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C o n s o lid a ç ã o das le is
===== do VERSO
TRATADO DE VERSIFICAÇAO
/
0 M A I S C O M P L E T O EM L Í N G U A P O R T U G U E Z A
editora
C A SA D Ü PEA T
Rua São B e n t o , 2-B
SÃO PAULO
M ANUEL DO CARMO
DA ACADEM IA DE LETRAS DO RIO GRANDE DO SUL
DO A U T O R :
Publicado:
>A8 L E I !
CnMIMMO DES LUZ (poema), 1909.
O SFÍMCHISMO (prosa), 1913 (Exg.). .
HYMMO Á IN V E JE (poemeto), 1915. c83c8,c83eS3cS,c8>c83cS3c&,cS3cS>cS>cS>cSs
SET EM B RO (versos), 1917.
Para breve :
E D ITO RA
e de 3 ?opfugal
oíSepeço
|0. £ .
P R E F A C IO
0 nosso principal trabalho foi,como cura do verso livre moderno, que chama
adaptando o que de mais moderno, demais “novos" um guia para a feitura deste verso
serio, de mais util ha sobre o assumpto. tentador e difficil, do qual são mestres
Verhaeren, Eugênio de Castro, Dannunzio,
Tendo, outrosim, a intenção de dar
no qual se ensaia a grande pleiade dos
principalmente a quem se inicia na grande
vates portuguezes actuaes, e grande nu
arte, tão difficil, do verso, um guia
mero de poetas da nova geração brazi-
util, procurámos imprimir ao nosso tra
1 eira.
balho um cunho eminentemente pratico,
deixando de parte o que poderiamos dizer
sobre a historia, as origens do verso, MANUEL DO CARMO
/(natole france.
T IT U L O I
Do verso em geral
Art. 2. O verso é formado por uma
ou mais palavras, cujas syllabas se de
vem succeder rythmicamente.
E x s .:
— E á noite se faz sol a lua cheia. . . (N obre).
— Aguadeira a regar lyrios de p rata...
(G oui.art de A ndrade).
ititiiiimmmiimMniMiiimmmmiilllll íllll
C onsolidação das L eis do V erso Dos V ersos 23
Art. 3. Para que um verso seja Art. 6. Das syllabas tônicas (art.
bello mister se faz que tenha uma bella 4 ), algumas são mais fortemente accen-
cadência. tuadas que as outras: são as cesuras.
— ‘; De la musique encore et toujours” . E x .:
V erlain E Da paina os vagos fló cos cor de «cve (A lberto).
Art. 4. A cadência, que é dada pelas Art. 7. Nas cesuras, pois que são
as syllabas que mais resaltam no verso,
syllabas tônicas e atonas, será tanto
devem-se pôr aquellas palavras que ex
mais bella, quanto maior for a varie
primem as ideas para as quaes se quer
dade dellas. (A rt. 96).
chamar mais a attenção.
E x -:
O’ sol, ó sol, que pintas d’ ono as «vas E x -:
E /azes moreninhas as muí/tcres. Sonho que sou um caval/ciro andante.
Por desertos, por sóes, por noite escura,
(A feonso L opes V ieira ).
Paladino do amor, busco anhe/ante
0 'pa/acio encantado da ventura- (A nthero).
T IT U L O II
Art. 8. Só o verso dá ao espirito
Da constituição do verso este duplo gozo de sentir —- a perpetua
surpreza (art. 1 1 ) unida á segurança
C A P IT U L O 1
constante (art. 9).
Dos re q u is ito s essenciaes do verso
— “ la surprise dans la sécurité. .. ” (D orchain ).
Art. 5. São requisitos essenciaes
do ve rso : syllabas que se succedem; Art. 9. A segurança e firmeza que
cesuras; numero de syllabas; rythmo; o verso traz resultam: do numero re
gular de syllabas, da volta regular á
rima.
imiitiilltttl:
24 C onsolidação das L eis do V erso Dos V ersos 25
como a Assonancia, para a belleza do rudimentar imitação dos sons, das vozes
verso, não usadas arbitrariamente, po da natureza, e busca imitar a cadência
rém, de accordo com o estabelecido no imaginaria deste ou daquelle sentimento
Livro V I, buscando a onomatopéa ou se elle se pudesse materializar. (L ivro
a harmonia suggestiva. V I) .
E x .: (Languidez) :
Art. 15. A Onomatopéa, reminis- A ’ luz suavíssima da sala,
cencia da primitiva linguagem humana, Que ao sonho lânguido convida,
procura suggerir, imitando, por meio Ouve-se alguém cantar esta canção que exhala
A volúpia do amor e a doçura da vida.. .
de sons, as vozes da natureza.
E x s .: A rt. 19. Quanto maior numero de
— Ribomba o céo, além. Rouco pampeiro horrendo vogaes e de elisões tiver o verso, tanto
Rufa no espaço azul o seu tambor de guerra. .. mais cheio nos parecerá elle.
— Tíbios flautins finíssimos gritavam ... (B ilac )- —■ Assim o verso:
“ Sonho que sou um cavalleiro andante ”
Art. 16. O exagero no uso desta que já é cheio, mais cheio se tornará introduzin
figura redunda em preciosíssimo e, em do-lhe mais algumas vogaes e elisões e transfor
mando-o neste:
vez de suggerir, torna-se grotesco.
“ Sonhei que cu cra um cavalleiro andante ”
liimiiiiiiiiiiiiiiimmiiimiiliitiitlt
28 CONSOEIDAÇÃO DAS LfflS DO VERSO Dos V ersos 29
Art. 26. A falta de elisão das vo- Art. 30. Excluem-se da condemna-
gaes, formando hiatus, determina a ção aquellas palavras que, pelo uso, já
frouxidão do verso. adquiriram os fóros de antiguidade, e
são, por assim, dizer, novos vocábulos
E x s .:
A frouxidão no amor é uma offensa.
derivados dos primeiros.
A estrella baixou no horizonte. E x -:
M ór em vez de maior; té em vez de até; inda
em vez de ainda, etc.
Art. 27. A accentuação forçada de
syllaba por onde naturalmente a voz Art. 3 1. A rima, pois que é a uni
deslizaria na pronuncia, muito concorre formidade de som, deve ser perfeita.
para tornar o verso frouxo. (A rt. 1 1 7 e (L ivro IV , art. 170 e segs.).
119 ) . § Unico. A transgressão desta regra
E x s .: concorre para quebrar o encanto do
Testemunho do meu animo grato. verso.
Lei não conheço que possa obrigal-a.
Art. 32. A determinação previa de
Art. 28. Se a simplicidade é a regra um certo numero de syllabas, dá lugar
a observar pelo poeta, os termos rebus a que 0 poeta tenha de recorrer muitas
cados, ou de difficil pronunciação, po vezes a artifício s: bordões e ckevilles
dem concorrer para a exquisitice, po que enfeiam o verso.
rém nunca para a belleza. Art. 33. A desharmonia proposital
Art. 29. A s figuras que autorizam trazida pelo “ encadeamento” (enjambe-
suppressão ou accrescimo de letras, au ment) não deve ser muito prolongada,
torizam vicios e estão ipso-factos con- para que se não prejudique a segurança
demnados. (arts. 80 a 85).
32 CoNSOUDAÇÃO DAS E filS DO VERSO Dos V ersos 33
para a oitava ou outra, o que, augmen- Art. 4.1. O verso decadente caracte
tanto a liberdade, dá mais azas ao riza-se pela expontaneidade e pelo tri-
rythmo. umpho perenne do rythmo, deixando
— No estudo do verso segundo as escolas, Dor- que a forma ondule com o pensamento,
chain fica no clássico e no romântico. Acceitando flexível, irregular, por vezes brusca.
aquella classificação ampliamol-a com um estudo
sobre a differenciação das duas escolas que actual- Art. 42. No verso parnasiano é
mente dominam: parnasiana e decadente. grande o uso da concordância retar
Acceitamos o termo “ decadente para cara
dada; no decadente, não.
cterizar o “ verso livre moderno” como o usam Ver-
haeren e outros. Art. 43. O verso decadente asseme
Art. 40. O verso parnasiano é a lha-se ao clássico na maneira de fazer
integração das innovaçÕes dos românti o sentido e o rythmo marcharem accor-
cos e caracteriza-se pelo apuro da fôr des, mas com esta differença: que o
ma, sacrificando ás vezes pela expressão clássico aparava as azas ao pensamento
que deve ser bella, a simplicidade de para que coubesse no verso e o deca
uma idea, a delicadeza de um 'senti dente adapta-se á idéa e a acompanha
mento. flexível, sem tolhel-a.
—Assenta nessa differença profunda da maneira — Vejam-se algumas poesias insertas no respe
de encarar a arte, a própria differença dos versos ctivo logar: Parte Especial.
de ambas as escolas.
O parnasiano, pela Expressão, é capaz de sacri C A P IT U L O II
ficar a idéa ou, diremos melhor abafal-a com bellas Dos versos em c o n ju n c to
vestes; o decadente acha preferível sacrificar a
Expressão desde que o Sentimento ou a Idéa bri
A rt, 44. Os versos de um poema
lhem- O parnasiano é o cultor da fórma. O deca podem ser classificados de differentes
dente deixa que a Emoção conduza 0 Rythmo. maneiras, attendendo:
36 C onsolidação das L e is do V erso Dos V ersos 37
I. á maneira pelo qual se agrupam — Veja-se como são moveis as cesuras nesta
quadra:
no mesmo poema;
Se a cólera que espuma, a dor que móra 2—6— 10
II. aos metros ou ao rvthmo; Na/ma, e destróe cada illucao que nasce 1—4—8—-io
III. ás rim as; Tudo que punge, tudo que devora 4— 10
IV . á concatenação das ideas. O coração, 110 rojto se estampasse 4—6— 10
(R aymundo Corrêa).
C A P IT U L O III
Ora cae na 2.a, 6.” e 10.a syllabas, ora na i.‘ , 4.“,
8." e io." ora na 4." e io.a, etc.
Dos versos q u a n to á m a n e ira pela q u al se a g ru p a m
tmmtmTimnmirnnT
38 CoNSOI.IDAÇÃO DAS LEIS DO VERSO Dos V ersos 39
j E x s .:
a) á maneira dos clássicos; Finalizando a èstrophe:
b) á maneira decadente. —- A um sincero psychologo moderno
Art. 49. Mesmo eguaes em medida Qual a séde do affecto perguntei.
“ Bem sei que o affecto é um propulsor interno;
devem os versos variar na accentuação
Mas onde está, não sei ” .
e 11a cesura, para que, variando o ry- (A ugusto de L im a ).
thmo, se evite a monotonia. (A rts. 34 Alternadamente:
a 46). ■— O incêndio devorou inteiramente
— Vejam-se os artigos em que se trata da varia A casa onde eu nasci;
bilidade das cesuras, no Livro III. Para esquecer o trágico accidente,
Embarquei e parti.
O “ encadeamento ” (enjambement) nos versos
(A ntonio F e ijó ).
isometricos é um bello recurso para evitar a mono
tonia. Bem combinado com a mobilidade das cesuras
traz ao poema uma belleza seductora.
Art. 52. A combinação de um metro
menor no fim da estrophe, dá, pelo ines
A rt.' 50. A combinação de dois ou perado, um quê de epigrammatico, e
mais metros diversos traz ao poema um tira-se com ella um bello effeito, quando
certo encanto e, a quem lê, um descanço se deseja gryphar um conceito, para 0
que deleita. qual se quer chamar a attenção.
—■ Ha uma certa semelhança entre a combinação E x -:
de metros e o. prolongamento de sentido pelo “ en — Esta mão, esta mão, que ré parece,
cadeamento ” (enjambement). Ambos concorrem Ah não foi uma vez, não foi só uma
para a maior liberdade de expressão, dando mais Que em defeza dos bens, que são do estado,
liberdade ao pensamento. Moveu a sábia pluma.
( D ir c e u ).
Art. 51. Usa-se a combinação de
dois m etros: ou finalizando estrophes ou Art. 53. Os versos, cuja combinação
alternando uns com outros. é mais frequentemente usada, são: os
40 C onsolidação das L e is do V erso Dos V ersos 41
se não admitte sem rima. (A rts. 162 a —Não fizemos livro especial para tratar do metro
169). porque este depende das Syllabas e das Cesuras e
ao tratar de ambas, mais desenvolvidamente trata
remos do metro.
Art. 60. Poemas longos, em que
SECÇÃO 111
se não alternem metros, só em decasyl-
labos 011 alexandrinos se toleram. Art. 64. Irmão gemeo do verso
livre, á maneira dos clássicos (art. 54),
Art. 61. P ara as obras theatraes, é o verso decadente, em que predomina
em que se exige a naturalidade do dia- o rythmo, em que se não indaga da
logo, 0 alexandrino, se impõe (Parte medida, mas sim da “ musicalidade” .
especial: Livro I - T i t . I I I ) , por ser o — E ’ recommendavel a leitura dos mestres do
mais amplo e de mais recursos. verso decadente: Verhaeren, Dannunzio, Eugênio
de Castro, Henri de Regnier, Ruben Dario, Villaes-
§ unico. P ara as operas, operetas,
pesa; Teixeira de Pascoaes e alguns outros novos
etc., em que o canto predomina, o verso portuguezes como Jayme Cortesão; Antonio Patrí
deve ser apropriado á musica e variado. cio e outros.
Art. 65. Alem de doze syllabas
Art. 62. O verso de 8 syllabas é
não se usa prolongar o verso em portu-
nobre e cheio, prestando-se admiravel
guez, excepção feita para o verso deca
mente aos pequenos poemas, já usados
dente que, sendo baseado no rythmo e
uniformemente, já alternadamente.
11a cadência, admitte maior distenção.
Art. 63 Os versos de 9 e 1 1 sylla Art. 66. Para o desejado effeito,
bas devem ser usados parcimoniosa- que se procura obter com o verso pro
mente, porque a pouca variedade e a longado alem de doze syllabas, mister
fixidez das cesuras torna monotono o se faz que a primeira cesura seja forte
seu rythmo num longo poema. mente accentuada em relação ás outras.
45
D o s V êrsos
v e rs e . ‘
que outra q a a lq u e r^ ^ 1»
. . 7o ,EMW
No ‘ a- rima
tocante r podem
venha Pertu iz Qgter.
gttistico que se 1 prolongado os versos^ de um poema ser.
I " “ fm eth o d icam eu te;
n .® ^ e-tótoi« r s £ b) á vontade.
I I não rimados. ^ casos,
E x .:
Olha o sol pela clareira:
— Não cançam no trabalho os musculosos braços
O seu vivido esplendor
Dos guerreiros. Oscilla o muro. Os estilhaços
E ’ uma nota alviçareira
Saltam das pedras... etc.
Contra os pezares e a d o r...
(B ilac ).
Accendamos a lareira
Da nossa casa de amor! Art. 82. A “ desharmonia momen-
(L indolpho Collor). lanea” que traz o “ encadeamento” não
c a p it u l o VI deve ser muito prolongada, pois trans
Dos versos q u a n to á co n ca te n a çã o das ideas formaria uma virtude num defeito,
aquelle da “ insegurança” .
Art. 8o. Muitas vezes a phrase
que traduz um pensamento termina an Art. 83. A “ concordância retarda
tes de finalizar um verso, ou se prolonga da” não se deve prolongar muito, pois
até parte do verso seguinte, formando transforma a mais bella das poesias em
uma cadeia, dando logar ao “ encadea- pura prosa.
mento” (art. 38). — Abstemo-nos de citar exemplos. Achamos
que para os defeitos elles são desnecessários, além
E x .. disso evitamos ferir susceptibilidades.
