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A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

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A Sedução do Príncipe
(His Shotgun Proposal)
Karen Toller Whittenburg

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UMA PROPOSTA REAL


Um turbilhão de lembranças ardentes inquietava o coração de
Mac Coleman. A mulher sedutora que passara uma noite inesquecível
em seus braços e depois desaparecera, povoando os seus sonhos
desde então, subitamente estava de volta... hospedada em sua casa,
sem um centavo no bolso, esperando um filho e mais linda do que
nunca! A honra exigia que o rico criador de cavalos oferecesse
abrigo e proteção a Abbie. E a família estava por perto, insistindo
para que Mac desse a ela seu sobrenome.
Ninguém poderia forçar aquele rebelde príncipe texano a
fazer coisa alguma, muito menos se casar. Mas Mac tomaria Abbie
como sua noiva, pois sua alma e seu coração ansiavam por isso.
Entretanto... como Abbie interpretaria seu pedido de casamento?
Como uma ordem... ou como uma promessa de amor eterno?
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

CAPÍTULO I

Os passageiros deixavam o ambiente refrigerado do aeroporto


de Austin, Texas, para enfrentarem o calor abrasador da rua. Mac
Coleman mantinha o chapéu baixo sobre os olhos, buscando alguma
proteção contra o sol vespertino. Paciente, permanecia encostado
na Silverado preta enquanto aguardava pela pessoa que deveria
transportar. Não que tivesse alguma esperança de reconhecê-la.
Fora intimado a ir buscar Abigail Jones porque iria mesmo tratar de
negócios na cidade no dia de sua chegada, e porque sua prima
Jéssica tinha o hábito irritante de ignorar argumentos contrários
aos seus interesses. Seu último esforço para escapar da tarefa de
motorista havia sido inutilizado com uma resposta simples e direta.
— Não se preocupe, Mac — Jéssica dissera. — Abbie o
encontrará. Disse a ela para procurar por um caubói carrancudo ao
lado de uma caminhonete preta.
Não era o único homem a usar um Stetson na área de
desembarque de passageiros, nem sua caminhonete era a única com
as características descritas pela prima, mas, se ela aparecesse,
estaria esperando. E se Abigail Jones não aparecesse depois de um
período razoável, voltaria ao rancho e daria o assunto por
encerrado. Hóspedes e visitantes não faziam parte de suas
responsabilidades no Desert Rose, e pretendia continuar assim.
Uma loura exuberante passou por ele exibindo uma porção de
pernas e cabelos mais do que suficiente para atrair sua atenção.
Mac notou o andar insinuante e o sorriso luminoso e tocou a aba do
chapéu, torcendo para que aquela fosse sua passageira.
A loura mudou de direção e aproximou-se sorridente, puxando
os óculos escuros até a ponta do nariz para examiná-lo sem nenhuma
reserva. Podia quase ouvir o ruído de sua máquina de calcular
imaginária quando os olhos se depararam com o logotipo do rancho
impresso na porta da caminhonete.
— Sabe onde posso encontrar a van do Four Seasons? — a
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mulher perguntou com voz rouca, enfatizando o nome do hotel.


Tudo bem, aquela não era Abigail Jones, ou ela não estaria
pedindo informações sobre um hotel em Austin. Não tinha
importância. As fêmeas de quatro patas ocupariam todo seu tempo
durante aquele verão, e não precisava de outras distrações.
— Não — respondeu sem pesar. — Lamento, mas não posso
ajudá-la.
— Bem, creio que terei de pegar um táxi para o hotel. Isto é, a
menos que receba uma oferta... melhor.
Loura, alta, esguia e bronzeada, a jovem era o tipo de mulher
que Mac sempre havia admirado. Gostaria de estar interessado, mas
a verdade era que não se sentia tentado sequer a dar uma olhada
mais longa.
— Espero que receba essa oferta — ele disse —, porque está
muito longe do centro de Austin.
A loura sorriu, certa de que teria o caubói ao seu dispor com
um pouco mais de esforço e persistência. As mulheres, Mac
descobrira ao longo de seus trinta anos de vida, podiam ser tão
previsíveis quanto um temporal de verão e igualmente perigosas.
— E casado?
A questão o fez sorrir.
— Não e nunca serei.
— Realmente? Gosto de homens de opinião firme.- Em outro
momento, em outras circunstâncias, Mac teria aceito a oferta
direta da loura bronzeada. Sabia que a teria levado ao hotel e
ficado para o café da manhã. Mas, nos últimos meses, estivera
obcecado pela lembrança de uma mulher misteriosa que o seduzira e
abandonara em uma única e incrível noite. Uma fada baixinha de
cabelos claros e olhos azuis que continuava a interferir em
oportunidades como aquela com regularidade irritante. Uma garota
evasiva cujo nome não fora capaz de descobrir, cujo ato de
desaparecimento ainda era tão inexplicável para ele quanto sua
aparição em seu quarto de hotel naquela noite do inverno anterior, e
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cujo riso rouco ecoara em todos os seus sonhos desde então.


A loura tirou os óculos escuros e mordeu a ponta da haste
plástica.
— Tudo no Texas é quente assim? — indagou, sorrindo de
maneira sugestiva.
Mac retribuiu o sorriso reconhecendo seu esforço, mesmo
sabendo que era inútil.
— Oh, não, moça. Algumas coisas no Texas são ainda mais
quentes.

Abbie arrastou a mala vermelha para fora da esteira rolante e


deixou-a cair sobre as outras duas que já resgatara, uma de
tamanho médio em imitação de couro preto e outra maior em lona
verde desbotada. Virando-se, esperou pela última peça, uma mala de
tweed marrom com listras cinza. As listras eram fita adesiva
prateada, cortesia de um de seus irmãos por ocasião de sua
formatura em dezembro. Possuía um conjunto de malas em casa. E
um conjunto de irmãos, também. Eram quatro de cada. Mas, para
aquela viagem, fora forçada a contentar-se com malas que tomara
emprestadas e que, por isso mesmo, eram diferentes. Não desejara
revelar aos familiares que o tempo que passaria longe seria muito
maior do que os levara a acreditar. A verdade era que fizera
verdadeiros malabarismos para chegar até ali sem que eles
descobrissem seu paradeiro ou os motivos que a levavam a
esconder-se.
Era embaraçoso pensar que passara da graduação em dezembro
para a gestação em maio, perdendo o emprego perfeito entre os
dois momentos. Tivera o mundo a seus pés; uma posição de prestígio
como professora, um futuro brilhante e promissor, a independência
ao alcance das mãos. Mas a queda fora rápida e humilhante, mesmo
que poucas pessoas soubessem dela até aquele instante. Logo todos
saberiam. Supunha que devia ter ido direto para casa depois de ter
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sido demitida da Academia para Moças da Srta. Amélia, mas não se


sentira capaz de encarar os pais e revelar toda a verdade. E ainda
não tinha coragem para isso.
E se os irmãos soubessem... Não queria nem pensar. Se
desconfiassem da encrenca em que estava metida, os quatro
surgiriam como anjos vingadores para lutarem por sua honra e
protegerem a menina indefesa contra todos os perigos, mesmo que
para isso tivessem de sufocá-la. Sabia que Tyler, Jaz, Brad e Quinn
eram bem-intencionados, mas, se não os enfrentasse, nunca poderia
tomar uma única decisão sozinha. Amava os quatro irmãos com toda
a força do coração, e por isso odiava ter de enganá-los a fim de ter
vida própria, mas fora a única solução que encontrara para escapar
das boas intenções, da proteção exagerada, dos cuidados
sufocantes.
E no instante em que conseguira proclamar a própria
independência e dar o primeiro passo no caminho da construção de
uma vida própria, acabara se metendo em uma tremenda confusão.
Mas, quanto mais tempo mantivesse a família longe de seu dilema,
maior seria a chance de manter a mente aberta à reflexão. Havia
algumas decisões que uma mulher devia tomar sozinha, e não era
egoísmo querer paz e tranqüilidade enquanto pensava nelas.
Se para isso tinha de viajar com malhas velhas e emprestadas e
aceitar a generosidade de sua grande amiga de faculdade, Jéssica
Coleman, que fosse. Ainda não tinha planos traçados, mas depois de
uma ou duas semanas no Desert Rose saberia o que fazer e como,
exatamente, contaria ao pai, à mãe e aos quatro irmãos sobre seu
inesperado e constrangedor dilema.
Eles não matariam o homem que a engravidara, porque nunca
diria a eles quem era esse homem. Não porque ele merecesse sua
proteção, mas porque também desconhecia sua identidade. Pensar
naquela noite de paixão ardente fazia seu corpo tremer de desejo e
humilhação. Nunca agira de forma tão impulsiva e estúpida antes. E
nunca mais cometeria um ato tão irresponsável. Infelizmente, uma
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vez havia sido suficiente. Uma chance em um milhão, e estava


grávida.
Se Jéssica não a houvesse convidado para trabalhar no
rancho...
Mas Jéssica era uma boa amiga e fizera a proposta assim que
ouvira o relato de Abbie sobre seus problemas.
— Será maravilhoso poder contar com sua ajuda no escritório
— ela dissera.
Mas Abbie sabia quem era a maior beneficiada naquele arranjo,
e amava ainda mais a amiga por ela ter fingido o contrário. Afinal,
que trabalho burocrático podia existir em um rancho?
Especialmente tarefas que ela saberia desempenhar. Era uma
excelente professora, um gênio da matemática e uma especialista
em formulários de impostos, mas não sabia nada sobre feno, alfafa
e cavalos. Sabia que os Coleman criavam e treinavam cavalos árabes
em sua propriedade, mas não saberia distinguir tais animais de
outras raças.
Além de ser ignorante no ramo, não cabia mais nas calça jeans e
nunca calçara um par de botas de caubói. Mas não tinha outro lugar
para onde ir, exceto a casa dos pais em Little Rock, e como essa era
uma opção descartada, empurraria o carrinho com as malas para
fora do aeroporto e tentaria encontrar o caubói carrancudo em uma
caminhonete preta.
Abbie conseguiu equilibrar as malas até passar pelo bloqueio
eletrônico, mas uma elevação no piso provocou um solavanco no
carrinho que derrubou a pilha precária. Irritada, ela recolheu todas
as malas e jogou-as sobre o carrinho, notando que uma delas, aquela
adornada por fitas adesivas, perdera parte de um fecho. Afinal,
onde estavam os homens quando precisava de ajuda?
Ora, mas não precisava deles. Não havia sido por isso que
decidira embarcar em um avião para o Texas? Por isso dissera aos
pais que passaria o verão lecionando matemática em um
acampamento nas Montanhas Pocono. Estava ali a fim de escapar
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dos homens de sua vida. Todos eles. O único que gostaria de ver
naquele momento era o desconhecido que a colocara naquela
situação, um homem moreno e alto com um sorriso capaz de fazer
tremer seus joelhos. E a única razão pela qual desejava vê-lo era
para encará-lo e dizer que não precisava de nada dele. Exceto,
talvez, um novo fecho para a mala.
Tomando cuidado para não derrubar novamente a pilha de
bagagens, Abbie passou pela porta automática do aeroporto e olhou
para os dois lados tentando localizar uma caminhonete preta e um
caubói carrancudo, mas o movimento era intenso, como o tráfego
além da calçada. Ainda estava procurando por alguém parecido com
a descrição oferecida por Jessie quando sentiu o coração parar de
bater. Ele. Não podia ver seu rosto com clareza por causa do
chapéu que o encobria, mas a reação física que acabara de
experimentar era óbvia. Era ele! O estranho misterioso. O homem
de seus sonhos. O pai de seu bebê.
Que maravilha! Com tantas outras ocasiões para encontrá-lo,
tinha de ser justamente naquele momento? Vestia roupas largas e
amarrotadas depois da longa viagem, os cabelos estavam presos por
um elástico, e para completar usava os óculos de lentes espessas no
lugar das lentes de contato. Sentia-se sexy e atraente como um
prato com restos de mingau de aveia!
Por outro lado, se não o encarasse e exigisse tudo que uma
mulher grávida e falida deve exigir de um homem cujo nome não
sabe, mas cujo filho está esperando, não teria outra oportunidade.
O problema era que não se sentia disposta a suportar a humilhação.
E ele conversava animado com uma loura bronzeada de corpo esguio
e curvilíneo, uma jovem exuberante que não exibia um ventre
proeminente como o dela.
Perfeito! Caminharia até ele com toda a graça de uma baleia e
esperaria que ele a comparasse àquela deusa dourada de sorriso
hipnótico. Por outro lado, reclamar seus direitos e expor sua
verdadeira condição prejudicaria o flerte, e esse era um castigo
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que ele bem merecia. Olá, poderia dizer sorrindo. Lembra-se de


mim? Esteve na minha festa de formatura em dezembro. E bom vê-
lo outra vez. Que nome acha que devemos dar ao nosso filho? Oh,
sim! Isso esfriaria o ardor naqueles olhos negros como as noites da
Arábia.
Arábia. Árabes.
Agora estava sendo tola. Os Coleman criavam cavalos árabes, e
o homem misterioso tinha traços daquela etnia, mas isso não era
motivo para estabelecer uma ligação entre ele e os Coleman. Não
tinha bases racionais para chegar a tal conclusão. Voltaria ao
aeroporto, passaria cinco minutos no ambiente refrigerado, e
certamente acabaria percebendo que ele nem era parecido com o
homem com quem passara aquela noite. Depois encontraria o primo
de Jéssica, ele a levaria para o rancho, e tudo acabaria bem.
O caubói olhou em sua direção. Os olhos passaram por ela e
voltaram numa reação assustada de reconhecimento. Abbie tentou
mover-se depressa. Um pé empurrou a base do carrinho em uma
tentativa desesperada de levá-lo de volta ao saguão, mas as rodas
de trás ficaram presas no trilho da porta automática, e as malas
despencaram em uma avalanche vergonhosa. Aquela com as fitas
adesivas e o fecho quebrado se abriu ao chocar-se contra o chão,
espalhando boa parte de sua vida íntima pela calçada. Ela se
ajoelhou e tentou recuperar as peças íntimas do domínio público,
lançando olhares desesperados para o estranho que já se afastava
da loura exuberante e da caminhonete preta para caminhar em sua
direção.
Caminhonete preta...
— Você? — ele perguntou sem rodeios.
Abbie jogou as peças na mala, apesar do tremor que sacudia
suas mãos.
— Você quem? — devolveu com tom aflito. — Deve estar me
confundindo com outra pessoa. — Não podia encará-lo, ou ele veria o
reconhecimento em seus olhos. — Não preciso de ajuda. Meu...
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namorado já deve estar chegando.


— Namorado?
Devia haver um espaço especial no inferno reservado para os
mentirosos, mas Abbie esperava ser perdoada por sua
incompetência naquele campo. Namorado? De onde havia tirado uma
idéia tão estúpida?
— Escute, não sei quem você é, mas sei que não sou quem você
está pensando. Sendo assim, vá embora.
Não podia encará-lo. Temia ver naqueles olhos negros a
lembrança de uma noite especial, a melhor de sua vida, quando
passara momentos mágicos em seus braços, nua em sua cama, no
chão, no sofá, na cadeira... Abbie sufocou as lembranças. Não queria
negar tão fantástica experiência, mas também não podia revivê-la.
E se a loura fosse sua esposa? E se ele a houvesse mesmo
confundido com outra pessoa? E se acreditasse tê-la conhecido na
missa, ou em uma apresentação do coral da escola de freiras? E se a
beijasse? Ali, naquele momento?
— Definitivamente, está me confundindo com outra pessoa —
Abbie insistiu apavorada.
— Não. Sei que é você.
— Pois eu sei que não conheço você, e está pisando em minhas
roupas íntimas.
Era verdade. E, para piorar a situação, a peça em questão era
uma calcinha para gestantes.
Ele olhou para o tecido branco sob sua bota e continuou parado,
como se não soubesse o que fazer.
— Importa-se de tirar o pé daí?
Sério, ele se abaixou, recolheu a calcinha e deixou-a pender do
dedo indicador.
— Com meus cumprimentos — disse.
Abbie resgatou a lingerie e guardou-a na mala.
— Obrigada. Espero que encontre quem esteja procurando.
Ele encolheu os ombros e se virou para ir embora. Sabia que
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seria tolice deixá-lo partir sem dizer nada. Afinal, tinha o dever de
informá-lo sobre o bebê que haviam criado juntos. Se não o tivesse
encontrado, se nunca mais o visse, teria simplesmente se
conformado com a impossibilidade de compartilhar a notícia de sua
gravidez. Tentaria explicar ao filho que o pai seria sempre um
mistério. Mas ele estava ali e tinha o direito de saber, mesmo que
preferisse afastar-se sem dizer nada.
A loura continuava no mesmo lugar. Ao lado da caminhonete. Um
veículo enorme e preto com uma cabeça de cavalo pintada na porta.
Um cavalo adornado por um manto árabe. As palavras Desert Rose
descreviam um semicírculo sobre a cabeça do animal, e a palavra
Árabes compunha a metade inferior da figura geométrica.
Oh, não! Aquilo não podia estar acontecendo. Não era verdade.
O destino não faria uma piada tão cruel. O homem misterioso não
podia ser o primo de Jéssica Coleman. Seria... Não conseguia pensar
em uma palavra capaz de descrever o horror de tal situação.
Entretanto, a seqüência de eventos fazia sentido. A festa de
formatura da faculdade que havia freqüentado com Jéssica, a
presença das duas famílias... Apesar da forte amizade existente
entre elas, os Jones e os Coleman não haviam sido apresentados. A
maneira como conhecera o homem misterioso fora do salão de baile,
no bar, momentos depois de Jéssica ter mencionado que um dos
primos havia saído para apanhar uma bebida. Era tudo tão plausível,
que Abbie desviou os olhos do logotipo na porta da caminhonete
para encarar o homem que, agora sabia, estava ali para pegá-la. Que
situação poderia ser mais constrangedora?
— Mac?
Havia sido apenas um sussurro. Uma espécie de teste de
realidade. Ele não podia ter ouvido o chamado angustiado.
Mesmo assim, ele se virou com ar confuso, questionando sua
presença, sua identidade, seu comportamento. Um olhar para o
rosto pálido de Abbie deve ter servido de confirmação. Os olhos
seguiram os dela para o logotipo do Desert Rose na porta da
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caminhonete e voltaram a fitá-la com um brilho de compreensão. O


queixo erguido no ar, o chapéu puxado sobre os olhos, os ombros
eretos... Tudo sugeria indignação, revolta.
Em um momento único e singular, um desses instantes em que a
realidade deixa de existir suplantada pelas emoções, Abbie ouviu
apenas o ruído da própria respiração ofegante, mais alta que as
buzinas dos carros, que as turbinas dos aviões pousando e
decolando, que as vozes das pessoas em torno dela. Carrinhos
passavam em todas as direções, passageiros apressados desciam de
táxis ruidosos conduzidos por motoristas nervosos, crianças
choravam e amantes trocavam beijos de adeus, mas ela ouvia apenas
o eco da voz dele em sua mente, certa de que o homem misterioso,
ou Mac Coleman, tentava absorver o impacto da mesma cadeia
improvável de eventos que ela acabara de compreender. Foi fácil
perceber o exato instante em que ele chegou à mesma conclusão.
— Abbie? — Sua voz era hesitante, incrédula, apavorada e
perplexa. — Você é Abbie?
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CAPÍTULO II

Mac sentia as botas coladas ao asfalto quente. Não conseguia


mover-se. Permanecia parado olhando para Abigail Jones, sua
parceira misteriosa, a amiga de sua prima, a mulher que fora buscar
no aeroporto. Depois de ter passado os últimos cinco meses
tentando localizá-la sem sucesso, de repente o destino a jogava
novamente em sua vida. Por que ela negara conhecê-lo? Como
poderia tê-lo esquecido, se todo seu corpo a reconhecia?
Ela parecia a mesma de antes, mas havia uma diferença. Na
noite em que a vira no baile ela usava um vestido preto, curto e
justo, e mais tarde... Bem, mais tarde ela se despira completamente
para seu deleite. Agora ela vestia uma enorme camiseta que, ao
contrário de todas as expectativas, conseguia torná-la ainda menor
e mais sexy. Talvez estivesse um pouco mais gorda do que antes,
mas podia ser apenas um efeito criado pelas roupas e pelos cabelos
presos num rabo de cavalo. Naquela noite eles haviam caído como
uma cascata de caracóis dourados sobre seus ombros. Os óculos
eram novos.
Mesmo assim, sabia que a teria reconhecido em qualquer lugar,
como também sabia que havia sido reconhecido. Um olhar, e todo
seu corpo reagira à lembrança daquela pele, dos braços em seu
peito, das pernas enlaçando sua cintura.
Jéssica devia ter tramado aquele encontro. Mas como ela
poderia saber que um dia conhecera Abbie? Se nem ele mesmo
havia feito a ligação até pouco antes! E Abbie também parecia
surpresa. Atônita, ela abraçava uma velha mala com o fecho
quebrado e o encarava como se estivesse diante de um fantasma.
Estava surpreso por vê-la, mas não abalado, como ela demonstrava
estar. Abbie mencionara um namorado, o que o deixara furioso, mas
ainda não vira nenhum sinal de outro homem, e Jess só esperava por
uma convidada. O sujeito devia estar bem longe dali, ou havia sido
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apenas uma invenção.


De qualquer maneira, com ou sem namorado, Abbie estava
chegando de uma longa viagem e precisava de ajuda com a bagagem.
Não podia continuar ali parado, dominado pelas emoções, temendo
afugentá-la, pensando se podia confessar sua alegria por revê-la.
— Ei, ainda estou aqui — anunciou uma melodiosa voz.
A loura de pernas longas. A mulher que acabara de convidá-lo
para passar alguns momentos divertidos no Four Seasons. Betsy ou
Bambi ou qualquer que fosse seu nome havia sido esquecida no
instante em que ele vira Abbie. Abbie. Abigail Jones. Que nome
simples e glorioso. E como combinava com ela. Queria sussurrá-lo
centenas de vezes. Queria recebê-la em seus braços e em sua vida
com um beijo. Oh, sim, queria beijá-la. Mas os joelhos estavam
fracos, o coração batia descompassado e ele continuava ali parado,
sentindo os dedos que tocavam seu braço solicitando atenção.
— Qual é o problema? — insistiu a loura. — O calor derreteu
seus miolos? Estava me oferecendo uma carona, lembra?
— Eu estava? — Não conseguia desviar os olhos de Abbie, que
continuava abraçando a mala com o fecho quebrado.
Hesitante, ela ameaçou empurrar o carrinho de bagagem em
sua direção, mas parou ao vê-lo com os braços estendidos em uma
oferta silenciosa de ajuda.
— Você é Mac?
— Mac Coleman. Primo de Jéssica.
— Era o que eu temia ouvir — ela confessou em voz baixa. —
Oh, isso tudo é estranho...
— Não precisa me dizer. — Mac tocou a mala para pegá-la, mas
Abbie segurou-a com mais força. — Posso mostrar uma foto de
Jéssica, se quiser. Sempre tenho um retrato dela na carteira. Ela
queria ter vindo pessoalmente, mas há muito trabalho no rancho,
especialmente agora que meus dois irmãos se casaram e já não
ajudam tanto quanto antes. Eu tinha mesmo de vir à cidade tratar
de negócios, e então... Bem, aqui estou eu. — Estava falando demais,
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se esforçando demais, tentando fazê-la sorrir.


Mas Abbie limitou-se a suspirar.
— Isso é mesmo muito estranho.
— E eu aqui pensando que revê-la é uma surpresa muito
agradável!
— Não se precipite. Ainda não reviu tudo que há para ser
revisto. — Ela olhou para a outra mulher com ansiedade e
apreensão.
Tentando acalmá-la, Mac explicou:
— Ela só queria saber onde pode pegar a van para o hotel onde
tem reservas. O que tem feito desde dezembro? Como tem estado?
Abbie cravou os olhos azuis em seu rosto. Abriu a boca,
fechou-a, voltou a abri-la e respirou fundo. Depois disse:
— Grávida. E você?
O sorriso desapareceu dos lábios de Mac, levando com ele o
entusiasmo e todas as possibilidades invocadas pelo inesperado
encontro.
— Grávida?
— Grávida — ela confirmou, pondo as malas nas mãos dele e
revelando o ventre arredondado sob a camiseta larga. — Parabéns,
papai.

Abbie não conseguia acreditar no que acabara de fazer. Uma


notícia tão séria, e fizera o anúncio como se tratasse de algo
corriqueiro, banal. Mas que outra maneira poderia haver para dizer
a um estranho que esperava um filho dele? A expressão de Mac era
sombria, mas ela se sentia aliviada. Depois de meses carregando
sozinha o segredo sobre sua gravidez, finalmente pudera dividi-lo
com quem também era responsável pela ocorrência. Abbie olhou
para a loura e notou que ela a estudava com uma mistura de
hostilidade e espanto.
— Olá — disse, estendendo a mão para cumprimentá-la. — Sou
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Abbie Jones. Lamento ter interrompido a conversa. Reconheço que


tudo isso deve parecer muito estranho.
— Esta é Bambi. — A voz de Mac soou gelada. — Vamos deixá-la
no hotel antes de seguirmos para o rancho.
— Brandi — a loura corrigiu com simpatia. — E talvez eu deva ir
procurar a van. Afinal, é evidente que precisam resolver um...
problema.
— Não, por favor. — Mac persistiu com cortesia, apesar da
frieza. — Faço questão de levá-la ao hotel. Será um prazer. Assim
que o... namorado de Abbie aparecer, poderemos partir alegres
como quatro coiotes em um dia de chuva.
— Não há nenhum namorado. — De agora em diante seria
completamente honesta. — Você me assustou e eu... bem, inventei o
namorado como forma de proteção. Não sabia que teríamos de
passar mais tempo juntos.
Mac encarou-a como se não estivesse impressionado com a
confissão.
— Entre — disse.
Abbie não havia pensado em nada, mas sabia que não devia
entrar naquela caminhonete, e acreditava que Brandi também
estaria melhor fora dela.
— Não vou para o rancho — anunciou. — Não agora.
Mac jogou sua mala na carroceria e pegou outra no carrinho.
— Oh, sim, você vai. Jessie a espera, e eu recebi a missão de
levá-la até lá. Você vem comigo.
— Não vou.
A mala vermelha juntou-se às outras.
— Sim, você vai.
— Posso pegar um táxi. — Brandi deu dois passos na direção da
rua, mas foi detida pela mão de Mac em seu braço. — Já disse que
quero levá-la ao hotel. Sendo assim, por favor, entre na
caminhonete.
Brandi olhou para Abbie e considerou todas as possibilidades.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Podia pegar um táxi e escapar da situação constrangedora, ou podia


correr o risco de testemunhar uma violenta discussão e tirar
proveito dela. Os olhos passaram pelo logotipo do Desert Rose na
porta da caminhonete, pela aparência descuidada de Abbie, pelos
olhos negros e profundos de Mac. Ela sorriu.
— Bem, se tem certeza de que não vou incomodar...
— Será um prazer — ele mentiu.
Abbie sabia que nada poderia contentá-lo naquele momento.
Tinha de admitir que a raiva era perfeitamente compreensível em
um primeiro momento. A paternidade iminente nem sempre era uma
notícia bem recebida, mesmo em circunstâncias melhores do que
aquelas. E ele nem esperava reencontrá-la. Mesmo sem a gravidez,
talvez a recebesse sem grande entusiasmo. Afinal, vira como ele
flertava com a loura de pernas longas e corpo curvilíneo. De
qualquer maneira, sua chegada poderia ter apenas adiado um
desfecho inevitável, ou Brandi não estaria sentada no meio do banco
da caminhonete, quase em cima do motorista.
Pensando bem, não permitiria que um texano moreno e sedutor
lhe desse ordens. Ele havia sido parcialmente responsável pela
situação em que se encontrava, e essa era toda a ajuda que
pretendia aceitar do sujeito.
— Não vou com você — ela anunciou com firmeza. — Tire
minhas malas do carro, e eu pegarei o primeiro avião que decolar
para qualquer lugar longe daqui.
— E tarde demais para recuar, Abigail. Se não quisesse
reclamar seus direitos, não teria vindo. Vamos embora de uma vez.
— Reclamar meus direitos? O que está insinuando? Acha que eu
sabia que você e Jéssica são primos? E isso que está dizendo?
— Se a verdade se encaixa...
— Não seja ridículo! Se soubesse que é primo de Jéssica,
jamais teria vindo para cá.
— Oh, é fácil protestar, agora que está aqui. Apesar de seus
protestos, vou levá-la ao rancho imediatamente, porque Jéssica a
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espera, e não quero ter de explicar o que a fez mudar de idéia.


— Não pode me obrigar a ir com você!
— Posso. Você disse que sou o pai do bebê. Sendo assim, tenho
o direito de opinar sobre seu destino a partir de agora. Vamos
acabar com a farsa, Abigail Jones. O Desert Rose é o seu destino
há meses. Por que recuar agora, quando está tão perto do objetivo?
Ora, ele era arrogante! E irritante. E prepotente. E estava
errado. Completamente errado. E também era tão atraente, que
sentia o peito doer cada vez que o fitava.
— Muito bem — Abbie concordou, reconhecendo a falta de
opções. — Mas não vou ficar.
— Ah, não? Certo. Sua demonstração de relutância foi notada e
registrada. Agora vamos. — Ele ligou o motor.
Abbie considerou todas as alternativas e decidiu que saltar da
caminhonete seria inútil, além de doloroso e arriscado. Além do
mais, mesmo que pudesse fugir, acabaria tendo de encará-lo mais
cedo ou mais tarde. Mac Coleman já sabia que era pai de seu filho, e
esse era um laço que não se podia cortar. O homem era um canalha,
mas faria com que ele compreendesse que não era uma mulher fraca
e covarde. Enfrentaria todas as conseqüências de seu ato
irresponsável.

— ...e foi como eu disse! Bem no meio da minha apresentação,


perdi o controle sobre a situação e os planos cuidados que havia
traçado desapareceram tão depressa quanto o saldo de minha conta
bancária!
Mac mudou de marcha e continuou olhando para a pista. Brandi
preenchia o silêncio tenso no interior da caminhonete, despertando
nele um profundo arrependimento. Não devia ter insistido em levá-
la até o hotel. Não devia nem ter olhado para ela! Assim poderia
gritar com Abbie e expor todos os seus pensamentos, em vez de
dirigir em silêncio enquanto ela se mantinha imóvel e encolhida
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contra a porta do passageiro. Não que ela merecesse sua compaixão.


Afinal, a mulher havia criado uma armadilha para apanhá-lo! Uma
armadilha tão perfeita, que saltara dentro dela quase com
ansiedade. E certamente com prazer. Com muito prazer...
Um bebê.
Bem, não era seu bebê, disso tinha certeza. Não se deixaria
convencer por uma mentira tão descarada. Ela já havia demonstrado
que era uma mentirosa compulsiva, ou não teria inventado o tal
namorado. Ha! Esse fora seu primeiro engano.
Não. Escolhê-lo como alvo havia sido seu primeiro engano. Não
era nenhum idiota. Não aceitaria suas afirmações como um fato,
nem atenderia a exigências descabidas que não tinham razão de ser.
Sabia o que ela queria. O nome Coleman, o Desert Rose, a herança
real de um príncipe árabe. Jéssica devia ter sido manipulada para
fornecer os detalhes que Abbie não conseguira descobrir por conta
própria. Sem dúvida, Abigail Jones conhecia sua história de vida tão
bem quanto ele mesmo. Não ficaria surpreso se descobrisse que ela
possuía um álbum contendo todos os recortes de jornal que
compunham seu passado, desde o casamento de Rose Coleman com
Ibrahim El Jeved, então príncipe herdeiro de Sorajhee. O
nascimento do primogênito, Alim, atualmente chamado Alex. Depois
a chegada dos gêmeos, Makin e Kadar, respectivamente Mac e Cade.
O assassinato de Ibrahim, o desterro de Rose e, posteriormente, as
notícias dando conta de sua morte. O resgate dos três jovens
príncipes por um tio americano. O sucesso da sociedade comercial
denominada Coleman-Grayson. A manada de cavalos árabes nascida
e treinada no rancho. O mistério, a especulação, os escândalos da
família real em Jeved.
Mac presumiu que Abbie sabia de tudo, incluindo aí o saldo de
sua conta bancária. Oh, sim! Ela se aproximara de Jéssica e
descobrira tudo que considerara necessário para seduzi-lo. A doce,
pequena e inocente Abbie era fria e diabólica como um criminoso
perigoso e não se detinha em seus planos maquiavélicos para
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conquistar o objetivo secreto. Pois não daria a ela um único centavo,


muito menos seu nome e sua herança! Não era o pai do bebê que ela
esperava. Não podia ser. Uma única noite? Uma chance em um
milhão? Não. Conhecia esse tipo de mulher. Fora atingido no
passado, e uma lição tão dolorosa jamais seria esquecida.
Devia tê-la deixado no aeroporto, mas uma espécie de impulso
masoquista o impelira a aceitá-la em sua caminhonete, a obrigá-la a
acompanhá-lo. Assim, estaria punindo a si mesmo enquanto
demonstrava que não era nenhum tolo. Além do mais, mesmo que a
abandonasse no aeroporto, ela chegaria ao rancho, talvez até antes
dele. Mulheres como aquela tinham sempre um plano de emergência.
— Nem mesmo os planos mais cuidados podem garantir o
sucesso — ele disse, tentando atingi-la com o comentário. — Às
vezes um esquema já nasce destinado ao fracasso.
— Sua atitude é muito amarga — Brandi observou sorrindo. —
De qualquer maneira, eu consegui recuperar a conta. Há mais de um
caminho para conduzir um homem ao sim. Não é verdade, Abbie?
Abbie ergueu a cabeça e olhou para Mac por um segundo antes
de responder:
— Francamente, nunca encontrei um homem que merecesse
todo esse esforço.
Brandi riu e continuou contando sua história. Abbie mergulhou
novamente naquele silêncio altivo, enquanto Mac sufocava a ira
provocada por sua resposta. Ela não tinha o direito de agir como se
fosse a parte ofendida, como se estivesse magoada, apesar do tom
ferino de suas palavras. Lamentava não ter deixado as duas
mulheres na calçada do aeroporto.
— Chegamos — disse, aliviado por ver o edifício do hotel Four
Seasons.
— Já? — Brandi inclinou-se para frente e quase espremeu
Abbie contra a porta.
Mac conteve o impulso de agarrar a loura pelo braço e censurá-
la pelo descuido. Abbie estava grávida. Pensando bem, não tinha o
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direito de pensar e agir como se ela precisasse de sua proteção. Ou


de oferecê-la. Para ser franco, devia estar grato a Brandi por ela
ter proporcionado o escudo protetor de sua conversa amena.
— Vou acompanhá-la até a porta — anunciou, parando a
caminhonete em um local de estacionamento proibido na frente do
prédio.
Brandi saiu pelo lado do motorista sem sequer olhar para
Abbie, muito menos se despedir dela.
Mesmo assim, Abbie murmurou alguma coisa como "foi um
prazer conhecê-la", embora houvesse sido ignorada durante todo o
trajeto. Mac sentiu-se irritado pela falta de educação de uma delas
e pela cortesia natural da outra. E como se não bastasse,
reconheceu a apreensão provocada pela nota de cansaço na voz de
Abbie, Devia ser parte da encenação, mais um elo no plano para
conquistar um futuro seguro para ela e o bebê. Logo Abbie
compreenderia que seu esforço era inútil. Tinha experiência com
mulheres como ela, com aquela atitude voltada sempre para os fins,
apesar dos meios. O Saara viveria um dia gelado antes que se
deixasse enganar novamente.
Quando Mac voltou à caminhonete, vinte minutos haviam
transcorrido. Passara todo esse tempo no saguão do hotel, ouvindo
Brandi falar sobre como seria agradável recebê-lo mais tarde para
um drinque, um jantar e uma sobremesa surpresa em seu quarto. E
enquanto ouvira a proposta da loura, mantivera os olhos fixos na
porta a fim de certificar-se de que Abbie não desceria do
automóvel e chamaria um táxi. Não sabia por que se importava com
isso. Quanto antes ele compreendesse que seu plano fracassara,
melhor seria para ambos.
— Esperava que tivesse o bom senso de desaparecer enquanto
eu estava longe, mas vejo que me enganei. Seu tipo nunca desiste.
— Meu tipo, como você diz, sempre escapa mais depressa
quando seu tipo deixa a chave na ignição. — Abbie não conseguia
conter a raiva. — Além do mais, se está tão ansioso para ver-se
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

livre de mim, por que não me deixou no aeroporto, em vez de


obrigar-me a acompanhá-lo?
— Só queria cumprir uma obrigação assumida anteriormente.
— Obrigação? Tudo que tem feito é demonstrar que
responsabilidade não é seu ponto forte! Tudo bem, já entendi o
recado. Leve-me de volta ao aeroporto, e sairei de sua vida para
sempre.
— Não fosse por Jéssica, eu a levaria de volta e provaria que
está blefando.
— Acha que isto é um blefe? — ela disparou, apontando para o
próprio ventre.
Mac continuou dirigindo pelas ruas movimentadas de Austin e
sorriu.
— Vai acabar descobrindo que não tenho o hábito de usar meias
palavras. E não gosto de ser acusado de algo que não fiz.
— O que está dizendo? Quer me convencer de que tem um
irmão gêmeo? Ele esteve naquele quarto conosco e assumiu a
posição principal no momento da concepção?
— Acontece que eu tenho um irmão gêmeo. Cade. Mas, como nós
dois sabemos, ele também não é o papai do bebê que você está
esperando.
— O quê? Tem mesmo um irmão gêmeo? De verdade?
— Não banque a engraçadinha. Deve saber mais sobre minha
família do que eu mesmo.
— Não sei de onde tirou essa idéia. Até encontrá-lo no
aeroporto, eu nem sabia seu nome!
— Quanto mais mentiras conta, maior é a possibilidade de ser
desmascarada. Você e Jéssica tornaram-se amigas na faculdade.
Quer convencer-me de que nunca conversaram sobre as duas
famílias?
— Oh, alguém como você deve julgar impossível não ser o
centro de todas as conversas! — Abbie respondeu com sarcasmo. —
Mas, acredite, coisas estranhas acontecem.
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— Sim, como você aparecer aqui.


