Você está na página 1de 1

Os vícios do amor Otelo, de Shakespeare

em quatro clássicos

da literatura
Natália Martínez, 26 de outubro de 2015 *

“O ciumento não o é por uma razão: é porque é. O ciúme


é um monstro gerado e nascido de si mesmo”.
O amor sem ciúmes não leva as alturas. É o que deixa
Mencionem um livro de amor, mas que seja recente,
claro o mestre e senhor dos rompantes apaixonados:
assim, o primeiro que venha a mente. Qual seria? Muitos
Shakespeare. Temos ouvido muitas vezes como termina o
pensaram em Crepúsculo, alguns outros em Diário de uma
trágico amor entre Romeu e Julieta, ou a relação benéfica
paixão, talvez A culpa é das estrelas, ou até Cinquenta
de Hamlet e Ofélia, mas quando se trata de desvendar
tons de cinza. Algo mais? A mim, não me ocorre nada. É
um dos sentimentos mais recorrentes e doentios em uma
que a literatura comercial ultimamente tem se dedicado
relação, nenhuma obra literária é melhor do que Otelo.
a ridícula missão de idealizar o amor em par ao mostrar-
nos histórias pouco verídicas e por demais perfeitas Esta história de enganos, mentiras e inveja vai se
desenrolando suavemente no contexto de uma guerra
O que não é certo? Pensemos em Nicholas Sparks, o Deus
entre Chipre e Turquia. Embora o trabalho tenha
da novela romântica e pouco sensata do nosso tempo.
como título o nome do general, Otelo, um excelente
Os relatos desse inesgotável escritor estadunidense já tem
combatente negro: Iago, seu assistente, parece ser o
uma fórmula preestabelecida. Identificar uma delas é
verdadeiro protagonista da obra. A mente perversa deste
fácil, é preciso apenas encontrar os seguintes elementos
sujeito veneziano, Iago, vai acabando com a sanidade
na trama: um rio, lago ou mar, uma guerra, cartas
desses personagens. Joga com eles como se fossem
(mesmo que ninguém as use hoje em dia), profundos
fantoches, e suas paixões e medos são os cordões que os
valores cristãos, algum morto e uma separação que, na
fazem dançar no seu ritmo. Iago convence Otelo que sua
maioria das vezes, é inevitável. Os personagens em suas
preciosa esposa está lhe enganando. Este personagem
histórias são idílicos, os encontros são passionais e o amor
que parecia sensato e racional o suficiente para ser o
que se vive entre eles é tão perfeito que de real não se
principal estrategista de guerra, sucumbe ao ciúme. Sua
goza nem uma quarta parte. Esta enfermidade do amor
mente adoece e esse sentimento toma posse do mesmo
pouco verídico não é uma doença apenas do nosso amigo
completamente. Eu não vou dizer mais, deve ser lido! Ou
Sparks, mas de muitos outros escritores do best-seller
visto.
atual.
Esta surpreendente obra teatral de 1604 nos ensina os
Será por isso que não nos conformamos com ninguém
limites que um homem corrompido pelo ciúme pode
nem nada, quando se trata de amor? O que esperamos?
chegar; Ceder aos ciúmes faria o nosso destino muito
Um príncipe encantando que nunca chegará? O amor
semelhante ao de Otelo, e acreditem, ninguém quer isso.
comercial que tanto se apresenta atualmente nos faz
A Dama das Camélias,
esquecer o que, na realidade, somos: seres imperfeitos de Alexandre Dumas Filho
com defeitos, seres cheios de vícios e dúvidas que não
fazem nada além de amplificar-se no momento em que
nos apaixonamos. Então… amores ideais? Nah! Não
servem de nada. Melhor falarmos de livros que de fato
nos ajudaram a entender o que é isso tudo que sentimos
quando o cupido nos flecha.

Você também pode gostar