_ Estala o raio. Estronda espedaça a fragua
Dos trovões. O universo, e tc ... Art. 84. Após um certo numero
(A lberto).
de versos de “ concordância retardada” ,
deve-se dar a sensação da concordância,
Art. 81. Este “ encadeamento” con
por assim dizer, classica, podendo imme-
corre para eme se possa condensai num
diatamente a esta seguir-se um novo
mesmo verso, duas ou tres phi ases,
periodo de momentânea desharmonia.
accumulando, portanto, mais idéas, mais
sentimento, mais força nervosa, mais — Assim fazem os mestres. Consulte-se, por
exemplo : “ Volúpia ” , de Alberto; “ Morte de Tapyr ”
emoção.
CON«OT/1DACÃ0 DAS LlhS DO V ^ O
5o
52 CoNSOU^ÇÃO^D^®_^^=^==2=========^ E xs.:
Synérese : sau da d e;
Elisão : mi nhaal m a;
T IT U L O II Diérese : crc an ç a ;
Hiatus : já hon tem.
Da contagem das syllabas
Art. 93. O guia incontestável, em
C A P IT U L O 1
qualquer dos casos, para se fazer ou
Di sposi ções geraes
não fazer a elisão, é o ouvido, que deve
A rt 8q N a contagem das sylla- portanto ser educado. .
a un vnoaes em frente uma § i.° O rythmo do verso exigirá
ora a absorpção ora a independencia
das vogaes, não se podendo dar uma
elisão. regra absoluta.
A rt QO. A absorpção ou repulsão E x .:
dasT g L no verso pode-se dar ja no Minha patria id e a l! Em vão estendo os braços...
Poesias, pag. 107.
tocabrdo, já na concorrência de duas Paira o espirito ideal que a purifica e anim a...
palavras. Idem pag- 139 (B ilac ).
Art. 9 1. Occorrem por esse íacto § 2.0 O poeta deve ter por norma
quatro figuras distmctas: a s elisões que são feitas naturalmente
duas no interior do vocábulo. syn na pronuncia, pois que não são forçadas.
§ 3.0 A mesma concorrência de vo
" " t o "acòncorrencia das palavras: gaes pode não formar diphtongo, quan
elisão e hyatus. do o accento tonico cáe numa dellas e
Art 02 Pela synérese e pela eh- pode formar diphtongo se o accento
são absorvem-se vogaes; pela d.erese e tonico cáe fóra.
pelo hiatus as vogaes se repellem.
D a s S ylla bas s s
54 C onsolidação das E b is do V erso
E x s .:
Art. 96. Baseia-se o dispositivo do
Re al — rea li da de; art. anterior na própria formação na-
Vi a — via du cto; lural de cada diphtongo, pois que elle é
iu a — a ctua li da de;
lauto mais facil de formar quanto mais
pi a no — pia nis si mo.
forte o accento tonico da palavra.
Dos exemplos acima se pode tirar a conclusão
Exs.:
de que, se o rythmo do verso o levar a isso, o poeta T.ealdade forma diphtongo naturalmente; porém
pode fazer ás vezes da mesma concorrência de vo- 11' dl sócom violência o fórma, pois que o accento
gaes, ora uma syllaba, ora duas. tonico não está fóra da concorrência das letras que
0 (levem formar. Para que o diphtongo se fórme,
C A P IT U L O II
nesse caso, é preciso que as cesuras que o precedem
011 seguem (art- 95) sejam bem accentuadas.
Da s yné rese (ou d ip tito n g o )
Art. 95. H a tanto mais facilidade Art. 98. Quando duas vogaes occor-
para a absorpção de que fala o artigo m ii num mesmo vocábulo, para que
liuja facil absorpção é preciso que o
anterior, quanto mais accentua a <
accento caia sobre aquella que na escala
a cesura que se lhe segue, ou que a
uccupa o primeiro logar, em relação á
precedeu. oulra, quer (esteja antes quer depois.
1 Artigo 100).
_ Rstrellas da sa«da|de, ardei perpet«amen|te. ..
(B ilac ). Sirvam de exemplos aquelles dos artigos 94 e 95.
D a s S yllabas 57
56 C onsolidação das L eis do VfiRSo
§ unico. D' o que acontece nas pa ( hitro exemplo do mesmo poeta:
"»
U1l
Tol|dam-se os a|res l-a—4.“ 1 "da a formosu|ra — s-1
Mur]cham-se as fio |res, i.a—4." I'aile|ce tlesmai|os. 2.“— 5 -'
Morrei], amo|res 2.a—4 a
Que Ignez morreu 2.“—4.” C' D .1 I>1 imcira quadra, pode-se dizer, passa
Mi|sero espo|so, i.”—4.“ • ' Hí •i»*‘ •• a não ser a das rimas.
Desa]ta o pran to, 2.a—4-“ l ,>n|rrtMii>s fazer cesura em F ue Jgidas ou em
Que 0 teu encan]to ----- 4-a " Imiti areentuar essas idéas, mas poderemos
Já não é teu]. ----- 4-a |§jii iis.il ,1, lambem 11a leitura. Se deixarmos des-
(B ocage). I ’• ■ entretanto, na i.* quadra sem accentuar
iimmiltlIlIttlflIllllllIlllllillllllllllllllllllllllHIIIIIIIIIIlir
D a Césura 73
72
rwnTJDACÃo DAS leis do V ^ sq
E x .: Cesura na
nenhuma syllaba, mais forte, muitíssimo
Adeus |, aguas queri|das 2. "—6.“
resaltarà o - também da comparaçao que começ
Do Te|jo encantador|. 2."—6."
na quadra seguinte. Adeus|, casaes| risojnhos, 2-“—4.“—6.“
Essas pequeninas coisas é que dao belleza
Pelo pendor| descen|do 4.'1—6.a
poemas. Dás encos|tas flori|das ! 3-a—6.”
Art. 144- K ’ commum, neste verso Vaes desapparecendo —
fazer a cesura fix a na 2.a syllaba (e na Te|rra do nosso amor|, i.n—6-a
C A por todo um poema, compensando Ber|ço dos nossos fi|lhos ! i.a—6.a
a falta de variedade pela “ segurança . (B icac ).
iiiniiiiiiiim I IIliiíiiiiilIliiiiiimililllliiliilliiHiiiltiimimm..... ..
D a C esura 75
C onsolidação das L a ís do_ V e r so
74
E ’ esta a maneira mais usada pelos decadentes.
Do v e rso de N O V E sylla b a s
0 que a outra disposição tem de monotona,
a rt
I47. O verso de n o ve syllabas tem esta de encantadora. A primeira foi muitís
apresenta dois rythmos diversos, con- simo explorada; a segunda é relativamente moderna.
Z 4 e a fixidcz escolhida para a cesura.
Do ve rso de O N Z E s y lla b a s
' " x O poema pode ser composto
Art. 148. O verso de o n z e sylla-
de versos com a cesura fixa na 3 - -&■
b;is apresenta também dois rythmos
e 9.- syllabas. CesoIa diversos, se bem que em ambos a cesura
fnrle caia na 5.“ syllaba.
SouTttmlto «ue ?>!*»*• <1'“ E A -A § 1 ,° O que faz variar o rythmo é
Sem prinlcipio, sem ímp, sem ^
V o ,, levanldo » v e n U ip . e a t o í lí , tuna leve cesura anterior á da 5.a syl-
Voa leraald , as v a id a d e d , vid a. ^ i.iha e que num rec.ae 11a 3 / e no outro
na ~’,n
V’ de notar o maravilhoso effeito conse d 2." O verso de 1 1 syllabas, mais
d,a . .d e. P « r « a de ama
it .idu pelos românticos foi o que tinha
corrida, no uso do rythmo citado. _
iis . usuras na 3-a, 5-a e n . a
__ Este é o metro mais usado na composição
I Cesura na:
hymnos que se destinam ao canto.
1 in,uii|a horrilvel- Noite de invernajda 3 .a- 5-a-H-“
§ 2.° Pode a cesura recahir tam icm |*rlti 1 uh|ulio antijgo, sob a ramalha|da 3 .a-J.a- i i . ”
|t«i. Huuigiiei|ras ne|gras—trágico tropel]-.. 3 .a- 5.a- n .”
m A a e Q.a syllabas.
n a 4- J J Cesura na: In1.1 ]11a zu|nem, folhas sêccas vo|am, 3.ai5.a- n .a
| „ •• 1111.1 len|tos arrastados so|am, 3.a-5.a- ii- 11
Além ' nos a|res, tremulamen|te
ÍI fb ai i (dei a,|diis como os de um corcel|. — 5*"1 1 *
Que visão branjca das nuvens sae| ^ ( A lberto).
Luz entre as fran|ças, fria e »den|te, 4- ^
Além nos a|res, tremulamenjte, _ a 1 ;" () outro rythmo, mais moder-
Balão acce|so> subindo \ a e |... ^ __ A,,v |}tt, . aiiuelle em que ha possibilidade de
(R aymundo C orrêa).
D a C esura 77
76 C onsolidação das L e is do ^Vêrso
p\
to
Por ma|res nunca dan|tes navega|dos
c
() de Bilac, para citarmos um dos mestres
Passa|ram inda além’] da Taproba|na; 2 .a-6 -a-IO.a
imn pn|iulares, pode ser dado como exemplo dessa
Em peri gos, e gue|rras esforça|dos 3.a-6.a-io.a
1 m lUil.ulora mobilidade-
Mais do que prometti|a a força huma| n a ; •—6.“-io-a
Qualquer soneto da Via-lactca é um modelo, de
E entre gen|te remo|ta edifica|ram 3.a-6.a-io.a
i 1 tlllll n moderno.
Novo reiIno, que tan|to sublima|ram: 3."-6-a-io.'1
(C amões ). E Cesura n a .
H n n lir1 que mr es]iera|vas. E, sonhan|do —6.a-io.a
Prosperamen|te os ven|tos assopran|do, 4"-6.a-io.a
fiSllll, iUiciiiMi por te ver| : corri|a... 2 .a- 8 .a- I 0 .a
Quando uma noi|te estan|do descuidajdos. 4.ll-6.aio.a
(C am ões ). ! Iii|i 1". ,io ver-me tão depressa andanjdo , —2 .a- I 0 .a
fã.inli, 111!h‘ 1 0 logar| para onde eu i [a. 3.a-6-a-io.a
— Este é o typo do verso dos Lusíadas; e é
o typo clássico-
í llltl ,1 nu l,i/i)ii|, /«|do! Escutanjdo ó.a-7.a-io.a
Art. 159. M ais modernamente já I í flil pn|mkiin, u(ravez| da ramari|a, 2 -a-6 .“ - I 0 .a
se combinam aquellas cesuras com ou bus dlr»pei:lndo‘, pa|ssaros.o ban|do : —6.a-io.a
ü V-t. main ,1, |,1 r a 1 Parabensl!” dizila. 4.a-8.a-io-a
tras na 4.a-8.a-io .a
miiiniimiillliiIllIllilllinTUTT
84 C onsolidação d as L e is do V erso D a C e su r a 85
Disse o luar[| “ Espe|ra! que eu te si|go: 4.a-6.aio-a § 2.° N a 7.“ só no caso de cesura
Quero também beijar as fajces de| 11a ! ” —8.a-io.a
consecutiva, quando ha apoio na 6.a
E disse o aro|ma: “ Vae[, que eu vou com ti|go!”
f4.“-ó-“-io.a E x s .: Cesura na :
■ Dentro é tudo mudez]. Flejbil murmu|ra 6.*-7.a-io.‘
E chegueij. E.
ao chegar |, disse uma estre|lla: (B ilac ).
[3.“-6.a-io.”
Como és feliz] ! como és feliz|, amijgo 4.a-8.“-io.a -Vesper fulgura além]... Ves|per ! Só ella 6.a-7.a-io,a
Que de tão perjto vaes ouvi[l-a e ve|l-a! ” 4.a-8.“-io.a (R aymundo ) .
(B ilac ).
Que em chegando ao Pinhão| fo|ge á direita
—- Os mais bellos sonetos decasyllabos moder [ó.“-7-a-io.a
nos têm esta encantadora mobilidade. Os exemplos (A lberto).
são innumeros-
C A P IT U L O II I
Art. 16 1. A cesttra no decasyllabo Do a le x a n d rin o
jámais pode cahir na 9.11 syllaba e só Art. 162. Mais longo do que o
excepcionalmente na 5.“ e na 7.“ dn a sy 11 abo, tem o alexandrino os mes-
§ i.° N a 5_a só no caso de cesura iii'» . re<|uisitos daquelle, relativamente
consecutiva, quando se apoia também .1 nmbilidade e pluralidade de cesuras,
na 4.“ (art. 12 5 ). |">v,nítido além disso maior numero
E x s .: Cesura na : • b ll.i c portanto muito mais recursos
— Senhor brutal], pé|sa o aborrecimen|to... 4.a-5.a-io-a i \ I llllMCi )S.
(B ilac ).
E x s .: Cesura n a :
Moços de Portugal[, neste livro heis de achar| 6."-i2.a escolas nelle foram integrando, á plena
Alguma coi[sa que senti|sseis algum dija,: 4.a-8.a-io.a evolução e maior vibratilidade possível.
Gloria perdi|da, sonho aljto, alma a penar| 4.a-8.“-lo / pela mobilidade e multiplicidade de
E o grande amor] da nossa Te|rra o alu- cesuras;
[mi|a. 4.a-8.a-i2;a
pela cesura consecutiva: na 6,a e J."
Têm do meu sanjgue os versos to|dos
syllabas.
[que aqui vêdes, 4;a-8.a- i2.Í
Como sahi|ram», bons ou maus|, assim E x s ..
[lá vão|. 4.a-8.ai2.a — Cesuras : — na 6.a—i2.a:
(A eeonso E opes V ieira ). Vinha tombando a noijte, escuridão sem fim[.
—■ na 4.'1—8.a—i2.a:
—Suspeita de sorri|so innocente disfar[ce — 6-a-i2.” Kapazes d’ho|je, este poe|ma é p’ra voceis|.
Sombra de alguém que vi|uha e recúa — na 3."—6.a—p.a—i2.a:
[indeci[so —• 6,a-i2.a Sobre as onjdas oscijlla o batei,| docemenjte.
Astro a pungir|, longinquamen|te, o azul — na 3.”—8.a—12.a :
[do di|a. 4-a-8.a-i2.a (!igantes|ca, estirando o cor|po, de repenjte.
(A madeu A maral ). ■ 11a 3.”—6.a—10.°—12.:
Mudo e tris|te Scipião|, longe dos mais|, no emtatbto.
1.“—4-a—5.“—8.a— 12V :
Art. 168. Sendo fix a a cesura na I 1111M< e darde|ja o solj nos am|plos horizon|tes.
4.a-8.a- I2.a, tornar-se-ia monotono um na 2.“—4 a—6.“—8.a—io.a—12/ :
poema todo escripto naquelle rythmo e ’ " i i afj I sem luz| ! sem Deus|! sem fé |! sem pão| !
portanto deve ser usado parcamente e [sem lar| !
11a 6." e 7.a, além de outras:
alternado com os outros.
I u m iv ! juracy|! Vir|gem morena e pura.
—• Assim o usou Affonso Lopes Vieira.
