Mundo Fantasmo

18/11/2023 18:42 Mundo Fantasmo
mais c4rlos4le@gmail.com Painel Sair
Mundo Fantasmo
Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde
o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão
sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
SÁBADO, 18 DE NOVEMBRO DE 2023

A NUVEM DE
HOJE 5003) O método científico e o absurdo (18.11.2023)
Primeira coletânea dos artigos

do MUNDO FANTASMO,
publicada pela Editora da
Universidade Estadual da
Paraíba (clique na imagem)
Arquivo do blog
▼ 2023 (105)
▼ novembro (6)
▼ nov. 18 (1)
5003) O método
científico e o
absurdo A Ciência pode ser vista como um conjunto de procedimentos que se
(18.11.2023) vigiam e se corrigem mutuamente. Um desses procedimentos, por
► nov. 15 (1) exemplo, é a experimentação direta: não adianta conceber a
hipótese mais fascinante; é preciso testá-la no mundo “daqui de
► nov. 12 (1)
fora”, fora dos livros, fora das palavras, fora das fórmulas.
► nov. 09 (1)
► nov. 06 (1) Outro procedimento é o da diversidade de observadores: o
► nov. 03 (1) resultado que eu obtive deve ser o mesmo que é obtido por outros
► outubro (10)
observadores. Uma coisa que somente eu percebo não pode ser
base científica para nada.
► setembro (10)
► agosto (10) Outro procedimento que a Ciência emprega, e nisto se faz parceira
► julho (10) da Filosofia, é o emprego de conexões lógicas entre os fatos. Aqui é
► junho (10) um terreno mais escorregadio, porque os filósofos têm o hábito
(muito saudável, aliás) de procurar brechas e inconsistências nos
► maio (10)
argumentos dos colegas. E, por isto mesmo, acabam produzindo
► abril (10) argumentos mais sólidos e precisos.
► março (10)
► fevereiro (9) A Lógica é um desses instrumentos, e serve de apoio às
investigações científicas. O silogismo é uma fórmula simples que
► janeiro (10)
todo mundo já viu por aí:
► 2022 (119)
► 2021 (121) a. Todos os homens são mortais.
► 2020 (122)
b. Ora, Sócrates é um homem.
► 2019 (119)
c. Portanto, Sócrates é mortal.
► 2018 (118)
► 2017 (105) Quando aplicadas à vida prática, estas fórmulas precisam
► 2016 (183) corresponder à verdade observável na vida prática. É neste ponto
► 2015 (314) que alguns espertos turvam as águas e nos forçam a aceitar
https://mundofantasmo.blogspot.com 1/43
► 2014 (315) resultados absurdos, simplesmente porque nos jogam no colo uma
► 2013 (313) premissa falsa... e nós não a questionamos :
► 2012 (317)
a. Todos os escritores são bêbados.
► 2011 (312)
► 2010 (981) b. Ora, Charles Bukovsky é um escritor.
► 2009 (750) c. Portanto, Charles Bukovsky é um bêbado.
► 2008 (710)
Parece verdade, mas infelizmente (ou felizmente) o ítem “a” não é
Quem sou eu uma verdade demonstrável.
Nessas demonstrações lógicas, é a forma que conta. Se cada

afirmação for factualmente correta, o raciocínio é sempre o
mesmo.
a. Todos os gugurinos são travões.

BRAULIO TAVARES b. Ora, o manipanso-mor é um gugurino.
Ver meu perfil completo c. Portanto, o manipanso-mor é um travão.
Minhas Fontes: O raciocínio é correto; pouco importa se os termos são absurdos.

Arts & Letters Daily
Esse bê-á-bá da Filosofia é essencial para o raciocínio científico.
Boing Boing Curiosamente, tem a ver com muitas proposições da Matemática,
Google Notícias que um dia alguém descobre e sistematiza sem saber para que
Grow A Brain serve (são meros cálculos numéricos ou geométricos), e cinquenta
Metafilter anos depois alguém descobre que esse tipo de raciocínio pode ser
aplicado com perfeição a partículas sub-atômicas ou a reações
Comprar livros: químicas.
Abebooks
O interessante dessas proposições é que elas dão espaço para uma
Amazon Books mistura totalmente incongruente (e divertida) entre o rigor
Estante Virtual filosófico e o nonsense. Se a relação entre os elementos é lógica,
Livraria Cultura não importa se os elementos em si são absurdos.
Pandora's Books
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abolicionismo (2)
absurdo (11)
Academia Brasileira de Letras Hubert Phillips (1891-1964), conhecido como “Caliban”, manteve
(1) durante anos algumas colunas de quebra-cabeças matemáticos e
Acaso (48) lógicos em publicações como o Daily Telegraph, New Statesman,
acrônimo (1) The Nation e outros. Muitos desses problemas foram reunidos no
acróstico (2) livro My Best Puzzles in Logic and Reasoning (New York: Dover,
Ademir Assunção (1) 1961).
