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RIO SHOW

Crítica: 'A casa que Jack construiu'


Bonequinho aplaude sentado: 'Tudo é sustentado por muita provocação'

Mario Abbade
15/11/2018 - 03:21
SC - filme A casa que Jack construiu Foto: Christian Geisnaes/Zentropa/divulgação

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Para ser relevante, a arte deveria causar desconforto? Tendo em vista essa
questão, o provocador Lars von Trier leva o público a uma jornada sombria pela
mente de um psicopata. Jack (Matt Dillon, em excelente atuação) conta, em
episódios, assassinatos violentos que cometeu da forma como os vê, como uma
espécie de arte. Seu ouvinte é Virgílio (Bruno Ganz), numa citação da obra “A
divina comédia”, de Dante Alighieri, em que ele guia o autor pelo inferno.

Seguindo uma estrutura parecida com a de “Ninfomaníaca”, seu filme anterior,


Von Trier tem como argamassa as conversas entre Jack e Virgílio, em que
história, sociedade, música e arquitetura, entre outros assuntos, são debatidos
com o objetivo de levantar questões sobre o comportamento humano. Junto,
surgem sequências de embrulhar o estômago pelo excesso de violência. E
escolhas pouco convencionais vêm a propósito de questionar o papel da arte.
Não por acaso, ele usa também imagens de outros filmes seus, num exercício ao
mesmo tempo de narcisismo e de expressão criativa nem sempre compreendida.
Em certos momentos, cenas podem alimentar quem quiser ver misoginia, mas o
desprezo pelas mulheres é desautorizado pelo modo como o filme aborda as
ações e os julgamentos do psicopata. Como quando ele ensaia se fazer de vítima,
enquanto é mostrado praticando um ato brutal contra a verdadeira vítima. Lars
usa essencialmente a linguagem cinematográfica para estabelecer essa
desconstrução: a imagem contradiz, com evidência, o discurso.

Outro ponto para entender a perspectiva do diretor nas cenas mais extremas é a
maneira como ele as trata com uma dose de humor negro. O cineasta já reiterou
em entrevistas que, na Escandinávia (ele nasceu na Dinamarca), esse jeito de
fazer comédia é mais bem compreendido. O que gera desconforto é a forma como
ele faz o espectador rir em situações desagradáveis — para isso, segue um dos
mandamentos do cinema, segundo Hitchcock: manipular o público.

Tudo é sustentado por muita provocação. Como diria o produtor Luiz Carlos
Barreto, “os provocadores têm sempre muita importância em todos os
processos”. Von Trier parece ter isso como ponto de partida, sempre pronto a
instigar, desafiando a algo maior do apenas concordar ou discordar. É possível
ver seu trabalho de duas formas. Como a colunista Hedda Hopper fez por
décadas em Hollywood, destruindo diretores com base em seu gosto pessoal. Ou
como o ensaísta André Bazin pregava: sendo um mediador entre a obra e a
plateia, buscando o que não está imediatamente visível. Ambas são legítimas,
mas, ao final, o veredicto fica a critério do espectador.
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