I >0 alexandrino disse o brilhante critico por-
diuiiio Iddidino de Figueiredo:
Art. 169. O alexandrino moderno \ r is o extenso, dum caracter retumbante e
attingiu, pelas conquistas que todas as 'O '" . ......... . alexandrino contem todos os recur
iiiiiiimiiiiiiiiuiimiiuiiimimmiuiiiiniiniimiimmimmmH
go C onsolidação das L e is do V erso
Art. 179. Rim ar o quanto possível Art. 184. Não deve entretanto ha
palavras bem semelhantes como som, ver exagero nem esforço no uso da
porém assaz differentes como sentido. consoante de apoio, pois uma “ rima
Art. 180. N a uniformidade de som rica” jamais salvou um verso mau.
repousa a “ segurança” ; na raridade do — “'U ne rime-riche n’a jamais sauvé un mau-
vai.s vers” , diz Guyau.
vocábulo, a “ surpreza” .
Art. 18 r. Riqueza de rimas não é Art. 185. As rimas não devem ser
tanto a raridade dos vocábulos, como a lao ricas que causem mais admiração
variabilidade delles. <|iic emoção.
— Usamos a expressão —• riqueza de rimas
não no sentido da rima rica, mas no sentido em
Art. 186. São bellas as rimas que
que é cpposição a —• pobreza de rimas, pobreza ■■ apoiam em diphtongos, porque são
essa caracterizada pelas rimas em ão, em ado, em i heias.
ente, etc- Des.’: Ouro; raio; repouso; receio, etc.
D a R im a 97
96 C onsolidação das L e is do V erso
E x .:
Art. 187. Dão grande realce ao 1 ui uma mosca azul, azas de ouro e granada,
verso aquellas rimas em que segue á Filha da China ou do Indostão,
vogal accentuada mais de uma conso üllr ciilre as folhas brotou de uma rosa encarnada
Em certa noite de verão.
ante.
I mi mulheres em flor, cem nayras superfinas,
E x .:
Aos pés delle, 110 liso chão,
Do gorro azul o meu penacho branco
II MDrpiiicam sorrindo as suas graças finas,
Agita-se de flanco.
E todo o amor que têm lhe dão.
Segue rente ao corcel, batendo a orelha,
(M achado de A ss is ).
Meu galgo, de parelha.
SECÇÃO 111
Mas como estimo que ninguém a estenda
li.ii. q u a lid a d e s " in te lle c tu a e s ” (s u rp re s a )
Dou-lhe a fórma de lenda!
( F ontoura X a v ie r ) .
Ari. 190. A rima, que vem, como
tildas as cesuras, no tumulto das ideas
— Veja-se ainda o canto V II do “ Parahyba ’, dl ve m i “ menos buscada que acceita” .
de Alberto de Oliveira.
Art. iq i. O poeta que se preza, não
n 1 < desleixar na escolha, mas pelo con-
Art. 188. São pobríssimas, por vul H Mp 1. deve pôr intelligencia e bom
gares, aquellas de que ha grande quan t " ......... seleccionar as, rimas, sem exa-
tidade, como os vocábulos em ão, ado, ar. yrm,
Art. 189. Não ha consoante de apoio A n 192. A emoção nunca deve ser
que salve as rimas referidas no artigo w e illu a d a pelas rimas difficeis (art.
anterior, porém quando usadas com Mi. "ii rebuscadas (art. 18 5).
parcimônia ou em combinação, são tole ''«br aqui 0 conceito de Boileau:
" I.* rlmc cst une escave et ne doit qu’obéir ” ,
ráveis e podem dar realce.
ftT T T T T iir ir riiiir iiin iiiiiiiiiitiiiiiiiitiiiiiiiiifiim iiim iiiiiiiiiiiiiiiiiiitiiiiiiitiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitiiiiiiiiiiiiiiu iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiin iin iiiliiitilIlli 1 I I 1 iiUiiiiiiiiiiilliltiiitliiiiiiiKitiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiitiiimmiiiiiinm
98 CoNSOUDAÇÃO DAS L u ís DO VERSO D a R tma . 99
-Art. 196. Deve-se procurar sempre \rt. 199. Conforme cáe o accento
rimar palavras de indole grammatical tonico 11a ultima, penúltima ou antepe-
diversa. miltuua syllaba, é a rima:
agu d a;
Art. 197. Denotam não só pobreza grave; ou
de rimas, como, o que é ainda peor, esdruxula.
pobreza de idéas, as palavras da mesma
Ai l 20. A s rimas graves em por-
indole grammatical a rimarem entre si,'
ttupt' formam a base, pois que são a
e principalmente:
ilHiioi ta (art. 76), servindo as outras
I. adjectivos entre si; ji o 1 ii inpcrar e dar variedade (artigos
II. advérbios entre si ; | â 1 7 '0 .
imiiiminmmiiiiiiimiiinii
ioo C onsolidação das L eis do V erso D a R im a io i
Art. 20T. A s rimas agudas, pois Como geralmente se usam nas quadras dos
que terminam bruscamente o verso, têm tos. Ver o Capitulo que trata do Soneto, na
c Kspecial-
algo de epigrammatico, como um ferrão ,
prestando-se por isso ao satyrico.
entrecruzadas;
—Bocage, artista consumado do epigramma, tem
Como nos tercetos em geral e como nal-
grande numero de versos em rima aguda, feitos pro
as qvtadrinhas.
positalmente.
iMniiiiiiiiiHiiiiniiiiMÍiiiiiiriiiiiiiiiiiNiiiiiiiiifi^
102 C onsolidação das L eis do V erso D a R im a 103
T IT U L O I
Da origem do rythmo
Art. 2 13 . A linguagem rythmada do
verso que tem por fim exprimir emo
ções, tem ella própria como causa prima
essa mesma emoção.
“ Le rythme du vers est comme le battement
•111 cnirur devenu sensible à 1’oreille et réglant notre
volx, si bien, que les autres coeurs finissent par
briltiv à 1’unisson (G u yau ).
Art. 216. A expressão attinge pelo Art. 220. Os monosyllabos não ac-
rythmo, com o mínimo de esforço, o rcntuados (as encliticas), concorrem
máximo de exaltação. par,a essa intermittencia de syllabas tô
nicas, semi-tonicas e atonas, auxiliando
Art. 217. Physiologicamente a Em o a variabilidade de cesuras e o embelle-
ção tende a tornar a linguagem ry- a mento do rythmo.
thmada.
— Guyau e Dorchain deram-nos a base deste Art. 2 21. Nascido da successão de
livro e alguns conceitos emittidos são quasi a tra- •vlhabas, onde a voz se affirm a ou des-
ducção daquelles mestres. li m, assemelha-se o rythmo a ondulação
da-, aguas.
T IT U L O II
Art. 222. A cesura, que é o accento
Da constituição basica do rythmo t"iiico do verso, auxilia a ondulação do
Art. .218. O rythmo nasce da suc- 1 \ ilimo.
cessão das syllabas tônicas e atonas do
\rt. 223. Se num verso pudermos
verso, onde a voz ora se apoia ora des
p ■ a r sem a cesura, a idea nelle contida
liza.
a i " c accentua e a idéa seguinte mais
Art. 219. Cada palavra tem o seu ft alçará (art. 1 3 1 e notas).
accento tonico que se pode intensificar <) effeito produzido por este recurso ry-
ou attenuar conforme a posição da pa H tliin é dos mais encantadores-,, Não é demais o
lavra no verso. » i f ii imil-o. Os poetas decadentes levam nisso a
— Veja-se o art. 6 e os arts. 112 a 121, em (ftia 11 quaesquer outros.
que se estuda o accento tonico base de todo o
rythmo.
Do R ythmo 109
io8 CoNsoi.mAçÃo das I, eis do V erso
Art. 226. A mobilidade das cesuras, \ rt. 228. H a idéas que se não accen-
provando que uma emoção profunda (M uh c que se exprimem como que entre
creou o rythmo, dá ao verso a própria p iti ulhesis; e se a idéa crea o rythmo,
vida fremente e mysteriosa que magne- ■ rUi . que se não querem accentuadas
tiza e encanta. p ! nn ,1 sua expressão completa na sup-
j’»■ i" das cesuras de accordo com o
Art. 227. O poeta deve deixar ao (li pndtivo dos artigos 1 3 1 e 132 (e
pensamento e á emoção que communi- f 1 =|'«> 1 ivas notas).
quem ao verso as ondulações da sua pró
pria sensibilidade. vit Os sentimentos delicados
biMtidns, como a candura e outros,
— Não se infira dahi que se aconselhe a aban
dono completo. N ã o ! Ao poeta cabe o papel de Bflitu.uu se de leve.
IIO CONSOUDAÇÀO DAS htlS DO V^RSO Do R yt h m o i i i
Art. 237. Inversamente ao art. an d mi Ir <11u , alliás, não deve ser muito pro-
terior, pode conseguir-se o effeito usan t Mip.id.i ( arts 82, 83, 84).
do: primeiro a cesura methodica depois A il 240. Contrariamente pode co-
a movei, quer “ durante o poema” , quer ii" < 11 pelo Tythmo methodico (segu-
na estrophe. |pHi 1 1 r depois ler uma intermittencias
— O exemplo da mudança no poema é com- dp 1 1!• atleaiiicMito, cjue. trará certa sur-
mum. Dentro da estrophe pode servir de exemplo |MI H
o soneto de Bocage:
' 11 • 1 1. Analoga á mudança de
Nize mimo|sa, como as gralças pu|ra; 4.!'-8."-io.*
Amável Nijze, como as gra|ças be|lla; 4.‘>-8-"-io .11
Umiio pela cesura e pelo encadea-
Se inda em teus o]lhos me perten[ce aque|lla 4.1-8-"-io.a Njgitio 1 1 que se consegue pelo uso do
Mavio|sa affeiçãol que fere e cu |ra... 3 a-6.”-io.“ VO90 ilii.ulonlc (arts. 85 e 86).
A mudança pode-se operar por pequenos inter- Sil • | •. () effeito opposto, partir
vallos ou por grandes, ao gosto do poeta. llfi sipmaiiqa p*ara a surpreza, conse-
Art. 238. Semelhantemente ao cjue Mu> h ti ando prim eiro: rimas metho-
I íN 11 u 11 o semelhante, depois liber-
se dá com as cesuras, pode a mudança
( II I t U l l o d e melros, como de collocaçao
de rythmos ser operada, da “ surpreza
t 1 ílllfln
para a segurança” (art. 236) ou da lio »,»Hii dignas dc leitura e imitação
“ segurança para a surpreza” (art. 237) áj •I* Veilmcrcu.
pelo uso ou não uso do encadeamento
A í 1, ’ ( i Nos Ires casos em que se
( enjambement).
i n íiifilabilidade do rythmo, como um
Art. 239. O encadeamento, que que ftfilo ,|t|, ,<• prepara, a surpreza fica
bra a monotonia, pela “ harmonia retar espeetativa da imagem
dada” pode vir em primeiro logar (sur du idi 1 cjue succede á mesma insta-
preza), trazendo uma certa instabili- I idaijt
114 C onsolidação das R éis do V erso Do R ythmo 115
Art. 244. E ntra nos casos da insta tinico. E ’ o que se dá com as ce-
bilidade de que fala o artigo anterior a u! 1 consecutivas em que a segunda
suppressão da cesura, neste ou naquelle miíih'c;,i uma phrase já gryphada (art.
verso, deixando o proprio pensamento 1 v, único).
á espera do verso seguinte, para se fir K,
mar, como um passaro que pousa (art. liiiuiv, 111 / Virgem morena e pura
13 1).
i 11.it 11 |m>r vós, arvores seculares...
Art. 245. O rythmo que se baseia
ou se resolve em numero par tem mais 1 ml mi! Kmfim \ Pu de com a mão tremente...
estabilidade, ao passo que o impar é
inconsistente e instável. I íiU11 I Tapir! Tapir! Morre também com ella-
T IT U L O I
Da sonoridade em geral
a selecçao das vozes que possam servir Art. 274. A u xiliar a expressão, nas
para augmentar a belleza da expressão. condições do art. anterior será talento;
lorçal-a, estulticie.
— Cabe aqui, mutatis mutandis, o commentario
do art. 227, para o qual pedimos attenção.
T IT U L O III
Art. 270. Se a emoção não presidir
ao rythmo, o verso será frio, apezar de Do valor de algumas letras
todos os recursos de que se lance mão. • C A P IT U L O I
Art. 272. Pela harmonia suggestiva Ari. 276. Em portuguez não ha syl-
procura o poeta levar a outro ceiebio, lab.i sem vogal, sendo ella que marca
por meio do auxilio de sons selecciona- priui ipalmente 0 fundamento de cada
dos, a suggestao do sentimento ou da vllal.a.
idéa que deseja. Ari. 277. Se bem que a vogal seja
Art. 273. A sensibilidade e a emo 1 li.ru' da syllaba, pode no emtanto a
ção conduzem a harmonia suggestiva 1 iiir.nanle modificar o valor suggestivo
em grande parte, como a idéa e o pensa >1• 1 snm, de accordo com os seguintes
mento conduzem 0 rythmo. • ilpi tulos.
124 C onsolidação das L eis do V erso Do P apel das L etras no V erso 125
C A P IT U L O II SECÇÃO II
Das vogaes Do som E
Vêde Camões:
Art. 281. A vogal ó é rósea, sonóra
_ Alma minha gentil que partiste...
c forte , prestando-se aos sentimentos
Vêde Raymundo Corrêa: iórtes e impetuosos.
__ Mas verei com pesar e com remorso infindo
A Raymundo Corrêa foi-lhe poderoso auxilio
Esquecidos de mim os sítios que esquecí.
iquclle som, no caracterizar e suggerir os sentimen-
B uma voz ouvirei das arvores sahmdo.
i" . <le que falamos: Lêde o “ Hymno á Cólera” :
_ Quem és tu? Donde vens, que vens buscar aq u i...
Quanto â pequenez, vêde o exemplo que nos Toda a grandeza de um colosso rhódio.
dá Castilho: Odeio o Odio, que nalma se invetera,
Agora vemos capinhas Cancro incurável; e .0 Rancor odeio,
Muito curtos pelotinhos, 1’ois não é mais que a vil placenta do Odio!
Golpinhos e sapatinhos, N.-iol A Cólera, a Cólera é que eu canto!
Fundas pequenas, muhnhas, Seu brado acorda os echos estridentes, etc.
Gibõeszinhos, barretmlios, etc.
( G a r cia de R e zên d E).
Art. 282. A vogal ô é rôxa e turva,
pi 1■ ■ ■ landi»-se aos mesmos sentimentos, e
_ Como exemplo de timidez, sensibilidade po
de-se ver toda aquella poesia de Ruben Dano em
111,11'. aos tempestuosos.
que ha esta quadra. l,x,:
En mi jardin se vió una estatua bella;
\ ento, que em noite de medonho aspecto
Se juzgó mármol y era carne viva;
I' 11k | ■ <• passas no arvoredo triste,
Uma alma joven habitava en ella,
l í .n h.mdo os troncos formidáveis, fartos
Sentimental, sensible, sensitiva.
De sombra protectora;
(De “ Cantos de vida y esperanza ).
Do P apbx das L etras no V erso 129
ia8 IM M » '■ « L t U S
SECÇÃO VI
SECÇÃO V Dos d ip h to n g o s
Do som U
Art. 284. Os diphtongos, pois que
Art ^go A vogal « é escura e í«- nelles occorrem duas ou mais vogaes,
ctuosa,'prestando-se ao lugubre e aos são por isso mais cheios e a vogal pre
dominante chá o som que pode servir á
sentimentos funestos.
