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ESCRITO POR

Beto Oliveira

1ª 'Revisão'

NOTA DE CONFIDENCIALIDADE
Devido a questões de direito e confidencialidade desta história, e em respeito aos criadores,
pedimos que por gentileza não compartilhe ou discuta esta história fora do ciclo de produção sob
quaisquer circunstâncias.

Registro:

OBRA AUDIOVISUAL
NÚMERO DE REGISTRO: 211577184
TIMESTAMP: 2021-12-03 21:31:18 GMT
TÍTULO DA OBRA: DE TUDO QUE PODERIA TE DEIXAR
REGISTRADO POR: ROBERTO OLIVEIRA PRODUÇÕES (AUTOR/PRODUTOR)
TIPO DA OBRA: OUTRO – ARGUMENTO ANO DE CONCLUSÃO: 2021 IDIOMA: PORTUGUÊS [BR]
AUTOR (PAÍS): ROBERTO OLIVEIRA PRODUÇÕES (BRASIL)

:: eDNA DA OBRA - IDENTIFICADOR ELETRÔNICO ::


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LOGLINE
Jefferson, jovem periférico, tem a oportunidade de fazer o filme que pode mudar a sua vida,
mas a polícia pensa que para isto ele sequestrou uma famosa celebridade da internet.
JUSTIFICATIVA
A busca pela fama, felicidade e sucesso, são objetivos que rondam o imaginário dos jovens,
projetando perspectivas e alvos padronizados. Um universo onde não existem oportunidades de
falhar, principalmente em lugares periféricos nos cantos do Brasil. As redes sociais se tornaram
espelhos para os jovens se nortearem sobre o que é ter a verdadeira felicidade. Ser aceito pelo
maior número de pessoas significa mais que sucesso.

Preocupamo-nos em demasia com a nossa imagem perante os outros... Dr.


Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista
https://drd.com.br/quem-quer-sempre-ser-aplaudido-vive-sequestrado/

Esta categoria de comportamento nos leva a uma síndrome moderna denominada “FOMO”. Sigla
da expressão em inglês "fear of missing out", que em português significa "Medo de ficar de fora",
que se caracteriza por uma necessidade constante de saber o que outras pessoas estão fazendo,
com a intenção de se incluir no centro das atenções. Pessoas que têm “FOMO”, acabam tendo
uma necessidade constante de se atualizar nas redes sociais. Resultado da angústia de não estar
fazendo parte de algum acontecimento importante.

Com este filme gostaria de falar sobre a falsa percepção da fama, das angústias de um jovem
preto de periferia, que são as mesmas de uma garota de classe média alta. Ambos buscam ser
aceitos dentro de um contexto social que a cada dia segmenta e classifica pessoas.

Ansiamos por um dia viver sem a pressão de que tudo na vida deve dar certo sempre. E assistir
um saco plástico sendo levado pelo vendo seja o suficiente para nos completar como
espectadores.

Que este projeto seja uma singela homenagem a minha mãe e minha avó, as pessoas que me
fizeram amar o cinema desde criança. Que seja uma singela homenagem à Carla Faour, pela
maravilhosa mentoria, generosidade e paciência. E aos ilustres amigos que levarei para a
eternidade: Anderson Almos, Ana Paula Martins, e Midria Silva Pereira. Amigos do Lanani que
colaboraram nesta etapa de desenvolvimento. E que enfim, seja uma homenagem ao cinema
nacional.

Obrigado a Helena Klang, e a toda equipe de suporte da Lanani Flup, e da Globo pelo excelente
evento. Evento que irá se refletir em mim por muito tempo.

Que este projeto singelamente possa abrir caminho para reflexão sobre o valor da vida! Mas não
leve nada muito a sério, por favor!
ELENCO PREVISTO
Sem Proposta de Elenco no momento

PRODUÇÃO
Pais de Produção: Brasil
Data de Produção: 2024
Formato: 6k Digital
Aspect Ratio: Widescreen 2.:35
Tempo aproximado: 90 minutos
Previsão de Lançamento: 2025

Acesse mais informações sobre o projeto:


DE TUDO QUE PODERIA TE DEIXAR
Te deixo minhas memórias para que se
lembrando delas, eu viva novamente!

Escrito por Beto Oliveira


Mentoria de Carla Faour

Em humilde homenagem a minha mãe e avó,


e para o cinema!

Este argumento é baseado em ideia original


selecionada para desenvolvimento no
Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas
para o Audiovisual 2021, uma parceria da
Globo com a Feira Literária das Periferias,
Flup.
Mapa De Personagens

Jefferson: Gente boa, Any Star: Celebridade Silvia: A mina do som. Dona Val: A mãe de
medroso, cinéfilo da internet. Linda, Mas não se engane, Jeferson e Ade. Mulher
sonhador, romântico, carismática, realizada, ela pode conter um correria, tem uns três
precisa sempre ser inteligente, grande segredo. empregos pra manter
encorajado para tomar manipuladora e as coisas em ordem.
atitudes. É o mocinho comunicadora. Mas
que quer uma coisa não se engane, ela
mas precisa de outra. não decora texto de
jeito nenhum.

Homem da Capa
Preta: Se você viu Bellini Hooks:
este homem, significa Investigadora,
que seus dias nesta detalhista, corajosa,
Adélia: Irmã de terra chegaram ao fim. mas ninguém a
Jeferson, poderosa, Cacá: branco, respeita por ter voz
todos a chamam de estrategista, regrado, fina.
Ade. Curte a arte do rígido com regras. Tem
cinema clássico, mas dificuldades de ser
também curte um maleável. Nunca
TikTok. Organizada, escreveu um roteiro de
não é atoa que ela é a filme, mas é craque em
produtora. Vai ser a redação. E ainda por
primeira da família a cima trabalha como
fazer uma faculdade. cartazista no
supermercado e tem
uma letra linda. Jorge: O produtor que
sabe botar todo mundo
na linha. Mariana Cintra:
Determinada e
decepcionada com sua
carreira de jornalista.

Glauber: branco,
atrevido, destemido,
intrépido, abusado e Éder: O cara que topa
falador, mas sem muita tudo. Alto astral. Gosta
ação própria. O cara de movimento. Aqui Chico o Motorista:
do campo das ideias. ele é o Logger. Mas Nem motorista direito
Amigo fiel de Jeferson cobre todas as funções ele consegue ser.
e diretor de fotografia. se tiver comida no set Buscapé: O cara é
mais corajoso e
determinado do que
parece ser.
ARGUMENTO

DE TUDO QUE EU PODERIA TE DEIXAR


De Beto Oliveira

7º TRATAMENTO

Um “Cineclube” no alto do “Morro do Sinatra”. Sentado numa das cadeiras de plástico,


JEFERSON, com seus óculos de lentes com aro vermelho, camisa do filme “Central do Brasil”,
GLAUBER, camisa social, e ADÉLIA, observam na tela o final de “O Auto da Compadecida”, onde
“Xicó” vê “João Grillo” morrer. O amor de JEFERSON pelo cinema é tanto, que o filme reflete em
seus olhos.

MADRUGA, com camisa do “Zé do Caixão” em “A meia noite levarei sua alma”, desliga o projetor
e acende as luzes ao fim do filme. Quando é abordado por JEFERSON, que tira DVD´s da
mochila e o entrega. MADRUGA olha o DVD sem entusiasmo. JEFERSON tenta o convencer a
aceitar o filme que gravou numa oficina de cinema na comunidade. Mas MADRUGA nega, diz que
já exibiu muitos de seus filmes no cineclube. JEFERSON disserta argumentos para que
MADRUGA aceite seu filme, mas todos são negados. Vendo que o menino ficou triste,
MADRUGA tenta o animar. “Você tem que fazer um filme com pessoas vivendo a vida numa boa.
Filme de saco plástico voando no ar é muito diferentão”, diz MADRUGA, ao se referir sobre os
filmes de JEFERSON.

