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Prefacio

Quem ao ensino se aventura dos garotos da primeira à última série do


Primeiro Grau, lastima o viciado comodismo em que nossa juventude se
encontra. A custo Ihe será dado encontrar alunos afeitos ou propensos, e
muitos ao contrário encontrará que nem folhear sabem um dicionário por
desconhecimento da ordem alfabética. Acostumados ao aprendizado de quadro
negro, sentem repulsa à indagação; bom livro de leitura era para eles, no curso
primário, o que trazia o desenhinho representativo da palavra, o quadrinho
elucidativo da descrição, a bolinha, o gatinho, o passarinho... Advertidos, na
quinta série da orientação nova que devem imprimir ao estudo, revoltam-se,
debatem-se.
Se o professor não souber desperta-lhes no animo o espírito de busca e
inquirição, deixará de ter alunos para ter meros espectadores de aula, simples
ouvintes, passivos, que à aula vão para efeito de presença corpórea, com que o
oficialismo se dá por contente.
Despertar ao menino, no rapazelho o gosto à pesquisa, para quê? Acaso não
tem de ir ao cinema, fazer visitas, ler revistas, palrear nas reuniões do partido,
fazer ginástica e aprender a tocar tambor? Vamos dar-lhe uma aritmética com
problemas já resolvidos, um livro de inglês que traga “fox-trots”, um de leitura
portuguesa que apresente o significado das “palavras difíceis”. Gramática?
Longe disso; algumas notinhas sobre feminino, sobre plural, sobre
conjugação, algumas regrinhas de concordância e muitas de ortografia, e está
tudo muito bem. A pátria não precisa de conhecedores do idioma, mas de
gente “esperta”, que saiba conversar e “tenha apresentação”; a pátria precisa,
esta e a verdade, de cavalos de raça, lindos, brilhantes, sedosos; por dentro
pouco importa haja miolos ou capim. E se locupletam donos de baiucas, e
armadores de barracas de ensino se tomam influentes, e surgem fundadores de
sociedades de cultura anônima, para difusão obrigatória de livros chaves de
química, de rendilhados e gramática misturados com rococós de encômios a
diretores de repartições públicas.
Quando em certos países europeus o vernáculo é ensinado oito vezes em seis
dias da semana, em nossa “grande terra”, em nossa
“querida pátria” e o idioma “ensinado” três vezes, com ampla liberdade ao
professor de transformar as aulas de gramática em arguições de literatura, em
arengas políticas, em avisos de competições de grêmios e de clubes, em
“batalhas” de verificação de asnice, com os aplausos da torcida uniformizada.
***
Ao contrário de apresentar a papinha ao bebezinho impotente de levantar o
garfo, forço-o a prepará-la ele próprio mediante perguntas; vez de explicações
esparsas, vagas, incompletas de gramática, remeto-o à gramática, para que se
inteire do assunto e o aplique ao caso em apreço; em lugar de regras flutuantes
de ortografia, procuro advertir o aluno das cacografias e das formas
parônimas.
Conquanto me tenha atido, a império dos editores, ao programa vigente,
preocupação minha não foi enquadrar este livro de leitura em partes estanques,
nitidamente separadas, com os mesmos títulos e subtítulos do programa. O
que este pede, aí se encontra, quanto ao assunto e quanto à forma, mas de
molde que se preste ao ensino e não a programas periodicamente variáveis.
Foi minha preocupação excluir autores vivos, bem como trechos de fundo
político partidário e de críticas à religião. Tive por objetivo, em suma, o
idioma, em primeiro lugar, na sua pureza gramatical, e, em segundo, o aluno,
forçando-o ao estudo, à busca, procurando mostrar-lhe que “aulas de leitura”
não constituem mero passatempo, mas ensino, pesquisa, estudo, dissecação,
três vezes mais difíceis que simples aulas de gramática.
***
Triunfo obterei com este trabalho se com ele conseguir não incorra o aluno no
desacerto comum de desprazer e malfadar nosso idioma, de preteri-lo aos de
outras terras, de desvirtuar-lhe a vitalidade. Exortação ao estudo de nossa
gramática, de nosso vocabulário e à leitura dos que bem escreveram, desejo
constitua a compilação aqui apresentada. É meu desejo, de professor e de
brasileiro, que os garotos patrícios, ao fim do curso de Primeiro Grau repitam
com Silva Ramos: “Eu me envergonharia de falar mal, como me correria de
trajar com desleixo” - “Com desleixo e com extravagância” - acrescentou
Alcântara Machado - “De algodãozinho ou de seda, conforme as posses de
cada um, seja o fato que veste as ideias. Fiquem dependentes do gosto
individual o corte e o colorido. Imperdoável é que em público se mostre
alguém com a linguagem enodoada de solecismos e cacologias, ataviadas
ridiculamente de preciosismos, ou remendada com locuções peregrinas para
disfarçar a indigência do vocabulário. Pode ser pobre o estilo. Nunca,
desmazelado ou menos decente”.
***
De antigos despretensiosos, de colegas desprendidos e de bibliotecários
solícitos que muito me auxiliaram nesta Antologia guardarei lembrança no
canhenho de meu afeto e no registro de favores recebidos.

Napoleão Mendes de Almeida


Abreviaturas
+ - exemplo v.
= - exemplos v. intr.
ac. - exceção v. pron.
adj. - exceções v. r.
adv. - francês v. tr.
ar. - futuro
cf. - grego - pessoa
dir. -imperfeito - por exemplo
ex. - indicativo; indireto
- particípio
exs. - latim ou latino - perfeito
exc. - mesmo que - plural
excs. - nota - português
fr. -observação - prefixo
fut. -observações - preposição
gr. p. -presente
imp. p. ex. - pretérito
ind. part. - que
lat. perf. - quanto
m. q. pl. - singular
n. port. - seguintes
obs. pref. - sufixo
obss. prep. - Veja (ou Vide)
- mais (indica reunião) pres. - verbo
- igual a, o mesmo que pret. - verbo intransitivo
- acusativo q. - verbo pronominal
- adjetivo q.to. - verbo relativo
- advérbio sing. - verbo transitivo
-árabe ss.
- confira suf.
- direto V.
Hino Nacional
Duque Estrada
I
Ouviram do Ipiranga1 as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante2,
E o sol3 da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse4 instante.

