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Análise da estrutura - Dramaturgia - Elisa Victor

A 3ª Temporada de Atlanta (2022) possui 10 episódios, lançados recentemente, irei analisar


os três primeiros. A 3ª temporada possui estrutura de dramaturgia que se modifica no 9ª e
no 10ª episódio. Antes de chegar nesses dois episódios diferentes, iremos abordar cada
episódio da série para compreender como se dá a estrutura. O padrão de análise é
aristotélico e possui o arco dramático como ponto de partida. No episódio “3 Bofetadas”
com 37 minutos é o primeiro capítulo de uma nova temporada. O arco dramático está
descontínuo no sentido de que os personagens (Paper boi, Earn, Vanessa e Darius) estão
em viagem para uma turnê na europa. É como se a narrativa suspendesse o tempo, houve
um lapso entre a segunda e terceira temporada cuja continuidade é baseada na
permanência da personalidade de cada um dos personagens, ou seja, não se muda muito
como cada um age.Trazendo outras narrativas para compor, nesse episódio dois homens
estão num barco pescando, meio sem sentido para o espectador o clima é de desconfiança
e peso, entre eles dentro de um barco à noite, o tema é sobre pessoas pretas e a maldição
do lugar, logo depois descobrimos que é na verdade um sonho de um menino na escola, um
pouco destoante o tema da série vem à tona para que os outros episódios faça sentido na
narrativa.

Do sonho do menino para o naturalismo-realista, esse episódio mostra uma certa


moralidade na falha trágica que é a indisciplina do menino na escola - a partir desse nó
dramático que é uma criança preta na escola branca, o episódio começa a construir seu
arco, o nó é o menino que acha ruim sua família, sendo assim, ele é levado à adoção, o
tempo todo Atlanta toma uma lição para o espectador, se sua família preta é ruim a da
adoção branca vai ser pior. Há uma consequência dessa falha mais ao final do menino
tensiona a verossimilhança e retorna à sua casa de maneira heróica, quase a parábola do
filho pródigo em versão infantil. Uma narrativa que para o gancho do primeiro episódio os
espectadores se enchem de expectativa de como está a vida dos personagens principais.

Atlanta é uma série que personagens, lugares e história que estão em um rizoma sobre o
arco dramático que é discutir a vida de pessoas pretas a partir de uma ironia sarcástica
apesar da série ser intitulada como comédia, o drama é muito mais acentuado numa
localização racial e econômica do que uma simples piada.A cada episódio a construção é
diferente. No primeiro, a história de um menino, que nunca apareceu nas outras
temporadas, como se fosse uma série de contos pessimistas. Já no segundo episódio
“Sinterklaas está chegando” temos os personagens principais da série retomando a
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narrativa da primeira temporada, porém nesse momento a carreira consolidada de Paper


Boi estabiliza a psiquê dos personagens e agora parece que só o gozar lhes cabem. Nesse
momento os personagens estão na europa, e Vanessa que não aparece a muitos episódios
atrás, viaja para encontrar Earn, o que parece ser um nó mal resolvido na segunda
temporada, o romance deles é retomado de um formato de amizade.Os personagens
principais estão vivendo uma vida financeira estável somente Vanessa está nessa recaída
financeira, o por isso da viagem e da mudança de território, uma justificativa para Vanessa
adentrar a essa 3 temporada.Atlanta tem essa característica de narrativa descontínua com
nós invisíveis e quase surreais que tentam tratar a ficção como uma realidade
superestimada. O leitmotiv da série e tudo aquilo que remeta ao racismo e ao capitalismo,
mais há uma diferença, eles estão todos na europa e no segundo episódio a
verossimilhança tensionada para que Vanessa e Dairus se aproximem e estreitam laços de
amizades e retome a memória do espectador em relação a 2 temporada. O nó é o
envolvimento espontâneo de Vanessa e Darius em um enterro maluco de pessoas de
maioria branca até o encontro dela com Earn na porta do quarto de hotel. A curvatura é
muito acentuada pela tensão. Assim, o leitmotiv é um símbolo abstrato nas coisas, lugares,
sociedade, comportamentos, sentimentos e o próprio cotidiano. Os arcos apesar de serem
mais concretos nesse episódio, a falha parte muito mais para uma espontaneidade dos
personagens do que o mundo externo, por isso o olhar está muito mais pactuado na mais
absurdas das coisas que se pode inventar e vocês conseguem acreditar. O que me parece
até aqui, Atlanta pega de surpresa com esse jogo do leitmotiv em vários lugares na narrativa
surpresa, não antecipando quase que sempre o que pode acontecer, a série cria uma
fórmula de narrativa que se apega ao sentimento de desconfiança, imaginação e
expectativas. Outra observação é o alívio dramático para com os personagens, aqui depois
da subida eles parecem não se afetar pelas peripécias o que leva também ao espectador ter
empatia pela história. O episódio 3 “ O velho e a árvore” o que chama atenção são os
títulos dos episódios e os comentários do roteirista em cada um, que remetem ao que vai
acontecer de forma irônica.