Quando PIOLHO, menino com camisa de time de basquete e bermuda, entra no CINECLUBE
arrastando o chinelo e pergunta quando eles vão exibir “A noite dos percevejos assassinos”,
último filme do Tom Cruise. MADRUGA diz que o filme nem lançou no cinema. E PIOLHO sai
reclamando, dizendo que não passa filme bom naquele “cineclube”.

MADRUGA aconselha JEFERSON a fazer um filme do jeito que a galera de hoje em dia gosta,
com efeito especial, luta, tiroteio, piada boa e mulher bonita.

JEFERSON, ADÉLIA e GLAUBER saem do CINECLUBE reclamando. Chegam à conclusão de


que fazer cinema é muito complicado. Mas GLAUBER diz que eles têm que criar um novo jeito de
se fazer arte. Uma arte realista como na vida, sem texto decorado, uma arte que aconteça e se
reflita na eternidade.

ADÉLIA já desistiu, diz que mandará currículo pro supermercado. Agora que passou na faculdade
terá que correr atrás de grana. JEFERSON diz que se pudesse fazer pelo menos ‘um’ filme bom,
tudo ia mudar. Mas ADÉLIA o interrompe dizendo que ele faz filmes bons! GLAUBER continua
sua defesa ao cinema arte. Dizendo que eles têm que integrar experiencias. Assim vão criar um
grande fenômeno que chocará o mundo. O “novo” cinema brasileiro.

Sem entender o discurso prolixo de GLAUBER, JEFERSON e ADÉLIA o deixam falando sozinho.
“Só o cinema vai nos fazer eternos!” grita GLAUBER.

JEFERSON e ADÉLIA chegam em sua CASA. JEFERSON vai direto para a geladeira buscar algo
para comer, mas ao abrir, ela está vazia. Sua mãe, DONA VAL, os recepciona saindo.
Apressada, abraça ADÉLIA com orgulho! “Minha menina!” diz DONA VAL. Depois abraça
JEFERSON, que abaixa a cabeça. VAL levanta a cabeça do menino e sorri. “Não fica triste, você
vai encontrar um jeito de tomar a direção certa das coisas filho! Tô orando por você!” diz VAL.

Depois sai já bem atrasada para pegar o ônibus a tempo.


JEFERSON na porta, diz a mãe que arrumará emprego para poder ajuda-la, e que um dia ela terá
orgulho dele. VAL correndo diz que já tem orgulho dele.
JEFERSON vai entrar, quando é chamado por DURVAL, o carteiro. Que lhe entrega uma “conta
de aviso de corte” de energia. Desanimado ele abre a “carta” que diz que em ‘dois dias’ haverá o
corte caso não haja pagamento.

JEFERSON entra em seu QUARTO, triste, com a “conta” nas mãos, se depara com seus ‘posters’
de filmes clássicos brasileiros. “Eles não usam Black-tie”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “O
beijo da mulher aranha”, entre outros. Na escrivaninha uma filmadora “handcam” que ele usa para
fazer seus filmes.

JEFERSON vai ao QUARTO de ADÉLIA. Ela está rindo vendo vídeos em uma rede social. “Olha
o que apareceu como lembrança no meu feed!”, diz ADÉLIA. No vídeo do celular, JEFERSON
com apenas 9 anos, experimenta seu primeiro óculos. ADÉLIA, com 8 anos, ri de como ele fica
engraçado com o óculos fundo de garrafa. “Porque o aro é vermelho mãe?” pergunta o pequeno
JEFERSON. “É porque você enxerga o mundo diferente!”, diz sua mãe feliz no vídeo.

ADÉLIA, segurando o celular, ri do irmão. JEFERSON sério, com o mesmo modelo de óculos de
10 anos atrás, pergunta a ADÉLIA sobre o emprego no supermercado que ela comentou. Ele
quer saber se rola algo para ele também. ADÉLIA diz que se ele levar um currículo legal rola sim.

Do outro lado da cidade, num bairro nobre. Num QUARTO amplo com uma grande TV,
escrivaninha cheia de maquiagens, e um IPad ao lado da cama, a jovem ANY STAR, fala
diretamente ao celular para sua rede social, segurando um gatinho branco fofo no colo. “Olá
seguimores, tuduu bem com vocêis? Vejo vocês daqui a pouco no Celebrefest”, fala ANY
convidando a todos para o evento em que irá participar como convidada e mandando beijos.

Após desligar o celular, ANY desmonta sua simpatia, joga o gato no chão e grita para JORGE seu
assistente, que aparece com três celulares nas mãos. ANY reclama do evento ‘brega’, cheio de
figurante de teatro infantil que o assistente arrumou para ela participar. JORGE diz que a coloca
nestes eventos para ela poder brilhar ainda mais. A enchendo de elogios. Mas logo repassa seus
compromissos. As 15:30h, o “Celebrefest”, as 18h, aulas de espanhol, e as 21h, uma ‘live’ sobre
maquiagem. Mas adverte que ela já está atrasada.

“Quando minha mãe volta?” pergunta ANY. JORGE diz que quando Dona Vera viaja à Nova York
sempre arrasta o cronograma. Depois pega um dos celulares e liga para Chico, o motorista,
perguntando se o carro está pronto!

Na MECÂNICA, CHICO o motorista, diz no celular que o carro está pronto, e que em 5 minutos
chega. Ao desligar, ele apressa o MECÂNICO para finalizar o serviço. O MECÂNICO diz faltarem
uns ajustes, pois a última barbeiragem de Chico mexeu no carro inteiro.

No QUARTO de JEFERSON, ele arruma o currículo pelo celular. Com dificuldades digita “sem
experiência” em “EXPERIENCIA PROFISSIONAL”. ADÉLIA aparece na porta e diz que irá ver os
papéis de matrícula na faculdade.
Ela olha os posters do irmão e se emociona, diz que seria bom se eles pudessem fazer um último
filme juntos!

Na CASA DE ANY, ela sai apressada e entra no CARRO, seguida por JORGE que repassa sua
agenda e acrescenta: “Não esquece que seu lado favorável para fotos é o esquerdo! Seja prolixa
nas respostas! E faça poses “blasé”! Eles adoram celebridades que não ligam para a fama! E se
tiver um gato por perto, carrega ele no colo! Celebridade tem que gostar de animais!” grita
JORGE.
O gatinho branco de Any na janela, observando o carro ir embora, faz cara “blasé” e sai de cena.
Na CASA DE JEFERSON, ele procura alguns trocados para a impressão do currículo. Encontra
um pote no armário da COZINHA. Pega dois reais e jura em voz alta que irá devolver para sua
mãe com juros. Volta ao QUARTO, vê seus filmes na prateleira. Pega uma mochila, tira os DVD´s
de seus filmes da prateleira e os joga na mochila. Fecha, põe nas costas e sai de CASA.

No CARRO, indo ao “Celebrefest”, ANY recebe seus compromissos no celular, mas prefere entrar
em suas “Redes Sociais”. Nas fotos, pessoas em momentos felizes. Ela não acredita que aquelas
pessoas são felizes de verdade. Olha pela janela, e a cidade cheia de pessoas é um contraste de
como ela se sente.

CHICO, dirigindo, recebe mensagem no celular. É JORGE, dizendo que se ele chegar atrasado
devido a outra barbeiragem, será despedido. Apavorado com as ameaças, CHICO olha o GPS
que apresenta duas rotas. Uma em que chegará atrasado, e outra que ele chegará pontualmente
as 15:30h. Horário marcada para ANY no evento. Disfarçadamente ele olha para trás, percebe
que ANY está distraída. É assim que furtivamente decide tomar o atalho para ganhar uns
minutinhos. O GPS recalcula a rota pelo “Morro do Sinatra”.

JEFERSON imprime o currículo na LAN HOUSE de seu amigo ÉDER. Depois desce a escadaria
do Morro, quando acha uma lixeira. Ele pega a mochila com seus filmes e joga. Fica olhando por
uns segundos, mas logo cria coragem para prosseguir. Distraído com o currículo nas mãos
atravessa a rua. Quando é surpreendido por um carro luxuoso preto que bruscamente se desvia
dele. Assustado, ele pensa que poderia ter morrido. Enquanto ajusta seus óculos, ele vê o
CARRO passar por um buraco, perder o controle e bater em um poste.