<momatopéa.
D as con soantes
SECÇÃO I
, . , , í^ssis na sua admiravel traducçao
Machado de - A<Y11P tirar grande parx DAS EABIAES
d0 “ C o rv o ” de Ed. Pôe, consegue trr.r g
Do som B
tido deste som, por varias vezes-
\ rl *86 Como todas as letras, o
E x .: • . . . . ’ j*<>• l< variar as suas qualidades onorna-
Vae-te não fique no meu casto abrigo li»l»ii .1 c suggestivas conforme a com-
i mhrp essa mentira tua.
Pluma que lembre lliHíii,.m que o poeta com elle fizer (art.
. • • • • ' ‘ ’ _ , e fóra
Jtin ),
01 a prolongando-o (como na combina Jf. ' ' ' ' () depois da vogal nro-
ção com r r ) ; ;:x • '- m a n e ia , e ames f e / e ™
E x s .: berro, berreiro, rebater.
L ..........1 t j r 0 clos sons rei um'
ora augmentando-lhe a resonancia (co ir t im ib iir ; romper.
mo na combinação com ;//).
E x s .: bombo, ribombo, retumbo. . As ldéas de fausto e de
( b '"li.im com a combinação do
Do som P MMI ri ji i|
Ai t. 290. O que se diz do b, exce-
pção feita do art. 287, pode-se applicar m . bastam
T , jgB .i i vorso em clue se fize-
ao p, notando-se que este é ainda mais " birna-sc pomposo.
forte e secco.
.............. ...... .... ,|„ona
J 32 C onsolidação das L eis do V erso
l><) P apel das L etras no V erso
133
Das c o m b in a ç õ e s — bl, pl,
l' vs' : fortc- íortidão, ferro, ferrar, triumphan-
Art. 294. A s palavras em que entra •», Ia 11 farra, fanfarrão.
o som bl auxiliam a expressão das ideas
de coisas cheias e amplas, (bem que \i I. 297. () mesmo combinado com
assim o sejam, ás vezes, ridiculamente). brandos, e as combinações fl, fr,
E x s .:
•ui 'mIi.-imi a expressão de ideas de brisas
a) bloco, blasphem ia;
/iru „s . de perfumes que fluctuam, de
b) blasonar, “ blageur ” , “ hablar
l*opro.s leves.
Art. 295. O som pl, além do valor 11 ■ frescura, insufflar, flauta, flautim, per-
semelhante ao bl do art. anterior, por liiltb , llelul, melífluo; e. mais fortemente: frêmito,
ser mais forte, presta-se a exprimir as llMIirllle, fremir.
—- Uma das paginas mais lindas da litteratura A ri. 299. O som brando de / e //,
portugueza, que conhecemos e que mais comprovam combinados com v, etc. dão a mesma
esta idéa de vôo, de leveza de passaro, é um soneto
idea do vôos e fugas aladas.
de Bilac, em que a attitude da mulher amada nos é
K xs.: rufflar, flamma, flexa.
suggerida num crescendo, como se fôra uma ave
assustadiça. Deve-se a suggestão ao uso, á combi
Ku//ando a pluma, em /uga, inda um volátil voa,
nação do v, feito pelo mestre com inimitável talento:
/à-rindo em flexa o / undo espaço...
Do som Ih Da c o m b in a ç ã o : — nh
Do som 2
S E C Ç Ã O V II
DAS SICIADAS
\ 1 1 3 i D. () som s presta-se á ono-
Do som S (C e) l il íi l u p c .i de zunidos (de balas), zumbi
Art. 314. O som produzido pelas do- (de m .eeios), vozeio (de multidão).
letras s e c (ce) prestam-se á expressão I - bezerro, voz, zumzum, vozear, zabumba,
das ideas de silvo, cicio, etc. i s1111 < 1 uniu sempre, é o mestre perfeito da
E x s .: sibilo, açoite. m«!Mhíatn|Hd
—- A raguaya diz: . . . “ Enrijam -se esticadas
—• “ o sibilo das balas que gem iam ... ” D ui bicos , íi riilgir, as cordas. Aceradas,
pBitnit .ctins, «unindo. Os dardos, sibilando,
Art. 315 . Bem combinado, o som I III i m •■c..."
das ciciadas presta-se á suggestão dos
II 1 miiliiiiado com o s attingiu á perfeição-
sentimentos de doçura e caricia.
K x s .: doce, docil, caricia, doçura. SECÇÃO V III
T IT U L O I
1 >as licenças em geral
V11 d 18. Km principio todas as li-
■ ■ 11■ .t■■ poéticas são condemnaveis.
\il ^i<). Só se devem acceitar
m•jiii II.i (|nc concorrem para a belleza
i harmonia do verso ou para a clareza e
ampla idade do poema, de accordo com
o di po .to no Tit. que segue.
\rt d-’1*- 11 genero satyrico e o hu-
íim i ....... o estylo jocoso toleram mais
t|nr " outros algumas licenças.
1 *H11|*i d c - s e o porque: — não ha emo-
=i «tu i jfj( ur no caso.
t it u l o ii
nos casos previstos nos arts. 29, 30 e \rt. 324. Se o uso intelligente das
122. ! lu 111 ir- denota bom gosto, o abuso, e
E x s .: mór, por m aior; inda, por ainda. iin 11111 o uso sem cuidado, são vicios
' 1 iiidiiiiuaveis.
Art. 322. De accordo com o disposto
\i I 325. A inversão, que, em prin-
no art. 122 consagraram os mestres que
1 ipiM. v condcmnavel, quando lógica deve
a concorrência dos sons com 0 deva ser
■ 1 o 'c ila e até recommendada, pois é
pronunciada co’o.
o........ .. elegante de chamar a attenção
Ex. • p a i a uma ou outra idea que se deseja
“ E um dia inteiro, ao sol, paciente esteve
- Di.-111.11 ( art. 331).
Com o destro bico a architectar o ninho
( A lberto). A própria prosa admitte a inversão nalguns
(«sos sriiirlliunlemente ao que dizemos no art. aci
F IG U R A S DE S YN TAX E ma I 4' mi i -.-ario o exemplo, tão commum é elle.
Art. 323. A s figuras toleradas na
IIQ U R A S DE R H E T O R IC A
prosa, como a ellipse, o pleonasmo, to
leram-se também no verso, desde que \W 32Í). () euphemismo e a peri-
estejam no caso do art. 319. p illa c . nijo abuso é condemnavel, são
ih 1 >11 i • <: (|iiando usados para evitar
E x s .: E llip se :
...Trem ulam ente ondeia,
P ...........Iiiilos, de calão ou por demais
Vasto oceano de prata, a requeimada areia. pi - ah 111 ,
(B il a c ).
T IT U L O III
Pleonasm o:
— Vi, claramente visto, o lume v iv o ... I Lia licenças condemnaveis
— No mais interno fundo das profundas
Cavernas altas onde o mar se esconde-
1! 3 q . Sao condemnaveis todas
( C a m õ e s ). llpqi ,1 . quer de palavras, quer de
:*x "•
1 4 8 C onsolidação das L e is do V erso
Art. 337. O poema épico não mor \ r I 339. Todo poema é feito para
reu, nem pode morrer emquanto houver ilrv.ii a alma, proporcionando uma
emoção. 1 nu M..u 1 intensa.
— Contestamos a opinião de Sylvio Romero de \ 11 3.40. Não ha poemas longos,
que o épico é genero morto. O que cahiu em desuso IH•1111 u’, ph vsiologicamente, toda a exci-
foi o poema segundo a concepção classica, como 1 n .mi inu-nsa é de curta duração.
procuraremos provar no cap. seguinte. A moderna V Mota no art. 337.
concepção do poema ju stifica a nossa asserção. E s
tamos neste ponto com Edgard Püe que feriu a \ 1 1 341. Os chamados poemas lon-
questão com extraordinária lucidez e lógica, fazendo
jjii '. .ui niccessões de episodios, que são,
depender cada poema do regular desenvolvimento
de uma acção, tendente a despertar uma certa emo
*11ia . ir. verdadeiros poemas, mais ou
ção intensa. Conseguida ella, a excitação se enfra iiHiiu aulonomos, concatenados artifi-
quece, e a continuação do poema só póde servir de • i 11111< 111 < pelo assumpto.
preparo a outra emoção nova, e assim successiva- V, 1111 -ao nos " L u s í a d a s ” os poemas a que
mente. -?i ilriani • ■ numes de episodios: “ Batalha de A lju -
Foi o que fizeram os clássicos com os seus ImtiuUi ", " ()■ . doze de In g late rra ", a “ Morte de
“ longos poem as" hoje em desuso. (gin * .li 1 ,1 t i o" , o “ Adamastor ” , etc., unidos pela
imitiu i" do Gama, ou pela do poeta. A unidade de
C A P IT U L O ll ífljAii '|U‘ 11,1 •" In iza cada um desses poemas fal-os-á
D hiih Mi 1 . aí f i rma a genial intuição de Camões.
Do seu c a r a c te rís tic o
A n 34 lísta artificiosa concate-
Art. 338. O poema épico é a narra ftfjl. íl «) r 11[i 11■ cahiu em desuso, pela rasão
ção poética em que se celebram acções ÍIH Mtll! (Ir que era artificio.
heróicas: lendarias ou históricas. 9 111 11,1 origem esta concatenação não existia.
—■ Sejam exemplo moderno: “ Delenda Carta- n* 1 M il-IIIM 11.00 destacados; eram “ epopéas natu-
go ” , de B ila c; “ P alm ares", de Goulart. frtM , i l t’íidu 1 io 1 vários poetas e por varias ge-
152 CONSOLIDAÇÃO DAS DEIS DO VERSO Mu V i.uso S egundo o G enero L itterarto 153
rações. Depois é que se foram reunindo e se trans- I r. o que faz com que não seja épico “ O
mittiram atravez dos tempos. Só mais tarde sur 1ii nulo '. de Nobre. O seu heróe, feito subjecti-
giram as epopéas devidas a um só poeta: “ epopéas 1 uma bella creação, porém lyrica.
artificiaes ” .
\ i ( 317 . A sua arte deve tender
Art. 343. Outra causa do desuso
piii.i lazer salientar o valor do heróe,
em que cahiu o chamado poema longo
cs 11 llu esquecer a personalidade.
(successão de poemas) foi a preoccu-
pação da unidade métrica muito prolon \M 348. A acção deve mostrar o
gada, sendo todos os poemas (episodios) In ine, que apparecerá naturalmente co-
tratados no mesmo estylo, no mesmo iiiíi i/il
metro, nas mesmas estrophes.
Art. 344. Os poemas épicos, no ver \ 1 1 34<j. I’ara isto deve o poeta
dadeiro sentido da palavra poema, estão p i1" • dr 1 como um “ realista” , fazendo
em pleno uso e serão eternos. Bom 1jur ,1 . façanhas brilhem por si.
— E x .: “ Monte de T ap yr” , de Bilac; “ Fu
C A P IT U L O II I
gindo ao Captiveiro ” , de Vicente de Carvalho;
“ Palmares ” , de Goulart. l»p a lg u n s re q u is ito s de fo rm a
onde a emoção dirigirá a forma sem S11 !,iu A ’ maneira das epopéas
peias. (HMiniào de poemas sobre de
1 56 C onsolidação das L eis do V erso
I in Vitimo S hc.undo o G enero L itterario 157
“ O le plaissant projet d’tm poéte ig^ ran t # i | i i 'iH i r n r iiv r c u o u v e lle choque ses c o n te m p o -
Qni, de tant des héros, va choisir Childebrand. fjlfita 1 '<u In u jo u r s e t s e u le m e n t p o u r ce q u ’ e lle
Ji-ri t i m t f t i i i de v é r ité que c e tte o e u v re e s t a p p e llé
Art 373 Se bem que haja no fundo | l i p i a . 1 d ’ .m s 1’a v c n ir
desses poemas a intenção satyrica de
vem ser classificados 110 genero lynco, \it 377. Dos dois artigos anterio-
porque a sua expressão obedece a lei ■ deduz logicamente o caracter
lt)ntivn do poema dramatico,
tura dos poemas lyricos.
lin Vi uso S egundo o G enêro L itterario 161
Art. 385. o genero dramatico abran ....... .ui, para que na execução o calor
ge desde o horrível ao essencialmente I»i' ............ communique á obra.
burlesco, comtanto que a verosimilhan- 1 ' 1 íibivcl o preceito do velho Horacio: — Si
tú nu ll. 11, (lolcndum est, primum ipsi tibi” .
ça os presida.
\ 11 3S1). K ’ a especie theatral em
Árt. 386. O genero dramatico com- 11111 1 .irçao deve ser mais intensa, o
prehende duas especies principaes: 1 1 a- t|iíil"M" mais elevado, os episodios mais
o-edia e Comedia, de que trataremos em (lM|inlt;auies (art. 382).
O
seguida. \ 11 (<>(». A elevação do dialogo
— Aos que extranharem num livro de versi- Iftfl dt\e ser affectada, mas depender
ficação ideas assim geraes sobre a obra theatral, ti| vaean moral do proprio persona-
apressamo-nos em declarar que o fazemos para dar
|*iii
as bases, as. linhas geraes que o verso nao deve
perturbar; pelo contrario deve fazer salientar, so Ai* 31)1. Kvitar o quanto possível
pena de transformar o poema dramatico numa obra rilii il 1 al", o declamatório, o empol-
fictícia. Ifui"
Observação, Verdade, Objectivismo — jamais !'a tu . 11.11 .nloxal que, em theatro, se acon-
devem ser sacrificados, embora com versos bellos 1. .. I i|í|ll ! . .1. ■ . evilar o “ theatral” . E ’ que o longo
l lll t i o laiimi.uin. da tirada para produzir effeito,
C A P IT U L O II Niit o •11. .1111 .1 expressão deixasse de ser o que
1. |.t. riiUran natural da vida, encarada
Da T ra g é d ia
ÍMi|n imliiienle, para se tornar a phrase
" 1..... basiiro, o termo sesquipedal. Dahi
Art. 387. A tragédia lembra a epo- ;H«i-Üi
péa e destina-se a commover.
A I! 30 ’ Sem esquecer os preceitos
Art. 386. N a escolha do assumpto »SHp j ini i 11' 11, deve o poeta procurar
deve o poeta seguir o impulso da sua Ml 1 1 1 i>. sejam cheios e sonoros.
ió 4 C onsolidação das L iíis do VB rso
U o VlíHSO S egundo 0 G enero L itterario 165
Art. 405. E vitar as elisÕes força I ' 1 la harmonia que dá, segundo M. Fer-
iigní siipriinridade ao verso theatral de Sem Be-
das, que se não usem na linguagem
lii ininado-o corredio, natural, fluente, sem tolher
commum. 0 ilielum pioprio da linguagem.
Art. 406. O verso theatral é para \it |o<S. Approximar, consequen
ser falado'e não para ser dicto ou me
temente, o mais possível o rythmo da
nos ainda, declamado. plu 1 • do rythmo do verso, para não
— O poeta dramatico deve esforçar-se por me
1 1 • o 1 cesuras.
recer conceito semelhante áquelle de H. Bataille
sobre o grande actor Guitry: il |D«i. A linguagem theatral de-
“ Guitry est donc un réaliste né- II a 1’horreur V» • ■ .111.1 i 1 em “ discorrer em verso” e
instinctive de ce qui n’est pas conforme á la vie appa- M i" 1.1 eiidi) verso” .
rent.