Se o penhor dessa igualdade


Conseguimos5 conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia6 o nosso peito a própria morte!7
1
Que é Ipiranga?
2
Qual a ordem direta dos dois primeiros versos?
3
Sol tem plural? Como se escreve?
4
Porque nesse e não neste?
5
Está no pretérito perfeito ou no presente do indicativo?
6
Qual o sujeito desse verso? Qual o complemento?
7
Qual a ordem direta dessa estrofe?
Ó8 Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido9


De amor e de esperança à terra desce10,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,


És belo, és forte, impávido colosso11,
E o teu futuro espelha12 essa grandeza!13

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,

8
Por que não pois aqui o autor oh! Em vez de Ó?
9
Qual a diferença entre vívido e vivido?
10
Como se escreve esse verbo na 1.ª p. do sing. Do pres. ind. ?
11
Como se pronuncia o plural de colosso?
12
Qual a pronúncia correta dessa forma verbal?
13
Por que grandeza se escreve com z?
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,14
Pátria amada,
Brasil!

II

Deitado eternamente em berço esplêndido15,


Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,


Teus risonhos, lindos campos têm16 mais flores;17
"Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores".

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

14
Qual o plural de gentil? Por quê? E de réptil?
15
Explêndido e espontâneo são grafias certas? Por quê?
16
Qual a diferença entre tem e têm?
17
Qual a ordem direta desses dois versos?
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,18
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado”.

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge19 à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.20

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Joaquim Osorio Duque Estrada (Pati do Alferes, Est. Do Rio, 1870-


1927) - Bacharelou-se em letras no Colégio de Pedro IL Foi secretario de
legação no Paraguai, em 1892. Exerceu o cargo de inspetor de ensino, no
Estado do Rio; lecionou no Ginásio Fluminense e na Escola do Rio de
Janeiro. Escreveu para quase todos os jornais fluminenses. Entre outras
18
Qual a ordem direta desses dois versos?
19
Escreva o ind. pres. de fugir.
20
Como interpretar esse verso?
obras, deixou: Questões de Português, Moldes elementares de Gramática
Portuguesa, A arte de fazer versos, Flora de maio, Moldes de História do
Brasil.

NOTAS E REMISSOES

O primeiro número destas remissões coincide com o das perguntas ao pé das


páginas. O segundo, com o dos parágrafos da GRAMÁTICA METÓDICA DA LÍNGUA
PORTUGUESA.

1. Riacho da cidade de S. Paulo, afluente da margem esquerda do Tamanduateí; foi nas


suas margens, nas vizinhanças da Capital, hoje populoso bairro, que, em 7 de
setembro de 1822, quando regressava de S. Paulo ao Rio de Janeiro, o príncipe
regente D. Pedro, ao receber despachos de Lisboa sobre a atitude tomada pela corte
portuguesa, soltou o brado celebre - Independência ou morte - que ficou sendo
chamado o grito do Ipiranga.
2. Ordem direta: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um
povo heroico.
3. § 219.
4. § 341, n. 2.
5. Subentende-se nessa ocasião, então; está o verbo no pret. perf. E não no presente.
6. Subentende-se hoje, agora; está o verbo no presente, contrastando com
conseguimos. O sujeito e o nosso peito; o complemento é a própria morte.
7. Ordem Direta: Se conseguimos (nessa ocasião) conquistar com braço forte o penhor
dessa igualdade, o nosso peito desafia (hoje) a própria morte em teu seio, ó
Liberdade.
8. §596, nota 2 (ao pé da página).
9. Vívido (com acento no primeiro i) = brilhante, fulgurante, muito vivo: facho vívido,
vívidos relevos, lembranças vívidas. Vivido (com o acento no segundo i) = particípio
de viver: Tenho vivido; os últimos instantes vividos.
10. § 451.
11. § 234, 1.
12. § 446, b.
13. § 84, n.
14. § 221.
15. § 112, A, obs. 2.
16. § 425, nota 1 (ao pé da pág.).
17. Ordem direta: Teus campos risonhos, lindos, têm mais flores do que a mais garrida
terra.
18. Ordem direta: Brasil, seja o Lábaro, que ostenta estrelado, símbolo de amor eterno
(eterno é adjetivo de amor e não de símbolo).
19. § 452, obs. E § 468, n. 1.
20. Interprete: Verás, ainda, que aquele que te adora não teme a própria morte.

VOCABULÁRIO

Margens = ribas, terrenos que ladeiam um


plácidas = tranquilas, serenas
brado = ato de bradar, grito
retumbante = que faz grande ruido
fulgido = que tem brilho
penhor = garantia
intense = ativo, enérgico
límpido = transparente, limpo
impávido = que não tem pavor, destemido
fulgurar = brilhar
florão = ornamento, joia
Novo = as Américas
Garrido = alegre
Bosque = grande arvoredo
Scio = aconchego, amago
Símbolo = imagem que se emprega como sinal de alguma
coisa
Lábaro = bandeira
Ostentar = exibir suntuosamente
Flamula = bandeira, geralmente de ponta farpada
Clava = maçã, pau pesado, mais grosso numa
extremidade que na outra

IMPORTANTE - Os sinônimos devem ser da mesma categoria gramatical (§ 129) da


palavra pedida, e quando flexível a palavra, devem ser dados com a mesma flexão.
No caso de um substantivo sem sinônimo, diz-se: coisa que..., o que..., instrumento
que..., objeto que..., etc.; ex.:

pobretão = o que é muito pobre.


Tratando-se de adjetivos, diz-se: que...:

Preexistente = que existe antes.

Outras formalidades perceberão os alunos atentos e bem orientados pelo professor,


que tiverem a facilidade de possuir um dicionário e, principalmente, o feliz hábito de
manuseá-lo com frequência.

EXERCÍCIOS
1. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras:
Penhor Florão Lábaro
Impávido Novo Mundo Flâmula
Símbolo Clava
2. Escreva o plural de paul, paiol e cônsul (§ 219).
3. Qual o plural de real – Saiba distinguir (ibidem).
4. Conjugue o verbo alvejar no indicativo presente (§ 446, b).

