Continuando sua trilogia de maior sucesso, Kiera Cass nos traz "A Elite", o segundo volume que conta a próxima fase do relacionamento de America e Maxon. Em Elite continuamos no processo de seleção por meio do qual o príncipe objetiva escolher sua noiva, todavia ocorre o encurtamento do processo. Já no final do último livro (A Seleção), Maxon opta por reduzir o grupo de garotas com um corte bruto atingindo assim o número 6, elas são as únicas ainda no páreo disputando o coração do futuro rei. Apesar de já ter certeza de sua escolha, Maxon segue com o processo preocupado com a insegurança e indecisão de America. Tudo se torna ainda mais urgente quando os ataques rebeldes ganham força e os grupos de oposição à monarquia se articulam de modo a atacar o Palácio repetidas vezes. É urgente que o processo termine para que o país possa se focar no que realmente importa e essa urgência dialoga também com o leitor. É insuportável viver mais 200 páginas de indecisão com a nossa protagonista, principalmente quando questões tão tensas como massacres, revoltas, açoitamentos, traições e outras são postas em paralelo com o dilema da garota que não quer a coroa. Em todos os momentos a mesma dinâmica se repete: America está com Maxon e seus sentimentos são fortes e intensos e ela percebe isso, quando se afasta ela pensa e se assusta e lembra que com ele vêm as responsabilidades da monarquia, o novo, o inesperado, o difícil e então lá está Aspen, o passado, o conhecido, o amor fácil... E a história se repete, de novo e de novo. Ela encontra aconchego em um velho amigo, mas impede a si mesma e seu relacionamento de avançarem, falta profundidade significativa nos dilemas dessa protagonista. É discrepante ver a garota que chegou ao castelo ensinando ao príncipe sobre realidades difíceis do povo estar tão alheia a tudo que acontece em volta imersa em frivolidades de namoro e conquista. Os joguinhos de sedução, a confusão adolescente, as brigas sem sentido, tudo é bobo demais e em comparação com a suposta carga dramática que a autora busca trazer não faz nenhum sentido. Por falar em drama, é nesse livro que ocorre um dos momentos mais dramáticos da trama: o açoitamento de Marlee e Carter. Marlee, uma das selecionadas, a favorita do público, e melhor amiga de America se apaixona por Carter, um guarda do Palácio e ambos são descobertos e acusados de traição, afinal todas as selecionadas são propriedade do príncipe (sim, é absurdo). Quando relevado o romance uma grande comoção toma o Palácio pois é organizada uma cerimônia pública de punição que leva nossa protagonista a uma verdadeira efusão emotiva, do choro, aos gritos, ao nojo, a dor e de volta às lágrimas e então raiva e frustração, decepção e desespero, tudo colapsando acima de sua cabeça. Aquele era o mundo ao qual ela estava se juntando, aquelas eram as leis que pessoas como eles estabeleciam e executavam, e tudo serviu para afastar ainda mais America da coroa. É com certeza o ápice do drama e de um tema pesado sendo trabalhado de maneira a de fato comover e impactar o leitor, mas mais uma vez é distante demais, a suspensão da descrença se instala com reações dignas de uma fanfic por parte da protagonista, ela se joga em meio a situação, tenta correr e gritar, impedir o acontecimento em meio ao fato, é absolutamente caótico e por mais que o leitor possa entender suas motivações claras é impossível acatar suas atitudes como as de uma personagem real, falta verossimilhança, faltam as camadas e nuances de uma realidade encrustada onde não se pode fazer o que quer, falta dimensão e por isso fica caricato e perde o impacto. Esse livro é uma grande caricatura. Ora de sedução com jogos de romance, ora de tragédia com dramalhões desproporcionais e tudo segue uma grande confusão, parece que histórias soltas correm em paralelo fazendo força para se conectar, não ocorre de maneira sutil e fluida, parece forçado encaixar as questões políticas em meio a um romance bobo e vice-versa, deixando os tons de ambas as narrativas confusas, é sério, porém cômico, bobo, porém trágico, feliz, mas triste.... Confunde o leitor, quando não o frustra.