No CARRO, CHICO atordoado tenta ligar o carro sem sucesso. Pega o celular, mas não tem
sinal. Olha para trás e vê ANY desmaiada. Apavorado sai do CARRO e olha o pneu furado. Ele
tenta tirar o estepe, mas está emperrado.

JEFERSON se aproxima e lhe oferece ajuda, mas CHICO o acusa de ter causado o acidente.
Irritado CHICO pergunta se tem um mecânico por perto, e JEFERSON diz que tem um ali perto.
CHICO entra no carro, pega seu celular, olha ANY, que ainda está desacordada. Depois, sai e
trava o carro receoso ameaçando JEFERSON, dizendo para ele não mexer em nada. Enquanto
JEFERSON observa o motorista ir embora correndo de um jeito atabalhoado, faz questão de
dizer que no “Morro do Sinatra” não tem ladrão. É quando a porta do CARRO se abre, e ANY sai
atordoada sem entender o que aconteceu.
JEFERSON percebe que ANY tem um corte na testa. Ele pede para ela ficar ali enquanto vai
buscar ajuda. Mas ela diz estar atrasada para um compromisso, e quando tenta caminhar tem um
breve desmaio. JEFERSON preocupado quer chamar socorro, mas ANY diz que melhora se
tomar um copo d´água. JEFERSON, propõe leva-la para sua casa. Mas ANY fica receosa com a
ideia.

Correndo pelo Morro, CHICO acha um MECÂNICO. E o convence a ajuda-lo.

Na CASA DE JEFERSON, ANY no sofá analisa a humilde casa. JEFERSON traz o copo de água,
e com uma toalha molhada e um band-aid, limpa o ferimento de ANY. Mas ela resiste e pede que
o menino não fique a olhando.
É quando ADÉLIA chega correndo, perguntando se JEFERSON viu o acidente. Quando vê os
dois juntos no sofá. ADÉLIA reconhece ANY, e depois de alguns segundos, pede licença para
conversar com o irmão em seu QUARTO.

No CARRO, o celular de ANY toca. Na tela, a imagem de JORGE. Na CASA de ANY, JORGE
estranha que ANY está atrasada para o evento e não atende. Depois liga para CHICO, mas o
celular dá fora de área. Irritado, JORGE faz uma ligação misteriosa. “Verifica prá mim se tá tudo
em ordem?” diz JORGE em tom sério ao telefone quando é atendido.
No QUARTO, ADÉLIA pergunta se o irmão sabe quem é ANY. Ele fala que foi tudo tão rápido que
nem perguntou. ADELIA pega o celular e mostra ANY numa rede social fazendo dancinhas.
JEFERSON pergunta se ela é dançarina. Irritada ADÉLIA diz que a menina é famosa! E mostra o
número de seguidores dela. JEFERSON arruma os óculos e vê inscrito “4000k de seguidores”.
Ele pergunta se os seguidores são medidos por quilo. ADÉLIA mais irritada diz que ela tem
“milhões” de seguidores e enfatiza ser muita gente. JEFERSON se pergunta onde é que ela é
famosa, pois ele nunca ouviu falar dela.

ANY na SALA, vê as fotos dos irmãos em momentos felizes. No cinema, juntos, com uma
filmadora de fita VHS fingindo estar filmando, e abraçados com uma claquete de cinema. ADÉLIA
abre a porta e diz: “Quer fazer um filme com a gente?” JEFERSON olha para a irmã. ANY não
sabe muito bem o que dizer!

CHICO, chega no CARRO com CARLOS o mecânico, e descobre que ANY não está mais lá. Ele
fica desesperado e procura a garota, perguntando se alguém a teria visto. Mas ninguém viu a
menina. É quando um carro de polícia aparece, e do carro desce o SARGENTO GETÚLIO,
perguntando o que teria acontecido por ali, e CHICO tem certeza de que se meteu numa
enrascada.

Na CASA DE JEFERSON, ANY diz que nunca conheceu ninguém que faz cinema. Orgulhosa,
ADÉLIA diz que JEFERSON já fez vários filmes. Mas ANY agradece o convite, diz que não quer
assumir mais compromissos. ADÉLIA, tentando encantar a menina, diz que já vê a enorme fila de
pessoas para ver a estreia do filme num cinema de shopping, já vê ANY dando entrevistas.

Na frente de um HOTEL, uma multidão de adolescentes enlouquecidos aguarda a aparição de


ANY. A repórter MARINA CINTRA, dá a notícia sobre as fãs que aguardam ANY STAR para o
evento num canal de TV.
Após desligada a câmera, MARINA reclama do atraso de ANY e diz que ela é uma metida. É
quando um ASSESSOR do evento aparece e diz que ANY não se sente bem e decidiu transferir o
encontro para outro dia. Os fãs reclamam.

Na CASA de JEFERSON. ANY diz que já fez entrevistas, já teve cartaz com seu nome no
shopping, e que está muito cansada deste tipo de bajulação. Mas ADÉLIA é insistente. Diz para a
menina que ela terá a oportunidade de mostrar para todo mundo quem ela realmente é!
Afirmando que o talento de Any é muito maior do que as pessoas conseguem ver pelo seu
trabalho na internet.

“As pessoas vão ver como eu realmente sou?” pergunta ANY refletindo sobre a proposta. ADÉLIA
diz que sim, afirmando que só os grandes artistas fazem cinema, e que ANY finalmente terá o
prestígio que merece. Mas ANY rebate perguntando, o que ela fará se as pessoas não gostarem?
“É por isso que você precisa de um grande diretor!” fala ADÉLIA olhando para JEFERSON.
ANY cede a insistência de ADÉLIA. Mas diz ter exigências para aceitar o convite! Tem que ser
rápido, pois ela tem muitos compromissos. Ela tem que ser a atriz principal, quer um camarim, e o
filme tem que ter cena com um gato!

“Onde a gente vai arrumar um gato ator?” pergunta JEFERSON.

ADÉLIA abraça ANY que fica desconfortável. Depois leva ANY ao QUARTO de JEFERSON. “E
aqui está...! Seu camarim!” diz ADÉLIA sorrindo. Mas antes de JEFERSON reclamar, ANY grita:
“Meu celular! Não vivo sem ele!”

ANY descendo o Morro com ADÉLIA e JEFERSON. JEFERSON diz que não pode realizar o
filme. Mas ADÉLIA insiste dizendo que ANY já é sucesso! Sinal que o filme vai bombar! Mas
JEFERSON reluta dizendo que precisa arrumar um emprego urgente. A história de ser diretor de
cinema acabou para ele.
ADÉLIA olha nos olhos do irmão e diz: “Faz por mim! Nossa última aventura juntos!”. É quando
ANY chega ao local do acidente e surta: “Cadê meu carro!”. JEFERSON olha para ANY ajustando
os óculos e diz: “Isso não vai dar certo!”

Na DELEGACIA, o DELEGADO interroga CHICO. Ele diz que desviou de um menino na rua e
bateu o carro. Depois a menina desapareceu. É quando na porta um homem aparece. CHICO
arregala os olhos. É o HOMEM DA CAPA PRETA, que pergunta para CHICO onde a menina foi
parar. O motorista com medo diz que ela sumiu. O DELEGADO, percebe que o HOMEM DA
CAPA PRETA está intimidando seu interrogado, e pergunta quem é ele. “Se não sabe quem eu
sou, é porque não chegou a sua hora!” diz o HOMEM DA CAPA PRETA, pré-anunciando ser a
personificação da própria morte.

