performer.
Há no texto uma contrafacção do Faz sentido pensar que esta é uma
mundo dos oficialismos, das incursão do Teatro da Rainha por um
instituições, sob a forma de um teatro mais performativo?
cruzamento entre o sermão burlesco —
um carnaval da oração que Gil Vicente Entendo a performance como parte do
praticou — a oração de sapiência, o acto teatral. A parte mais elementar,
elogio fúnebre, o comício e a prática, despida da multidisciplinaridade, o
osso mesmo, o corpo falante-gestual, nessa busca de um gesto que não se
a contracena. O que é performativo é senta em cima de um mimetismo fácil,
o espontâneo que na escrita de cena, aquele que estupidamente afirma que
nos ensaios, faz com que a energia da “na realidade é mesmo assim”, quando a
presença seja inesperadamente escrita, arte é uma reconstrução artística do real
e sempre, todos os dias, acontecimento e a performance esse gesto inesperado e
único e imprevisível, surpresa — sem vital, elementar no seio de uma maneira
isso só há comunicação requentada, de fazer, um método — eu não disse
tautologia, redundância gordurosa. “O método”.
A repetição não mata a espontaneidade.
O intérprete tecnicamente apetrechado A primeira edição do Discurso data de
encontra sempre essa respiração diversa 1977. Foi depois publicado em Itália,
no mesmo gesto, é capaz de o concretizar, Brasil, Espanha, França. Parece haver
muita intuição inteligente nisso. uma certa universalidade e
Ora a performance, como acto único, intemporalidade na personagem-tipo
pretende dizer uma única vez o nunca do filho-da-puta. Estamos a falar de
dito, uma utopia como outra qualquer, uma espécie de clássico do futuro?
já que tudo é sempre referido a qualquer
coisa, a um antes referencial, ninguém Eu acho isso. Quando um texto não se
imagina sem palavras, a língua precede dá a ler de uma vez só, como se lido
tudo. Muitas vezes o que acontece é morresse ali, quando diz coisas
que esse inesperado nunca acontecido, diversas em momentos e épocas
o não representado mas “presentado”, é diferentes, quando tem qualidades
na realidade requentado re-presentado. estilísticas
Como acontece com quem queira tocar esteticamente reconhecíveis, como
piano sem conhecer as teclas, dizendo inesperadas — e, neste caso, entre
que compõe uma peça nunca ouvida conteúdo e forma, a contradição é
e que essa peça ensinará aos ouvidos evidente —, quando a ele se regressa
outros modos de ouvir — o piano — as edições creio que são já seis, em
condiciona tudo, como o corpo português, fora as que referes noutras
instrumento e a língua que o habita. línguas — e se volta a regressar para
Na improvisação nada se improvisa e o trazer à actualidade instante, como
o que se improvisa, em torno de, vem agora — é inacreditável que, estando a
com as inevitáveis referências e vícios fazê-lo, fale de “FDP’s” universalmente
do improvisador, quando não clichés. conhecidos do nosso presente como o
O que fazemos em palco, no teatro, no Trump e o Bolso… mais os seus eleitores,
teatro que queremos fazer, é sempre sem que forcemos uma interpretação;
quando o texto tem uma perspectiva los comunitários são frágeis e o indivi-
histórica clara face ao que denuncia, etc, dualismo receita, o mercado faz de cada
estamos perante a força de um um, um consumidor e uma
clássico, é essa resistência ao tempo — mercadoria, na mesma pessoa corpo.
ficar colado ao tempo do parto — que Ora essa pandemia só se resolve com
o projecta em nova vida, novas leituras, a revolução que nunca houve, aquela
é essa diversidade das leituras que o que, de facto, traga uma sociedade de
enriquece. O “fdp”, como os “fdp’s” que entre-iguais, de “a cada um segundo as
inventaria, está vivíssimo e com ele suas necessidades, de cada um
também regressamos a um português segundo as suas potencialidades e
que é de recorte erudito e comum, tão vocação, para que o todos seja um
necessário num momento de subalter- todos sem relações de mando e
nização da própria língua por via do AO, obedecimento, com toda a diversidade
um português à procura de um “êxito do que sejam singularidades e com
comunicativo no mercado dos falantes” todas as condições de realização de um
e da anglicização. comum de gente emancipada.”