— Estou aqui atendendo a um convite muito gentil de Jéssica.
Como disse antes, se soubesse que você era um dos primos dela,
jamais teria buscado o rancho como refúgio.
— Refúgio? Não acha que está escolhendo palavras estranhas
para descrever sua situação?
— Escute, Mac... Posso chamá-lo assim, não?
— Normalmente exijo que as mulheres me chamem de Xeque
Makin Bin Habib El Jeved, ou Sua Alteza Real, mas como teve a
delicadeza de perguntar, vou abrir uma exceção e permitir que me
chame de Príncipe. E imagino que minha conexão com a família real
de Sorajhee não seja surpresa para você.
Os olhos azuis cintilaram com uma mistura de ressentimento e
revolta.
— Oh, não! Para ser sincera, esperava encontrar o Príncipe
William. Ele ainda é muito jovem, mas tem a beleza de um deus
grego, como deve saber. De qualquer maneira, quem sou eu para
reclamar? Uma simples plebéia! Quero dizer, qualquer sangue real é
melhor do que nada.
Então ela acreditava poder zombar de um príncipe? Havia algo
de fascinante em sua expressão ousada, no olhar direto e
destemido, e sua gargalhada soava rouca e contagiante no interior
do automóvel Era estúpido, mas de repente sentia vontade de rir
com ela. Mas não daria essa satisfação a uma mulher ardilosa e vil.
Jamais se exporia a tal humilhação.
— E bom saber que considera o assunto tão divertido —
respondeu com tom aborrecido. — Talvez mude de idéia nos
próximos dias.
— No próximo dia — ela o corrigiu. — Não pretendo ficar mais
do que um dia. Será o bastante para convencer Jéssica de que
estarei bem em algum outro lugar.
— Em outro refúgio?
— Não era bem isso que eu queria dizer. Refúgio soa muito...
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Bem, não soa como realmente é.


— E como é, Abigail Jones? Meteu-se em encrencas e achou
que esse seria o caminho mais fácil para chegar a todas as
soluções? Ou esse sempre foi seu plano?
O riso desapareceu de sua expressão como se alguém o
houvesse apagado através de um interruptor.
— Meu plano era concluir a faculdade e lecionar. Era ser
independente e viver sozinha. Meu plano era manter-me longe de
qualquer tipo de encrenca. Não planejei ficar grávida, não planejei
vê-lo outra vez, e nunca planejei responder a perguntas estúpidas
sobre soluções fáceis!
Mac pensou que ela parecia estar aborrecida de verdade.
Furiosa, para ser mais exato. Tinha de admitir que a mulher era uma
excelente atriz.
— Sejamos honestos, Abbie. Vivemos uma noite juntos. Uma.
Não fomos incautos. Usamos proteção. Vai ter de me perdoar, se
me recuso a acreditar que sou o pai dessa criança.
Oh, sim, ela estava furiosa. Podia ver a ira em cada linha de seu
rosto, em cada movimento, no olhar penetrante e ultrajado que
parecia querer perfurá-lo.
— E você vai ter de me desculpar se acredito estar diante de
um imbecil.
— Não precisa recorrer a adjetivos pejorativos.
— Oh, não! E muito melhor nos atermos a sua maneira civilizada
de ofender e humilhar. Usa palavras bonitas, mas, através delas,
está me chamando de mentirosa e... e...
— Eu não disse o que está pensando que eu disse!
— Não disse, mas insinuou. Pois bem, não me importo com sua
opinião, Sr. Xeque El Alteza Real! Para sua informação, não durmo
com qualquer homem que conheço, usar proteção nunca foi garantia
contra uma gravidez, e você é o papai da criança! Infelizmente para
mim. E agora, por favor, não fale mais comigo. Não diga mais nada.
Estou sob a influência de uma verdadeira revolução hormonal e
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posso perder o controle a qualquer instante. Posso começar a gritar,


ou ligar para a polícia do meu celular e acusá-lo de seqüestro, ou,
pior ainda, posso sacar de um par de agulhas de tricô e começar a
tricotar sapatinhos de lã! Acredite em mim, Alteza, vai estar
prestando um grande favor a nós dois se permanecer quieto
durante o restante do trajeto.
Mac pensou que, talvez, dessa vez, ela podia ter razão.

CAPÍTULO III

— Passei o dia todo tão agitada, que quase não fiz nada! —
Jéssica subia a escada e olhava por cima de um ombro para
examinar Abbie que, calada, seguia seus passos como uma sombra
de rosto congestionado e óculos de armação escura. Havia algo de
errado na imagem, e Jéssica chegara a essa conclusão dois minutos
depois da chegada da amiga. Algo além das circunstâncias daquele
momento de vida haviam colocado o tom intenso de rosa em suas
faces e levado o queixo a assumir o ângulo altivo, quase arrogante.
Ela praticamente caíra da caminhonete na ânsia de abraçar sua
anfitriã, uma ação que podia ser interpretada como gratidão ou
pressa para escapar da expressão carrancuda de Mac.
Jess notara o ar sombrio do primo quase que por acaso, e a
curiosidade natural a levara a considerar a remota possibilidade de
uma coisa estar ligada a outra. Mas... não. Devia ser mesmo uma
simples coincidência. Poderia encontrar dezenas de explicações
lógicas, embora não conseguisse pensar em nenhuma delas de
imediato. Abbie parecia frustrada, irritada, aborrecida e ofendida.
Enquanto ponderava sobre todas as possibilidades, Jéssica
continuava subindo a escada e falando sem parar.
— Vai ficar neste quarto — disse, abrindo uma porta no início
do corredor do segundo andar. — Meus país ocupam a suíte principal
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

no final do corredor, e meu quarto é vizinho ao seu. Será quase


como se estivéssemos de volta à escola.
— O quê? Vamos dividir o banheiro com mais seis mulheres? —
Abbie tentou brincar, mas o sorriso não iluminou seus olhos.
— Não. E também não iremos às festas da fraternidade do
outro lado da rua. Mac ainda mora aqui, do outro lado do corredor.
— Jéssica apontou para as portas fechadas além da escada. —
Normalmente ele é quieto. E passa muito tempo fora de casa, em
apresentações e torneios, em leilões e exposições, enfim, em
eventos que trazem mais dinheiro, fama e prestígio para os nossos
negócios. Eu o acuso de não suportar a solidão, agora que Cade foi
morar com Serena em uma das casas de hóspedes. Sabia que Mac
tem um irmão gêmeo, não?
— Ele o mencionou a caminho do rancho.
— Cade esteve envolvido em um escândalo no mês passado. Ele
foi a Balahar fingindo ser Mac e se casou acidentalmente com a
filha adotiva do Rei Zakariyya Al Farid. Cade apaixonou-se por
Serena, e eles decidiram se casar novamente por não terem certeza
da validade da primeira cerimônia aqui na América. Afinal, eles
usaram o nome de Mac, e Cade era o noivo! Foi uma confusão, mas
tudo acabou bem, felizmente. Alguma vez eu contei que meus
primos nasceram em um pequeno país na fronteira da Arábia
Saudita? Sorajhee...- Abbie parou no centro do aposento.
— Eu pensei que ele estivesse inventando essa história. Então...
seu primo não é americano? Não é um texano de verdade?
— Não deixe que eles a escutem, ou ficarão furiosos! Alex, Mac
e Cade são texanos até a raiz dos cabelos. E sempre tiveram dupla
cidadania, porque minha tia Rose não abriu mão da cidadania
americana quando se casou com o príncipe herdeiro de Sorajhee. Na
época sua opção foi motivo de grande escândalo naquele país, mas o
povo soube respeitá-la e amá-la, e tia Rose tornou-se uma grande
rainha, apesar de ser americana. Mais tarde, quando o Rei Ibrahim
foi assassinado, minha tia descobriu que os filhos corriam perigo e
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pediu a ajuda de meu pai para tirá-los do país. Foi assim que eles
acabaram em Bridle, no Texas, protegidos sob o nome Coleman. A
história é longa e interessante, mas acho melhor esperar até que
tenha pelo menos desfeito as malas.
Abbie sentou-se na beirada da cama como se as pernas não
pudessem sustentá-la.
— Quer dizer que ele é mesmo... um príncipe?
— Mac? — Aha, Jéssica pensou, tentando não ter notado que
dentre os três primos, Abbie já se havia referido duas vezes a um
só deles. Sim, sabia que ela ainda não havia sido apresentada a Alex
e Cade, e que passara todo o tempo da longa jornada do aeroporto
ao rancho sozinha com Mac, mas mesmo assim... — Príncipe da
Irritação, se quer saber o que penso — Jess respondeu rindo. —
Eles vieram morar com meus pais antes de eu nascer, o que os torna
mais irmãos do que primos, e Mac é o que mais me provoca com suas
brincadeiras tolas. Quando quer me tirar do sério, ele me chama de
Husky por causa daquela raça de cachorros que quase sempre tem
olhos de cores diferentes. Ele sabe que odeio ter um olho verde e
outro azul. Quando quer apenas irritar-me um pouco, Mac me chama
de lourinha. — Ela mostrou os cabelos vermelhos, lamento não tê-los
negros ou louros, ou até mesmo castanhos.
Abbie ofereceu um sorriso pálido, mas seus pensamentos
estavam distantes.
— Falaremos sobre meus primos mais tarde. Agora deve
descansar, tomar um banho, desfazer suas inalas... Não sei por que
Mac está demorando tanto! — Jéssica aproximou-se da porta a
tempo de vê-lo terminando de subir a escada com as malas de
Abbie. Sua expressão era ameaçadora como um tornado, e Jéssica
não pôde deixar de erguer as sobrancelhas em uma reação
desconfiada. Por menos provável que fosse, algo havia desagradável
e devia ter acontecido entre o primo e sua amiga no trajeto de
Austin até o rancho.
— Será que pode me dar licença, Jess? —- ele perguntou
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

irritado ao aproximar-se da porta. — Não vou passar pela porta com


todas estas malas, se você não sair daí.
Jéssica voltou ao centro do aposento, liberando a passagem
para Mac e seu temperamento explosivo. Ele deu alguns passos e
largou as quatro malas sobre a cama. Depois, sem dizer nada, girou
sobre os calcanhares e saiu. Os saltos das botas de caubói contra
os degraus de madeira provocavam um som cadenciado, até que, em
uma última e definitiva saudação, a porta da frente foi batida com
violência.
Jessie piscou. Nunca vira Mac naquele estado antes. Ele era
instável, capaz de demonstrar a doçura de um campo florido na
primavera ou a hostilidade de Jabbar, o cavalo árabe que dera
origem ao rancho e levava a sério sua condição de campeão, mas
nunca o vira ser rude com ninguém, especialmente com uma mulher.
E uma de suas amigas, uma hóspede no Desert Rose. As suspeitas
começavam a tomar corpo em sua mente, e ela olhou para Abbie em
busca de algumas respostas. Teria ela dito alguma coisa capaz de
ofender Mac? Ou havia sido ele quem falara demais, talvez opinando
sobre assuntos que não eram de sua conta? Os dois se conheceram
naquele dia, minutos antes! O que poderia ter causado um efeito tão
devastador em uma viagem de menos de uma hora?
Sufocando as perguntas, Jéssica apontou para uma porta na
lateral do quarto.
— 0 banheiro fica bem ali. Ele se abre do outro lado para o meu
quarto, e por isso deve trancar as duas portas quando entrar. Não
esqueça de destrancar o meu lado quando sair. Agora vou deixar
você descansar um pouco antes do jantar. Se precisar de mim,
estarei no escritório. Normalmente jantamos às seis, e somos
sempre muito casuais.
— Certo.
— Mamãe está ansiosa para conhecê-la, como todos os outros.
Falo tanto a seu respeito! E agora que veio me ajudar com o
trabalho no escritório do rancho... Não imagina como sou grata,
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Abbie. E fiquei feliz por ter telefonado para mim quando perdeu o
emprego. Quero que se sinta em casa aqui no Desert Rose e que
fique conosco pelo tempo que desejar.
— Jessie, eu...
— Não precisa dizer nada. Não estou pedindo nenhuma previsão
sobre sua estadia. Só queria dizer que é você quem está me
prestando um favor. Passei os últimos meses enterrada em papéis, e
os documentos continuam surgindo sobre a minha mesa. Talvez fuga
correndo quando a vir. E horrível! — Jéssica sabia que estava
falando demais, mas havia uma tensão na atmosfera, algo que não
conseguia identificar ou entender. — Só falei com mamãe e tia Rose
sobre sua gravidez. Elas são as únicas que sabem que perdeu o
emprego, e por isso precisava de um lugar onde pudesse pensar e
decidir o que fazer. Não tem de dar explicações a ninguém, ouviu
bem? Nem mesmo a mim.
— Não há muito o que explicar. Ainda nem contei a meus pais, e
já estou redonda como uma melancia. — Ela se levantou e suspirou.
— Sou muito grata por ter me aceito em sua casa em um momento
tão difícil, Jess, mas não creio que possa ficar. Não agora.
— É claro que vai ficar. E se Mac disse alguma coisa que a
ofendeu ou magoou, juro que vou quebrar o pescoço dele em três
partes!
Abbie reagiu apavorada.
— Por favor, não! Quero dizer, o que ele poderia ter dito?
Então estava certa. Ainda não podia unir as peças do intrigante
quebra-cabeça, mas sabia que havia uma história por trás daqueles
rostos carrancudos e sombrios.
— Não vamos mais falar nisso. Desfaça suas malas e não se
preocupe com nada. Precisa de algum tempo para pensar, para
decidir o que vai fazer, e este é o lugar perfeito. Prometo que
ninguém vai incomodá-la. Quero dizer, sei que vou incomodá-la com
todo aquele trabalho no escritório, mas, com exceção desse
pequeno detalhe, terá todo o tempo do mundo para descansar e
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refletir. Depois, quando chegar a hora de falar com seus pais,


saberá o que dizer. Com seus irmãos a situação será mais difícil, é
claro. Se são mesmo como você sempre diz...
— O que quer que eu tenha dito sobre eles, ainda é pouco. Eles
ainda vão me pôr maluca com suas idéias sobre o que devo fazer, e
quando, onde e como, e por que devo ouvi-los. Tenho medo da reação
de meus irmãos, Jess.
— Bem, não pense neles por enquanto. Descanse, reúna forças,
e depois poderá enfrentá-los.
— Espero que eles não me encontrem antes disso. Usarei o
celular sempre que ligar para casa, e terei muito cuidado com tudo
que disser. Caso eles telefonem para você, o que é pouco provável,
diga apenas que fui passar o verão em um acampamento para alunos
de ciências e matemática.
— Se essa é sua história, prometo sustentá-la até que decida
em contrário. Tudo vai dar certo, Abbie. — Jess abraçou a amiga. —
Eu sei que vai. Agora descanse. Oh, e... Bem, caso Mac tenha dito
algo de errado a caminho daqui, alguma coisa que a aborreceu ou
magoou, não considere o comentário como uma ofensa pessoal. Ele
não tem estado muito bem nos últimos meses.
Abbie encarou-a com aquela expressão assustada novamente.
— Ele não disse nada. Por favor, nem pense mais nisso.
— Certo. Há sabonete e toalhas no armário do banheiro. Se
precisar de alguma coisa, peça. E obrigada por ter vindo, Abbie. Não
imagina como estou feliz por tê-la aqui.
Jessie saiu e fechou a porta antes que a amiga se sentisse
obrigada a responder. Não conseguia imaginar o que havia
acontecido entre Mac e sua amiga, mas estava determinada a
descobrir toda a verdade nas próximas vinte e quatro horas... ou
infernizar a vida do primo até que ele lhe contasse tudo.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Mac bateu a porta da caminhonete, mas era inútil. Nem todas


as portas do mundo poderiam aliviar o que estava sentindo. Evitara
Abigail Jones e suas acusações infundadas evitando todo mundo.
Deixara as malas no quarto dela, batera a porta de casa e
desaparecera do rancho. Dirigira até Fredericksburg, onde pedira
um jantar que não havia comido e uma cerveja que não havia bebido,
preferindo olhar pela janela do restaurante como se ali estivessem
todas as respostas. Mas a persistência do garçom e sua gentileza
inoportuna o levaram a abandonar o local deixando um bom dinheiro
sobre a mesa, uma quantia cinco vezes maior do que devia ter pago
pelo jantar e pela bebida. Sentindo-se tão miserável quanto antes,
seguira para o oeste, para San Marcos, e parara para atirar pedras
no Rio Blanco. Depois batera a porta da caminhonete mais uma vez e
continuara dirigindo por estradas estreitas e cheias de curvas, por
caminhos que eventualmente o levaram de volta a Bridle e ao
rancho, concluindo assim uma viagem circular de quase trezentos
quilômetros. E tudo que havia conseguido fora mudar o tom de seu
humor do negro para o cinzento.
Abbie já devia ter contado suas mentiras para toda a família, e
sua ausência só servira para dar validade ao relato. Mas... e daí?
Sabia que todos o apoiariam quando conhecessem a verdade. Podia
contar com a família. Se havia algo na vida de que tinha certeza era
da importância dos familiares. E no momento, todos deviam estar
imaginando por que se deixara arrastar para a mesma armadilha que
Gillían colocara a seus pés dois anos antes. Por outro lado, talvez
houvessem dado ouvidos à história de Abbie. Mas, assim que a
desmascarasse, todos ficariam a seu lado. Sabia disso.
Também sabia que devia ter ficado e enfrentado a situação, em
vez de fugir como um covarde que tinha algo a esconder. Mas não
suportava a idéia de sentar-se à mesa do jantar diante da mulher
que assombrava seus sonhos há meses. Não depois de descobrir que
ela era uma trapaceira barata. Por isso havia fugido. Fugira da
lembrança da traição de Gillían há dois anos, da recordação dos
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

beijos doces de Abbie há cinco meses. Fugira do próprio coração,


que não sabia distinguir entre luxúria e amor. Era quase meia-noite,
e depois de ter percorrido quase trezentos quilômetros, ainda não
conseguira abafar as vozes que ecoavam em sua mente. Gillían
mentiu para você. Abbie mentiu para você. As mulheres não
merecem confiança. Não havia honra entre elas.
Tudo bem, reconhecia que algumas mulheres eram confiáveis.
Suas cunhadas, Hannah e Serena, nunca teriam recorrido a
artimanhas para conquistarem o direito ao nome Coleman. Não
conseguia imaginar uma delas usando a vida de uma criança pela
possibilidade de um casamento vantajoso, como Gillían fizera. Como
Abbie estava fazendo. Sua prima também era honesta e correta
como cabia a um ser humano decente, mas Jessie nascera Coleman e
crescera aprendendo o respeito pela verdade. Olívia Smith, a jovem
que havia contratado como treinadora assistente, era íntegra e
verdadeira, ou os cavalos não a teriam aceito com tanta facilidade.
Concluindo a lista de mulheres respeitáveis havia tia Vi, uma mulher
que não conseguia mentir sem ficar vermelha, e sua mãe. Embora só
a houvesse conhecido recentemente, sabia que Rose jamais havia
enganado o marido ou qualquer outro homem.
Mas, para cada mulher digna do respeito e da confiança de um
homem, havia uma Abigail Jones. Mentirosa. Manipuladora.
Traiçoeira. Ela estava mentindo. Só podia estar mentindo, porque...
Não havia nenhum porquê. Ela era má como acreditava que
fosse. Pior ainda do que Gillían, que um dia o amara de verdade. O
erro de Gillían havia sido pensar que Mac a amava a ponto de não
acreditar em seus defeitos, a ponto de não imaginar que ela
pudesse fazer o que fez. O erro de Abbie havia sido ir ao Desert
Rose pensando poder manipulá-lo, e a sua família, a fim de
enquadrá-los em seus planos.
Pena ela não estar ali para ouvir sua opinião. Adoraria dizer a
ela o que poderia fazer com seus planos ridículos e maliciosos.
Chutando as pedras, Mac seguiu para a casa escura sem dar atenção
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

aos sons sonolentos de uma noite quente e úmida. Um movimento,


um lampejo claro onde devia haver apenas a escuridão, chamou sua
atenção para o lago e para o píer que se estendia além da linha da
água. Havia alguém ali, talvez sua mãe, ou tia Vi. Fazia calor, e era
comum as pessoas caminharem um pouco antes de se recolherem.
Tia Vi andava preocupada com a festa de aniversário de cinqüenta
anos, uma data que pairava sombria e poderosa em seu horizonte
pessoal. Mas, antes mesmo de pisar nas pranchas de madeira que
compunham o píer, Mac soube que a figura iluminada pelo luar
prateado era Abbie. Abbie, a manipuladora. Abbie, a mentirosa.
Abbie, com os cabelos cor de mel caindo como uma cascata sobre os
ombros delicados. Abbie, com o rosto voltado para o céu escuro.
Abbie, tão linda que seu coração doía diante da visão fascinante.
O que era absurdo. Apaixonara-se por uma ilusão. A mulher
misteriosa com quem havia sonhado nos últimos cinco meses só
existia em sua imaginação. E lá estava Abbie para provar.
Ela se virou ao ouvir os passos, as mãos agarrando as grades do
píer, a expressão assustada, os olhos cheios de medo, os ombros
tensos como se esperasse enfrentar problemas. Bem, naquele ponto
ela estava certa. A mulher podia ter a aparência de um anjo,
especialmente com os cabelos banhados pela luz prateada da lua e o
corpo delineado sob a camiseta branca e larga que a cobria. Mas
Mac representava um problema, e ela ainda não havia visto nem a
metade dele.
— Não consegue dormir? — Parado diante de Abbie, apoiou um
lado do quadril na balaustrada. Alimentado pelo imponente Rio
Colorado, o lago brilhava como um espelho sob o píer iluminado por
um milhão de estrelas e pela lua refletida pela superfície escura. —
Problemas com sua consciência?
— Azia — ela resumiu com tom seco, indicando que pretendia
enfrentá-lo, embora não o encarasse.
— E mesmo? Nunca sofri desse mal.
— Mais um exemplo de como a Mãe Natureza permite aos
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

homens escaparem da responsabilidade de seus atos.


— Ah, não! Esperava mais de você do que esse velho número
sobre como a vida é injusta com o sexo feminino. Uma mulher com o
seu talento e a sua criatividade pode ir muito além de um argumento
tão desgastado.
Os olhos azuis buscaram os dele refletindo frieza e
ressentimento,
— Escute aqui, Príncipe Desencantado, vim a este lugar para
ficar sozinha com meus pensamentos, e gostaria muito de que me
deixasse em paz.
— Bela tentativa. Mas continua mentindo.
— Continuo mentindo? O que está dizendo? Acha que quero
ficar aqui ouvindo seus insultos?
— Se quisesse mesmo ficar sozinha, teria permanecido bem
longe de mim.
Abbie encarou-o novamente, e só então Mac se deu conta de
que ela não usava os óculos de lentes grossas, motivo pelo qual não
conseguia tirar os olhos dela. Isso, ou o fato de Abbie não estar
usando nada sob aquela camiseta branca e larga, uma peça discreta
e totalmente modesta, mas perturbadora pelas conclusões a que
induzia o observador.
— Francamente, não sei como conseguiu seduzir-me — ela
disparou.
— Provavelmente porque nunca a seduzi. Foi o contrário, caso
tenha esquecido.
— Não esqueci nada, e não é assim que me lembro dos fatos
daquela noite.
— Não é assim que quer que eu me lembre deles. -Ela suspirou.
— Muito bem, vamos ver se entendi corretamente sua versão
sobre os eventos. Eu planejei toda a sedução. Fui atrás de você no
bar, insisti em manter segredo, em não usarmos nossos nomes e não
trocarmos números de telefone, enfim, em não revelarmos nenhuma
informação pessoal. Abusei de seu corpo e de sua ingenuidade
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

durante toda a noite, aproveitando a oportunidade para ficar


grávida. Fugi na manhã seguinte, já planejando encontrá-lo, por
acidente, cinco meses mais tarde, de forma que assim pudesse
fazer exigências condenáveis envolvendo seu imaculado nome e sua
fabulosa fortuna, fortuna essa que, é claro, pesquisei até o último
centavo. Oh, sim, e não podemos esquecer seu precioso sangue azul,
a linhagem nobre que, devidamente, traça, vai nos remeter ao
poderoso e inesquecível Lawrence da Arábia. Estou esquecendo
alguma coisa, Sua Alteza?
Mac havia passado horas imaginando aquele exato cenário e,
embora tudo soasse muito ridículo na voz dela, sabia que tinha as
evidências necessárias para sustentar sua teoria do planejamento
cuidadoso contra a simples coincidência. Além do mais, aprendera
por experiência própria que uma mulher era capaz de tudo por uma
aliança de casamento.
— Só um pequeno detalhe — disse, tentando manter-se duro
diante da encenação da inocência ultrajada. — Não acredito que sou
o pai da criança.
Abbie levou alguns segundos para responder. Durante o tempo
em que permaneceu em silêncio, ela respirou fundo várias vezes
como se temesse perder a calma.
— Tudo que posso dizer é que, se você é mesmo um príncipe, o
mundo não deve esperar nada da realeza.
— Não é o meu caráter que está em discussão aqui.
— Lamento, mas vai ter de debater esse assunto com outra
pessoa. — Ela se virou e começou a caminhar. Descalça. Abbie
estava descalça!
Mac afastou-se da balaustrada para segui-la, imaginando se não
deveria se oferecer para carregá-la até a varanda da casa. Assim
ela não machucaria os pés nos pedregulhos da alameda. Mas, antes
que pudesse fazer a oferta, Abbie virou-se e fitou-o com um misto
de desprezo e altivez.
— Acho que já disse que quero ficar sozinha. Estava nervosa.
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Oh, sim, podia ver como o peito arfava sob a camiseta branca, e de
repente sentiu um ímpeto irracional de arrancá-la, de desnudar os
seios de maneira a poder vê-los fartos e rígidos. Pensar em todas as
mudanças provocadas naquele corpo pela gravidez não era excitante
apenas no sentido sexual. Sentia-se curioso, fascinado e
interessado, e a constatação o perturbou ainda mais, deixando sua
voz rouca e áspera.
— Cometeu um grande engano vindo ao Desert Rose. Não sei o
que esperava encontrar aqui, mas posso garantir que não vai ficar
feliz com o desfecho dessa história.
— Isso é mais do que evidente — ela respondeu com um suspiro
irritado. — Se não consegue atender nem aos pedidos mais simples...
— De que pedido está falando agora?
— Quero ficar sozinha.
Devia abandoná-la. Devia interpretar a ausência de argumentos
e negações como prova de sua teoria e deixá-la ali sozinha. Mas
aquele era seu rancho, sua casa, seu píer, e ela os contaminava com
sua presença, com as lembranças da única noite que passaram
juntos. Não sabia por que as recordações eram tão dolorosas e
intoleráveis, mas não permitiria que Abbie Jones o importunasse.
— Quero que vá embora amanhã — disse com firmeza, odiando
a onda de pesar que ameaçava crescer em seu peito. — Sei que
Jéssica tentará convencê-la a ficar, mas...
— Mas seria muito mais cômodo para você se eu partisse. Não
precisa redigir uma cartilha. Já sei que não devo reclamar nada
para mim ou para o bebê. Mas... sabe de uma coisa? Posso fazer
exatamente o que quer sem sair daqui.
— O que quer dizer?
— Posso esquecer que você existe. — Ela ergueu o queixo. Havia
um brilho intenso em seus olhos e uma arrogância sutil na maneira
como jogava a cabeça para trás a fim de encará-lo. — Vou ficar bem
aqui e trabalhar com Jessie conforme planejei, e você ficará fora
do meu caminho e bem longe dele. Em troca, prometo não chegar
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perto de você. Vê como é simples? Nós dois teremos nossos desejos


realizados.
— Não pode ficar aqui! — Esperava sentir raiva, mas a voz
soava apavorada, quase como se estivesse em pânico. — Não seria
conveniente.
— Por que não? Vai sair por aí dizendo a todos que não é o pai
do bebê que estou esperando? — Ela sorriu, certamente julgando-se
vencedora naquela batalha. — Só vai conseguir despertar nas
pessoas a desconfiança de que talvez seja o pai, afinal.
— Tenho todo o direito de defender-me.
— Contra o quê? Isto? — Ela bateu com uma das mãos sobre o
ventre. — Lamento, mas está um pouco atrasado.
— Você não vai ficar — Mac decretou. Não permitiria que ela
saísse vencedora da discussão. — Amanhã dirá a Jessie que mudou
de idéia e precisa ir embora. Eu a levarei ao aeroporto ainda pela
manhã e comprarei sua passagem, se for necessário. Mas, de uma
forma ou de outra, amanhã você deixará este rancho.
Abbie virou-se para olhar o lago como se só a beleza da
paisagem tivesse importância.
— Não, eu não vou a lugar nenhum.
— Quem disse que pode decidir?
Ela o encarou com o fogo da determinação nos olhos.
— Oh, mas eu posso. Há cinco meses tenho vagado pelo mundo
como uma sonâmbula, fingindo que nada disso está acontecendo,
adiando decisões, acreditando que, se um dia o encontrasse, você
me ajudaria a decidir o que é melhor para o nosso filho. Mas agora
sei que sou a parte responsável aqui. E tomarei todas as decisões
sem esperar por seus conselhos, sem ouvir sua opinião, sem me
importar com o que você pensa. Resumindo, o que você quer não me
interessa!
— Minha família jamais permitirá que reclame uma parte do
Desert Rose para seu filho.
— Sua família jamais saberá que meu filho tem direito ao
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rancho, a menos que você conte a verdade.


— Quer que eu acredite que ainda não disse a eles?
— Não disse a ninguém. Exceto a você. E se pudesse voltar no
tempo, nem você saberia quem é o pai da criança que estou
esperando.
O que ela esperava ganhar com essa tática? Tempo?
Oportunidades? Apoio?
— Quer dizer que pretende manter-me refém em minha
propriedade, enquanto espera pelo momento ideal para fazer seu
anúncio contundente?
— Pretendo ficar tão longe de você quanto seja permitido
pelas fronteiras deste rancho e por sua teimosia. E mesmo que
tenhamos de tropeçar um no outro eventualmente, não me sentirei
forçada a partir só porque minha presença o incomoda.
— Está cometendo um engano, Abigail Jones.
Ela o encarou por um instante. Depois virou-se e caminhou até a
ponta do píer, usando as duas mãos para erguer os cabelos que
cobriam sua nuca.
— Tem razão, cometi o engano de não trazer um maio.
Então ela acreditava que podia anunciar a intenção de
transformar sua vida em um inferno e depois mudar de assunto. Pois
bem, que provasse um pouco do próprio veneno!
— Que pena... — murmurou, desabotoando a camisa e sorrindo.
— Um mergulho seria excelente para clarear suas idéias e ajudá-la
a pensar melhor. Talvez servisse até para aliviar a azia. Por outro
lado, a água fria pode piorar condições de má digestão e outros
problemas gástricos.
— Se fosse um cavalheiro, iria embora e me deixaria nadar em
paz, mesmo sem um maio.
— Acha que eu a deixaria aqui sozinha? Oh, não! Isso sim, seria
uma total falta de cavalheirismo.
— Quer dizer que posso nadar sem o maio, desde que não
esteja sozinha?
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— É isso. — Ele despiu a camisa e deixou-a sobre a balaustrada.


Depois abriu o cinto e começou a descer o zíper da calça. — Resta
saber se vai ficar e nadar comigo, ou se sairá correndo como uma
mocinha assustada e covarde.
Abbie virou-se no instante em que ele abria a calça. Os olhos
desceram pelo peito bronzeado até a linha da cintura, voltando ao
ponto de partida com a rapidez provocada pela culpa.
— Está me desafiando? Acha mesmo que vou tirar a roupa aqui,
diante de todas as janelas da casa?
— Estamos em um rancho produtivo. As pessoas acordam cedo,
e a esta hora todos já foram dormir. Além do mais, é necessário
usar um par de binóculos para enxergar esta parte do lago das
janelas da casa, e isto à luz do dia. A noite... Seria impossível. —
Tão impossível quanto deixar de notar a pele macia da parte interna
dos braços ou esquecer o sabor registrado por seus lábios. Sabia
que a lembrança era tão traiçoeira quanto à aparência inocente
daquela mulher, tão tentadora quanto a idéia de tê-la nadando nua a
seu lado. Queria tocá-la, beijá-la, submetê-la a sua vontade. Queria
que Abbie fosse quem ele havia acreditado antes de reencontrá-la,
e isso era impossível. Apoiado contra a balaustrada, ergueu um pé
para descalçar a bota e repetiu a operação com o outro pé. — E
então, pequena mentirosa, tem coragem de dar um mergulho
noturno comigo... nua?
— Sou corajosa, sim, mas não sou estúpida. Você tentaria me
afogar.
— Ah, está com medo. — Mac enganchou os polegares na
cintura da calça jeans e conteve o riso ao vê-la virar-se apressada.
— Eu nunca recorreria à violência. Como deve saber, não tenho nada
a ganhar com isso. — Mais algumas provocações, e ela faria as malas
antes do amanhecer. — Como pode perceber, Abbie, não há nenhum
motivo para continuar aqui, exposta ao calor e à umidade, acusando-
me de privá-la do conforto de um bom mergulho. Já sei que não é
uma mulher modesta.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Mais uma vez, ela se virou para encará-lo com os olhos


iluminados pela raiva. E devia estar mesmo furiosa, porque nem
piscou diante de sua completa nudez.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Sei que não vai permitir que eu veja seu corpo com as formas
alteradas pela gravidez. Não quer correr o risco de deixar-me vê-la
carregando o filho de outro homem. Seria prejudicial aos seus
planos.
— Você é o único homem com quem dormi nos últimos... doze
meses. Sendo assim, é o pai do bebê que estou esperando.
Mac considerou a afirmação por um instante, calculando,
ponderando, refletindo, mas não conseguia acreditar nela. Era
impossível.
— Bem, então vai ter de encontrar outra desculpa para ficar
fora da água, covarde. — Ele se aproximou da beirada do píer
exibindo sua nudez como uma arma. — Oh, e nem pense em usar um
daqueles truques tolos dos adolescentes, como esconder minhas
roupas ou ir embora levando minha calça. Seria pior para você se eu
tivesse de voltar usando apenas o traje que Deus me deu quando
nasci. — Sentindo-se satisfeito com o desfecho da discussão, ele
mergulhou.
Mac ainda nem havia desaparecido completamente sob a
superfície, e Abbie já levava as mãos à barra da camiseta.
Mostraria a ele que não tinha medo de suas ameaças estúpidas. Não
se importaria se ele a visse nua e arredondada pela gravidez. Afinal,
a culpa de sua atual forma física era dele. Filho de outro homem...
Seria capaz de afogá-lo por esse comentário! E por ser tão canalha.
Como pudera ser estúpida a ponto de tê-lo idealizado durante cinco
meses, transformando-o em uma espécie de herói do cinema, sem
suspeitar que ele a rejeitaria e ao bebê? Jamais pensara que ele
poderia duvidar de sua palavra, que a acusaria de mentir e tentá-lo
prender em um casamento indesejado.
Mas... mergulhar nua a fim de comprovar sua tese seria o
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mesmo que descer ao nível de Mac. Tornaria a situação ainda pior.


Mas também não podia ir embora sem reagir. Recuar seria como
admitir a culpa por erros que não cometera.
Mas, se não pularia na água nua, e se não iria embora sem
responder ao desafio, o que poderia fazer? Nadar vestida? Usava
uma camiseta branca que ficaria completamente transparente
depois de molhada. Se soubesse que encontraria alguém àquela hora
da noite, teria escolhido um traje mais apropriado, embora menos
confortável. Por outro lado, se soubesse que Mac andava pelo
rancho como um fantasma perdido na noite, nem teria saído de seu
quarto.
Abbie olhou para as roupas que ele deixara penduradas sobre a
balaustrada. Um par de botas, meias, o cinto, a calça jeans, uma
camisa... de brim. O primeiro sorriso da noite teve um sabor
especial. Não executaria o plano de vingança que gostaria de criar,
nem o aborreceria como um dia esperava ser capaz de fazer, mas
era sua única opção, e por isso teria de contentar-se com ela. Em
poucos minutos Abbie trocou a camiseta pela camisa de brim.
Enquanto enrolava as mangas e ajeitava o colarinho, o cheiro de Mac
invadiu seus sentidos e despertou uma enxurrada de lembranças
que estariam melhor enterradas em algum recanto escuro da mente.
Mas só por um segundo... um lampejo... Lembrou-se de como ele
havia sido naquela noite, de como havia sido feliz em seus braços, e
lamentou que as coisas não fossem diferentes. Superando o
desânimo, ela ergueu as duas mãos e mergulhou na água fria,
esperando poder lavar as lembranças como lavava o corpo.

