Você está na página 1de 2

A Elite

Resenha por Carolina Cardoso


Continuando sua trilogia de maior sucesso, Kiera Cass nos traz "A Elite", o
segundo volume que conta a próxima fase do relacionamento de America e
Maxon. Em Elite continuamos no processo de seleção por meio do qual o
príncipe objetiva escolher sua noiva, todavia ocorre o encurtamento do
processo. Já no final do último livro (A Seleção), Maxon opta por reduzir o
grupo de garotas com um corte bruto atingindo assim o número 6, elas são as
únicas ainda no páreo disputando o coração do futuro rei. Apesar de já ter
certeza de sua escolha, Maxon segue com o processo preocupado com a
insegurança e indecisão de America. Tudo se torna ainda mais urgente quando
os ataques rebeldes ganham força e os grupos de oposição à monarquia se
articulam de modo a atacar o Palácio repetidas vezes. É urgente que o
processo termine para que o país possa se focar no que realmente importa e
essa urgência dialoga também com o leitor. É insuportável viver mais 200
páginas de indecisão com a nossa protagonista, principalmente quando
questões tão tensas como massacres, revoltas, açoitamentos, traições e outras
são postas em paralelo com o dilema da garota que não quer a coroa.
Em todos os momentos a mesma dinâmica se repete: America está com
Maxon e seus sentimentos são fortes e intensos e ela percebe isso, quando se
afasta ela pensa e se assusta e lembra que com ele vêm as responsabilidades
da monarquia, o novo, o inesperado, o difícil e então lá está Aspen, o passado,
o conhecido, o amor fácil... E a história se repete, de novo e de novo. Ela
encontra aconchego em um velho amigo, mas impede a si mesma e seu
relacionamento de avançarem, falta profundidade significativa nos dilemas
dessa protagonista. É discrepante ver a garota que chegou ao castelo
ensinando ao príncipe sobre realidades difíceis do povo estar tão alheia a tudo
que acontece em volta imersa em frivolidades de namoro e conquista. Os
joguinhos de sedução, a confusão adolescente, as brigas sem sentido, tudo é
bobo demais e em comparação com a suposta carga dramática que a autora
busca trazer não faz nenhum sentido.
Por falar em drama, é nesse livro que ocorre um dos momentos mais
dramáticos da trama: o açoitamento de Marlee e Carter. Marlee, uma das
selecionadas, a favorita do público, e melhor amiga de America se apaixona
por Carter, um guarda do Palácio e ambos são descobertos e acusados de
traição, afinal todas as selecionadas são propriedade do príncipe (sim, é
absurdo). Quando relevado o romance uma grande comoção toma o Palácio
pois é organizada uma cerimônia pública de punição que leva nossa
protagonista a uma verdadeira efusão emotiva, do choro, aos gritos, ao nojo, a
dor e de volta às lágrimas e então raiva e frustração, decepção e desespero,
tudo colapsando acima de sua cabeça. Aquele era o mundo ao qual ela estava
se juntando, aquelas eram as leis que pessoas como eles estabeleciam e
executavam, e tudo serviu para afastar ainda mais America da coroa. É com
certeza o ápice do drama e de um tema pesado sendo trabalhado de maneira a
de fato comover e impactar o leitor, mas mais uma vez é distante demais, a
suspensão da descrença se instala com reações dignas de uma fanfic por parte
da protagonista, ela se joga em meio a situação, tenta correr e gritar, impedir o
acontecimento em meio ao fato, é absolutamente caótico e por mais que o
leitor possa entender suas motivações claras é impossível acatar suas atitudes
como as de uma personagem real, falta verossimilhança, faltam as camadas e
nuances de uma realidade encrustada onde não se pode fazer o que quer, falta
dimensão e por isso fica caricato e perde o impacto.
Esse livro é uma grande caricatura. Ora de sedução com jogos de romance,
ora de tragédia com dramalhões desproporcionais e tudo segue uma grande
confusão, parece que histórias soltas correm em paralelo fazendo força para se
conectar, não ocorre de maneira sutil e fluida, parece forçado encaixar as
questões políticas em meio a um romance bobo e vice-versa, deixando os tons
de ambas as narrativas confusas, é sério, porém cômico, bobo, porém trágico,
feliz, mas triste.... Confunde o leitor, quando não o frustra.

Você também pode gostar