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O F IL H O -
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D IS C U R S O SO BRE
O F IL H O -
-D A -P U T A
de Alberto Pimenta
Direcção de
Fernando Mora Ramos
(encenação)
e Miguel Azguime
(composição musical)
“EU QUERO SER CREMADO, MAS GOSTAVA QUE O FÓSFORO
FOSSE ACESO POR UMA GATA-PINGADA. DECLARO-O COMO
MINHA ÚLTIMA VONTADE.”
Pegar no Discurso sobre o filho-da-puta FDP que vive para ocupar os lugares
para dele fazer um objecto cénico não que ocupando lhe possibilitam chegar
é tão improvável como possa parecer, ao topo, ao mando, ao comando,
nem tem nada de vanguardismos repetindo técnicas e modos de trair.
estéreis. O texto possui qualidades O mundo convocado é o das
rítmicas, sendo uma contrafacção em solenidades institucionais, o do
tom cómico sério do nosso mundo oficialismo, de que de alguma maneira
oficial, institucional, em particular dos parecia termos saído no 25 de Abril,
universos escolar e eclesial. Sério com todos os aspectos aparentes de
cómico revela um orador — é um fachada bem realizada de fresco para
discurso que segue as regras da retórica esconder todas as hipocrisias e podres
para ludicamente as implodir — por que por detrás habitavam, pois era
detrás, um astucioso autor, alguém que nesse ambiente malsão e bolorento
entre o rigor gramatical e o desejo de que as características favoráveis ao
fustigar o preconceito corre atrás do desenvolvimento do vírus da filha
prazer de jogar as palavras a partir do da putice e das pessoas dos filhos da
seu sentido dúplice, ambivalente, puta, se encontravam e progrediam: a
polissémico, musical, seguindo delação e a figura do pide informador,
consonâncias e estruturando fragmentos muito disseminada e que ainda aí anda
textuais associados por blocos de em muitos comportamentos reais, os
sentido que vão derivando por associação, caminhos do arrivismo e as técnicas de
tanto puramente literal, ortográfica, sacanear o parceiro, a traição dos ideais
como poética, brincando à retórica que se diziam defender, a ortodoxia
filosófica, cientista, glosando e gozando burra, o complot, a manobra obscura, a
a figura do tratado de sapiência, por capacidade de insinuação, o jeito parti-
vezes de modo burlesco, por vezes num cular para oportunamente mentir, o faz
excesso de fidelidade mimética — o que que faz e o faz que não faz para tudo
fazendo cair no ridículo além de matar ficar na mesma e parecer o contrário,
traz o riso. a roupa apropriada na circunstância, o
O ruído verbal que emana da simulada nepotismo, saber subir, saber ser lacaio
consistência discursiva, assente na para vir a ser chefe, saber torturar, saber
repetição, assim como a circularidade manipular e sobretudo amar a pátria ao
tautológica que variando reafirma o já ponto de usar gravata verde rubra e ser
afirmado, mostram como o “raciocínio” cidadão cumpridor amante de
do discursista tem aquele fulgor de cerimoniais de fausto e vazios de
alcançar horizontes no momento em sentido vital — o FDP é um
que morde a cauda — tal como faz o comemorativista, um amante das datas
que celebram mortes, um militante da acto de iconoclastia necessário — seria
acumulação de regressos evocadores altura para estarmos longe das águas
do passado egrégio como peso, inércia paradas que o inspiraram. Fazê-lo na
dramática e kitch, ele grita em surdina perspectiva que ilumina esta
para si mesmo “viva a morte”, como o concretização cénica, segundo a
general de Franco, pois cultua as abordagem que tentamos levar para a
abstracções herói-maníacas, a frente, cénico-musical e cómica séria,
megalomania e a grandiloquência, rítmica e coral — o orador é um coro a
sendo admirador da tortura e do quatro vozes, convertendo-se a oração
castigo, da sevícia. Sim, nele, tudo tem de sapiência num comentário amplo
que ver com a morte, como refere e politizado, coro igual a delegação da
Pimenta, com celebrar a morte, mas cidade — é, além do mais, plantar um
também com flores de plástico. antídoto difícil de definir e de classificar
O FDP é avarento, como o de Molière, — é nessa medida que é uma
poupado, cobiça a mulher e o marido experimentação — em pleno
dos próximos, não está longe da figura conservadorismo prá frentista tecno-
de Tartufo — um fdp eminente — nem -informático, esse que marca o ambiente
da do manobrador Iago, nem da figura nacional e nos impede, de facto, de ser
abundante do religioso pedófilo, nem um país com outro amor das liberdades,
do cinzentismo salazarento do um amor culto na diversidade do que
funcionário cumpridor que nada faz e qualifica a cultura como pontos de vista,
tudo cumpre, nem do novo-rico informado, laico, republicano e
trauliteiro da política, cujo emancipado.
