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autor
Pedro Félix
Agrupamento Vertical de Escolas Dra. Laura Ayres de Quarteira
Coordenação
Graça Lobo
Vítor Reia-Baptista
BRINQUEDOS ÓTICOS
Tal como o nome indica, os brinquedos óticos referem-se a um conjunto
de instrumentos mais ou menos lúdicos anteriores ao aparecimento do
cinema, que foram surgindo ao longo de vários séculos e que também
tinham um carácter científico porque criavam ilusões visuais.
2
Fazer o tambor onde se recortam
umas ranhuras com uma distância igual.
Pode ser feito em cartolina ou
reutilizar-se uma caixa cilíndrica.
3
Na base do tambor deve-se colocar
uma vareta (de madeira ou metal)
presa no centro, para fazer de eixo
e rodar o Zootrópio.
PRAXINOSCÓPIO
Este ‘brinquedo’ começou por ser uma pequena alteração
do anterior Zootrópio. Em vez de se olhar através de
ranhuras colocadas no face cilíndrica, o espectador vê o
movimento das imagens num jogo de espelhos colocado no
interior do objecto. O número de espelhos é igual ao das
ilustrações. Assim, as imagens ficavam mais nítidas, porque
as ranhuras causam um ligeiro desfoque. Isto fez com que o
interesse pelo zootrópio fosse gradualmente diminuindo.
As posteriores alterações passaram pela inclusão de
cenários em miniatura por onde o espectador podia
espreitar e a associação com um projector (Lanterna
Mágica).
HISTÓRIA
Émile Reynaud foi um inventor, artista e também um
‘entretainer’. Em dezembro de 1877 patenteou um
aparelho que baptizou de Praxinoscope. Começou por
produzir comercialmente a sua invenção tendo recebido
uma Menção Honrosa em 1878 na Exposição de Paris. No
ano seguinte criou o Teatro praxinoscópio (v. ilustração ao
lado) e seguiu-se o praxinoscópio de projecção onde, com
o auxílio de um lampascópio, conseguiu projectar
desenhos animados em tiras maiores
que permitiam apresentar histórias
que duravam entre 8 e 15
minutos. Em Dezembro de
1888 patenteou o Teatro
Óptico e, a partir de 1892 fez
um acordo com o Museu
Grévin para apresentar e
explorar comercialmente a
sua invenção. As primeiras
Pantomimas Luminosas
foram: “Pauvre Pierrot”
(com 500 desenhos), “Clown
et ses chiens” (500 desenhos)
e “Un bom boc” (700
desenhos).
FLIP-BOOK e MUTOSCÓPIO
O Flip-Book é um livro de pequenas dimensões com um O Mutoscópio segue o mesmo princípio do Flip-Book,
conjunto de imagens (em desenho ou fotografia) que contendo uma sequência de fotografias, mas estão
variam ligeiramente de página para página. Quando se colocadas ao longo do perímetro de um tambor. Ao fazer
desfolha rapidamente o livro, as imagens criam um efeito rodar este tambor, as páginas sucedem-se permitindo a
de animação, como se se movessem. ilusão de movimento. O Mutoscópio não necessitava de
Tal como outros brinquedos ópticos, baseia-se no princípio uma fonte de iluminação e os espectadores controlavam o
da “persistência retiniana” para dar uma noção de ritmo ao rodar a manivela e podiam também rodar no
movimento. Esta ilusão só funciona se as páginas mudarem sentido inverso vendo a história ao contrário.
muito rapidamente.
O modo mais comum de ‘ler’ um Flip-Book é segurar o livro
numa mão e desfolhar rapidamente (usando o polegar da
outra mão).
HISTÓRIA
O primeiro Flip-Book (inicialmente chamado
“Kineograph”) surgiu em 1868, e foi a primeira forma de
animação de imagens a usar uma sequência linear,
substituindo a sequência circular dos outros instrumentos
ópticos. Os Flip-books tiveram bastante divulgação,
funcionando também como artigos de marketing para
publicitar os mais variados produtos.
Em 1895, Herman Casler patenteou uma forma mais
complexa, montando as fotografias num cilindro rotativo
dentro de uma caixa, por onde o espectador espreitava,
depois de introduzir uma moeda (tal como no cinescópio
de Edison). Este aparelho de diversão foi denominado
“Mutoscópio” e manteve-se muito popular até meados do
século XX. Nos finais deste ano foi instalado um sistema de
espelhos no Mutoscópio permitindo a
projecção de imagens fotográficas
animadas. O resultado foi um novo
instrumento chamado
Biógrafo. Um grupo de
inventores fundou em 27
de Dezembro de 1895 a
American Mutoscope
Company.
da FOTOGRAFIA ao CINEMA
A fotografia foi determinante para o aparecimento do
cinema não só por questões técnicas: a película é o suporte
onde são registadas as imagens e a câmara fotográfica está
na génese da câmara de filmar, mas também por questões
estéticas: a influência dos enquadramentos fotográficos
para a escala de planos, ou ainda questões temáticas: as
vistas dos primeiros filmes de actualidades têm um óbvio
sentido documental.
