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Universidade Estatual do Piauí- UESPI

Disciplina: Método e técnicas de pesquisa


Professora: Ivoneide de Alencar
1º Período

OTELO
ATO I
CENA I
Narradora: Estamos na Veneza renascentista. Esta é a bela e dócil Desdêmona, filha do
senador Brabâncio. A jovem se apaixonou por Otelo, um mouro cristianizado que presta
serviços militares ao Estado veneziano. Apesar de prestigiado, o mouro sofre muito
preconceito por conta de sua origem. Temendo as represálias da sociedade, os apaixonados
decidem se casar secretamente, só não contavam que estavam sendo observados. (Desdêmona
foge da casa de Brabâncio e encontra Otelo. Os dois se abraçam. Yago e Rodrigo
presenciam a cena. Rodrigo fica transtornado.)
RODRIGO: você me disse que o odeia. Como pode trabalhar para ele?!
IAGO: e o odeio. Três grandes nomes da cidade foram falar com ele sobre a minha promoção
a tenente e ele diz que já escolheu seu oficial. E quem é? Um tal de Miguel Cássio, um
florentino, um sujeito que nunca liderou um esquadrão até o campo de batalha, enquanto eu já
provei minha capacidade militar em Rodes, em Chipre e em outros campos de batalha!
RODRIGO: preferiria ser carrasco dele.
IAGO: esta é a praga do serviço militar: as promoções acontecem por recomendação e
simpatia. Agora me responda: eu posso ser obrigado a gostar do mouro depois dessa injustiça?
RODRIGO: eu não seria seguidor dele.
IAGO: não se preocupe. continuo sendo seguidor dele apenas para lhe dar o troco!
RODRIGO: se conseguir sair ileso dessa, o lábios grossos vai ficar devendo sua sorte ao
destino. (Otelo e Desdêmona saem. Rodrigo tenta ir atrás, mas Iago o contém).
IAGO: chame o pai dela, acorde-o!(Os dois se dirigem à sacada da casa de Brabancio).
RODRIGO: esta aqui é a casa do pai dela. Vou gritar por ele.
IAGO: grite.
RODRIGO (gritando): Brabâncio! Ei, alô! Brabâncio!
IAGO: acorde-o! Ei, Brabâncio! Ladrões! Ladrões! Vigia sua casa, sua filha e seu dinheiro!
(entra Brabâncio)
BRABÂNCIO: qual é o problema aqui?
RODRIGO: me responda: suas portas estão trancadas? Toda sua família está em casa?
BRABÂNCIO: é da sua conta? Por quê você pergunta?
IAGO: sua filha e o mouro estão neste exato momento fazendo a figura da besta com duas
costas.
BRABÂNCIO: perdeu o juízo? E você? (apontando para Rodrigo) já falei para parar de
rondar a minha casa, minha filha não é para o seu bico.
RODRIGO: senhor, acredite em nós: sua filha fugiu com o mouro!
(Brabâncio sai da sacada irritado)
IAGO: agora vou ter que me retirar, minha posição não permite que eu me apresente contra o
mouro.
(Brabâncio aparece com tochas)
BRABÂNCIO: por Deus, ela se foi mesmo. Onde a viu, Rodrigo? vamos atrás daquele
cretino. (Brabâncio e Rodrigo saem.)
CENA II
(Otelo e Iago conversam no salão)
IAGO: então quer dizer que o senhor se casou? o seu sogro é um dos magníficos de Veneza,
ele conseguirá seu divórcio ou infernizará sua vida!
OTELO: ele que faça o que quiser, minhas contribuições ao estado falarão mais alto, amo
Desdêmona. (Otelo olha um pouco para frente e vê Brabancio, Graciano e Ludovico
furiosos) mas o que são aquelas luzes?
IAGO: seu sogro furioso. (Brabâncio entra com Graciano e Ludovico)
BRABÂNCIO: ladrão! Como minha filha, que já recusou proposta de homens melhores
escolheu se casar com um negro como você? Só pode ser feitiço!
OTELO: sim, eu a roubei! mas não joguei feitiço nenhum. Ela me amava pelos perigos por
que eu havia passado, e eu a amava por ter ela se compadecido de mim. Essa a única feitiçaria
que usei.
LUDOVICO: só tem um jeito de descobrir: tragam Desdêmona.
OTELO: Iago, vá buscá-la! (Enquanto Iago vai buscar Desdêmona, Ludovico e Graciano
seguram Otelo para que Brabancio o esmurre. Desdêmona chega com Iago e Emília e o
impede).
DESDÊMONA: papai, por favor pare. Otelo agora é meu marido.
BRABÂNCIO: Deus lhe proteja.
(Cássio chega e entrega uma mensagem a Otelo).
OTELO: meu tenente! O que faz aqui?
CÁSSIO: uma legião de turcos está se dirigindo a Chipre. Precisamos que o senhor nos
defenda
OTELO: (dirigindo-se a Brabancio) para ganhar sua simpatia, meu sogro, vou encarregar-me
de expulsar esses turcos de Chipre.
BRABANCIO: abre bem o seu olho, ela me enganou, pode muito bem fazer o mesmo com
você!(Saem Brabancio, Ludovico e Graciano).
OTELO: Desdêmona é fiel, aposto minha vida nisso! (Vira-se para Desdemona) Meu amor,
preciso combater os turcos. Vou deixar meu alferes, homem de confiança, cuidando de você.