Na CASA de JEFERSON, ANY de um lado ao outro da SALA dizendo que precisa de seu celular
para viver. ADÉLIA, tira seu celular velho cheio de adesivos e glitter do bolso, e o entrega para
ANY. “Toma o meu! Fica com ele por enquanto!” diz ADÉLIA. ANY fica olhando estranha para o
celular velho pensando como ligará para sua casa com o celular de outra pessoa.

JEFERSON leva ADÉLIA ao QUARTO. Lá, disserta argumentos dizendo que não pode realizar o
filme. Calma, ADÉLIA diz que eles vão ganhar muito dinheiro com o filme! Mas o irmão a
pergunta como ele fará isto em tão pouco tempo? ADÉLIA conclui que eles vão precisar de uma
“boa” equipe.

Na frente de uma IGREJA EVANGÉLICA fechada, o som abafado de uma música. Dentro, uma
banda de jovens tocando desafinados. A porta se abre e JEFERSON e ADÉLIA entram, eles vão
até à mesa de som onde está SILVIA. ADÉLIA a cumprimenta e pergunta se ela quer fazer um
filme? SILVIA quer saber quando começam, e ADÉLIA diz que começam “agora”! SILVIA pega a
bolsa e diz:“Vâmbora!”. Ela abandona os amigos ensaiando, quando começa uma microfonia, que
obriga os jovens a pararem a música e perceber que a técnica de som os abandonou.

Na LANHOUSE, ÉDER atrás do balcão reclama com ADÉLIA que da última vez deu o maior B.O.
porque ele ficou editando o filme na lanhouse e o seu Roberto quis cobrar a conta de energia!
Mas ADÉLIA diz que agora é diferente, eles vão ter grana para mandar o filme a um editor de
casamento. ÉDER topa.

“Obvio que topo! O único eterno subversivo é o artista!” diz GLAUBER exaltado com um avental
branco, lavando a frente do AÇOUGUE. Ele joga a mangueira e abandona o serviço para ir com
ADÉLIA.

No PÁTIO da DELEGACIA, o CARRO de ANY é deixado pelo GUINCHO. O DELEGADO instrui a


investigadora BELLINI HOOKS a ver se encontra algum vestígio do caso. Prontamente ela aceita
a missão e começa a agradecer falando sem parar ao DELEGADO com sua voz fina e irritante.

Num SUPERMERCADO, ADÉLIA procura por CACÁ, o cartazista. CACÁ diz que nunca ia
escrever um roteiro para uma subcelebridade da internet! “Você já sabe?” pergunta JEFERSON!
E CACÁ explica que não existem segredos no Morro do Sinatra. Todo mundo já sabe que ANY tá
na casa dele. ADÉLIA tenta convencer CACÁ a escrever o roteiro, mas ele continua irredutível.
“Por que vocês não falam com o Padilha? Ele que gosta deste tipo de coisa!” diz CACÁ enquanto
cola um cartaz escrito “OFERTA – Tomate R$1,99 Kg” numa parede.

ADÉLIA continua tentando o convencer, mas CACÁ diz que só escreve o roteiro se ela sair com
ela na sexta! ADÉLIA pensa um pouco e fecha negócio, mas diz que terá que confirmar na
agenda pra ver se está realmente livre.

De volta a CASA DE JEFERSON, ANY na COZINHA teclando no celular velho de ADELIA,


tentando lembrar o número de sua casa. Ao redor dela, toda a equipe admirada. SILVIA pergunta
se ela é mesmo a ANY STAR ou se é tipo um “cosplay” da menina? ANY fica de perfil,
valorizando seu lado esquerdo, e confirma que é. Depois da pose, ANY pede licença para usar
banheiro.

SILVIA cochicha que no vídeo ANY era mais bonita. ÉDER a achou meio pálida. ADÉLIA,
assumindo o papel de produtora do filme, pergunta se eles estão prontos. GLAUBER quer saber
do roteiro. JEFERSON diz que CACÁ vai escrever. GLAUBER reclama dizendo que CACÁ é um
branquelo que só escreve coisas sobre pretos, mas nem na comunidade ele mora.
SILVIA chama a atenção de todos dizendo que ANY STAR está fazendo cocô no banheiro da
casa de Jeferson. Aquilo só poderia ser um sinal do destino.
GLAUBER, olha para todos, e diz que foi a arte que os escolheu! SILVIA concorda. É o último ano
dela antes de entrar na faculdade de Agronomia. ÉDER diz que tem duas semanas antes de
começar como “Jovem Aprendiz” no Mercadão. E todos concordam que sendo a ANY STAR, ou
sendo uma sósia, esta é uma ótima oportunidade de realizarem algo que marque a vida deles
para sempre. É quando ANY sai do BANHEIRO aliviada: “Ai gente! Tô me sentindo tão bem
agora!” ÉDER com a mão no nariz, faz uma careta.

No PÁTIO da DELEGACIA, a policial HOOKS vasculha o CARRO de ANY a procura de pistas,


quando encontra o celular. Ela o liga, mas não vê nada suspeito, quando olha para o chão do
carro e vê um fio de “bigode grosso”.

De volta a CASA de JEFERSON. SILVIA pergunta sobre o que será o filme. CACÁ diz que será
sobre uma saga interplanetária sobre uma família negra revolucionaria que luta por liberdade.
“Tipo Afrofuturismo, adorei!” vibra ÉDER. Mas ADÉLIA intervém, já calculando que não tem como
produzir o filme.
SILVIA pergunta como fará o som do filme se no espaço não tem som.
JEFERSON acha que não dá para gravar aquilo e quer desistir. CACÁ diz que tem que ser um
filme de herói. GLAUBER afirma que sim, um autêntico herói brasileiro. Mas ANY diz ser ela a
protagonista, a heroína tem que ser mulher.

JEFERSON quer um filme em preto e branco, mas a equipe reclama. Para que fazer um filme em
preto em branco com tanta cor no mundo? CACÁ pede para confiarem nele. ANY acrescenta que
o filme tem que ter uma cena com gato.

No “BAR ESPERANÇA”, JEFERSON e ADÉLIA vão falar com CARVANA, o dono do bar. Atrás
do balcão o título “Bar Esperança – O Último que fecha”. ADÉLIA pede patrocínio. CARVANA diz
que não patrocina mais eles, nunca tem retorno do investimento. Mas ADÉLIA diz que agora é
diferente, eles têm uma atriz famosa no elenco. CARVANA pergunta se é a Vera Fischer. ADÉLIA
diz que é ainda mais famosa que a Vera Fischer, e CARVANA decide a ouvir.

Na DELEGACIA, o DELEGADO observando as fotos do celular de ANY, e reclama da menina só


tirar fotos de perfil do lado esquerdo. Quando HOOKS entra e mostra o fio de “bigode grosso” que
encontrou dentro de um envelope plástico. Ela estranha, pois ninguém perto da menina tem
bigode, e o motorista de ANY é careca. O DELEGADO pede para ela levar o material até o
Centro de Inteligência da Polícia. Depois chama SARGENTO GETÚLIO, e pede para ele ir ao
Morro procurar a menina.

Na CASA DE JEFERSON, todos usando celular, menos ANY, ela está quase surtando! Irritada
ela vai à COZINHA onde CACÁ escreve o roteiro. Ela começa a fuçar o armário procurando
ingredientes para uma experiência culinária.

Enquanto nos fundos da CASA DE JEFERSON, GLAUBER encontra o local perfeito para ser uma
locação para o filme.
Num canto do Morro, ÉDER tenta atrair um gato para as filmagens. Estica os braços para pegar o
gato que está se escondendo, mas logo é arranhado.

ADÉLIA num BRECHÓ, negocia permuta. Ela mostra a foto de ANY a dona.

DONA VAL chega em CASA. Encontra CACÁ escrevendo, e ANY fazendo uma bagunça na
COZINHA. ANY vendo DONA VAL começa a pedir desculpas. Diz que estava entediada, e queria
fazer um cupcake, mas sem celular não lembra a receita.
Já de noite, ADÉLIA e JEFERSON chegam em CASA com sacolas de comida para as gravações.
ÉDER chega depois, com uma caixa de papelão, ele está todo arranhado. DONA VAL os chama
a COZINHA. Onde os aguarda com os pratos na mesa. ÉDER se anima, e ouvimos o miado do
gato na caixa.