Fotografia de Marey da
trajectória do movimento de
uma pessoa a correr, ilustrando
o seu método gráfico.
1896
American Falls from above
American Slide
1896
Mess Call
pioneiros
Georges Méliès
Além de ser um dos primeiros realizadores da Méliès foi produtor, operador de câmara, autor e
história do cinema, Méliès notabilizou-se realizador dos seus filmes, e muitas vezes aparecia
pelo carácter inovador dos seus filmes, onde como actor principal. Antes de se dedicar ao
introduziu os efeitos especiais através de cinema, fazia exibições de magia no teatro Robert-
Houdin. Encontrava-se entre os primeiros espectadores
múltiplas exposições da película.
das sessões dos irmãos Lumiére no Grand Café,
tendo ficado fascinado pelo cinematógrafo, o que
o levou a instalar em 1897 um estúdio no quintal
da sua casa em Montreuil (num pavilhão
envidraçado).
Nasceu em:
Paris, 8 de Dezembro de 1861 Entre 1896 e 1914 realizou 531 filmes (com a
Faleceu em:
Paris, 21 de Janeiro de 1938 duração de 1 até 40 minutos). Estes filmes
caracterizavam-se por se aproximarem das ilusões
do teatro de magia, onde os objectos e as pessoas
apareciam ou desapareciam e mudavam de
dimensões. Criava histórias ficcionadas com o
recurso à montagem, onde as personagens
actuavam geralmente à frente de cenários
pintados. A película também era colorida à mão.
Palavras-chave
Videoclip do grupo Smashing Pumpkins Ficção
“Tonight Tonight” Magia
Este é apenas um dos exemplos de como os
Película colorida
filmes de Méliès continuam a influenciar
artistas e realizadores
Cinema e teatro
Filmagem em estúdio
Câmara fixa
Montagem em sequência
pioneiros ingleses
James Bamforth
Os pioneiros no cinema inglês estão ligados aos primeiros ensaios do cinema James Bamforth fundou em
1870, em Holmfirth,
mundial ainda antes das projecções dos irmãos Lumière. Yorkshire, uma empresa
São disso exemplo as experiências com película de William Friese-Greene que se dedicava à
em Londres, ou a câmara com filme de 35 mm de Robert W. Paul e construção de placas
Birt Acres em Fevereiro do 1895. fotográficas para lanternas
Os filmes do primeiro cinema nas ilhas britânicas mostram que mágicas e postais
ilustrados. Na transição do
alguns temas são comuns em vários países, e que o cinema século, iniciou uma pequena actividade de
já circulava no mundo ocidental. Mas, foi sobretudo na produção de filmes, na sua maioria remakes de
região de Brighton e Hove, no sul de Inglaterra, que outros filmes ou de actualidades. Depois de algum
surgiu o maior foco de inovação desta época. Os sucesso com a série Winky, a Bamforth and Co.
assuntos e modos de filmar de Williamson e deixou de produzir durante a primeira grande
guerra.
Smith foram seguidos por realizadores de
outros locais e ajudaram a criar novas
técnicas narrativas, desenvolvendo para visionar
a arte cinematográfica. The kiss in the tunnel 1899
YYYooorrrkkkssshhhiiirrreee
Fire 1901 The kiss in the tunnel 1899 Grandma’s reading Glass 1900
os irmãos Skladanowsky
Foi no Wintergarten em Berlim, situado na Martin Max e o irmão Emil acompanhavam o seu pai Carl em
Luther Strasse, que se realizaram as primeiras espectáculos itinerantes de instrumentos ópticos,
projecções de cinema para um público pagante. A 1 de principalmente com Lanternas Mágicas. Este interesse
Fevereiro de 1907, o jornal alemão Der Komet atribuiu pela projecção de imagens levou a que estudassem a
possibilidade de animar fotografias e no verão de 1892
a invenção do cinema a Max Skladanowsky iniciando
desenvolveram uma máquina de filmar e projectar
uma polémica com os jornalistas franceses sobre a utilizando a nova película de celulóide Kodak
data do seu início. inventada por Eastman. O Bioscópio (Bioskop) é um
Max Skladanowsky
Nasceu em: Berlim, 30 de Abril de 1863 dispositivo de projecção desenvolvido a partir das
Faleceu em: Berlim, 30 de Novembro de 1939 lanternas mágicas de dupla lente (biunial).
Skladanowsky utilizava duas tiras de película (de
54mm de largura), projectando alternadamente 16
fotogramas por segundo.