DESDÊMONA: não! Quero ir junto com você.


OTELO: Não se preocupe, meu amor, voltarei logo! Iago, por favor, deixe Emília, sua
mulher, servir de companhia a minha esposa. Venha Desdêmona, temos apenas uma hora para
ficar juntos.
(Saem Otelo, Desdêmona e Emília. Iago desce para a rua e encontra Rodrigo)
Rodrigo: não acredito que ela se casou com aquela criatura tendo eu como seu pretendente!
Amo-a demais para suportar isso, Iago, vou me afogar!
IAGO: ora, seja homem. ponha dinheiro em sua bolsa, esconda seu rosto com uma barba
falsa. agora posso lhe ajudar mais do que nunca, você vai presenciar uma terrível separação.
RODRIGO: promete mesmo me ajudar?
IAGO: claro, nem pense em se afogar. Encontre-me daqui a pouco no ancoradouro. Esta
noite, Cássio fica de vigia na sala da guarda. Desdêmona está apaixonada por ele.
RODRIGO: por ele?? não acredito.
IAGO: claro que não, estúpido! Compreenda: Cássio é bonito, jovem e educado, tudo o que o
mouro não é. Desdêmona sentirá aversão por Otelo.
RODRIGO: não posso acreditar algo assim dela.
IAGO: fique de vigia esta noite, irrite Cássio, provoque-o de modo que faça ele querer lhe
surrar.
RODRIGO: está bem.
IAGO: a afeição entre eles vai diminuir quando Cássio for destituído. Encontre-me mais
tarde.
RODRIGO: está certo. Até amanhã.
(Rodrigo sai. Sozinho, Iago fala ao público)
IAGO: já tenho meu plano formulado, irei enganar o mouro fazendo-o pensar que Cássio está
colocando chifres em sua cabeça. ele vai me pagar.
(Iago sai)
FIM DO ATO I
ATO II
CENA I
NARRADOR: devido à tempestade que está acontecendo, os navios turcos naufragaram,
garantindo a vitória para Otelo, que pode, enfim, retornar para os braços de sua amada (ouve-
se um grito: “barco â vista! barco à vista!”) (entra Otelo, Desdêmona vai ao seu encontro)
Desdêmona: meu querido Otelo ! (os dois se abraçam)
OTELO: estou tão feliz em reencontrá-la minha amada, me faltam palavras para expressar.
Agora vamos para o salão, comemorar nossa vitória sobre os turcos.
(Otelo e Desdêmona se abraçam e vão para a comemoração da vitória no salão)
NARRADOR: durante a celebração da vitória sobre os turcos, Otelo designa o tenente Cássio
para ficar de vigia, mas ele não previa os acontecimentos que Iago provocaria naquela noite...
(Desdêmona, Otelo, Iago e Emília dançam no salão, Rodrigo bebe e Cássio faz a guarda. De
repente, chega Iago e convence o tenente a beber)
IAGO: nosso general nos dispensou mais cedo porque ainda não brincou com sua esposa.
CÁSSIO: ela é uma dama extremamente refinada.
IAGO: venha, tenente, tenho uma garrafa de vinho aqui.
CÁSSIO: esta noite não, minha cabeça é um pouco fraca para bebida.
IAGO: ora, homem! Esta é uma noite para folgar.
CÁSSIO: vou fazer isso, mas saiba que não me agrada.
(Cássio se aproxima de Rodrigo e os dois começam a beber)
IAGO: (enquanto volta para o salão, sussurra para o público) Trouxa! Com Cássio e
Rodrigo bêbados, vão brigar feio na hora da ronda do tenente e na frente dos nobres. Que
comecem os jogos.
NARRADOR: Cássio começou a beber o vinho que estava sendo constantemente servido e
acabou sucumbindo às provocações de Rodrigo. Iago começa a espalhar rumores de que o
tenente tem sérios problemas com bebida.
IAGO: tenho um grande apreço por Cássio, gostaria muito de ajudá-lo a superar esse vício.
(ouvem-se gritos de socorro. Rodrigo e Cássio, Cássio perseguindo Rodrigo)
CÁSSIO: seu vagabundo, patife! Não me ensine como fazer meu trabalho.
RODRIGO: vem me pegar!
(Cássio bate em Rodrigo. A confusão espanta a todos e interrompe a dança dos casais. Otelo
repreende Cássio, enquanto Rodrigo foge)
OTELO: mas o que está acontecendo aqui?? Viramos turcos para fazer essa palhaçada?? Se
explique, Cássio.
CÁSSIO: senhor, por favor, mil desculpas.
OTELO: Cássio, você nunca mais será meu oficial!
(todos saem, menos Cássio e Iago)
IAGO: Amigo, você está bem?
CÁSSIO: ah, perdi minha reputação! (diz bagunçando os cabelos) eu o decepcionei. Vou
pedir meu posto de volta.
IAGO: a esposa de nosso general é general. Peça ajuda a ela, talvez ela interceda por você.