Todos a mesa comendo, quando DONA VAL traz um bolo que diz ter sido feito por ANY.” Vamos
celebrar a primeira mulher da família a entrar na faculdade!” diz VAL. Todos aplaudem e pedem
para ADÉLIA fazer um discurso. Ela diz que tudo é culpa da mãe, e do irmão, que a ensinou a ver
a vida de um jeito lindo!

ÉDER pega o celular, pede que façam poses, quer fotos para sua rede social. Todos riem. ANY
fica de canto, quando é puxada para tirar fotos com eles.

Após as comemorações, DONA VAL os obriga a ver o primeiro filme do filho. JEFERSON
lembrando que jogou fora seus filmes, pergunta como DONA VAL tem o filme. Ela diz que tem
cópias, e com orgulho diz ser a fã número um do filho. Na tela da TV, um saco plástico voando
com o vento. GLAUBER diz amar aquela cena, diz ser de uma beleza colossal. Mas o pessoal
está entediado.

Em seu QUARTO, ADÉLIA conta o dinheiro que sobrou do patrocínio, quando JEFERSON entra
e diz que não fará o filme, ele está com medo. ADÉLIA, o encorajando, diz para ele acreditar. Diz
que um dia vão estudar seus filmes na faculdade! “As coisas vão parar de ser difíceis pra gente!”
diz ADÉLIA.

Tarde da noite, CACÁ continua escrevendo o roteiro enquanto todos dormem. JEFFERSON
passa por seu QUARTO, agora camarim de ANY. Olha pela porta entreaberta e vê ANY
dormindo. A menina ronca que nem um caminhão, mesmo assim JEFERSON fica encantado.
Depois, ele tira do bolso a carta de “anuncio de corte” de energia. Ele suspira, sabendo que agora
falta menos um dia. “Eu preciso que isto dê certo!” fala JEFERSON evocando sua fé.

É quando o despertador toca, e na rádio comunitária mais um dia é anunciado no “Morro do


Sinatra”, seguido por um bom rap. Na CASA DE JEFERSON, CACÁ aparece com o roteiro
finalizado no notebook. ÉDER sai correndo até a LANHOUSE para imprimir o roteiro do filme.
DONA VAL prepara café.

Todos já estão na mesa lendo o roteiro. Após algum tempo, eles olham uns para os outros. CACÁ
com olheiras enormes por passar a noite acordado aguarda uma resposta. “É bom, não é?”
pergunta ele. “Éeeee! Eu gostei! Quer dizer..., eu acho!” diz SILVIA. Todos concordam que o
roteiro é bom, mas com uma atriz famosa no elenco, seria necessária uma produção mais
elaborada.
GLAUBER diz que desocupou o barracão dos fundos pra eles usarem chroma-key nas cenas.
ÉDER empolgado diz que um amigo colocou a mãe dançando funk nas pirâmides do Egito com
chroma-key. Todos se empolgam com a ideia, até ANY. “Agora só falta o pano verde!” diz
GLAUBER.

Ao chegar à DELEGACIA, o DELEGADO toma um susto com a policial HOOKS que o espera
logo cedo. Ela passou a noite trabalhando no caso. Sobre a mesa a conclusão da perícia do “fio
de bigode” encontrado no CARRO de ANY. No laudo da perícia, eles descobrem que o fio de
bigode é de Tenório Cavalcanti.

ADÉLIA na LOJA de TECIDOS vendo que o preço do tecido verde é caríssimo. Ela conta o
dinheiro. Negocia, mas com SEU SALIM não tem negócio.

Nos fundos da CASA DE JEFERSON, um cartaz escrito: “Teste de Elenco”. Diversos moradores
reais fazendo teste de vídeo. JEFERSON numa cadeira de praia escrito DIRETOR com tinta
branca. Ao seu lado, ANY lendo o roteiro. Enquanto “GISLEINE”, 25 anos, musculosa, faz teste
para uma policial. “Pare em nome da lei!!” diz ela fingindo apontar uma arma. JEFERSON pede
para que ela faça com um pouco mais de intensidade. GISLEINE se concentra, fecha os olhos,
finge apontar a arma, e grita: “Pare em nome da lei, poooorra!”. ANY para de ler e diz que adorou,
mas JEFERSON diz ser melhor não ter palavrão no filme.

CACÁ babando no sofá da SALA por ficar acordado a noite. Enquanto o gato na caixa de papelão
num canto da sala não para de miar.

Na CASA DE ANY, JORGE, o assistente de ANY desperta com seu celular. Sem ver quem é, ele
atende. É VERA, a mãe de ANY, que avisa que está voltando de Nova York hoje. Ela manda
JORGE deixar a banheira preparada exatamente as 18 horas. Depois pergunta como está ANY, e
JORGE diz que está tudo bem. “Ai Verinha! Você conhece a Any, ela é um reloginho, agora ela
deve estar no momento banheiro!” fala JORGE com tom de piada. Mas VERA diz estar sem
tempo para gracinhas, e passa as recomendações novamente a JORGE, que após desligar o
telefone tem um surto.

ANY no QUARTO de JEFERSON, decorando o roteiro. JEFERSON entra e pergunta se ela


precisa de algo. ANY diz que não gostou da parte final do roteiro, onde um dos personagens
morre depois de uma briga. Ela acha um final meio bobo. JEFERSON diz que no cinema é assim,
alguns personagens se sacrificam para a história continuar, mas na real ninguém morre de
verdade no cinema. ANY ainda acha o final bobo, diz que estão subestimando o espectador.
JEFERSON pergunta se ela conseguiu ligar para casa. ANY diz que não, afinal sua mãe vive
viajando e não tem tempo para ela. JEFERSON pergunta se foi ela mesmo que fez o bolo? Sem
jeito ela diz que foi DONA VAL, mas ela ajudou, dizendo ter amado a experiência. Olhando as
coisas de JEFERSON, ANY encontra sua pequena câmera de vídeo digital.

“Isso é uma câmera de fazer cinema?” pergunta ANY. “Sempre pensei que câmera de fazer
cinema era maior!” diz ANY. É quando ADÉLIA chega, e diz que decidiu conversar com o chefe
do Morro para pedir um pequeno patrocínio para conseguir comprar o pano verde. JEFERSON
acha uma péssima ideia.

JORGE na CASA de ANY pega o celular e faz uma ligação. “Onde você está? Você não é pago
pra ficar passeando! Já era pra menina estar aqui!”.

No “Morro”, o HOMEM DA CAPA PRETA no celular, avisa JORGE que hoje à noite a menina
estará em casa. Ele desliga o celular e vê ao longe, ADÉLIA, JEFERSON e ANY, saindo da
CASA DE JEFERSON e subindo o Morro.

ANY sorridente subindo o Morro, pergunta porque o lugar se chama “Morro do Sinatra”, ADÉLIA
diz que é porque o Frank Sinatra cantou ‘New York, New York’ no alto do Morro nos anos 60.

Na DELEGACIA, o DELEGADO apresenta o laudo de análise do “bigode grosso” para um grupo


de policiais. A partir da notícia, os policiais perguntam ao DELEGADO se Tenório Cavalcanti
existe mesmo, pois o consideram uma lenda urbana. O DELEGADO diz que ele é real e muito
perigoso. Depois liga para GETÚLIO para saber como está o andamento de sua busca pelo
Morro.
No BAR ESPERANÇA, GETÚLIO atende tomando uma gelada com seu velho amigo CARVANA,
e diz ao DELEGADO que tudo está correndo bem.