Aderaldo Luciano (3)
Adérito Schneider (1) Entre eles está o divertido problema intitulado “Pickled Walnuts”,
adolescentes (4) que ele descreve como “um daqueles exercícios em inferência que
Adrian Lyne (1) tanto fascinavam Lewis Carroll”. É uma série de proposições (que
Adriana Lima (1) devem ser aceitas a priori como verdadeiras – ou seja, não há
Affonso Romano de trapaça) envolvendo situações e personagens meio surrealistas,
Sant'Anna (2) das quais pode ser extraída alguma conclusão lógica.
África (5)
Agatha Christie (22) Fiz uma tradaptação (tradução + adaptação) do problema,
agnósticos (9) mantendo o rigor das proposições.
Ahmet Hamdi Tanpinar (1)
Al Gore (1) · Cerveja Stella Artois é servida sempre nas reuniões
Al-Qaeda (1) sociais do Dr. Frankenstein.
Alain Resnais (8)
· Nenhum torcedor que não prefere o Barcelona ao Real
Alain Robbe-Grillet (8)
Alan Alda (1) Madrid pega, jamais, um táxi na Cinelândia.
Alan Garner (2) · Todos os morcegos sabem tocar sanfona.
Alan Moore (5)
· Nenhum animal pode ser registrado como enólogo se
Alan Spiegel (1)
Alan Turing (3) não levar consigo um iPhone.
Alan Vaughan (2) · Qualquer animal capaz de tocar sanfona pode ser eleito
Alastair Reid (1)
para o Clube dos Alquimistas Amnésicos.
Albert B. Lord (1)
Albert Band (1) · Somente animais registrados como enólogos são
Albert Camus (14) convidados para as reuniões sociais do Dr. Frankenstein.
Alberto Cavalcanti (1)
· Todos os animais que podem ser eleitos para o Clube dos
Alberto Cunha Melo (2)
Alberto Lattuada (1) Alquimistas Amnésicos preferem o Real Madrid ao
Alberto Manguel (3) Barcelona.
Alberto Moravia (1)
· Os únicos animais que saboreiam cerveja Stella Artois
Alberto Mussa (2)
albinos (1) são aqueles que a experimentam nas reuniões sociais do
Alceu Valença (1) Dr. Frankenstein.
Aldir Blanc (2)
· Somente animais que pegam táxi na Cinelândia levam
Aldo Locatelli (1)
Aldo Lopes (3) consigo um iPhone.
Aldous Huxley (4)
Alec Guiness (1) Qual a conclusão que pode ser extraída?
Aleijadinho (1)
Aleister Crowley (2) Quem quiser ver a versão original do problema, e a resposta, pode
Alejandro Amenábar (1) acessar aqui, e ver a “Solução ao Problema #43”:
Alejandro González Iñarritu
(1) https://gizmodo.com/theres-a-star-hiding-in-this-image-can-
Alejandro Jodorowsky (9) you-find-it-1724344803
Alejandro Ulloa (1)
O que significa isto, para além do lado de humor
Alejo Carpentier (1)
“lewiscarrolliano”?
Alex Cox (1)
Alex Madureira (2)
Significa que o pensamento científico, armado com os
Alexander Calder (1)
instrumentos da lógica filosófica, pode chegar a conclusões
Alexandre Dumas (6)
satisfatórias mesmo quando lida com elementos indefinidos,
Alexei Bueno (4) desde que essa ação de “lidar” tenha uma lógica própria, que essa
Alfonso Cuarón (2) lógica seja coerente, e que possa conduzir sempre aos mesmos
Alfred Bester (3) resultados, quando é seguida à risca.
Alfred Doblin (1)
Alfred Hitchcock (42) Grande parte da solidez no método científico (sempre, em casos
Alfred Jarry (2) assim, de-parelha com a filosofia) não depende da natureza dos
Alfredo Bosi (1) elementos que manipula, mas do rigor das regras dessa
Algis Budrys (1) manipulação. É como dizer: “Três laranjas mais cinco laranjas é
Alice Munro (1) igual a oito laranjas”. Não importa se são laranjas, abacaxis ou
Alice Sheldon (1) carburadores. Três mais cinco é igual a oito.
alienígenas (8)
Alison Entrekin (1)
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Andréa Mota (1) Postado por Braulio Tavares às 13:54 Nenhum comentário:
Andrei Biely (1)
Andrei Tarkovsky (7) Marcadores: ciência , Hubert Phillips , Lewis Carroll , lógica , matemática
Andrew Lang (1)
andróides (7)
Andy Warhol (8) QUARTA-FEIRA, 15 DE NOVEMBRO DE 2023
anedotas (9)
Angela Carter (3)
5002) Explicar o poema e a piada (15.11.2023)
Angélica Gorodischer (1)
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Anthony Horowitz (1)
Anthony Quinn (1)
antologias (8)
Anton Tchecov (1)
Antonio Barros e Cecéu (3) Dizem que Ava Gardner, numa visita social ao poeta Robert
Antonio Callado (4) Graves, disse a ele: “Sabe de uma coisa, Robert, eu não entendo
Antonio Cândido (9) poesia.” E ele, cavalheirescamente: “Minha querida, ninguém
Antonio da Mulatinha (1) espera que você entenda um poema, espera que você o desfrute.”