Nesse, os três estão juntos, o que demonstra uma certa união e estabilidade, porém é
somente um contra peso da situação cuja parábola começa a subir: eles estão procurando
um investidor para Paper Boi, esse é o foco da narrativa, sua confiança, auto-estima e
amizade, são valores para amigos o que liga a nessa união. O velho é um ladrão de jogo de
poker e a árvore é o símbolo do delírio da branquitude e do mercado da música. A parábola
aumenta quando Paper Boi demonstra sua personalidade e tenta com uma motosserra
cortar a árvore, depois de viver uma aventura e emoções, os quatro se firmam na amizade e
confiança. Em resumo os episódios 4 “A grande Vingança”, o 5 “Ataque de câncer”, 6
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“Moda branca”, 7 “Trini 2 De Bone e 8 New Jazz são ainda sobre o quarteto de
personagens principais, entre problemas em fazer um show, ao celular roubado por um fã
branquelo e doido, a mudanã de como Eanr e Vanessa estão lidando com o fim do romance
a curva declina mais uma vez. A partir daqui a série suspende a narrativa principal para os
episódios 9 “Wigga rico, wigga pobre” e 10 “Tarrare”. Comentário na descrição da série
já carrega a narrativa para o espectador “Episódio em preto e branco…” Mudou a chave dos
arcos, nesse episódio tudo muda, há marcadamente um coadjuvante (Aaron) mais também
um conjunto de ações e acontecimentos que partem de uma lei, cuja população negra
estadunidense receberá uma indenização das família brancas das quais trabalharam e ou
pertenciam.Esse episódio começa até os 23 primeiros minutos é somente sobre a vida de
um menino branco (Aaron) a partir da mudança a vida dos brancos na escola fica difícil de
entrar numa Universidade.No meio disso, o menino branco (Aaron) se sente negro e leva a
curva a subir para uma frutação máxima que é querer a bolsa por se sentir negro e ter um
pai negro.O delírio é o leitmotiv, a narrativa escolhe um estudante negro (Félix) que tem
exatamente o mesmo plano de tocar fogo na escola que o Aaron, a justificativa é que ele é
nigeriano e não pode herdar a lei, porém a curva sobe mais quando o Félix ganha a bolsa e
o Aaron é preso.O desenlace de Aaron ser preso, decai quando se tem um lapso temporal e
ele retorna da penitenciária com comportamentos e vestes de pessoas pretas (uma
apropriação) e mais maduro, ou seja, o tempo influenciou a mudança de personalidade.

Nos últimos 5 minutos desse episódio termina no desenlace ao engraçado através do


personagem que ao mudar e tentar ser mais negro, quando ele ainda tinha dúvidas, agora
ele se acha, quebrar a quarta parede igual ao personagem da série de comédia negra “Um
maluco no Pedaço”1 apresentado por Will Smith.

Já, “Tarrare” tem três personagens mulheres negras em Paris, a coadjuvante (Candice) ela
vai gastar com as amigas (duas primas) ela vai à europa para fazer xixi em um francês,
negócios à parte, a Candice encontra sua amiga ex-striper na padaria, ao reconhecê-la Van
adentram em vários altos e baixos, de nós que tensionam a verossimilhança o tempo todo
sobre a cultura/delírio dos europeus. Interessante notar que a amiga (Van) que seria uma
adjuvante se comporta como um herói perdido e descompensado pela sociedade da qual
ela convive, que é a alta sociedade monarca branca europeia. O que no episódio anterior o
personagem (Aaron) muda seu caráter para se parecer mais preto, a amiga (Van) nesse
muda sua roupa, maquiagem e seu cabelo para passar despercebida pelo racismo, o que
afirma, que é diferente do menino mimado branco, ou seja, os dois últimos episódios estão
em oposição. O nó é dramático no estilo de narrativas de mulheres negras. A coadjuvante

1 The Fresh Prince of Bel-Air. Jeff Pollack, Susan Borowitz - 1990.


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(Candice) trás um alívio dramático e a adjuvante (Van), ela torna-se herói por falha, ao se
afastar do que ela realmente é, uma mulher negra chega no seu limite e para fugir de uma
depressão, como gancho dramático Van se mostra como ela realmente é, sem peruca, com
toda a sua beleza o que cria uma expectativa na empatia provocando cartazes através da
amizade, escuta e rede de apoio. Ela retorna às suas origens e não declina a curva
narrativa, a expectativa é para os últimos 5 minutos, o episódio corta, um jump cut com
lapso de tempo uma das primas que cresce a curva mais uma vez, através da empatia no
fim da história com o humor hilariante.

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