Observez corame sa diction prend soin d’être
\tl 410. No theatro sobretudo se
toujours parlée et pousse jusqu’au scrupule le souci tflt i 1 >ii,ii a “ cheville” : uma exclama-
de ne pas chanter le moindre mot, de ne pas se MÉU iiiiiü.i . ve/.es etjuivale e até diz mais
laisser aller à la moindre apparence de tirade. II p i qii> tinia phrase.
met de l’air, des tcmps, entre les répliques, quitte à
ralentir le mouvement T IT U L O IV
Antes já tinha dicto do mesmo: “ Le public,
en parlant de lui, s’exclame : “ Comme il est naturel 1.” I >o ( Lucro Satyrico
Possa o publico dizer o mesmo do poeta que C A P IT U L O I
escreve para o theatro: “ Como elle é natural! ” Será L)a S a ty ra em g e ra l
o seu maior elogio.
Sn 1 1 1 Caracteriza o genero, o
Art. 407. Um dos requisitos da na il. corrigir costumes, castigar
turalidade reside no seguinte: procurar M ills, upoiilar ridículos.
que o accento do verso (cesura) recaia Is " "I, 111-1 r á comedia, pela intenção que
sobre o accento da phrase. y .. stulun. com a differença apenas da ma-
170 C onsolidação das L,e is do V erso I >u V erso S egundo o G enero L itterario 171
neira de os executar. A comedia é o genero obje- ■i. pendendo isso mais do temperamento
ctivo, em que o autor procura surprehender em do poela.
flagrante, pondo em scena, tal como é na vida, aquelle
ridículo que quer ferir, para que o vejam. O autor \ h 4 15. Do art. anterior decorre
não apparece. A Satyra é o genero subjectivo com • |U' dr duas maneiras se pode exercer
as mesmas intenções, porém nella o autor apparece,
M ' 1' 1 a ou ferindo directamente (Sa-
indignado ou ironico, mordaz ou humoristico e cas
I Vi a < Kpigramma) ou levando ao ridi-
tiga por suas mãos. Não fica impassível, age. Não
photographa para que vejam. Pelo contrario, viu e t-iiln ( I oema heroi-comico e Parodia).
se indignou, por isso empunha o azorrague- \ m |i(). Além dos poemas referi-
Art. 412. A Satyra pode ser contra 1f • 1,, cNcellontes auxiliares da sa ty ra :
os costumes ou contra certas individua n 1 10111 dia c a Pabula.
lidades. V .1 liotu 110 art. 411.
Art. 4 13. Quando contra uma indi
C A P IT U L O II
vidualidade, deve o autor ter o máximo
Da S a ty ra
cuidado de não descambar para a inju
ria ou a calumnia. \ n 1 1 y <) tom da Satyra é geral-
— Nunca esquecer a verdade d’aquelles versos |IH* ' 110 v indignado, ou ironico.
de Bocage ao seu rival Agostinho de Macedo, quan A h | i í ' < ) sentimento que inspira
do este procurou feril-o, faltando, porém, ao pre
ími i i d.o lhe á forçosamente o tom,
ceito que consolidamos no art. 413.
1 lit udo o verso.
“ Satyras prestam, satyras se estimam,
Quando nellas calumnia o fél não vérte, IIntIm11 ii■ l<1 mi ironico” , — dissemos. E de
Quando voz de censor, não voz de zoilo, i ÉHMtiliu nl o que dieta a Satyra é aquelle
O vicio nota, o mérito g r a d u a ...” jHljtlt ‘ "011,1 uma instituição ou contra um ho-
B fltfR " i 1 1' li-iln:. de tuna épocha ou contra
Art. 414. No genero satyrico o es- IliflM ih mu i.u.ieter. E esse sentimento pro-
tylo pode ser indignado ou humoristico, 1|« ilu 11111.110.1 nu-uti* encher o verso, empres
I >n V erso S egundo o G enero L itterario 173
172 C onsolidação d as L eis do V erso
Como se vê, na especie de satyra, de que
tando-lbe a eloquência. Já em seu tempo clamava 0 ala o urligo acima, explora-se o contraste em
Juvenal, o mestre deste genero: “ Facit indignatio '■ "I"- seus recursos. Os requisitos são os exi-
vcrsum ! ” — A indignação faz o verso! 1 Ll ' |'■! 1 a a pompa do verso, com mais liberdade,
t Ililfll.
Art. 419. A Satyra requer versos C A P IT U L O V
cheios e escolhidos. Da P a ro d ia
Do E p ig ra m m a
I >0 Genero Didactico
Art. 422. O epigramma, auxiliar Ml 425. Genero naufragado, de
poderoso da satyra, é por essencia ferino tjif ' .i.lvott a Fabula (arts. 649 a 653).
e contundente. T IT U L O V I
— Caracteriza-o a concentração num ponto, que
I *o (lenero Humorístico
elle fere. Tem um simile perfeito na ferretoada dos
insectos. Veja-se o exemplo adiante no Livro IV. ii i '(>. Lara melhor o classificar,
h idi 1 c1in cs o humorismo em antigo e
C A P IT U L O IV
iiiht no.
Do P oem a H e ro i-c o m ic o
-- I I aiilipn vem de humor, ou melhor, de bom
Art. 423. Caracteristico: uma acção WSf 11 moderno vem de humour.
ridícula em verso heroico.
C onsolidação das L éis do V erso I >0 V iírso S egundo o G enero L itterario 175
174
por outro lado, nem tudo merece sei iiiiu.c .iquclla. A sua piedade o move: Facit indul-
levado a serio “ completamente” . iiriitiii v e r s u m ! . . .
Art. 451. A estrophe pode ser iso- luirão uma estrophe regular, desde que
metrica (versos de igual medida), ou ‘ He a repita durante um poema regu
heterometrica (versos de medidas dif- larmente.
ferentes). Art. 457. Bellissimo fica o poema
Art. 452. A unidadde rythmica de Ieito em estrophes irregulares (art.
um poema em estrophes não é mais dada 155)» <luando a mudança dellas obedece
pelo verso em si, mas pelo conjuncto a aiccessão dos episodios.
que forma a estrophe ou estancia. Ksf ão nestes casos os poemas de que fala o
Art. 453. A s estrophes podem ser I I, Tit. II, Cap. II, Poemas de “ longo fo le g o ” .
ainda, relativamente ao poema, regula
res ou irregulares. T IT U L O II
Art. 454. A s estrophes regulares Da constituição da estrophe
dão mais unidade ao poema; as irregu
lares mais “ surpreza” , porém perdendo Art. 458. Deve-se attender, na cons-
muito em unidade. 'üiih.ao da estrophe, — ao numero de
Art. 455. Quando um poema é feito is, á collocação das rimas, que de-
em estrophes irregulares, estas devem \<m scr fixas e ao encadcamento (en-
hMihcment).
encerrar um sentido acabado sob pena
de ser a emoção sacrificada. \ 11 .159. A s rimas de uma estrophe
— E ’ um bello exemplo de poema em estro !""!ein scr diversas das de outras, de-
phes irregulares, mas em que a regra foi obedecida pltdu, entretanto, conservar a mesma
o de Alberto de Oliveira : “ Por amor de uma lagri ili |" 1 k ao.
ma ” , 1." serie das suas “ Poesias ” edição definitiva.
^11 |(io. Nos poemas curtos as ri-
A rt. 456. Toda a combinação de !n 1 |hmIciii se conservar as mesmas até
versos e rimas que o poeta fizer, consti- fim.
186 C onsolidação d as L e is do V erso Dos P oemas em E strophes 187
dois a dois os versos, que formarão Art. 473. Originariamente, nos ter-
estrophes, mas porque o sentido para ( rios, os versos de cada estrophe rima-
isso também concorre. \ ;11 n entre si.
—■ Assim, se bem que rimem dois a dois não Assim o usaram antigamente os francezes-
podem ser consideradas estrophes os versos da “ De- ' > i Hcbre D i e s ir a e biblico foi escripto em estro-
lenda Cartago ” , de Bilac, da mór parte dos “ Oa- plies de tres versos com uma só rim a:
ristos ” , de Eugênio de Castro; dos alexandrinos Dies irae, dies illa
em geral, tanto do theatro francez, como daquelles Solvet saeclum in favilla
usados pelos nossos poetas. Teste David cum Sibylla. etc.
190 C onsolidação d as L e is do V erso Dos P o em a s em E stro ph ês 191
Art. 474. O terceto clássico portu- Quando a lava descia essa eminencia estranha
Form ava a legião: chamava-se M o n t a n h a ,
guez tem as rimas cruzadas: o verso do
G ir o n d a , C o r d e U i e r s , — phantasmas do T e r r o r , etc.
centro com os dos extremos do seguinte
e assim por diante, finalizando com um Art. 476. Applicam-se ao terceto os
verso isolado que rima com 0 do centro dispositivos dos artigos 461, 470, 471,
do ultimo terceto. 472, sobre o sentido apreciável ao fim
E x .: de cada estrophe e sobre a estrophe he-
N essa noite, no rancho, á voz do oceano
(erometrica.
Juntou a sua, a dar-me a despedida,
A viola gemedora do serrano. Art. 477. O terceto é usado em va
Ouvi-a com uma lagrim a sentida. rias combinações, principalmente nos
Sôou a cantiga, em suspiroso accento, sonetos.
N as quebradas da serra adormecida, C A P IT U L O IV
E no meu coração, como um lam ento: Das estro p h e s de q u a tro ve rso s: q u a d ra s
( A lberto de O l iv e ir a ) '
— Trata-se novamente do terceto nos “ Poemas Art. 478. A s quadras são as estro-
de form a f i x a ” . I>11 cs de uso mais frequente em portu-
euez, sendo feitas em quasi todos os
Art. 475. Como se dá com a pare
melros e entrando nas combinações mais
lha, também o terceto pode sahir fora
va riadas.
da exigencia classica da rima entre-
cruzada e ser dividido mais pelo sentido. Art. 47c). A s duas rimas que se al-
— Estão neste caso aquelles da poesia “ T ira- irniam nas quadras e que chegam quan
dentes ” , de Fontoura X a v ie r: do esperadas, dão á estrophe um quê de
E ra horrível de ver-se o monstro enfurecido, <i * 11 a firmeza que causa um bem estar
Heroico, marcial, esplendido e ferido, -10 ouvido e á emoção que se satisfez
Bramindo de feroz, rasgando-se de d o r ... Idei lamente.
192 C onsolidação das L eis do V erso Dos P o e m a s e m E s t r o p h e s 193
C A P IT U L O VI
Art. 486. Os antigos usavam muito Das e str o p h e s de seis ve rsos
a rima alternada dest’arte: A B A B A . SECÇÃO 1
—■ Assim as usaram: Sá de Miranda ( “ Carta a Das s e x ti n a s
D. João I I I ” ) ; Tolentino, (na “ Autobiograpliia ”
a S. Alteza) ; Bocage, (em varias fabulas). Art. 489. As sextinas, cahidas em
Wenceslau de Queiroz, á maneira dos antigos, desuso, eram mais um jogo de palavras
assim dispoz as rimas da poesia “ No Sertão” : para mostrar engenho do que uma for
O meu cavallo impaciente ma própria a vasar grandes emoções.
Galopando pela estrada,
Não se devem confundir com as sextilhas, de
Caminha presto na frente,
11ue trataremos em seguida. V. as sextinas nos
R á mansa luz da alvorada
“ poemas de forma fix a ” . Foram estas que Castilho
Sacode a crina luzente.
mmlrmnou e não as sextilhas como por engano
(W e n c e s l a u de Q ueiro z ). affirmaram Bilac e Guimarães.
A rt. 502. Hoje usam-se estrophes Art. 504. Algum as odes classicas
de dez versos, isometricos e heterome- eram feitas em estrophes de quatro
tricos, mas sem o minimo rigor de cons- versos sem rima, sendo os tres primei
trucção das classicas. ros de dez syllabas e o ultimo de seis
ou de quatro.
— Exemplo de uma estrophe moderna composta
de dez versos: E x .:
Em certo dia, á hora, á hora Quem atrevido quer luctar com Pindaro,
Da meia noite que apavora, Fia-se em azas que. pegou com cera
Eu, cahindo de somno e exhausto de fadiga, A arte dedálea — e ha de ir dar seu nome
Ao pé de muita lauda antiga, Ao vitreo pego.
De uma velha doutrina, agora morta, ( G arrett
S — Trad.)-
J
Ia pensando, quando ouvi á porta
Do meu quarto um soar devagarinho, A rt. 505. O iambo, que pela sua
E disse estas palavras taes:
uniformidade póde ser collocado entre
“ E ’ alguém que me bate á porta de mansinho:
“ Ha de ser isso e nada mais os versos estrophicos e os versos soltos,
( M achado de A s s i s — Trad.). compunha-se de um verso longo e um
curto, alternado.
204 C onsolidação das L eis do V erso
E x .:
Art. 534. Os versos do “ mote” po
Embora, Senhora, andeis
De finas telas vestida, dem ser repetidos: um em cada estro-
Por meus olhos sois despida. phe, um só em todas, ou com variante
VOI/TAS que conserve a mesma palavra da rima,
De clara hollanda vestis ao fim de cada estrophe.
Vosso corpo, linda Infanta, E x .:
Bello rocal de rubis
Quando as naus iam á índia,
Véla-mc a vossa garganta;
Trazeis manto de velludo, Se eram cem as que abalavam,
Garbosa saia comprida, Vinte apenas regressavam. . .
Mas, apezar disso tudo,
Por meus olhos sois despida. VOETAS
Voltando ao Tejo, opulentas,
Atravez das ricas vestes Com gemmas, oiros e pratas,
Que vos vestem, linda Infanta, Eram presas p’los piratas,
Adivinho os dons celestes
Quebradas pelas tormentas;
Do vosso corpo de santa;
E ao fim de luctas cruentas,
Vossas vestes de setim,
De brocado ou lã garrida, Se eram cem as que abalavam
De vidro são para m im : Vinte apenas regressavam.
Por meus olhos sois despida. Com fé na vossa clemencia,
Mandei-vos naus de esperanças,
Vejo-vos só mãos e cara
Senhora de loiras tranças,
Mas não preciso ver mais
Para calcular a rara Martyrio desta existência;
Graça do que me occultaes. . . E no caes da paciência
Para quê rendas e folhos, Os meus dias suspiravam
Senhora da minha vida, Mas as naus não regressavam ...
Se por estes tristes olhos,
Por meus olhos sois despida. No mar das vossas friezas
Todas se viram quebradas,
( E u g ê n io de C astro ).
Pobres naus! mais desgraçadas
226 C onsolidação das L eis do V erso Dos P oemas de “ F orma F ix a 227
VOLTAS Do T r i o l e t
III
Art. 542. A s rimas escolhidas
cheias, o verso sonoro, concorrerão iiü- Hoje, porém, me excrucia
A longa estação do inverno...
mensamente para a belleza do trioleu
E ’s de o u t r o . . . e adoras o eterno
—Sirvam de exemplo os de Rostand, que acima Nevoeiro que os céos cobria...
transcrevemos. Hoje, porém, me excrucia
— Os seguintes B io lc t s de Wenceslau de Quei A longa estação do inverno! . . .
roz são uma modalidade do poema que acabámos
C A P IT U L O V
de estudar.