SÓ FARÁ CORRETAMENTE OS EXERCÍCIOS O ALUNO QUE


TIVER ESTUDADO NA GRAMÁTICA OS DIVERSOS PONTOS A
QUE FOI ELE REMETIDO PARA RESPONDER AS PERGUNTAS
FEITAS NO TRECHO.
Plebiscito
Arthur Azevedo
A cena passa-se em 1890.
A família1 está toda reunida na sala de jantar. O senhor Rodrigues palita os
dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Dona Bernardina, sua esposa,
está muito entretida2 a limpar a gaiola de uma canário belga. Os pequenos são
dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele,
encostado à mesa, os pés cruzados, lê 3 com muita atenção uma das nossas
folhas diárias.
De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
— Papai, que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha4 os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequeno insiste:
— Papai?
Pausa.
— Papai?
Dona Bernardina intervém:5
— Ó seu6 Rodrigues, Manduca está lhe7 chamando. Não durma depois do
jantar que lhe faz mal.8
O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.
— Que é? Que desejam vocês?

11
Família é palavra proparoxítona. Que significa isso?
22
Entretido é particípio de que verbo? No perfeito é entretive ou entreti? Por
quê?
33
Como se escreve o verbo ler na 3.ª p. do pl. do ind. presente?
44
Qual a verdadeira pronúncia desta forma verbal?
55
Escreva o verbo intervir no pretérito perfeito.
66
Por que está grifada essa palavra?
77
Qual o motivo do grifo deste lhe?
88
Qual a diferença entre mal e mau?
— Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
— Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é
plebiscito!
— Se9 soubesse não perguntava.
O senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito
ocupada com a gaiola:
— Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
— Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
— Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
10
10— Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que é plebiscito.
— Ninguém, alto lá! Eu creio que tenho dado probas de não ser ignorante!
— A sua cara não me engana. Você o que é, é muito prosa Vamos: se sabe,
diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!...
— A senhora o que quer é enfezar-me!
— Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe?
Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já o outro dia foi a mesma
coisa1111, quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você, falou, e o
menino ficou sem saber!
— Proletário... —1212 acudiu o senhor Rodrigues — é cidadão que vive do
seu trabalho mal remunerado...
— Sim, agora sabe, porque foi ao dicionário. Mas dou-se um doce se me
disser1313 o que é plebiscito, sem se arredar desta cadeira.
— Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas
crianças!

99
Que outras palavras seguem a grafia de se?
1010
Que significa este travessão no início do período?
1111
Cousa ou coisa?
1212
Que significam, agora estes dois travessões?
1313
Qual a diferença entre disser e dizer?
— Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: Não
sei, Manduca, não sei o que é plebiscito; vai1414 buscar o dicionário, meu
filho.
O senhor Rodrigues ergueu-se de um ímpeto e brada:
— Mas se eu sei...
— Pois, se sabe diga!
— Não digo para não me humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço
a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o
diabo! – E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo 1515, nervoso, deixa a sala de
jantar e vai1616 para o seu quarto, batendo violentamente a porta. No quarto
havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor
de laranjeira e um dicionário...
Arthur Nabantino Gonçalves Belo de Azevedo (S. Luís do
Maranhão, 1955 – Rio de Janeiro, 1908). Jornalista, contista,
dramaturgo e crítico. Introduziu no Brasil a revista, novo gênero
de teatro. Além de muitas operetas e traduções de obras de teatro
estrangeiras, escreveu comédias e dramas. O badejo, Amor por
anexins, Casa de Orates, A pele do lobo, O Dote etc., tendo ainda
deixado alguns livros de contos e outros de versos.

1414
Em que tempo e em que pessoa está este verbo?
1515
Em que grau está este adjetivo?
1616
é o mesmo tempo de pergunta 14?
NOTAS E REMISSÕES

1. § 101, 3.
2. § 431, obs.
3. V. obs. 2, do verbo crer, § 463.
4. § 446, b.
5. V. obs. 2 v. vir, § 464.
6. Por não ser palavra correta; é brasileirísmo que só se permite em linguagem
familiar.
7. O correto é o, porque o verbo chamar é transitivo. Dona Bernardina,
evidentemente, é fraquinha em português.
8. § 527, n. 7 (ao pé da página).
9. Senão, sequer, quase todos com e.
10. § 974.
11. No Brasil, a forma preferida é com i: coisa ruim. Que coisa! Coisada,
coisarada.
12. § 974, obs.
13. V. a 2.ª obs. do verbo dizer, no § 463.
14. § 413, 3.
15. § 269.
16. § 461, 1 (ir).
hgug

VOCABULÁRIO

Plebiscito = voto do povo sobre uma


proposta que lhe é apresentada
Cena = fato, acontecimento, espetáculo
Repimpado = refestelado
Folhas diárias = jornais
Ignorante = que não tem instrução
Prosa = conversador
Enfezar = tornar bravo
Proletário = operário
Arredar-se = afastar-se
Ridículo = que não desperta o riso ou escárnio
Não dar o braço a torcer = não ceder
Força moral = força de ânimo, energia
Exasperado = irritado, enfurecido
EXERCÍCIOS
1. Reproduza, oral e livremente o trecho lido.
2. Coloque acento nas seguintes palavras: familia, remedio,
dicionario, impeto;
3. Cite cinco palavras proparoxítonas
4. Conjugue o verbo fechar no ind. pres. E o verbo desfechar no
presente do subjuntivo.
5. Construa uma oração com dizer, outra com disser.
6. Qual o plural de cidadão? (§ 216, 1).
7. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras:

Plebiscito Exasperar-se
Proletário Arredar-se
Hino à1 bandeira nacional
Olavo Bilac

Salve, lindo pendão da esperança!2

Salve, símbolo augusto da3 paz!

Tua nobre presença4 à lembrança

A grandeza da Pátria nos traz5.