Na CASA de TUBINHO, chefe da galera do “Sinatra”, ele recebe JEFERSON e seus amigos.
TUBINHO fica encarando ANY sem parar. “É mesmo a Any Star? Ou é tipo um cosplay?”
pergunta TUBINHO. ADÉLIA diz que é ela mesmo. Depois negocia patrocínio para o filme.
TUBINHO gosta da ideia, mas diz que o filme tem que ter lutas de ‘jiu-jitsu’ e explosão, e ele tem
que ter um papel. JEFERSON lamenta, pois, ainda tem esperança de fazer um filme de arte.

Na DELEGACIA, HOOKS diz ao DELEGADO que entrar com um grupo de policiais numa
comunidade é algo bem delicado. HOOKS tenta convencer o DELEGADO de que GETÚLIO é um
fanfarrão, e pede ir ao Morro investigar. Depois de tanta insistência, o DELEGADO permite,
porém, ela tem apenas algumas horas antes de tomar providências.

Na CASA DE JEFERSON, GLAUBER concentrado arrumando o pano verde numa parede


quando toma um choque tentando arrumar a iluminação do lugar.
ADÉLIA faz reuniões com cada um da equipe, mostrando gráficos, ‘storyboard’ e figurinos aos
integrantes da equipe. JEFERSON dá orientações para ANY.

“A revolução é uma estética!” grita GLAUBER no set de filmagens. ADÉLIA com uma claquete
improvisada escrita: “De tudo que poderia te deixar” - Direção: Jeferson Oliveira – CENA 1 –
TAKE 1. Canta a claquete e bate.

“Som foi?” grita JEFERSON. Recebendo sinal de “ok” de SILVIA, que segura um microfone de
mão amarrado a um cabo de vassoura, com o cabo ligado ao celular. “Câmera foi?” grita
JEFERSON, recebendo sinal de “ok” de GLAUBER com a “handcam” de JEFERSON. “AÇÃO!!!!”
grita o diretor empolgado.
Na cena, ANY de macacão de mecânico, e botas, segurando uma marreta, com cara de mau. A
câmera se aproxima, seus cabelos ao vento, graças a ÉDER, que nos bastidores segura um
pequeno ventilador. Todos esperam a frase de efeito que marcará o início do filme. Mas ANY está
paralisada! “Corta!” grita JEFERSON arrumando seu óculos vermelho! Ele diz que ela tinha que
dizer a frase que tá escrita no roteiro. “Era agora?” pergunta ANY. SILVIA comenta que a
filmagem será um desastre com ANY.

“Câmera foi, ação!!!” grita JEFERSON. A câmera se aproxima, os cabelos de ANY ao vento, ela
empunha a marreta com cara de mau e diz: “Aqui no Morro do Sinatra..., se correr o bicho pega, e
se ficar..., vira lobisomem!” Todos olham pasmos para ANY! “Que foi! Era lobisomem mesmo,
não era?” diz ANY antes do grito de “Corta!” do diretor. JEFERSON respira fundo olhando o
relógio.

A policial BELLINI HOOKS chega ao “Morro do Sinatra” com sua moto.

ANY, chuta um dos “figurantes” e solta mais uma frase de efeito: “Bota na conta do papa!”
fazendo cara de mau. Depois se abaixa para pegar o gato no chão, na mão de ÉDER. ANY pega
o gato no colo, faz pose usando seu perfil do lado esquerdo com olhar penetrante, a câmera se
aproxima num “close”. Mas a pose dura pouco, o gato a arranha e foge, estragando a cena.
ÉDER sai correndo atrás do gato gritando: “Eu falei que ele era arisco!”

JEFERSON irritado dá um grito, pedindo mais organização no set. SILVIA, ao lado da mesa do
lanche confessa: “Adoro homem bravo!”. ÉDER comendo biscoitos com a caixa do gato de baixo
do braço responde: “Eu também!”
ADELIA vai conversar com JEFERSON sobre o horário, estão perdendo muito tempo com a falta
de concentração e os erros de ANY.

Na DELEGACIA, antes da saída do grupo policial, o DELEGADO liga para HOOKS perguntando
se ela descobriu algo. No Morro, HOOKS diz que achou uma pista. Ela está com um
“PANFLETO” do “Teste de Elenco” no Alto do Morro. HOOKS pede mais tempo, mas o
DELEGADO diz que esperou muito.

De volta ao SET, outros contratempos. ANY canastrona em cena dramática, enquanto Tubinho,
tentando socializar diz que ela foi incrível. ANY diz que sabe! Ele continua atrás dela pedindo um
autografo num papel em branco.
JEFERSON grita “ação!”, e TUBINHO em cena é tão ruim que todos tem certeza de que o filme
será um fracasso. ANY vestida como uma dominatrix com uma arma de brinquedo de piscina, ao
invés de fingir atirar, bate em TUBINHO com a arma. No final da cena, TUBINHO chega para o
diretor e pergunta o que ele achou. JEFERSON irritado é interrompido por ADÉLIA. “Foi incrível,
vai ser um sucesso!” diz ADÉLIA tentando evitar um mal-entendido.

ANY se prepara para outra cena, enquanto GLAUBER arruma a uma lâmpada com arame em
cima do cenário improvisado. JEFERSON grita “AÇÃO!”. Vemos o REC no ‘viewfinder’ da
câmera, ANY entra em cena. Ela se prepara para falar, porém mais uma vez esquece o texto.
JEFERSON para a filmagem, e pede pra ela improvisar. “Fala qualquer coisa!” diz JEFERSON já
alterado. ANY entra em cena novamente e diz o texto de um modo bem canastrão:
“O amor é um precipício, a gente se joga e reza pra nunca chegar ao chão!”.
Tentando garantir o som, SILVIA tropeça numa extensão fazendo a lâmpada que GLAUBER
colocou com arame sobre ANY cair. Causando um acidente.
A lâmpada acerta ANY, que fica muito brava e sai do set brigando. “Você disse que ia ser uma
grande experiência, está sendo mesmo!” diz ANY para ADÉLIA.

Chateada ADÉLIA pede uma pausa. GLAUBER se desculpa e corre resolver o problema.
JEFERSON bravo reclama com ADÉLIA dizendo que avisou ser uma péssima ideia realizar um
filme! Ele conta a infinidade de acontecimentos que deram errado. ADÉLIA tenta dialogar, mas
seu irmão a ofende dizendo que as coisas podem ser fáceis para ela, mas para ele é tudo muito
mais difícil.

“Eu sou uma mulher preta! Da onde você tirou que algo na minha vida é fácil?” diz ADÉLIA ao
irmão. JEFERSON diz que terminando a gravação ADÉLIA vai pra faculdade, ter um futuro
melhor, e ele ficará ali com suas frustrações. ADÉLIA diz que eles são uma família, e que sempre
resolvem as coisas de mãos dadas! Mas o irmão insatisfeito desabafa dizendo que falta pouco
para terminar o filme e a irmã ir embora.

“Tá chateado por que eu passei na faculdade?” pergunta ADÉLIA ao irmão!


“Não! Tô chateado por que você existe!” diz JEFERSON de um jeito grosseiro.

ADÉLIA, olha nos olhos do irmão. Coloca a prancheta na cadeira e sai do set. SILVIA e ÉDER
falam com JEFERSON e pedem calma, falam que o problema é Any, que não tem dom para ser
atriz. Mas ele é grosso com eles também. “Agora descobri porque você só faz filmagens com
saco plástico!” fala SILVIA!

CACÁ, finalmente acordado, aparece ao lado de JEFERSON e diz: “Mano! Cê trocou os brothers
do cinema por uma menina da internet! Que mancada!”
GLAUBER, no BAR ESPERANÇA, pergunta a CARVANA se ele tem “Fita Hellerman”. Pois,
precisa prender uma lâmpada. CARVANA diz que não tem “Fita Heller” no bar, GLAUBER
agradece e sai correndo, quando tromba com a policial HOOKS. GLAUBER pede desculpas.
HOOKS pergunta se GLAUBER viu algo suspeita no bairro, ele diz que no Morro do Sinatra não
tem nada suspeito, pede licença, e sai correndo.
HOOKS vai falar com CARVANA, que diz que o pessoal está excitado devido às gravações do
filme com uma menina famosa da internet. HOOKS mostra o cartaz do “teste de elenco” e
pergunta se é no endereço descrito ali.