Em 1 de Novembro de 1895 (cerca de dois meses
antes dos irmãos Lumière) conseguiram finalmente
apresentar os primeiros filmes em Berlim
Wintergarten. Esta apresentação, que não durou mais
do que 15 minutos e que era composta por apenas 8
pequenos filmes, foi entusiasticamente recebida,
como foi descrito por um jornal local. Um mês depois,
em 21 de Dezembro, iniciaram-se as projecções em
Hamburgo e foi realizado um contrato para a sua
apresentação em Folies Bergere, Paris em Janeiro. Este
não se concretizou devido ao recente sucesso dos
irmãos Lumière, que em 28 de Dezembro de 1895
Eugen e Max fizeram a sua primeira apresentação pública do
Skladanowsky Cinematógrafo, um projector com um sistema mais
Palavras-chave
Para ver:
Bioscópio (projector de dupla lente)
1 de Novembro de 1895
(Berlin Wintergarten, Martin Luther Strasse)
1894
Beijo de John Rice – May irwin
1895 alguns acontecimentos históricos nas
Primeira projecção dos irmãos Lumière 1902 “Viagem à Lua” de Méliès
1896
Primeira projecção em Portugal de 1903 “The Great Train Robbery” de Edwin Porter
duas primeiras décadas do cinema
Aurélio da Paz dos Reis 1897
Incêndio no Bazar de Caridade em Paris Criação da Ford Motor Company
Aspirina Beyer 1899 1904 O primeiro carro Rolls Royce
Tratado de Windsor entre Portugal e Inglaterra 1899 1905 Revolta contra o Czar na Rússia
Feira Mundial de Paris1900 Primeiros Nickelodeons em Pittsburg
Dirigível do Conde Ferdinand von Zeppelin Teoria da relatividade de Einstein
Alemanha declarou
Guerra a Portugal
1910 Pintura de José malhoa “O Fado” 1916
Implantação da República em Portugal
Declaração de Guerra da Revolução Bolchevique
1912 Naufrágio Áustria-Hungria à Sérvia na Rússia
do Titanic (Primeira Grande Guerra) 1917
Cubismo1907 1914
Primeira sessão dos Films d’Art em Paris1908
manifesto futurista em Itália1909
Griffith começou a filmar em Hollywood, Califórnia
“O Abismo” do dinamarquês Urban Gad
A montagem consiste na organização dos fragmentos do filme Os primeiros filmes feitos pelos pioneiros europeus e norte-
segundo uma determinada ordem, de forma a criar uma americanos nos finais do século XIX não utilizavam a
montagem. A duração do filme dependia da quantidade de
história. Como no cinema se torna difícil se não impossível,
película que estava na bobine. Os seus autores chamavam-
relatar situações reais ou ficcionadas em tempo real, foi lhes “vistas” porque filmavam quase como se estivessem a
necessário estabelecerem-se algumas regras para organizar as tirar fotografias, sobretudo de paisagem: os mesmos
imagens de forma a tornar essas histórias compreensíveis para enquadramentos e a câmara fixa. Quando se começaram a
o espectador. A montagem possibilitou o desenvolvimento do juntar diferentes filmagens para contar histórias, nasceu
também a ficção. Nesta fase inicial, destaca-se Georges
cinema e a criação dessas regras contribuiu para a construção
Méliès que nos seus filmes originais e cheios de fantasia,
de uma linguagem cinematográfica, fazendo com que o cinema deu um grande impulso para o sucesso do cinema. No
atingisse o estatuto de uma expressão artística. entanto, apresentava uma montagem linear limitando-se a
uma sucessão de planos de conjunto (semelhante a um
palco) e a câmara de filmagem estava fixa (tal como um
espectador na plateia de um teatro).
No início do século XX,
“A proximidade entre Dickens e os traços do cineasta no método, na forma,
surgiu em Brighton,
Inglaterra, um grupo de nas particularidades de condução e exposição do enredo, é realmente
fotógrafos que nos seus espantosa.
filmes introduziram E realmente talvez sejam estes traços, comuns a Dickens e a Griffith, os
grandes inovações na responsáveis por parte do segredo do enorme sucesso de ambos. Este sucesso
montagem e no modo de foi-lhes trazido não só pelos temas e assuntos, mas também pela forma de
filmar, através da
exposição e de escrita.
utilização de diferentes
pontos de vista (com a aplicação do plano de pormenor), O que significavam os romances de Dickens para o seu tempo?
nos movimentos de câmara com o “passeio fantasma” e, O que significavam eles para os seus leitores?
principalmente, alternando acções que acontecem em A resposta é a mesma:
lugares diferentes ao mesmo tempo. Nos Estados Unidos, Significavam o mesmo que agora significa o cinema para pessoas das
Edwin Porter, ao serviço dos estúdios de Thomas Edison mesmas classes.
