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O primeiro Entre Facas e Segredos já conseguiu ser um baque para o cinema de suspense por

seu roteiro excelente, elenco incrível, uma ótima cinematografia e um perfeito protagonista
para essa história, Benoit Blanc. Glass Onion consegue carregar a mesma qualidade que seu
antecessor, mas seu principal mérito é como consegue subverter suas próprias regras.

Rian Johnson retorna à cadeira de diretor e roteirista com seu novo filme Glass Onion,
sequência do filme, Entre Facas e Segredos. Ambientado em uma ilha particular de um
bilionário, Benoit Blanc (Daniel Craig) começa a investigar um possível assassinato que
acontecerá e no caminho era desenrolar uma teia de segredos e conspirações.

O primeiro filme já foi uma excelente subversão das histórias de detetives, como as de
Agatha Christie. O que Glass Onion corria o risco, era de acabar caindo em uma fórmula e
que suas revelações não tivessem o mesmo impacto. Como Rian Johnson entendeu essa
possibilidade, ele consegue novamente dar um novo ar para a história e ainda inovar sob ela.

A primeira grande mudança, e uma das melhores, é a mudança completa de cenário.


Deixamos para traz aquele clima de outono do primeiro filme e chegamos com peso no verão
ensolarado da Grécia. E aquela mansão aristocrática é substituída por uma ilha particular
extremamente tecnológica e moderna e com bastante vidro.

Os Disruptores

Esse novo ar é acompanhado de um novo elenco igualmente de peso. Migramos daquela


família quase aristocrática para um grupo de amigos ricos chamados de “Desruptores”, porém
esse grupo mostra-se ser mais um ninho de mentiras e traições. Chefiando este clã, temos o
empresário Miles Bron (Edward Norton), que é praticamente uma paródia dos bilionários do
ramo da tecnologia, que escondem sua falsidade com discursos sobre disrupção.

O resto do elenco que compõe os “Disruptores” conseguem fazer o máximo de seus


personagens. São pessoas que apesar de se considerarem amigas, não pensariam duas vezes
em uma trair a outra. Em cada cena, em cada interação é deixado mais claro o quão
disfuncional aquele grupo se tornou. No fim, mesmo com a revelação de quem ali cometeu o
assassinato, não há nenhuma redenção daqueles personagens, pois eles apenas são movidos
por muito mais interesse próprio do que por qualquer altruísmo.

Essa faceta do personagens, assim como o cenário, estão amarrados no título do filme Glass
Onion (Cebola de Vidro). Apesar de uma cebola de vidro ter várias e várias camadas
cobrindo-a, seu interior ainda é facilmente visto por fora, o que também vale para aquelas
figuras no longa. Mesmo eles se cobrindo de várias camadas, no fim, quem aquelas pessoas
são é facilmente vista por fora, são narcisistas.
A edição no filme segue perfeita com o retorno do Bob Ducsay, que também foi encarregado
dela no primeiro Entre Facas e Segredos. Temos a volta daquelas cenas que se repetem, mas
sob perspectivas diferentes, porém, em Glass Onion ela acaba sendo usada um pouco a mais
do que o necessário.

Em um dado momento há uma revelação que retroativamente ressignifica uma série de


interações entre dois personagens. Então temos uma sequência de flashbacks para
contextualizar tudo. Apesar da revelação ser interessantíssima, os flashbacks acabam sendo
um pouco demorados demais e poderiam ser um pouco menos explicativos.

E o roteiro?

Tratando-se de uma sequência de Entre Facas e Segredos a principal preocupação mantém-


se: e o roteiro? O primeiro foi premiadíssimo por seu enredo, e será que a sequência teria um
a altura?

Glass Onion pode não chegar ao mesmo patamar de roteiro que o primeiro, mas consegue
entregar uma excelente história. O filme não busca repetir a mesma história e piadas, mas sim
trazer um roteiro que é bem convidativo para quem não assistiu o primeiro filme, mas
recompensador para quem já viu o anterior.

Essa segunda aventura de Benoit Blanc consegue destacar-se da primeira e mostrar a


verdadeira versatilidade da direção, do roteiro e da produção, produzindo um filme que
conseguiu subverter as expectativas uma segunda vez, mas sem comprometer a qualidade.
Com certeza, um excelente novo capítulo na franquia do detetive Blanc.

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