A mulher nadava como um golfinho, e isso o intrigava mais do


que a camisa encharcada. Quando ouvira o ruído da água agitada
pelo mergulho, admirara a coragem de Abbie e a maneira inteligente
como respondera ao desafio, em vez de recuar. Mas quando ela o
alcançara com braçadas vigorosas e um estilo invejável, sentira-se
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

incomodado.
Estava ainda mais aborrecido por constatar que Abbie não só
nadava melhor do que ele, mas apreciava o exercício noturno com
prazer evidente. Ela flutuava nadava de frente e de costas,
alternava estilos e velocidades, e quando finalmente saiu da água e
voltou ao píer, ele foi forçado a admitir que só conseguira
acompanhá-la por pura obstinação. O fato de Abbie ter usado sua
camisa como traje de banho devia aborrecê-lo, não fosse pela visão
fascinante do corpo delineado pelo tecido molhado. Ela se virou de
costas, e antes que Mac pudesse vestir a calça, Abbie tirou a
camisa, torceu a peça encharcada e usou-a como toalha, e depois
vestiu a camiseta seca que deixara pendurada sobre a grade. O
traje aderia aos seios úmidos e modelava o quadril largo com uma
sutileza que ameaçava deixá-lo sem fôlego.
— Aqui está sua camisa — ela anunciou satisfeita ao devolver a
roupa molhada. — Obrigada.
— Por nada. É sempre um prazer emprestar minhas roupas a
uma donzela em perigo. — Queria ser sarcástico, mas as palavras
soavam delicadas, quase doces. — Não quer usar minhas botas? Os
pedregulhos da alameda até a casa do rancho podem ferir seus pés.
Ela parou de torcer os cabelos molhados e estudou-o, tentando
identificar a armadilha sob a oferta gentil.
— Não, obrigada.
— Você nada muito bem.
— Meus irmãos competiam em todas as provas da liga escolar, e
eu passei boa parte da minha infância assistindo a campeonatos e
participando das reuniões de equipe. Infelizmente, minha família
não aprovava a participação de uma garota nas competições.
— E você se deixou deter por esse pequeno detalhe?
— Não é incrível? — ela riu.
— Certamente. Deve ter desenvolvido o espírito de
independência depois disso.
— Depende da situação.
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Abbie estava sorrindo, e de repente ele sentiu novamente a


velha conexão estabelecida entre eles há cinco meses. Era como se
o passado retornasse para envolvê-lo como uma nuvem inebriante e
misteriosa, como uma ilusão criada pelos encantamentos de uma
feiticeira. Talvez fosse hora de mudar de tática. Se a atraísse com
açúcar em vez de vinagre, como dizia o velho ditado, teria chance
de dar a ela a corda necessária para que se enforcasse. Não
importava se era tolo o bastante para sentir o impacto de sua voz
rouca, para sentir arrepios provocados pelo perfume que o vento
transportava até ele. Não tinha a menor intenção de referir-se
àquele encontro, mas de repente as palavras ultrapassavam a
barreira da razão e eram pronunciadas como se tivessem vida
própria.
— Por que partiu sem ao menos despedir-se?
O olhar assustado teve o poder de feri-lo como um golpe físico.
— Eu... tinha de ir a um determinado lugar, e achei melhor
simplesmente partir.
Mac terminou de calçar as botas. Sabia que era tolice insistir
no assunto, mas queria que ela tivesse consciência do que poderiam
ter vivido.
— Não tem idéia de quantas vezes lamentei não tê-la
encontrado a meu lado na cama naquela manhã,
A confissão pairou entre eles por alguns segundos, uma mistura
de pesar e amargura.
— Escapou por pouco, não?
Era evidente que o pesar era um sentimento unilateral. Abbie
virou-se e começou a caminhar pelo píer. Mac a seguiu notando o
movimento cadenciado do quadril, o brilho da lua nos cabelos cor de
mel. Era estúpido, insano, mas queria aquela mulher. Ela o
contrariava, desafiava e tentava, transformando-o no mentiroso, e
isso era algo que odiava. Quando as pranchas de madeira deram
lugar ao terreno acidentado que levava à casa, ele a alcançou e
tomou-a nos braços.
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— Que diabo pensa estar fazendo? — Abbie protestou com


violência.
— O solo é acidentado. Está descalça. — Como se a explicação
fosse suficiente! Queria tocá-la, e essa era a razão principal para
todos os seus atos. Queria saber se o desejo que ela acendia em seu
corpo era suscetível à lógica, se ela também o sentia.
Aparentemente, a resposta para as duas questões era a mesma: não.
Abbie mantinha os braços cruzados sobre os seios e olhos fixos no
caminho, e tudo que queria era sentir aqueles braços em torno de
seu pescoço. Queria beijá-la e acariciá-la até saciar sua fome. No
momento em que a colocou no chão, já no hall de entrada da casa,
Mac esperou pela bofetada. Esperava por qualquer coisa, menos pela
reação de Abbie. Devagar, ela se ergueu nas pontas dos pés,
segurou seu rosto e puxou-o de encontro aos lábios para beijá-lo na
boca.
Um raio não teria sido mais eficiente. Um incêndio instantâneo
invadiu suas veias, e não ficaria surpreso se notasse nuvens de
vapor escapando de seu corpo. Sentia os joelhos fracos e sabia que
não devia responder. Aquilo era um truque, mais uma mentira! Mas,
mesmo assim, tomou-a nos braços e beijou-a com todo o desejo que
o fazia arder, como se ela fosse o antídoto e o veneno. Quando a
soltou, estava ofegante, confuso e zangado.
— Devia tomar mais cuidado, Príncipe — Abbie murmurou com
voz rouca. — Mais uma atitude como esta, e pode acabar em uma
posição muito vulnerável. — Sorrindo, ela se virou e subiu a escada
com passos rápidos, desaparecendo pouco depois no corredor
escuro do segundo andar.
Mac sabia que a noite seria difícil e longa.
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CAPÍTULO IV

Jéssica não havia exagerado ao comentar o estado de seu


escritório ou o volume de trabalho. Abbie mal teve tempo de engolir
o café-da-manhã e já foi levada para trás de uma mesa. Jess
dedicou pouco mais de quinze minutos às explicações sobre o
processo de registro, sobre como funcionava a agenda onde eram
marcados os horários de alimentação e exercícios, as taxas de
hospedagem e aluguel de fêmeas e machos para cruzamentos, os
salários, os impostos e as contas a pagar e receber, e um milhão de
detalhes que compunham a rotina administrativa do Desert Rose.
Ao ver a expressão apavorada de Abbie, ela riu e garantiu que tudo
se tornaria mais claro quando pusesse as mãos na massa. Além do
mais, estaria sempre por perto para esclarecer quaisquer dúvidas.
Na hora do almoço, Abbie havia desistido de calcular quantas pastas
e envelopes organizara e arquivara, mas tinha de admitir que Jess
dissera a verdade. O trabalho não era tão complicado quanto
parecia.
— Tomei uma decisão — Jess anunciou enquanto comiam
sanduíches no escritório. A idéia havia sido de Abbie, não só porque
ainda tinha muitas dúvidas, mas porque preferia evitar encontros
desnecessários com Mac.
— O quê? Vai me demitir?
— E claro que não! Vou mantê-la aqui para sempre, nem que
tenha de acorrentá-la ao pé da mesa.
— Há trabalho aqui dentro para manter-me ocupada até o
último de meus dias — Abbie concordou rindo.
— E o meu! Sendo assim, esqueça os planos que fez para a
próxima metade do século, porque não vou deixar você sair daqui.
— Não tenho planos, Jess. Esse é o problema. Quero dizer, meu
único compromisso é dar à luz este bebê dentro de alguns meses.
Pode acreditar que passei os últimos cinco tentando me acostumar
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com a idéia de ser mãe?


— Não é uma idéia fácil de se aceitar. Estou feliz por ter vindo
para cá, porque assim pode me ajudar enquanto pensa no que quer
fazer.
— Quero voltar no tempo e agir de maneira mais responsável. —
Abbie suspirou e compreendeu que não estava dizendo a verdade.
Não lamentava a vida que crescia dentro dela. — Não. Acho que
gostaria apenas de ter escolhido melhor o homem com quem fui
irresponsável. Oh, sim, e gostaria de ter lidado melhor com as
conseqüências.
— Imagino que ele não tenha ficado feliz com a notícia.
— Ele não sabia. Conversamos recentemente, e ele não ficou
nada satisfeito com a idéia de ser pai.
— Só contou a ele recentemente?
— As circunstâncias são incomuns.
— Ele é casado?
— Não. Ele é apenas um canalha.
— Eu nem sabia que estava envolvida com alguém. Tinha planos
para apresentá-la a um de meus primos na festa de formatura, mas
o destino seguiu por outros caminhos.
Abbie continuou mastigando o sanduíche lentamente, temendo
engasgar.
— A qual deles queria apresentar-me? Jess encolheu os
ombros.
— Na época, teria ficado feliz com uma paixão fulminante de
qualquer um deles por você. Mas minha primeira escolha era Mac.
Engraçado, não? Agora que se conheceram, parece que houve uma
antipatia imediata entre vocês.
Jéssica estava enganada. Ela e Mac haviam se dado muito bem
quando se conheceram, e por isso estava naquela situação.
— Bem — Jessie continuou —, se não posso aproximá-la de Mac,
meu único primo disponível, resta apenas a alternativa financeira.
Vou ter de pagar um salário generoso para que nunca mais queira ir
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embora daqui. Ou isso, ou promovo um romance entre você e


Stanley, o treinador que vem ao rancho três vezes por semana para
cuidar de alguns animais. Ele tem idade para ser seu pai, mas acho
que vai gostar dele.
— Era só o que faltava! Mais uma figura paterna. Como se eu já
não tivesse um pai e quatro irmãos mais velhos para cuidar da minha
vida.
— Estava apenas brincando. Stanley é um homem encantador,
mas prefiro reservá-lo como minha reserva de segurança, caso
nunca encontre o sapo ideal para transformar em príncipe.
— Existem príncipes demais no Desert Rose. Eles não têm
amigos?
Jéssica riu.
— E eu aqui imaginando que se ofereceria para apresentar-me
um de seus irmãos!
Abbie nunca havia pensado naquela possibilidade. Amava os
irmãos, mas sabia que todos eram dominadores, superprotetores e
machistas.
— Posso arranjar para que conheça os quatro e escolha um
deles, mas não venha depois acusar-me de tê-la enganado. Garanto
que será mais feliz se continuarmos sendo apenas amigas, em vez de
cunhadas.
— Puxa! Esqueça que eu sugeri, está bem? As duas deram boas
risadas.
— Jess, prometo que um dia vou retribuir tudo que está
fazendo por mim. Não sei o que teria feito sem sua generosidade,
sem esse emprego temporário e...
— Esqueça. É você quem está me prestando um grande favor.
Ontem, quando chegou aqui, tive medo de que fosse embora.
— Foi um dia difícil, e ainda me pergunto se não devia ter ido
para casa e enfrentado a realidade.
— Tomou a decisão mais acertada vindo para cá, Abbie. E não
estou dizendo isso só porque preciso de sua ajuda. Vai ter de
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pensar e descobrir o que prefere fazer, e isso leva tempo. Já


esperou até agora para encarar sua família. Mais algumas semanas
não farão diferença. E não deve agir como se devesse explicações
ao mundo. Você é uma mulher grávida, não uma fugitiva da
penitenciária!
— Não sabe o que está dizendo. Se eu fosse uma criminosa,
meus irmãos estariam investindo toda a energia que têm para me
livrarem da lei. Mas, com o bebê, eles terão mais uma vida para
dirigir.
— Tem razão, sou independente demais para aproximar-me de
um de seus irmãos. E acho que já é hora de enfrentá-los. Sempre
ouvi dizer que a maternidade dá força e coragem a uma mulher.
— Talvez, mas ainda estou no estágio da covardia. Tremo
sempre que penso no momento de dizer a verdade a meus irmãos,
porque os conheço e sei que eles não pensarão em como será
divertido ter um sobrinho. A primeira reação deles será planejar o
assassinato do homem que ousou dormir com sua irmãzinha.
— Se quer saber minha opinião, esse canalha bem merece um
castigo. Sim, é isso. Deixe seus irmãos darem um susto no sujeito.
Ou não... Não. Pensando bem, não permita que eles o conheçam. Seus
irmãos podem obrigá-la a casar com o pai da criança, e nada é pior
para uma mulher do que um casamento sob a mira de uma
espingarda.
Abbie não havia pensado naquela possibilidade. Não que alguém
pudesse obrigá-la a se casar com Mac, o príncipe cafajeste. Nunca.
Nem mesmo seus quatro irmãos com toda aquela força muscular e
poder de persuasão.
— Que Ótimo! Mais um detalhe com que tenho de me
preocupar.
Jessie riu.
— Eu estava brincando! Mesmo que os Jones aparecessem por
aqui, como poderiam casá-la com um homem invisível? Relaxe, Abbie.
Está segura no rancho. Ninguém vai incomodá-la enquanto estiver
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aqui.
Ah, não? Alguém naquele rancho já a incomodara. E ainda a
incomodava. Ali, onde esperava sentir-se livre para pensar e tomar
suas decisões com confiança, via-se tomada por emoções confusas e
incertezas. Ali se deparara com um problema ainda maior do que
aquele representado por sua família. Ali tinha de encarar Mac e a
descoberta de que, depois do beijo da noite anterior, ainda se
sentia atraída por ele.

Mac entrou na arena interna e apoiou um pé na parte inferior


da cerca. Os braços repousavam sobre o topo da divisória de
madeira. Olívia Smith estava sozinha no interior do círculo,
trabalhando com uma égua de pêlo preto e reluzente e um potro
castanho, seu filhote. Aos quatro meses de idade, o animal já
demonstrava os inigualáveis atributos físicos e o temperamento
orgulhoso de seu pai, Jabbar, o garanhão que dera início ao Desert
Rose. Khalid era fruto de um feliz acidente. Provando ser
surpreendentemente viril para um animal tão velho, Jabbar
escapara do estábulo e acabara no mesmo pasto em que fora
deixada Khalahari, a égua que Alex comprara pouco antes para
participar de exposições. Havia sido um parto muito difícil, mas a
Dra. Hannah Clark, atualmente esposa de Alex, conseguira salvar
mãe e filho.
Khalid tinha a linhagem e o temperamento de um campeão, mas
ainda se mostrava mais interessado nas guloseimas que Olivia levava
nos bolsos, recompensas que oferecia sempre que o animal cumpria
uma tarefa de maneira satisfatória.
Só precisava observar o trabalho de Olívia para ter certeza de
que agira corretamente deixando-a treinar o último filhote de
Jabbar. A princípio pensara em assumir a tarefa pessoalmente, e
travara uma batalha contra o próprio ego durante algumas semanas
antes do parto, mas no final decidira que Livy tinha mais energia e
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concentração. Não que houvesse deixado de confiar nas próprias


habilidades. Pelo contrário. Sabia que ainda era o melhor treinador
de cavalos árabes de todo o país. Seu sucesso era testemunhado
pela interminável série de vitórias dos animais que treinava e pelo
grande número de criadores esperando por uma vaga em sua agenda
de treinamentos. Desde cedo reconhecera em si mesmo um talento
natural para o trabalho com os animais, mas Olívia, ainda aos vinte e
três anos de idade, revelava uma competência espantosa, um talento
natural tão grande quanto o dele. Ela havia desenvolvido um vínculo
quase místico com o pequeno Khalid, e podia ver que um dia, quando
amadurecesse e aprimorasse a habilidade natural, Livy seria ainda
melhor do que ele.
Por isso havia permitido que ela trabalhasse com Khalid.
Precisava valorizá-la e mantê-la na folha de pagamento do Desert
Rose, ou teria uma concorrência acirrada dentro de poucos anos.
— Aposto que ele estará em boa forma para a competição na
semana que vem.
— Ele vai vencer! — Livy anunciou confiante. Mac não era um
sonhador. Preferia temperar seus desejos com uma atitude mais
prática e realista. Admirava o otimismo da jovem, mas não
acreditava que a vida pudesse ser tão simples. Pensar em Abbie no
píer, usando sua camisa molhada, era toda a evidência de que
precisava.
— Estou indo a Austin para encontrar Dale — disse, referindo-
se a um treinador interessado em cruzar uma de suas éguas com
Jabbar. — Devo voltar tarde. Pode exercitar aquele garanhão
castanho no final da tarde?
— É claro que sim. Pensei que houvesse estado com Dale ontem.
E estivera, antes de ir ao aeroporto encontrar Abbie, mas
ninguém precisava saber que não voltaria a falar com o treinador
nos próximos dias. De vez em quando, um homem precisava afastar-
se de tudo e conquistar algum espaço para pensar. Desde que Abbie
chegara, havia pensado muito em uma série de coisas, e investira
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uma enorme quantidade de energia e esforço para manter-se longe


dela. A estratégia dava melhores frutos naquele dia, ao contrário
da noite anterior. Ainda podia sentir os lábios queimando com a
lembrança daquele beijo, e o corpo reagia intensamente cada vez
que pensava nela em sua camisa ensopada. Melhor banir a
recordação para o fundo da mente, onde era seu lugar, junto com
todas as fantasias que criara nos últimos cinco meses.
— Sabe como Dale é persistente. Ele não vai me deixar em paz
enquanto não tiver um filhote de Jabbar, apesar de eu já ter
explicado que Khalid foi um acidente.
— Diga não e encerre o assunto de uma vez. Você nunca teve
problemas para expor sua opinião antes.
— E verdade.
A voz suave e doce de Rose ecoou na entrada da arena. Mac
virou-se e notou que ela o observava com uma expressão sombria, a
mesma que revelava freqüentemente desde que chegara ao rancho
meses antes. Era como se não pudesse escolher entre a felicidade
de finalmente estar com os filhos e o sofrimento de ter vivido
tantos anos longe deles. Para Mac, a situação era clara. Depois de
ter passado quase toda a vida acreditando ser órfão, era sempre
uma imensa alegria vê-la caminhando pelo Desert Rose. Sua mãe
estava viva, e nada mais importava.
Sorrindo, estendeu a mão em um convite silencioso.
— Khalid é muito parecido com o pai — Rose comentou. — Ele
me faz lembrar Jabbar quando tinha essa idade, como você me faz
lembrar seu pai. É orgulhoso, forte, determinado... Parece estar
sempre certo de suas escolhas, das atitudes que toma. Ibrahim
soube escolher seu nome. Makin significa forte, firme, e combina
com você.
Sabia que a força e a determinação marcantes em sua
personalidade não eram heranças apenas do pai. Rose também havia
demonstrado ser forte e determinada antes mesmo de Mac ter
idade suficiente para compreender o significado de tais palavras.
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Perdera as contas de quantas vezes ouvira a mesma história; sua


mãe, Rose, contara apenas com a ajuda da cunhada, Layla, para tirar
os filhos e Jabbar de Sorajhee. Conhecia de cor os eventos que
levaram à inquietação e à revolução que precipitara a saída dos
membros da família do país onde ele, Alex e Cade haviam nascido,
mas não se lembrava de nenhum deles. Não tinha nenhuma
lembrança do pai, o Rei Ibrahim. Era um texano de coração e alma,
e tia Vi e tio Randy haviam sido os únicos pais que conhecera. O
rancho era o único lugar que poderia chamar de lar. Talvez, no
futuro, visitasse Sorajhee e Balahar ocasionalmente, como Cade e
Serena pretendiam fazer, mas sabia que o Oriente nunca ocuparia
mais do que um pequeno recanto de sua vida, e essas jornadas
àquela terra de sol e areia seriam apenas uma peregrinação, uma
obrigação moral com a memória do rei que havia sido seu pai.
— Está ainda mais linda hoje — disse com sinceridade. Nunca
se cansava de apreciar a beleza delicada da mãe. Os traços
endurecidos pela tragédia e pelo sofrimento pareciam mais suaves
depois de alguns meses no rancho. Era como se ela desabrochasse
ao sol depois de um longo inverno. — O calor seco do Texas parece
combinar com você.
— Adoro o calor. Senti falta das altas temperaturas durante os
anos que passei na França. Lá era sempre tão frio...
— Um sanatório não é o que costumamos chamar de lar
aconchegante.
— Oh, mas não era tão terrível quanto está imaginando — ela
riu. — Além do mais, o sanatório faz parte do passado. Acabou.
Agora estou novamente com você, Alex e Cade. A família é mais
importante que tudo.
Mac pensou nas cartas que ela recebia ultimamente, todas com
o selo real do Rei Zakariyya Al Farid de Balahar. Talvez a
correspondência tivesse alguma relação com o rubor de
contentamento em seu rosto. Cade e Serena acreditavam que as
cartas trocadas por Rose e o pai de Serena eram mais que simples
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comentários entusiasmados e votos de felicidade pelo jovem casal.


Mac reagira com um certo ceticismo quando Cade sugerira a idéia,
mas estava começando a pensar que podia haver algo de verdadeiro
nela, afinal.
— A correspondência já chegou? — perguntou.
O rubor tornou-se mais intenso, comprovando suas suspeitas.
Rose encarou-o com firmeza.
— Sim, a correspondência já foi entregue. Por que não vai ao
escritório e verifica se o que está esperando chegou?
— Não estou esperando nada — Mac respondeu tenso. — E não
tenho nada para fazer no escritório.
— Hmm... — Rose olhou para Khalid e Livy como se não houvesse
notado a reação do filho. — Notou como a amiga de Jessie é
encantadora?
— Ela está grávida.
— Ah, e você tem medo dessa condição. Entendo. Muitos
homens temem esse período tão misterioso. Por isso a evita?
Mac piscou e encarou-a.
— Não tenho medo de nada. O estado daquela mulher não tem
nada a ver comigo, e ela chegou aqui há menos de vinte e quatro
horas. Como alguém pode pensar que a estou evitando?
— Foi só um comentário, Makin. Conversei pouco com Abbie,
mas ela parece ser uma jovem adoráve com quem talvez tenha
interesses em comum. Não queria aborrecê-lo.
— Não estou aborrecido — mentiu, tentando negar o óbvio.
Abbie já estava começando a arruinar sua vida, estabelecendo laços
de amizade com sua mãe. Que golpe baixo! — Não sei de onde tirou
a idéia de que posso ter algo em comum com ela.
— Jéssica sempre acreditou que você e Abbie poderiam se dar
bem, mas agora ela pensa que você disse alguma coisa para ofender
Abbie.
Ótimo. Abbie conseguira conquistar uma aliada importante, e
Jéssica já estava divulgando a idéia de que Mac a ofendera de
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alguma forma. Só uma natureza diabólica poderia indispor um


homem com sua mãe e uma prima tão querida em tão pouco tempo.
Tia Vi devia ter sido incluída na discussão. Ela e Rose estavam
sempre juntas, recuperando o tempo perdido e fortalecendo a
amizade. Mas, se sua ausência na mesa do jantar, do café e do
almoço já estava sendo comentada e atribuída à presença de Abbie,
só tornaria a possibilidade ainda mais plausível tentando negá-la.
— Não me lembro de tudo que disse, mas sei que não a ofendi
com gestos ou palavras. Isto é, a menos que ela esteja sensível
demais por conta de sua condição.
Rose encarou-o em silêncio por alguns instantes. Depois olhou
para a arena.
— Ele também é teimoso como o pai — disse. Mac levantou-se.
— Tenho um compromisso em Austin. Preciso ir andando, ou
alguém pode pensar que estou evitando minhas responsabilidades.
Ela sorriu do comentário sarcástico e irritado.
— Cuidado na estrada, meu filho.
— Eu sou sempre cuidadoso — Mac respondeu, fingindo não ter
nenhuma grande preocupação enquanto se afastava com passos
comedidos.

Rose permaneceu na arena depois de Livy ter levado Khalid e


Khalahari de volta ao estábulo. Sentir o cheiro dos animais era como
voltar no tempo e pisar novamente em Sorajhee, onde conhecera a
mais intensa felicidade. Sabia que era uma mulher de sorte por ter
amado Ibrahim, mesmo que seu assassinato houvesse interrompido
prematuramente a realização de tantos sonhos. Mas tinha os filhos
dele, Alim, Kadar e Makin, e depois de ler a correspondência
entregue naquele dia, podia ter também a esperança de rever o
quarto filho, o bebê que fora roubado minutos depois de nascer, o
último filho de Ibrahim. Sharif, O filho adotivo do aliado de seu
marido. Havia sido uma surpresa ver aquele rosto nas fotos do
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casamento de Cade e Serena em Balahar. A princípio temera estar


sofrendo uma alucinação, um quadro comum durante o período que
passara no sanatório. Mas, aos poucos, na medida em que ouvira
Serena falar sobre o pai, o Rei Zak de Balahar, e sobre seu irmão, o
príncipe herdeiro, começara a compreender que o filho que havia
dado à luz naqueles primeiros e sombrios meses de confinamento
podia estar vivo. Já havia enviado uma carta ao rei revelando sua
crença sobre Sharif ser seu filho. Esse era um segredo precioso
que mantinha trancado no coração. Haveria tempo para
compartilhar sua alegria com os outros filhos quando a verdade
fosse descoberta e confirmada. Esperaria pela resposta de Zak
antes de alimentar outras esperanças além das dela.
— Olá — Livy cumprimentou-a ao voltar sem os animais. — Já
terminei meu trabalho por aqui, mas Stanley Fox está treinando
dois potros na arena externa, caso queira ir até lá.
Rose sorriu. Gostava da jovem de cabelos castanhos e
selvagens. Os olhos cor de violeta davam ao rosto juvenil um brilho
quase sobrenatural,
— Obrigada, mas prefiro ficar aqui. Você tem um talento
extraordinário.
— Com os cavalos? Oh, obrigada! Mac sempre diz que serei uma
boa treinadora.
— Meu irmão me contou que Makin sempre teve um vínculo
mágico com os cavalos. Desde menino. Ele reconhece esse mesmo
dom em você, ou não teria permitido que treinasse o último filhote
de Jabbar.
— Ouvi histórias sobre como tirou seus filhos e Jabbar do país
onde eles nasceram. Deve ter sido assustador, mesmo para uma
rainha.
— Isso tudo aconteceu há muito tempo, e várias coisas
ocorreram desde então. Honestamente, não me lembro de ter
sentido medo, embora tenha certeza de que fiquei apavorada.
— É como se estivesse conversando com um personagem de
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conto de fadas. Casou-se com um príncipe estrangeiro, tornou-se


rainha quando ele foi coroado rei, e depois teve de fugir quando ele
foi assassinado. Sempre fiquei fascinada com aqueles contos das
Mil e Uma Noites. Príncipes que saem dos desertos em noites
estreladas e raptam suas amadas, tramas políticas, mulheres
misteriosas... Acho que li todos esses romances quando estava no
orfanato. Sei que deve ser doloroso lembrar tudo que passou, e não
devia estar mencionando tais fatos, mas...
— Eu entendo. Está curiosa, e é natural. — Podia entender as
fantasias de uma jovem órfã trancafiada entre os muros de sua
solidão. — Também sonhava com príncipes árabes quando era
menina, e foi maravilhoso poder realizar tal sonho. E claro que ele
não surgiu do deserto montando um cavalo branco, mas... Não posso
me queixar.
— Ele dirigia um carro! — Livy adivinhou com entusiasmo.
— Não. O cavalo era preto, como Jabbar. Na verdade, meu
príncipe montava o pai de Jabbar. O animal era lindo, mas eu só
tinha olhos para o homem que o conduzia. A princesa apaixonou-se
pelo príncipe. Amei-o tanto, que não teria me importado se ele
fosse um comerciante, um beduíno ou um mendigo. Amei Ibrahim
pela pessoa que era, não por seus títulos. Mantenha isso em mente
quando estiver imaginando seu final feliz.
— Oh, mas eu não penso mais nisso. — O rubor que tingiu seu
rosto era a prova de que estava mentindo. Rose sabia que havia uma
princesa escondida em cada mulher, e talvez cada homem pudesse
transformar-se em um príncipe, desde que tocado pelo verdadeiro
amor. — Só estava imaginando como vive uma rainha de verdade.
— Até os dois últimos meses em Sorajhee, aquele foi o período
mais feliz de minha vida. Mas agora... Bem, agora sou feliz por estar
aqui no Desert Rose com minha família.
— É como se sempre houvesse estado aqui. E creio que esteve,
ao menos em espírito. Até o rancho tem seu nome!
— Você é muito gentil, Olívia. Se tivesse uma filha, gostaria de
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que ela fosse como você.


Livy não respondeu, mas, quando saiu da arena, Rose ouviu a voz
melodiosa e doce cantarolando um trecho de "Um Dia Meu Príncipe
Vai Chegar".

Abbie entrou no estábulo e caminhou lentamente por entre as


baias, observando seus habitantes e apreciando suas peculiaridades.
Estava começando a perceber que os cavalos eram tão únicos quanto
os seres humanos. Estava no rancho há dois dias, e já havia
aprendido muito sobre a criação e o treinamento da raça árabe,
sobre a administração de uma propriedade rural e as exposições
que eram o ponto alto do negócio. Durante esse tempo havia se
esforçado para ficar fora do caminho de Mac, e até então colhia
bons frutos, possivelmente por ele ter desaparecido desde aquele
interlúdio no lago.
Tudo bem. Quanto menos o visse, melhor. Infelizmente, Jessie
insistia em tirar conclusões baseadas em poucas ou nenhuma
evidência e estava sempre dizendo coisas para indicar que
considerava o comportamento do primo muito estranho e de alguma
forma ligado a sua presença. Devia ter mantido a boca fechada, em
vez de responder às perguntas da amiga. Mas as questões eram
sempre tão sutis e inocentes, que quando se dava conta estava
dizendo que o bebê teria olhos escuros, cabelos negros e pele
morena. Como não possuía nenhuma dessas características, o que
fazia era descrever a aparência do pai da criança. Em outra ocasião
Jessie perguntara sobre a data prevista para o parto. Um rápido
cálculo mental, e ela chegara ao final do mês de dezembro, à festa
de formatura. Apavorada, Jessie confessara ter conhecido o
homem misterioso naquela noite; não sabia seu nome e não esperava
vê-lo nunca mais.
A verdade era como um círculo que se tornava menor em torno
dela, e em pouco tempo Jessie mencionava um comentário de Abbie
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sobre ela ter revelado a gravidez recentemente ao pai da criança.


Daí havia sido um pulo para a questão crucial. Quando e como ela
encontrara o homem misterioso? E como ele havia reagido à notícia?
Abbie não exigiria nem mesmo o pagamento da pensão alimentícia?
Afinal, o bebê era responsabilidade de ambos!
Abbie explicou que o sujeito nem acreditava ser pai da criança,
e Jessie desistira do interrogatório. Depois disso ela se mostrara
preocupada, mas Abbie sabia que não havia dito nada que pudesse
levar ao nome de Mac. De qualquer maneira, teria de ser mais
cuidadosa. Mais reservada. Uma pergunta inocente podia levar a
confissões chocantes e inoportunas.
Olhando para o relógio, Abbie respirou fundo e tirou o celular
do bolso para discar o número de casa. Sabia que o estábulo não era
o melhor lugar para fazer aquela ligação, mas a recepção em seu
quarto era péssima, e não queria que os irmãos decidissem que
precisava de um novo aparelho com mais recursos. Para isso eles
teriam de ir entregar o telefone pessoalmente a fim de explicar
como deveria usar o aparato estúpido.
— Olá — disse com falso entusiasmo ao ouvir a voz de Brad. —
Estou ligando, conforme exigiram, e com alguns minutos de
antecedência.
Brad riu como se a possibilidade de Abbie não telefonar na
hora combinada não o preocupasse.
— Como vai indo minha princesinha? Já se cansou de ser
conselheira de acampamento?
— É claro que não! Nunca tive um verão tão divertido. As
crianças são ótimas, o acampamento é maravilhoso... Não podia
estar melhor.
— Espere mais alguns dias. Uma semana, e garanto que vai
mudar de idéia. Oh, e mamãe não está muito feliz com o que fez,
mocinha. Podia ter encontrado dois minutos para passar em casa
entre a Academia da Srta. Amélia e o tal acampamento nas
Montanhas Pocono.
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— É você quem não está feliz. Mamãe e eu conversamos, e ela


entendeu que eu ficaria exausta com tantas viagens. Precisava de
dois dias para descansar e recarregar as baterias.
— Bem, esperamos que volte logo. Esqueça essa tolice de passar
todo o verão longe de sua família. Caso contrário, teremos de ir até
aí para a reunião de pais.
Pânico!
Abbie forçou uma gargalhada.
— Não seja ridículo! Se é justamente naquele dia que os
conselheiros trabalham mais! Eu nem poderia recebê-los.
— Tudo bem, escolha outro final de semana, então. Melhor
ainda, ajude a família a economizar o dinheiro das passagens aéreas
e consiga três dias de folga para vir até aqui.
— Boa idéia — ela mentiu. — Quem mais está aí? Jaz? Ty?
Mamãe e papai?
— Estamos todos reunidos. Queríamos ouvir sua voz e saber o
que tem feito. Com quem quer falar agora? Quinn?
Abbie sentou-se em um fardo de feno e preparou-se para falar
com todos os membros da família. Enquanto mantinha os olhos fixos
na porta, caso alguém se aproximasse o bastante para ouvi-la, ela ia
recitando uma cantilena interminável de mentiras, mentiras e mais
mentiras.

Jéssica observava os primos discutindo sobre a última ocasião


em que haviam tirado a sorte com as palhas. Era assim que eles
resolviam quase todas as pendências e diferenças de opinião; com
palhas de tamanhos diferentes. Na última vez, Cade e Serena
acabaram casados.
Mac reclamava de ser enganado pelo irmão. Jessie nunca vira
Cade tão feliz ou Mac tão taciturno. Era como se naquele momento
os gêmeos vivessem em planetas diferentes. Mac provocava Serena,
dizendo que ela havia sido a maior prejudicada. Se Cade não
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houvesse roubado, ela não teria se casado com o pior dos dois
irmãos.
Bobagem. Serena e Cade estavam apaixonados, e Mac estava
contente por ser o último xeque solteiro do Desert Rose.
Ou não?
Tinha a sensação de que ele e Abbie já se haviam encontrado
antes de Mac ter ido buscá-la no aeroporto. Na noite de formatura,
talvez? Mac era o homem misterioso? O pai do bebê de Abbie?
Sabia que era impossível, absurdo, mas a idéia persistia. Por que os
dois não suportavam conviver por muito tempo no mesmo aposento?
Por que não se encaravam? Por que mal se falavam desde que ela
chegara ao rancho? Por que Mac passara meses perguntando sobre
suas amigas de faculdade, e de repente parecia ter perdido o
interesse pelo assunto?
Não. Estava sonhando, tentando construir uma teoria
fantasiosa baseada em hipóteses absurdas. Mesmo assim, a intuição
insistia em abraçar a idéia. Havia algo de errado em como Abbie se
mantinha em um lado da sala, conversando com Hannah, enquanto
Mac ficava no outro tentando aparentar uma alegria que estava
longe de sentir.
Era como se ele quisesse provar sua indiferença a Abigail Jones
e convencer Jessie de que mal podia raciocinar, tal a intensidade
com que ela o afetava. Seria hilário se não fosse tão sério. Abbie
estava grávida, e aquele filho podia ser de Mac.
Abbie riu de alguma coisa que Hannah estava dizendo. Os
ombros de Mac ficaram tensos, como se o som o atingisse de
maneira física e dolorosa. Sua teoria tinha algumas falhas,
certamente, mas ainda não tinha motivos concretos para abandoná-
la. De fato, quanto mais pensava nela, mais ela parecia plausível.
Mac e Abbie se conheceram por acaso na festa de formatura.
Passaram a noite juntos e, por alguma razão, seguiram caminhos
distintos na manhã seguinte. Mac era o pai do bebê que Abbie
estava esperando. Por isso os dois se comportavam de maneira tão
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estranha.
Mas não tinha certeza de nada, e por isso não podia
desmascará-los. Sabia que seria inútil interrogá-los, pois nenhum
dos dois diria a verdade. Sendo assim, tinha apenas uma alternativa.
Faria com que os dois ficassem juntos pelo maior tempo possível nos
próximos dias, Talvez pudesse provocar um espetáculo pirotécnico!
A partir da manhã seguinte, evitar a companhia do outro passaria a
ser motivo de grande frustração para seu primo e sua amiga. Jessie
sorriu. A brincadeira prometia ser divertida.
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CAPÍTULO V