fazia experiências semelhantes organizando os planos
Forçavam o leitor a viver o mesmo tipo de paixões, chamavam o leitor para
relativos a espaços distintos para criar uma continuidade
narrativa. Desta forma, o cinema distanciava-se o mesmo tipo de bondade sentimental, como nos filmes – para o mesmo
definitivamente do teatro, mas mantinha uma relação tremor ante os vícios, para a mesma fuga para o extraordinário, para o
muito próxima de uma narrativa literária. singular, para o fantástico, para a mesma fuga do aborrecido, do prosaico,
do quotidiano. E isto é feito com base no mesmo quotidiano e no mesmo
Mas foi David W. Griffith quem, a partir da segunda década prosaísmo.
do século XX, reuniu todas as experiências cinematográficas
Iluminada pelo reflexo proveniente das páginas dos romances, esta rotina
contribuindo para que se tornassem nas regras básicas da
forma de contar histórias com imagens em movimento: a começou a parecer romântica e, aborrecidas pela rotina do quotidiano, as
escala de planos, utilizando o grande plano e o plano pessoas ficavam agradecidas ao autor por este as incluir no grupo das
americano quando aproxima a personagem do espectador, figuras potencialmente românticas.
o flashback, a montagem alternada, o salvamento no último A atracção exercida pelos romances de Dickens é semelhante à que agora é
minuto, a definição dos ritmos no filme através da duração provocada pelos filmes. É daqui que surge o sucesso dos seus romances,
dos planos, etc.
igualmente arrebatador e extraordinário.”
Sugestões de visionamento: in “Dickens, Griffith e nós”, Sergei Eisenstein
“Grandma’s reading glass”, 1900 – George Albert Smith Este texto está incluído no catálogo publicado pela Cinemateca Portuguesa sobre D. W. Griffith em 2004.
“Fire”, 1901 – Williamson’s Kinematograph O texto original foi escrito em 1943 e editado no ano seguinte em Moscovo numa colectânea de textos sobre o cinema americano.
“Life of American Fireman”, 1903 – Edwin Porter
Ao sistematizar a montagem narrativa, Griffith criou as
bases da montagem que marcaram o período clássico de
Hollywood após o advento do sonoro e que estava assente
em códigos de raccord, onde se destacava o conceito de
corte invisível – a acção é contínua e fluida sem que o
espectador tenha a percepção do corte ou da mudança de
Quatro fotogramas da sequência final do episódio “A mãe e a lei”, de “Intolerância”, 1916.
Enquanto um grevista (Robert Harron) injustamente condenado à forca já se encontra no cadafalso, a sua noiva (Lilian Gish) tenta planos. Na narrativa clássica, a mais comum no cinema,
chegar a tempo de o salvar. Acentuando o suspense através do ritmo e da montagem alternada, Griffith aplica com mestria o conceito pretende-se o envolvimento do espectador, através de uma
de last minute rescue que iria ser muito aplicada no cinema narrativo americano.
fácil compreensão do encadeamento da história e de uma
lógica de continuidade de espaços e diálogos. A repetição
destas fórmulas levou à adesão do público em massa e ao
sucesso comercial.
cartazes
o NASCIMENTO de uma NAÇÃO
(EUA) 1915
Real: David Wark Griffith
n. 22, Janeiro, 1875, La Grange, Kentucky (EUA)
f. 23, Julho, 1948, Los Angeles
2.
Em 4 de Março de 1861, 11 estados do sul
recusaram pertencer à União e declararam a
secessão, formando os Estados Confederados
da América. A guerra começou quando tropas
confederadas atacaram o Forte Sumter na
Carolina do Sul. Iria seguir-se mais cinco
anos de guerra e quase 1 milhão de mortos.
fotografia de vítimas da guerra civil americana e capa da 1ª edição do livro de Thomas F. Dixon
INTOLERÂNCIA
(EUA) 1916
Real: David Wark Griffith
cartaz
EXPRESSIONISMO
O cinema expressionista alemão concentra-se sobre as
cartaz
NOSFERATU
(Alemanha) 1922
Real: Friedrich Wilhelm Murnau
PALAVRAS-CHAVE O filme “A Sombra do Vampiro” (2000) de E. Este filme é baseado no livro “Drácula” de Bram Stoker (1897),
Elias Merhige, apresentou uma reconstrução mas as personagens têm outros nomes porque a família do
Cenografia (jogos de luz e sombra) ficcionada do filme de Murnau. O actor Max
Personagens perturbadas escritor não autorizou que Murnau fizesse a sua adaptação para
Schreck era visto como um verdadeiro vampiro
Expressividade dos actores que Murnau contratara por amor à arte e à sua cinema. Já depois de estar em exibição, foi proibido e as cópias
Montagem alternada obsessão pela representação da realidade. Em mandadas destruir por uma acção judicial. Apesar de não seguir
troca, podia ir sugando o sangue dos outros completamente os padrões expressionistas (Murnau utiliza com
actores enquanto duravam as filmagens.
frequência a paisagem), o filme mantém uma atmosfera opressiva
e perturbadora. No final, quando Ellen se prepara para se
sacrificar às mãos (e dentes) do vampiro, apenas se vê a sombra e
não o próprio Conde Orlock a aproximar-se do quarto – é a
sombra do destino a que nunca ninguém escapa. Muitos outros
realizadores retomaram o tema do vampiro, como Tod Browning,
Para lá do cinema: Werner Herzog, ou Francis Ford Coppola.