Antonio Dias (1)
Antonio Francisco (1) Isto bate um pouco com a afirmativa de Stanley Kubrick de que
Antonio Houaiss (1) um filme, idealmente, não deve ser compreendido, e sim
Antonio Marinho (2) desfrutado como se fosse uma peça musical.
Antonio Nóbrega (7) Quer dizer que um poema não deve ser examinado pelo nosso
Antonio Silvino (1) intelecto, pela nossa mente racional, analítica? Deve, sim; se
Antunes Filho (1) alguém inventar de dizer que não deve, aí é que a mente analítica
Anu Garg (1) se assanha toda para produzir interpretações.
apelidos (1)
Apichatpong Weerasethakul A questão é outra. Um poema não converge para uma explicação
(1) nítida e clara, como ocorre com um problema matemático. O
Apocalipse (7) poema espalha significados em várias direções, a cada leitura, e
Apolo (2) para cada leitor.
Apolônio Cardoso (1)
apotemnofilia (1) Interpretar (“explicar”) um poema é uma tarefa desnecessária mas
apropriartistas (1)
inevitável, porque somos uma civilização propensa a interpretar
tudo. Precisamos explicar tudo cujo sentido não é imediatamente
aquecimento global (6)
claro – uma chuva fora de estação, um bezerro que nasceu com
Aracaju (1)
duas cabeças, um carro novinho que deu o prego na BR, o
Araraquara (1)
comportamento bizarro de um técnico de futebol ou de um
Araripe Jr. (1)
político.
Argentina (4)
Ariano Suassuna (89) Ao ler um poema diante de uma classe com 40 adolescentes, um
Arievaldo Vianna (9) professor de literatura não consegue ficar o tempo inteiro
Arkádi e Bóris Strugátski (2) colhendo e comparando 40 impressões. Ele cede à tentação
Arly Arnaud (1) demasiado humana de matar a charada:
Armando Freitas Filho (1)
armas (6) – Este poema fala sobre a perplexidade do Homem diante
Armorial (6)
Arnaldo Antunes (1)
da falta de sentido de nossa civilização.
Arnaldo Jabor (1)
Arnaldo Saraiva (1) Soa tão plausível que desse momento em diante todas as leituras
Arnaut Daniel (2) do poema tenderão a passar por esta porta, e só por ela.
Arnold Bocklin (1)
arqueologia (5)
Uma das maiores armadilhas em que o leitor acaba caindo é a de
arquétipos (1)
achar que um poema tem uma “resposta certa”, uma “mensagem”,
um “significado único” que é preciso descobrir, como se fosse uma
arquitetura (8)
charada ou uma adivinhação.
arrependimento (1)
Arsène Lupin (9)
Uma adivinhação é algo assim:
Arte (107)
arte rupestre (1)
O que é, o que é: cai em pé e corre deitado?
artes plásticas (58)
Arthur C. Clarke (15) Resposta: a chuva.
Arthur Dapieve (1)
Arthur Laurents (1) Quem inventou essa adivinhação tinha esta resposta em vista, e
Arthur Machen (3) nesse caso, sim, podemos considerar que esta é a “resposta certa”.
Arthur Morrison (1)
Arthur Penn (3) Outras podem admitir mais de uma resposta-certa, e com isso
Arthur Quiller-Couch (1) servem de jogo de engana-engana.
Arthur Schnitzler (2)
Artur Azevedo (1)
Artur Omar (1)
Ary Lobo (2)
Ascenso Ferreira (3)
Asimov (9)
Assis Chateaubriad (2)
Assis Paraíba (1)
assombrações (16)
Astier Basílio (2)
astrologia (2)
astronomia (14)
Ataulfo Alves (2)
ateus (8)
Átila Almeida (2)
Atlântida (1)
Atlético Mineiro (2) (Trupizupe, o Raio da Silibrina, direção de Hermano
átomo (1) José, com Gilmar Albuquerque, Saint-Clair Avelar e
ator (10) Geová Amorim, 1979, Campina Grande)
Audrey Hepburn (1)
Augusten Burroughs (1)
Augusto de Campos (7) Na minha peça Trupizupe, o Raio da Silibrina (1979) vários
pretendentes vão à corte do Rei responder adivinhações, para
Augusto dos Anjos (34) conquistar a mão da princesa, mas ela é mal-humorada e não quer
Augusto Frederico Schmidt casar com ninguém.
(1)
Austrália (2) REI: Que entre o primeiro candidato!
autismo (7)
(ENTRA CANDIDATO 1)
auto-ajuda (7)
autobiografia (5) PRINCESA: O que é, o que é: quanto maior menos se vê?
autógrafos (5) CANDIDATO 1: A distância!
automóvel (11)
PRINCESA: Errado! É a escuridão. Cortem-lhe a cabeça!
avatares (2)
aviação (1) (CANDIDATO 1 SAI)
Avram Davidson (6) REI: Que entre o segundo candidato!
axé-music (1)
(ENTRA CANDIDATO 2)
Ayers Rock (1)
Azulão (1) PRINCESA: O que é, o que é: quanto maior menos se vê?
Azymuth (1) CANDIDATO 1: A escuridão!
B. R. Bruss (1)
PRINCESA: Errado! É a distância. Cortem-lhe a cabeça!