Recebe6 o afeto que se encerra

Em7 nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

11
a) Como se chama esse sinal sobre o a?
b) Justifique a existência dessa crase, aplicando a primeira regra prática.
22
Esperança é substantivo concreto ou abstrato?
33
Da, que palavra é essa?
44
Antes de que vigais jamais se emprega o cedilhado?
55
a) Qual o sujeito de traz?
b) Ponha em ordem direta esses dois versos.
66
Recebe está no imperativo ou no indicativo presente? Porquê? Como foi
formado?
77
Em, que palavra é essa?
Em teu seio formoso8 retratas

Este céu de puríssimo azul,

A verdura sem par destas matas,

O esplendor do Cruzeiro do Sul...

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Contemplando o teu vulto sagrado,

Compreendemos o nosso dever;

E o Brasil por seus filhos amado,

Poderoso e feliz há de ser!

Recebe o afeto que se encerra


88
O o da sílaba mo da palavra formoso tem som fechado; no plural como se
pronuncia? Por quê?
Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Sobre a imensa nação9 brasileira,

Nos1010 momentos de festa ou de dor,

Paira sempre, sagrada bandeira,

Pavilhão da justiça e do amor!

Recebe o afeto que se encerra

Em nosso peito juvenil,

Querido símbolo da terra,

Da amada terra do Brasil!

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 1865-1918)


— Dos mais notáveis poetas brasileiros, dedicou Bilac toda a sua
existência às letras, chegando para tanto a abandonar o estudo de
medicina, no Rio, e, depois, o de direito, em São Paulo. Além de grande

99
Qual o plural de nação? E de cidadão?
1010
Nos, que palavra é essa?
poeta, foi cuidadoso prosador e orador notável. Escreveu: Poesias,
Crônicas e Novelas, Crítica e Fantasia, Sagres, Conferências Literárias,
Ironia e Piedade, Através do Brasil, Pátria Brasileira, Tratado de
Versificação etc.

NOTAS E REMISSÕES
1.
a) § 116.
b) § 117
2. § 172
3. § 114, A
4. § 64

5.
a)Tua nobre Presença
b) Tua nobre presença traz-nos a grandeza da Pátria à lembrança.
6. § 413, 3.
7. § 545.
8. § 257.
9. § 216, 1.
10. § 114, A, obs.

VOCABULÁRIO
Pendão Trazer à lembrança
Augusto Afeto
Nobre Juvenil
= bandeira = trazer à memória
= respeitável = estima
= ilustre, notável = jovem, moço
Retratar = sem igual
Sem Par = brilho intenso
Esplendor = imagem
Vulto = santo, a que se deve maior
Sagrado respeito
Compreender = entender
= deixar transparecer
Imenso = que se não pode medir,
Pairar enorme
Pavilhão = permanecer
= bandeira

EXERCÍCIOS
1. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras:
Pendão Juvenil Imenso
Afeto Retratar Pairar
Nobre (adj.) Sem par pavilhão

2. Indique todas as palavras oxítonas do hino à bandeira (§ 101,1).


Amor filial dos leões1
Fr. Luís De Granada (Espanha, 1504-1588)

O leão é o mais
fort
e
2 dos animais e não teme o encontro de ninguém. Sai este de noite com os seus cachorros, como diz o salmo, bramindo, para roubar e
pedir a Deus que
2 dos animais e não teme o encontro de ninguém. Sai este de noite
com os seus cachorros, como diz o salmo, bramindo, para roubar e pedir a
Deus que3 lhe dê de comer. E conforme a esta generosidade, tem outra prioridade, e é que, como grande 3 lhe dê de
comer. E conforme a esta generosidade, tem outra prioridade, e é que, como
grande4 senhor, não come da caça que4 senhor, não come da caça que 5 lhe sobejou5 lhe
sobejou6 no dia antecedente. Dele descrever Eliano, que depois que pela muita idade se acha fraco e pesado, e por isso, já inábil 6
no dia antecedente. Dele descrever Eliano, que depois que pela muita idade se
acha fraco e pesado, e por isso, já
7 para caçar, sai fora com os seus cachorros; e esperando-os em certo posto, aí lhe trazem ao velho pai a caça que
inábil 7 para
caçar, sai fora com os seus cachorros; e esperando-os em certo posto, aí lhe
trazem ao velho pai a caça que 8 acharam, e, quando vêm,9 os abraça e lhes9 os abraça
e lhes10 lambe a cara em sinal de agradecimento e amor; e depois deste amoroso 10 lambe a cara em sinal de
agradecimento e amor; e depois deste amoroso11 recebimento, assentam-se todos a comer do que11
11
Por que o plural de leão é leões e não leãos nem leães?
2 dos animais e não teme o encontro de ninguém. Sai este de noite com os seus cachorros, como diz o salmo, bramindo, para roubar e pedir

a Deus que2
Em que grau está o adjetivo forte? Relativo ou absoluto?
3 lhe dê de comer. E conforme a esta generosidade, tem outra prioridade, e é que, como grande3
Seria certo dizer “e pedir
a Deus para que lhe dê de comer”?
4 senhor, não come da caça que4
Dê o comparativo de grande. Quando o superlativo?
5 lhe sobejou5
Este que é pronome relativo, pergunto: É sujeito ou é objeto de
sobejou?
6 no dia antecedente. Dele descrever Eliano, que depois que pela muita idade se acha fraco e pesado, e por isso, já inábil6
Por que se
deve conjugar sobejo, sobejas, com e fechado, e não sobejo, sobejas, sobeja, com
e aberto?
7 para caçar, sai fora com os seus cachorros; e esperando-os em certo posto, aí lhe trazem ao velho pai a caça que7
Inábil é
palavra simples ou composta?
88
Este que é pronome relativo, não é verdade? Por quê? É sujeito ou objeto de
acharam? Qual, então, o sujeito de acharam?
9 os abraça e lhes9
Qual a diferença entre vem, vêm, vêem?
10 lambe a cara em sinal de agradecimento e amor; e depois deste amoroso10
Este lhes indica posse? Por quê?
11 recebimento, assentam-se todos a comer do que11
Diga o feminino e o plural masculino de amoroso.
recebimento, assentam-se todos a comer do
qu
e
12 apanharam. Pois que mais fizeram, se foram dotados de entendimento, como o são os homens? E ainda nesta piedade nos excedem,
pois vemos não poucos filhos grandemente escassos e inumanos para com seus velhos e pobres pais: coisa que não tem lugar
12
apanharam. Pois que mais fizeram, se foram dotados de entendimento, como o
são os homens? E ainda nesta piedade nos excedem, pois vemos não poucos
filhos grandemente escassos e inumanos para com seus velhos e pobres pais:
coisa que não tem lugar13 nem ainda nas feras.13 nem ainda nas feras.