No filme português “Corrupção” (2007) é usado um plano que faz uma clara referência ao filme de Murnau, quando a sombra
do vampiro Orlok (Max Schreck) ataca o indefeso Hutter (Gustav von Wangenheim) e depois Ellen (Greta Schöder)
TARTUFO HERR TARTÜFF
(Alemanha) 1926
Real: Friedrich Wilhelm Murnau
PALAVRAS-CHAVE
Trata-se de uma adaptação de “Tartufo” de Molière, uma crítica Escala e alternância de planos (grande plano)
mordaz das relações humanas assentes na hipocrisia e que usa o poder
Plano de pormenor
da religião para ascender socialmente. Conta com a presença do
grande actor Emil Jannings (vencedor do primeiro Óscar de Hollywood) Montagem paralela
vestindo a personagem do charlatão Tartuffe, um falso sacerdote e Montagem em continuidade (corte invisível)
hóspede que subjuga Herr Orgon para o roubar. Após várias tentativas
Elmire, a esposa de Orgon consegue desmascarar o hipócrita. Trata-se
de um filme dentro de um filme, uma vez que a história se inicia com
um jovem que propõe ao seu avô milionário que assista à projecção do
filme Tartufo para evitar que o seu mordomo fique com a herança.
Não sendo um dos filmes mais citados do realizador alemão, apresenta
mais uma vez personagens perturbadas muito comuns no
expressionismo. Murnau teve uma grande educação artística, que se
revela neste filme, nomeadamente na estrutura rítmico-musical da
abertura e fecho das portas à noite.
associação de imagens
entre o matadouro e o
massacre dos grevistas
o COURAÇADO POTIOMKIN
(URSS) 1925
Real: Sergei Eisenstein
Este filme contém uma das mais famosas cenas da história do PALAVRAS-CHAVE
cinema, relatando o episódio do massacre da escadaria de Montagem (das atracções e rítmica)
Odessa, após a rebelião do couraçado Potiomkin em 1905. Ao Cinema e propaganda
contrário de outros filmes soviéticos da mesma época, o herói da Angulação
revolução não é uma personagem, mas a multidão. A aparente Escala de planos
teatralidade marcada pela montagem também é acentuada pela
estrutura da narrativa em 5 actos. Por um lado, Eisenstein
colocava em prática as suas teorias sobre a montagem e a noção
de que o cinema seria “a mais importante das artes”, por outro,
transmitia uma mensagem sobre os ideais da revolução
bolchevique à população rural maioritariamente analfabeta,
recorrendo aos meios audiovisuais.
cartazes
OUTUBRO 1917
(URSS) 1927
Real: Sergei Eisenstein
cartaz
a GENERAL PAMPLINAS MAQUINISTA
(EUA) 1926
Real: Buster Keaton
nesta época os
mutoscópios ainda
permaneciam nas
diversões ambulantes,
apesar de o cinema já
ter mais de 30 anos
cartaz
TEMPOS MODERNOS
(EUA) 1936
Real: Charlie Chaplin
cartaz
MONTAGEM
A montagem narrativa e a afirmação do cinema
A montagem consiste na organização dos fragmentos do filme Os primeiros filmes feitos pelos pioneiros europeus e norte-
segundo uma determinada ordem, de forma a criar uma americanos nos finais do século XIX não utilizavam a
montagem. A duração do filme dependia da quantidade de
história. Como no cinema se torna difícil se não impossível,
película que estava na bobine. Os seus autores chamavam-
relatar situações reais ou ficcionadas em tempo real, foi lhes “vistas” porque filmavam quase como se estivessem a
necessário estabelecerem-se algumas regras para organizar as tirar fotografias, sobretudo de paisagem: os mesmos
imagens de forma a tornar essas histórias compreensíveis para enquadramentos e a câmara fixa. Quando se começaram a
o espectador. A montagem possibilitou o desenvolvimento do juntar diferentes filmagens para contar histórias, nasceu
também a ficção. Nesta fase inicial, destaca-se Georges
cinema e a criação dessas regras contribuiu para a construção
Méliès que nos seus filmes originais e cheios de fantasia,
de uma linguagem cinematográfica, fazendo com que o cinema deu um grande impulso para o sucesso do cinema. No
atingisse o estatuto de uma expressão artística. entanto, apresentava uma montagem linear limitando-se a
uma sucessão de planos de conjunto (semelhante a um
palco) e a câmara de filmagem estava fixa (tal como um
espectador na plateia de um teatro).
