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Crítica: Rio Doce é chato e se perde no realismo exagerado - 29/04/20... https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/04/monotono-rio-doce-...

CRÍTICA

Monótono, 'Rio Doce' é difícil de ver e se perde


no desejo de realismo
Pode-se pensar que o primeiro longa de Fellipe Fernandes abre um projeto
minimalista, que ainda se encontra em estado larvar

29.abr.2023 às 13h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2023/05/02/)

Inácio Araujo (https://www1.folha.uol.com.br/autores/inacio-araujo.shtml)

RIO DOCE
Quando Em cartaz nos cinemas Classificação 14 anos
Autoria Okado do Canal, Cíntia Lima, Cláudia Santos Produção Brasil, 2021
Direção Fellipe Fernandes

Numa velha entrevista perguntaram a Jacques (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad


/fq0605200002.htm)Tourneur (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0605200002.htm) o que achava

dos filmes franceses. Nascido nos EUA e trabalhando sempre em Hollywood,


Tourneur era filho de pai francês e, aliás, também cineasta. Ele respondeu que
havia uma diferença de ritmo. Nos filmes que fazia, se um personagem saía do
carro, ele nem chegava a fechar a porta. Nos filmes franceses, sempre fechava-
se a porta.

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Existe algo de caricatural na resposta de Tourneur, mas no fundo ele estava se


referindo à imensa falta de eficácia dos filmes franceses (pré-nouvelle
(https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/jean-luc-godard/) vague (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/jean-

luc-godard/),
entenda-se). A entrevista me ocorreu enquanto assistia a "Rio Doce",
primeiro longa-metragem de Fellipe Fernandes.

Cena do filme 'Rio Doce', dirigido por Fellipe Fernandes - Nathalia Tereza/Divulgação

Nesse filme, se alguém recebe uma visita não basta que abra a porta. É preciso
antes buscar a chave, destrancar, tirar o cadeado... Uma série de gestos
cotidianos que, em princípio, não têm outra função discernível que não a de
atrasar o andamento da cena.

O procedimento se repete quando duas pessoas se encontram. Se


cumprimentam, perguntam como a outra tem passado e tal. Palavras
insignificantes, que apenas repetem gestos convencionais. Por exemplo, Tiago,
protagonista do filme, é encontrado por uma mulher. Ela lhe pergunta se
podem conversar. Ele diz que está trabalhando. Ela diz que poderiam marcar

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um encontro em outro lugar. Combinam algo. Encontram-se depois.

Esse conjunto de gestos e palavras inúteis contraria qualquer regra sobre o


papel do diálogo num roteiro: ele tem que levar o filme à frente, não freá-lo. Ao
mesmo tempo, esses gestos fazem lembrar certos filmes de Antonioni, em que
se trata, exatamente, de trabalhar sobre a insignificância. De buscar o sentido
de gestos e palavras insignificantes.

Seria isso o que busca Fernandes? Na verdade, Tiago é introduzido por uma
dessas conversas a um drama familiar: descobre que seu pai, que julgava
falecido, tinha outra família. Ou seja, ele tem um monte de meias-irmãs. Existe
ali quem seja mais acolhedor, mas há também quem lembre que ele pode até
ser irmão, mas não é da família. A situação é constrangedora por todos os
lados: incluir ou rejeitar? Incluir-se ou excluir-se?

De certa forma, esse encontro desencontrado fará Tiago descobrir a


importância da família, dos afetos, da convivência, que parecem estar um tanto
ausentes de sua vida. No filme, algumas coisas não têm consequência: a que se
liga, por exemplo, a dor nas costas que Tiago sente com insistência? O
personagem pode resolver um monte de problemas, mas este fica pelo
caminho: será algo físico ou mental?

Seria muito apressado atribuir todos os problemas que se verificam ao longo


do filme a um tipo de insuficiência que há anos já não se vê nos filmes
brasileiros (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/03/noites-alienigenas-leva-o-acre-as-telas-com-melodrama-
inevitavel.shtml). Parece mais apropriado discernir, em tudo isso, um projeto: talvez o

desejo de captar a vida "tal qual"; ou pelo menos um modo de vida, o de certas
pessoas. Suas falas, sua maneira de estabelecer conversas e relacionamentos
convencionais e que são modos de evitar aquilo que mais se deseja. Pode-se
pensar que "Rio Doce" abre um projeto minimalista.

Se for isso, será preciso, no entanto, admitir que tal projeto ainda se encontra
em estado larvar. Há muito o que controlar nos filmes onde pouca coisa
acontece, e aqui esse controle não se mostra efetivo, como talvez fosse
intenção do diretor-roteirista Fernandes.

A notar, aqui, o rapper Okado do Canal, que interpreta Tiago, o protagonista,

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numa nota só, a da melancolia. Mas, como no samba que canta João Gilberto
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/04/novo-disco-de-joao-gilberto-traz-revisao-minimalista-da-mpb.shtml),

essa única nota é a que dá conta do estado e do ser do personagem. Ao vê-lo


pode-se esperar com certa curiosidade que no futuro Fernandes possa nos
mostrar seu projeto num estágio mais avançado: "Rio Doce" não é fácil de ver.

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https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/04/monotono-rio-doce-e-dificil-
de-ver-e-se-perde-no-desejo-de-realismo.shtml

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