NOTAS E REMISSÕES

1. Porque o acusativo plural latino dessa palavra é leonês -- § 216, 3, obs. 1.


2. § 275
3. § 581, n. 1 9ao pé da pág. Que trata das conjunções integrantes).
4. § 266 – § 274.
5. § 377.
6. § 446, b.
7. É composta de in, que significa não, e hábil (A ortografia oficial o h medial
das palavras compostas, quando nada representa para a pronúncia: inumano
e não inhumano).
8. § 377.
9. Vem: 3.ª p. do sing. do ind. pres. De vir.
Vêm: 3.ª p. do pl. do ind. pres. De vir.
Vêem: 3.ª p. do pl. do ind. pres. de ver.
10. § 304, c.
11. § 257.
12. § 377.
13. Não ter cabida, não ser concebível, não existir – §871 (quase no fim dos
galicismos fraseológicos).

12 apanharam. Pois que mais fizeram, se foram dotados de entendimento, como o são os homens? E ainda nesta piedade nos excedem, pois

vemos não poucos filhos grandemente escassos e inumanos para com seus velhos e pobres pais: coisa que não tem lugar12
Este que
é sujeito de apanharam?
13 nem ainda nas feras.13
Que significa a expressão não ter lugar – É certo dizer “ter lugar”
em vez de realizar-se, efetuar-se?
VOCABULÁRIO
Cachorros congêneres
= composição poética sagrada
salmo = gritar, berrar muito
bramir = reis dos animais
grande senhor = sobrar
sobejar = véspera
dia antecedente = que não tem aptidão ou
inábil competência
posto = lugar
recebimento = ato de receber
apanhar = caçar
ser dotado de = possuir
exercer = ultrapassar
escasso = avaro, sovina
inumano = que não é humano, que é
ter lugar cruel
= filhos recém-nascidos do lobo, = realizar-se
do leão, ou de animais

EXERCÍCIOS
1. Que pretende o autor ensinar com esse trecho? Reproduza-o
livremente.
2. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras ou
expressões:
Salmo Ser dotado Escasso
Sobejar Exceder Ter lugar
3. Corrija a grafia das seguintes palavras:
generozo sae acentam-se
edade vae exedem
inhabil pae logar
A primeira escola
Humberto de Campos

A primeira escola que1 de algum modo me atemorizou2 neste mundo


antes dos sete anos, não foi, assim, nem a Morte, com seu mistério, nem
minha Mãe, com seu chicote, nem o Anticristo, com o seu uivo apavorante:
foi um homem terrível e estranho, cuja 3 figura passeia,4 ainda hoje,
sinistramente, nos sombrios subterrâneos da minha memória.
Próximo à nossa casa havia uma escola primária, cujo 5 professor tinha sido
muito amigo de meu pai. Chamava-se Agostinho Simões. Era um homem alto,
forte, moreno, de grandes e trágicos bigodes negros. Contemplando a
gravidade do aspecto, usava, por sofrimento da vista, óculos pretos. Falecido
meu pai, e continuando a progredir no meu curso livre de vadiação, resolveu
minha mãe prender-me na gaiola do professor Agostinho, para beliscar a
alpista graúda do alfabeto. E, um dia, tendo eu seis anos e meses, fui
conduzido à escola como um cabrito que se leva ao matadouro.6
A impressão que7 tive dessa primeira casa de ensino em que entrei, foi,
positivamente, a mais ingrata revelação da minha infância. Era uma sala
escura, pavimentada de barro batido. Colocados uns atrás dos outros, e todos
na mesma direção, os bancos estreitos, sem encosto nem apoio para os pés.

11
Este que está em lugar da palavra coisa (A primeira coisa, a qual... me
atemorizou); é, pois, pronome relativo, não é verdade? Como pronome relativo,
pertence ao verbo que vem depois, atemorizou; pergunto: É sujeito ou
complemento de atemorizou?
22
Por que se escreve atemorizar com z?
33
Uma das condições para o correto emprego do cujo é poder ser substituído por
do qual (ou da qual, dos quais, das quais, sempre com a preposição de): o aluno
cujos livros... (= os livros do qual aluno, os livros dele, isto é, do aluno). Verifique,
pois, se este cujo obedece a essa condição.
44
O verbo passear não tem i no infinito. Como explicar o i nesta forma verbal do
texto?
55
Qual o antecedente e qual o consequente deste cujo?
66
Por que não seria certo dizer “que se leva no matadouro”?
77
Este que é pronome relativo? Por quê? É sujeito ou complemento de tive?
Neles,8 os alunos, gente humilde amedrontada.9 E, diante destes, em uma
pequena mesa colocada sobre um estrado, o Sr. Agostinho Simões.
Dominando a mesa do Sr. Agostinho a palmatória, a indispensável “Santa
Luzia”, terror das mãos infantis.
Entregue ao professor, este me designou uma ponta de banco. Sentei-me.
A pessoa que1010 me conduzira regressou, deixando-me abandonado nas
mãos do carrasco. E este, como se estivesse esquecido de mim, iniciou a aula.
De minuto a minuto um grito estrondava. Urro de onça em curral de bezerros.
A bigodeira do professor Agostinho, os seus óculos pretos, a sua cara fechada,
as rugas da sua testa, a aqueles roncos que pareciam de trovão entre
montanhas, acompanhados, não raro, pelo estalar da palmatória nas mãos
sujas daqueles pobres filhos de pescadores, acabaram por aterrorizar-me.
Duas horas depois de ter chegado, eu não podia mais. De vez em quando
olhava para a porta de saída, num desejo angustioso de liberdade. Em um
ramo de ateira, que se via da minha ponta de banco, dois passarinhos
brincavam, perseguindo-se. Até que, em determinado momento, marquei o
rumo, e abalei na carreira, porta afora, como foguete orientado em sentido
horizontal. Vinha de tal modo que entrei em casa pela porta da rua,
atravessei três ou quatro peças, passei pela cozinha e fui parar, por não poder
ir mais longe, no fundo do segundo quintal.
Ao fim de alguns minutos, aparecia, porém, a pequena distância, o vulto
de minha mãe, com um pedaço de corda na mão.
˗˗ Já! Volte para a escola! Vai ou apanha!
Preferi apanhar; não fui. À tarde, o Sr. Agostinho Simões surgia em casa,
rindo a vontade do susto que1111 me pregara, por encomenda de minha mãe.
Abraçou-me; fez-me agrados ligeiros, disse-me palavras alegres e amigas.
Mas a figura que1212 eu guardei na lembrança, foi a do homem de fisionomia
trágica e de voz tonitruante, que1313 parecia desafiar o mundo, com os seus
óculos, com os seus bigodes e com a sua palmatória.
Humberto de Campos Veras (Muritiba, Maranhão, 1886-1934) - Pobre, foi