CÁSSIO: boa ideia, muito obrigado. Por favor, dê um jeito para que eu consiga conversar
sozinho com Desdêmona, conceda-me um tempo com ela.

IAGO: obviamente que sim, meu caro Cássio. Farei com que a procurem enquanto eu distraio
Otelo para que vocês possam conversar livremente.

CÁSSIO: grato.

(Cássio sai)

IAGO(Para o público): agora minha esposa deve interceder por Cássio junto com sua patroa.
Assim, chamo o mouro na hora que Cássio estiver solicitando a ajuda de sua mulher. Que
deus me ajude.

(Iago sai.)

CENA II

( Desdêmona surge em sua casa com Emília quando ambas são surpreendidas pela chegada
de Cássio)

DESDÊMONA: pode ficar tranquilo, Cássio. o que eu puder fazer por você, eu irei fazer.

EMÍLIA: meu marido se afligiu tanto como se tivesse sido com ele…

DESDÊMONA: homem admirável, Emília! Cássio, você e Otelo hão de ser amigos como
antes. eu farei isso acontecer.

CÁSSIO: ah, que mulher generosa… irei te servir fielmente.

(Cássio se ajoelha aos pés de Desdêmona. entram Iago e Otelo e ficam a distância,
observando a cena)

EMÍLIA: lá vem Otelo!


CÁSSIO: eu preciso ir agora.

DESDÊMONA: não. Espere para ouvir o que eu hei de dizer em sua defesa.

CÁSSIO: depois, Desdêmona. estou cansado e sou incapaz nesse momento de servir meu
próprio intuito (fala isso já se retirando).

(Desdêmona e Emília esperam por Otelo, que conversa com Iago).

OTELO: acaso era Cássio que estava conversando com minha esposa?

IAGO: Cássio, senhor? Ele teria essa ousadia de sair quando vos viu chegar? Não posso
acreditar.

OTELO: era ele.(Chegam em casa)

DESDÊMONA: meu amado, marido. Eu estava conversando com Cássio, que tanto sofre
pelo seu desfavor. Eu te peço. Reconcilie com ele. Ele errou por um descuido, não de
propósito. Converse com ele.

OTELO: não quero agora, Desdêmona.

DESDÊMONA: quando então? Marca a data. Otelo, ele está arrependido. Irá me negar um
pedido?