Era surpreendente. Há uma semana não sabia distinguir a


cabeça da cauda de um cavalo, e hoje estava a caminho de uma
exposição. E como expositora! Bem, na verdade, Abbie era apenas
mais uma ajudante, alguém para ir buscar café ou sanduíches para a
equipe do Desert Rose, dar telefonemas, costurar roupas e atender
a outras necessidades imediatas e práticas. Jéssica teria ido em
seu lugar, como era de costume, mas se Nick Grayson, filho do sócio
de seu pai e ruína de sua existência, não houvesse exigido
imediatamente um relatório detalhado que só ela poderia produzir.
Mesmo admitindo que não seria justo, Jess havia pedido que Abbie
a substituísse.
Depois de pesquisar quem estaria presente na tal exposição e
deduzir que Mac não fazia parte da lista, Abbie decidira atender ao
pedido da amiga. Queria ir. Seria divertido e excitante, uma chance
para assistir às estrelas do Desert Rose exibindo seus talentos,
uma oportunidade para comprovar as habilidades de Mac.
Infelizmente, não havia imaginado que participar do show implicaria
algumas mudanças em sua rotina diária. Daquele momento em
diante, por exemplo, tivera de passar mais tempo no estábulo e em
outras dependências do rancho, onde aprendera o básico sobre os
cuidados com os cavalos. E aprendera muito, quase tudo com Mac,
cuja presença consistente a levara a sentir que não podia abrir os
olhos sem se deparar com seu olhar de reprovação. Abbie levara
algum tempo para chegar a certas conclusões óbvias, mas agora
percebendo que os objetivos de Jessie iam muito além de produzir
e enviar um relatório detalhado para a sede da Coleman-Grayson em
Dallas. Na primeira vez em que Olivia fora substituída por Mac nas
sessões de treinamento, Abbie acreditara em uma simples
coincidência, mas depois, quando o evento se repetira quase que
diariamente, passara a suspeitar de um complô para aproximá-la do
príncipe caubói. Pensando com o coração generoso, em vez de usar o
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cérebro, Jessie decidira promover um romance entre o primo e a


amiga. Infelizmente, era tarde demais para um romance. Estavam
atrasados em cinco meses. Mesmo assim, Abbie sentiu-se tocada
pelo gesto de carinho e atenção. Mac, por outro lado, parecia estar
bastante contrariado com a situação.
— O que está tentando provar? — ele perguntara irritado ao
substituir Livy na arena pela enésima vez. Naquela ocasião, Jessie
chamara a moça ao telefone. Abbie media porções de ração para os
animais. — Pensei que houvesse concordado em ficar fora do meu
estábulo.
Sabia que ele não merecia uma explicação. Mesmo assim...
— Jessie acha que devo aprender o básico sobre os cavalos. Ela
acredita que o estábulo e as atividades desenvolvidas nele são
importantes para a operação da Corporação Coleman-Grayson, da
qual você é apenas um acionista.
— Acionista majoritário.
— E claro. Bem, obrigada pela oferta gentil de ensinar-me
algumas coisas, mas prefiro esperar por Livy.
— Livy precisa preparar-se para a exposição desta semana. Ela
não tem de ficar tomando conta de uma novata como você. — O
suspiro fora uma obra-prima de frustração. — O que quer saber?
— Tudo.
E assim a semana havia começado. Com a resignação e a altivez
típicas da realeza, Mac falara um pouco sobre tudo, mantendo a
conversa restrita às questões técnicas do rancho e evitando
assuntos pessoais e qualquer tipo de aproximação. Se ela fazia uma
pergunta, a resposta era sempre simples e direta. Quando oferecia
alguma informação, Mac utilizava apenas as palavras necessárias e
fazia questão de mostrar-se indiferente. Abbie seguia suas
instruções ao pé da letra interessada em aprender e, embora
odiasse admitir, conquistar ao menos um sorriso de aprovação.
O sorriso nunca aconteceu, mas sempre que Livy se oferecia
para assumir as lições, ele a dispensava dizendo que a exposição era
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mais importante. Abbie sabia que ele tentaria impedi-la de ir, se


desconfiasse de sua intenção, e por isso mantinha sua participação
em sigilo. Afinal, não era da conta dele.
Mas de repente, agora que estava sentado ao lado dele na
cabina da caminhonete preta a caminho de Dallas e da exposição de
cavalos árabes, lamentava não ter sido mais franca. Mac parecia
ferver sentado ao volante, os olhos escuros iluminados por uma
raiva como ela jamais vira antes. E tivera diversas oportunidades de
vê-lo zangado naquela semana desde que chegara ao Desert Rose.
Seria inútil explicar que Jessie estava por trás da proximidade
forçada, que planejara todo o esquema desde o início até o atraso
que a impedira de sair do escritório até minutos antes da partida do
comboio. Não sabia como a amiga havia conseguido, mas no momento
da partida da equipe, todos os assentos estavam ocupados, exceto
um. Aquele ao lado de Mac.
— Quero que saiba que a idéia não foi minha — disse, incapaz
de suportar um silêncio repleto de acusações.
— Pode ter certeza de que também não foi minha. E não perca
tempo tentando convencer-me de que a idéia foi de Jessie.
— Ela me pediu para substituí-la. Deve saber que eu não teria
concordado com isso, se soubesse que você viria.
— Você sabia que eu viria.
— Jessie disse o contrário. Ela garantiu que, na hipótese
remota de decidir participar da exposição, você só apareceria para
acompanhar a participação da equipe do Desert Rose e partiria em
seguida. Segundo sua prima, você nunca comparece a esses eventos
porque acredita que seu trabalho consiste apenas em treinar e
preparar os animais.
— Que absurdo! Não perco a exposição em Dallas desde que fiz
nove anos e conquistei meu primeiro prêmio de campeão! Participo
de pelo menos vinte exposições por ano, e sou sempre um dos
primeiros a chegar e um dos últimos a partir. O Desert Rose é
famoso em todo o mundo pelos animais que criamos e treinamos,
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mas são esses eventos que mantém nosso nome na mídia, dando aos
animais e aos nossos empregados o reconhecimento e a fama que
merecem e trabalham duro para conquistar. Treinar e exibir cavalos
árabes é a minha profissão, e sei que sou bom nela. Não perderia
uma exposição importante como a de Dallas, e Jéssica sabe disso.
Minha prima pode ser responsável por boa parte desta semana, mas
não acredito que esse pequeno erro de cálculo faça parte da lista
de responsabilidades.
— Então, além de ser uma mentirosa compulsiva, agora também
sou acusada de planejar minha presença em uma exposição de
cavalos árabes? Para quê? Para roubar segredos profissionais e
vendê-los à concorrência?
— Se acha que descobriu algum segredo durante esta semana,
não aprendeu nada sobre os cavalos ou sobre mim. Falei apenas
sobre o básico, sobre os primeiros passos do que é feito em um
rancho.
— Nesse caso, deve estar pensando em alguma outra maneira
nefasta de arruinar sua vida. Abbie Jones não perderia tempo
aprendendo sobre um assunto qualquer por mero interesse.
— Confesso que fiquei surpreso quando se dispôs a aprender.
Admito até que fiquei honrado com todo esse esforço para chamar
minha atenção.
Ah! Como se houvesse tentado!
— Se quisesse chamar sua atenção, teria pulado a lição sobre
como limpar os dentes dos cavalos e passado diretamente ao
mergulho noturno.
Mac parou para pensar.
— Se me lembro bem, fui eu que a convidei para nadar naquela
noite.
— Oh, sim! E como sua memória é muito superior à minha, como
todo o resto, deve ter sido assim mesmo. Você nunca erra, não é?
— Quer que eu pare a caminhonete para você descer? — Mac
disparou impaciente. — A caminhada de volta ao rancho é longa, mas
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será ainda mais difícil voltar de Dallas. E saiba que não vou tolerar
provocações e antagonismos durante a exposição.
Primeiro ele a acusava de ser a pior pessoa do mundo, e depois
a proibia de reagir. Como pudera considerá-lo atraente?
Um olhar na direção de Mac Coleman, e Abbie encontrou a
resposta. Ainda se lembrava de como aquele rosto era
transformado por um sorriso, de como os olhos escuros brilhavam
iluminados pela paixão. Queria que ele a olhasse com desejo
novamente, que a tocasse com ternura e fizesse seu corpo entoar a
mais linda canção de amor. Mesmo sem querer, ainda se lembrava da
confiança que depositara nele no momento em que se conheceram.
Havia sido uma experiência única, algo que jamais esperara viver,
mas naquele momento compreendera que aquele era um ser humano
especial que poderia aprender a amar com o tempo. Mas não tivera
tempo. A um passo da independência, de seu primeiro emprego e do
começo de uma vida nova, partira sem sequer despedir-se. Talvez
tudo houvesse sido diferente se houvesse ficado com ele por mais
algumas horas, se houvesse esperado Mac despertar para dizer seu
nome e deixar um número de telefone, caso ele quisesse encontrá-
la. Por outro lado, agora sabia que ele era um príncipe, um homem
com um destino traçado que a teria visto apenas como uma princesa
em potencial, não como uma mulher normal com desejos, sonhos e
projetos. Mac jamais a veria novamente como aquela mulher que
passara a noite em seus braços.
— Não posso voltar a pé para o rancho — disse. — E não vou
perder a chance de assistir a um evento tão importante só porque
você é um canalha egoísta com complexo de perseguição.
— Ah, passou da defesa ao ataque! É uma tática mais
apropriada ao seu estilo. E como o final de semana está apenas
começando, sugiro que façamos uma trégua até o final da exposição.
— Uma trégua? — Abbie repetiu, certa de que não ouvira
corretamente.
— Vamos fumar o cachimbo da paz. Superar diferenças pelo
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bem da equipe. Sorrir e ranger os dentes. Sabe como é... Uma


trégua.
Devia haver uma intenção pouco nobre por trás da proposta.
— Esqueceu de dizer que vamos trocar beijos e fazer as pazes.
Ele a encarou com um sorriso malicioso.
— E isso que quer? Sim, sim, queria!
— E claro que não. Só quero entender que concessões devo
fazer em benefício dessa trégua que está propondo.
— Deve abrir mão da animosidade, basicamente. Uma exposição
envolvendo títulos implica horários apertados e acomodações ainda
mais restritivas. Não podemos desperdiçar energia com discussões
inúteis e ressentimentos tolos. Todos têm de pensar no objetivo, e
isso significa que ninguém deve acrescentar maiores doses de
stress a um evento naturalmente tenso. Sendo assim, estou pedindo
que deixe de lado seus propósitos pessoais pelos próximos dois dias,
enquanto me concentro no que sei fazer.
— Dominar e dirigir as pessoas a fim de obrigá-las a seguirem
suas ordens?
Um músculo contraiu-se na mandíbula de Mac.
— Escute, vai ser um final de semana longo e não quero passá-lo
brigando com você. Vou perguntar novamente: concorda com uma
trégua até voltarmos ao rancho?
— Vamos ver se entendi. Está me pedindo para fazer as pazes
com você?
— Bem, eu pediria aos cavalos no trailer, mas já temos um
Ótimo relacionamento. Sendo assim, só resta você.
— Que tipo de relacionamento mantém com os cavalos?
— Dou a eles minha atenção, confio em suas habilidades e
procuro não ficar no caminho quando eles estão trabalhando. Em
troca, eles sempre atendem aos meus pedidos.
— Oh, entendo. Espera que eu atenda a todos os seus pedidos.
— Admito que minha vida seria muito simples dessa forma. —
Havia um brilho bem-humorado em seus olhos, ao contrário de
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antes. — Normalmente fico tenso quando participo de uma


exposição, e não quero desperdiçar o pouco tempo que terei para
refletir e relaxar me preocupando com você.
— Não entendi.
— É simples. Às vezes sou ríspido com as pessoas durante um
torneio como o deste final de semana, e não quero que tome minhas
atitudes como pessoais, caso aconteça com você.
Abbie gostava da súbita hesitação na voz dele. Era bom saber
que, de alguma forma, Mac se importava com sua opinião.
— Em resumo, espera que eu atenda a todos os seus pedidos e
não me ofenda com sua rispidez. E o que eu teria a ganhar com
minha generosidade?
— Não banque a engraçadinha. Já está ganhando muito mais do
que merece.
— Oh, é verdade... — Abbie pousou as duas mãos sobre o
ventre.
O humor desapareceu dos olhos dele.
— Sabe muito bem que não foi isso que eu quis dizer.
— Quis dizer que devo ser grata por todo o tempo que gastou
comigo esta semana. Para demonstrar minha gratidão, devo aceitar
tudo a fim de fazê-lo feliz. — Ela encolheu os ombros. — Lamento,
mas sua felicidade não faz parte de minha lista de prioridades.
— Muito bem, vamos esquecer as negociações de paz, e eu lhe
direi como deve ser o final de semana. Eu direi onde deve se sentar
para assistir à exposição. Você ficará quieta e apreciará o
espetáculo, ou não. O problema é seu, desde que fique quieta e
permaneça bem longe dos cavalos e de mim. Alguma pergunta?
— Só uma. Por que não me expulsou da caminhonete antes de
sairmos do rancho? Se vai me tratar como um estorvo e obrigar-me
a passar todo o tempo sentada nas arquibancadas, não precisava ter
me trazido.
— Confesso que pensei em expulsá-la da caminhonete, mas,
determinada como estava, teria tomado um carro emprestado e
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dirigido até Dallas sozinha, se fosse o caso. Enquanto estiver


comigo, posso ficar de olho em você.
— O que, pelo que acabou de dizer, não quer fazer. — Abbie
encarou-o aflita, desejando poder participar das atividades do final
de semana. — Posso ser útil, Mac. Eu sei que posso. Livy disse que
eu aprendo depressa e que os cavalos gostam de mim,
— Você está grávida! Não devia ter se aproximado dos animais.
— Não vou montar em um deles e executar acrobacias suicidas.
Só quero segurar as rédeas, ajudar com os trajes e com a
alimentação, coisas desse tipo.
— Não. Não imagina o que pode acontecer. Os cavalos ficam
nervosos e agitados nesses eventos. Assustam-se com facilidade,
estranham pessoas desconhecidas, reagem de maneira incomum...
Você pode levar um coice, uma cabeçada, e o bebê pode ser
prejudicado.
— Quer que eu acredite que está preocupado comigo e com o
bebê?
— O fato de não acreditar que sou o pai dessa criança não
significa que deseje algum mal a ela.
— Por que concordou quando eu disse que queria aprender mais
sobre os cavalos? Por que não se recusou a assumir essa
responsabilidade?
— Porque você queria aprender. Se soubesse que pretendia
invadir uma exposição, juro que a teria mandado de volta ao
escritório, bem longe das minhas arenas. Não sei como convenceu
Jéssica a ajudá-la nesse seu plano, mas pretendo ter uma conversa
séria com ela assim que voltarmos para casa.
— Talvez eu tenha essa conversa com Jessie. Pensando bem,
acho que devo ter uma conversa séria com toda a família.
— Está me ameaçando, Abbie.
Ela fechou os olhos, tomando consciência de que se preparava
para uma batalha que nem queria vencer.
— Oh, está bem, concordo com sua trégua estúpida!
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— É tarde demais. Não que se importe com a trégua, é claro.


Parece ter um prazer perverso em prejudicar minha concentração e
impedir o bom desenvolvimento do meu trabalho.
— Agora está sendo injusto!
— E considera justo mentir para Jessie e para outros membros
da minha família, só para estar aqui e irritar-me pessoalmente, em
vez de contentar-se com um ataque distante?
— Sabe de uma coisa? — Abbie cruzou os braços e olhou pela
janela. — Vou ficar aqui sentada e irritá-lo recusando-me a falar
com você pelo resto da viagem. O que acha dessa proposta de
trégua?
— Não podia esperar mais — ele respondeu com tom frio antes
de mergulhar em um silêncio hostil.

Muito bem, tentara ser generoso e tratá-la com um mínimo de


civilidade, mas Abbie recusara sua proposta. Tinha de ser tudo
como ela queria. Mas o que ela dissera, quantas mentiras inventara a
fim de conquistar a ajuda de Jessie? Teria dito que ele era o pai do
bebê? Ou fizera apenas algumas insinuações, deixando a imaginação
ativa de sua prima concluir o restante do cenário? Não duvidava de
que algo, ou melhor, alguém, provocara a ação de Jéssica. Abbie
jamais teria conseguido escapar do trabalho no escritório sem a
cooperação e o apoio de Jessie. Mas o que sua prima esperava
provocar promovendo aqueles encontros constantes entre ele e
Abigail? Uma combustão espontânea? Uma reconciliação? E como
ela poderia saber que havia algo a ser reconciliado, a menos que
Abbie houvesse revelado aquela noite em dezembro?
Sim, era isso. Abbie contara à amiga sobre aquela única noite
de paixão entre eles. Desse ponto em diante, Jéssica chegara
sozinha à conclusão que Abbie desejara induzir. Mac era o pai do
bebê, ou resgataria a pobre jovem e seu filho bastardo de um
futuro desanimador. Mas Jess estava enganada. Apaixonara-se por
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uma manipuladora no passado. Conhecia seus métodos. Seria loucura


ignorar as evidências só porque acreditava... esperava... Só porque
havia sonhado com uma mulher diferente. Abbie já havia provado
ser como as outras. Podia ter dormido com dezenas de outros
homens antes da noite de formatura e depois dela.
Pensar nisso provocou uma forte contração em seu peito.
Encantara-se com ela naquela noite, e passara muitas outras
imaginando se ela podia ser tão linda, tão interessante e sensual
quanto parecera ser nas poucas horas em que estiveram juntos.
Abbie era linda. Olhar para ela era suficiente para despertar seu
corpo como não havia acontecido com nenhuma outra mulher. E era
sensual. E inteligente, interessante, atraente... Mas não era
honesta. E se não houvesse aprendido com as lições do passado,
poderia ter acreditado em sua palavra e se casado com ela.
Essa era uma idéia assustadora. Abbie o teria enganado com
facilidade, se Gillían não o houvesse escolhido para vítima de um
plano semelhante. Pois bem, Abbie queria silêncio? Ficariam em
silêncio. A viagem a Dallas levaria cerca de quatro horas, e sabia
que mulheres grávidas iam ao banheiro com freqüência. Esperaria
que ela pedisse para parar, e então veria como Abigail Jones
reagiria a sua generosa oferta de paz.
Hannah solicitou uma parada no posto mais próximo e, sem
dizer nada, Abbie desceu da caminhonete. Quinze minutos depois,
Alex sentou-se ao lado do irmão e bateu a porta do veículo.
— Abbie e Hannah decidiram que eu devo seguir viagem aqui,
porque elas querem conversar um pouco sobre assuntos femininos.
Mac não respondeu. Resignado, ligou o motor e levou o comboio
de volta à estrada.
No início Mac estava ocupado demais para notar os olhares
debochados e os sussurros, mas depois, quando os cavalos foram
acomodados em suas baias e os trailers vazios foram levados ao
estacionamento, ele percebeu que era alvo de especulações.
— Que rapidez, meu irmão! — Alex comentou batendo em suas
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costas. — Pensei que nem gostasse dela, mas Hannah jura que havia
percebido seu interesse desde o início. Na verdade, ela tem certeza
de que já existe algo entre vocês dois. Hannah não é espantosa?
Alex parecia ter se mudado para o paraíso. Vivia sorrindo e
elogiando as qualidades de sua esposa, e toda aquela doçura estava
começando a irritá-lo. Em dias como aquele, chegava a ter certeza
de que o amor havia afetado os neurônios do irmão mais velho.
— Do que está falando? Só porque Abbie percorreu alguns
quilômetros do trajeto até aqui em minha caminhonete, acha que
estamos... que temos... que existe alguma coisa entre nós?
— Eu nunca havia pensado naquela possibilidade, mas quando
soube como seriam as acomodações da equipe, passei a concordar
com Hannah.
— Que acomodações?
— Dizem que você pediu um quarto duplo e registrou o nome de
Abbie ao lado do seu. Todos estão falando nisso.
Mac teve de fazer um grande esforço para não explodir. Era
evidente que não podia confiar em Abbie, uma mulher sem nenhum
senso de responsabilidade e consideração. Teria de vigiá-la durante
todo o final de semana.
— Se ela está registrada como minha companheira de quarto,
alguém deve ter cometido um engano. Mal a conheço! Por que
dividiria o quarto com ela? Além do mais, a mulher está grávida!
— Hannah garante que o sexo pode acontecer até o final da
gravidez. E ela é médica. Deve saber o que está dizendo.
— Hannah é veterinária. E não vou fazer sexo com Abbie. A
situação com o quarto é um engano que pretendo esclarecer
imediatamente.
— Desista, meu irmão — Alex anunciou com um suspiro
resignado enquanto lustrava os arreios de prata de um de seus
cavalos. — O hotel está lotado. Não há outro quarto disponível.
Talvez consiga dormir com Stanley, se ele ainda não tiver outro
companheiro. De qualquer maneira, pode ir dormir no chão em nosso
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quarto, se quiser.
— Hannah odiaria essa idéia.
— Hannah? Só ofereci o quarto porque sabia que você
rejeitaria minha proposta!
— Se for preciso, dormirei na caminhonete — Mac decidiu
antes de afastar-se para ir descobrir como Abbie conseguira
tornar sua vida ainda pior.

Abbie estava no restaurante do hotel com Livy, Hannah e


algumas outras mulheres, muitas delas proprietárias de animais
hospedados e treinados no Desert Rose.
— Posso falar com você? Ela mal o encarou.
— Já deve ter sido informado sobre a confusão com os quartos.
— Sim, e gostaria de discutir o problema... em particular, por
favor.
— Não será necessário. Já resolvi tudo.
Tinha a sensação de que explodiria de raiva, mas mantinha um
sorriso nos lábios e falava em voz baixa em respeito às outras
mulheres.
— Tenho certeza de que já tomou suas providências, e por isso
prefiro falar com você em particular.
— Mac — Livy não parecia notar a tensão —, as pessoas em
Balahar usam roupas como as que vestimos para os desfiles típicos?
Ele franziu a testa, e a jovem deduziu que sua pergunta não
havia sido compreendida. Por isso explicou:
— Quero dizer, os xeques do deserto realmente usam túnicas
brilhantes e mantos de seda quando estão cavalgando?
— Não sei. Por que não pergunta a alguém que já tenha estado
lá? Serena, por exemplo. Ou minha mãe. Abbie, pode vir comigo, por
favor?
Sentada ao lado de Olívia, uma morena insinuante, cujo nome
não conseguia lembrar, sorriu para ele com ar sedutor.
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—Acabamos de pedir o almoço. Por que não se senta conosco?


Seria um bom castigo para Abbie se ele se juntasse ao grupo e
a incomodasse com sua presença, mas não tinha tempo nem
disposição para jogos desse tipo.
— Só vou tirá-la daqui por alguns minutos. — Revelando seu
lendário charme oriental, ele distribuiu sorrisos para todas as
mulheres da mesa. — Prometo devolvê-la antes que a comida seja
servida. Com licença...
Mac tocou o encosto da cadeira de Abbie, disposto a carregá-la
para fora dali, se fosse necessário. Ela se levantou sem disfarçar a
irritação.
— Se eu não voltar em dez minutos, podem comer minhas
batatas fritas. E mandem a conta para Mac.
Todas reagiram como se ouvissem uma piada, mas havia uma
incerteza em suas risadas, como se só então se dessem conta da
estranheza da situação. Sem se importar com o que pensavam, Mac
estendeu a mão para segurar o braço de Abbie, mas ela se virou
para evitar o contato. Depois caminhou na frente dele para fora do
restaurante, para o saguão do hotel.
— Será que pode me dizer o que pensa estar fazendo, Abigail
Jones?
— Bem, eu ia almoçar quando fui interrompida. O que você
pensa estar fazendo?
— Estou tentando descobrir que história é essa sobre
dividirmos um quarto.
— Ah, quer saber o que aconteceu? Alguém nos registrou na
mesma suíte.
— Oh, entendo. E como alguém pode ter cometido um erro tão
estúpido?
— Não sei. Pode ter sido um engano da equipe do hotel, mas sou
capaz de apostar um bom dinheiro em outra possibilidade. Quem
fez as reservas nos colocou no mesmo quarto de propósito.
— Engraçado — ele disse sem nenhum humor. — Estava
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pensando a mesma coisa.


— Imagine só! Concordamos em alguma coisa?
— Só se for honesta pelo menos uma vez e confessar que é a
responsável por toda essa confusão.
Os olhos de Abbie brilharam indignados.
— Sabia que chegaria a essa conclusão. Por isso não queria
conversar com você. Já disse que resolvi o problema. Por que não
pode encerrar o assunto e me deixar em paz?
— Porque sei que vai me dizer que o hotel está lotado e que não
temos outra alternativa senão dividir o quarto. E depois disso,
ficará corada sempre que alguém sugerir que desfrutamos de uma
noite juntos. Não sei o que acontecerá depois disso, mas posso
garantir que não vou me casar com você, por mais ardilosos que
sejam seus planos.
— O que o faz pensar que quero me casar com você?
Algo na voz dela provocou um arrepio gelado que percorreu sua
espinha.
— Por que mais teria aparecido em meu rancho na condição em
que está?
— Porque minha amiga convidou-me para uma visita, eu não
tinha outro lugar para onde ir, e esta é a condição em que me
encontro. Não sabia que o rancho também era seu, como também
não sabia que era primo de minha amiga. E como já discutimos tudo
isso antes, acho que vou voltar ao restaurante e almoçar.
— Oh, não, não vai a lugar nenhum. Ainda não esclarecemos
aquela questão do quarto.
— Não? Pois bem, vejamos se consigo ser ainda mais clara.
Onde vou dormir não é da sua conta, e não tenho nenhum interesse
em saber onde vai passar sua noite, desde que não seja na minha
cama. Já tivemos essa experiência, e não posso dizer que esteja
feliz com as conseqüências. O hotel cometeu um engano, ou alguém
registrou nossos nomes na mesma suíte, mas já resolvi o problema.
Você foi transferido para outra suíte, e Livy dormirá comigo.
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Digamos que tudo não passou de um mal-entendido e vamos


esquecer essa história.
Seu discurso não era apenas articulado, mas convincente. Mac
quase começou a se desculpar, mas recuperou a razão a tempo.
— Nós dois sabemos que não foi um mal-entendido. Ela levou a
mão ao bolso e pegou um celular do tamanho da palma de sua mão.
— Aqui está — disse. — Telefone para Jéssica e vamos
esclarecer esse grande mistério. Ela deve estar no escritório. E
estava lá quando as reservas foram feitas. Vamos, ligue para sua
prima!
Queria recuar, afastar-se do telefone como se o aparelho
fosse uma bomba-relógio preparada para explodir. O que era tolice.
Jessie não mentiria para proteger Abbie. Jéssica era uma Coleman,
alguém que sabia reconhecer e respeitar o verdadeiro valor de uma
família. Sabia que ela estaria sempre a seu lado.
Então, por que hesitava?
— O que acha que ela vai me dizer? Que planejou toda essa
encrenca?
— Telefone — Abbie desafiou-o. — O aparelho está ligado.
Ligue para o rancho e vamos descobrir juntos o que Jessie tem a
dizer.
Ela parecia confiante demais, muito ansiosa para provar que ele
estava errado. Queria desconfiar de sua atitude, mas tinha de
admitir que Jéssica era capaz de projetar uma situação como aquela
na esperança de aproximá-los e promover um romance. Sua prima
sempre fora uma romântica incorrigível.
— O que propõe que eu pergunte? Abbie encolheu os ombros.
— Pode começar perguntando por que ela está tentando nos
aproximar. O que espera conseguir com isso. Pergunte o que quiser,
mas fale com ela e pare de me aborrecer!
Mac estava prestes a seguir sua sugestão, quando sentiu o
aparelho vibrar em sua mão e emitir um sinal sonoro delicado e
abafado. Assustado, olhou para o equipamento eletrônico como se o
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visse pela primeira vez, e por isso não teve tempo para reagir antes
que Abbie o arrancasse de sua mão.
— Alô? — ela atendeu, virando-se para garantir um mínimo de
privacidade. — Brad! Eu não pedi para não me ligar antes do
anoitecer? — Uma pausa. Uma risada nervosa. — É claro que ainda
estou nas montanhas! Sim, no acampamento. Onde mais eu poderia
estar? — Ela olhou para Mac. Depois abaixou a cabeça e virou-se de
costas, impedindo-o de ouvir o que dizia.
Brad. Um homem. Que não devia ligar àquela hora do dia. Que
acreditava que ela estivesse em algum lugar muito distante de onde
realmente estava. O Desert Rose ficava no coração do território
texano, mas não havia uma única montanha em um raio de muitos
quilômetros. E ninguém jamais chamara seu rancho de acampamento.
Abbie estava mentindo para Brad, quem quer que ele fosse. Mais
uma prova concreta de que a mulher era uma mentirosa, como
suspeitara desde o início. Tinha todo o direito de sentir-se
justificado, indignado e furioso. Então, por que sentia apenas
tristeza?

Uma exposição de cavalos dava mais trabalho do que Abbie


jamais imaginara. O prelúdio e as conseqüências de cada evento
isolado dependiam da integração da equipe, e várias vezes ao longo
do final de semana ela se surpreendeu com o espírito de cooperação
e continuidade que unia os membros do time Desert Rose. Ninguém
reclamava ou tentava esquivar-se de alguma responsabilidade. Ela
era a única sem nenhuma atividade a desenvolver. Mac tomara suas
providências para garantir que ela fosse mantida afastada de tudo.
Fora levada para uma cadeira na platéia, e embora Livy houvesse se
oferecido para conduzi-la até os bastidores do show, Abbie
permanecera no lugar determinado. Teria adorado participar e
merecer alguns créditos pelas vitórias, e no domingo havia uma
verdadeira coleção de fitas vermelhas e azuis nos trailers do
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Desert Rose, mas estava tão fascinada pelo espetáculo criado por
homens e animais na arena que. se sentia quase grata por Mac tê-la
forçado a ser apenas uma espectadora. Os cavalos eram uma
novidade em seu mundo, mas já sabia que sentiria falta deles
quando tivesse de partir. E por mais que odiasse pensar nisso, sabia
que seu período no Desert Rose se aproximava do fim.
Mac suspeitava de cada movimento que fazia. Seus irmãos
estavam desconfiados e inquietos. Até o bebê emitia sua opinião
através de movimentos bruscos e pontapés inesperados, lembrando
que ela não poderia continuar adiando o momento de enfrentar a
família e o futuro. Quando retornasse ao rancho, explicaria a
Jéssica que não podia ficar e partiria no final da próxima semana.
Isto é, se as provocações de Mac não a levassem a partir antes
disso.
Livy entrou na arena conduzindo Khalahari e Khalid. A platéia
aplaudiu com entusiasmo, e o potro moveu a cabeça como se
quisesse provocar um reconhecimento ainda mais intenso.
— Olhe só para ele! — Hannah comentou rindo. — Khalid está
agindo como se tivesse certeza do campeonato. Deve ter sido
contaminado pelo espírito dos Coleman!
— Eles sempre vencem?
— Bem, sempre é um termo impreciso, mas eles têm mais
vitórias do que derrotas. Quando Alex, Cade ou Mac entram na
arena montando um dos animais do Desert Rose, é praticamente
impossível superá-los. Especialmente no torneio de trajes típicos.
Há algo de místico nos irmãos vestindo as roupas de seu país de
origem e cavalgando um árabe puro-sangue. Na primeira vez em que
vi Alex montando Jabbar, fiquei completamente apaixonada por ele.
Devia ter oito anos de idade. E claro que ele precisou de mais tempo
para se dar conta de que eu existia, mas finalmente Alex notou-me
e reconheceu em mim sua alma gêmea. — Hannah sorria com aquela
expressão iluminada que só o amor pode pôr no rosto de uma
mulher.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Abbie sentiu uma rápida ponta de inveja por não poder viver
uma alegria tão completa e intensa, mas sufocou o sentimento e
sorriu para a nova amiga.
— Os irmãos Coleman são realmente impressionantes, e os
cavalos do Desert Rose são os mais lindos que já vi.
— É mais que isso — opinou Hannah. — Não consigo descrever a
imagem, mas garanto que gostaria de vê-la. Espere até esta tarde,
quando Mac entrar na arena!
Duas horas mais tarde, quando Mac entrou na arena, Abbie
compreendeu a razão de todo o fascínio de Hannah. Era como se não
existissem outros competidores. Não conseguia desviar os olhos do
conjunto harmonioso formado por cavalo e cavaleiro. O traje era
vermelho e esvoaçante, adornado por desenhos prateados que
deviam ter algum significado específico. O adorno de cabeça
realçava seus traços árabes, e só a linha firme da mandíbula
revelava a concentração e a força com que ele dominava o animal.
Era uma visão tão envolvente, tão deslumbrante, que mal conseguia
respirar.
— Ficou sem fôlego, não é? — riu Hannah. — Conheço a
sensação. É difícil lembrar que estamos vendo apenas um homem e
um cavalo.
Abbie suspirou e repetiu:
— Sim... apenas um homem e um cavalo.

Olívia estava excitada com sua vitória no torneio para potros e


não parava de repetir todos os detalhes do torneio. A seu lado na
caminhonete, Abbie ouvia distraída.
— Eu disse a Mac que ele conseguiria! Khalid é um potro
especial! Ora, ele é filho do maior campeão que o Texas já viu!
Escute o que digo, Abbie: ele vai ganhar tantos prêmios nos
próximos anos, que alguém terá de criar novas categorias para
Khalid. Mac não tinha certeza, mas eu sabia que ele estava
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preparado. — Livy desviou os olhos da estrada por um instante para


fitá-la. — Será que ele ficou aborrecido?
— Por que ficaria, se você venceu em sua divisão?
— Tem razão. — A jovem sorriu e bateu a mão no volante numa
demonstração de entusiasmo. — Eu venci. E Mac também venceu.
Abbie assentiu e pensou em como gostaria de ter o mesmo
entusiasmo de Olívia pela vida. Também gostaria de sentir-se tão
competente quanto ela em seu trabalho. Olivia tinha um dom e,
mesmo sem perceber, exalava uma certa autoridade gerada pela
certeza da própria habilidade. De sua parte, Abbie não acreditava
ter dom algum, exceto o de meter-se em confusões. Sempre
sonhara ser professora, mas depois de ter sido demitida da
Academia da Srta. Amélia, nunca mais conseguiria outro emprego.
Bem, talvez estivesse exagerando, mas, mesmo que conseguisse
lecionar em outra escola, precisava pensar no bebê. Como poderia
conciliar fraldas, mamadeiras e noites em claro com provas para
corrigir, aulas para planejar e horários para cumprir? Antes que
pudesse descobrir se ainda tinha alguma esperança de progresso
profissional, sua tão desejada independência seria apenas mais um
projeto arquivado para um futuro distante. Fizera uma escolha
impulsiva, correra riscos, e agora estava destinada a seguir uma
carreira muito mais atemorizante: a da maternidade.
— Bem, talvez ele não esteja zangado, mas Mac esteve
estranho durante o final de semana. Notou como ele estava sempre
tenso? Preocupado, talvez? Sei que não o conhece o bastante para
opinar, mas sei que algo o incomoda. Ele estava distraído, como se
algo... ou alguém ocupasse seus pensamentos.
Abbie poderia oferecer uma longa lista de motivos para a
aparente distração de Mac. Uma lista que começaria e terminaria
com seu nome. Se por alguma razão Mac estivesse insatisfeito com
seu desempenho na arena, apesar do prêmio conquistado,
certamente a culpa seria dela. Ela era a distração. Ela o aborrecia,
o incomodava e irritava. Fora culpada pelo erro nas reservas, e por
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isso ele acabara dormindo em um colchão velho e pouco confortável,


ou que passara toda a noite acordado por conta dos vizinhos
ruidosos, ou não conseguira dormir por estar apreensivo, tentando
antecipar qual seria seu próximo truque para tentar arrastá-lo ao
altar. Ou todas as alternativas de uma só vez. Não tinha nenhuma
chance de vencê-lo. Seria melhor descer da caminhonete na
próxima parada e pedir carona até o Arkansas ou Kalamazoo. Mas
não queria ir a nenhum dos dois lugares. Queria mais uma semana
para preparar seu discurso, para fortalecer sua resolução, para
ficar sozinha com o conhecimento da existência de seu bebê.
Bem, Mac sabia, mas ele não contava. De fato, nem sabia por
que se preocupava com ele, com o fato de distraí-lo e incomodá-lo.
Mac vencera o torneio, e mesmo que a vitória houvesse sido
garantida apenas por sua aparência impecável de príncipe do
deserto, ninguém tinha motivos para reclamar. Até ali não havia
feito nenhum pedido, nenhuma exigência ou cobrança. E nem
pretendia pedir alguma coisa no futuro. Tudo que desejava era
estar com a amiga, ter mais uma semana para reunir forças antes
de enfrentar a família. E se isso o perturbava, o azar era dele. Não
fizera nada de errado, exceto apaixonar-se por um xeque do Texas
e não conseguir perceber que ele era apenas um homem sobre um
cavalo.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

CAPÍTULO VI

- É evidente que ela planejou tudo. Não vou aceitar o papel de


vilão só porque ela manipulou Jéssica a fim de tornar-se sua amiga.
— Mac mantinha os braços sobre a cerca do pasto e o pé na tábua
inferior. Sério, ia relatando a história de seu envolvimento com
Abbie. A seu lado, Cade assumia a mesma posição, um pé sobre uma
das tábuas da cerca, os braços em cima dela, os olhos, como os de
Mac, fixos nos animais que pastavam tranqüilos sob o sol de verão.
Havia um sentimento de totalidade quando estava com Cade. Era
como se encontrasse segurança no conhecimento de que alguém o
entendia tão bem quanto ele mesmo. Por serem gêmeos idênticos,
talvez houvesse uma ligação mística entre suas mentes, como se
pudessem conhecer os pensamentos do outro e os sentimentos que
habitavam seu coração. Não havia outra pessoa com quem Mac
quisesse falar sobre Abbie e o bebê. Ninguém mais em quem
confiasse a ponto de revelar a história sórdida. Sabia que Cade
veria as coisas de seu ponto de vista, ou o ajudaria a enxergar
aquilo que deixara de ver por falta de perspectiva. De uma forma ou
de outra, Cade seria franco e honesto. — Acho que devo dizer a
Jessie quem é sua amiga e insistir para que ela a mande embora
daqui.
— E isso que quer? Tem certeza de que seu objetivo é expulsar
Abbie daqui?
— Sim. — Apesar da resposta segura, uma opressão no peito
indicou que não se sentiria mais feliz depois da partida de Abbie. —
Não. Não sei. Ela é uma mentirosa, uma calculista manipuladora e
fria. É pior do que Gillían. Não devia me importar se ela
desaparecesse da face da terra. Mas, no momento, sinto esse
impulso idiota de protegê-la, de interferir e salvá-la da confusão
que ela mesma criou, e não sei ao certo como vou me sentir depois
que ela partir.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

— Quer minha opinião?


— Não, quero a de Stanley. É claro que quero sua opinião! Por
que acha que estou aqui falando sobre como fui idiota, sobre como
me deixei envolver por uma mulher sedutora e um rosto inocente?
— Está apaixonado por ela — Cade anunciou confiante. — É a
única explicação.
Mac olhou para o irmão.
— Não é hora para brincar.
— Considere a possibilidade. Você se apaixonou por ela em
dezembro, admite que pensa nela desde então, e quando Abbie
apareceu no rancho, você entrou em pânico e desenvolveu essa
teoria paranóica sobre um plano maquiavélico para obrigá-lo a se
casar e ser pai. Depois do que Gillían fez com você, essa reação
idiota...
— Idiota?
— Foi o que eu disse. Reagiu ao anúncio de Abbie tirando as
conclusões mais óbvias e cômodas, considerando seu último
envolvimento com o sexo oposto.
Ou melhor, o único. Mas isso não quer dizer que esteja certo.
— Não estou enganado, Cade. — Enquanto falava, compreendia
que queria que o irmão o convencesse do contrário. — E não estou
apaixonado por Abbie. Dormi com ela há cinco meses, uma única vez,
e tenho certeza de que isso determina um quadro de luxúria, não de
amor.
— Se fosse só isso, teria esquecido tudo no dia seguinte,
quando ela partiu. E pelo que acabou de contar, você nunca esqueceu
aquela noite. O amor pode acontecer com uma rapidez
impressionante. Veja o que aconteceu comigo. Em um minuto me vi
casado com Serena graças a um mal-entendido, uma diferença
cultural, e quando dei por mim estava apaixonado. Quando a mulher
certa cruza seu caminho, Mac, a lógica não tem nenhuma
importância.
— Se é essa a ajuda que pode me oferecer, acho que vou sair e
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conversar com uma árvore.


— Não está escutando o que digo, meu velho. Esse estágio é
chamado de negação.
— E você ainda está naquele estágio aborrecido e antipático do
romance. Acha que todos estão ou deveriam estar apaixonados por
alguém. Está usando óculos cor-de-rosa, Cade, e não vai se livrar
dessas lentes nos próximos meses. Você e Alex vivem momentos
parecidos. Que hora para meus dois irmãos estarem apaixonados!
Ninguém tem nada sensato para dizer?
— Eu tenho. Dê uma chance ao destino. — Cade ajeitou o
chapéu e pôs o pé no chão, rompendo o sincronismo. — Pedi a ajuda
da Coleman-Grayson para comprar a propriedade dos McGovern.
Assim poderemos expandir o Desert Rose, e eu terei mais
privacidade com minha esposa, Se McGovern aceitar minha
proposta, como Nick Grayson acredita que vai acontecer,
mudaremos para lá em setembro.
— Que boa notícia! Você e Serena poderão construir um lar
sem se afastarem de casa. Perfeito.
— Sim, é perfeito. E prometi a Serena que passaremos um ou
dois meses em Balahar todos os anos. Ela ficou muito feliz.
— Todos estão felizes. Ou quase todos...
— Certo, aí vai meu conselho, Mac. Até agora tem evitado
Abbie. Tentou desmascarar o que julga ser uma mentira esperando
que ela confessasse ser como Gillían. Não estou dizendo que ela é
diferente ou que sua história é verdadeira, mas acho que devia ao
menos considerar essa possibilidade.
— Ela está mentindo — Mac insistiu, tentando impedir que sua
teoria caísse por terra como um castelo de areia. — Passamos uma
noite juntos. Uma única noite. Usamos proteção, porque eu não
estava completamente cego de desejo, e é muito estranho que
depois de cinco meses ela apareça grávida. E aqui!
— Sei que as circunstâncias são estranhas, mas e se ela estiver
dizendo a verdade? Pode acontecer...
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— Um relâmpago não atinge o mesmo lugar duas vezes.


— E o que estou dizendo, não? Sei que foi atingido pelo raio
chamado Gillían, mas isso não significa que Abbie seja como ela.
Significa apenas que é mais desconfiado do que a maioria dos
homens.
— Tenho o direito de ser desconfiado. A história dela é
confusa, sem bases sólidas. Notou como ela leva aquele celular a
todos os lugares? E recebe chamados misteriosos de um homem.
Ouvi quando ela falava com o sujeito. Quer me convencer de que não
há nada de suspeito nisso? Nela?
— Talvez. Talvez não. Se Abbie é mesmo a serpente venenosa
que acredita, certamente ficaremos muito surpresos. Jessie a
adora, Serena gosta dela, como Hannah, e tia Vi e mamãe também
têm grande simpatia por Abbie. Todos os homens deste rancho
sorriem como tolos quando ela aparece, e devo confessar que gostei
dela desde o primeiro instante. Por que não deixa de torturar-se
tentando encontrar semelhanças entre Abbie e Gillían e procura ver
apenas as diferenças entre as duas? E se Abbie for realmente
especial como pensou no início? Por que não tenta ter uma conversa
honesta sobre o que aconteceu e sobre o que ela espera de você, em
vez de atacá-la sempre que tem uma chance e estar sempre
prevenido, esperando que ela cometa um erro?
— Não posso fingir que de repente acredito nela.
— Não, mas pense no problema de outra forma. O que
aconteceria se de repente encontrasse evidências sólidas de que ela
está dizendo a verdade?
Mac refletiu. Lembrou o corpo de Abbie ao lado dele na cama,
nu, ou sob o dele, recebendo-o como se sempre o houvesse
esperado. Lembrou-se de como se encantara com sua risada, de
como se sentira aquecido e confortado simplesmente por ouvi-la.
Lembrou-se de como se sentira perdido ao descobrir que ela havia
desaparecido sem deixar pistas.
— Se acreditasse na história de Abbie, mesmo que só por um
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minuto, teria de me casar com ela.