Babal Galvão (1)
Baden Powell (2)
Bahia (4) E por aí vai. O conceito de “resposta certa” pertence ao domínio da
baião (12) Matemática, da Lógica, da Ciência (de algumas Ciências), mas não
Bakunin (1) ao domínio da cultura popular ou da poesia.
Balzac (7)
bancos (7) O poema é um gerador de “imagens”, “melodias” e “idéias”
Bandeira Sobrinho (2) (fanopéia, melopéia e logopéia, nos termos usados por Ezra
bandidos (1) Pound), e quem o escreve tem consciência de estar apenas
Banksy (1)
desencadeando um processo nas mentes alheias.
Barack Obama (10)
Mal comparando, o poema é como um raio de luz. As mil-e-uma
Barbara Garson (1)
impressões sensoriais, emotivas e intelectuais que fervilham na
Barca dos Corações Partidos
mente do poeta são como um espectro de várias cores, que ele
(1)
consegue por fim sintetizar num raio único, de cor branca, onde se
Barroco (2)
contém tudo que estava em sua mente. Esse raio branco é o
Bartolomeu Campos de poema. E quando o poema é lido por uma pessoa, ele volta a se
Queirós (1) refratar em raios de várias cores, mas – isto é crucial – esses raios
Bashô (1) jamais serão idênticos aos que havia na cabeça do poeta.
basquetebol (1)
Batman (5)
Baudelaire (4)
Beatles (55)
Bebeto Abrantes (1)
bebida (20)
Bei de Túnis (1)
Bela Lugosi (2)
Béla Tarr (3)
Belarmino de França (1)
Belchior (1)
Beleza (7)
Belo Horizonte (5)
Ben Stiller (2)
Bené Fonteles (1)
Benjamin Black (1)
Assim como nossos olhos veem no mesmo arco-íris um arco-íris
Benjamin Christensen (1)
diferente do que as pessoas ao nosso lado estão vendo (porque o
Benjamin Legrand (1)
ângulo de incidência dos raios luminosos é diferente, mesmo com
Benjamin Péret (1) alguns centímetros de distância entre os olhos de um e os olhos do
Berilo Neves (1) outro), nossa leitura do mesmo poema é parecida mas nunca é
Bernard Wolfe (1) igual. Porque aquelas palavras despertam ressonâncias diferentes
Bernardo Bertolucci (1) em mim e em você.
Bernardo Wolfe (2)
Berthold Zilly (1) Um poema não conduz a um único significado, previsto (e
Bertolt Brecht (22) disfarçado) pelo autor. É um gerador de múltiplos significados –
Bertrand Russell (3) todos flutuando, é claro, no interior da “nuvem” de significados
bertsolaris (2) cabível nas palavras do texto. O poema não é uma casa-da-mãe-
best-seller (1) joana onde cada um lê o que bem entende.
Beto Brant (1)
Bezerra da Silva (1) Um poema é para ser sentido, desfrutado, saboreado,
Bíblia (9) experimentado com interesse, curiosidade, sem muita pressa de
“entender”, de “achar a resposta”.
bibliotecas (4)
Big Brother (9) Nem todo poema se presta a isso. A maioria dos poemas que eu
Bill Wyman (1) leio eu não desfruto muito, não porque “não compreenda o
Billie Holliday (1) significado”, mas, em geral, porque já li centenas de poemas muito
Billy Wilder (9) parecidos. Aquele ali, por mais benfeitinho que esteja, é agradável,
biografias (21) mas não me traz muita novidade. É uma lata de Coca-Cola a mais.
biologia (2)
Bioy Casares (14) Explicar um poema é um pouco como explicar uma piada. A gente
Bispo do Rosário (2) conta a piada. Algumas pessoas riem no final, outras não. Então a
Black Blocs (1) gente vai explicar a piada, o que já é, por definição, a confissão de
Blaise Cendrars (1) uma derrota. É como fazer uma carícia na parceira, ouvir dela que
Blake Crouch (1)
não sentiu absolutamente nada, e depois explicar-lhe
cientificamente por que deveria ter sentido alguma coisa. “Sheldon
blogs (5)
In Love.”
Bloomsday (3)
blues (8)
A emoção do poema e a graça da anedota dependem muitas vezes
Blues Etílicos (2)
de um voo mental, dependem da nossa capacidade de, num
Bob Bjarke (1)
segundo, repensar o que vinha sendo pensado e ver tudo com
Bob Brown (1) novos olhos, a partir de cada informação nova que chegou.
Bob Dylan (72)
Bob Shaw (1)
Bobby Fischer (2)
Bocage (1)
boemia (5)
BoingBoing (2)
bola de gude (1)
Bolívar Vieira (2)
Bollywood (1)
Bombaim (1)
bombeiros (1)
Bong Joon-ho (1)
Boris Schnaiderman (1)
Bóris Schnaiderman (1)
Boris Vian (1)
Bosch (2)
Bossa Nova (3)
Boston Dynamics (1)
Brad Pitt (1)
Bradley Cooper (1)
Braguinha (3)
Bram Stoker (5) Fazer isto é saltar de um pico-da-montanha a outro, sem descer ao
Brasil (122)
vale; mas o que chamamos “compreender” é filho do “explicar”,
Brasília (4)
que é por natureza uma atividade pedestre. Explicar requer um
avanço passo a passo, um reconhecimento cauteloso de cada
Breaking Bad (5)
pedaço de chão, como quem cruza uma floresta detendo-se a
Breno Silveira (1)
nomear e descrever cada árvore.