A propósito de personagem, uma


das características do filho-da-puta O Teatro da Rainha está a comemorar
parece ser a sua enorme capacidade 35 anos de actividade. Quiseram os
de adaptação a diversos habitats. Ele astros que num ano estranhíssimo das
tanto se encontra na Academia como nossas vidas, exigindo aos
no Estado ou na Igreja, é uma agentes culturais esforços adicionais
propriedade ou categoria que não para os quais ninguém parece estar
olha a estatutos nem classes sociais. devidamente preparado. O texto
Estaremos a falar de um outro tipo de do Alberto Pimenta tem também
pandemia? qualquer coisa de muito pertinente,
até profético, sobre certas figuras que
Exacto, o “fdp” é viral e pandémico. vêm emergindo com muita clareza
Com a agravante que não vale a pena nestes tempos difíceis. Como é que se
ter a ilusão de que há uma vacina olha para o futuro a partir do que está
possível, pois o arrivismo, o nepotismo, a acontecer?
o modismo, o carreirismo, o
militantismo acéfalo, o corporativismo, O futuro está sempre a acontecer e
são doenças sócio-tribais, basta viver nunca vem, temos sempre expectativas
em sociedade e elas estão aí e que estão além do realizado e realizável.
particularmente nesta em que os víncu- No entanto, olhando para trás, fizemos
um caminho que posso dizer notável. nacionalismos que aí estão, nunca
Passámos por tudo, como o Clindor procurou a universalidade mas pôr o
do Corneille, na Ilusão Cómica, fomos mundo nas mãos dos mais poderosos
ricos de arquitecturas e extremamente como se fora um brinquedo seu e
pobres delas, precários, e obviamente, as pessoas a sua carne para canhão
nada acumulámos, não mais que saber, disponível. Por cá há agora muita coisa
conhecimento, modos de fazer e novos exacerbada e vêm aí tempos
horizontes de dramaturgia e escrita complicados. Não creio que escapemos
cénica. ao tal “austeritarismo”, estas forças no
Aprendemos um teatro diferente do poder lêem o mundo a partir das contas
que conhecemos quando arrancámos. do orçamento, é uma tabuada de regras
Muito mais empenhado na escolares médias, contra a vida, uma
subjectividade que os textos assumam, receita de economistas — não
menos colados aos obrigatórios podemos ser governados por
grandes temas universais, e mais economistas, não têm visão do
colados ao pequeno acontecimento, mundo. A mediocracia está instalada e
à gente pequena, no cruzamento da há muita gente desejosa de mais poder
relação entre o íntimo e o político. Para de compra, de mais estatuto, de mais
nós, neste tempo de vida, houve salário e muito justamente — mas não
situações mais complicadas e mesmo como horizonte exclusivo, no fundo,
quase trágicas que esta agora, várias falta dele. Há um sindicalismo mental
vezes quiseram acabar com a corporativista, estatístico, muito
companhia, e até a partir de gente parecido na resposta com o quadro de
muito próxima, do mesmo suposto quem impõe uma agenda,
campo de prospectivas. A agenda — todos os dias falam todos
O futuro nem os omniscientes o de um mesmo que é o mesmo para
conhecem, para nós continua luta todos, o mesmo sempre quantificável
diária, teimosia, só sabemos fazer isto — uma luta de números domina os
e pensar que o que fazemos serve para contendores — isso é um erro
que uns tantos possam sonhar com monumental de análise do real para
outro mundo concreto. Um mundo em quem assuma ser força de mudança.
que a crítica esteja inscrita e que “o belo, O futuro a inventar está fora desses
o agradável e o novo” sejam bem-vindos, campos, é noutro algures, ao lado. A
para citar o Pimenta. O fechamento em vida está noutro lugar, mais perto do
que nos encontramos é terrível, leva a corpo e da generosidade — é curioso
formas de patriotismo acéfalas, a que o Pimenta fala da Escola como um
globalização gerou estes lugar de omissão de vida.
E o fascista que aí anda está a cavalgar pela mentira ideológica, a imposição de
este corporativismo dos salários, das regras sanitárias excessivas, que limitam
pensões, de certos grupos para além da defesa da saúde de todos
profissionais, da ameaça de outras as liberdades, têm levado a uma maior
culturas que tendam para uma outra aceitação do que se apresente como
hegemonia que não a da sacrossanta providencial, salvador, em registo é
tradição judeo-cristã, como é o caso claro, de star sistema parolo local que o
das forças policiais e das questões da nosso firmamento começa ali em
segurança em geral. Algodres de cima e acaba sempre na
A paranóia securitária, o medo cultivado Rampa do Chiado.
pela irresponsabilidade e mediocridade Vamos ver, mas não tenhamos ilusões, a
informativa e mediática, pela mentira e besta anda aí.
DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA

Autor | Alberto Pimenta


Direcção | Fernando Mora Ramos (encenação) e Miguel Azguime (composição musical)
Quarteto de cordas vocais | Cibele Maçãs, Fábio Costa, Marta Taveira e Nuno Machado
Iluminação | António Anunciação e Lucas Keating
Cenografia e figurinos | Fernando Mora Ramos
Galeria de retratos do FDP | José Serrão
Estátua do FDP | Mariana Sampaio

Direcção de produção | Ana Pereira


Criação de imagem, ilustração e design gráfico | José Serrão
Organização do Programa | Henrique Manuel Bento Fialho
Montagem | António Anunciação e Lucas Keating
Comunicação | Cibele Maçãs e Nuno Machado
Fotos | Lina Cruz e Paulo Nuno Silva
Costureiras | Mafalda Santos e Cheila Mendes
Construção de corrimãos | Joel Pereira
Secretariado geral | Teresa Almeida

Agradecimento: Ernesto & Antunes

Apoio à comunicação:

Co-produção Teatro da Rainha e Miso Music Portugal


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