Da Q u a d r i n h a
Ha nelles o mesmo chiste dos triolets e a
elles se pode applicar o que dissemos nos arts. 537, Art. 543. A Quadrinha portugueza
538 e outros: como “ poema de forma fix a ” , tem a
sua base na estrophe homonima (artigo
4 8 1).
Disseste-me, flor, um dia,
Que não gostavas do inverno: Art. 544. Caracterizam a Quadri
— Era frio e que um eterno nha, como “ poema” , a harmonia e deli
Nevoeiro os céos encobria — cadeza do conceito casadas com a deli
Disseste-me, flor, um dia, cadeza da estrophe, pequena como uma
Que não gostavas do inverno. joia.
E x .:
II Marias da minha aldeia,
E eu sempre te respondia: Todas vós sabeis urdir
— Bella estação que é o inverno! De um certo linho uma teia
Mas, num gesto meigo e terno, Onde todos vão cahir.
( A ugusto G il ).
Replicavas: —• Como é fria !
E eu sempre te respondia: Art. 545. Sem exagero podemos
— Bella estação que é 0 inverno! comparar a feitura da Quadrinha por-
234 C onsolidação das L e is do V erso Dos P o em as de F orma F i x a ” 235
— Sirva de exemplo este bello soneto de Luiz \rl. 555. A concordância do senti
Edmundo, que além disso é também .excellente do com a estrophe não deve ser retar
amostra de soneto em alexandrinos: dada, a não ser no verso final, em que
o sentido sáe fóra da ultima estrophe
Olhos tristes, vós sois como dois sóes num poente,
Cangados de luzir, cangados de girar,
para ir acabar no verso separado que
Olhos de quem andou na vida alegremente ci mclue o poema.
Para depois soffrer, para depois chorar. Art. 556. O que se diz do verso fi
Andam nelles agora a vagar lentamente,
nal do Soneto .(art. 550, fim ), igual-
Como as velas das náus sobre as aguas do mar, inciite se pode applicar ao do Terceto.
Todas as illusões do vosso sonho ardente. K x .:
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar. I 's do Tinguy, porém, vingo a montanha!
His de seu alto, abaixo o olhar agora
Ouço ao vos ver assim, tão cheios de humildade, <'irnitnvagando á perspectiva estranha,
Marinheiros cantando a canção da saudade Vejo ora campos e lavouras, ora
Num côro de tristeza e de infinitos ais. I »i 1.1. faixas azues: a da lagôa
I- .1 do mar grosso a rebentar lá fóra.
Olhos tristes eu sei vossa historia sombria
I' pondo o animal que infrenc vòa,
E sei quanto chorais cheios de nostalgia,
I‘ 1 ando a ourela do despenhadeiro,
O sonho que passou e que não torna mais. 1 liule caudal torrente o espaço atrôa.
Km breve atraz me fica e sobranceiro
C A P IT U L O V II V cOracla o monte. Já pela campina
Da Te rza-R im a
Sorvo ás canemas e alecrins o cheiro.
I ' já dr minha terra esta collina,
A rt. 554. Tem a Terza-Rim a, ou Ter Aqucllc capão de arvores defronte,
ceira, a sua base na estrophe do mesmo Aqucllr rio e ponte que o domina.
nome e a ella se applica o que da refe I ‘ ddla esta cantiga ao pé da fonte,
Iu onde vòa saudosa e vae na toada
rida estrophe se disse no respectivo ca
M.iMtiar os échos do sopé do monte.
pitulo (arts. 473 a 477).
242 C onsolidação das L eis do V erso Dos P oemas de “ F orma F i x a ” 243
Art. 559. O Pantum tem, pela ori Wde-lhe os olhos sem vida!
Que visão! que fórma estranha!
ginalidade da repetição, um sabor exqui- Toda de branco vestida,
sito que agrada e enleva. I'.' um marmor que a lua banha.
244 C onsolidação d as L e is do V erso
I >o s P o e m a s de “ F o r m a F ix a 245
ultima analyse se origina) deve ter o tui.i t i o poema, é preferível deixar cantar livre-
iii- 111 • .1 emoção, porque é também o meio de fazer
sentido suspenso no quarto verso. iiiiil.it, dr fazer vibrar de accordo com o nosso o
A rt. 564. Mais do que a Oitava .iii-ii.in tlr quem nos lê. Jamais se deve esquecer
.. 11111 dissemos no art. 9 da Introducção. Tendo
presta-se a Décima ao genero epigram- -i.pullii por norma é que a poesia será eterna.
matico e não deve por isso desapparecer.
Exemplo de Décima:
Art. 566. Dentre os poemas cahi-
Ao Parnaso quer subir dti'. em desuso procuraram alguns poe-
Novo rival de Camões: 1.1 restaurar o Canto-Real, a Sextina,
E das loucas pretenções ,1 Yillanella.
As musas se põem a rir.
Apollo sem se affligir, Somente em homenagem aos poetas que tên
D esfarte diz ao casmurro; is 1.nu instaurar essas especies de poemas é que lhes
— “ Póde entrar que o não empurro; ttli......is espaço nestas columnas.
Não me vem causar abalo;
Já cá sustento um cavallo,
Art. 567. O Canto-Real é uma es-
Sustentarei mais um burro ” . perie de Bailada mais ampla do que
(Contra o Padre José A. de Macedo). .iquella de que tratamos nos arts. 5 1 1
C A P IT U L O 11 d 5 13-
Dos o u tr o s poemas ca h id o s em desuso () Canto-Real consta de cinco estrophes de
u n ir e uma estrophe menor (offertorio), re-
v i 1 m is
A rt. 565. Muitos poemas de forma Itlmii, synthese, conclusão do poema.
fix a desappareceram por serem jogos C.ttla cstrphe é formada pela união de uma
•|t1.1111.1 dr rimas crusadas, uma parelha e uma quin-
de palavras mais ou menos engenhosas
tilh ii, 1 nino se vê no exemplo seguinte:
que não compensavam pela belleza 0 es
Kigida, heril, soberba, numa altura
forço despendido. I narccssivel quasi, ergue o frontal
— Diriamos melhor “ pela emoção” , pois ás I \i ra o azulado céo, sua moldura
vezes o poema não deixa de ser bello relativa I 111 ira, para o resplendor austral,
mente, mas não desperta a emoção. E se esta fra \ cidadella em mármore rosado!
camente corresponde ao esforço dispendido na fei- Sinistramente fulgem pelo eirado
248 C onsolidação das L e is do V erso Dos P o em a s de “ F orma F i x a 249
A rt. 582. Por ser de forma variá Art. 585. H oje servem ambos para
vel não é que 0 poema deve deixar de 1 .miar tudo aquillo que desperta enthu-
obedecer á regra lógica que torna as •i.isnio.
obras d’arte superiores em belleza, pela Art. 586. Caracterizam-se pela
justa proporção, como acontece, por > ■■.1 Ilação c pelo cunho subjectivo e emo-
exemplo, ao soneto. cional.
Art. 583. O poema deve ter narra
A ri. 587. Actualmente ha esta dif-
ção mais ou menos prolongada; eleva
D 1 cuca : a Ode não se destina ao canto,
ção do assumpto, na proporção 3:5 do
........... 11 sua origem, ao passo que o Hy-
poema, e conclusão obedecendo ao dis
u i n o c m geral é feito para ser cantado.
posto no art. 581.
—Esta proporção encontra-se, como dissemos, no SECÇÃO II
soneto que tem a sua elevação no i.° terceto obe
Do H y m n o
decendo á regra.
E ’ a lição concretizada por João Ribeiro num Art. 588. O Hymno ainda hoje usa-
dos capítulos das suas “ Paginas de Esthetica” .
do nus casos atraz referidos (arts. 584
T IT U L O II • L T ), c proprio para excitar os senti-
imniir, elevados, corno o patriotismo,
Dos poemas mais em uso p"i exemplo.
C A P IT U L O 1
Do Hymno e da Ode
Art. 589. Neste caso convem-lhe o
S EC Ç Ã O 1
1"a 1 elevado e um desdobramento rá
Gen era lid ad es
pido e vibrante.
Art. 584. Ambos estes poemas eram A rI1. 590. O íestribilho, que lhe é
antigamente destinados a celebrar fa p* •tiliar, deve ser como uma synthese
çanhas de heróes. do seiiiimento que lhe serve de assum-
256 C onsolidação das L eis do V erso Dos P oemas de F orma V ariavel 257
pto e separa as estrophes que por sua Recebe o affecto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
vez elevem ir num crescendo de exal Querido symbolo da terra,
tação. Da amada terra do B rasil!
Sobre a immensa nação brasileira,
A rt. 591. A s estrophes do Hvmno Nos momentos de festa ou de dôr,
devem ser regulares, podendo o estri- Paira sempre, sagrada bandeira,
bilho ser feito em metro differente. Pavilhão da justiça e do amor!
Recebe o affecto que se encerra
E x .: H ym no á B a n d eir a n a c io n a l
Em nosso peito juvenil,
Salve, lindo pendão da esperança! Querido symbolo da terra,
Salve, symbolo augusto da paz! Da amada terra do B rasil!
Tua nobre presença á lembrança ( B il a c ) .
A grandeza da Patria nos traz. S EC Ç Ã O II I
Outro e x .: CAPITUL-0 II
—■ Brando leito de verdura, Do C â n tic o , da C anção e da L y r a
Cinda alcatifa de flores, SEC Ç Ã O I
Formoso verger, plantado
G en e ra lid a d e s
Pelas graças e os amores,
\ri. 5 q<). O Cântico, a Canção, e
Recebe estas frescas aguas
Que te deve um grato amante, 1 I v n assemelham-se pela delicadeza
C’rôa-te de nova hervinha, 1jiH* 1 is deve revestir quando o assumpto
Viceja, lugar fragrante ! c n .iiiio r.
neste caso algumas de João de Deus. Dellas extra- Que as azas providentes
himos uma, ao acaso: l)o anjo tutelar
D abriguem sempre á sua sombra pura!
—■ Vi o teu rosto lindo,
\ 111 imi hasta-me só esta ventura
Esse rosto sem par;
I )c ver que me consentes
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Olhar de lon ge... olhar!
Como quem volta de áspero degredo
E vê ao ar subindo ( J oão de D eu s )-
O fumo do seu la r !
V i esse olhar tocante, SECÇÃO II I
De um fluido sem egual
Da Canção
Suave como a lampada sagrada,
Bemvindo como a luz da madrugada \ 1 1 (103. A Canção, bem como a
Que rompe ao navegante
Depois do temporal! 1 11 h; i mel a, é nma composição breve, que
Vi esse corpo de ave, ti pir Ia essencialmente ao canto.
Que parece que vae As Modinhas brasileiras, os Fados portu-
Levado como o sol ou como a lua
í.-.i- 1 5 silo canções em que por vezes se reflecte a
Sem encontrar belleza egual á sua;
«liim (lu püYO.
Magestoso e suave,
Que surprehende e attrae!
Attrae, e não me atrevo
\ 11. (104. A Canção deve encerrar
A contemplal-o bem; m11 sentimento vibrante, onde transpa-
Porque espalha teu rosto uma luz santa, ■ i ■ ,1 ;uuor, paixão, ou mesmo odio e vin-
Uma luz que me prende e que me encanta
Naquelle santo enlevo
í ; im.i. mas onde se sinta que pulsa a
De um filho em sua m ãe! 1I111.1 do poeta.
Tremo, apenas presinto JÍU, 1
A tua apparição;
E se me approximasse mais, bastava tui canto amores,
A 11 sol e ao luar,
Pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto, I 11 1 mito amores.
— E ’ uma adoração ! Mu-, não posso amar.
270 C onsolidação d as L e is do V erso I) i P oe ma s de F orma V a r ia v e l 271
Canto amores ao som da flauta e do pandeiro, lip fd qm é elevar a alma do povo que nellas acha
hH U ') ■ ..Hi do seu sentir. F o i o que se deu com a
Mas já não posso a m a r ...
O meu amor era marinheiro !H , popular "C anção do soldado” , que assim
E morreu no m a r !
>mui çii!
“ Nós somos da patria a guarda,
Tranças còr d’amora, tranças côr do linho,
Fiéis soldados
Estou cheio de dores,
Por ella amados.
Estou entrevadinho,
Nus cores da nossa farda
Já não posso a m a r ...
Rebrilha a gloria,
Mas canto amores
Pulge a victoria.
A o sol e ao lu a r ...
Tranças côr d’amora, tranças côr do linho, I',m nosso valòr se encerra
Ouando me ouvis cantar sob as ramagens, Toda a esperança
Sou qual piloto entrevadinho Que um povo alcança.
Descrevendo as suas viagens. No peito em que ella impera
Rebrilha a gloria,
Eu canto amores, Fulge a victoria.
Ao sol e ao luar,
Eu canto amores Estribilho:
Mas não posso amar. \ paz queremos com fervor,
Todas as flores são murchas, \ guerra só nos causa d o r!
F, mortas todas as e stre lla s... Porém como a patria amada
Sou como um doido, lindas D onzellas! Foi agora ultrajada,
Que se enfeitasse com rosas m u rch as... Luctaremos com valor.
(E ugênio de C astro).
Como é sublime
A rt. 605. A Canção comporta to Saber amar,
Com a alma adorar
dos os assumptos e todos os enthusias- \ terra onde se n asce;
mos e, como os Hymnos, pode ser amo Am or febril
rosa, guerreira, patriótica. Pelo B r a s i l . . . ” etc.
SECÇÃO IV
Vmde, M arilia bella,
Da L y ra I 11 chegas ao fim do dia;
'•< .dguem passa e te saúda,
Art. 608 A L v ra é uma canção era
Urni que seja cortezia,
que se repete de ordinário um esti ibi- ,;i acronde 11a face a cor:
lho ao fim de cada estrophe. Que effeitos são os que sinto?
>'i,in effeitos de amor?
Art. 609. A s L y ra s ás vezes appro-
ximam-se do Idyllio pelo bucolismo, ás Mi rslim, M arilia, comtigo,
Niin leulio um leve cuidado;
vezes do Cântico pela elevação e subje- N1 111 me lembra se são horas
ctivismo; ás vezes da Ode pelo impeto I l levar á fonte o gado.
e pelo grandioso e sempre da Cançao Hr vivo de ti distante,
pela vivacidade e pela harmonia. minuto, ao breve instante
I 1111:1 um dia o meu desgosto:
E x .: litnmis, pastora te vejo
__ Não sei, M arilia, que tenho, Une em leu semblante composto
Depois que vi o teu ro sto , N to veja graça m aior:
Poi quanto não é M arilia Une effeitos são os que sinto?
Já não posso ver com gosto. Seiãu effeitos de amor?
N outra edade me alegrava,
A té quando conversava V111 li' já com o juizo,
Com o mais rude vaqueiro; Marilia, lão perturbado,
H oje, ó bella, me aborrece Qltr im mesmo aberto sulco
Inda o trata lisongeiro Mi ll" de novo o arado.
Do mais discreto pastor: S■1111 im centeio pego,
— Que effeitos são os que sinto? Nmilia parte em vão o sego:
Serão effeitos de amor? ■1 .ileuem commigo conversa,
Saio da minha cabana 1 )tl
mi" respondo, ou respondo
Sem reparar no que faço; Nmiti.i eousa tão diversa,
Busco o sitio aonde moras, Um nexo não tem menor:
Suspendo de fronte o passo. Une effeitos são os que sinto?
Fito os olhos na janella, 1 .i" effeitos de am or?