No início do século XX,
“A proximidade entre Dickens e os traços do cineasta no método, na forma,
surgiu em Brighton,
Inglaterra, um grupo de nas particularidades de condução e exposição do enredo, é realmente
fotógrafos que nos seus espantosa.
filmes introduziram E realmente talvez sejam estes traços, comuns a Dickens e a Griffith, os
grandes inovações na responsáveis por parte do segredo do enorme sucesso de ambos. Este sucesso
montagem e no modo de foi-lhes trazido não só pelos temas e assuntos, mas também pela forma de
filmar, através da
exposição e de escrita.
utilização de diferentes
pontos de vista (com a aplicação do plano de pormenor), O que significavam os romances de Dickens para o seu tempo?
nos movimentos de câmara com o “passeio fantasma” e, O que significavam eles para os seus leitores?
principalmente, alternando acções que acontecem em A resposta é a mesma:
lugares diferentes ao mesmo tempo. Nos Estados Unidos, Significavam o mesmo que agora significa o cinema para pessoas das
Edwin Porter, ao serviço dos estúdios de Thomas Edison mesmas classes.
fazia experiências semelhantes organizando os planos
Forçavam o leitor a viver o mesmo tipo de paixões, chamavam o leitor para
relativos a espaços distintos para criar uma continuidade
narrativa. Desta forma, o cinema distanciava-se o mesmo tipo de bondade sentimental, como nos filmes – para o mesmo
definitivamente do teatro, mas mantinha uma relação tremor ante os vícios, para a mesma fuga para o extraordinário, para o
muito próxima de uma narrativa literária. singular, para o fantástico, para a mesma fuga do aborrecido, do prosaico,
do quotidiano. E isto é feito com base no mesmo quotidiano e no mesmo
Mas foi David W. Griffith quem, a partir da segunda década prosaísmo.
do século XX, reuniu todas as experiências cinematográficas
Iluminada pelo reflexo proveniente das páginas dos romances, esta rotina
contribuindo para que se tornassem nas regras básicas da
forma de contar histórias com imagens em movimento: a começou a parecer romântica e, aborrecidas pela rotina do quotidiano, as
escala de planos, utilizando o grande plano e o plano pessoas ficavam agradecidas ao autor por este as incluir no grupo das
americano quando aproxima a personagem do espectador, figuras potencialmente românticas.
o flashback, a montagem alternada, o salvamento no último A atracção exercida pelos romances de Dickens é semelhante à que agora é
minuto, a definição dos ritmos no filme através da duração provocada pelos filmes. É daqui que surge o sucesso dos seus romances,
dos planos, etc.
igualmente arrebatador e extraordinário.”
Sugestões de visionamento: in “Dickens, Griffith e nós”, Sergei Eisenstein
“Grandma’s reading glass”, 1900 – George Albert Smith Este texto está incluído no catálogo publicado pela Cinemateca Portuguesa sobre D. W. Griffith em 2004.
“Fire”, 1901 – Williamson’s Kinematograph O texto original foi escrito em 1943 e editado no ano seguinte em Moscovo numa colectânea de textos sobre o cinema americano.
“Life of American Fireman”, 1903 – Edwin Porter
Ao sistematizar a montagem narrativa, Griffith criou as
bases da montagem que marcaram o período clássico de
Hollywood após o advento do sonoro e que estava assente
em códigos de raccord, onde se destacava o conceito de
corte invisível – a acção é contínua e fluida sem que o
espectador tenha a percepção do corte ou da mudança de
Quatro fotogramas da sequência final do episódio “A mãe e a lei”, de “Intolerância”, 1916.
Enquanto um grevista (Robert Harron) injustamente condenado à forca já se encontra no cadafalso, a sua noiva (Lilian Gish) tenta planos. Na narrativa clássica, a mais comum no cinema,
chegar a tempo de o salvar. Acentuando o suspense através do ritmo e da montagem alternada, Griffith aplica com mestria o conceito pretende-se o envolvimento do espectador, através de uma
de last minute rescue que iria ser muito aplicada no cinema narrativo americano.
fácil compreensão do encadeamento da história e de uma
lógica de continuidade de espaços e diálogos. A repetição
destas fórmulas levou à adesão do público em massa e ao
sucesso comercial.