OTELO: pare, pare. não vou te recusar um pedido. Quando ele quiser vir, pode vir. Mas irei
conversar a sós com ele.

DESDÊMONA: claro, meu amor.

OTELO: (Olhando, encantado para a esposa) amo-te, Desdêmona! Que minha alma apanhe
a apanhe a perdição, se eu não te amar; e se não te amo, que este mundo volte de novo para o
caos.

DESDÊMONA: Amo-te, meu marido. Mas agora eu e Emília precisamos providenciar a


ceia(Desdêmona e Emília saem. Entra Iago).

IAGO: meu senhor, tenho uma duvida: Cássio já conhecia Desdêmona?

OTELO: sim, Iago. serviu até de intermediário entre nós dois. Por quê? Vês algum problema
nisso? Ele não é honesto?

IAGO: honesto, meu senhor? Pelo que eu sei sobre ele…

OTELO: o que sabes, conte-me.


iago: sabes que só quero o seu bem, senhor, mas não poderei fazer algo que não se exige que
os escravos façam… e sobre Desdêmona: não te preocupas que como ela enganou o pai, pode
enganar-te? (Otelo fica abalado, pensativo, mas disfarça)

OTELO: Desdêmona é virtuosa, apesar disso. bom, mas retire-se agora, Iago. se souber de
algo, me diga.

(entram Desdêmona e Emília)

DESDÊMONA: Otelo, a ceia está pronta. Sua voz está fraca? Está triste?

OTELO: é uma dor de cabeça.

DESDÊMONA: aqui, deixe-me ajuda-lo.

(Desdêmona aproxima seu lenço do rosto de Otelo)

OTELO: não, seu lenço é muito pequeno. (Otelo empurra o lenço, deixando-o cair)

DESDÊMONA: sinto muito (Otelo e Desdêmona retiram-se)

(Emília entra e recolhe o lenço que ficou no chão e Iago a atormenta)


IAGO (se dirigindo a Emília): por que está tão quieta sua tagarela?
EMÍLIA: não tenho motivos para falar.
IAGO: não há mulher feia o suficiente e burra na medida certa que não consiga ser tão quente
como a dama mais bela e esperta. Ora, ora, mas esse lenço não foi o primeiro presente que
mouro deu à sua amada? Me dê isso.

EMÍLIA: o que você vai me dar em troca? Já me pediu para roubar esse lenço várias vezes. 0
que vai fazer com ele?

(Iago tira o lenço da mão de Emília)

IAGO: te interessa? Finja que não sabe de nada. agora saia.

(Emília sai)

IAGO: agora vou perder esse lenço no alojamento de Cássio e depois irei encontrá-lo. (Sai
com o lenço)

(Entra Cássio na rua com o lenço, que observa com curiosidade)

NARRADOR: Ao encontrar o lenço de Desdêmona em seu alojamento, Cássio ficou


intrigado sem saber de onde tinha saído aquele interessante objeto e resolveu entrega-lo a
Bianca, uma prostituta de quem era amante.
BIANCA: Cássio!

Cássio: como você está? Estava pensando em visitar sua casa.

BIANCA: fui visitá-lo em seu alojamento, mas não lhe encontrei.

CÁSSIO: oh, doce Bianca, pegue,(lhe entrega o lenço de Desdêmona) faça uma réplica desse
lenço.

BIANCA: de quem é? É de outra amiga sua? Então terminamos assim?

CÁSSIO: deixe de ciúmes, não sei de quem é, achei em meu alojamento. Achei o bordado
bonito, então antes de devolver ao dono gostaria de que fizesse um igual. Agora, me deixe só.

BIANCA: por quê? acabei de chegar.

CÁSSIO: tenho assuntos para tratar com a esposa do general.

BIANCA: tudo bem, devo curvar-me às circunstâncias. Se ainda quiser jantar em minha casa,
pode ir.

(Bianca sai. Cássio sai. Entram Iago e Otelo)

OTELO: Está insinuando que minha esposa é falsa comigo?

IAGO: ah, chega desse assunto!

OTELO: eu teria sido feliz se todo o quartel tivesse experimentado dela, desde que eu não
soubesse.

IAGO (sussurrando): corno maldito...