276 C onsolidação das L eis do V erso P oemas de F orma V ariavee 277
Que a gente fica sem saber o que ella fia, N*‘ l( iBars, sê sempre ingênua e p u ra ...
Se o loiro linho, se os seus cabellos. ■ pH|>ui muKimM quem colhe b e ijo s ...”
Vendo-me, Ignez, a côr de neve,
Ita loiin It-iiiiv. o labial rubim
Sua delgada roca e seu fuso abandona,
I iiii -ii si n|mla de lunar palor,
E corre ao meu encontro alegre e leve,
■ | m Ih Hlste que se abriu assim:
Toda em sorrisos de belladona.
I Jit nfti 1 nu- tens amor! O que é o a m o r!”
— “ Marcos, foi Deus
Que aqui te trouxe; fuiMi i li.. ,1 mãos magrinhas, desmaiadas,
Deserta estou p’los beijos teus, r u im . liii.., convalescentes,
P ’los doces beijos dessa bocca doce... TtÍst*i-' ......... Kainhas doentes
Destes limoeiros sob os verdes arcos, [h.|iii.|.. 1 molas pelas estradas...
Andava a scismar, fiando IIlialiiT o que é o am or?”
Os lençóes onde dormiremos, quando :A>dlll falei
Formos casadinhos, meu amado Marcos. | s«it ouvido... Chorava o vento sobre n ó s...
Vens cançado, vens? chega aqui, descança... I t -.'li tltmi voz que era uma sombra de voz
Queres merendar? vem ao teu amor:
Ign. . no disse :
Aqui tens o mel desta loira trança
E o queijinho fresco deste seio em flo r ... "'.M íftos, não s e i . . . ”
Senta-te comigo nesta verde gruta, \ .ai ensinar-te o que é o amor. V a m o s!”
Dize-me o que queres, o que mais desejas... Partimos,
Não queres mel nem queijo? gostas mais de fructa?
! ittll's andando pela tarde terna,
Aqui tens meus lábios, aqui tens cerejas. ‘‘ i|in ' ltegamo s a uma cisterna
Que lindas cerejas, que brincos divinos | h , a i i i l h . n l , 1 di. verdes limos.
Para uma Princeza, inda a mais cimeira!
!m, <) sol poente
Que os teus lábios, doidos, travessos meninos,
plm llili iiu endio no mar alto,
Venham colhel-os na cerejeira... i||l alio ui.o, em sobresalto,
Mas não me beijas? Que te fiz eu? Estás mal co-
^Mftsaliii 1111 . febrilmente,
[migo ?
I Éltilrn 1 i a11 seus mantos de cambraia
Não me respondes? —■ Fazes-me louca...
Já não és meu amigo,
(iullftlll |nili| .occorro á praia.
Já aborreces a minha b o c c a ...” " lym ? ingênua que te perdes
lli.s .! não vês uma estrellinha pura
•—■ “ Ignez, mimo de graça e de frescura, H l i i t i 110 escuro da cisterna escura,
Põe um açaimo nos teus desejos... Mito iiiinui esp'rança nuns olhos v e r d e s ? ...”
28o C onsolidação d as L e is do V erso P o em a s de F orma V a r ia v e l 281
— “ Bem a vejo, Marcos, bem a vejo a arder( n 1 1.l. ii.i .ui Sol que do alto céo flammeja
Chamejando, ruiva, entre aguas de gelo; 5 I ilrsiT lento pelas serranias...
Quem m’a déra ter 11 : " l é 11111 fauno que entrelaça e beija
Para o meu cabello !!! H((f h . v.iineiile as arvores esguias.
— “ Pois bem! E ’ tua a estrella prateada, P i'L louro, pelo ar, espanejante,
Vae apanhal-a, se a appeteces tanto... ' nt turbilhão fantástico de abelhas
—■ “ Zombas comigo, meu encanto, Um ■ (b mteadoramente paira deante
Se eu a fosse apanhar, morrería a fo g a d a ...” I ii 11 >11 illns e pétalas vermelhas.
— “ Disseste bem, Ignez, ingênua cabecinha, \ 1'11 p.it.i o trabalho! Ouve-se o côro
Cuja innocencia me consterna... l''i l.ui adores e das raparigas...
Que tu saibas, porém, que o amor é uma estrelünha ! ' i*-1111ii. ao Sol, como um tapete de ouro,
A arder numa cisterna; ' ■ ,d" lleira fulva das espigas.
Não a queiras colher, sejam puros teus dias, 1'• íiiiiiM 1.1 I No teu aspecto amigo,
Sejam sempre puras tuas lindas faces, ' i11■ niaiile c triste muitas vezes,
Não a queiras colher, que, onde julgasses 1jualido chegas pelo ar trazes comtigo,
A fortuna encontrar, a morte encontrarias. tíiiliu a c calma para os camponezes.
Levanta os olhos ás Constellações, Ilfts o k pios fortes e desejos...
Lava no luar as mãos, I . o iiimii' ó seiva, é força, é mocidade.
Enfeita com jasmins as tuas am b ições...” A iiii .i anda a clamar jpelos teus beijos
E beijámo’nos como dois irm ãos... HUi •fu» sementes de fecundidade.
( E ugênio de Castro). (O lEgario M ariano).
A rt. 615. A maior simplicidade
C A P IT U L O IV
deve presidir á feitura de ambos os poe
Do R om ance
mas, para auxiliar a suggestão da vida
simples que elles celebram. u i U16. O Romance ou rimance
— O Idyllio pode ser exemplificado com a se | 11111-1 n imposição poética que se asse-
guinte poesia: ■ §)iüi um lauto á bailada, tendo, porém,
Terra florida. Estação nova. Tanta iiiai amplitude que esta.
Vida em redor! Ser folha quem me dera!
Cada arbusto que vejo é uma garganta, 'u 1 U17. Caracteriza-se o Roman-
Um grito de volúpia á primavera! i I" ia implicidade da expressão com
CONSOI.TDAÇÃO DAS LEIS DO VERSO 1 1' oRm a s de F orma V a r ia v e l 283
282
de monotonia, proposital, na expressão, U«t havia dez noites que sempre chorava!
darão ao romance um certo ar de nar ' " alrnriii passando ia pela estrada,
Ouvindo lacs vozes logo se quedava.
rativa popular que é a própria alma
desta composição. In negro vestia, de vagar andava,
1 ohí doces olhos scismava, scismava.
E x .: ' i" dn postigo da casa parava,
— Era noite escura, de ha muito fechada, P i ih-ii 11' 1 ;i dentro para quem gritava:
Nem fonte gemia, nem gallo cantava.
Uni muito socêgo (por tudo jurava)
Que noite tão triste, quem por ella andava PfV» M n a s penas, a seus males dava.
Ia depressinha, p’ ra traz não olhava.
■ lie funKr com elle, logo descançava,
Nem o sete-estrello pelo céo brilhava,
li i|iu fico sotnno, não mais accordava... ”
Nem estrellas d’oiro, nem lua de prata.
i*i 1 inini.iiii de dentro quem é que falava,
Ai que noite escura, não se via nada,
MMlwdi ni de fóra que a Morte alli estava.
Nem fonte gemia, nem gallo cantava-
M senhora Morte, já vos esperava,
Mas dentro da casa onde alguém morava
me enmvosco, vamos de longada
Ouviam-se vozes, levava-as o ar.
Eram vozes tristes de quem se matava, | ft Mmle l o d o , todo se abraçava,
Em dores vivia, em penas lidava. /Vi i(Ut- rico sonino!” e já não chorava...
S o lo : Côro :
Gados do verde monte, PUmue a dobrada voz dos sinos graves, plange. . .
Adeus! Nos frescos alcantis umbrosos, \.i mar! Manhã de Março, acolha a tua luz!
mi aniles náus, que vão á procura de um mundo!
Tristonhas emmudecem
As gaitas pastoris... fi( fresca o ve n to !... Ao largo! A cordoalha range...
I.ngol Protegei, astros do céo profundo,
Os vales adormecem.. .
O estandarte da C ruz!
Ermaram-se as campinas...
Adeus doces cantigas,
A ’ sombra maternal
Das arvores amigas! C A P IT U L O V II
Adeus, verdes collinas, Do D ith y ra m b o
A tiritar no banho
Do orvalho matinal! \rt. 629. O Dithyrambo é um poe-
Ribeiros de agua clara,
imi destinado a celebrar 0 vinho, os pra-
Entre o ouro da seara
E a alvura do rebanho ! |tfi es <la meza, o prazer em geral, a ale-
JM ín.
C ôro:
Fulgura o sol nas armas dos guerreiros. Ari. 630. Pode ser composto como
Gritam, rindo, os frautins. Roucos, resoam n f antata em vários metros, e affectan-
Os sistros e os pandeiros... d" uma desordem apropriada a quem
— E as grandes náus, de azas abertas, voam..
1I. lira em honra de Baccho.
S o lo .
Aid. 6 31. Os versos devem ser
Adeus, aguas queridas
Do Tejo encantador! ■ heins, rubicundos, avinhados.
Adeus, casaes risonhos. Dolle disse José Feliciano de Castilho: “ O
Pelo pendor descendo IHllivi,unbo demanda verso cheio, robusto, sonoro,
Das encostas floridas! mlmdo, rubicundo como as faces do beberrão...
Vaes desapparecendo, ■ ■ olhos devêm scintillar mil cores alegres; as ri-
Terra do nosso amor, 1. devem resoar como cálices que se chocam, e
Berço dos nossos sonhos ! iigiecem entoar saúdes'’ .
30o C onsolidação das L eis do V erso Dos P oem as de F orm a V ariavee 301
—• Sim, sim !
chica em que se observem os requisito Da terras e dos astros todos
do art. anterior. Sentimos a rotação-
E x .: Depois de um jantar profuso,
— Compadres, nossa existência De uma forte libação,
Não passa de um sonho vão, Quem não quer a monarchia?
Quando bebemos entramos Quem não respeita um barão?
No dominio da rasão. Compadres, não é assim?
Compadres, não é assim? — Sim, sim !
—• Sim, sim ! Quem não quer a monarchia?
Quando bebemos entramos Quem não respeita um barão ?
No dominio da rasão. (F agundes V arelea ).
Tudo no mundo é vaidade
Disse o grande Salom ão... C A P IT U L O V III
Elle escreveu talvez isto Do P oem a E p ico ou E popéa
Num dia de indigestão.
Compadres, não é assim? Art. 633. A Epopéa é a celebração
—• Sim, sim !
de acções hèroicas: lendarias ou histo-
Elle escreveu talvez isto
Num dia de indigestão. liras (art. 338).
Não é vaidade a belleza, Art. 634. A Epopéa pode constar
Nem o vinho também, não!
Vemos bons todos os homens
de um só ou de vários episodios conca-
Atravez de um garrafão. 11 nados, podendo ser feita em estrophes
Compadres, não é assim? mi não; em verso rimado ou solto.
— Sim, sim !
Tendo já desenvolvido no Livro I, Tit. I
Vemos bons todos os homens
ilcsla parte, o estudo do Poema Epico, resta-nos
Atravez de um garrafão!
iilirtiiis dar o exemplo que illustre estes artigos e
Quando as taças enxugamos, Ifiiio 0 principiante:
Se aguça nossa attenção:
Da terra e dos astros todos A MORTE DE T aPYR
Sentimos a rotação. 1 ma columna de ouro e purpuras ondeantes
Compadres, não é assim? Subia o firmamento. Accesos véos, radiantes
304 CONSOUDAÇÃO DAS LEIS DO VERSO Dos P o em a s de F o rm a V a r ia v EL 305
CO NSOUDAÇÃO D AS L E IS DO V E R S O
3 io
E x . __ a um procurador
Só quando emiim no pó, como um chacal raste , " C o m tão má gambia.andas tanto,
Chorar’s na escuridão, contricto e humilde ja. • • Tanto daqui para alli •
E as lagrimas arando o teu peito altane.ro, _ Procurador, não me enganas.
Der’ s teu ultimo pão a um pária, a um vil trapeiro... Tu procuras para ti. (BocaGê).
Então te sorrirei e Deus te sorrira
Dobra a altaneira fronte ao Fado Irresistível.
Art 641 O Epigramma ganha
Resgata pela Dôr teu passado execrável. _
—Sabe gemer, carpir, peito rude e impassive . ^ nmito em gr»P e “ ustodade
- B e i ja a chaga com pús do roto e o desprezive
-Conhece a Angustia, o Pranto, os ais do Irreparável.
(G o m es L e a l ). ferro em W
C A P IT U L O X do conceito final.
Do E p ig ra m m a e do M a d rig a l Art. 642. O Epigramma dialogado
Do Epigramma ú também de grande effeito.
Art. 639. O Epigram m a é uma pe
Ex.:
quena composição satyrica e incisiva. Alcoa-.
_ “ O epigramma é uma scentelha — Perdoa, tu tens, Elmano,
Um defeito, entre diversos,
Do espirito do Diabo,
Faisca como um pyrilampo; e ao cabo Que cheira muito a doudice.
Se assemelha Elmano :
A uma abelha, „ Sim ? Qual é ?
Por ter ferrão no rabo! . . .
( F ontoura X a vier )- A lcco :
Eazeres ve rso s...
Elmano
Art. 640. Não tem forma apro Oh! Pois tu também tens outro,
priada, caracterizando-se pelo final que E {01gára de o não teres, _
deve resumir 0 conceito ferino e cáus Q ue está mui perto da asneira.
tico.
3 i2 C onsolidação das L eis do V erso Dos P oemas de F orma V ariav El 313
SECÇÃO II
T IT U L O III
Da F a b u la com o a u x ilia r da S a ty ra
Dos poemas menos usados
Art. 653. O mesmo poema pode
C A P IT U L O I
ser: uma fabula pela feitura; uma S a
Do P salm o
tyra pela intenção.
Art. 654. O Psalmo é um cântico
E x .: “ O macaco declamando ”
essencialmente religioso, é um hymno
Um mono, vendo-se um dia
Entre brutal multidão, em louvor da divindade e destinado sem
Dizem lhe deu na cabeça pre ao canto, admittindo todos os me
Fazer uma prégação. tros, todos os rythmos.
Creio que seria a thema E x .:
Indigno de se tratar,
— Quando ao longe em toda a terra,
Mas isso pouco importava, O’ meu Deus e meu Senhor,
Porque o ponto era gritar. Resplandece de teu nome
Teve mil vivas, mil palmas, O magnifico esplendor.
Proferindo á bocca cheia, Sobre os céos sóbe e se eleva
Sentenças de quinze arrobas, Tua ineffavel grandeza,
Palavras de legua e. meia- E por modos mil a entoa
Toda a vasta natureza-
Isto acontece ao poeta,
Orador, e outros que taes; Os meninos que de leite
Néscios o que entendem menos Molham os beiços recentes
E ’ o que celebram mais. Desatam para louvar-te
Suas linguas innocentes.
( B ocage )
Assim os impios confundes,
De temor sobresaltados:
Teus inimigos se abatem,
De teu ser maravilhados.
321
Dos P oemas de F orma V ariavEL
C onsolidação d a s L e is do V fiR S o
320
A rt 656. H oje ha ampla liberdade
Olho e vejo o sol brilhando,
Lavor de tuas mãos bellas,
na feitura da Epistola, que se pode pres
Da lua o luzente globo, tar a todos os assumptos e e um pode
E as rutilantes estrellas.
roso auxiliar da Satyra.
O que é, meu Deus, o homem,
_ Alliás assim já 0 era desde_ os tempos pas
Para delle te lembrares?!