88
Que é neles?
99
Esta oração, a anterior e as duas seguintes não tem verbo. Por quê?
1010
É pronome relativo? Por quê? É sujeito? Por quê?
1111
Qual o sujeito de pregara? Esse que, portanto, pode ser sujeito? Que é então?
1212
Qual o sujeito de guardei? O que exerce função de...
1313
É pronome relativo esse que? Por quê? É sujeito?
Humberto de Campos caixeiro e, depois, tipógrafo. Começando a escrever
na imprensa do norte do país, veio logo depois para o Rio de Janeiro, onde
se tornou um dos escritores mais lidos; seus artigos, quase diários em
jornais, tinham clareza, graça e originalidade. Escreveu: Memórias, À
sombra das tamareiras, Lagartas e libélulas, Crítica etc.

NOTAS E REMISSÕES

1. § 376 e 377.
2. § 448.
3. § 380 e 381.
4. § 460.
5. § 380.
6. § 545, n. 4, a.
7. § 376 e 377.
8. Contração da preposição em com o pronome eles.
9. Porque facilmente nelas se subentende um verbo de ligação (§ 302): Neles
ficavam os alunos... – Eram colocados os bancos, os bancos ficavam
colocados... V. § 782, b.
10. § 376 e 377.
11. § 376 e 377.
12. § 376 e 377.
13. § 376 e 377.
VOCABULÁRIO
atemorizar = grito prolongado e lamentoso
uivo = que apavora
apavorante = funestamente, ameaçadoramente
sinistramente = escuro
sombrio = severo, sinistro
trágico = seriedade, sisudez
gravidade = aparência
aspeto = alpiste, grão, letra
alpista = manifestação, declaração
revelação = instrumento de madeira com
palmatória que se bate nas mãos, por
castigo
designar = indicar, apontar
regressar = voltar
estrondar = fazer grande barulho
curral = lugar onde se junta e recolhe o gado
bezerro = terneiro, cria da vaca até um ano de
angustioso idade
= que tem angústia, aflição
= causa temor

EXERCÍCIOS
1. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras ou
expressões:
atemorizar alpista regresso
apavorante pavimentar urro
sinistramente apoio mar afora
sombrio designar trágico
aspeto
2. Corrija a grafia das seguintes palavras:
cousa atraz horizonte
atemorizar umilde cosinha
pae regressar lijeiro
matadoiro

3. Acentue as seguintes palavras:


Misterio Graudo Palmatoria
Terrivel Infancia Distancia
Tragico
4. Escrever o pres. do subj. do verbo passear e do v. recear (§ 460).
Despedida
Silva Ramos (Recife, 1853-1930)

Tenho-a1 presente, como agora, aquela


Dura noite da triste despedida.
A aragem2 levemente arrefecida
Da barca enfuna a desfraldada vela.3

Distante, como em fundo de aquarela,


Some-se4 a mansa vila adormecida;
E a branda luz dos astros repetida
No rio as águas límpidas estrela.5

Cena viva que a mente me descreve:


Dos amigos, em grupos pelos cais.6
Vozes perpassam num sussurro leve.

Trocam-se as doces expressões finais;


E, enquanto os lábios dizem “até breve”,

11
Posponha o a a todas as formas do ind. pres. do v. ter.
22
Por que aragem é palavra feminina?
33
Ponha na ordem direta os dois últimos versos da 1.ª estrofe.
44
O verbo sumir é regular ou irregular? Por quê? Conjugue-o no ind. pres.
55
É verbo? Como se pronuncia? Por quê?
66
Qual o plural de cais? Cite outras palavras nas mesmas condições
Os corações murmuram “nunca mais”.
NOTAS E REMISSÕES

1. § 825.
2. § 186, 4 e 185, 3.
3. A aragem levemente arrefecida enfuna a vela desfraldada da barca.
4. § 468.
5. § 446.
6. § 223.

VOCABULÁRIO

aragem = vento brando, viração


arrefecer = tornar-se frio
enfunar = encher
desfraldar = soltar ao vento
vela = pano que se prende ao
mastro da embarcação
fundo de aquarela = quadro
cena = espetáculo
cais = porto
perpassar = passar junto ou ao longo de
sussurro = som confuso, murmúrio

EXERCÍCIOS
1. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras
ou expressões:
arrefecer vela desfraldada cais
enfunar fundo (de quadro) murmurar

2. Dar o antônimo de:


noite triste distante
límpido doce murmurar

3. Dar o aumentativo de barca e de voz (§ 238, 1).

4. Dar o superlativo sintético de doce (§ 274).


O poder da oração
Júlio Ribeiro

Só1 desconhece o poder da oração quem desconhece 2 grandes


amarguras.3
A oração é4 a alavanca5 do espírito.
Quando o fardo do viver pesa como chumbo sobre a alma quase asfixiada,
quando o círculo de ferro dos dissabores estreita-se, envolvendo-a, tocando-
a, parecendo prestes a aniquilá-la, o homem o pensamento atribulado
rompem-lhe6 dos lábios murmura7s e inconexas...
Em um bálsamo suavíssimo de esperanças percorre-lhe8 as veias
ressequidas; na escuridão que rodeia esboça-se um albor tênue, difunde-se,
tinge de rosicler o horizonte alargado; sopram auras de vida: é um alvorecer..
E o homem levanta-se revigorado, atirar-se à luta, derruba obstáculos,
vence, triunfa.