conservadorismo fascizante, sendo Esta peça textual — um sermão
praticante das fake news é, de algum burlesco contemporâneo — é um grito
modo, bem-sucedido no “nosso meio” gramaticalmente impecável, rigoroso
de forma a que, percentualmente — é de sentidos e forma, pela liberdade livre
assim que se medem os valores — é e contra o preconceito e o amiguismo
uma existência real, um vírus legal e hipócrita e nepótico que continua a
visível, em acção, numa democracia constituir os modos da nossa
que, tendo gerado a aberração e seu sociabilidade, muito atravessados de
direito de antena, só pode estar doente, ambições de poder e poderes de facto.
doente de costumes e saudade do fedor A palavra é SUBIR na vidinha e para
sacristão e policial dos tempos da velha isso sempre que necessário “dar à anca”,
senhora. como escreveu o Mário-Henrique Leiria.
Fazer o FDP do Alberto Pimenta, em
2020, é, por paradoxal que pareça, um Fernando Mora Ramos
A MÚSICA NO DISCURSO SOBRE O FILHO-DA-PUTA
Desde há muito que procuro fomentar Por outro lado, é ritual e conforma
no meu trabalho um estado de ironicamente, práticas comuns aos
“integração” entre o semântico e o concertos de música erudita, tanto pelo
fonético — música enquanto texto e protocolo exacerbado, como pela carga
texto enquanto música, talvez pelo simbólica, mas também pelo rigor e a
ofício múltiplo que caracteriza a minha depuração do gesto, do gesto poético
actividade artística, repartida entre o tornado gesto musical.
intérprete, o performer, o compositor e O Discurso acolhe assim um quarteto
o poeta. de actores, como se um quarteto de
Abordar este texto prodigioso estava músicos se tratasse, quarteto de cordas
faz tempo no horizonte, não só por vocais pois, para dar voz a um discurso
aquilo que enuncia e pela sua coral no qual a palavra se faz música e
intemporalidade — e como tal se organiza em timbres, ritmos,
actualidade, mas também porque harmonias, melodias; ora em uníssono,
nele se projectava uma cumplicidade ou em homofonia, ou em heterofonia,
crescente de ideais e de pesquisa com o ou em polifonia, ou em contraponto.
Fernando Mora Ramos, por conseguinte Assim mais do que ser música
a vontade de uma parceria criativa entre acrescentada ao texto poético de Alberto
o Teatro da Rainha e a Miso Music Pimenta, a música que aqui está em
Portugal. causa é sobretudo o reconhecimento e o
O Discurso sobre o filho-da-puta desvendamento da música que o texto
oferece-nos do ponto de vista musical já contém, dando a ouvir diversamente,
uma quase partitura, pelas dando a ouvir de novo; e assumindo a
características com propriedades palavra na sua vocalidade plena; e a voz
sonoras da escrita poética de Alberto falada nas suas extraordinárias
Pimenta, e contém pois, desde logo, os possibilidades de emissão múltipla,
elementos propícios a uma repartição sonoras e expressivas.
por várias vozes, de um personagem
simultaneamente uno e múltiplo. Miguel Azguime
ACERCA DO DISCURSO
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