Cade sorriu.
— Entende o que eu digo, meu irmão? Amor! Esta é a palavra!
— Acha que está me ajudando, Cade? Não consegue nem dizer
coisas que façam sentido!
— Muito bem, vamos colocar a questão de forma que possa
entendê-la. Venha comigo. — Ele levou o irmão ao estábulo, onde
revolveu um monte de feno até encontrar uma palha. — Vamos tirar
a sorte. Se tirar a palha menor, terá uma conversa direta com
Jessie e exigirá que Abbie saia daqui. Se eu tirar a palha menor,
você seguirá meu conselho e passará mais tempo com Abbie, sendo
gentil com ela e ouvindo o que ela tem a dizer. Combinado?
— Quer tirar a sorte para decidir se devo ou não seguir seu
conselho estúpido? O que é isso? Uma piada?
Cade encontrou a segunda palha, menor do que a primeira, e
ajeitou-as na palma da mão. Depois levou a mão às costas. Quando
voltou a exibi-la, as pontas das duas palhas podiam ser vistas entre
seus dedos, aparentemente idênticas.
— Pode escolher, mano.
— Isso é ridículo.
— Está com medo de perder?
— De quanto tempo estamos falando?
— Quanto pode suportar?
— Uma hora, talvez.
— Uma semana.
— Um dia.
Cade balançou a cabeça.
— Hoje é segunda-feira. Terá de seguir meu conselho pelo
menos até o próximo final de semana.
— Seis dias?
— Sim, mais o restante do dia de hoje. Está com medo, Mac?
Por que estava tão preocupado? Já ganhara aquele jogo antes.
— Tudo bem, vamos tirar a sorte — Mac anunciou, estendendo
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a mão para pegar uma das palhas.


A menor.

Ao ver Mac sentar-se a seu lado à mesa do jantar, Abbie


preparou-se para o pior. Sua presença a perturbava. A maneira
como falava com ela, como se nunca houvessem tido uma única
desavença, provocava uma forte ansiedade. E quando ele disse a
Jessie que não devia explorar a melhor ajudante que já encontrara,
ou correria o risco de perdê-la, Abbie teve certeza de que seria
vítima de um plano diabólico. O que Mac pretendia, afinal? Então,
ele sorriu, um sorriso que a aqueceu por dentro, e ela soube que já
estava encrencada.
Mac diria a todos que ela estava ali sob falsos pretextos.
Criaria uma falsa sensação de segurança, e depois a acusaria dos
piores pecados. Seria humilhada e embaraçada diante de toda a
família. Depois seria expulsa como um animal peçonhento.
Mas Mac não fez nada do que Abbie esperava. Foi gentil
durante todo o jantar, tratando de incluí-la na conversa e sorrir
como se fossem amigos, e até a ajudou a servir-se de purê de
batatas. Durante a sobremesa, Alex pediu a atenção de todos para
fazer um anúncio.
— Pessoal, Hannah e eu... Bem, ela está grávida, e o médico
acha que teremos gêmeos.
— Parabéns! — Cade foi o primeiro a abraçar o irmão mais
velho. Depois foi a vez de Mac, Jéssica, Rose, Vi e Ella, a
governanta da casa.
Todos riam e propunham brindes, e a noite seguiu alegre e
animada, cheia de planos para um futuro radiante. Durante todo o
tempo Mac esteve a seu lado, contando sobre como Cade
convencera Alex a se aproximar de Hannah e se oferecendo para
dar aulas sobre os cavalos árabes, caso ela ainda estivesse
interessada no assunto.
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Quando se recolheu para ir dormir, Abbie ainda não havia


conseguido entender a mudança no comportamento de Mac. O que
ele estaria tramando?
Mac não esperava que ser gentil com Abbie fosse tão fácil.
Recusando-se a pensar sobre como o conselho de Cade podia surtir
efeitos inesperados, reuniu todo seu charme e, nas duas noites
seguintes, sentou-se ao lado dela na mesa do jantar. Sorria,
conversava, oferecia mais carne ou batatas, servia a sobremesa... A
única coisa que não fazia, que não ousava fazer, era tocá-la, nem
mesmo de maneira casual. Primeiro, não queria que ela o
esbofeteasse. Segundo, temia o que podia acontecer. Um simples
toque, e sabia que se sentiria tentado a ir em frente. Beijá-la,
talvez. Um beijo faria renascer das cinzas a atração física que jazia
oculta sob a superfície, esperando o momento de despertar. Seria
desastroso. Acabaria acordando em uma bela manhã e descobrindo
que era um homem casado à beira da paternidade.
Não acreditava na história de Abbie nem aceitava a teoria de
Cade sobre o amor à primeira vista. Mas sentia que era importante
manter ao menos um limite, uma linha que não atravessaria, uma
medida de até onde pretendia ir para provar que o irmão estava
errado. Abbie era uma mentirosa. O bebê não era, não podia ser
dele. Mas aceitara o jogo proposto por Cade, e passaria o resto da
semana fingindo ter mudado de idéia e de atitude, evitando,
entretanto, pôr as mãos nela. Talvez Abbie baixasse a guarda.
Talvez decidisse abandonar os planos e deixar o rancho por conta
própria. Talvez se descuidasse, e então poderia pegá-la em sua teia
de mentiras. Talvez... tudo continuasse como estava.
E talvez descobrisse que Cade tinha razão.
Não queria nem pensar naquela possibilidade, mas, desde a
conversa que tivera com o irmão, a idéia de que o bebê de Abbie
também podia ser seu passara por sua cabeça milhões de vezes. Se
houvesse uma chance em um milhão, em um bilhão, teria de
considerá-la e pensar no que faria, embora soubesse que a resposta
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era previsível. Se um teste de paternidade provasse que o bebê era


um Coleman, casaria com Abbie. E casaria mesmo sabendo que, ao
exigir uma prova tangível e científica, perderia toda e qualquer
esperança de ter seu respeito, sua confiança, seu amor e seu
perdão.

Mac estava a caminho da cozinha, imaginando que Abbie podia


ter ido para lá depois do jantar, quando ouviu a risada da mãe e sua
voz confessando:
— Quando fiquei grávida dos gêmeos, passei os dois primeiros
meses chorando por tudo. Houve uma ocasião que Ibrahim me
ofereceu tudo que eu quisesse, ouro, pedras, roupas, um macaco de
estimação, uma passagem para visitar Randy, qualquer coisa, desde
que eu parasse de chorar.
— Ele ofereceu um macaco? — Vi ria muito, como Abbie e as
outras mulheres presentes na sala íntima.
— Como se isso pudesse fazê-la mais feliz! Os homens nunca
saberão como lidar com uma mulher grávida. Quando estava
esperando Jéssica, Randy costumava me observar como se tivesse
medo de um ataque surpresa.
Mac pensou em afastar-se, mas a voz de Abbie o manteve onde
estava.
— Acha que os homens se incomodam com as lágrimas, ou com a
possibilidade de serem acusados, culpados por elas?
— São as lágrimas — Rose respondeu confiante.
— Ibrahim era rei de Sorajhee, Podia ter quase tudo com uma
simples ordem, mas era incapaz de fazer a esposa grávida parar de
chorar.
— Os homens sempre querem resolver tudo — tia Vi
acrescentou. — Se ficamos zangadas, eles dizem porque não
deveríamos estar. Se estamos frustradas com um projeto qualquer,
eles acreditam que a resposta é concluir o projeto por nós. Os
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homens pensam que merecem os créditos pela felicidade de suas


esposas. Mas, se essa esposa está infeliz, eles presumem que algo
está errado e se esforçam para identificar o problema e solucioná-
lo de um só golpe. Mas se uma mulher chora, os homens se sentem
impotentes e só conseguem pensar em escapar, ou conter o pranto,
em impedir que ele retorne.
— Acho que eles têm medo de que as lágrimas continuem,
alimentando a sensação de impotência.— A voz de Hannah soou
firme. — Hoje a médica me preveniu contra prováveis mudanças de
humor e alguns momentos de tristeza, mas estou tão feliz com a
gravidez que não consigo me imaginar chorando por causa dela.
— Chorar nem sempre é um sinal de infelicidade — garantiu Vi.
— Os hormônios enlouquecem durante a gestação, e não há nada que
possamos fazer para controlar nossas emoções.
— É estranho... Os últimos cinco meses não foram fáceis, mas
ainda não experimentei nenhuma alteração de humor. Fui demitida
do emprego que amava, e não derramei uma única lágrima.
— Você foi demitida? — Hannah estranhou. — Por quê? Jessie
está sempre dizendo que nunca viu ninguém trabalhar tanto!
— O problema não era minha competência, mas o fato de estar
grávida e ser solteira.
— Mas eles não podem demiti-la dessa maneira! É ilegal!
— Eu trabalhava para um colégio exclusivo para moças da alta
sociedade, e o contrato rezava que o comportamento das
professoras devia servir de modelo para as alunas. Não posso culpar
a administração da escola, embora saiba que a situação poderia ter
sido resolvida de maneira menos traumática. Enfim, nem mesmo
quando estava vivendo todo esse dilema, não chorei. Não senti
vontade de chorar. Então, um dia antes de vir para cá, estava
assistindo a um episódio muito antigo de I Love Lucy e de repente
comecei a soluçar. Chorei muito, e então as lágrimas se foram como
haviam começado. Bruscamente, sem motivo ou explicação.
— Também acontecia comigo — tia Vi lembrou.
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— Em um minuto estava bem, no outro ameaçava inundar a casa


com minhas lágrimas.
— Mal posso esperar para dizer a Alex o que o espera —
Hannah comentou rindo.
— É melhor não dizer nada, meu bem — Vi aconselhou com
doçura. — Deixe que ele enfrente a situação como todos os outros
homens desde que Adão se preocupou com Eva.
— Além do mais, duvido que faça alguma diferença — Rose
acrescentou. — Quando começar a chorar, ele se sentirá tão
impotente quanto o pai dele comigo. Não se preocupe. Alex vai
sobreviver.
— Eu sei que sim, mas queria que ele vivesse os próximos meses
com a mesma intensidade e alegria que estou sentindo. Espero que
nada aconteça para perturbar-me ou mudar meu estado de ânimo.
— Tem razão — Abbie opinou novamente. — Imagine se uma
mudança de humor acontece e um fator externo contribui para
aborrecer ou preocupar a gestante!
— Os homens desta casa ficariam tão assustados que fugiriam
para as montanhas. E confesso que, em alguns dias, isso não me
incomodaria nem um pouco! — brincou Vi.
Todas riram.
Mac ouviu o som de uma cadeira sendo afastada e decidiu que
não queria ser surpreendido naquela posição comprometedora. A
situação perturbaria as gestantes, ou uma delas, pelo menos, e não
queria ser responsável por uma enxurrada maior do que a cheia do
Rio Grande.

— Quer ir dar um passeio no píer?


Assustada, Abbie olhou para Mac como se visse um fantasma.
— Um... passeio? No píer?
— Exatamente. Se quiser... ir passear... Sob o luar... podemos
caminhar... Até o píer... — ele riu e balançou a cabeça. — Desculpe-
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me, mas não sei o que rima com píer. Quer ir comigo?
Mac queria tirá-la da casa para acusá-la de alguma coisa.
Queria gritar e extravasar a frustração, ou chamá-la de nomes que
não seriam bem recebidos pela família. Sim, só podia ser isso. Há
três dias ele a tratava com gentileza e atenção, agindo como se
quisesse ser seu amigo. Ainda não sabia o que estava por trás da
transformação, mas tinha uma forte suspeita de que, o que quer que
fosse, não ia durar.
— É claro. — Abbie levantou-se do sofá. — Se vamos nadar, é
melhor ir buscar sua camisa de brim.
— Oh, não! Desta vez vai ter de providenciar seu maio.
O brilho em seus olhos era íntimo, como se ele a convidasse
para mais do que um simples passeio, como se quisesse encontrar
uma maneira de rimar píer e beijo.
— Não estou com vontade de nadar — ela disse. Depois virou-se
para sair.
— Caminhar faz bem. — Mac também deixou a sala de tevê e
vídeo onde vários membros da família e alguns empregados do
rancho se reuniam depois do jantar. — Gosto de andar um pouco
depois das refeições. E você?
— Gosto de andar, mas não consigo deixar de pensar que
Chapeuzinho Vermelho deve ter sentido algo muito parecido quando
encontrou o lobo no caminho da casa de sua avó. Mac riu.
— Acha que estou interessado em sua cesta de guloseimas?
— De certa forma... Acho que me atraiu até aqui para enfiar-
me em uma caixa de correspondência e despachar-me para
Timbuktu.
— Não... Eu teria de verificar o código de endereçamento
postal, e não quero perder uma noite tão linda com a cabeça metida
entre as páginas de um catálogo do correio.
— Tem razão, a noite está linda.
— Como você.
— Está dizendo isso para animar-me. Sei que estou gorda, sem
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formas, com o nariz inchado.,.


— Abbie, de onde tirou essa idéia? Você está linda!
— Não estou. Sei que quer fazer com que me sinta melhor,
mas...
— Se fosse esse meu objetivo, eu estaria pedindo desculpas
por ter me comportado como um canalha no dia em que você chegou
e em todos os outros desde então.
Abbie ficou em silêncio. Sentia o coração batendo mais
depressa, impulsionado por uma súbita e estúpida onda de
esperança.
— Se não o conhecesse, poderia jurar que trocou de lugar com
seu irmão gêmeo.
— Acha que me conhece tão bem assim?
— Reconheço que em algumas circunstâncias você conseguiria
me enganar com esse truque, mas, de imediato, não consigo pensar
em nenhuma.
— E como pode ter tanta certeza de quem sou, ou de que não
sou Cade?
Não podia explicar. Havia sido tolice revelar que conseguia
distingui-lo do irmão.
— Prefiro não lhe dizer — respondeu com honestidade, virando-
se para caminhar na direção do píer.
Ele a alcançou sem nenhum esforço.
— Tia Vi ainda me confunde com Cade. E se a troca for
intencional, podemos enganar todo mundo. Por que acha que é capaz
de perceber a diferença?
— Esqueça. — Estavam chegando ao píer, e ela apoiou as mãos
na balaustrada. — Este lugar é tão lindo! Se vivesse aqui,
construiria uma casa de onde pudesse ver o lago. — Percebendo que
podia estar dando uma impressão errada ou confirmando as
suspeitas de Mac, ela corrigiu: — Quero dizer, não estou sugerindo
que pretendo vir morar ou aqui, ou que tenho planos para... Ah,
esqueça. Não vai acreditar em mim.
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Ele ficou quieto por um instante, os olhos fixos na casa de


hóspedes do outro lado do lago.
— Há algo que eu gostaria de perguntar, Abbie.
— O que é?
— Naquela noite, quando nos conhecemos, foi tão intenso
quanto acredito ter sido? Ou foram só as circunstâncias?
— Intenso? Mac, aquela foi a melhor noite de toda minha vida.
— Então, por que foi embora sem dizer adeus?
— Porque eu tinha um compromisso.
— Um compromisso que a impedia de deixar um nome, um
número de telefone? Teria ficado satisfeito com a promessa de
encontrá-la novamente um ano mais tarde naquele mesmo lugar.
Podia quase acreditar que o magoara, e essa nunca fora sua
intenção.
— Desculpe-me. Queria uma noite de mistério e paixão. Acho
que não pensei nas conseqüências.
— E agora?
— Agora penso nelas todos os dias.
— Um bebê... Uma conseqüência grande demais para assumir
sozinha.
Abbie pousou a mão sobre a dele na grade do píer e fitou os
olhos escuros.
— Não estou pedindo para dividir as responsabilidades comigo,
Mac. Não vim aqui para pedir nada. Por favor, acredite em mim.
Ele segurou sua mão. Depois abraçou-a e tocou seu queixo.
— Eu gostaria muito de acreditar — murmurou. — Francamente.
Os lábios se aproximaram dos dela e Abbie não pensou em mais
nada. Foi um beijo terno, diferente do abraço eletrizante daquela
primeira noite no rancho. Os protestos que começaram a se formar
em seu cérebro pereceram sufocados pelo prazer, pela alegria de
reconhecer o cheiro, o sabor e a pele daquele homem. Estar em seus
braços novamente depois de tanto tempo longe deles era como
voltar para casa. Estivera com Mac uma única vez, e sabia coisas
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sobre ele que teria levado anos para aprender. Como interpretar o
leve tremor em seus lábios como um sinal de controle determinado.
Também sabia que ele a desejava mais do que queria admitir, e que
recuaria, caso pedisse mais do que estava disposto ou preparado
para oferecer. O beijo era um teste, e por mais que pensasse,
Abbie não conseguia pensar em uma única maneira de passar por ele.
Mas de repente, como que por milagre, ela havia sido aprovada.
O beijo fragmentou-se em uma chuva de carinhos espalhados por
seu rosto, pelos olhos, pelo nariz e o queixo. Os braços a apertavam
com mais força, e o ar exalado pelos pulmões de Mac produzia o som
de um suspiro aliviado.
— Abbie... Não sei como isso vai funcionar, mas... -O telefone
tocou. Escondido no bolso traseiro da calça para gestantes, o
aparelho produziu um som abafado, porém inoportuno. Pensou em
desligá-lo. Talvez devesse simplesmente atirá-lo no lago. Mas, no
final, certa de que o momento já havia sido arruinado, esperou que
Mac se afastasse alguns passos para atender à ligação do irmão.

Mac apoiou-se na balaustrada do píer e tentou não se mostrar


interessado na conversa de Abbie. Sabia que não era educado
escutar conversas alheias, mesmo que só pela metade, mas se as
palavras pudessem ajudá-lo a decifrar sua linha de ataque, o fim
justificaria os meios. Por outro lado, graças ao acordo que fizera
com Cade, era obrigado a manter a mente aberta sobre os possíveis
significados daquela conversa.
— Alô? — Pausa. — Sim, eu sei que prometi ligar às sete, mas
eu também disse que poderia ser um pouco mais tarde. — O tom era
impaciente e conciliatório, como se ela lamentasse não ter podido
telefonar no horário combinado, mas estivesse aborrecida com a
cobrança. — Estava ocupada. Trabalhando. Sim, como conselheira.
Mac registrou a primeira mentira. A menos que ela fosse
conselheira graduada e considerasse a conversa com ele como
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treinamento profissional. Pronto. Impossível encontrar alguém com


a mente mais aberta.
— Não foi o que eu acabei de dizer?
Pelo que podia ouvir, a conversa se transformava rapidamente
em discussão. Não uma briga furiosa como as que tiveram desde sua
chegada, mas uma altercação contida e menos agressiva, um sinal
claro de que ela não queria realmente brigar, mas também não
cederia às exigências da outra pessoa.
— Não, este não é um bom momento. Não posso conversar com
você agora.
As suspeitas cresciam em sua mente. Abbie não podia falar
porque não queria que ele ouvisse o que tinha a dizer. Por outro
lado, o desejo de privacidade era normal. Mais um ponto para sua
atitude aberta e desprovida de preconceitos.
— Estou exatamente onde disse que estaria, Brad!
Brad. O mesmo homem que telefonara para ela no restaurante
do hotel em Dallas. E ela não parecia mais feliz com a ligação dessa
noite. Porque estivera beijando outro homem, ultrapassando suas
defesas, tentando recuperar sua confiança, planejando como
transformar...
Mente aberta, Mac. Tinha de manter a mente aberta. Talvez
Brad fosse apenas um sujeito insistente que ligava sempre nos
momentos menos apropriados. Nesse caso, por que ela não desligava
o telefone e encerrava o assunto? A voz dela era cada vez mais
tensa.
— Por que fez isso? Eu pedi para usar apenas o número do meu
celular. Não devia ter procurado o serviço de auxílio à lista.
Mac franziu a testa. Brad podia ser um cúmplice, ou alguém que
não sabia onde ela estava.
— Sim — Abbie suspirou resignada. — Eu sei que não existe um
acampamento nas Montanhas Pocono ou na região noroeste dos
Estados Unidos. — Uma pausa breve, e a voz soou ainda mais
agitada. — Porque eu queria ficar sozinha! Não, não vou dizer onde
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estou. Porque você viria para cá, causaria problemas, e não preciso
de sua ajuda nesse sentido! — Abbie tremia como uma árvore
batida pelo vento, e Mac virou-se para fitá-la sem se importar com
o fato de expor a própria curiosidade. — E claro que estou zangada!
Faço o melhor que posso para... para cuidar da... — Um soluço
anunciou que as lágrimas se aproximavam.
Quem quer que fosse Brad, já havia causado danos demais com
seu telefonema. Não permitiria que ele a fizesse chorar. E se a
tensão coincidisse com uma daquelas alterações de humor causada
pelos hormônios? Seria terrível!
Mac deu dois passos na direção de Abbie. Com uma das mãos
segurou seu braço. Com a outra, arrancou o telefone de sua mão e
levou-o à orelha.
— Escute aqui, Brad — começou, ignorando o grito horrorizado.
— Você perturbou Abbie, e no estado em que ela está, pode
começar a chorar e nunca mais parar.
Sufocando um grito desesperado, ela tentou recuperar o
aparelho, mas Mac frustrou sua tentativa. Estava se esforçando
para protegê-la de um canalha insensível!
— Abbie não quer mais falar com você neste momento. Sendo
assim, vou desligar o aparelho, e ela poderá ligar de volta se e
quando quiser.
Houve uma longa pausa. Depois uma voz masculina e apreensiva
indagou:
— Quem está falando?
Não tinha motivos para esconder-se.
— Mac Coleman. — Ele encerrou a ligação e desligou o telefone,
orgulhoso por ter pensado rápido e solucionado o problema antes
que se tornasse maior.
Olhou para Abbie esperando ver a gratidão em seu rosto, mas
tudo que viu foi o desânimo, a aflição e a derrota.
— Não devia ter feito isso, Mac.
— Não tente me convencer de que estava gostando da
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conversa, porque sei que o sujeito a estava aborrecendo.


— Sim, e ele me aborrece com regularidade. Todos eles.
— Há mais de um?
— Quatro. Um pior do que o outro.
Mac pensou depressa. Quatro homens. Uma gangue. E Abbie
estava envolvida com eles de alguma forma.
— Por que eles telefonam para você?
— Para terem certeza de que estou bem.
— Em um acampamento nas montanhas, onde disse estar.
— É complicado. — Ela suspirou. — Escute, não quero falar
sobre isso. Já é terrível que tenha dito a Brad que... Oh, esqueça. É
tarde demais para retirar o que disse.
— Desculpe-me — ele pediu irritado. — Pensei que estivesse
ajudando.
— Eu sei. Talvez seja melhor assim. A decisão foi tomada por
mim e... Bem, não tem importância. Eu ia mesmo partir em alguns
dias.
— Partir?
Abbie quase sorriu.
— Está tentando livrar-se de mim desde que cheguei aqui. O
que esperava? Que eu ficasse indefinidamente?
— Pensei que os últimos dias houvessem feito você mudar de
idéia sobre o que eu quero.
— Os últimos dias, embora muito mais agradáveis do que a
semana anterior, só me convenceram de que você decidiu adotar
uma linha diferente, e muito mais eficiente, de defesa. Sei que não
vai acreditar nisso, como não acreditou em nada do que eu disse até
agora, mas nunca tive a intenção de ficar no rancho por mais do que
duas semanas. Três, nó máximo.
Então, a tentativa de ser um bom moço não a enganara. De
qualquer maneira, não sabia se seu verdadeiro objetivo havia sido o
de fazê-la partir.
— Para onde vai?
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— Isso faz diferença? — Abbie parou e respirou fundo. Depois


franziu a testa e levou a mão à parte inferior do ventre. — Ai... Ai...
Mac foi tomado pelo pânico.
— O que foi? Está sentindo alguma coisa? Dor? Ela assentiu e
massageou o abdome.
— Vou chamar um médico — Mac decidiu, tomando-a nos braços
para carregá-la de volta à casa. — Para quem devo ligar? Tem um
médico aqui? Posso indicar alguém. Hannah já começou o pré-natal
e... — Mac corria como se tivesse de debelar um incêndio. — Tudo
bem, Abbie. Mantenha a calma.
— Foi só uma cãibra, Mac. O que está fazendo? Ele parou,
intrigado com o brilho divertido nosolhos dela.
— Uma cãibra? Quase me matou de susto por causa de uma
cãibra estúpida?
— Bem, não é estúpida para quem a sente. Dói muito, sabe?
— Cãibra...
— Sim, mas agora já passou. Obrigada.
Abbie sorria. A aflição e a apreensão desapareceram de seus
olhos, e a mão sobre o braço de Mac era quente, uma espécie de
reconhecimento silencioso.
— Talvez mantenha a mente um pouco menos aberta depois
disso.
— Se acha melhor assim... Pode me pôr no chão, por favor?
— Não. Por que correr o risco de sofrer uma nova cãibra?
Prefiro levá-la de volta para casa em segurança.
— Não vou voltar para casa. Eles vão telefonar para lá.
— Quem? — Um segundo, e Mac compreendeu que ela se
referia aos quatro homens. A gangue. — Eles não vão ligar. Não
enquanto mantiver seu celular desligado. E vou deixá-lo em meu
bolso para ter certeza de que não vai ligá-lo esta noite.
— Deu seu nome a Brad. Eles não vão precisar de mais do que
cinco minutos para relacionar Mac Coleman a minha amiga Jéssica
Coleman, e daí será um pulo para chegarem ao Desert Rose. Confie
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em mim. Eles terão o número do telefone da casa, do escritório e


dos estábulos antes que você possa chegar ao seu quarto.
— Não precisa falar com ele, Abbie. Com nenhum deles.
Ela suspirou como se fosse difícil explicar a situação.
— É complicado, Mac. Prefiro que ninguém de sua família saiba
ao certo onde estou.
— Como se envolveu com um homem como esse?
— Foi justamente o esforço para afastar-me deles que acabou
causando toda a confusão em que estou metida agora. Ponha-me no
chão, Mac. Vou ficar aqui fora e torcer para que ninguém decida
trazer o telefone sem fio.
— Não precisa ficar aqui fora. — Sabia que seria inútil
convencê-la a entrar, e por isso optou pela melhor alternativa. —
Conheço um lugar perfeito onde pode ficar com toda segurança. —
Sem colocá-la no chão, ele seguiu na direção oposta à da casa. —
Ninguém vai pensar em ir até lá procurá-la.
— Ótimo. Agora estou sendo raptada.
— Será que pode cooperar, por favor? — Era bom ouvir o riso
em sua voz novamente. — Estou tentando ser o herói aqui.
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CAPÍTULO VII

O problema com os heróis é que eles são homens, Abbie decidiu


ao ser posta no chão na sala escura da casa de hóspedes. Desde que
confiscara seu telefone e o desligara, Mac deixava claro que
pretendia resgatá-la, mesmo que não precisasse de um resgate. Era
triste dizer, porque acreditava em suas boas intenções, mas todos
os seus heróis só faziam piorar as coisas. Queria que só por uma
vez os homens de sua vida a deixassem em paz para resolver os
próprios problemas, em vez de complicarem tudo que tentava fazer.
— Obrigada — disse Abbie —, mas nada disso é necessário.
— Não foi nenhum incômodo — Mac respondeu, interpretando
suas palavras como simples cortesia. — Deve haver velas em algum
lugar por aqui.
— Não tem energia elétrica na casa?
— Sim, mas acender as luzes seria como enviar um chamado.
Alguém viria correndo para ver o que está acontecendo, saberiam
que está aqui, e então qualquer pessoa poderia atender ao telefone
e transferir a ligação para o aparelho desta casa.
— Eu não teria de atendê-lo.
— Oh, sim, teria. Caso contrário, alguém viria verificar se o
aparelho está quebrado.
— Isso está ficando muito parecido com minha casa. — Abbie
aproximou-se de uma janela e abriu as cortinas. Dali podia ver o
lago e o céu pontilhado de estrelas cintilantes. A lua refletida na
superfície escura da água lembrava o cenário de um filme
romântico. — Lindo... — suspirou.
— Mmm — Mac respondeu enquanto vasculhava as gavetas no
escuro. — Tem certeza de que quer as cortinas abertas? Alguém
pode passar lá fora e ver você aí... .
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— Não estou me escondendo da polícia. Só dos meus irmãos, e


não espero que eles passem perto daqui. Não nas próximas horas,
pelo menos.
O ruído das gavetas cessou.
— Irmãos?
— Irmãos. Quatro. Todos grandes, temperamentais e
superprotetores.
— Está se escondendo de seus irmãos?
— Foi o que eu disse.
— Então... não tem um namorado violento, um bandido envolvido
com uma gangue perigosa?
Ela riu, imaginando de onde Mac havia tirado essa idéia.
— Brad é meu irmão, o segundo dos quatro, logo abaixo de
Quinn e mais velho que Jaz e Tyler.
— Brad é seu irmão... — Era como se ele tivesse dificuldades
para lidar com o conceito. — Por que mentiu para seus irmãos?
— Porque sabia que meu sonho de independência terminaria no
momento em que eles soubessem a verdade.
— Que verdade? A de que está em um rancho no Texas, e não
em um acampamento nas montanhas?
— Sim, também.
— Ainda há mais?
— Eles ainda não sabem que serão tios dentro de quatro meses.
Mac acendeu uma vela.
— Não sabem que está grávida?
— Não sabiam, mas agora que mencionou meu estado, é bem
provável que tenham deduzido.
— Oh, não...
— É o que eu penso.
— E seus pais?
— Também não contei a eles. Primeiro porque seria muito
embaraçoso, e depois, recentemente, porque senti que precisava de
um tempo para decidir o que e como dizer.
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— O que há para decidir? Só precisa contar que está grávida!


— Só? — ela reagiu irritada. — Esqueceu o que aconteceu
quando contei a você?
— É diferente.
— É claro que sim. Meus pais acreditarão em mim.
— Eu nunca duvidei de sua gravidez.
— Não. Só de sua participação nela. -Mac fixou a vela no
castiçal sobre a mesa.
— Discutir comigo não vai ajudá-la a resolver seus problemas
com eles. Vai ter de contar a sua família... mais cedo ou mais tarde.
— Uau! Por que será que nunca pensei nisso? — Queria ficar
zangada com Mac. E com os irmãos, com a diretoria da Academia da
Srta. Amélia, com o sol, a lua e as estrelas, mas ela era a única
culpada, e estava ficando cansada de se zangar com Abbie. —
Prefiro não falar sobre isso. Você já deixou claro que não se
importa com o que eu faço ou para onde vou, desde que não seja
submetido a cobranças e exigências.
— Isso não é verdade. Tenho me esforçado para ser gentil com
você nesta semana e...
A interrupção da frase confirmou as suspeitas de Abbie sobre
seus motivos.
— O que está tentando fazer? Quer me envolver e provocar
uma confissão sobre meu interesse diabólico em sua conta
bancária? Quer me convencer de que mudou de idéia e de atitude a
meu respeito? Quer me matar sufocada com tanta bondade, porque
assim poderá viver livre de mim e da culpa?
— Fiz uma aposta com Cade. E perdi. Ele me fez prometer que
daria uma chance a... Bem, que tentaria entendê-la e ouvi-la.
Seu coração doía como se houvesse sido atingido por uma
lâmina afiada.
— Que alívio! Odiaria pensar que me deu uma chance por
acreditar que essa era a atitude mais correta e justa.
— Tenho meus motivos para duvidar de sua história, Abbie.
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— Ah, não! Agora vai dizer que é estéril?


— Não. Mas não sou tão ingênuo quanto era antes.
— Antes do quê?
Mac respirou fundo como se reunisse forças.
— Há dois anos eu me apaixonei por alguém. Gillían ficou
grávida e eu a pedi em casamento sem hesitar, certo de que
estaríamos apenas antecipando o futuro que teríamos juntos de
qualquer maneira. O casamento foi planejado e tudo corria
perfeitamente, até a noite de minha despedida de solteiro, quando
um dos amigos de Gillían bebeu demais e começou a me chamar de
palhaço e outros adjetivos menos lisonjeiros. As gargalhadas e os
comentários foram ganhando força entre os amigos dela, até que
alguém decidiu me contar tudo. Gillían sabia quem eu era havia
muito tempo, desde muito antes de ter orquestrado nosso encontro
acidental. Ela temia que eu nunca a pedisse em casamento, e por
isso decidiu dar uma ajuda ao destino. Como sempre fui cauteloso,
ela contou com o auxílio daquele mesmo amigo. Ele era o pai do bebê
que Gillían afirmava ser meu filho.
Abbie estava chocada.
— Ela confessou tudo isso?
— Não, mas as evidências eram incontestáveis. Gillían sustentou
sua inocência até o fim.
— O fim de quê?
— Até o dia do casamento, quando tio Randy a procurou para
oferecer um cheque bastante generoso em troca de sua
desistência. Era isso, ou o risco de enfrentar um processo de
divórcio turbulento, caso um teste de paternidade revelasse que ela
havia mesmo mentido. Gillían aceitou o cheque e sumiu.
— Eu sinto muito. Deve ter sido terrível para você.
— Eu superei.
Não, Abbie pensou. Não superou, e agora me culpa pelas
mentiras de outra mulher,
Mas aquele não era o melhor momento para um confronto. De
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qualquer maneira, qualquer momento era oportuno para uma boa


dose de realidade.
— Não sabia quem você era até encontrá-lo no aeroporto.
Fiquei tão surpresa quanto você. Não vim aqui para ameaçá-lo,
pressioná-lo ou causar problemas. Vim porque Jéssica convidou-me
e porque não podia voltar para casa e enfrentar a decepção de meus
familiares. E não importa se acredita em mim ou não.
Os olhos mergulharam nos dela buscando uma fé que ela não
podia proporcionar.
— E agora? — Mac perguntou em voz baixa.
Abbie encolheu os ombros. Por que havia imaginado que ele
mudaria de idéia e aceitaria sua versão como verdadeira? Mac
Coleman era um legítimo filho da realeza e do Texas, um príncipe,
um homem orgulhoso e até arrogante. Por que pensara que ele
acreditaria nas palavras de uma plebéia?
— Agora vamos apagar a vela e voltar para casa — ela decidiu.
— Amanhã eu irei embora, e então não terá mais de pensar em mim.
— Não creio que possa deixar de pensar em você.
— É claro que pode. Vai ser fácil. Mais um problema eliminado
de sua vida. Simples, não? — Queria sorrir, mas os olhos estavam
inundados pelas lágrimas. — Desculpe-me. Acho que estou um
pouco... deprimida esta noite.
— Não chore, Abbie. — Ele se aproximou e puxou-a de encontro
ao peito. — Não quero que você chore.
Soluçando, ela tentou conter a enxurrada que brotava de seus
olhos.
— Não creio que possa impedir, Mac. Nem mesmo para vencer
uma aposta.
Por um momento ele permaneceu imóvel. Depois as mãos
começaram a deslizar por seus braços e ela sentiu o contato úmido
e quente dos lábios na lateral de seu pescoço. Arrepios percorriam
seu corpo espalhando um calor delicioso e envolvente.
— Não devia fazer isso...
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— Tem razão — ele murmurou. — Mas não sei mais o que fazer
com você. Beijá-la parece ser a única alternativa.
— Eu... não creio que seja uma boa idéia.
— Prefere chorar?
— Não, mas...
— Está tremendo. Tem medo de mim?
Devia ter. Ele a magoara com suas suspeitas. Mesmo que
passasse a noite fazendo amor com Mac, nada mudaria. Quando o
novo dia chegasse, ele continuaria pensando o pior a seu respeito.
Mas como queria ficar... Como queria reencontrar a paixão em seus
braços e saciar a fome em seus beijos!
— Não, Mac — respondeu ofegante, colando o corpo ao dela em
uma rendição silenciosa. — Não tenho medo de você.
Ele beijou sua orelha para recompensá-la pela confissão
corajosa. Ou só para deixá-la louca de desejo. Um fogo intenso
incinerava sua capacidade de raciocínio, convencendo-a de que tudo
que importava era o que sentia naquele momento.
— E bom saber disso — Mac murmurou enquanto beijava seu
pescoço —, porque eu estou morrendo de medo de você.
Não sabia se ele dizia a verdade. Não tinha importância. Era
maravilhoso sentir as mãos dele em seu corpo novamente e reviver
sensações que só havia experimentado uma vez antes.
— Você é linda, Abbie. Quero beijá-la e tocá-la em todos os
lugares, quero fazer amor com você a noite toda, mas...
Não suportaria se ele a rejeitasse. Mac pretendia puni-la
privando-a de seus beijos, prometendo o paraíso para depois
abandoná-la no inferno, e isso era algo que tinha de impedir a
qualquer custo.
— Por favor — sussurrou, oferecendo os lábios como uma flor
oferece suas pétalas para o sol da manhã. — Faça amor comigo.
Ele a beijou, e o resto do mundo deixou de existir. Aquilo era
tudo de que precisava. Mac. Aceitaria tudo que ele tivesse para
oferecer e pagaria o preço por aquela segunda noite de perfeição.
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Qualquer que fosse o preço, pagaria sem reclamar. E enquanto


vivesse, buscaria forças nas lembranças e teria a certeza de que
fazer sexo jamais seria o mesmo que fazer amor.
— Tem certeza de que podemos continuar? — ele perguntou
enquanto a carregava para o quarto.
— Podemos. O sexo é uma atividade segura durante a gestação,
desde que não espere que eu me pendure no lustre.
— Que pena... Tinha planos para experimentar algumas
novidades — ele respondeu rindo.
— Não precisamos do lustre. Estamos usando velas, lembra?
— Esqueça as velas. Não quero incendiar a casa.
— Não? Puxa, podia ter me enganado!
Ele a deitou sobre a cama e beijou-a com paixão.
— Quero incendiar seu corpo e sentir o calor desse fogo em
mim.
— Caso ainda não tenha percebido, já estou em brasas...
O comentário rouco e sensual alimentou o desejo que o
dominava, e Mac começou a despi-la e tirar as próprias roupas. Até
aquele momento agira por impulso, seguro na certeza de que poderia
parar antes que as coisas fossem longe demais. Tivera a idéia de
tocá-la para impedir que continuasse chorando. Mantivera o contato
físico por perceber que assim podia distraí-la. O plano havia
funcionado muito bem, e só não fora perfeito porque o feitiço se
voltara contra o feiticeiro. Agora era ele quem estava distraído.
Confuso. Perdido. Perdera-se na tentativa de assumir o papel do
protetor, e de repente sentia uma necessidade quase vital de ser
tocado por Abbie, de ser beijado e acariciado por ela.
E ali estavam eles, prontos para transformarem um engano em
dois, dispostos a complicar uma situação que já era muito complexa.
Mas algo acontecera no momento em que ela confessara desejá-lo.
Queria Abbie, isso era certo, mas sentia algo mais complexo, como
se muitas possibilidades se descortinassem repentinamente diante
de seus olhos. Talvez Cade tivesse razão. Abbie não era Gillían. Não
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

estava ali para enganá-lo, mas para amá-lo, para ser desejável e
sedutora em seus braços. Talvez não tivesse certeza de seus
motivos, e certamente não se sentia pronto para dar o grande passo
e assumir a paternidade de seu bebê. Talvez nunca estivesse, mas
seu coração já havia decidido que mereciam uma segunda chance.