Júlio César Ribeiro (Sabará, Minas Gerais, 1845-1890) – Estudou na


Escola Militar, vindo, depois, fixar residência em São Paulo, onde
colaborou em vários jornais. Além de alguns romances escreveu uma
gramática da língua portuguesa.

11
Este só é adjetivo ou advérbio?
22
Desconhecer é verbo transitivo. Que é verbo transitivo?
33
Grandes amarguras é objeto direto de desconhecer. Que é objeto direto?
44
Que é verbo de ligação?
55
Alavanca é complemento de é. Como se chama esse complemento?
66
Qual o sentido desse lhe?
77
Murmuras e inconexas são adjetivos que se referem ao sujeito (frases) de
rompem. Como se chama tal complemento?
88
Qual a particularidade que se nota na conjugação do verbo percorrer?
NOTAS E REMISSÕES

1. § 527, n. 10.
2. § 301, a.
3. § 301, a.
4. § 302.
5. § 302.
6. § 334, b.
7. Predicativo do sujeito (§ 667 e 669).
8. § 450 (Exige a leitura do § 449).

VOCABULÁRIO
Dissabor = desgosto, mágoa
Prostrar-se = humilhar-se
Atribulado = inquieto, angustiado
Múrmuro = que produz murmúrio
Inconexão = que não tem ligação
Bálsamo = conforto
Ressequido = muito seco
Esboçar-se = contornar-se
Albor = primeira luz da manhã
Tênue = frágil
Rosicler = cor de rosa
Auras = vento brando e suave

EXERCÍCIOS
1. Construa uma oração com cada uma das seguintes palavras
ou expressões:
esboçar-se auras
difundir-se derribar
fardo estar prestes a
aniquilar traduzir o pensamento

2. Das palavras abaixo, quais são oxítonas, quais paroxítonas e


quais proparoxítonas?
oração lábio alavanca
espírito múrmuro rosicler
círculo inconexo amargura
sobre tênue ressequido

3. Escreva o verbo poder no pretérito perfeito do indicativo


(§ 463).
Regresso ao lar
Guerra Junqueiro

Ai! há1 quantos anos eu parti chorando


Deste meu saudoso,2 carinhoso lar!
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!
Minha velha ama que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei3 a volta ao mundo, dei a volta à4 vida...


Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! A ingênua5 alma tão desiludida!...6
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago d’amargura o coração desfeito...


11
a) O verbo haver é aí substituível por fazer? Por quê?
b) Como se escreve: “Daqui a dois anos” ou “Daqui há dois anos”? Por quê?
22
a) Qual o feminino de saudoso? Como se pronuncia?
b) Qual o superlativo sintético feminino? Que há de notável?
c) Que exprime o sufixo oso? É erro grafá-lo com z?
33
A primeira p. do pl. do pret. Perfeito é demos. Pergunto: Como se pronuncia o
e? E na primeira p. do pl. do pres. do subjuntivo como se pronuncia?
44
Justifique a crase.
55
a) Em que sílaba cai o acento dessa palavra? Que nome recebem as palavras
assim acentuadas?
b) Existe nesta poesia outra palavra nas mesmas condições. Qual é?
66
O adjetivo desiludida é formado de des+iludida; que nome tem o primeiro
elemento?
Vê7 que fundas magoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra88 de meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste9 o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...

Pos-me1010 Deus outrora no frouxel do ninho


Pedrarias d’astro, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar...

Como antigamente, no regaço amado,


(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai! O teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

77
a) Em que modo, tempo, número e pessoa está essa forma verbal?
b) Conjugue esse verbo no futuro do subjuntivo.
88
a) Em que tempo e modo está saíra? Qual a outra forma?
b) Conjugue o ind. pres. e o subj. presente.
99
Deste é a 2.ª p. do sing. Do pret. Perfeito de dar; como é o futuro do
subjuntivo?
1010
a) Conjugue o pret. Perf. De pôr.
b) Quais os tempos derivados da 3.ª p. do plural?
Canta-me cantigas, manso,1111 muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh’alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, ma1212 vier buscar!...

Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Portugal, 1850-1923) – Bacharelou-se


em direito pela faculdade de Coimbra. Exerceu cargos públicos e muito
escreveu. Já no fim da vida, penitenciou-se dos ataques que dirigira à Igreja
e a certos homens públicos.

NOTAS E REMISSÕES

1. a) § 907, n. 1.
b) § 907, n. 2.
2. a) § 257.
b) § 273, 4.ª, n. 1.
c) Exprime abundância; saudoso = cheio de saudade – Sim. A grafia
correta desse sufixo é com s.
3. § 4, n. 1.
4. § 117.
5. a) § 101, 3.º.
b) Sim – mágoas.
6. § 628.
7. a) § 413, 3.
b) § 459, 4, b.
8. a) § 469 – A composta: tinha (ou havia) saído...
b) § 469.
9. § 462, 4.
10. a) § 433.
b) § 459, 4, a, b, c.
1111
A que classe de palavra pertence este manso?
1212
a) Que palavra é essa?
B) Qual sua função sintática?
11. § 537, b, n. 2.
12. a) § 322.
b) § 321.

VOCABULÁRIO
Fitando = fixando a vista, olhando
Decepções = enganos
Pesar = desgosto, tristeza
Ingênua = inocente
Dorida = magoada
Adormentar = causar sono a
Desfeito = partido
Embaciado = sem brilho
Embalar = acalentar para adormecer
Outrora = em tempo já passado
Frouxel = penugem
Regaço = dobra formada, por vestuário comprido,
entre a cintura e os joelhos da pessoa
sentada

Procure, ainda, em seu dicionário, a diferença entre ilusão e desilusão.

EXERCÍCIOS
1. Cite três substantivos e três adjetivos que tragam o prefixo
des (§ 628).