E com dons de tanto preço sados. As satyras de Nicolau Tolent.no o Passe
Tão pequeno ser ornares ? ! e “ o B ilh ar” foram feitas em forma de Epístola
As “ Cartas Chilenas” , attribiudas a Alvarenga P
Quasi egual aos mesmos anjos xoto, pertencem também ao genero Satyr.co e sao
O fizeste, e meigamente,
Gloriosa, honrada c’roa Epistolas.
Lhe cingiste sobre a frente.
A rt. 657. O tom que convem á
De todo o extenso universo Epistola é o familiar, devendo a simpli
Soberano o declaraste;
Os bois e as tenras ovelhas cidade presidir á feitura dos versos que
Sob os seus pés collocaste. nunca devem ser rebuscados.
Quantas aves ao céo voam,
*. (S Carta a Manuel .
Quantos peixes que, a milhares,
Volvem corpos escamosos (Excerpto)
Pelos vastos fundos m ares.
Manuel, tens rasão. Venho tarde. Desculpa.
Tudo, ó Deus, tudo lhe déste 1 -Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,
Como é certo, ó meu Senhor, Eoi Coimbra. Foi esta paysagem triste, tn ,
Que transluz por toda a terra A cuja influencia a minha alma nao res.st •
De teu nome o resplendor 1 oneres noticias? Queres que os meus nervos fale •
(S oxjza C aldas).
V á! dize aos choupos do Mondego que se calem
c a p it u l o 11 I' pede ao vento que nao mve e gema tanto.
Da E p ís to la e m fim , « ’
Da Glosa
ASTÍ»
f echarpe o j m ,
»—
o a auem vos fale agora
=i-.w
Não digaes nunca ^ eu era> labo. j _„r
Neste pobre exilad , flores! Art. 669. Os rimados podem -
Me vistes namorado a come
dispostos:
A s capellas que «*^ “ ^ “ olhM ’de hera,
Mas fazem-me ** thn de am ores...
cm rimas parallelas;
A s amoras, que ^ B randão).
326 C onsolidação das L e is do V erso Dos P o em as Em V ersos E ntrelaçados 327
Pode servir de exemplo a “ Delenda Carthago ” , Art. 672. Não se deve prolongar
de Bilac.
—-N ã o confundir com a estrophe semelhante!
em demasia a surpreza para não dar a
idéa de desaggregamento.
e em rimas misturadas.
A rt. 673. A “ segurança” necessária
Ex-: * após algum periodo de “ surpreza” , pode
Era um domingo da Resurreição,
Emma; e não foi por causa de preguiça ser conseguida pela maneira estabeleci
Mui desculpável de accordar tão cedo, da no Livro V da Parte Geral.
Nem foi por falta de religião,
Que nós deixamos de assistir á missa. Art. 674. O poema em versos en
No sabbado, na vespera, em segredo, trelaçados pode ser “ isometrico” ou
Tínhamos coçnbinado firmemente “ heterometrico” .
Ir para aquelle fim á egreja; embora
Esta distante meia legua esteja Art. 675. Os versos “ isometricos”
Do feliz sitio onde morava a gente. são mais usados sem rima ou em rimas
parallelas.
( R a ym u n d o C o rrêa ).
— São exemplos, respectivamente o “ Ode a
Napoleão ” atraz citada, e a “ Morte de Tapyr, tam
Art. 670. Os versos em rimas' pa- bém transcripta nos “ Poemas de fórma variavel ” .
rallelas e os brancos se entrelaçam
mais pelo “ encadeamento” (enjambe- Art. 676. Nos “ heterometricos”
ment) ; aquelles em rimas misturadas usam-se mais as rimas misturadas.
mais pelas rimas. Art. 677. O verso heterometrico é
Art. 671. Os versos entrelaçados o chamado verso livre.
causam mais surpreza do que as estro- Art. 678. Por uma diferença de es
phes, pois não se sabe onde e a que mo colas o verso livre divide-se em duas
mento vão encadear; ao passo que cada classes distinctas: verso livre clássico e
estrophe forma um sentido já acabado. verso livre decadente.
328 C onsolidação d as L eis do V erso Dos P o em as em V ersos E ntrelaçados 329
Aquelle fez em verso branco o seu profundo livro — O iambo usado em portuguez é formado de
“ Tentações de S- Frei G il” , este o bello poema um decasyllabo seguido de um verso de seis syl-
“ No Seio do Cosmos ” . labas.
Podem servir de exemplo aquelles de Almeida
Art. 686. Prestam-se os versos Garrett, que começam:
brancos aos poemas em que uma idéa — Oh meu amparo, oh doce gloria minha,
moral ou philosophica é desenvolvida. Tu com quem me achei sempre,
Na desgraça, na magua e nos pezares
—■ Estão neste caso os dois poemas acima refe
Para me consolar;
ridos.
Que me dás voz, suspiros, desaffôgo
— A proposito do verso branco disSe o grande Quando a ventura é tanta
Castilho que elle se presta mais que os outros “ aos Que pesa nalma — e o coração é cheio
assumptos em que se expressam as paixões vehe- A estallar se não fa la !
mentes, como a tragédia, os que, como a comedia
ou simples dialogo, têm indeclinável dever de ser
naturalissimos; deverão preferir o verso solto, por A rt. 689. O verso branco é um
que a rima a cada linha nos está descobrindo ar
tificio ” . — Discordamos nisso do grande mestre.
passo dado para a liberdade, mas a falta
Para os assumptos acima referidos o alexan de rima 0 torna ás vezes nronotono, ape-
drino é o que mais se presta, pela amplitude, pelos zar dos recursos de “ encadeamento” ,
recursos rythmicos, pela vibratilidade- Deve-se levar
variedade de vogaes, cesuras múltiplas,
em conta que quando Castilho escreveu o seu “ Tra
tado de Metrificação ” ainda não tinha o alexan com que 0 poeta o pode dotar.
drino attingido, em portuguez, ao gráo de evolução
actual. T IT U L O IV
A rt. 687. Os versos brancos são Do Verso Livre. Clássico
geralmente isometricos, podendo ser he-
terometricos por excepçao. Art. 690. A superioridade do ver
so livre é incontestável.
A rt. 688. Os versos brancos hete-
rometricos são geralmente usados em Art. 691. A liberdade na colloca-
iambos ou em estrophes. ção das rimas e no prolongar a expres
332 C onsolidação das L e is do V erso Dos P oemas Em V ersos E ntrelaçados 333
são das ideas pelo “ encadeamento” , no decadente, sem entrar no estudo da con
uso de vários metros alternados, traz a cepção mesma do verso, segundo a es
este verso grande variedade e surpreza cola que o produz.
que lhe emprestam muito encanto. Art. 696. Aos poucos as conven
—■ Veja-se para exemplo: a “ Missa da Resur- ções empyricas cedem lugar ás regras
reição ” , de Ravmundo Corrêa; o poema “ Alma
em flo r” , de Alberto; grande parte da “ Morte de dictadas pela lógica.
D. João ” , de Guerra Junqueiro. Art. 697. O conservantismo a ou-
A rt. 692. O verso livre clássico já trance é ridículo.
é um passo mais para a liberdade fe Art. 698. Toda a condemnação
cunda, mas ainda o acompanham algu systematica de uma lei por pertencer a
mas regras arbitrarias. esta ou áquella escola é arbitraria.
A rt. 693. Apezar da apparente li Art. 699. A evolução da métrica
berdade o verso livre clássico é ainda o tem-se feito para a liberdade e para a
leito de Pracusto, em que o pensamento simplicidade.
por vezes deve ser cortado para caber Art. 700. Do verso Clássico para o
110 metro. Romântico já a fôrma se torna ondu-
Art. 694. Os defeitos que ainda se lante pelo encadeamento e pela harmo
notam neste verso são os proprios das nia retardada. (Arts. 35 a 4 3).
varias escolas que o têm usado. Art. 701. O verso Parnasiano ac-
ceitando e integrando as conquistas dos
T IT U L O V Românticos, mantem ainda regras illo-
Do Verso Livre Decadente gicas e arbitrarias.
—■ H aja vista entre outras exigências a con
Art. 695. Não se pode tratar das servação do hemistichio na 6.a syllaba dos alexan
leis que presidem á feitura do verso drinos quando o verso logicamente delle não precisa.
334 C onsolidação das L ê is do V erso Dos P oemas em V ersos E ntrelaçados 335
Art. 702. O verso L ivre Decadente Art. 707. Uma lei não é, não pode
é uma revolução pedindo a liberdade de ser um capricho desta ou daquella es
rythmo. cola, mas deve ter os seus fundamentos
na physiologia de cujas exigências deve
— Não quer isto dizer que se devam acceitar
as liberdades que na sua ancia de combater a escola ser a expressão, sob pena de não ser lei.
decadente procura impôr. Não. E ’ preciso attentar Art. 708. Quando obedecem ás leis
para a restricção dos arts. seguintes.
eternas e inclestructiveis que têm a sua
Art. 703. Todo o exagero é con- base na physiologia, approximam-se to
demnavel, mesmo em se tratando de li das as artes poéticas.
berdade poética. Art. 709. Dos arts. anteriores se
Art. 704. Do conservantismo das deduz que: um bom verso é bello em to
escolas combatidas e dos exageros e au- das as escolas.
dacias dos revolucionários que tudo pe Art. 710. A belleza da idéa deve
diam, uma coisa ficou: a obediência ás coincidir com a belleza do rythmo.
regras da métrica quando lógicas e a Art. 7 1 1 . Se a idéa se precipita 0
liberdade do rythmo. verso deve seguil-a; se ondula, deve on
Art. 705. A s exigências illogicas e dular.
arbitrarias de todas as escolas têm cahi- Art. 712. Physiologicamente a
do para dar logar ás verdadeiras leis Emoção tende a tornar a linguagem ry-
eternas, creadoras de belleza. thmada.
A rt. 70Ó. Nenhum conservantismo Art. 713. A Emoção deve, pois, en
arbitrário se pode sustentar por longo cher a phrase; 0 Sentimento eterno e
tempo; nenhuma innovação sem base vibrante deve objectivar-se creando 0
pode vingar. rythmo.
Dos P o em as bm V ersos E N T O fle A Ç A ^ L j£
_ . c T TuíS do V êrso
336 C onsolidação das sible. . . ” - diz o mestre parnasiano; (Sully Prud-
liomme) ; „ __
Art 7 I a O Pensamento deve fe- _ “ De la musique encorc et toujours
A lt;- / i musical formando o exclama o grande decadente (Verlamc).
cundar a phrase musicai
verso. A rt
7 1 9 - Só assim teremos o su-
Art vm O Verbo humano em ebu- p r e mencanto: a pedra preciosa da
o
Art. 722. A. Emoção dará eterna Art. 727. O verso Livre Clássico é
mente as supremas modalidades do ry- livre porque nelle ha variedade de me
thmo. tros; o verso Livre Decadente é livre
Art. 723. A forma deve seguir a porque ha nelle variedade de rythmos.
Emoção, alteando o tom no arroubo, Art. 728. Fazer o verso desigual
tornando-se febril no delirio, suavisan- systhematicamente é voltar ao leito de
do-se na caricia. Procusto dos Clássicos e dos Parnasia
Art. 724. Seguindo a Emoção dei nos.
xará 0 poeta que o sentido marque a
Art. 729. Não deve haver preoc-
phrase musical.
cupação em fazer o verso systhematica
— Da regra se conclue que no Verso Deca
dente a concordância retardada é uma excepção. mente diverso do que o precede; a pró
pria Emoção se encarregará dessa di
Art. 725. Seguindo a Emoção verá versidade.
o poeta que o seu Pensamento, creando
0 verso, dar-lhe-á a medida, a cadência, Art. 730. Se a forma se amoldar a
cada sentimento; se 0 poeta conseguir
o rvthmo.
no seu verso o “ máximo de expressão
Art. 726. Foi essa necessidade de natural possivel” (nota ao art. 718) e
não cercear o Pensamento que creou o deixar que o sentido marque essas phra-
“ encadeamento” (enjambement) ; é ella
ses musicaes, terá verso Livre Deca
por sua vez que cria o verso livre mo dente sem preoccupação de o fazer.
derno.
— E ’ que do encadeamento se fez novo verso — Aquella joia que é a — “ M arinha” — de
para não quebrar o rythmo, como se verá mais Bilac póde ser dada como um modelo dè poesia
adiante. decadente, bastando para isso dividir os versos pelo
340 CüN SOLIDAÇÃO DAS LEIS DO VERSO Dos P o em as em V ersos E ntrelaçados 341
sentido (art. 724 e 725), gryphando algumas idéas Art. 731. A liberdade dos rythmos
para as salientar. Vejamos:
se impõe para que no momento da con
“ Sobre as ondas oscilla o batei docemente. . .
cepção artistica, a “ Idea possa escolher
Sopra o vento a gemer.
Treme, enfunada, a palavra sobre que se affirme” . *
A vela. — I,e problème de la forme ne se présente pas
Na agua mansa do mar comme un problème distinct. Aucun travail de style
Passam, ne peut aboutir s’ il ne répond à un besoin de pen-
Tremulamente, sée. Dans la lente marche de la production litte-
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nella- raire, l'un et 1’autre vont cnsemble, du même pas
et se faisant oppui. — U idée naissante chcrche à
Eá desponta o luar. tâtons le viot pour s’affcrmir. Et le verbe, pour
Tu, paraitre dans toute sa gloire, attend la pensée” .
Palpitante e bella, (C h arles A lbert )-
Canta!
Chega-te a mim! A rt. 732. H a sentimentos ondu-
Dá-me essa bocca ardente ! lantes, outros ha nervosos, caprichosos
Sobre as ondas oscilla o batei docemente... estes, serenos aquelles, e outros ha gran
Sopra 0 vento a gemer.
diosos e ainda outros m agnificentes: o
Treme, enfunada,
A vela. verso deve seguir a todas as variações.
Vagas azues, Art. 733. Se a serenidade e a cal
P arae! ma dictam versos serenos, iguaes, a ne-
Curvo céo transparente; vrose, o capricho, a duvida, a incerteza,
Nuvens de prata,
a anciedade, absolutamente não os po
O uvi!
Ouça na altura a estrella, dem dictar serenos, porque ellas são on-
Ouça de baixo o oceano, dulantes, desiguaes, variaveis, e brus
Ouça o luar albente: cas e nervosas.
Ella canta!
E, embalado ao som do canto delia, Art. 734. Quem tem a intenção de
Sobre as ondas oscilla o batei docemente” . emocionar, emociona-se primeiro.
342 C onsolidação das L éis do V érso
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S il v a ( V ic to r ) , obra esparsa. obra.
S u l l y (James),- Essai sur le V e r ís s im o (José), Que é litte-
Rire. ratura e outros escriptos.
S t e c c h e t t i (L o re n z o ), L e R i V e r l a in e (Paul), Toda a obra. Pag.
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tética. Prefacio.......................................................................................... ^
T V i l l a e s p E sa (Francisco), Tor D i v i s a ........................................................................................ 13
re de M arfil. Epigraplie .................................................................................. 15
T h e o c r it o , (cit.) V ir g íl io , (cit.) Introducção...................................................................................
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L iv ro V — Do rythm o ^
Titulo I — Da ° r>gem áo . T hnJ,° ■ ' ' ' ' 106
Titulo I I _ Dü
s s i? r SoMSti” 555— »*>- — •
V I - Do papel das letras no verso
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