O telefone tocou sobre o criado-mudo. Mac abriu os olhos e


percebeu que a luz do sol penetrava pelas frestas da janela. Estava
na casa de hóspedes com Abbie. Haviam passado a noite juntos. O
telefone tocou novamente e ele atendeu ao chamado, temendo que o
som a despertasse.
— O que é? — indagou em voz baixa.
— Mac? — O sussurro de Jessie soou do outro lado da linha.
— Sim, sou eu.
— Graças a Deus está aí! Pensando bem, talvez não seja tão
bom assim. Abbie está com você?
Jessie estava agitada demais. Depois de descobrir onde ele e
Abbie haviam passado a noite, devia estar imaginando cenários
românticos e criando fantasias amorosas. E de certa forma, sua
prima estava certa.
— O que quer, Jess?
— Liguei para preveni-lo. Você está prestes a ter companhia.
Irmãos... — Ela sussurrou enigmática.
Enigmática? Não havia nada de misterioso no aviso. Cade estava
a caminho da casa para pegá-lo em flagrante e vangloriar-se por ter
promovido aquela situação, e Alex o acompanhava para reforçar as
provocações.
— Não precisa cochichar, Jess — ele disse, notando que Abbie
se movia a seu lado. — Obrigado pelo aviso, mas sei lidar com
aqueles dois. — Mac desligou e sorriu. — Olá.
Abbie sorriu e tocou seu rosto em uma carícia espontânea.
Incapaz de conter-se, Mac voltou para baixo da coberta e beijou-a,
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

— Humm... — Abbie gemeu com prazer. — Humm...


— Era exatamente o que eu estava pensando. Jessie acabou de
ligar — contou, beijando o pescoço delicado e descendo até os
lábios tocarem um dos seios. — Cade e Alex estão a caminho daqui.
Ela suspirou desapontada.
— O que eles querem?
— Não sei. Às vezes eles perdem o senso de decoro e limite.
— Hmmm. — Os dedos de Mac acariciavam seu seio. — Parecem
meus irmãos.
As palavras pairaram no ar um instante como um presságio
enquanto, assustada, ela considerava uma possibilidade que a fez
fitá-lo com os olhos cheios de pavor. Tum, tum, tum. As batidas
violentas precederam o som de uma porta se abrindo e de passos na
sala. E vozes... Vozes fortes e imperiosas.
— Abbie? — chamou uma delas.
— Onde você está, Abigail?
— Saia de onde estiver!
Mac notou a calça jeans pendurada em uma das hélices do
ventilador de teto. A calça de Abbie pendia de outra hélice, e o
movimento do ventilador criava o desenho de um círculo amplo
sobre suas cabeças. Uma cueca e um pé de meia enfeitavam a
cabeceira da cama a seu lado, e as peças íntimas dela haviam sido
esquecidas no chão. Havia sido divertido jogar as roupas em todas
as direções enquanto trocavam carícias e faziam piadas sobre o
lustre, mas não teria graça nenhuma enfrentar o quarteto de
irmãos carrancudos.
— Não... — Abbie gemeu apavorada. Alguém bateu na porta.
— Abbie? Está decente?
— Brad? O que faz aqui?
— Até que enfim a encontramos!
— Pare! Não entrem...!
Era tarde demais. Brad, uma espécie de Hércules dos tempos
modernos, já passava pela soleira. Atrás dele surgiram mais três
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

rapazes com as mesmas dimensões impressionantes. O primeiro


tinha cabelos negros, mas os outros eram claros como Abbie. Todos
tinham olhos azuis, como ela, que refletiam o espanto provocado
pela situação com que se deparavam ali. Mac não podia culpá-los.
Sabia que as evidências eram indiscutíveis.
— Bom dia, cavalheiros — disse. — Há café na cozinha. Abbie e
eu precisamos de alguns instantes de privacidade antes de
recebermos visitantes.
— Já tiveram mais privacidade do que deviam ter tido — disse
um dos irmãos.
— Oh, sim, privacidade demais! — concordou outro, olhando
para as calças penduradas no ventilador.
Droga! Por que não trancara a porta da casa na noite anterior?
Brad encarou a irmã.
— Você está bem, Abbie?
— Estava ótima, até que vocês apareceram! Não sei por que
vieram atrás de mim como se fossem integrantes de um pelotão de
choque!
— Se fossemos membros de algum pelotão, teríamos sido
exonerados por chegarmos atrasados à cena do crime.
— Ótimo! Chegaram atrasados e agora não há mais nada a
fazer. Sendo assim, por que não dão meia-volta e vão para casa?
Brad aproximou-se da cama seguido por dois dos irmãos. O
quarto homem ficou parado na porta como se quisesse impedir uma
fuga em massa.
— Apresente-nos ao seu... a ele — disse o de cabelos negros.
Abbie olhou para Mac como se quisesse pedir-lhe desculpas.
— Mac Coleman — disse. — Estes são meus irmãos. Brad, Tyler,
Jaz, e aquele na porta é Quinn. — Ela encarou o quarteto Jones. —
Agora podem ir. Irei encontrá-los em casa daqui a alguns dias.
Quinn cruzou os braços.
— Não vamos sair daqui sem você, e ninguém sairá daqui antes
de descobrirmos qual é seu estado.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

— Cavalheiros, esperem na sala, por favor — Mac interferiu


com firmeza, segurando a mão dela sob a coberta. — Estão
deixando Abbie constrangida e me aborrecendo com essa
insistência.
Quinn parecia surpreso, mas não impressionado.
— Antes queremos saber o que há de errado com nossa irmã.
— Não há nada de errado comigo. Estou grávida, só isso.
Silêncio.
Em outras circunstâncias, Mac teria rido das expressões dos
quatro homens. Mas as circunstâncias eram delicadas, e não sentia
nenhuma vontade de rir.
— O que foi que disse? — Jaz foi o primeiro a reagir.
— Está esperando um bebê? — perguntou Tyler. Brad e Quinn
olhavam para Mac.
— E você...? — um deles disparou, referindo-se à questão da
paternidade.
— Oh, não! Eu não estou esperando um bebê. Abbie é a única
grávida neste quarto.
Brad deu um passo à frente e cerrou os punhos.
— Muito bem, engraçadinho. As próximas palavras a saírem de
sua boca serão sobre como está feliz por ter conhecido seus
cunhados.
— Brad! — Abbie reagiu ultrajada. — Saiam daqui agora! Todos
vocês!
— Não enquanto não houver uma aliança em seu dedo.
— Fora daqui! — ela gritou.
Os quatro grandalhões permaneceram onde estavam, sem se
dar conta do constrangimento e da humilhação que causavam à irmã.
— Não estamos noivos, se é o que quer saber. — Mac decidiu
que era hora de agir como um homem adulto e colocar aqueles
quatro adolescentes gigantescos em seus devidos lugares. Poria o
quarteto para fora do quarto com as próprias mãos e nu, se fosse
necessário, mas não permitiria que continuassem embaraçando
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Abbie. — Isso é antiquado demais até mesmo para o Texas.


— Não vivemos no Texas — informou Jaz. Quinn olhou para a
irmã.
— Ele é o pai do bebê, Abbie?
Mac sentiu o peito oprimido. Ao vê-la abaixar a cabeça e
suspirar com um misto de cansaço e derrota, soube exatamente
qual seria a resposta.
— Sim...
A palavra soou suave como o vapor, mas teve o poder de atingi-
lo em cheio no coração. Na noite anterior chegara a acreditar nela e
na possibilidade de um futuro a seu lado. Acreditara no amor à
primeira vista e em sua continuidade. E tudo havia sido uma farsa.
Um plano perfeito. Um plano executado com maestria, a julgar pela
reação dos quatro irmãos Jones. Talvez eles fizessem parte da
encenação, ou haviam sido manipulados como ele. O único detalhe
que Abbie deixara de providenciar para garantir a perfeição da
cena fora a espingarda apontada para sua cabeça. Então estaria
vivendo a típica situação do casamento forçado.
Quatro pares de olhos azuis estudavam seu rosto. Quatro
pares de punhos cerrados esperavam pelo desfecho da questão.
Quatro homens unidos pela mesma decisão: Mac e Abbie teriam de
se casar. Estava em minoria, sem nenhuma chance de defesa e, pelo
menos naquele momento, sem opções. Assim, com toda a dignidade
que as circunstâncias permitiam, ele olhou para Abbie.
— Quer se casar comigo, Abigail Jones? — perguntou sem
emoção ou entusiasmo.
Ela ergueu a cabeça e encarou-o com orgulho.
— Não.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

CAPÍTULO VIII

Era sempre assim quando seus irmãos estavam por perto.


Ninguém ouvia Abbie. Se espirrasse, quatro lenços eram postos em
sua mão. Se elogiasse a voz potente de Andrea Bocelli, dias depois
teria todos os discos do cantor. Se manifestasse a intenção de
reformar uma velha cômoda, a tropa de comando irmãos Jones
concluía o trabalho antes que pudesse piscar. Bastava mencionar o
desejo de evitar uma certa zona de tráfego, e em pouco tempo
recebia um mapa detalhado de todas as vias alternativas em um raio
de cem quilômetros. Mas quando declarava determinada que não se
casaria com Mac Coleman, ninguém a ouvia. Qualquer pessoa
pensaria que havia corado de prazer e murmurado um sim
lacrimejante e emocionado.
Cinco minutos depois da proposta de Mac e de sua recusa,
finalmente conseguira tirar os irmãos do quarto. Alguns segundos
de silêncio seguiram-se a sua resposta negativa, e depois Tyler
havia sorrido como se ela tivesse contado uma piada.
— Não dê ouvidos a Abbie, Mac. Ela está zangada porque todos
nós ficamos para ouvir o pedido.
— E verdade. Ela sempre insistiu em ser independente, nossa
princesinha — concordara Jaz.
— Não se preocupe, ela vai se casar com você — Brad garantira.
— Ficaremos para a cerimônia. — O anúncio de Quinn soara
como uma ameaça velada.
Mac cruzara os braços sobre o peito.
— Eu nunca duvidei disso.
Abbie ficara sem saber a quem dirigir seus argumentos e
perdera a oportunidade de falar, porque logo os irmãos estavam
cumprimentando Mac com rápidos e nada sinceros apertos de mão.
Na verdade, os cumprimentos haviam sido apenas uma forma
disfarçada de ameaça física e continham mais um aviso do que votos
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

verdadeiros de felicidades. Nenhum deles sorrira. Nem mesmo Mac.


Os sorrisos, menos o de Mac, só apareceram quando os quatro
irmãos contornaram a cama para beijá-la no rosto.
— Não se preocupe com nada — Quinn aconselhara.
— Agora está bem, não é? — Jaz nem havia esperado pela
resposta.
— Será a noiva mais linda deste país — antecipara Tyler.
— Vamos cuidar de tudo — Brad havia concluído satisfeito.
Abbie mantivera-se coberta e conseguira conter um grito de
raiva e frustração. Sabia que o grito teria sido apenas um enorme
desperdício de energia, por que ninguém a teria ouvido. Nada faria
com que seus irmãos a escutassem.
Por isso contivera a ira e mantivera a boca fechada, sofrendo
em silêncio um ataque voraz de emoções variadas. Raiva, vergonha,
irritação, frustração, indignidade... Ainda tentava nomear alguns
sentimentos quando os irmãos Jones deixaram o quarto discutindo
quem ligaria para casa para informar os pais, quem cuidaria dos
detalhes da cerimônia, quando e onde aconteceria o casamento e
que tipo de recepção deveriam promover. Como os pais viajariam em
breve para o Havaí a fim de comemorar o aniversário de casamento,
a união deveria acontecer o mais depressa possível, antes da data
estipulada para a partida do casal. E considerando o estado de
Abbie, o casamento já estava bastante atrasado.
Brad, o último a passar pela porta, avisara que teria café
descafeinado dentro de alguns minutos, e que eles estariam na
cozinha, caso precisasse de alguma coisa.
Livre deles, Abbie constatou que estava mais zangada com Mac
do que com qualquer um dos irmãos. Eles, pelo menos, tinham em
mente o que julgavam ser sua felicidade, embora utilizassem
métodos condenáveis. Mac, por outro lado...
Ela o encarou disposta a extravasar a ira.
— O que pensa que está fazendo? Por que me pediu em
casamento?
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Ele jogou a coberta longe e se levantou, premiando-a com uma


visão privilegiada de seu corpo musculoso e bronzeado. A maneira
como a ignorava deixou-a ainda mais furiosa.
— Devia ter ficado quieto enquanto eu cuidava deles!
Erguendo um braço, Mac resgatou a calça da hélice do
ventilador com um movimento eficiente e vestiu-se com a mesma
segurança.
— Você já cuidou de tudo com perfeição — disse. — Devia estar
satisfeita.
— Então ele acreditava que havia planejado o que acabara de
acontecer ali? Depois da noite anterior, ainda pensava que era uma
mentirosa?
— Foi você quem revelou meu paradeiro.
— Tenho certeza de que tinha um plano alternativo para trazê-
los até aqui. Eu só banquei o herói e facilitei tudo para você. De
qualquer maneira, conseguiu o que queria. Terá o que veio buscar,
não é?
Sentia-se prestes a agredi-lo.
— Não quero me casar com você!
Mac terminou de calçar as botas, abotoou a camisa e sorriu.
— Isso mesmo, mantenha essa versão. E acrescente um toque
de ultraje para aprimorar sua performance.
Sem esperar por uma resposta, ele saiu e fechou a porta do
quarto.
Depois disso, Abbie não perdeu tempo tentando instruir os
irmãos sobre o erro que haviam cometido. Não se deu ao trabalho
nem mesmo de corrigi-los com relação à noção absurda de que devia
se casar com Mac. Em vez disso, respondeu a algumas perguntas
sobre a demissão do último emprego e tentou convencê-los de que
nem mesmo toda a interferência familiar poderia levá-la de volta ao
cargo de professora na Academia da Srta. Amélia. Ignorou o
interrogatório sobre onde, como e quando conhecera Mac,
restringindo-se a revelar que o encontrara casualmente na festa de
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

formatura. Em resposta à questão sobre por que fora esconder-se


no Texas, disse apenas que sua amiga Jéssica a convidara. E quando
Quinn tentara entender por que ela inventara um acampamento nas
Montanhas Pocono em vez de ir para casa e informar a família sobre
a situação em que se encontrava, Abbie dissera não estar se
sentindo bem e encerrara a conversa.
Nenhum deles mencionava seu estado, agora que estava em pé e
vestida, tornando assim a barriga evidente. Era como se houvessem
decidido esperar até o casamento para falar sobre o bebê. Melhor
assim. Não queria mesmo falar sobre a criança. Lamentava saber
que os desapontara, mas o arrependimento não desfaria nenhum de
seus erros. Melhor seria investir sua energia em algo mais
produtivo, como evitar erros futuros. E o maior deles seria casar-se
com Mac.
Uma hora mais tarde, depois de tomar banho e vestir roupas
limpas, Abbie buscou o refúgio do escritório. Sentada atrás da
mesa, refletia sobre a confusão em que estava metida e ouvia parte
da discussão de Jéssica com Nick Grayson, filho do sócio da
Corporação Coleman-Grayson. Na verdade, nem sabia quem estava
do outro lado da linha, mas como Nick conseguia enfurecer sua
amiga simplesmente por viver no mesmo planeta, podia arriscar um
palpite com boas chances de acertar.
Alguns minutos mais tarde, Jessie bateu o telefone e olhou
para o aparelho com as mãos na cintura.
— Coma lixo e morra, Nick Grayson! — exclamou, confirmando
as suspeitas de Abbie. — Esse sujeito é tão presunçoso que deve
guardar as lâminas de seu barbeador para o deleite das futuras
gerações! Droga! Sei que papai sempre quis que eu assumisse uma
parte da administração dos negócios, mas se tiver de trabalhar com
Nick, juro que prefiro desistir da companhia!
Abbie assentiu, pensando que trocaria todos os homens de sua
vida por aquele que parecia ser a pedra no sapato de Jéssica. Nick
havia sido gentil nas poucas vezes em que conversaram pelo
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telefone.
— Meus irmãos estão aqui — disse, certa de que mataria a
amiga de curiosidade, caso adiasse aquela conversa por mais tempo.
— Ainda quer ser apresentada ao quarteto? Pode escolher o que
preferir, e ainda terá um desconto se levar mais de um.
Jessie conseguiu rir, apesar da agitação provocada pela
discussão com Nick.
— Já conheci seus irmãos. São grandes, atraentes e doces, e
vieram para cá correndo por pensarem que a irmãzinha precisava de
ajuda.
— Agora eles só estão preocupados com o casamento da
irmãzinha.
— Eu soube. Seus irmãos vão ficar na casa de hóspedes até a
cerimônia. Mamãe fez questão de convidá-los. Acha que seus pais
também virão?
Abbie suspirou, desanimada com as perspectivas para o futuro
próximo.
— Espero que não. Disse a Quinn que quero telefonar e explicar
a eles tudo que aconteceu. Se meus irmãos permitirem que eu cuide
pelo menos desse aspecto da questão, talvez possa impedi-los de
fazer uma viagem desnecessária.
— Eu não contaria com isso. Se não me engano, mamãe já se
ofereceu para telefonar e convidar seus pais para se hospedarem
no rancho. E se bem a conheço, ela já deve ter telefonado e
verificado quais são suas preferências para o café-da-manhã.
Abbie apreciava a hospitalidade generosa dos Coleman, mas
preferia que eles não fossem tão simpáticos com sua família.
— Preciso resolver tudo isso de algum jeito.
— Não quer ensaiar comigo?
Abbie suspirou. Sabia que teria de começar por algum lugar.
Ofereceria um relato breve e vago e guardaria os detalhes para
mais tarde, quando tivesse esclarecido todos os rumores que
circulavam entre os Coleman.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

— Mac pediu-me em casamento — contou. Jessie reagiu


surpresa.
— Está falando sério?
— Oh, não! Esse detalhe ainda não havia sido divulgado.
— Pensei que seus irmãos estivessem apenas prevendo um
possível casamento. Quer dizer que Mac já fez o pedido?
Era inútil recuar agora.
— Sim.
— E o que você disse?
— Não.
— Não?
— O que esperava, Jessie? Quer que eu concorde com essa
tolice sobre casamento só porque meus irmãos se comportam como
ditadores insanos?
— Não. Quero que se case porque Mac disse que vocês iam se
casar.
— Ele disse isso? — Na última vez em que o vira, ele estivera
saindo da casa de hóspedes furioso demais para dar explicações.
— Ele esteve na cozinha há pouco mais de uma hora contando a
todos que era o pai de seu filho e que vocês se casariam
imediatamente. Depois Mac saiu sem dizer mais nada.
— Ele fez isso? — Jess estava exagerando, criando uma versão
aperfeiçoada do que realmente fora dito na cozinha. Mac não podia
ter assumido a paternidade do bebê que sempre negara ser seu
filho. Talvez houvesse dito que era acusado de ser o pai. Podia até
ter dito que ela não sabia quem era o pai. E nada disso tornava a
situação mais simples. — Quem estava lá?
— Na cozinha? Meus pais, tia Rose, Hannah e Alex, Ella e o
marido, Hal, Stanley Fox, Olivia, alguns proprietários de animais
hospedados no rancho e eu. Oh, e Savannah, e havia mais algumas
pessoas cujos nomes não consigo lembrar. Era um grupo numeroso.
Imagino que todos no rancho já tenham sido informados sobre as
novidades.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Abbie gostaria de ser tragada pela terra e desaparecer para


sempre.
— E pensar que julguei minha demissão o momento mais
embaraçoso de toda minha vida...
— Ser pega na cama com Mac deve ter superado todos os
outros momentos. Estava na cama com ele, não é?
De que adiantaria negar o que todos já sabiam?
— Sim, estava. — Pensando bem, era melhor contar tudo de
uma vez e acabar com o suspense. — Mac é o homem misterioso que
conheci na nossa festa de formatura. Passamos aquela noite juntos,
e no dia seguinte eu parti para assumir meu novo posto na Academia
da Srta. Amélia. Juro que não sabia que ele era seu primo. Só
descobri quando cheguei aqui.
— E ele não imaginava que você era a amiga que viria para
ajudar-me no escritório. — As peças começavam a se encaixar. —
Sabia que Mac tinha um bom motivo para estar tão interessado em
minhas amigas de faculdade. Ele estava sempre fazendo perguntas
sobre o que cada uma delas estava fazendo depois da formatura,
como se eu conhecesse todas as pessoas que haviam comparecido à
festa. Não acredito no que estou ouvindo! Ele foi sedutor o
bastante para envolvê-la, mas não teve a presença de espírito de
perguntar seu nome? Puxa, o que fez com meu primo naquela noite,
Abbie?
— Mac não estava embriagado, se é o que quer saber. E nem
eu. Foi a atmosfera...
— Não quis dizer que ele devia estar bêbado para ter se
apaixonado por você em uma única noite. E que... Bem, é estranho.
Depois de ter se mantido afastado do mundo por tanto tempo, ele
se interessou realmente por alguém cujo nome nem conhecia!
— A culpa foi minha. Quis manter o mistério, e por isso insisti
no anonimato. Tinha planos, como deve lembrar, e não queria
complicações. Agora sei que fui estúpida.
— Sabia que alguma coisa havia acontecido entre vocês dois a
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

caminho daqui. Quando a vi entrar com aquela expressão apavorada,


tive certeza de que algo muito grave havia ocorrido durante a
viagem. Mas só me dei conta de que Mac podia ser o pai do bebê
dias mais tarde, quando conversávamos aqui no escritório. Podia ter
me contado, Abbie. Somos amigas, não?
— Sim, somos amigas, mas ele é seu primo.
— E daí? Isso só a torna ainda mais especial para mim.
Abbie estava emocionada, mas decidiu que não ia chorar.
Precisava esclarecer toda a situação e tomar decisões importantes,
e para isso tinha de manter-se lúcida e tranqüila, com ou sem
hormônios.
— Acredita em mim, Jessie?
— Por que duvidaria de sua palavra? É claro que acredito e... Ei,
espere um minuto! Mac não acredita em você? Já sei... Ele pensa que
o enganou, que ficou grávida de propósito e veio para cá sabendo
que ele é um príncipe. Por isso meu primo tem estado tão
perturbado nos últimos dias.
Abbie suspirou.
— Ele não acredita que é o pai do bebê.
— Se a pediu em casamento, ele deve acreditar ao menos na
possibilidade de ser o pai.
— Não sei por que Mac não expulsou meus irmãos do rancho.
Não sei por que ele me pediu em casamento. Mas sei que ele nunca
acreditará que estou dizendo a verdade.
— Um teste de paternidade será o bastante para convencê-lo.
— Nunca! Não vou submeter meu filho a esse tipo de
constrangimento. Ou ele nos aceita por acreditar em mim, ou
viveremos bem sem ele. E não me importo com o que Mac vai decidir
— mentiu. — Se soubesse que ele estaria aqui, jamais teria vindo ao
Desert Rose, por mais que quisesse vê-la.
Jessie apertou os lábios como se fosse difícil furtar-se a uma
defesa inflamada das qualidades do primo. Depois contornou a mesa
e aproximou-se de Abbie para segurar as mãos dela.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

— Não se preocupe — disse. — Tudo vai acabar bem. Mac vai se


casar com você e construir um lar para essa criança. Depois da
experiência que teve com Gillían, e prometo contar essa história em
outra oportunidade, é compreensível que ele tenha ficado
perturbado com a chegada de seus irmãos. A situação é delicada,
Abbie, mas sei que Mac nunca a teria pedido em casamento se já
não tivesse planos anteriores nesse sentido.
Abbie balançou a cabeça. Sabia que Jess queria ressaltar os
aspectos mais favoráveis da personalidade do primo, mas era inútil.
— Ele já me falou sobre Gillían. Sei que Mac ainda está
amargurado por ter sido enganado pela mulher que amava, e você
tem razão quando diz ser compreensível que ele se ressinta contra
qualquer acusação de paternidade. Mas sei que ele prefere a morte
a se casar comigo.
A expressão de Jessie indicava que ela não acreditava nisso. No
entanto, ela não ofereceu argumentos contrários, e por isso Abbie
sentiu-se grata.
— Acho que precisa de alguns conselhos sobre como lidar com
um príncipe traumatizado e assustado. Venha, vamos procurar minha
mãe e tia Rose.
— Não sei se posso encará-las. Elas foram tão atenciosas
comigo, e agora meus irmãos estão aqui e... Oh, é tudo tão horrível!
— Abbie escondeu o rosto entre as mãos.
— Está esperando um filho de Mac — lembrou Jéssica. —
Confie em mim. As mulheres da família Coleman estão do seu lado.

— Sugeri que passasse algum tempo com ela e tentasse ser


gentil e aberto. Em nenhum momento eu disse que devia levá-la para
a cama e esperar pela chegada de seus irmãos. Você foi pego em
flagrante, Mac! — Cade estava parado ao lado da caminhonete. Em
alguns minutos partiria para Austin a fim de cuidar de negócios, mas
não sairia do rancho sem antes dar sua opinião. — Onde estava com
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

a cabeça, meu irmão?


— Como se você não soubesse! — Mac respondeu, furioso com o
mundo e com ele mesmo em particular. Não estava disposto a
discutir os eventos daquela manhã com o irmão gêmeo. Pensando
bem, não queria falar com ninguém. — Esqueça, está bem?
— Eu adoraria, mas, pelo que ouvi por aí, duvido que possamos
contar com uma amnésia coletiva. Lamento, mano, mas o problema
não vai desaparecer só porque você quer. Não depois de ter entrado
na cozinha e anunciado para todos que é o pai do filho de Abbie.
— Como soube disso, se nem estava lá?
— Alex me contou. Todos estão comentando, Mac!
— Também disse que vou me casar com Abbie. Essa parte do
anúncio ainda não foi comentada, ou decidiu ignorá-la por alguma
razão especial?
— Não estou ignorando nada. Sei que prometeu se casar com
ela, mas... — Cade balançou a cabeça revelando desaprovação. —
Esta propriedade também é sua. Podia ter expulsado os irmãos dela
daqui.
— Não sei se essa é a melhor maneira de começar um
relacionamento com os cunhados.
— Não vai se casar com ela, Mac. Eu sei disso, Alex sabe disso,
e você também sabe disso.
— Eu vou me casar com Abbie. — Odiava a convicção em sua
voz. Odiava Abbie por tê-lo colocado naquela posição, e odiava-se
por ter dado a ela a oportunidade de acuá-lo daquela maneira. —
Pode apostar nisso.
Cade parecia perplexo.
— Por que, Mac? Por que não ri daqueles idiotas que pensam
poder forçá-lo a aceitar um casamento imposto? O que eles podem
fazer? Você é um Coleman! Um príncipe! Por que se importa com a
opinião daqueles quatro idiotas?
— Você não entenderia.
— Eu? É você quem está confuso, meu irmão. Há alguns dias
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

afirmava ter certeza de que Abbie estava mentindo, e de repente


diz que o filho é seu e que vai se casar com ela. O que ela fez de
ontem para hoje para mudar sua opinião? — Cade levantou as duas
mãos e recuou um passo. — Não me conte. Não quero saber. Mas
acho que precisa entender por que está tão determinado a
acreditar nela.
— Não acredito nela — Mac negou. Não poderia explicar nem
mesmo ao irmão gêmeo o que acontecera, mas sabia que preferia se
casar com Abbie mesmo sabendo que ela era uma mentirosa a
correr o risco de desmascará-la através de um cheque, como fora
feito com Gillían. — Mas vou me casar assim mesmo.
— Muito bem. Se vai mesmo se casar, estarei a seu lado e serei
seu padrinho, se quiser. Só não espere que eu fique feliz por isso.
— Fique tranqüilo. Não vou esperar nada de ninguém. — Mac
virou-se e afastou-se sentindo-se mais sozinho do que jamais
estivera em sua vida.

— Aí estão vocês! — Jéssica exclamou aliviada ao abrir a porta


que dava para o pátio. Atrás dela, Abbie parecia hesitante e
acanhada.
Rose viu as duas jovens caminharem na direção do banco onde
ela se sentara para conversar com a cunhada. Vi também que olhou
para elas e, erguendo os ombros, fez um grande esforço para
recompor-se. Rose bateu em sua mão num gesto de conforto
enquanto cumprimentava as recém-chegadas.
— Estavam procurando por nós, garotas?
— Por toda a casa — Jess confirmou, parando para esperar a
amiga que, triste, parecia disposta a fugir correndo. — O que fazem
aqui fora? Por que suportam este calor infernal, se podem
desfrutar do conforto do ar condicionado lá dentro?
— Queríamos um lugar tranqüilo onde pudéssemos conversar. —
Rose sorriu tentando criar a impressão de que ela e Vi falavam
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

sobre amenidades, como uma nova receita para o jantar, por


exemplo. — E não está tão quente aqui.
— Mas vai esquentar. — Jessie olhou para a mãe e franziu a
testa. — Algum problema?
A farsa sobre a conversa amena entre duas cunhadas e amigas
havia sido em vão.
— É claro que não — Rose respondeu com alegria. — Estávamos
apenas conversando, só isso.
— Sobre mim... e Mac? — Abbie parecia infeliz e Rose sentiu o
coração apertado por ela. A pobrezinha era jovem demais para lidar
com uma personalidade forte como a de Mac. O que quer que
houvesse acontecido entre eles, Abbie não devia sentir-se
inteiramente responsável, uma vez que a escolha fora feita por duas
pessoas.
— Não, querida, não falávamos sobre você — Vi respondeu com
um suspiro cansado. — Estávamos falando sobre mim e meu próximo
aniversário.
— Mamãe, francamente! Por que não pára de se preocupar? Vai
fazer cinqüenta anos! Não é fim do mundo! — Jéssica olhou para
Abbie e explicou: — Eu nasci quando minha mãe fez vinte e cinco
anos, e em outro, quando eu completar vinte e cinco, ela fará
cinqüenta. Qualquer um pensaria que ela vai fazer cento e
cinqüenta, pela maneira como está se lamentando.
— Jéssica — Rose censurou-a com doçura. Não sabia se Randy
havia contado à filha sobre a festa que estava planejando para o
aniversário das duas. Era a esposa que ele queria surpreender. Era
Vi quem precisava da excitação de uma festa. Infelizmente,
também havia sido Vi quem notara o interesse de Randy por
Savannah, uma mulher elegante que mantinha cavalos no Desert
Rose. e chegara à conclusão ridícula sobre um envolvimento
extraconjugal. Rose havia jurado não revelar o segredo do irmão.
Prometera a Randy que não contaria que Savannah era uma
promotora de eventos e parte importante da grande surpresa, mas
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

em alguns momentos, como naquela manhã, era difícil não dizer a Vi


o que realmente acontecia. Estava feliz com a interrupção
promovida pela chegada das duas jovens.
— Vai dizer que estou errada, tia Rose? Sabe como ela tem se
preocupado com os cabelos brancos, com as bolsas sob os olhos e
com o envelhecimento como um todo. É como se o fato de completar
cinqüenta anos a transformasse em uma anciã!
Vi ergueu os ombros e encarou a filha.
— Eu nunca disse que serei uma anciã aos cinqüenta anos. Sei
muito bem que não estou tão velha, apesar dos cabelos brancos e
das bolsas sob os olhos. — Ela olhou para a cunhada. — Não fica
feliz por ter apenas filhos, Rose?
Jessie riu, confiante demais no amor dos pais para sentir-se
ofendida.
— Aposto que ela não esteve muito feliz com os filhos esta
manhã, mamãe. Depois do anúncio de Mac...
Abbie engoliu em seco, e Rose julgou aconselhável oferecer à
jovem um meio de escape, caso ela quisesse fugir do assunto.
— Tenho algumas coisas para resolver em Bridle. Não quer ir
comigo, Abbie? Almoçaremos por lá e passaremos algumas horas
agradáveis fora do rancho. O que acha?
— Maravilhoso — ela respondeu aliviada.
— Que bom. — Rose levantou-se como se planejasse aquela
saída há dias, em vez de tê-la inventado há poucos minutos. — Vou
buscar minha bolsa e estarei esperando por você dentro de... — Ela
consultou o relógio. — Cinco minutos?
Ainda atordoada, Abbie assentiu e, em uma reação tardia,
virou-se para Jessie.
—Antes de ir, creio que tenho de concluir algumas tarefas no
escritório.
Jéssica riu.
— Já trabalhou mais do que devia esta semana. Vá em frente e
divirta-se. A menos que aconteça algum milagre, o trabalho ainda
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

estará no mesmo lugar amanhã. — Ela suspirou e olhou para a mãe.