2. De os antônimos de:
parti velha vida
chorando lembrar mágoas
estreito amado morto

3. Corrija a grafia de:


saudozo poz m’a
carinhozo pobresinho puzeram
pezar descanço puzesse
máguas

4. Classifique os seguintes advérbios que se encontram


nesta poesia:
já (= agora) – § 526, n. 5 (ao pé da página).
Ssó (= somente) – § 527, n. 10 (ao pé da página).
tão – § 530, n. 9 – (ao pé da página).
que (que fundas mágoas) – § 530, n. 6 (ao pé da página).
nunca – § 526.
outrora – § 526.
antigamente – § 526.
como – § 537, n. 9 (ao pé da página).
manso – § 537, b, n. 2.
muito – § 530, n. 3 (ao pé da página).
quando – § 526, n.º 6 (ao pé da página).
em breve – § 534.

5. Procure e escreva os substantivos correspondentes a estes


adjetivos:
saudoso desiludida amado
carinhoso dorida mudado
velha estreito manso
ingênua pobre triste
(Exemplos: saudoso, saudade, carinhoso, carinho; velha, velhice).
O Brasil
Padre Anchieta*

Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosques, e não se vê em todo o


ano árvore nem1 erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável
altura e grossura e variedades de espécies. Muitos dão bons frutos, e o que
lhe dá graça é que há neles2 muitos passarinhos de grande formosura e
variedade, e em seu canto não dão vantagens aos rouxinóis, pintassilgos,
colorinos e canários de Portugal, e fazem uma harmonia quando um homem
vai por este caminho que é para louvar ao Senhor. Os bosques são tão
frescos, que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.
Há arvores de cedro, áquila, sândalo e outros pares de bom olor e várias
cores, e tanta diferença e folhas e flores, que para a vista é grande recreação, 3
e pela muita variedade ninguém se cansa de os4 ver.

Padre José de Anchieta (Tenerife, Ilha das Canárias, 1534 – Iriritiba,


Espírito Santo, 1597). Com 19 anos veio ao Brasil, com o governador-geral
Duarte da Costa. Esteve a princípio na Bahia; vindo, depois, a S. Vicente,
naufragou perto dos Abrolhos, salvando-se com dificuldade. Participou da
fundação do Rio de Janeiro e de Piratininga, hoje S. Paulo, onde dirigiu o
Colégio dos Paulistas. Os alunos deste colégio, filhos de selvagens, tinham
o ensino amenizado por Anchieta, que lhes compunha, quase sempre em
tupi, dramas, comédias, diálogos, cantos e hinos, que os próprios alunos
cantavam ou representavam no teatrinho do colégio. No trabalho de
participação dos tamoios, ficou três meses como refém dos selvagens em
Iperoígue (Ubatuba), onde compôs o Poema da Virgem, de quase seis mil

**
Pronuncie o ch com o som alfabético de x.
11
Seria correto dizer “e nem” em lugar de somente nem? Por que?
22
Por que não escreveu Anchieta “...é que há nos mesmos muitos passarinhos”?
33
Qual a diferença entre a recreação e a recriação?
44
Esse “os” é artigo ou pronome pessoal? Que erro teria cometido Anchieta se
tivesse escrito “...de lhes ver”? Por quê?
versos, escritos em latim na areia da praia. Além do Poema da Virgem,
deixou muitas cartas, fragmentos históricos, poesias e a “Arte de gramática
da língua mais usada na costa do Brasil”, e a primeira gramática tupi.

NOTAS E REMISSÕES

1. § 571, n. 2 9ao pé da página).


2. § 342, 4.
3. § 460, 2.
4. É pronome pessoal, objeto direto de ver - §320

EXERCÍCIOS
1. Que sabe a respeito do Padre José de Anchieta?
2. Corrija a grafia das seguintes palavras:
desharmonia caçando
vae formozura

3. Dê o superlativo sintético de:


admirável (§ 273, 1, exceção a)
Bom – § 274.
Grande – § 274.
Pátria
Olavo Bilac

Pátria,1 latejo2 em ti, no teu lenho, por onde


Círculo!3 e sou perfume, e sombra, e sol, e4 orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,
E tudo do teu cerne ao céu, de galho em galho!

Dos teus líquens,5 dos teus cipós, da tua fronde,


Do ninho que gorjeia6 em teu doce agasalho,
Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
De ti – rebento7 em luz e em cânticos me espalho!
Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes,
No alto, como uma flor, em ti pompeio e exulto!8
E eu, morto – sendo tu cheia de cicatrizes,

11
Que função exerce a palavra Pátria?
22
Por que se pronuncia latejo e não latéjo? Leia esta oração: “Este dentifrício
alveja os dentes”.
33
Por que não se lê circúlo e sim círculo?
44
Que explicação dar à repetição da conjunção nesse verso?
55
Qual o plural de líquen?
66
Que entende, no estudo dos verbos em ear por i eufônico?
77
Há diferença de sentido entre rebento e arrebento? Entre lagoa e alagoa
passa-se o mesmo fenômeno? Como se chama?
88
Quantos sons pode ter a letra x? Quais? Exemplifique, não se esquecendo da
palavra que estamos vendo.
Tu golpeada9 e insultada – eu temerei sepulto:1010
E os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
Se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!

NOTAS E REMISSÕES

1. Função de vocativo. Que indica o vocativo? § 180, nota.


2. § 446, b.
3. § 439.
4. § 571, n. 1 (ao pé da página).
5. § 218.
6. § 460.
7. § 112, A.
8. § 83.
9. § 460.
10. § 495.

99
Por que golpeada e não golpeiada?
1010
Sepulto e sepultado são particípios duplos do verbo sepultar regra geral,
quando se usa um, quando outro?
VOCABULÁRIO
latejar = palpitar, pulsar
lenho = cerne
seiva = substância nutriente dos vegetais
cerne = tronco, parte interna e rígida da árvore
líquen = musgo
fronde = copa
gorjear = cantar
amadurar = amadurecer
rebento = arrebento
pompear = sentir-se grande
exultar = regozijar-se
cicatriz = sinal de ferida

EXERCÍCIOS
1. Escreva o presente do ind. e o pres. do subj. dos verbos
gorjear, pompear e polpar – 460.
2. Conjugue o ind. pres. de datilografar – 439.
3. Dê o plural de liquen, abdome, germe e espécime – 218.
4. Faça uma frase com suspenso, outra com suspendido – 495.
5. Corrija a grafia de gorjear, majestade, sujeito.

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