1900-1909
1
1910-1919
900-1909
1910 Afgrunden (Din) Urban Gad
1913 Le Voyage de la famille Bourrichon (Fra) G. Méliès
1913 Quo Vadis (Ita) Enrico Guazzoni
1914 Cabíria (Ita)
1915 The Birth of a Nation (EUA) D. W. Griffith
1916 Intolerance (EUA) D. W. Griffith
1919 Broken Blossoms (EUA) D. W. Griffith
1919 Das Kabinett des Doktor Caligari (Alem) Robert Wien
GLOSSÁRIO CINEMATOGRÁFICO
Actor / Actriz
Elementos fundamentais na história porque têm o papel Bobina Cortina
CABÍRIA
de encarnar as personagens. No sistema clássico Rolos cilíndricos contendo a película enrolada vedada à Por vezes nos filmes mudos surgiam duas barras negras
americano, o star system foi essencial como estratégia luz. Cada bobina contém uma quantidade de película verticais à volta das imagens para destacar um pormenor.
publicitária para garantir o sucesso do filme, o que ainda equivalente a 20 minutos de filme. A cortina também servia para a transição de cenas
hoje acontece. quando se deslocava lateralmente criando uma mancha
Campo intermédia entre os planos.
Argumento Espaço visível no enquadramento (no rectângulo da tela).
Texto preparatório da história do filme. Difere do guião O campo também sugere um espaço ou uma acção fora Diegese
pela técnica de escrita. Há escritores que se dedicam dessa ‘janela’: o fora-de-campo. A narrativa que se desenvolve no filme. É o espectador
exclusivamente à escrita de argumentos. Os quem constrói o universo de ficção dos filmes, a partir da
argumentistas lidam essencialmente com cenas e Cena forma como são combinados os elementos (planos,
sequências (não com planos). É constituída por vários planos, ligados por uma ângulos, sons, etc.)
continuidade temporal e espacial.
Bioscópio Dolly
O Bioskop foi a máquina de projectar dos irmãos Cinematógrafo Plataforma com rodas ou sobre carris, onde se pode
Skladanowsky. Era constituída por duas lentes, por isso Do francês Cinematograph. Foi a máquina inventada por colocar uma pequena grua suportando o operador de
tinha que haver duas tiras de película, o que tornava o Auguste e Louis Lumière e apresentada em 28 de câmara e que permite maior mobilidade na filmagem.
processo mais complexo. A sua primeira apresentação Dezembro de 1895, em Paris, naquela que foi
pública foi em Berlin Wintergarten, em 1 de Novembro de considerada a primeira sessão pública de cinema. Duplo
1895. É provavelmente uma das profissões mais difíceis e
Corte perigosas no cinema. Consiste em substituir o actor
Banda Sonora Do inglês cut, que significa a transição entre planos principal nas cenas mais arriscadas. Actualmente em
Conjunto de elementos auditivos que compõem o filme: quando não há efeitos de ligação (fundidos, encadeados, muitas dessas cenas perigosas começa-se a recorrer à
diálogos, música, ruídos de ambiente, etc. etc.) computação gráfica.
Elipse criando imagens circulares rodeadas por uma mancha Montagem
Técnica narrativa muito usada no cinema que significa um negra indicando o início ou fim de uma sequência. Organização dos planos e dos sons segundo uma lógica
salto no tempo diegético, ou seja, cortam-se factos coerente definida na planificação e ajustada na pós-
temporais que não têm importância para a história. Género cinematográfico produção. No sistema americano o montador segue as
Refere-se a grupos de filmes com características orientações dos estúdios ou dos produtores. Em outros
Estúdios semelhantes ou códigos, que fazem com que o casos, o montador e o realizador trabalham em conjunto.
Espaços fechados de grandes dimensões onde se espectador reconheça o ambiente narrativo do filme
constroem cenários para simular outros espaços (histórico, dramático, romântico, de ficção-científica, etc.) Panorâmica
exteriores ou interiores (ruas, salas, etc). Os estúdios Movimento de câmara feito em torno de um eixo, como
permitem simular o tempo e a hora do dia, facilitando o Guião por exemplo quando a câmara está assente num tripé. Tal
trabalho da rodagem e reduzindo os gastos com a Como o nome indica é o texto que guia os elementos da como no travelling, a panorâmica permite acompanhar o
produção. Este método iniciado nos Estados Unidos com equipa durante as filmagens. É elaborado segundo movimento que se passa na cena ou apresentar um
o Black Maria (1892) e em França com o estúdio de códigos de escrita muito precisos para facilitar o trabalho espaço amplo quando a câmara não pode recuar.
Méliès (1897) deu origem aos grandes estúdios de dos actores e do realizador.