JEFERSON vai ver ANY. No QUARTO ela se olha no espelho. JEFERSON se abaixa ao lado
dela e cuida dela, pedindo desculpas pelo incidente, e por estragar tudo. Quando é interrompido
por um beijo de ANY. Que o obriga a fechar os olhos e curtir o momento. De olhos fechados,
Jeferson é levado aos beijos clássicos de cinema que assistiu. Do beijo de Angélica em Buscapé
em “Cidade de Deus”, o beijo de Leléu e Lisbela, em “Lisbela e o Prisioneiro”, o beijo de André
em Silvia em “O homem que copiava”, até abrir os olhos e perceber que aquele pequeno
momento irá se refletir pela eternidade.
ANY diz que está feliz! A maioria das vezes se sente sozinha! Mas hoje não! Quando existe a
possibilidade de um segundo beijo, a energia elétrica da casa é cortada, os deixando no escuro.
JEFERSON sai correndo de sua CASA e vê o carro da “Companhia de Energia” indo embora. Ele
fica sem palavras.

No fundo da CASA DE JEFERSON, TUBINHO pergunta o que aconteceu, ele estava carregando
o celular e agora não tem mais energia. JEFERSON diz que foi um imprevisto e que vai dar um
jeito. TUBINHO pergunta se ele precisa de ajuda, mas JEFERSON pede para continuarem
ensaiando que ele resolve o problema. GLAUBER chega com a “fita heller”, diz que teve que ir
longe buscar a fita, pois no Morro não tinha ninguém vendendo. JEFERSON pede ajuda.

Os dois vão até a “Caixa de Energia” na frente da CASA. JEFERSON abre a “Caixa” e pede para
GLAUBER segurar as ferramentas. “Cê vai fazer um gato?” pergunta GLAUBER. JEFERSON diz
que vai resolver um problema de energia. “Mas você já fez isso?” pergunta GLAUBER.
JEFERSON olha para o amigo, e fica claro de que ele nunca fez. Pega a chave de fenda e na
primeira tentativa de mexer com os fios de energia toma um grande choque que o joga no chão.
Seu óculos vermelho cai, trinca a lente e quebra uma das hastes. No chão, JEFERSON
desmaiado, tem lembranças dos momentos que passou com a irmã, os amigos, e com ANY.
Suas lembranças só desaparecem após tomar um tapão. Ao perceber que o amigo recobrou a
consciência, GLAUBER adverte o amigo a nunca tentar fazer um gato de energia se ele não
sabe!

“Eu não vou conseguir sozinho!” balbucia JEFERSON. “O que? Fala mais alto!” diz GLAUBER.
JEFERSON repete a frase balbuciando e GLAUBER lhe dá outro tapa. “Ai! Porque me bateu?”
fala JEFERSON! “Agora cê fala alto né?!?” reclama GLAUBER. Ele diz ao amigo que precisa do
apoio de todos para conseguir resolver as coisas, e pede ajuda para trazer sua irmã de volta.

A policial HOOKS chega a CASA DE JEFERSON. Entra na CASA e mesmo sem energia começa
a vasculhar os cômodos procurando vestígios de ANY.

No CINECLUBE, ADÉLIA sentada. JEFERSON chega com a lente dos óculos trincados e a haste
remendada com “fita heller”, ele se senta. “Essa é a parte que o protagonista pede desculpas e
promete que mudará!” diz JEFERSON. “Você nunca foi o protagonista!” diz ADÉLIA, perguntando
o que teria acontecido com o seu óculos. JEFERSON diz que estragou tudo, e confessa que não
sente inveja pela irmã ter passado na faculdade, na verdade, ele se sente um grande fracassado.
Ele queria poder dar orgulho para a mãe. “Não é porque você é homem que tem responsabilidade
de cuidar de mim e da mamãe!” diz ADÉLIA. JEFERSON diz que é um idiota, e ADÉLIA confirma.
JEFERSON pede desculpas, e pergunta se Adélia pode lhe perdoar e voltar para ajudar a
resolver o monte de problemas que ele criou. “A gente é uma família! Eu tenho que te perdoar!”
fala ADÉLIA ainda de cara fechada.

“Então! Rola um abraço?” pergunta JEFERSON. “Cê sabe que agora não!” diz ADÉLIA. Que se
levanta, olha o relógio, e diz que eles têm pouco tempo pra gravar o filme antes que o dia termine.
Depois olha para o irmão e diz que sempre achou o óculos dele feio! Agora que tá quebrado ficou
pior ainda!”

A policial HOOKS na COZINHA da CASA de JEFERSON olha a movimentação nos fundos da


casa. ANY caminha de um lado para o outro lendo o roteiro. Quando as luzes se acendem e
HOOKS temendo ser vista rapidamente se esconde. JEFERSON chega com ADÉLIA, e
TUBINHO, GLAUBER, SILVIA e ÉDER estão conversando. “Porque você não falou que tava com
problema?” pergunta TUBINHO, reclamando que pôs o celular pra carregar e nada! JEFERSON
percebe que a luz voltou e pergunta o que eles fizeram?

“Como assim? A gente pagou a conta né! Se acha que a gente faz “gato” de energia” diz
TUBINHO. GLAUBER diz que devia ter chamado o tio dele que trabalha como gerente na
companhia de energia, ele combinava com a galera pra segurar alguns dias antes do corte.
SILVIA diz que se o problema fosse dinheiro era pra ele pedir ajuda. JEFERSON envergonhado
diz que era complicado! E promete devolver o dinheiro quando arrumar um emprego!

“Não precisa devolver nada brother! A gente é família!” diz TUBINHO! “Cê só precisa aprender a
falar sobre outras coisas além de cinema!”
ADÉLIA interrompe o momento dizendo que aquele não é momento de moleza, eles têm um filme
para terminar! Todos vibram e vão para as suas posições.

Prontos para começar as filmagens, JEFERSON chega perto de ANY, enquanto SILVIA a
maquia, tentando esconder o machucado em sua testa. JEFERSON fala para ela improvisar as
falas da cena, e ANY se encoraja.

“De tudo que poderia te deixar, cena 55, take 1!” ADÉLIA bate a claquete. “AÇÃO!!!” grita
JEFERSON arrumando os óculos trincados apontando para ANY, que se prepara para a cena.

Na janela da COZINHA, HOOKS olha para os meninos gravando, sem entender nada. Quando no
escuro chuta uma caixa de papelão, e o gato preso na caixa começa a miar.

ANY levanta a marreta pesada nas mãos e fala seu texto: “Viver não é só um momento de
perfeita harmonia e perfeição, de vislumbre visual e estético, viver é uma luta constante pela
contradição, pela imperfeição, e pela não desistência da vida! Por isto, de tudo que poderia te
deixar, te deixo minhas memórias, para que se lembrando delas, eu viva novamente!”

Terminando sua fala, ANY faz uma bela pose. Todos no set ficam chocados, pois, foi a primeira
vez que ela falou o texto inteiro sem errar. JEFERSON feliz grita “corta” em um momento perfeito
do filme. Quando SILVIA se aproxima e diz que o som “não foi!” porque tem um miado de gato
vazando no áudio.
É quando o HOMEM DA CAPA PRETA invade as filmagens e puxa ANY pelo braço. “Que ce tá
fazendo aqui! Minha mãe já despediu você!” fala ANY. Mas o HOMEM DA CAPA diz que vai a
levar embora. GLAUBER fica tão entretido com o momento que não parou de gravar.
É quando a policial BELLINI HOOKS entra em cena. “Pare em nome da lei!” grita HOOKS com a
arma, semelhante à cena do teste de elenco. ÁDÉLIA olha na planilha e diz que não foi essa a
“figurante” escolhida para ser a policial.