OTELO: me dê uma prova ocular de que ela é uma rameira (Otelo agarra Iago pelo
pescoço) se estiver me enganando...

IAGO: Deus é testemunha de que apenas falei a verdade para o senhor.

OTELO: fornece-me uma razão concreta da infidelidade da minha esposa.

IAGO: o senhor não viu que ela sempre anda com um lenço de moranguinhos?

OTELO: sim, eu mesma a presenteei com o lenço.

IAGO: ontem vi Cássio enxugar a barba com ele.

OTELO: maldito seja!

IAGO: e se eu lhe disser que Cássio se deitou...


OTELO: com ela?

IAGO: com ela, sobre ela, como você quiser.

OTELO: ah meu Deus! (sai apressado da cena com as mãos na cabeça) um homem com
chifres, é um monstro, um animal! (diz Otelo com as mãos na cabeça). Ele confessou?

IAGO: preste atenção: Cássio esteve aqui e o chamei para retornar, se esconda e apenas ouça
a zombaria, o tom de escárnio, farei ele contar tudo.

OTELO: está certo, farei como disse.

(Otelo sai e se esconde. Entra Cássio, que se junta a Iago.)

IAGO: agora questionarei Cássio sobre Bianca e farei Otelo pensar que seu tenente está
falando de Desdêmona.

IAGO: assedie Desdêmona sem descanso, e o senhor pode ter sua questão resolvida. Agora
se a questão fosse defendida por Bianca a questão teria sido resolvida rapidamente!

CÁSSIO: ai de mim! aquela pobre infeliz! (Cássio fala rindo e Otelo fica escutando.
ATENÇÃO! CÁSSIO TIRA O LENÇO DO BOLSO E OTELO VÊ)

IAGO: nunca vi uma mulher que amasse tanto um homem.

CÁSSIO: pobre coitada, penso que ela me ama mesmo (fala rindo novamente)

IAGO: boatos de que o senhor vai desposá-la.

CÁSSIO: ela esteve aqui ainda agora, me persegue como se fosse minha sombra, se pendura
em mim, estremece o corpo e me afasta dela! bem, preciso deixar de vê-la. (fala rindo
novamente) Agora preciso ir, meu amigo, tenho que falar com Desdêmona sobre minha
situação (Cássio sai, Otelo sai de seu esconderijo e tenta correr atrás dele, mas Iago o
segura)

OTELO (com raiva): como devo matá-lo??

IAGO: o senhor viu o lenço?

OTELO: aquele era o meu? Eu poderia passar nove anos assassinando Cássio!

IAGO: vamos, esqueça isso.

OTELO: que seja enforcada! Eu digo o que ela é: uma meretriz! Vou cortá-la em pedacinhos
por fazer de mim um corno! Me arranje algum veneno.

IAGO: veneno, não! Estrangule-a em sua cama. Do desaparecimento de Cássio, cuido eu. O
senhor terá notícias meia-noite. (Saem Otelo e Iago)
CENA III

NARRADORA: Enquanto isso, Desdêmona procura, sem sucesso, o lenço com que o marido
lhe presenteara, sem sequer suspeitar da terrível trama de que estava sendo vítima (Em casa,
estão Emília e Desdêmona, que procuram o lenço)

DESDÊMONA: aonde posso ter perdido esse lenço, Emília?

EMÍLIA: não faço ideia, madame. Olhe, o mouro vem aí.

(Otelo entra. Seu semblante é frio)

DESDÊMONA: como está agora, meu bem? (tenta abraçar o marido que se esquiva)

OTELO (cochichando): dissimulada... (falando alto) bem, e você minha senhora?

DESDÊMONA: bem, meu amor.

OTELO: me dê sua mão (pega a mão de Desdêmona) estão úmidas.

DESDÊMONA: me fale agora: e sua promessa?

OTELO: que promessa?

DESDÊMONA: já pedi para avisarem Cássio que quer falar com ele.

OTELO: meu nariz está escorrendo, empresta-me teu lenço.

DESDÊMONA: aqui está.

OTELO: o que foi presente meu.

DESDÊMONA: não o tenho aqui.

OTELO (suspirando): que pena, minha mãe ao morrer me deu e disse que eu deveria dar a
minha esposa. por isso te peço, cuida bem dele.