Hollywood pertencentes a companhias como a MGM, Plano
Paramount, Warner Bros., 20th Century Fox, e outras. Intertítulos Imagem que surge no enquadramento quando se filmam
Texto que surge durante poucos segundos entre os os takes ou quando se projecta na tela. Pode ter
Figurante planos, nos filmes mudos, para ajudar o público a diferentes escalas, consoante a distância da câmara ao
Os figurantes podem ser actores ou não, que não perceber melhor a história. Surgem sob a forma de assunto ou à personagem quando foi filmada. O plano
representam papéis determinantes na cena a não ser de diálogos ou pequenas indicações narrativas. pode ser mais aberto, quando se filma a grande distância
suporte à acção das personagens principais. (uma paisagem) ou mais fechado quando se filma um
Kinetoscópio (ou Cinetoscópio) pormenor.
Flashback Sistema de visionamento individual de imagens em
Processo narrativo utilizado para fazer recuar a história movimento inventado por William Dickson para a Edison Película
no tempo. É o contrário de Flash-forward. Co., que continha uma tira de película de 35mm. Tira de celulóide coberta de emulsão fotográfica, onde se
registam as imagens. As máquinas de filmar gravam 24
Fotograma Last minute rescue fotogramas por segundo. O formato mais usado é de
Cada uma das imagens gravadas na película. No cinema, Expressão inglesa que significa salvamento no último 35mm.
um segundo de filme corresponde a 24 fotogramas. minuto. Trata-se de uma técnica narrativa que visa
acentuar o suspense até ao limite. Plot
Íris Expressão inglesa cuja tradução em português é enredo e
É uma forma em círculo a partir do diafragma nas Mise-en-scène que se refere a situações ou eventos que definem a
objectivas das máquinas de filmar. O fechamento ou Expressão francesa que designa a colocação em cena dos narrativa.
abertura de íris era muito usado nos filmes mudos actores, objectos e iluminação, para definir como irão
surgir no enquadramento.
Ponto de vista subjectivo Rodagem Take
Quando a câmara se coloca no mesmo lugar da O mesmo que filmagem. Filmagem um excerto de uma cena, desde que a câmara
personagem. Como o espectador vê o mesmo que essa começa a registar as imagens na película até parar. A
personagem, parece que entra no universo do filme. Este Rushes quantidade de takes de uma cena define o seu ritmo.
efeito ajuda a prender a atenção do público. Termo inglês que designa as últimas filmagens reveladas
no set. Assim que estão disponíveis os rushes, muitas Travelling
Pós-produção vezes a equipa onde se inclui o realizador e o montador Movimento de câmara feito geralmente sobre carris,
Corresponde à fase de execução de um filme posterior às avaliam essas imagens com vista à preparação das pós- acompanhando o movimento dos actores ou de objectos
filmagens. Destina-se a concluir o processo, com a produção. Também pode ser necessário repetir cenas que rodeando-os (travelling circular), em paralelo (travelling
montagem e os efeitos especiais, preparando-o para a não ficaram bem filmadas. lateral) aproximando-se ou afastando-se (travelling para a
distribuição e exibição. frente ou para trás), para cima ou para baixo (travelling
Sequência vertical).
Pré-produção É constituída por uma ou várias cenas, que além da
Fase de planificação no processo de execução, anterior às relação temporal e espacial também tem uma unidade Trick-film
filmagens. temática com um princípio, meio e final definidos. Expressão inglesa que se refere a filmes de truques muito
comuns no primeiro cinema, nomeadamente nas
Produção Set paragens da acção e substituição da imagem, atribuídas e
Consiste em reunir as condições necessárias para a Local onde foram feitas as filmagens. muito exploradas por Georges Méliès.
execução do filme, envolvendo uma equipa “acima da Os trick-films estão na base dos efeitos especiais.
linha”, coordenada pelo produtor. A produção Sinopse
cinematográfica também pode ser considerada a fase Resumo do filme em que se apresentam as personagens, Voz off
intermédia que corresponde à acção de filmar. o tema e a história, mas que não revela a sua conclusão Equivale ao narrador no cinema. É quando se ouve a voz
para criar alguma expectativa. de uma personagem mas esta está fora de campo.
Profundidade de campo
Espaço nítido (ou focado) registado pela câmara de
filmar. Story-Board Zoom
Fase preparatória anterior às filmagens, que corresponde Efeito óptico de aproximação ou afastamento da cena
Raccord a um esquema em desenho dos vários planos que vão ser através da manipulação da objectiva e não do movimento
Ligação entre os planos que possibilita a continuidade utilizados. O story-board é muito útil porque facilita o da câmara. Por vezes é chamado de travelling óptico.
diegética. É a base da montagem do sistema clássico trabalho do realizador e da sua equipa, e até do
americano, também conhecido como montagem montador. Permite organizar melhor a ordem das
contínua. O espectador prende-se à história e não se filmagens, nem sempre coincidente com a montagem
apercebe dos cortes. Na Nouvelle Vague rompeu-se com final, mas ajudam a ganhar tempo.
o princípio de raccord, fazendo-se experiências de
montagem usando o jump-cut ou falso raccord.