Brian Eno (4)
Brian Stableford (2)
Nem o poema nem a anedota resistem a esse desfibrar de uma
Brincante (1)
experiência que se supõe instantânea. Claro que uma explicação
brodagem (2) sempre deixa algum lucro atrás de si; mas é como explicar a água
Bruce Chatwin (5) fria a alguém que nela não mergulha a mão.
Bruce Mau (3)
Bruce Sterling (14) Ou explicar o que é o leite a um menino cego, como na anedota
Brueghel (1) antiga que li em Seleções.
Bruno Anselmi Matangrano
(1) Um Homem está passeando no parque, num dia de sol,
Bruno Ribeiro (1)
fazendo companhia a um Menino cego de nascença. O
Bruno Schulz (2)
Bryan Forbes (1) menino se queixa do calor e diz que gostaria de tomar um
Bryan Singer (1) copo dágua.
Budapeste (1)
Budd Schulberg (1)
budismo (1) Homem: Por mim, eu tomaria um copo de leite.
Budista Tibetano (10)
Buena Vista Social Club (2)
Menino: O que é leite?
Bule-Bule (1)
Bulwer Lytton (1)
burguesia (4) Homem: É um líquido branco.
burocracia (3)
Bush (6)
Menino: Líquido, eu sei o que é. Mas o que é branco?
Bússola Dourada (1)
Bussunda (1)
C. S. Lewis (4) Homem: É a cor das penas de um ganso.
Cabala (2)
cabaré (1)
caça (1) Menino: Penas, eu sei o que é. Mas o que é ganso?
Cacá Diegues (1)
Cachimbinho (1)
Homem: É uma ave do pescoço torto.
cachorros (1)
cães (1)
Caetano Galindo (1) Menino: Pescoço, eu sei o que é. Mas o que é torto?
Caetano Veloso (24)
café (3)
calidoscópio (1) O Homem, já impaciente, pega o braço do menino, estica-
calor (1) o, e diz: “Assim, seu braço está reto”. Dobra o braço do
Câmara Cascudo (9)
Menino, e diz: “E assim está torto”.
Camilo Castelo Branco (1)
Camões (3)
Campina Grande (127) Menino: Ah... Entendi o que é leite.
Campos de Carvalho (6)
Canadá (1) O problema da maioria das explicações, principalmente as de
Cancão de Fogo (1) poesia, é que tendem a se afastar cada vez mais da questão inicial.
Canção Fantástica (2)
cangaço (9)
Canhotinho (1)
canibais (1)
cantoria de viola (78)
Canudos (6)
capa de livro (7)
Capinam (1)
capitalismo (93)
capoeira (1)
caridade (3)
Cariri (3)
Carlos Alberto Azevedo (1)
Carlos Alberto Mattos (2)
Carlos Alberto Parreira (2)
Carlos Castañeda (1)
Carlos Drummond (92)
Carlos Emílio Corrêa Lima (5) Para explicar uma frase, o explicador propõe um conceito que não
Carlos Fernando (1) está visível no poema em si. Não está muito distante, também;
Carlos Fuentes (2) mas só em ser chamado a esclarecer alguma coisa ele já desloca o
Carlos Newton Júnior (5) centro da discussão um pouquinho para o lado. Um novo
Carlos Pena Filho (1) questionamento afasta esse centro ainda mais, e assim por diante.
Carlos Rennó (1)
Carlos Saldanha (1) O poema vai se distanciando no retrovisor, vai sumindo, e a
Carlos Sandroni (2) explicação vai produzindo novos e mais novos conteúdos, e em
Carlos Willian Leite (1) torno deles a discussão avança. Pode deixar algo positivo? Sem
Carlyle (1) dúvida. Mas o poema perdeu-se lá atrás, intacto.
Carmelo Ribeiro (1)
carnaval (9) E é isto que acontece com centenas, milhares de poemas que
Carol Reed (3) lemos desde a infância e a adolescência, enquanto ampliamos a
Cartola (2)
nossa capacidade de ler e de sentir. E jamais chegaremos a um
cartum (11)
ponto em que sejamos capazes de “entender” qualquer poema.