DESDÊMONA: por quê está falando tão irritado?

OTELO: me diga, você perdeu o lenço?

DESDÊMONA: não, mas e se tivesse perdido?

OTELO: o que está dizendo?

DESDÊMONA: estou dizendo que ele não está perdido.

OTELO: vá buscá-lo, quero ver.


DESDÊMONA: vamos mudar de assunto, falemos de Cássio...

OTELO: o lenço, já falei.

DESDÊMONA: um homem que valoriza sua amizade mais do que tudo, e...

(Otelo interrompe Desdêmona)

OTELO: já chega!

(Otelo sai)

EMÍLIA: e a senhora diz que ele não é ciumento? Olhe, senhora, Cássio está vindo conversar
com a senhora

(entra Cássio)

DESDÊMONA: que novidades você traz querido Cássio?

CÁSSIO: venho falar com a senhora porque não gostaria que a minha questão fosse adiada.

DESDÊMONA: também não gostaria que fosse adiada, mas meu marido anda muito estranho
ultimamente.

CÁSSIO: ele está zangado?

DESDÊMONA: ele saiu ainda agora muito inquieto. Ele deve estar zangado por causa do
trabalho. Mas falarei com ele em defesa de sua causa.

CÁSSIO: muito obrigada, minha senhora.(Cássio se retira na mesma hora em que Otelo está
chegando com Iago)

NARRADORA: Chegando em casa, Otelo é surpreendido por Ludovico, que noticia ao


general uma mudança de cunho político.

LUDOVICO: general, trago notícias do Doge. Ele manda avisar que o senhor deve retornar
para Veneza, que Cássio irá lhe substituir como governador de Chipre.

DESDÊMONA: fico contente.

OTELO: fico contente que esteja contente!

DESDÊMONA: ora, meu doce Otelo. (Otelo dá uma bofetada em Desdêmona, deixando
Ludovico horrorizado. Chorando muito, Desdêmona vai para seu quarto)

LUDOVICO: é esse quem chamam de nobre mouro? Bater na esposa? Estou pensando que
me enganei sobre ele. (Ludovico sai).

(Entra Emília)
OTELO: Emília, me responda: já vi algo suspeito entre Cássio e Desdêmona?

EMÍLIA: nem vi, nem ouvi, nem suspeitei.

OTELO: contudo viu os dois juntos, Desdêmona e Cássio.

EMÍLIA: mas nunca vi nada de mal nisso.

OTELO: peça a ela que venha até aqui.

(Emilia vai buscar Desdêmona)

DESDÊMONA: meu amado, o que desejas?

OTELO (Para Emília): Saia e se alguém se aproximar, me avise.

(Emília sai)

OTELO: olhe nos meus olhos e responda: quem é você?

DESDÊMONA: sua esposa.

OTELO: você é falsa como o diabo.

DESDÊMONA: como sou falsa?

OTELO: saia da minha frente!

DESDÊMONA: que pecado eu cometi?

OTELO: é uma meretriz!

DESDÊNOMA: sou uma mulher cristã! Uma alma que encontrará salvação!

OTELO: será isso possível?

DESDÊMONA: que os céus nos perdoem!

OTELO: nossas relações estão terminadas! Peço a senhora que guarde em segredo o que fez
comigo. Agora se recolha agora, está na hora de dormir, só irei caminhar um pouco. Dispense
sua empregada quando estiver pronta.

DESDÊMONA: assim será feito meu esposo.

(Otelo sai, Desdêmona chora e Emília a consola)

EMÍLIA: que problema a aflige, minha senhora?


DESDÊMONA: não fale comigo, Emília, não consigo nem chorar e não tenho respostas. Por
favor, me ajuda e me arrumar e chame meu marido aqui. Ele disse para lhe dispensar quando
estivesse pronta. Vamos logo, não quero contrariá-lo. (Emília ajuda Desdêmona a tirar os
sapatos e as joias)

DESDÊMONA: boa noite, Emília.

EMÍLIA: boa noite, senhora.

(Emília sai e Desdêmona dorme em sua cama sozinha)

CENA IV

NARRADORA: Enquanto isso, Iago manipulava Rodrigo para concretizar seu plano de
vingança contra Cássio (na rua, conversam Cássio e Rodrigo)

RODRIGO: não tem agido de forma justa comigo.