— Não vai acreditar no que aquele idiota do Nick Grayson me pediu
desta vez!
Rose escapou para o interior da casa, satisfeita por ter feito o
melhor que podia para confortar Vi sem arruinar os planos de Randy
para a festa de aniversário. Agora tentaria ajudar um dos filhos
procurando conhecer melhor a mulher que ele escolhera para
esposa... e a mãe de seu primeiro neto.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

CAPÍTULO IX

-Bridle não é uma metrópole, mas ninguém pode negar os


charmes das velhas cidades históricas — Abbie opinou. Sentada
perto da uma janela do restaurante Nana's Home Cooking, ela
observava as ruas pacatas. — Obrigada pelo convite. Adorei
acompanhá-la nas compras.
— Também gostei de ter companhia — Rose respondeu
sorrindo. — Vi prefere fazer compras em Austin por causa da
variedade, mas eu gosto da atmosfera tranqüila do comércio local.
O único problema é que, nas poucas vezes em que venho à cidade, as
pessoas me pedem autógrafos como se eu fosse uma celebridade.
— É mesmo? E o que faz quando isso acontece? Ela riu.
— Assino o que eles oferecem e finjo ser famosa. Meu irmão já
deve ter dito alguma coisa sobre minha completa ausência de
timidez.
— Bem, a situação é compreensível. Duvido que muitas pessoas
em Bridle ou no Texas tenham estado frente a frente com uma
legítima representante da realeza. Ainda é uma rainha? Se decidir
voltar ao país de seu falecido marido, ainda terá direito ao trono?
— Aquele país não foi só de Ibrahim, Abbie. Ainda penso nele
como se fosse meu lar. Por outro lado, embora tenha sido casada
com o rei de Sorajhee, nunca assumi realmente a postura de uma
rainha. Desde a morte de Ibrahim, o irmão dele, Azzam, é o rei, e
sua esposa Layla é a rainha. Ela é a primeira esposa, o que a torna
também chefe do harém.
— Harém? — Abbie repetiu espantada. — Também foi chefe de
um?
— Eu fui a única esposa. — A expressão de Rose deixava claro
que não existira outra opção. — Não teria concordado com o
casamento se Ibrahim insistisse em ter outras mulheres. Na época
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

em que nos casamos, alguns conceitos da ideologia ocidental


começavam a penetrar nas nações árabes, e embora o costume de
manter um harém ainda seja aceito como direito de um rei, a
prática já não é mais esperada, exigida ou encorajada. Mesmo
assim, a união entre um príncipe herdeiro e uma jovem americana
não é a norma, e nosso casamento causou um certo escândalo.
— Quer dizer que esteve envolvida em um escândalo? — Abbie
perguntou interessada.
— Não foi nada divertido. Ibrahim era o filho mais velho do Rei
Habib Mohammed El Jeved e estava prometido a uma jovem de
Sorajhee, e quando ele se casou comigo, houve um clamor para que
Azzam, irmão de Ibrahim, fosse nomeado herdeiro do trono do Rei
Habib. Foi assustador, mas o rei se manteve firme na convicção de
que o primogênito deveria ser coroado depois de sua morte e,
eventualmente, a agitação perdeu forças. — Uma sombra passou por
seu rosto. — Pelo menos por algum tempo.
— O que aconteceu com a jovem com quem Ibrahim deveria ter
se casado?
— Layla se casou com o irmão dele.
— Deve ter sido incômodo comparecer às reuniões familiares.
Rose encolheu os ombros.
— Às vezes pensava que Layla sentia uma certa inveja por
Azzam ter tomado outras esposas, enquanto Ibrahim insistia em
dizer que estava satisfeito com uma mulher, a alegria de seu
coração. Nunca tive de dividir meu marido com outras esposas, e
sentia que ela me invejava por isso. Em outros momentos, Layla
demonstrava um enorme orgulho por ser uma esposa adequada para
Azzam, e talvez os métodos tradicionais não a incomodassem. Ainda
é uma grande honra ser a primeira esposa. Há uma imensa dose de
poder inerente ao papel. Pelo menos, foi o que Layla sempre me
disse — ela concluiu sorrindo.
Abbie retribuiu ao sorriso, pensando que a jovem americana
havia sido muito corajosa quando decidira ir viver em país de
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

hábitos e cultura tão diferentes do dela. Não devia ter sido fácil,
por mais que ela houvesse amado o marido.
A garçonete chegou com os pedidos, um sanduíche de queijo e
chá gelado para Abbie e hambúrguer e refrigerante para Rose.
Assim que a moça se afastou, Rose confessou:
— Ainda não estou na América há tempo suficiente para ter
superado minha obsessão por hambúrgueres. Antes nem gostava
tanto deles, mas durante os anos que passei no sanatório, esse era o
único prato que desejava realmente comer. Naquela época, enquanto
suportava a tortura de dias tediosos e longas noites solitárias,
prometi a mim mesma que um dia comeria todos os hambúrgueres
que quisesse. Ainda não atingi meu ponto de saturação.
Abbie sorriu e sentiu-se à vontade para abordar um assunto
delicado.
— Jessie me contou um pouco sobre os anos que passou no
exílio. Ela disse que era mantida drogada durante todo o tempo. Por
que alguém faria tal coisa?
A expressão de Rose sofreu uma pequena alteração, mas foi o
suficiente para que Abbie compreendesse que ela ainda não havia
perdoado completamente as pessoas que roubaram anos preciosos
de sua vida.
— Estou começando a encontrar algumas respostas através da
correspondência que mantenho com o pai de Serena, o Rei Zakariyya
Al Farid de Balahar. Ele é um bom homem com muitos conselheiros
de confiança, e são essas pessoas que continuam buscando a
verdade em meu passado. Com o tempo, talvez consiga entender o
que aconteceu comigo.
Abbie sabia que não havia mais nada a dizer sobre o assunto e
sentiu que passaria a ser o centro da conversa. Por mais que
gostasse de Rose, não estava preparada para fazer confidências.
Afinal, ela era a mãe de Mac. Por isso expressou a primeira idéia
que passou por sua cabeça.
— Não creio que pudesse ter feito o que fez — disse. — Não
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

seria capaz de viver em um país onde as mulheres ainda são


consideradas propriedades dos homens.
Rose levantou uma sobrancelha.
— Eu teria ido viver na lua, se Ibrahim morasse lá. Mas, antes
de conhecê-lo...? Não, nunca imaginei que pudesse tolerar a vida em
um país de hábitos e cultura tão diferentes dos meus. Não
imaginava que pudesse ser feliz em um lugar estranho, cercada por
pessoas desconhecidas. — Rose rasgou a embalagem do canudo do
refrigerante com os dentes e cuspiu o pedaço de plástico para o
outro lado do salão.
Abbie riu, surpresa com a atitude infantil da mulher sempre
tão elegante e contida.
— Aposto que não fazia isso em Sorajhee!
— Bem, não nos jantares formais, pelo menos — Rose
respondeu rindo. — Às vezes, Ibrahim tinha uma opinião pouco
desfavorável sobre meu espírito livre e debochado, como ele mesmo
dizia. Creio que a adaptação era tão difícil para ele quanto para
mim. Devia ter ouvido nossas discussões sobre eu ser independente
demais para uma esposa. Independência sempre foi um assunto
difícil para mim.
— Para mim também — Abbie confessou, surpresa por terem
algo em comum. — Às vezes tenho a sensação de que passei minha
vida inteira lutando para ser independente.
— Está falando de seus irmãos?
— Sim, e de meus pais também, embora em menor medida.
Aposto que, quando nasci, eles já estavam cansados de tentar
dominar meus irmãos. Sei que estou dando a impressão de que os
rapazes são valentões incontroláveis, mas a verdade é que eles têm
as melhores intenções. O problema é que eles também têm certeza
de que sabem o que é melhor para mim. Rose assentiu.
— Meu marido também era assim. Estava tão habituado a nunca
ser desafiado ou contrariado, que devo ter sido um choque para o
pobrezinho. Essas questões sempre envolvem orgulho para homens
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

como seus irmãos, meu marido e meus filhos. Eles temem que o
objeto de seu amor se perca ou seja roubado, caso deixem de fazer
o que consideram ser seu dever. Por isso estão sempre tentando
controlar tudo, certos de que assim essa perda nunca acontecerá.
Alex e Cade já estão aprendendo que o verdadeiro amor é um ato
de equilíbrio. Mac continua lutando, mas também vai aprender a
abrir mão do controle e confiar no poder do amor. Não desista dele,
Abbie.
Era melhor ser honesta.
— Apesar do que Mac disse esta manhã, Rose, não vou me casar
com ele.
Ela assentiu e fez a troca do refrigerante pelo hambúrguer.
— Respeito sua decisão, seja ela qual for. Mas, pelo bem de
meu neto e pela felicidade de meu filho, espero que mude de idéia.
Acredito que Mac a ama, apesar de ainda ter medo. — Rose deu a
primeira mordida no sanduíche e sorriu com satisfação genuína. —
Ah, o gosto da liberdade! Adoro hambúrgueres! — Ela olhou pela
janela para o outro lado da rua. — Depois de comer, vou ter de
passar pelo correio e verificar se há alguma correspondência para
mim. Estou esperando uma carta que ainda não deve ter chegado,
mas já que estou aqui... Se quiser ir à loja vizinha da agência do
correio, irei encontrá-la lá assim que terminar de resolver esse
assunto.
— Combinado. — Era estranho que Rose Coleman tivesse de ir
ao correio verificar sua correspondência. Um carteiro entregava as
cartas no rancho seis dias por semana, e ela mesma separava todos
os envelopes diariamente. Por outro lado, Rose levara uma vida que
ela não conseguia sequer imaginar. Como poderia julgar estranhas ou
curiosas as atitudes de uma mulher que um dia abrira mão de tudo
que conhecia para casar-se com um príncipe do deserto? — Quero
agradecer mais uma vez por ter me convidado para almoçar.
— O prazer foi meu, Abbie. Pode acreditar...
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Rose pegou a carta e o envelope pardo e espesso que o


funcionário do correio deixara sobre o balcão.
— Obrigada — disse com um sorriso gentil. — Esperava por
isto com tanta ansiedade, que preferi nem acreditar que já pudesse
ter chegado.
— Recebemos o pacote esta manhã — disse o jovem, virando-se
para examinar os formulários que Rose havia assinado. — Veio de...
Ball-ee-har. Deve ser um desses países de que ninguém nunca ouviu
falar.
— Balahar. — Ela corrigiu a pronúncia e sorriu, indicando que
não estava ofendida por ele não ter reconhecido o pequeno país
árabe. — Fica perto do Golfo de Oman e é um lugar lindo, embora,
como você mesmo disse, poucas pessoas o conheçam.
— Oh, agora me lembro de você. E aquela rainha que voltou
depois de anos de exílio, não? — O rapaz corou até a raiz dos
cabelos. — Desculpe-me se estou sendo inoportuno, mas vi o selo
postal do Palácio Real de Balahar. — Dessa vez ele pronunciou o
nome do país corretamente e foi recompensado por mais um sorriso.
Agora que tinha o pacote nas mãos, Rose não conseguia parar
de sorrir.
— Obrigada. Não imagina como estou feliz por ter finalmente
posto as mãos nisto.
— Não precisa me agradecer. Não foi trabalho algum reter a
correspondência aqui no posto até que viesse apanhá-la
pessoalmente. Além do mais, é minha obrigação.
— Você é muito prestativo e gentil. Nem toda a
correspondência pode ser vista por muitos olhos, como deve saber,
e isto... — Ela olhou para o pacote cujo conteúdo podia ser tão
precioso quanto todas as jóias que recebera no passado — é muito
especial para mim. Obrigada.
— Por nada.
Rose virou-se. Segurando o envelope e a carta junto ao peito
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

como se temesse tê-los roubado, ela se dirigiu à porta. Já havia


perdido muitas coisas importantes nos últimos anos; Ibrahim, os
filhos, o irmão, o bebê que havia nascido logo depois de ser levada
ao sanatório. Muitas dessas coisas estavam perdidas para sempre.
Outras haviam sido recuperadas, felizmente. E agora tinha nas
mãos a chance de resgatar mais um valioso bem perdido no passado.
Em vez de sair, Rose mudou de direção e buscou o refúgio de
uma pequena saleta perto da administração. Não teria toda a
privacidade que desejava, mas o lugar estava vazio e não podia
esperar mais para ler a carta que Zak enviara com os recortes de
jornais e as fotos de seu filho, o Príncipe Sharif. Bem, pelo menos,
Rose acreditava que o envelope continha recortes e fotos. Por que
mais Zak enviaria um volume tão grande? Uma simples carta teria
sido suficiente para aniquilar suas esperanças. Se Sharif não era
seu filho, Zak não teria tido motivo algum para mandar um material
tão extenso.
Respirando fundo, Rose abriu a carta e desdobrou as duas
folhas de papel com o timbre oficial do Palácio Real de Balahar. O
Rei Zak assinava a mensagem. Passara a reconhecer a letra ao longo
dos dois meses anteriores e sentia o coração bater mais depressa
sempre que via o nome manuscrito no final de cada página. Ela e o
Rei Zak tinham muito em comum. Cade, Serena, o interesse no
futuro da aliança entre Sorajhee e Balahar... E agora, talvez,
também compartilhassem um filho. Sharif. Filho do Rei Zakariyya
por adoção, filho de Rose por nascimento. Ela alisou as folhas e
começou a ler a mensagem:

Cara Rainha Rose de Sorajhee,


Cumprimentos de Balahar e da família AI Farid. Espero que
minha filha e seu filho Kadar gozem de boa saúde e de felicidade
enquanto escrevo esta carta. Admito que tenho o coração pesado
pela ausência de Serena, mas fico feliz quando pensa que ela está
feliz em seu casamento. Espero que em breve possa ver Serena,
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Kadar e você. Sim, Rose Coleman El Jeved, descobri a verdade e


envio o resultado de minhas descobertas em anexo. Como sabe,
Abdul-Rahim, o conselheiro de confiança de Azzam EI Jeved,
descobriu que a Rainha Layla pagou ao sanatório por todos os anos
que lá esteve confinada. Você foi drogada para atingir um estado
de irracionalidade e, assim, parecer ter perdido a sanidade e a
razão, não podendo assim ser libertada. Layla sempre foi obcecada
pelo ciúme que sentia de você por ter se casado com o homem a
quem ela havia sido prometida. Você roubou Ibrahim de seu
destino, como ela vive repetindo no mundo de loucura em que
mergulhou. Lamentavelmente, Azzam chora a perda do equilíbrio
emocional da esposa, embora assuma a responsabilidade por suas
perdas. Ele envelheceu muitos anos em poucos meses e, acredito,
sente muito por tudo que aconteceu, especialmente pela morte de
Ibrahim ordenada por Layla, o que pensa que poderia ter evitado.
Azzam é um homem fraco e desejou o trono de Sorajhee mais do
que quis a verdade. Agora, contudo, ele receberia com alívio e
alegria qualquer correspondência sua (ele mesmo me confessou tal
coisa) e não protestaria contra uma visita dos sobrinhos, seus
filhos.
Sei que espera com ansiedade pelas notícias que discutimos
muitas vezes desde que viu a foto de Sharif no casamento de Kadar
e Serena aqui em Balahar. Tudo provou ser como você imaginava.
Sharif foi trazido a mim e Nadirah por sua cunhada Layla, como já
sabe. Naquela época ela disse que o bebê havia sido abandonado por
uma de suas criadas, e como sonhávamos ter um filho, nós o
adotamos. Abdul descobriu a evidência que comprova suas suspeitas
sobre Sharif ser o bebê que você deu à luz no sanatório. Layla
roubou-o naquela mesma noite e trouxe-o para o palácio em Balahar.
É uma cruel ironia que tenha sido forçada a chorar a perda da
criança que trouxe tanta alegria a nossas vidas. No entanto, talvez
passe a acreditar que tudo aconteceu para o bem de todos, e que
meu filho, filho também de EI Jeved, um dia será tudo que você
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sonhou para ele. Sharif é um bom rapaz, mas obstinado e


orgulhoso... como seus pais. Ainda não contei a ele sobre sua
verdadeira origem, mas aguardo por sua opinião sobre essa
importante decisão. Como vai descobrir, mandei fotos dele ainda
criança e como adolescente e jovem adulto, de forma que possa ver
o que lhe foi negado durante os anos em que ele crescia. Também
espero levá-lo até você dentro de algumas poucas semanas, de
forma que possa conhecê-lo como ele é agora. Confesso, embora não
tenha podido (ou desejado) ver antes, que ele é muito parecido com
Ibrahim em sua juventude. Pressinto que foi essa semelhança que a
levou a reconhecê-lo em primeiro lugar. Talvez esteja farta de
tantos segredos, mas suplico para que compartilhe das notícias de
nossa iminente visita apenas com Serena, Kadar, seu irmão e seus
outros filhos. A aliança entre nossos países ainda é muito frágil, e
prefiro empreender a jornada em sigilo por questões de segurança.
Essa necessidade tornará a viagem mais cansativa, mas revê-la
renovará meu espírito. Confesso, com toda modéstia, que espero
que tenha ficado feliz e ansiosa com a perspectiva de reencontrar-
me e encontrar seu quarto e último filho, Sharif.
Com toda a sinceridade.

A assinatura encerrava a carta e, através de um véu de


lágrimas, Rose teve certeza de que aquela era a caligrafia mais
linda que já vira. Sharif era seu filho. E estava a caminho. Pela
primeira vez em sua vida, poderia abraçá-lo. Mais um filho. O caçula.
Filho de Ibrahim. Filho de Zak. Ela tocou o envelope que continha as
fotos. Mais tarde o abriria e veria Sharif como criança, como
adolescente e jovem adulto. Zak fora muito generoso por mandá-las.
Sim, ele era o homem mais gentil que conhecia. Ou, talvez, estivesse
muito feliz, e qualquer dose de gentileza, bondade ou simpatia
pareceria maior do que realmente era.
Aquele havia sido um dia glorioso. Rose respirou fundo e
guardou a carta e o envelope na sacola da Wilson's, a única loja de
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departamentos da cidade. Comprara uma blusa para Vi antes de ir


almoçar com Abbie, mas agora desejava ter comprado presentes
para todos. Recebera uma bênção, e acreditava que todos mereciam
algo especial naquele dia de tantas alegrias. Um filho. Ao longo dos
últimos meses, recebera a graça suprema de reunir-se com o irmão
e sua família, com Alim, Makin e Kadar, com a vida que temera nunca
mais ter de volta. Mas, hoje... Ah, hoje recebia de volta o filho que
julgara perdido para sempre. Levando a sacola, Rose passou pela
porta da agência do correio e foi encontrar Abbie na loja vizinha.
Ao pisar na calçada, ela parou e riu alto. E riu novamente. Quantas
mulheres descobriam no mesmo dia que estavam prestes a tornar-
se mães e avós?

— Só ficarei por aqui mais um ou dois dias — Abbie dizia à


balconista da loja de presentes, uma morena simpática mais ou
menos de sua idade e muito falante.
O estabelecimento não estava cheio naquele dia de semana, e
os finais de semana também não eram muito movimentados naquela
época do ano. Em sua opinião, o outono era sempre melhor para os
negócios. As temperaturas mais baixas e o fato de estarem na rota
para as regiões mais quentes, onde aposentados e casais com
crianças pequenas iam passar férias, propiciavam um aquecimento
nas atividades comerciais. Mesmo assim, ela não trabalhava na loja
quando as aulas começavam, porque era professora da Escola
Elementar de Bridle. Eventualmente, ela se apresentou como Barbie
Owens, e Abbie contou que também era professora, mas no nível
secundário. Ou melhor, havia sido, porque perdera o emprego.
— Vejo que trocou a profissão pela maternidade— Barbie
apontou com um sorriso compreensivo. — Para quando espera o
bebê?
— Para setembro — Abbie respondeu, percebendo com alegria
e apreensão que o tempo passava depressa. — E ainda nem comecei
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a cuidar dos preparativos.


— Bem, a criança vai nascer mesmo que não tenha nada pronto.
Tenho um sentimento muito parecido com relação ao período
escolar, sabe? As crianças chegarão no primeiro dia de aulas,
mesmo que eu não tenha decorado as paredes da sala e programado
as atividades. É claro que não é a mesma coisa, mas... Ainda não
tenho filhos. Na verdade, ainda nem encontrei meu Príncipe
Encantado. Um dia desses sairei desta cidade de dois cavalos e irei
ver o mundo. Sei que vou sentir falta dos meus alunos, porque adoro
lecionar, mas tenho de pensar em mim.
— Também gostava muito de lecionar — Abbie confessou,
tocando um urso de pelúcia que fora deixado sobre uma colcha
estofada e colorida. Não tinha muito dinheiro, mas talvez fosse
hora de gastar um pouco no primeiro presente para o bebê. O bebê
conferia uma certa realidade ao conhecimento de que, em pouco
mais de quatro meses, teria o filho nos braços. Mãe solteira.
Seriam só ela e o bebê. E, é claro, os quatro tios da criança. —
Espero encontrar outro emprego em breve — ela continuou, como se
os pensamentos não se houvessem desviado da questão original. —
Talvez no semestre que vem.
— Aposto que seria contratada imediatamente no ginásio local.
Os professores não ficam em Bridle por muito tempo, porque Austin
oferece melhores salários.
— Não vou ficar em Bridle. Mesmo assim, obrigada.
Barbie encolheu os ombros.
— Foi só uma idéia, e não teria dado certo, provavelmente. Vai
querer ficar em casa e cuidar do bebê pelo menos no primeiro ano.
As pessoas dizem que esse é o período mais importante, porque é
quando as crianças crescem mais depressa e aprendem mais. — O
sinal sonoro da porta anunciou a entrada de alguém. Barbie
arregalou os olhos e debruçou-se sobre o balcão para sussurrar: —
Vê aquela mulher que acabou de entrar? Foi casada com um xeque! É
como um rei na Arábia Saudita e nos países daquela região.
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Abbie assentiu e pensou em oferecer-se para apresentar a


jovem a Rose, mas a balconista prosseguiu excitada:
— Há alguns meses a mídia divulgou que ela havia escapado de
um sanatório na França e vindo para cá a fim de viver com os filhos.
A família mora no Desert Rose, na área rural de Bridle. Devia ir até
lá antes de ir embora da cidade. Talvez consiga ver um dos famosos
xeques do Texas. E assim que os chamamos por aqui. Dizem que são
lindos, carismáticos... Oh, eu adoraria conhecer um deles!
Abbie não queria destruir as ilusões da jovem, mas seria
desonesta se não a prevenisse.
— Dois deles já são casados e vivem felizes com as esposas.
— Eu devia ter imaginado. — Ela suspirou com ar dramático. —
Mas, se ainda há um deles disponível, a sorte pode estar do meu
lado. Quem sabe?
Rose aproximou-se do balcão e sorriu.
— Gostou deste lugar, Abbie? Não é interessante? Podemos
aproveitar e comprar alguma coisa para o bebê.
Barbie olhou para o rosto de Abbie, para sua cintura, ou a falta
dela, e para Rose, que sorriu e afastou-se por um corredor.
— Deixe-me adivinhar — a balconista murmurou decepcionada,
como se estivesse ofendida por não ter sido informada sobre os
fatos reais. — Você é casada com um dos príncipes e está
esperando um herdeiro real.
— Não. Não é como está pensando.
— Aqui está — Rose retornou satisfeita. — Levaremos um
presente para o bebê.
Abbie viu o cavalo de madeira montado sobre pés como os de
uma cadeira de balanço. O brinquedo era muito grande, próprio para
ser montado por uma criança, e algum fabricante inteligente,
informado sobre a criação de cavalos árabes naquela região, vestira
o animal de madeira com trajes típicos como os que eram usados
pelos animais em exposições e torneios.
— É lindo...
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— Não é? Parece ter sido feito sob encomenda — Rose


comentou com espanto e alegria. — Um cavalo árabe!
Abbie pensou que o brinquedo era grande demais comparado à
pequenina criatura que crescia em seu ventre, mas podia imaginar
um menino de cerca de dois anos com cabelos e olhos negros
brincando com o cavalo. Ela encontrou a etiqueta com o preço e
assustou-se com o valor anunciado nela.
— Não sei se meu bebê precisa de um cavalo de balanço...
— Talvez não, mas meu primeiro neto sim. Vamos levá-lo.
Percebendo que receberia uma comissão como há muito não via,
Barbie recuperou o entusiasmo e o sorriso radiante.
— Dinheiro, cheque ou cartão?

Abbie e Rose estavam paradas diante da porta traseira do jipe


Cherokee, olhando para a pilha de sacolas de compras cercando o
cavalo de balanço.
— O dia foi produtivo — Rose comentou rindo. Depois de
comprar o brinquedo, ela decidira levar alguma coisa para Hannah e
os gêmeos. Só havia um cavalo de balanço, mas Barbie explicara que
o fabricante aceitava encomendas, e ela definira as cores dos
outros trajes árabes a fim de que cada criança pudesse reconhecer
seu objeto. Parada diante do balcão, ela vira a funcionária da loja
grampear os formulários com um grampeador em forma de trem e
comprara outro idêntico para Jessie usar no escritório.
Depois disso, Rose fora tomada pelo entusiasmo e havia
resolvido comprar itens práticos para os bebês. Assim, voltaram a
Wilson's, onde ela escolhera uma verdadeira coleção de objetos de
cores, formatos e fins variados, muito mais do que Abbie havia
imaginado que uma criança pudesse usar. Mais tarde fora a vez das
butiques da cidade, e quando Abbie começara a pensar que teriam
de alugar um trailer para levar todas as compras para o rancho,
Rose anunciara que era hora do lanche. Compraram sorvetes, e
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enquanto saboreava a casquinha crocante com sorvete de baunilha,


Abbie abraçava o urso de pelúcia, sua única aquisição, e pensava que
um dia o filho saberia que pelo menos uma pessoa celebrara com
alegria a chegada de um neto.
Ainda estavam olhando para o interior do jipe quando Mac saiu
da casa, arruinando a atmosfera agradável e relaxada. Ele sorriu
para a mãe, mas a alegria desapareceu de seu rosto quando notou
que Abbie a acompanhava.
— Vejo que estiveram fazendo compras. O que é aquilo?
— Um cavalo de balanço em trajes típicos árabes para meu
primeiro neto. Não é fantástico?
Mac resmungou alguma coisa incompreensível.
— Sabia que ia gostar, meu filho? Leve-o para dentro e ponha-o
no quarto de Abbie, sim?
— Abbie não tem mais um quarto em nossa casa. -Mac havia
posto suas coisas para fora do quarto?
Fizera suas malas de forma que pudesse partir imediatamente
ao voltar?
— O que está dizendo? — Rose perguntou indignada. — Por que
ela não tem mais um quarto em nossa casa?
— Vai ter de perguntar aos irmãos dela. — Mac tirou todas as
sacolas do carro, deixou-as no chão e pegou o cavalo. — Eles
levaram as coisas de Abbie para a casa de hóspedes.
Por alguma razão estúpida, estava feliz por não ter sido Mac.
— Eles deviam ter me consultado — disse, irritada com mais
uma interferência dos irmãos em sua vida pessoal. — Sabe onde
posso encontrá-los?
— Não — Mac respondeu enquanto se dirigia à porta. — Eles
parecem ter passado o dia todo vigiando meus passos, mas não
tenho tempo nem disposição para fazer o mesmo por eles.
Abbie estava mortificada. Seus irmãos espionavam os passos de
Mac? Mandaria o quarteto trapalhão embora dali assim que os
encontrasse.
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— Lamento que meus irmãos o tenham incomodado — disse,


pegando algumas sacolas para levá-las para dentro. — Vou conversar
com eles.
Mac parou e esperou que alguém abrisse a porta, já que tinha
as duas mãos ocupadas pelo brinquedo.
— Faça o que achar melhor. De minha parte, pretendo manter-
me bem longe de qualquer pessoa de sobrenome Jones. Pelo menos
até o casamento. Depois... veremos o que acontece.
— Esta Jones irá embora muito antes disso. Partirei assim que
puder tomar as providências necessárias.
— Não devia dizer tais coisas diante de testemunhas. — Mac
indicou a mãe dele, que ainda retirava as compras do carro, com um
movimento breve de cabeça. — Será muito mais difícil recuar sem
passar por constrangimentos.
— Não pretendo recuar e não estou preocupada com eventuais
constrangimentos.
— Se você diz... — Ele ajeitou o cavalo de madeira com a ajuda
de uma das pernas. — Será que pode abrir a porta? Isto está
ficando pesado.
Queria tomar emprestada uma expressão de Jess e mandá-lo
comer lixo e morrer, mas, em vez disso, Abbie limitou-se a abrir a
porta.
Mac não teve o bom senso de encerrar o assunto.
— Sei que a notícia não vai surpreendê-la, mas os planos para o
casamento foram bem adiantados enquanto você estava fora...
gastando o dinheiro de minha mãe.
— Makin — Rose censurou-o com tom severo. Ela se aproximara
carregando três sacolas em cada mão e ouviu o que o filho dizia. —
Abbie foi generosa o bastante para permitir que eu tivesse o
prazer de comprar alguns presentes para meu primeiro neto.
— Oh, e aposto que ela ficou encantada por poder ser tão
generosa!
Rose encarou-o como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas,
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séria, apenas balançou a cabeça e entrou levando as sacolas.


Ao ver Mac segui-la, Abbie pensou em girar sobre os
calcanhares e partir imediatamente. Deixaria o rancho. O Texas.
Mas odiava a idéia de proporcionar tão grande satisfação a Mac, e
por isso entrou, decidindo que manteria uma atitude superior e
distante, mesmo que ele dissesse coisas terríveis para ofendê-la e
embaraçá-la. Mas, no interior da casa, foi recebida como um
membro da família e tratada com carinho por todos enquanto Rose
relatava a divertida expedição de compras. Todas as mulheres e
alguns homens aproximaram-se para apreciar o encantador cavalo
de madeira e fazer piadas sobre o fato de Rose estar prestes a
transformar-se em avó. Ela não se importava. Pelo contrário. Sua
felicidade era contagiosa, e o espírito de Abbie respondia com uma
súbita e rápida elevação. Infelizmente, o entusiasmo só perdurou
até que ela se deparasse com a expressão carrancuda e pesarosa de
Mac.
Sua presença ali, no meio de sua família, custara a ele mais do
que auto-respeito. Os Coleman a aceitaram porque Mac havia
declarado que deveria ser assim, quando podia simplesmente ter
negado suas afirmações qualificando-as como mentirosas. Podia ter
se mantido firme, e sua família o teria apoiado. Mas, em vez disso,
embora relutante e sem explicar seus motivos, ele assumira a
responsabilidade, dando a seu filho o direito de nascer um Coleman,
de compartilhar da união, da alegria e dos laços amorosos daquela
grande e harmoniosa família. E agora ela era incluída no círculo de
aceitação, enquanto Mac permanecia fora dele.
Sentia o coração pesado, e não sabia se a constatação abria
espaço para a esperança ou aniquilava todas as possibilidades. De
repente, a decisão de reunir os irmãos e levá-los para longe do
rancho transformou-se em um caso de guerra. Não devia ficar, não
podia ficar, mas, vendo Rose exibir orgulhosa os cobertores macios
e pequeninos de cores suaves, compreendeu que já havia esperado
demais. Não sabia o que Mac pretendia. Se o anúncio daquela manhã
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havia sido uma solução rápida ou uma forma lenta e cruel de


vingança, até aquele momento ele conseguira tornar ainda mais
complexa uma situação naturalmente difícil.
Porque agora Abbie sabia o que queria.
E o que jamais poderia ter.

CAPÍTULO X

O jantar naquela noite foi uma ocasião alegre e ruidosa. Os


irmãos Jones elogiaram a comida, desfrutaram da companhia
agradável, e retribuíram com toda a simpatia. Abbie foi forçada a
reconhecer que os quatro eram adoráveis, quando não estavam
tentando destruir sua vida. Apesar da irritação e da impaciência
provocada pela chegada intempestiva do quarteto, de repente ela se
viu rindo com todos os outros das histórias que eles contavam.
Vivera muitas ocasiões em que sentira orgulho dos irmãos, e aquela
era mais uma delas. Ou melhor, teria sido, se as circunstâncias que
haviam provocado a visita não fossem tão embaraçosas.
Do outro lado da mesa, diante dela, Mac permanecia solene e
sombrio entre Cade e Hannah. Abbie estava sentada entre Brad e
Jaz. Ninguém mais parecia estranhar que a conversa sobre o
casamento animasse todo o grupo, enquanto os noivos guardavam
silêncio e uma distância imprópria para um casal prestes a trocar os
votos de amor eterno. Mac não olhava para Abbie e os poucos
sorrisos que dava nunca eram para ela, mas ninguém parecia notar.
Era como se fossem invisíveis, dada a atenção que recebiam. Como
se o planejamento houvesse adquirido vida própria e o casamento
passasse a ser uma entidade distinta dos dois principais
participantes.
Enquanto ela e Rose faziam compras, seus irmãos haviam
solicitado a ajuda de Vi, Jéssica, Ella, Hannah e Serena para
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localizarem uma igreja, um ministro, um organista, uma floricultura,


um bufê e alguém que, de acordo com as palavras de Ella, fizessem
lindos bolos de noiva. Os Jones também haviam manipulado Randy
de forma a fazê-lo acreditar que a idéia de uma recepção com um
churrasco típico texano fora sua idéia. A comida fora escolhida. O
lugar e a data foram determinados. Mas, pelo que ouvia e via, alguns
detalhes ainda eram discutidos. Como o vestido da noiva, por
exemplo. E a cor a ser usada pelas damas de honra, Hannah, Serena
e Jéssica. A música para a recepção ainda era uma incógnita, mas
Stanley Fox conhecia um DJ que estaria disponível no sábado da
semana seguinte. Abbie não sabia se queria gritar de raiva ou
lamentar em silêncio a suprema arrogância dos irmãos, embora
tivesse de reconhecer sua eficiência.
Contudo, além de subir na mesa e gritar que não se casaria,
mesmo que o bolo de noiva fosse produzido por um renomado
escultor, não havia muito que pudesse fazer. Bem, havia uma coisa.
Podia conversar com Mac e descobrir que tipo de jogo ele estava
fazendo.
Pensando bem, não queria saber. Que diferença faria? Os
planos para o casamento progrediam rapidamente e, a menos que
tomasse uma atitude firme e rápida, em pouco mais de uma semana
ela e Mac acordariam casados. Não seria um castigo merecido para
ele? Infelizmente, também estaria presa em um casamento sem
amor, em uma união pelos motivos errados. Não queria esse futuro,
e estava certa de que Mac também não o desejava. Por isso
precisavam conversar e decidir a melhor maneira de acabar com
todo aquele absurdo. Mac colaborara para pôr aquele trem em
movimento, e agora teria de ajudá-la a brecá-lo.
Difícil seria ter alguns minutos de privacidade com ele. Seus
irmãos faziam de tudo para demonstrar a intenção de proteger os
interesses da irmã caçula e do sobrinho que estava por nascer, e
para isso estariam presentes como sombras vigiando seus passos.
Ainda lembrava o que havia acontecido no baile de formatura do
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colégio. Na época tinha dezesseis anos, e o rapaz que a convidara


havia completado dezoito. Todos os professores e funcionários da
escola estiveram presentes e atentos, mas nem por isso os quatro
irmãos deixaram de aparecer a cada meia hora só para terem
certeza de que ela estava bem.
Agora era mais velha. E eles também. Mas, por experiências
anteriores, sabia que nada havia mudado. Pelo menos do ponto de
vista dos quatro. Eles já haviam levado suas coisas para a casa de
hóspedes, e tinha certeza de que sempre haveria um deles pronto
para acompanhá-la aonde quisesse ou tivesse de ir. Seriam
delicados. Seriam atenciosos. Mas estariam com ela durante as
vinte e quatro horas de todos os dias até o casamento, e talvez por
mais algumas semanas depois dele. Na opinião deles, Mac tivera o
prazer de sua companhia e agora teria de tomar a atitude mais
correta por ela e pelo bebê, mesmo que não fosse essa sua vontade.
O que significava que ela e Mac teriam de operar um pequeno
milagre para disporem de cinco minutos de completa privacidade.
Abbie não sabia como poderia conseguir essa façanha. Ainda era
cedo para tentar escapar dos irmãos, mas, eventualmente,
escaparia. Era necessário. Porque, de uma forma ou de outra, ela e
Mac precisavam conversar.

Mac percebeu os olhares furtivos de Abbie durante o jantar.


Era evidente que ela planejava alguma coisa. Não queria ser
surpreendido enquanto a observava, porque preferia que ela não
soubesse que estava encantado com aquela encantadora roupa de
gestante comprada, provavelmente, com o dinheiro de sua mãe. Não
queria que ela soubesse que havia notado a palidez em seu rosto e o
sorriso cansado. Não queria sentir remorso por não ter sido gentil e
atencioso durante todo o dia. Não queria permanecer na mesma sala
com ela e toda aquela conversa alegre e animada sobre casamento.
Um casamento.
A Sedução do Príncipe Karen Toller Whittenburg

Seu casamento.
Mas era tarde demais para reconsiderar. Assumira a
responsabilidade por Abbie e pelo bebê. Não podia se levantar no
meio de todo aquele entusiasmo e anunciar que mudara de idéia, que
Abbie era uma mentirosa trapaceira que não seria capaz de
identificar o verdadeiro pai da criança em uma fila de candidatos.
Cade disse alguma coisa e Mac respondeu com um vago
movimento de cabeça, fingindo estar presente e atento. Também se
sentia cansado. Ver os irmãos de Abbie entrando no quarto naquela
manhã destruíra algo importante dentro dele; ficara tão zangado
com ele mesmo que não pudera pensar com clareza, e mais tarde
passara a questionar por que se permitira confiar em outra mulher.
Depois de Gillían, havia jurado que isso não voltaria a acontecer.
Mas então conhecera Abbie com seus sorrisos suaves, com seus
olhos luminosos e sua paixão ardente, e sua resolução fora posta à
prova. Como um completo idiota, se deixara envolver por ela. Não
uma, mas duas vezes. Sabia que fora tolo e ingênuo, mas na noite
anterior chegara a pensar que...
Não tinha importância o que havia pensado, a esperança que
deixara germinar em seu coração. A estratégia de Abby era muito
boa, e o ultraje diante da súbita aparição de seus irmãos fora
convincente demais para não ser parte de um plano ardiloso. Ela
fizera uma jogada de mestre, e em vez de pagar para ver e
desmascarar o blefe, aceitara a aposta e perdera.
Pois bem, que fosse assim. Nos próximos dias, sabia que ela
tentaria convencê-lo de que era contra a idéia do casamento, que
não o desejava e não se curvaria aos ditames dos irmãos, embora
esse houvesse sido seu objetivo desde o início. Se não se enganasse,
Abbie faria de tudo para fazê-lo acreditar que estava furiosa com a
interferência dos irmãos, mas não tinha forças para enfrentá-los.
Talvez a ouvisse, nem que fosse apenas para ver até aonde ela seria
capaz de ir em sua ânsia de subir ao altar.
Talvez estivesse esperando por ela. Talvez não. Talvez fosse
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idiota por ter abrigado a esperança de vê-la cancelar o casamento


antes que chegassem àquele ponto. Não queria ser forçado a tomar
essa atitude, porque a humilharia e acabaria constrangido diante
das duas famílias. Não sabia se teria forças para agir no momento
certo.
O que sabia era que, como o maior idiota do Texas, queria dar a
ela a chance de redimir-se.

Abbie não podia acreditar que era tão difícil conseguir cinco
minutos de privacidade com o homem com quem supostamente se
casaria dentro de cinco dias.
Quatro dias.
Três dias.
O tempo passava depressa ocupado por planejamentos e
compras, por preparativos e confrontos. Sempre que se dispunha a
conter a enxurrada de eventos, alguém a segurava pelos braços e a
obrigava a seguir em frente. O bebê se movimentava e protestava
contra a interminável seqüência de atividades. Quem poderia
imaginar que um casamento que nem ia acontecer consumiria tanta
energia? Ou seria programado sem a participação dos noivos?
Fosse por acidente ou intenção, e estava inclinada a acreditar
que tudo era um plano cuidadoso de seus irmãos, não conseguia ter
um momento de privacidade com Mac para falar sobre o que tinham
de discutir. Sempre que entrava em um aposento, ele parecia estar
saindo. Quando ia procurá-lo, era sempre seguida por um ou mais de
seus irmãos. Quando o encontrava, ele estava sempre com um ou
com os dois irmãos e não se mostrava interessado em trocar sua
companhia pela dela. Era como Mac tivesse quase tanta proteção
quanto ela.
Pronto. Havia dado um nome ao estranho sentimento. Era como
se ele precisasse de proteção, como se não quisesse ficar sozinho
com ela, como se não sentisse a necessidade de discutir qual seria o
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próximo passo. E isso era loucura. Sabia que Mac não queria o
casamento. E também não queria se casar com ele. Não daquela
maneira. Não pelas razões erradas. Não porque alguém havia
decidido que essa era a decisão correta a tomar. Não por falta de
opções.
Precisava conversar com Mac. Sozinha. E depressa, porque o
tempo estava passando.

Mac estava começando a pensar que os irmãos de Abbie


estavam desperdiçando seu talento natural. A CIA poderia
contratá-los como equipe de vigilância. Mas, se fossem apenas os
quatro Jones, supunha que teria conseguido escapar. Afinal, tinha a
vantagem de conhecer o território. Mas era como se todos no
rancho estivessem ansiosos para oferecer as felicitações e dar
algum conselho sobre o casamento. Era irritante.
Pior ainda era descobrir que, por mais que se esforçasse, não
conseguia sentir rancor ou antipatia pelos irmãos de Abbie.
Grandes, barulhentos e simples, eles acreditavam que havia
desfrutado do prazer da companhia de sua irmã caçula e esperavam
apenas que assumisse as conseqüências de seus atos.
De certa forma, Mac compreendia e respeitava o ponto de vista
dos Jones. Se tivesse o dever ou o direito de proteger Abbie,
também tomaria providências para que ela tivesse tudo que queria
ou de que necessitava. Os irmãos Jones não eram diferentes.
Queriam o melhor para a irmã, e como ele se mostrava disposto a
cooperar, os quatro demonstravam a intenção de conhecê-lo melhor.
Era como se houvesse sempre um deles em seu caminho.
Ninguém falava sobre o casamento ou a gravidez, mas todos
contavam histórias sobre Abbie ainda bebê, ou na primeira infância,
na adolescência e na juventude. Falavam sobre seu desejo de ser
professora e sobre o debate familiar provocado por sua decisão de
ingressar na Universidade do Texas.
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Era surpreendente que Abbie conseguisse escapar da rede de


superproteção e tomar decisões independentes. Os Jones agiam de
forma a demonstrar que não a julgavam capaz de uma única escolha
certa sem sua assistência, mas nem por isso ela se tornara insegura
ou acanhada. Pelo contrário.
Devagar, mesmo sem querer, Mac passou a vê-la sob uma nova
perspectiva. Embora ainda tivesse certeza de sua participação
decisiva nos planos de casamento, começava a ressentir-se contra
os quatro irmãos por tomarem tantas decisões sem consultá-la,
embora fosse ela a principal interessada. Eles decidiam, Abbie
protestava, e os Jones continuavam agindo como se ela houvesse
concordado. Ou como se fosse concordar, depois de refletir melhor.
Não era justo que ela tivesse de passar a vida lidando com todo
aquele controle. Não era justo que suas preferências não fossem
postas acima do que eles julgavam ser melhor para a irmãzinha. Não
era justo que, dias depois da chegada do grupo, ele passasse do
ressentimento à compreensão. Depois de conhecê-los podia
entender por que ela estava tão desesperada para fugir dos irmãos.
Um casamento forçado devia ser melhor do que continuar como
estava, com os irmãos seguindo seus passos como sombras e
interferindo em suas decisões como se tivessem esse direito.
Casada com ele, Abbie não teria mais de suportar a presença
constante e inconveniente do quarteto. Financeiramente, Mac
poderia sustentá-la e ao bebê e dar a eles todo o conforto e até
algum luxo, construindo um estilo de vida que nem os irmãos Jones
poderiam criticar. E como poderiam protestar se ela se casasse com
o homem que afirmava ser o pai do bebê, um homem que também
era rico e, conforme descobertas recentes, fazia parte da realeza?
Era a solução perfeita. Pelo menos, Abbie acreditava ter
encontrado a solução perfeita.
Em resumo, a incansável vigilância dos irmãos Jones persuadira
Mac a libertá-la da inquebrável cadeia de comando e interferência.
Abbie precisava respirar. Estava convencido de que podia ajudá-la a
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libertar-se dos laços que a impediam de viver com liberdade.