Ninguém chega – embora seja capaz de explicar tudo e mais um
Casa da Palavra (1)
pouco.
casamento (8)
Cassandra Rios (1)
Cassandra Veras (1)
Casseta e Planeta (1)
Castro Alves (3)
Catatau (2)
Catatu (1)
Cate Blanchett (2)
Catherine L. Moore (1)
Cauby Peixoto (1)
cavalo marinho (1)
Cavani Rosas (5)
caverna (1)
Cazuza (1)
Cecília Meireles (1)
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celular (5)
censura (14)
Cervantes (3)
cerveja (3)
César Vallejo (1)
Cesário Verde (1)
ceticismo (4)
cfartas (1)
Chacal (2)
Chacrinha (1)
Chan-wook Park (1)
chanchada (1)
charadas (4)
Charles Burns (2)
Charles Chaplin (7)
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Charles Fort (2)
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Chile (2)
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China Miéville (3)
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Chuck Berry (2)
Chuck Palahniuk (2)
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cidadania (1) Retratos Fantasmas (2023) pode surpreender o espectador que assistiu
cidades (35) Bacurau e espera do diretor Kléber Mendonça outro filme tipo guerrilha-
ciência (176) underground misturado com distopia-terceiromundista. Tem todo direito
Cientologia (2) de esperar – eu também esperava, de certo modo, porque gostei do perfil
cigarro (4) daquele thriller B de futuro próximo. E gostaria de ver outra especulação
Cine Babilônia (1) dele sobre as rebordosas localizadas da violência global.
Cine Capitólio (2)
Cineclube de Campina Grande Mas Retratos Fantasmas, meio documentário, meio autoficção, meio
(3) álbum de lembranças afetivas, deixa mais nítido outro veio na obra do
cineclubes (6) diretor. Uma obra rica, atual, que fala sobre o processo quase fatalista,
cinema (488) quase mecanicista, que faz as cidades crescerem, passando por cima do
que estiver na frente.
cinema brasileiro (65)
cinema francês (18) É um filme de amor ao cinema, de amor aos cinemas de rua, mas acima de
cinema inglês (1) tudo de amor à Cidade. Que no caso de Kléber é o Recife,
cinema italiano (11) inesquecivelmente fotografado, e emocionante para quem, como eu,
cinema japonês (1) conheceu na infância o São Luiz, o Trianon, o Art-Palácio, o Moderno. E
cinema paraibano (6) que, já cineclubista e crítico, conheci o Veneza.
cinema trash (1)
cinemas de rua (1) (Senti falta do meu querido Cinema de Arte Coliseu, em Casa Amarela,
circo (5) mas não se pode ter tudo, e o foco do filme é a área central do Recife. Vida
Cirque du Soleil (1) que segue.)
citações (1)
Clarice Lispector (12)
Cinema e Cidade se misturam na memória da gente. Quantas vezes
saíamos de Campina Grande de ônibus, à tarde, e quatro horas depois
Clark Ashton Smith (1)
desembarcávamos na rodoviária velha do Recife, e assistíamos todas as
Claude Lelouch (2)
sessões possíveis do mesmo filme (acertou quem disse Alphaville, quem
Cláudia Priscilla (1)
disse Blow Up, quem disse Cléo das 5 às 7).
Clayton Rawson (2)
Cleonice Berardinelli (1)
Dormíamos numa pensão qualquer, voltávamos para Campina na manhã
CLFC (2) seguinte, e à noite, nas escadarias do Colégio Estadual da Prata, “tinha
clichês (21) resenha”.
Clifford D. Simak (3)
clinâmen (1) O Cinema era uma cidade desconhecida ao alcance da nossa carteira, da
Clint Eastwood (1) nossa mesada ou salário-mínimo. Uma cidade que (não importa o nome
clones (5) que tivesse, Paris, Rio, Roma, Moscou) tornava-se apenas a cidade
Clotilde Tavares (8) costurada pela agulha daquela câmera que a percorria. A cidade construída
Coca-Cola (2) pelo filme só tinha existência nesse labirinto, que levava uma hora e meia
coco de embolada (1) para ser percorrido até o fim.
Código da Vinci (1)
Coelho Neto (8) Estas divagações me ajudam a focar a atenção no veio “cidade canibal” que
coincidências (20) atravessa praticamente todos os filmes de Kléber Mendonça. A cidade que
colagem (1) cresce sem parar, a cidade que engole a si mesma, alimenta-se destruindo
Cole Porter (1) as melhores partes de si mesma, e com isso produz novas partes – que os
colecionadores (7) desavisados jovens do futuro considerarão “as melhores” – tal como
colégio (22) aconteceu conosco.
Colégio Alfredo Dantas (2)
Coleridge (5)
Em O Som Ao Redor (2012), é o processo que faz a riqueza rural
Colin Wilson (15)
conquistada a poder de porrada adquirir latifúndios urbanos à beira-mar
(Boa Viagem, no caso), e depois vendê-los à Cidade, deixar-se comer pelas
Colombita (1)
beiras. E se submeter às vendettas da barbárie rural, porque, como diz o
colonialismo (10)
ditado, “quem bate, esquece, quem apanha, não”.
comédia (14)
cometa de Halley (2)
Em Aquarius (2016), a Cidade está se expandindo em plena euforia
comida (5) corporativa. O cafofo afetivo onde fomos criados precisa ser desocupado a
computador (35) poder de cheques e tapinhas nas costas. Sonia Braga representa o exército-
comunismo (14) Brancaleone dos que dizem (como eu): “Por que motivo um condomínio de
Conan Doyle (32) duas torres e 40 andares é mais necessário do que o oitão onde eu jogava
concretismo (5) bola?”.