IAGO: qual é a reclamação?

RODRIGO: quando terei Desdêmona? Gastei todo meu dinheiro comprando joias para ela e
você me disse que ela recebeu e nada de encontro até agora.

IAGO: ponha em prática o plano. Eles vão se mudar logo, mas eles permanecerão se
acontecer algo com Cássio que o impeça de assumir o cargo de governador.

RODRIGO: você quer que eu o golpeie na cabeça?

IAGO: sim, ele ainda não sabe de sua promoção. Irei encontrar-me com ele e depois ajudo
você.

RODRIGO: ainda quero escutar mais motivos sobre o por que de estarmos fazendo isso.

IAGO: e escutará. agora vamos.

(Sae Iago)

NARRADOR: DESCONFIADO DAS INTENÇÕES DE IAGO, RODRIGO ESCREVE


UMA CARTA E A GUARDA EM SEU BOLSO.

(Rodrigo sai)

FIM DO ATO II

ATO III

CENA I
NARRADOR: DO LADO DE FORA DA CASA DE BIANCA, IAGO SE PREPARA PARA
A EXECUÇÃO DE SEU PLANO JUNTO COM RODRIGO

IAGO: se esconda, logo ele aparecerá. Empunhe o seu bom espadim e o acerte em cheio. Não
tenha medo, estarei ao alcance do seu braço. (Cássio e Rodrigo se escondem).

IAGO: Se ele matar Cássio ou se Cássio matá-lo, eu ganho de qualquer jeito.

(entra Cássio, sendo surpreendido por Rodrigo)

RODRIGO: conheço esses passos, agora você morre. (dá uma estocada em Cássio)

CÁSSIO: meu casaco é melhor do que pensava, testemos o seu agora. (Cássio dá uma
estocada em Rodrigo, que morre, Iago chega por trás e dá um golpe nas pernas de Cássio e
foge. Otelo entra rapidamente)

OTELO: oh, meu leal Iago! cumpriste sua tarefa em matar este traidor, agora me
encarregarei da outra víbora. (Otelo sai, Cássio grita por socorro)

CÁSSIO: Socorro, alguém me ajude. Minha perna está muito machucada (entram Ludovico e
Graciano que o ajudam)

GRACIANO: Oh, tenente Cássio!O que aconteceu?! (Ludovico e Graciano saem


carregando Cássio, mas antes pegam uma carta que está no bolso de Rodrigo)

CENA II

( Otelo chega o quarto de Desdêmona, que dorme em sua cama)

OTELO: me parte o coração, mas ela deve morrer, para que não traia mais homens. contudo,
não derramarei sangue, nem deixarei marcas em sua pele. (aproxima-se de Desdêmona e
beija-a)

DESDÊMONA: é você, Otelo?

OTELO: sim, já fez suas orações?

DESDÊMONA: já, meu amor.

OTELO: nenhum pecado que cometeu passa pela sua cabeça?

DESDÊMONA: por quê está dizendo isso?

OTELO: se arrependa logo, eu não mataria teu espírito despreparado.

DESDÊMONA: como assim matar?

OTELO: sim, matar.


DESDÊMONA: que os céus tenham piedade de mim.

OTELO: é o que eu desejo.

DESDÊMONA: então espero que não me mate.

OTELO: pensa em teus pecados.

DESDÊMONA: qual o problema, Otelo? me diga.

OTELO: o lenço que lhe dei, entregaste para Cássio, e por isso morre.

DESDÊMONA: por Deus, eu nunca amei Cássio! Nem dei nada a ele!

OTELO: por Deus, eu vi meu lenço na mão dele. Mulher falsa!

DESDÊMONA: ele deve ter encontrado, eu o tinha perdido. Deixe que ele fale a verdade.

OTELO: ele já falou que te usou.

DESDÊMONA: ele não diria uma coisa dessas.

OTELO: de qualquer forma, ele não falará mais, está morto.

DESDÊMONA (chorando): ele foi traído e eu arruinada!

OTELO: e ainda chora por ele na minha frente!

DESDÊMONA: me mande para o exílio, mas por favor, não me mate!

OTELO: não tem volta.

DESDÊMONA: deixe-me ao menos fazer minhas preces.