O HOMEM DA CAPA PRETA continua a tentar leva-la embora. JEFERSON, entendendo que
ANY está realmente em perigo, e vendo que as coisas estão saindo do controle, entra em cena e
tenta lutar com o HOMEM DA CAPA PRETA, mas ANY diz para ele ir embora, pois não precisa
que um homem a salva, ela é a heroína da história. Enquanto a policial HOOKS armada continua
a pedir para que eles parem. Em briga com o HOMEM DA CAPA PRETA, JEFERSON consegue
soltar ANY e pede para ela correr. O HOMEM DA CAPA saca sua arma e atira para o alto.

HOOKS fica apavorada, mas é surpreendida por um estrondo. A polícia especial ouvindo os tiros,
invade a CASA DE JEFERSON. O SARGENTO GETÚLIO comanda a operação. Quando O
HOMEM DA CAPA vê a polícia começa a atirar. Todos no set se assustam e se jogam ao chão.
JEFERSON mesmo assustado, tenta impedir O HOMEM DA CAPA de fugir. TUBINHO,
percebendo que a coisa é séria decide dar no pé. Os policiais armados começam a atirar. O
HOMEM DA CAPA leva um tiro e empurra JEFERSON, que também leva um tiro e cai no chão.

Seu óculos vermelho cai no chão novamente e se quebra por inteiro desta vez.

A policial HOOKS entra na frente para tentar parar a ação dos policiais, dizendo que tudo não
passava da gravação de um filme. O HOMEM DA CAPA PRETA tenta escapar.

No chão JEFERSON se lembra novamente dos momentos especiais que passou com sua turma,
e se lembra de quando recebeu os óculos de sua mãe.

JEFERSON, com 9 anos, experimenta o seu primeiro óculos. Enquanto ADÉLIA, com 8 anos, ri
sem parar de como ele fica engraçado com aqueles óculos fundo de garrafa. “Porque o óculos é
vermelho mãe? Os óculos dos meus amigos geralmente são pretos!” pergunta o pequeno
JEFERSON. “É porque o jeito que você enxerga o mundo é diferente meu filho! Por isto, seus
óculos tem que ser diferente também”, diz sua mãe em suas lembranças.

De volta a realidade, JEFERSON abre os olhos e vê todos os seus amigos perto dele. ADÉLIA
segura sua mão e pede para que seja forte. “A gente é família, vamos passar por este momento
de mãos dadas!” fala ADÉLIA emocionada. Seus amigos estão tão perto que podem ser vistos
refletidos em seus olhos. Sorrindo, JEFERSON fala lentamente: “Eu não vou morrer gente, vou
virar boas memorias para todos vocês!”

É quando DONA VAL chega segurando as compras, vê os policiais tirando o HOMEM DA CAPA
PRETA de dentro de sua CASA. Assustada, deixa as compras caírem no chão e entra correndo
temendo o que teria acontecido.

Muitos policiais no Morro, carros de polícia, um helicóptero sobrevoa o alto da CASA de


JEFERSON. É quando o despertador estridente toca.

Mais um dia no “Morro do Sinatra”. Na rádio comunitária da quebrada, o locutor anuncia mais um
belo dia de calor na comunidade. O locutor anuncia o rap “Mun-Rá” do grande SABOTAGE, pra
galera começar o dia no hype.

No alto do Morro, a estátua de Frank Sinatra segurando um microfone. Com uma placa de metal
escrito: Aqui o velho Frank cantou New York, New York!
O ‘viewfinder’ de uma câmera profissional se liga, nele vemos o REC de início de gravação,
enquanto se ajusta o foco na repórter que está ao lado da estátua do Frank Sinatra. MARINA, a
repórter, dá a notícia. Ela comenta sobre o desfecho da super produção cinematográfica gravada
no alto do Morro do Sinatra. Uma super produção com diversos figurantes, perseguição de carros
e até um helicóptero que sobrevoou o Morro em cenas de grande aventura.

Na TV de uma CASA, MARINA continua dizendo que tudo foi uma grande estratégia de marketing
para o filme do diretor estreante Jeferson Oliveira. O filme vai ser lançado nos cinemas para
quem gosta de cinema, e na globoplay pra quem é preguiçoso e gosta de assistir filme em casa.

O dono da CASA onde a TV está ligada muda de canal com o controle remoto, pois já está de
saco cheio daquela notícia. Num outro famoso programa de entrevista, TUBINHO vestido de
terno e gravata chique, diz que foi a sua estreia como ator. “Espero que, depois desse filme,
ninguém mais fique na fossa!” diz TUBINHO entre aplausos da plateia. TUBINHO, se declara
produtor do filme, e mostra contrato assinado de ANY pela participação no filme, e acrescenta
que ele já lucrou 1000 vezes mais do que investiu, o que o torna um investidor anjo milionário. Ele
está negociando a versão em chinês do filme.

Numa renomada escola internacional de atores, a “Sinatra´s Hill Film Academy”, ANY dá uma
aula de interpretação de improviso para um grupo de atores veteranos com dificuldade de fazer
cenas de improviso. Um dos alunos pergunta o que aconteceu com o gato que ela sempre
aparecia nos vídeos, ANY diz que sempre odiou gatos, ela tem alergia. Mas mesmo assim
improvisava as cenas por que é super profissional.
A mãe de ANY nos bastidores, VERA FISCHER, com o gato branco no colo, pede para que a
menina não seja tão sincera assim, ela pode trazer impopularidade para sua imagem. A menina
não liga!

Em um ESCRITÓRIO, ADÉLIA é entrevistada para um emprego. ADÉLIA diz que tem muito
orgulho por ser a primeira mulher da família a fazer faculdade. Com certeza através disto poderá
mudar a vida de sua família.

O ENTREVISTADOR pergunta sobre o filme. ADÉLIA diz que foi uma experiência incrível, mas
que está processando TUBINHO por que ele diz que investiu no filme, mas todo mundo trabalhou
de graça. Até a ANY STAR trabalhou sem ganhar nada! O ENTREVISTADOR pergunta se ela
ainda tem o sonho de trabalhar com cinema, mas ela diz que pretende se dedicar a uma profissão
que lhe traga mais retorno financeiro.

Na comunidade do Morro do Sinatra, um grupo de jovens participam de uma oficina de cinema


liderados por SILVIA e ÉDER. Enquanto na TV, MARINA continua a notícia dizendo que o filme
de Jeferson já foi premiado em Cannes, Sundance, e Toronto, e está incentivando diversos
jovens a ter interesse pela profissão do cinema.

No CINECLUBE do Morro, um cartaz do filme de Jeferson, com o nome: “De tudo que poderia te
deixar! Te deixo minhas memórias, para que se lembrando delas, eu viva novamente”.

Quando PIOLHO, o menino que reclamou que o cineclube não exibia filmes de ação, sai
arrastando o chinelo após ter visto o filme, reclamando. “Poxa! Pensei que tinha mais tiroteio! E
onde já se viu, filme de ação com um nome longo desse! Só podia ser filme brasileiro mêmo!”

FIM (FALSO) Após os créditos...

JEFERSON acorda em um hospital ao lado de ANY, ADÉLIA e DONA VAL, que gritam felizes
que ele acordou. Entram no QUARTO do HOSPITAL, SILVIA, ÉDER, CACÁ e GLAUBER. Todos
ficam felizes por JEFERSON estar bem. ANY brava diz pra ele nunca mais dar este susto neles.
Depois pega um óculos vermelhos novo e coloca no rosto de JEFERSON, que recorda que disse
a ANY, que ninguém morre de verdade no cinema. DONA VAL diz que o filme dele é um grande
sucesso, todo mundo tá querendo assistir, estão fazendo até fila nos cinemas do shopping.

GLAUBER pergunta ao amigo: “Agora que você é um sucesso, famoso em todo lugar, o que tu
vai fazer?”

JEFERSON pensa, olha direto para a câmera e fala uma linda frase de efeito de final de filme:
“Vou fazer outro filme, ué!”

FADE OUT

AGORA É O FINAL DE VERDADE

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