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03/10/2020
Aliás, o próprio núcleo do Brandão é algo que podia ser mais explorado. Devido a
morte de Janete no final do episódio 7 e a morte do próprio Brandão no episódio
seguinte, fica claro que nenhum desses núcleos vão ser retomados na próxima
temporada, então tudo precisava ser explicado nesses oito episódios. Mas, não é o que
acontece, já que mal sabemos qual o modus operandi de Brandão ou o motivo pelo qual
ele fazia aquela espécie de ritual ao lado de sua avó. Em vez de dedicar quase metade da
sua temporada a uma subtrama que nem precisava ser tão esticada assim, a série podia
ter se aprofundado mais nessa questão. Porém, esse não chega a ser um erro tão grave.
Devida à estrutura da série ser praticamente desenhada para ser assistida de uma vez só,
esses são erros que relevamos devido a experiência de maratonar. Eu mesmo só me
toquei desses problemas ao refletir um pouco sobre a história inteira, quando já tinha
todos os pedaços dela em mãos. Talvez isso seja pelo fato de termos a esperança de que
certos mistérios serão explicados em episódios seguintes, mas as respostas não chegam
e ficamos de mãos abanando. Não chega a ser nada extremamente péssimo, mas pra
quem gosta de saber todos os detalhes de determinada trama pode incomodar sim.
Apesar de tudo isso, “Bom Dia, Verônica” é um excelente show policial. Existe
algumas invencionices aqui e acolá, mas nada que já não estejamos acostumados após
assistir diversas séries americanas. O roteiro é competente o suficiente para sempre estar
com algo em cena que nos chame a atenção. Literalmente, existe três tramas que correm
em paralelo. A primeira é a do Golpista e serve para apresentar os personagens e o
universo do show. A segunda é a de Brandão e Janete, que domina 50% do tempo de
tela e a última é a da máfia policial que é o gancho para as futuras temporadas que
virão.
Não vou mentir quando digo que o maior pecado da série seja o seu último episódio
focar mais na trama da máfia policial ao invés de encerrar a trama de Brandão e Janete
de maneira melhor. Quando ela morre incendiada no final do episódio 7, também morre
certa parte da trama, já que o 8 se concentra exclusivamente em Verônica saindo da
polícia para se tornar uma espécie de justiceira / espiã / assassina. Claro que a atuação
da Tainá é o que vende toda essa situação para o público, mas eu por exemplo fiquei
mais interessado no serial killer interpretado por Eduardo Moscovis que em saber mais
sobre a máfia policial.
Para finalizar, a série tem alguns momentos bem violentos. Ela não tem medo de apostar
na violência gráfica, com ganchos sendo enfiados na pele humana ao melhor estilo O
Massacre da Serra Elétrica e até mesmo corpos sendo incendiados de maneira super
realista. Aliás, foi muita coragem da Netflix de mostrar o corpo carbonizado de Janete
no último episódio. No entanto, nada chega a ser tão chocante ou assustador a ponto de
fazer o telespectador virar o rosto da tela. Graças a pouca violência, o show não se torna
extremamente pesado, conseguindo assim manter sua estrutura de maratona intacta.
Em suma, “Bom Dia, Verônica” é a prova de que livros ruins podem gerar séries boas.
Além de que é um grande avanço para o audiovisual nacional, porque mostra que a
Netflix está acertando ao criar shows cada vez mais naturais e competentes. Pode não
ser aquela série que vai mudar a indústria, mas é inegável que ao longo de seus 8
episódios o show escrito por Raphael Montes e Ilana Casoy cumpre o que o streaming
promete: Deixar o espectador vidrado na história.
Se teremos uma segunda temporada, isso só o tempo vai dizer. Eu espero que sim,
porque um show desses merece ser renovado devido ao enorme gancho deixado em seu
final. Ver Tainá Müller como uma versão feminina do Justiceiro é algo que eu fico
curioso para assistir e acho que ela vai tirar esse desafio de letra.
Já fico animado para mais rostos conhecidos terem a oportunidade de brilhar em papéis
diferenciados como o de Eduardo Moscovis e Camila Morgado, e além disso… Pode ser
que o show bombe internacionalmente a ponto de chamar atenção pro nosso mercado
nacional, vai saber? Em tempos que nossa indústria está tão mal das pernas, “Bom Dia,
Verônica” é um respiro muito mais que necessário. E com ele, temos uma certa dose de
alívio ao saber que ainda podemos produzir obras muito boas.