Congonhas do Campo (1)
Connie Willis (3) Em Bacurau (2018), acontece uma inversão, porque aqui não se trata da
Conrad Veidt (2) Cidade Grande, e sim do seu oposto Tao-Te-King, a Cidade Pequena. A
Continente Multicultural (1) cidade que não luta para engolir, mas para não ser engolida. Sua violência
conto (317) não é predatória, é afirmativo-defensiva. Sua maneira de crescer é
contracapas (39) continuar do tamanho atual, sem permitir ser diminuída, vitimizada,
contracultura (9) predada, arrendada pelo Poder inescrupuloso para servir de feliz-campo-
contrainte (8) de-caça a sadistas estrangeiros.
Copa do Mundo (64)
cordel (69) A Cidade é essa coisa, um aglomerado que nunca se sabe ao certo se é
Cordwainer Smith (5) benigno ou maligno (falta uma ciência para isto), mas nesse crescer vai
Cormac McCarthy (4) passando por cima de tudo. Ou, como disseram Chico Science e a Nação
Cornell Woolrich (14)
Zumbi, “a cidade não pára / a cidade só cresce / o de cima sobe / e o de
coronavírus (1)
baixo desce.” Essas vozes ressoam em mim porque são as vozes do Recife,
a primeira metrópole que conheci, a primeira que me preocupou.
corpo (8)
corridos (1)
Existem mil instâncias de Poder envolvidas: prefeituras, câmaras
corrupção (5)
municipais, corpos legislativos, planos diretores, secretarias, entidades
Cortázar (58)
patronais, sindicatos, imprensa, ministério público, representantes da
Cory Doctorow (3)
sociedade civil... Esta mera enumeração já mostra que o processo é
cosmologia (5) coletivo, um tanto randômico, impulsionado por mil variáveis, influências
cowboys (1) locais ou globais. Não há uma mente central (boa ou má) coordenando
crianças (47) tudo. É um pouco como Formigas Carregando Folhas.
criatividade (48)
crime (115) Retratos Fantasmas vira sua câmera para mostrar um pequeno setor
criptídeos (1) desse processo. Mostra como a vida pessoal e a vida social se contaminam
criptografia (10) através do Cinema e através do Crescimento Urbano.
criptomnésia (1)
Cristhiano Aguiar (2)
Cristovam Buarque (2)
crítica cinematográfica (8)
crítica literária (33)
crônica (32)
Cthulhu (1)
Cuba (5)
cultura digital (214)
cultura informal (4)
cultura oral (21)
Curt Meyer-Clason (1)
curta metragem (1)
cyberpunk (12)
cyborgs (5)
Cyril M. Kornbluth (1)
É fascinante a Parte I do filme onde Kleber faz um resumo da sua história
D. H. Lawrence (3)
familiar e mostra o apartamento de sua família, onde inúmeras cenas de
D. Pedro II (2)
seus filmes foram concebidas ou rodadas. Vou ter que ver de novo os
Dall-E (2)
filmes originais para tentar separar uma coisa da outra. Sala, móveis,
Dalva de Oliveira (2)
quadros nas paredes, janela, paisagem, sons ambientes.
Damon Knight (8)
Dan Brown (5) Em certo momento me lembrei de quando assisti La Peau Douce (1964) de
Dan Simmons (1) François Truffaut, e soube que havia sido rodado no próprio apartamento
Daniel Abraham (1) onde ele morava na época. Me senti um voyeur, me senti um leitor de
Daniel Clowes (1) Caras torcendo o nariz diante de alguma reportagem sobre casal roqueiro:
Daniel Dantas (2) “Que cafona, esse sofá... Mas aquela gravura na parede é bonitinha.” É
Daniel Defoe (2) grande a facilidade com que a ficção nos seduz e o documentarismo nos
Daniel Galera (2) desencanta.
Danny Boyle (2)
Dantas Suassuna (1) Por mais que a gente (=espectador) tente separar a vida do artista e a arte
Dante (2) do artista, é o próprio artista o primeiro a fracassar neste projeto. A arte
Dantinhas Vilar (1) não é reflexo, cópia ou imitação da vida pessoal – é consequência, apenas.
Daphne du Maurier (2) “Apenas”.
Darcy Ribeiro (4)
Dario Argento (1) Muita gente deixaria de incluir inúmeras imagens ou sequências que
Darren Aronofsky (4) Kleber coloca neste filme, com um receio prévio de serem taxados de
Darwin Awards (1) “narcisistas” ou equivalente. Acho admirável o modo como ele mostra a
Dashiel Hammett (7)
sala que serviu de cenário, de ambiente de reuniões, de risca-risca de
roteiro e de corta-corta de montagem. É a vida. Um filme é feito da vida
David Bowie (2)
daquelas pessoas que o estão fazendo. O que passa na tela é apenas a ponta
David Brin (3)
visível desse iceberg de conversas e discussões infindáveis, telefonemas,
David Cronenberg (12)
café, cigarros, noites em claro, bate-bocas, correrias, repetições
David Fincher (3)
extenuantes, azares, soluções caídas do céu, namoros que brotam,
David Foster Wallace (5)
casamentos que definham.