Convencera-se de que precisavam conversar.
O que não confessaria a ninguém, o que não se permitia sequer
pensar, era que sentia falta dela e queria ficar sozinho com Abbie.

Mac entregou um bilhete a Jéssica.


— Leve isto para Abbie.
Ela olhou para o papel dobrado e tratou de devolvê-lo.
— Leve você mesmo. Ela está bem ali — disse, apontando para a
amiga sentada no sofá entre Quinn e Brad. — Pensando bem, pode ir
até lá e falar com ela. Estamos em um país livre, caso não tenha
percebido.
— Não é fácil falar com ela, caso você não tenha percebido.
Abbie tem guarda-costas que a seguem vinte e quatro horas por dia.
Jessie riu.
— Quer que eu acredite que tem medo deles?
— Não. O problema é que não consigo fazer com que nos deixem
em paz por cinco minutos, e isso está me irritando.
— E por isso decidiu escrever bilhetes para a namorada como
se estivesse no ginásio? — Ela estendeu a mão para a folha de papel.
— O que escreveu? Encontre-me depois da aula, mas não conte a
ninguém?
Mac enfiou o bilhete no bolso, fora do alcance de Jéssica.
— Escrevi apenas Não conte nosso segredo a Jessie. -Ela o
provocou com um sorriso amplo.
— Muito maduro, meu caro primo. Mas não vai me enganar. Se
você e Abbie tivessem um segredo, eu já o teria arrancado dela há
muito tempo. O que está tentando fazer? Quer planejar sua lua-de-
mel? Acho que os irmãos Jones já pensaram nisso também. Eles são
muito precavidos.
Mac não ficaria surpreso se descobrisse que os irmãos Jones
haviam planejado os primeiros cinqüenta anos de sua vida de casado.
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Mas não estava interessado em seus objetivos a longo prazo. Só


naqueles que o mantinham distante de Abbie.
— Só quero alguns minutos sozinho com Abbie e longe de
todos. E isso inclui você também, Srta. Bisbilhoteira.
— Não é gentil insultar pessoas cuja ajuda está solicitando,
Mac.
— Jessie — ele tentou novamente, tirando o bilhete do bolso
para entregá-lo —, será que pode levar isto a Abbie, por favor?
— Ê claro que sim. Será um prazer. — Ela pegou o bilhete,
atravessou a sala e entregou-o à amiga.
Abbie escondeu o papel na mão fechada e assumiu um ar
culpado. Podia sentir o calor provocado por um rubor intenso. Podia
ver a preocupação na ruga que marcava a testa de Mac. Podia ouvir
o humor na voz de Brad.
— Ora, ora, uma carta de amor!
Queria ler o bilhete, queria rasgá-lo para demonstrar seu
desgosto com os homens em geral e seu noivo em particular, queria
anunciar que estava indo embora e que ninguém, ninguém mesmo
deveria ir procurá-la. Nunca mais.
Mas, infelizmente, sabia que não poderia sequer levantar-se do
sofá sem que um dos homens presentes se oferecesse para ajudá-la
com as malas, para providenciar um mapa ou sugerir um bom hotel.
Abbie percebeu que Mac caminhava em sua direção. Ele parou
na sua frente, estendeu a mão, e sua expressão indicava que não
aceitaria um não como resposta.
— Quer ir dar um passeio comigo? Só nós dois? Abbie suspirou
aliviada.
— Obrigada, Mac. Estou precisando de um pouco de ar fresco.
Brad levantou-se e segurou seu braço, ajudando-a a pôr-se em
pé.
— Não se canse demais, Abbie. Lembre-se de que precisa
repousar para o final de semana.
— Ninguém aqui sugeriu uma corrida até o pasto — Mac apontou
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irritado. — Cuidarei para que ela não se canse demais. Afinal,


dentro de dois dias, cuidar de Abbie será minha responsabilidade.
— É verdade. Parece que ela está a um passo de não precisar
mais do irmão mais velho.
— Exatamente — Mac concordou com o grandalhão. Abbie
estava satisfeita. Finalmente, Mac decidira ocupar seu espaço e
revelar a intenção de participar do melodrama como um homem a
ser respeitado, uma força a ser reconhecida. Agora tudo que teria
de fazer seria convencê-lo a ajudá-la, fazê-lo entender que, unidos,
poderiam pôr um ponto final naquele absurdo. Demonstrariam a
intenção madura e determinada de cuidarem de suas vidas e não
cederiam a imposições. Não aceitariam um casamento que não
desejavam.
Abbie só precisava convencer-se de que não gostaria de que
tudo fosse diferente.

O silêncio caminhava com eles, dificultando uma conversa que


ainda nem havia começado. Quando chegaram ao píer, Abbie
aproximou-se da balaustrada e olhou para o reflexo da lua na
superfície do lago.
— Estou ensaiando um discurso há dias, e não consigo lembrar
uma única palavra do que pretendia dizer — ela confessou.
— É espantoso que tenha tido tempo para preparar um
discurso. Passou a semana inteira sob vigilância constante!
— Eu? — ela riu. Mas a risada soou melancólica, aflita. — Parece
que você também foi submetido ao mesmo tratamento. Tudo foi
preparado para que nosso casamento aconteça daqui a dois dias,
mas não podemos passar dois minutos juntos e sozinhos.
— Seus irmãos querem protegê-la.
— Eles querem me enlouquecer! E você tem feito sua parte para
ajudá-los. — Abbie virou-se para encará-lo. — Não pode negar que
me tem evitado, Mac.
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Seria mesmo inútil negar.


— Acho que tem razão, de certa forma. Eu precisava pensar.
— Sobre o quê? Sobre o que vai acontecer conosco dentro de
dois dias? Vamos estar diante de nossas famílias jurando amor e
fidelidade eternos, Mac. Duvido que tenha de pensar muito nisso.
— Não.
Ela baixou a cabeça, hesitou por um instante, depois ergueu os
olhos e o queixo em um movimento decidido.
— Temos de dizer não juntos. É a única maneira de determos
toda essa loucura.
— E acha que isso vai ser suficiente?
— Tem de ser. Não quero me casar com você. Você não quer se
casar comigo. Essa história já foi longe demais.
Ela podia encerrar a questão. Podia dizer que estava indo
embora. Naquela noite. E nunca mais teria notícias dela.
— O que quer fazer, Abbie?
— Quero ir embora. Esta noite. Agora. Quero escapar sem
deixar rastros. Quero ir para qualquer lugar longe daqui.
A esperança invadiu seu coração. Por um momento, Mac pensou
que Abbie poderia desistir da farsa e partir, em vez de ficar e
insistir nos ganhos que poderia obter através do casamento com ele.
Seria sua decisão de partir apenas mais um subterfúgio, mais um
truque para tentar enganá-lo?
— Contudo, fugir também não é a melhor resposta. Meus pais já
estão a caminho. Tentei dizer a eles que não deveriam vir, porque
não haveria nenhum casamento no sábado ou em outro dia qualquer,
mas Quinn convenceu-os do contrário dizendo que eu estava apenas
nervosa com os preparativos. — Ela riu com amargura. — Estou
realmente nervosa. E encurralada.
— Conheço o sentimento — ele disse sem pensar. Notou que os
olhos dela brilhavam mais intensamente, mas julgou ter imaginado a
dor, a tristeza e o ressentimento.
— Eu nunca tive a intenção de acuá-lo, Mac. Sei que não
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acredita em mim, mas estou dizendo a verdade.


O que aconteceria se decidisse acreditar nela? O que ocorreria
se fosse capaz de confiar novamente naquela mulher? Mas... por que
escolheria acreditar?
— É fácil provar, Abbie.
— Como? Submetendo meu filho à indignidade de um exame de
paternidade para provar ao pai dele quem ele é, quem tem o direito
de ser? Não, Mac. Não vou sacrificar meu filho no altar de seu
orgulho.
— Mas se casaria comigo? Não faz sentido...
— Acabei de dizer que não quero me casar com você. Qual é o
problema com os homens por aqui? Você me pediu em casamento por
alguma razão insana e eu disse não, mas ninguém acreditou em mim.
Você e todos os outros parecem preferir acreditar que vou mesmo
casar-me, apesar de estar repetindo o contrário desde o início. Não
sei o que mais posso fazer para provar que estou dizendo a verdade.
Ela tinha razão. Durante toda a semana, ninguém a escutara.
Mac assistira a tudo tomado por um certo ressentimento, e mesmo
assim, agia seguindo os mesmos padrões dos Jones, negando-se a
acreditar em suas palavras.
— Pode mudar de tática, Abbie.
— O que sugere? Acha que devo dizer que quero me casar com
você, porque assim todos acreditarão no contrário? Se eu disser
que vou me casar, acha que meus irmãos desfarão todos os planos
que fizeram ao longo desta semana?
— Talvez.
— Isso é loucura, Mac. Não daria certo. Já se deu conta de que
sou quase uma prisioneira. Francamente, não sei como um de meus
irmãos não veio ver se estou bem, se preciso de alguma coisa...
— Se acha que ainda virão, é melhor apressarmos nossa
decisão. E se fugirmos?
— O quê? Juntos?
— Exatamente. Fingiremos que concordamos com os planos para
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o casamento, e amanhã à noite fugiremos para irmos nos casar em


outro lugar.
— Você enlouqueceu! O que espera provar com isso? Que não
aceitamos o casamento como eles planejaram, e por isso nos
casamos de outra maneira?
— Amanhã à noite, partiremos deixando um bilhete dizendo que
decidimos fugir. Se pensarem que vamos nos casar em outro lugar,
eles não irão atrás de nós de imediato. Então, eu a levarei ao
aeroporto e você poderá seguir sua vida em paz. Comprarei a
passagem, farei a reserva no hotel que escolher, e juro que não
revelarei seu paradeiro a ninguém. Nem sob tortura. Você mesma
dirá onde está quando julgar conveniente.
— E você? De acordo com seu plano, eu terei a chance de
escapar ilesa, mas você ficará e terá de enfrentar a ira das duas
famílias.
— Bem, alguém vai ter de dar as explicações necessárias. Por
que não eu?
— Sua idéia é perfeita, Mac. Exceto por um pequeno detalhe.
— Qual?
— O bebê. O que será do bebê?
O trunfo. A carta escondida na manga. O argumento
irrefutável. O bebê.
— Quer se casar comigo para dar um nome à criança? É esse
seu objetivo, Abbie.
Outro lampejo de dor surgiu nos olhos dela, mas foi
rapidamente substituído por um brilho indignado.
— Não, Mac. O que eu quero é nunca mais vê-lo. Gostaria de não
ter vivido nada do que estamos vivendo aqui. Mas aconteceu, e não
posso fingir que desconheço a identidade do pai do bebê. Não posso
passar o resto da minha vida mentindo para meu filho sobre o pai
dele. Direi sempre a verdade, mesmo que você não acredite nela. Só
quero saber se vai reclamar algum direito no futuro.
— Direito? Acabou de dizer que não vai fazer um teste de
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paternidade. Para mim, essa é uma resposta mais do que clara.


Nunca acreditei que esse filho fosse meu, Abbie. Por que mudaria
de idéia no futuro?
— Disse a sua família que era o pai.
— Seus irmãos estavam me ameaçando. O que esperava que eu
fizesse? Depois disso tive tempo para pensar melhor.
— Lamento que não tenha pensado antes. Agora o bebê sofrerá
as conseqüências dessa desavença familiar. Acha que podemos
voltar atrás e dizer a todos que tudo não passou de um engano?
— Não. Você sabe que não.
— Temos de encontrar uma saída, Mac. E quando conseguirmos,
juro que estarei fora de sua vida para sempre.
Mac sentiu o coração apertado. O estômago também protestava
contra o tom definitivo e firme. Mas a razão sugeria que devia
agarrar a oportunidade que ela estava oferecendo.
— Vá embora, Abbie, e eu cuido do resto por aqui.
Podia sentir sua tristeza. Mas quando ela falou, não havia
nenhum sinal do sentimento em sua voz.
— Certo. Esta noite irei para a cama como se nada de anormal
estivesse acontecendo. Às duas e meia, sairei da casa de hóspedes
sem ser vista e irei encontrá-lo na caminhonete.
— E se seus irmãos a pegarem?
— Direi a eles que estava fugindo para ir encontrar meu noivo.
Mas eles não vão me pegar. E mesmo que me peguem, não poderão
deter-me.
A determinação e a confiança pareciam fora de lugar. Onde
estivera aquela segurança durante toda a semana? Teria finalmente
vencido os planos de Abbie Jones? Ou ela o estava manipulando a
fim de fazê-lo acreditar nisso?
— Como pretende levar suas coisas?
— Meus irmãos levarão a bagagem quando forem embora. Não
vai ter de despachar ou transportar nenhuma mala. Não se preocupe
com isso.
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— Estou preocupado com você.


— Não, Mac. Está com medo de mim. Não é engraçado? Naquela
primeira noite, quando nos conhecemos, fugi porque sentia medo de
você. E agora tenho de fugir novamente porque você tem medo de
mim.
— Por que está falando de medo? Você mesma disse que partiu
sem despedir-se por conta de um compromisso anterior.
— Um emprego. Pela primeira vez em toda minha vida, eu
estaria realmente sozinha e livre. Estava começando a conquistar
minha tão sonhada independência, mas logo me dei conta de que
você a ameaçava.
— Eu?
— Sim, você. Assim que o vi, soube que poderia precisar de você
para sempre. Fiquei assustada, e fugir foi a única maneira que
encontrei para escapar daquela ameaça. Então fugi, sem saber que
já era tarde demais, sem saber que já havia sido aprisionada.
Queria acreditar nela. Queria muito. Mas sabia que Abbie não
havia sido aprisionada pela necessidade de estar com ele, mas pela
ambição, pelo desejo de ter tudo aquilo que ele poderia oferecer.
Riqueza, posição social, um meio de livrar-se da família autoritária.
— Fugiu porque não queria correr o risco de ver seu plano
fracassar. Temia que eu descobrisse sua intenção antes de ter tudo
pronto para agir.
Ela balançou a cabeça.
— O que o fez ser tão desconfiado? O que endureceu seu
coração? Por que prefere acreditar que tenho um plano para roubá-
lo, para alcançar ganhos materiais, em vez de aceitar que só quero
compartilhar de um milagre?
— Experiência, Abbie...
— Não. A experiência sempre ensina algo de valor, por mais
dolorosa que seja a lição. Você foi traído por uma mulher e concluiu
que todas as outras mulheres farão o mesmo. Aprendeu a não
correr riscos, a não confiar em ninguém. Transformou a mentira de
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Gillían na idéia de que não tem nenhum valor pessoal para uma
mulher, nada a oferecer se não um título real e bens materiais. Tem
medo de mim porque não consegue acreditar que eu poderia tê-lo
amado de verdade. Tem medo de mim porque, em algum recanto
escuro e secreto de seu coração, sabe que poderia ter me amado de
verdade.
O coração de Mac soluçou, mas continuou batendo. Ela estava
enganada. Só queria envolvê-lo com falsas promessas para, em uma
última tentativa desesperada, fazê-lo mudar de idéia.
— Desista, Abbie. Só existe um jeito de convencer-me de que
não é como Gillían: vá embora agora, esta noite, e não volte nunca
mais.
— Estarei na caminhonete às duas e meia. Assim teremos algum
tempo de vantagem antes que todos acordem. Só queria...
Mac também queria alguma coisa... mas não sabia o que era.
— Queria estar em outro lugar longe daqui — ela concluiu.
Depois afastou-se de cabeça erguida.
Cada passo de Abbie a levava para mais longe de seu alcance.
Para longe de sua vida.
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CAPÍTULO XI

O aeroporto de Austin estava quieto àquela hora da manhã. Os


primeiros raios de luz de um novo dia já podiam ser vistos além das
portas de vidro, e os passageiros que desembarcavam do vôo 755
começavam a surgir no saguão. Abbie pegou a bolsa e a valise de
mão, certa de que logo seria chamada para embarcar naquele mesmo
vôo. Depois da escala em Austin, ele seguiria para Dallas, de onde
seguiria de ônibus para Little Rock.
— Adeus, Mac — disse.
Não sabia por que ele passara a noite sentado no saguão do
aeroporto, esperando pelo avião que a levaria para longe. Talvez
quisesse ter certeza de que nunca mais a veria.
Antes de partir, Abbie deixara bilhetes para Jéssica, Vi e
Rose, e uma carta breve para os irmãos explicando que precisava de
alguns dias de solidão. Depois conversariam, e então eles poderiam
assumir o comando de sua vida, se quisessem. Estava cansada de
lutar por independência, de sonhar com o impossível. Cuidaria de seu
filho e tentaria fazer dele uma pessoa mais segura e forte, pois
assim teria ao menos a satisfação de saber que criara um ser livre e
capaz de cuidar de si mesmo. Alguém diferente dela, sempre tão
fraca e impotente.
— Tem certeza de que quer ir para casa? — Mac perguntou
antes de despedir-se. — Não vai ter muito tempo para pensar.
— Não consigo imaginar lugar melhor para ir, Meus irmãos
terão de esperar por meus pais no rancho, e até que todos estejam
prontos para voltar, terei quase dois dias inteiros de paz e sossego.
Será o bastante. Adeus, Mac.
— Abbie, eu...
— O que é agora?
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— Há mais uma coisa que gostaria de saber.


— O que é?
— Quando disse que é capaz de distinguir-me de Cade, estava
falando sério?
Não devia responder. Sabia que Mac não acreditaria nela.
Mesmo assim, queria que ele tivesse algo em que pensar depois de
sua partida.
— Sempre falei sério, Mac. Desde o início, nunca menti para
você. E posso realmente distingui-lo de Cade em qualquer
circunstância.
— Como?
— Através do que sinto quando estou com você.— Sabia que
seria embaraçoso revelar seus sentimentos, mas já não se
importava mais com orgulho e dignidade. Sabia que nada poderia
fazer diferença.
— Quando Cade fala comigo ou sorri para mim, é como se eu
estivesse falando com Randy, Alex ou um de meus irmãos.
Agradável, mas comum. Com você, há sempre um aperto no coração,
uma sensação de que algo especial está acontecendo. É assim que
consigo distingui-los.
Sem dizer mais nada, Abbie virou-se e passou pelo portão de
embarque. Seu vôo acabara de ser chamado, e assim chegava ao fim
uma história que poderia ter sido muito diferente.

Mac continuava dizendo a si mesmo que tomara a atitude mais


correta, a única possível naquelas circunstâncias. Quando chegou ao
Desert Rose, o dia de trabalho já havia começado. Stanley e Olivia
treinavam os animais na arena, os empregados levavam a manada
para o pasto, e o sol prometia mais um dia quente de verão. Cade
estava no celeiro limpando uma sela, mas interrompeu a tarefa ao
ver o irmão gêmeo.
— Onde diabos você se meteu, Mac? Abbie desapareceu, e os
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irmãos dela estão furiosos! Ela não estava com você?


— Estava. — Mac bateu a porta de uma baia e virou-se para
sair do celeiro. — Eu a levei ao aeroporto em Austin.
— O quê?
Mac virou-se para encarar o irmão.
— Abbie queria ir embora, e eu a levei embora. Não vai haver
nenhum casamento no sábado.
— Ela partiu?
— Exatamente.
— O que aconteceu?
— Nós conversamos. Abbie disse que não queria se casar
comigo e que iria embora. Eu a levei ao aeroporto, comprei a
passagem, e ela partiu. — Sabia que soava frio, seco, muito
diferente de como se sentia. — Ela não vai voltar.
— E você aceitou tudo isso?
— E claro que sim. Escapei de um casamento forçado. Por que
não estaria satisfeito?
— Não parece muito feliz.
— As aparências enganam.
— Vá atrás dela, Mac. Aquela mulher o ama! Encontre-a, diga
que também a ama e traga-a de volta ao rancho, onde é lugar dela e
do bebê.
— Por que eu faria tal coisa? — Mac reagiu furioso. — Abbie foi
embora, e eu estou muito feliz. Ouviu o que eu disse? Estou feliz
por ela ter partido. — Só precisava acreditar nisso. — Ela mentiu
desde o início. Abbie queria me fazer crer que sentia alguma coisa...
amor, talvez... quando estávamos juntos. Ela afirmou poder
distinguir entre nós pelo que sentia quando estava comigo. Foi uma
manobra astuta, reconheço, mas inútil. Sei que ninguém pode
distinguir entre nós dois. Se até tia Vi se confunde... E Alex, nosso
irmão!
— Lamento desapontá-lo, Mac, mas Serena sempre soube dizer
qual de nós dois é seu marido.
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— Como?
— Ela diz que sabe quem sou através do que sente quando estou
por perto.
— Mas...
— Sinto muito, Mac, mas, desta vez, estou do lado de Abbie.
Ela o ama de verdade, ou não teria partido.
— Abbie partiu porque não tinha outra alternativa.
— Ou é você quem não está dando uma escolha a si mesmo?
— Sabe de uma coisa, Cade? Tenho coisas mais importantes
para fazer além de ficar aqui ouvindo seus conselhos de psicólogo
amador.
— Ah, nesse ponto você tem razão! Estão todos reunidos na
cozinha esperando por uma explicação, Mac. Tente fingir que está
feliz antes de enfrentá-los, ou todos vão pensar que está tão
miserável quanto parece. Agora trate de ir resolver esse assunto,
porque nada é mais importante. — Cade afastou-se sem esperar por
uma resposta.

Havia um grupo reunido em torno da mesa da cozinha. Os


irmãos de Abbie, Jessie, Rose, Vi e Randy, Ella e Hal, Serena,
Savannah e alguns clientes do rancho, e a disposição geral era bem
diferente daquela que Mac esperava encontrar. As pessoas riam e
conversavam animadas, mas sua chegada provocou um silêncio súbito
e tenso.
— Onde está ela? — Quinn perguntou sem rodeios.
— Se ela quisesse revelar seu paradeiro, já o teria contado no
bilhete — Mac respondeu enquanto se servia de uma xícara de café.
— Sabe onde ela está? — Brad indagou.
— Sim, eu sei.
— Então, o que faz aqui? — Jaz e Jessie dispararam ao mesmo
tempo.
— Por que não foi atrás dela? — quis saber Vi.
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— Pensamos que já houvesse ido — Serena contou.


— Vamos ajudá-lo a encontrá-la — decidiu Randy.
— Deixe essa xícara aí! Está perdendo tempo! — Ella parecia
impaciente.
— Abbie tem de voltar a tempo para a cerimônia de casamento
— lembrou Quinn.
— Ela não vai voltar. Não vou atrás dela. Não vai haver nenhum
casamento. Quando pedi Abbie em casamento, ela disse não. Não! O
que pode ser mais claro?
— Você não a conhece como nós! — protestou Brad.
— Ela não sabe o que quer — contou Jaz. — Temos sempre de
ajudá-la a tomar decisões.
— Abbie está grávida — Quinn apontou determinado. — Vai ter
de se casar com ela, Mac.
— Por que nunca ouvem o que Abbie diz? — ele perguntou
irritado.
— Só queremos o melhor para nossa irmã — afirmou Tyler. —
Queremos que ela tenha o que merece.
— Ela merece ser levada a sério. Merece que acreditem no que
ela diz, mesmo que não concordem com suas afirmações.
As palavras ecoaram no silêncio da cozinha e voltaram ao ponto
de origem. Abbie merece que acreditem nela... Abbie merece que
acreditem nela... Abbie afirmara que ele era o pai do bebê. E
dissera que não queria acuá-lo ou obrigá-lo a nada. Dissera não
querer um casamento sem amor. Declarara saber quem ele era pelo
que sentia quando estavam juntos. E até aquele momento, não havia
acreditado em nada do que ouvira.
— O que quer fazer, Makin? — Rose perguntou com tom
conciliador, indicando que estava disposta a apoiar sua decisão. —
Devemos cancelar o casamento?
Essa era a última coisa que ele queria. Amava Abbie. Acreditava
nela. Queria ser pai de seu filho. A traição de Gillían plantara em
seu coração a semente da desconfiança, e vivera sempre tão
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apavorado com a possibilidade de uma nova decepção, que


correspondera às expectativas traindo o próprio coração e o da
mulher que amava.
— Vou atrás dela — disse. — E a trarei de volta se puder,
Abbie está esperando um filho meu. Eu a amo, e tenho o dever de ir
procurá-la e descobrir o que ela quer realmente. Jessie, pode vir
comigo ao escritório? — Precisava do endereço de Abbie em Little
Rock, e preferia bater em todas as portas da cidade a pedir a
informação aos irmãos dela. Queria encontrá-la e confessar seu
amor, e não precisava da ajuda dos Jones naquele sentido.

Abbie não se lembrava de ter ficado sozinha em casa antes.


Andando pelos cômodos amplos e confortáveis, lembrava
fragmentos da infância e da adolescência com um misto de tristeza
e saudade, lamentando não poder dar ao filho a mesma atmosfera
amorosa e aconchegante que vivera cercada pelos familiares.
Seriam apenas os dois... Ela e o bebê... Mas faria de tudo para
compensar a falta do pai.
Tanto tempo lutando para conquistar independência, e quando
se via sozinha ficava suspirando pelos cantos, sentindo saudade dos
pais e dos irmãos. Ah, como precisava do apoio daqueles que tanto a
amavam! Sentada no quarto cor-de-rosa decorado no início de sua
adolescência, ela pensava em como passaria todo o tempo com eles
no futuro, buscando dar ao filho a mesma segurança que sempre
tivera naquela casa, cercada por aquelas pessoas.
Abbie deitou-se para descansar um pouco. Havia preparado uma
refeição rápida e tomado um banho depois da longa viagem, e
planejava cochilar e relaxar quando ouviu a campainha soando no
andar de baixo da casa. Devia ser algum vizinho estranhando as
cortinas abertas.
Resignada, ela se levantou e foi abrir. Através do vidro fosco
da porta principal, viu a silhueta imponente do outro lado e sentiu o
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coração bater mais depressa. Os ombros largos, o peito amplo, o


chapéu... Não podia ser!
Temendo ter dormido e estar sonhando, ela abriu a porta e viu
o rosto de Mac marcado por linhas de cansaço e preocupação.
— Mac! O que faz aqui? — Não tinha importância. Sentia-se
feliz por vê-lo, qualquer que fosse a razão.
— Eu amo você — ele disse, a voz tensa traindo a intenção de
controlar as emoções. — Quer se casar comigo?
Abbie piscou várias vezes.
— O quê?
— Amo você — repetiu Mac. — Quer se casar comigo?
Ela franziu a testa e olhou para a rua.
— Onde estão eles? — Sabia que os irmãos deviam estar em
algum lugar por ali, usando de todos os recursos para convencê-lo
de que aquela era a atitude certa a tomar. — Meus irmãos o
obrigaram a vir até aqui, não é? Eles o agrediram? Usaram de
violência física?
— Não. Eles nem sabem que estão aqui. Seus irmãos ainda não
sabem para onde você foi. Prometi que não contaria nada a ninguém,
lembra?
— Sim, eu sei que prometeu, mas eles podem ser muito
persuasivos.
— Abbie, gosto de seus irmãos, mas eles não teriam me
convencido a tirar o chapéu, se eu não quisesse.
Não pensaria no significado dessa afirmação. Não alimentaria a
semente de esperança que ameaçava brotar em seu peito.
— Mas... você me pediu em casamento.
— E você ainda não me deu uma resposta.
— Na última vez eu disse não.
— Eu lembro. Se disser não desta vez, respeitarei sua decisão,
mas me reservarei o direito de tentar fazê-la mudar de idéia.
Tudo era muito estranho. E maravilhoso, talvez. Ou não. Abbie
não sabia o que pensar.
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— Não quer entrar? — convidou-o. Notando sua hesitação, ela


forçou um sorriso. — Prometo que ninguém vai pular de dentro de
um armário para acusá-lo de ter destruído minha reputação. Além
do mais, ela já está bastante abalada.
— Sinto muito, Abbie. Eu... fiz uma enorme confusão.
— Você? — ela balançou a cabeça. — A culpa é toda minha!
Mac abriu a boca para contradizê-la, mas balançou a cabeça.
— Não quero lhe dizer como deve pensar ou o que deve sentir.
Vim até aqui porque percebi como havia sido injusto com você e
queria confessar meu desejo de poder voltar no tempo, antes
daquele primeiro dia no aeroporto. Pode ter certeza de que faria
tudo diferente. Não tinha razões para crer que você estava
mentindo. Temia que não pudesse me amar, e então estabeleci
padrões muito elevados, impossíveis de serem alcançados. Assim
estaria livre de eventuais decepções. Mas isso foi um erro. Amo
você desde que a vi pela primeira vez, e o fato de estarmos
esperando um filho... Bem, seria falso dizer que não tenho medo de
tornar-me pai, mas isso não significa que não vou me esforçar e dar
o melhor de mim. E então, Abbie? Quer se casar comigo?
Havia perdoado todos os erros de Mac assim que o vira parado
na porta de sua casa, mas ainda não estava pronta para dizer isso a
ele.
— Sabe de uma coisa? Esta é a segunda vez em que sou pedida
em casamento, terceira, se contarmos a proposta de Andy Perkins
no primeiro ano primário, e já começo a questionar se todas terão
de ser supervisionadas, espionadas e testemunhadas. — Ela indicou
o táxi parado diante de sua casa. O motorista olhava para eles pela
janela aberta. — Talvez uma proposta de casamento seja um
espetáculo interessante...
— Andy a pediu em casamento diante de toda a classe?
— Pior. Ele fez o pedido na festa de fim de ano, diante de toda
a escola e dos pais dos alunos.
— Qual foi a reação de seus irmãos?
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— Não sei, mas eles devem ter assustado o pobrezinho, porque


Andy nunca mais falou comigo depois daquele dia, embora tenha
lançado olhares e suspiros em minha direção até o último dia de aula
do ginásio, quando seguimos caminhos distintos.
— Acho melhor entrar e refazer minha proposta.
— Boa idéia.
Abbie recuou, e no momento em que Mac passou pela porta, ela
se atirou em seus braços e beijou-o. Que diferença fazia se o
motorista de táxi os observava? Não se importaria se o mundo todo
os visse. Amava Mac e ia se casar com ele. Teriam um bebê. E
embora tivesse a sensação de estar vivendo um milagre, a verdade
finalmente vencera.
— Estava falando sério quando disse que a amo — ele sussurrou
depois de alguns instantes.
— E quando me pediu em casamento?
— Também. Vai aceitar meu pedido?
— E claro que sim, Mac!
Ele suspirou aliviado e sorriu.
— Obrigado. Sei que não mereço uma segunda chance, mas
passarei todos os dias de minha vida demonstrando que não se
enganou por perdoar-me. Prometo que não vai se arrepender,
— Oh, não! É você quem vai se arrepender. Quando meus irmãos
começarem a interferir em nossos problemas, na educação do
bebê... Eles serão tios dedicados, sabe?
— Mesmo que eles tentem se mudar para nossa casa, o que eu
jamais permitiria, garanto que nunca me arrependerei desta
escolha. Você é meu sol, minha lua e minhas estrelas, e estou
disposto a tudo para fazê-la feliz.
— Já sou feliz, Mac. Desde que abri aquela porta e o vi parado
diante dela.
Ele sorriu novamente.
— Odeio mencionar certas questões práticas, mas acho que
devemos telefonar para o rancho e avisar que estamos bem. Caso
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contrário...
— ...todos estarão aqui antes do amanhecer de um novo dia.
Tem razão, vamos ligar e informar que estamos a caminho de Las
Vegas para nos casarmos.
— Podemos casar em Vegas ou na floresta amazônica, se quiser,
mas eu prefiro me casar na igreja de Bridle diante das nossas
famílias. Isto é, se não se importar, é claro.
E por que se importaria? O casamento devia acontecer em
Bridle, no Texas, onde Mac se tornara o orgulhoso xeque que ela
havia conhecido, onde seus filhos cresceriam e seriam felizes.
— Tem razão, Mac. E como nossas famílias já planejaram todos
os detalhes do casamento, seria melhor se esse esforço não fosse
desperdiçado.
— Não prefere planejar o casamento sozinha? -Ela riu.
— É tarde demais para começar a pensar em detalhes. Dentro
de alguns meses estarei muito ocupada com o bebê, e não quero
desperdiçar minha energia cuidando do protocolo de uma cerimônia
de casamento. Prefiro reservar minhas forças para nossa lua-de-
mel na casa de hóspedes perto do lago.
— Agora você elaborou um plano perfeito, futura Sra. Coleman
El Jeved. Ou prefere ser chamada de Princesa Abigail?
— Guarde os títulos para nossa filha. Prefiro ser apenas a boa e
velha Abbie.
— Linda Abbie. Minha esposa forte e independente.
— Primeira e única! Insisto em seguir a tradição criada por seu
pai sobre não manter um harém.
— Se acha que vou ter tempo para outras mulheres, está
exagerando em suas expectativas. Sou apenas um homem comum,
apesar do título real e do sangue azul.
— E eu tenho planos para mantê-lo muito ocupado, meu príncipe.
— Mal posso esperar para começar naquele novo ramo de
atividades...
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A igreja era como um jardim perfumado, tal a quantidade de


flores frescas empregadas na decoração. Jéssica, Serena e Hannah
usavam vestidos em um tom suave de rosa e carregavam buquês de
flores brancas e amarelas. Mac esperava aos pés do altar. Atrás
dele, Cade, Alex e Nick Grayson ocupavam os lugares dos padrinhos.
O órgão produziu os primeiros acordes da "Marcha Nupcial". As
portas da igreja se abriram, e Abbie começou a caminhar guiada
pelo braço forte do pai.
Mac não esperava sentir emoção tão intensa, mas sabia que
estava vivendo um marco, um momento que dividiria sua vida em dois
períodos. Daquele dia em diante, depositaria toda sua fé e
confiança em Abbie, e com ela construiria um lar, uma família e um
futuro. Seus filhos saberiam que, apesar do início conturbado,
haviam sido convencidos por um amor que nascera para ser eterno.
Abbie parou diante dele. Mac estendeu a mão. Ela a segurou e
subiu os degraus que a levariam ao futuro.
A recepção continuou mesmo depois de os noivos terem se
retirado para a casa de hóspedes perto do lago, onde pretendiam
ficar até que decidissem sair. Abbie beijara os irmãos, prometera
informá-los assim que entrasse em trabalho de parto, e despedira-
se dos pais com abraços emocionados. Durante todo o tempo, Mac
havia segurado sua mão.
Randy nunca havia visto o sobrinho tão feliz, nem mesmo nos
momentos de revelação que haviam vivido juntos nos últimos meses.
Havia sido um ano marcante para os Coleman. Rose estava de volta
ao convívio familiar, reunida a ele, Vi e aos filhos. Realizaram três
casamentos em seis meses, e dentro de mais alguns testemunhariam
o nascimento do filho de Mac e Abbie, e depois celebrariam a festa
de aniversário de Vi e Jéssica. Savannah estava fazendo um
trabalho maravilhoso organizando a surpresa. Depois, no começo do
próximo ano, Hannah teria os gêmeos e seriam três os novos
herdeiros da dinastia Coleman-El Jeved. Quem poderia antecipar
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que outros eventos aconteceriam no interminável ciclo da vida?


Randy estava adorando aquela súbita corrida para o futuro, embora
às vezes desejasse ir um pouco mais devagar e ter tempo para
apreciar cada evento, como o casamento do sobrinho, por exemplo.
Os convidados se despediam, a comida estava acabando, e ele
decidiu pegar duas taças e uma garrafa de champanhe e propor um
brinde íntimo à esposa.
— Papai? — Jéssica chamou-o. — Jared Grayson está
procurando por você. Ele disse que iria preveni-lo sobre algo
importante. Talvez tenha decidido deserdar aquele imprestável do
filho dele e alegrar-nos com a notícia.
— Jessie, se continuar dizendo essas coisas sobre Nick, vou
acabar acreditando que tem uma paixão secreta por ele.
— O quê? Nem que ele fosse o último homem do planeta! — ela
reagiu indignada antes de afastar-se com passos orgulhosos.
Randy sorriu. Um homem como Nick Grayson saberia lidar com
Jéssica e seu temperamento indomável.
Jared aproximou-se, e ele estendeu o sorriso para o velho
amigo.
— Fiquei feliz por você e Nick terem conseguido chegar a
tempo para o casamento — disse. — Sua presença é muito
importante para nós.
— Foi uma linda cerimônia. E um bebê a caminho... O
empreendimento Desert Rose está crescendo aos saltos, meu velho!
— É verdade. Jessie disse que queria prevenir-me sobre algo
importante. Algum problema com a empresa?
— Não, mas não podemos prever o que vai acontecer nos
próximos dias.
— O que quer dizer, Jared?
— Quando eu e Nick nos preparávamos para deixar Dallas,
recebi um telefonema de uma jornalista do Dallas Morning News.
Parece que há novos rumores sobre a realeza em Balahar. A
imprensa está apurando a iminente chegada do Rei Zak e seu filho,
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o Príncipe Sharif, em solo americano. Parece que eles planejam uma


viagem secreta ao Desert Rose para examinarem os animais do
rancho. Já esperava que tivéssemos um certo assédio da imprensa
nas primeiras visitas do Rei Zak à filha Serena, mas, pelas
perguntas da repórter, acho que deve preparar-se para uma
pequena invasão no rancho.
Randy suspirou. Mal se haviam recuperado do último confronto
com a imprensa, e já se preparavam para uma nova batalha.
— Seria bom se os jornais deixassem os rapazes em paz, mas
acho que a história sobre os três príncipes árabes criados no Texas
é interessante demais para ser esquecida.
Jared riu.
— Talvez tenha sorte e alguma princesa rebelde cometa uma
loucura qualquer para chamar a atenção da imprensa mundial. De
qualquer maneira, com ou sem jornalistas, enfrentaremos todas as
dificuldades e continuaremos guiando a Coleman-Grayson para um
futuro próspero e sólido.
— Pode apostar nisso, meu velho.

Abbie beijou os lábios do marido e aninhou-se em seu peito nu.


Estavam deitados na mesma cama em que haviam sido surpreendidos
por seus irmãos dias antes, mas a situação agora era diferente. 0
sonho se realizara.
— Não tem idéia de como sou feliz, Mac. Começamos a história
pelo final, mas conseguimos reparar nosso erro a tempo de
assegurarmos nossa felicidade.
— Não houve nenhum erro, Abbie. E não começamos nossa
história pelo final, porque ela não vai acabar. Nunca. Estamos
começando do ponto exato. Tudo é perfeito para mim, para você e
para o bebê.
— Então é verdade!
— 0 quê?
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— As verdadeiras histórias de amor não têm finais felizes,


porque nunca acabam.
— Tem razão — ele riu. — E estamos começando nossa
felicidade eterna. Para sempre, meu amor.
— Para sempre...

FIM

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