OTELO: tarde demais. (ele a asfixia)

(Emília bate na porta)

EMÍLIA: meu amo! Meu amo!

OTELO: quem está aí?

EMÍLIA: Aconteceu um assassinato terrível! Cássio matou rodrigo!

OTELO: então os dois estão mortos?

EMÍLIA: Cássio não morreu, está vivo. Onde está minha ama? (Emília chega perto de
Desdêmona) ah ,meu Deus! Ela está morrendo! Quem teve a coragem de fazer algo tão sujo?

DESDÊMONA (com a voz fraca): ninguém, eu mesma. Adeus. (Desdêmona morre)


OTELO: ao afirmar uma mentira, ela mesma se condenou ao inferno. eu apenas encaminhei
sua alma.

EMÍLIA: você é o demônio!

OTELO: demônio é ela, se não tivesse me traído com Cássio, ainda estaria viva. Iago foi o
único honesto, me falando sobre a deslealdade de Desdêmona.

EMÍLIA: ele mentiu do fundo de seu coração nojento. Desdêmona amou apenas você. És
indigno de tua esposa e indigno de merecer o céu.

(Otelo chora deitado na cama)

EMÍLIA: Ajudem, socorro! Esse monstro preto acabou de matar sua sobrinha! e tudo por
culpa de meu marido! (Entram Iago, Graciano e Ludovico, que trazem Cássio, que está
manco)

IAGO: contei a ele o que pensava, apenas.

EMÍLIA: falas-te que ela era desleal. Mentiroso! Mentiroso! Mentiroso!

IAGO: saia daqui e segure sua língua!

EMÍLIA: não me calo! tuas palavras causaram esse assassinato!

IAGO: ficou louca?

OTELO: é uma pena, no entanto, Iago sabe o que Desdêmona fez com Cássio, deu até meu
primeiro presente para ele como recompensa.

EMÍLIA: ah! o lenço! então por isso você ficava me pedindo o lenço! para espalhar essa
mentira!

(Iago avança com a intenção de apunhalá-la)

EMÍLIA: ela não presenteou Cássio com o lenço, eu o encontrei mas Iago tomou de mim.

IAGO: meretriz calhorda! (Iago apunhala Emília)

GRACIANO: animal, matou a própria esposa.

EMÍLIA(agonizando): deitem-me ao lado de minha patroa.

OTELO: seu mentiroso! Se tu fosses o diabo, não teria como matá-lo. (fere Iago, mas não
gravemente). Prefiro que vivas, para você a morte é motivo de felicidade.

LUDOVICO: como pôde acreditar neste patife, Otelo?

OTELO: sou um assassino honrado, nada fiz por ódio, fiz por minha honra.
LUDOVICO: vocês planejaram juntos a morte de Cássio?

OTELO: sim.

CÁSSIO: jamais lhe dei motivos.

OTELO: e por isso peço que me perdoe.

LUDOVICO: encontramos duas cartas nos bolsos de rodrigo, uma delas disse que ele ficou
responsável pela morte de Cássio, a outra diz que Iago o instigou a provocar Cássio naquela
noite que ele foi destituído de seu posto.

OTELO: maldito seja! Então Cássio, como estava com o lenço de Desdêmona?

CÁSSIO: encontrei-o em meu alojamento, e o próprio Iago confessou que colocá-lo lá fazia
parte de seu plano.

OTELO: como pude ser tão tolo?

LUDOVICO: você deve nos acompanhar agora, você foi destituído de seu cargo e agora
Cássio governa Chipre.

OTELO: esperem: Tenho uma outra arma neste quarto, só me resta usá-la. Não esqueçam de
falar sobre o homem que amou demais, com sabedoria de menos. Beijei-a antes de matá-la,
agora, morro depois de beijá-la. (Otelo se apunhala)

LUDOVICO (para Iago): olha o que você fez, seu maldito! Olhe bem para essa cama! Isso é
tudo culpa sua!

NARRADOR: depois da tragédia, Graciano ficou com a casa do mouro e seus bens. A
punição de Iago ficou como responsabilidade do novo governador de Chipre, Cássio, tenente
do mouro de Veneza, que, como já dito, amou demais com sabedoria de menos.

FIM DO ATO III

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