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7/29/2019 Cinema brasileiro, precisa?

- 29/07/2019 - Opinião - Folha

OPINIÃO ANDRÉ STURM

Cinema brasileiro, precisa?


Lá fora, audiovisual é entendido como estratégico

O cineasta André Sturm, ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo - Marcus Leoni -
2.out.18/Folhapress

29.jul.2019 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2019/07/29/)

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7/29/2019 Cinema brasileiro, precisa? - 29/07/2019 - Opinião - Folha

O presidente Jair Bolsonaro declarou na última quinta-feira (25) que o


cinema brasileiro não precisa de dinheiro público
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/07/bolsonaro-sugere-a-ancine-que-recue-em-patrocinio-a-filme-sobre-sua-

eleicao.shtml). 

Esse raciocínio tem sido manifestado em vários ambientes desde o início


deste ano. Quem ouve isso e tem posição liberal deve pensar que faz sentido.
Afinal, a produção audiovisual é uma atividade privada. “Só no Brasil o
Estado sustenta o cinema”, dizem por aí. Só que não.

No mundo ocidental, o audiovisual é entendido como estratégico e conta


com participação pública. Por meio de recursos diretos, incentivos fiscais ou
investimento, os Estados apoiam suas indústrias. 
Na França, país mais bem-sucedido na tarefa, desde 1947 existe uma política
de Estado. Muda governo, mas a política é mantida. Na Alemanha, cada
televisor vendido tem um valor destinado a um fundo de apoio à produção
de filmes. 

E nos EUA, pátria do liberalismo e maior potência na área? Nem se fala. 

Nos anos 1920, a indústria de Hollywood enfrentava dificuldade para entrar


em mercados europeus, que tinham produção forte e proteções contra o
produto americano. Os produtores foram ao presidente pedir apoio. Um
assessor, durante a reunião, disse que o tema era privado, não do governo.
Hoover respondeu que pelo contrário. O cinema era, sim, assunto de Estado,
pois onde entravam os filmes atrás entravam carros, roupas e outros artigos
do país. 

O escritório da MPA (entidade privada dos produtores de cinema) passou a


funcionar na Casa Branca, onde ficou até os anos 1990. 

Após a Segunda Guerra, no Plano Marshall, de apoio à reconstrução dos


países europeus, havia uma cláusula que proibia qualquer restrição à entrada
de filmes dos EUA. 

Foi assim que, sem dar um tiro, eles se tornaram a potência dominante na
segunda metade do século. Ganhando corações e mentes. 

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7/29/2019 Cinema brasileiro, precisa? - 29/07/2019 - Opinião - Folha

Por que no mundo inteiro as pessoas usam calça jeans, comem hambúrguer
e ouvem rock? Foi a maciça presença dos filmes que levou a cultura e, por
consequência, os hábitos de consumo americanos ao mundo. 

Quanto valeu a imagem de James Dean na promoção do jeans, do cigarro, dos


carros e de um estilo de vida para os jovens daquela geração? 

Em diversos estados americanos existem fortes incentivos fiscais para que os


produtores filmem lá. No Brasil, quantos setores da indústria dependem de
recursos públicos? Quanto recebem as empresas da Sudene e Suframa? São
regiões onde o país entende ser estratégico estimular a presença de
empresas e, por isso, há os incentivos. 

Quando um brasileiro compra um ingresso para um filme nacional, deixamos


de enviar divisas para fora do país. Centenas de empregos, negócios e
impostos estão no ingresso. 

E o recurso? Criada em 2001, a Condecine é uma taxa cobrada das empresas


que exploram filmes no país. A contribuição tem uma destinação especifica:
o Fundo Setorial do Audiovisual. Daí sai o recurso que viabiliza 90% da
produção nacional, não do orçamento público. Não é dinheiro que deixa de ir
para hospitais e outros serviços. Portanto, é a exploração de filmes que gera
o recurso para o cinema nacional
(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2019/07/sindicato-de-agencias-regulatorias-pede-encontro-com-

bolsonaro-para-falar-de-ancine.shtml). 

Queremos ser eternamente influenciados pelas culturas estrangeiras ou


vamos mostrar aos brasileiros e, em especial aos jovens, nosso país, com
nossas ideias, valores e história? O Brasil é o país da criatividade. Precisamos
assumir nosso protagonismo. Podemos e devemos ser donos de nossa
história!

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