David G. Hartwell (1)
David Goodis (2) Quando Truffaut fez A Noite Americana (1973), filme que descreve a
David Lean (1) filmagem de outro filme, ele conseguiu ao mesmo tempo desmistificar o
David Lynch (14) cinema, mostrando o feijão-com-arroz e o pão-com-manteiga de sua
David Mitchell (1) feitura, e torná-lo ainda mais fascinante – porque para quem gosta de
David Thomson (3) cinema o ato de filmar se transforma numa obra de arte em si, tanto
Débora Ferraz (2) quanto o filme que resulta dele.
Décio Pignatari (4)
Dedé da Mulatinha (2)
Dedé Monteiro (2)
deficientes físicos (1)
Deivid (1)
delírio quantitativo (11)
Denis Dutton (1)
Denis Villeneuve (1)
Denise Bottmann (2)
dentista (1)
Deodato Borges (3)
depressão (4)
Dercy Gonçalves (1)
desafio (1)
Descartes (5)
design (4)
Destino (17)
Detetives da História (1)
Deus (30)
Deus e o Diabo (19)
Diadorim (2)
diálogo literário (1)
Dianética (2)
Diário da Borborema (3)
Dib Lufti (1)
dicionários (37)
Dick Peter (1)
Dida (1) Os velhos projecionistas mostrados junto aos cinemas onde trabalharam
Diderot (4) são figuras melancólicas porque de certo modo sobreviveram a si mesmos.
Didi (1) O combustível que os impelia para a frente acabou, e seus últimos anos de
Diego Hipólito (1) existência serão uma banguela silenciosa até que possam repousar na terra
Dilma Roussef (1) do acostamento.
Dimas Batista (7)
dinheiro (122)
Personagens fascinantes, que voltam recorrentemente em filmes como
Kings of the Road (“Im Lauf Der Zeit”, 1976) de Wim Wenders, Cinema
Dino Buzzatti (1)
Paradiso (1988) de Giuseppe Tornatore, até O Homem da Cabine (2008)
Dino Risi (1)
de Cristiano Burlan. Todos têm alguma coisa de abandonado, de largado
Diogo Monteiro (1)
no meio do caminho, como aqueles marinheiros cujo navio ficou ancorado
Dionisos (2)
num porto distante e eles ficaram morando ali, tomando conta, enquanto o
Dionne Warwick (1)
navio enferruja pelos anos afora.
diplomacia (2)
direitos autorais (10) A terceira parte do filme mostra as salas de cinema que foram
discos (3) transformadas em templos de seitas evangélicas. Virou um lugar-comum
distopias (3) dos cinéfilos comparar o recinto sagrado da experiência cinematográfica
ditadura (18) com a exploração profana das seitas caça-níqueis. O próprio filme, porém,
documentário (41) mostra que são ondas alternadas. O cine São Luiz foi construído em 1952, e
doenças (4) para isto foi derrubada uma igreja anglicana que havia no local, no quem-
Dolores Duran (2) me-quer à beira do Capibaribe, desde 1838.
Dom Hélder Câmara (1)
Dom Quixote (4) O que é afinal um “fantasma”? É alguém cujo corpo cessou de funcionar e
Domingos Tomás (1) entrou em decomposição, mas cuja alma continua a ser acessada por nós,
Dominguinhos (3) continua visível, lembrável. Não importa se essa “alma” pertencia de fato à
Don Camilo (1) entidade que faleceu, ou se é o resíduo, a lembrança, a persistência
Don DeLillo (4) retiniana impressa em nós: continua existindo, e estamos conversados.
Don Hunstein (1)
Dona Militana (2)
Donald Hamilton (1)
Donga (1)
Donovan (1)
dor (1)
Doris Lessing (1)
Dorothy Parker (3)
Dorothy Sayers (1)
Dostoiévski (14)
Doug Nufer (1)
Douglas Adams (3)
Douglas Hofstadter (8)
Downton Abbey (3)
Dr Samuel Johnson (1) A última sequência do filme mostra o próprio Kléber, à noite, pegando um
Drácula (4) Uber no centro do Recife. Conversa com o motorista, que lhe diz estar
drogas (46) ouvindo Herb Alpert porque é trumpetista, e toca numa orquestra de
dublagem (1) frevo. Kleber diz que trabalha com cinema. Nesse instante o motorista diz
Duda Maia (1) que tem um superpoder: consegue ficar invisível. Materialmente presente,
duelo (3) mas invisível. E a câmera adota o ponto de vista do cineasta (que está no
Dulce Pinzón (1) banco de trás) e mostra o volante do carro, sem motorista, mas avançando
Duncan Lindsay (1) normalmente pelo centro da cidade.
Dürer (2)
DVD (1)
Dylan Thomas (9)
Dziga Vertov (1)
e-books (1)
E. M. Forster (2)
E. W. Hornung (1)
e.e. cummings (1)
Earl Derr Biggers (1)
Eça de Queiroz (4)
ecologia (6)
economia (40)
Ed McBain (1)
EdArt (1)
Eden Philpotts (2) É o tipo de conversa-pra-boi-dormir que a gente tem com taxistas em
Edeor de Paula (1) geral. É o tipo da conversa semi-fantástica que surge a qualquer instante,
Edgar Allan Poe (49) nos papos-em-espiral de mesa de bar, que surge sem qualquer propósito,
Edgar G. Ulmer (1) num filme B de qualquer país, entre pessoas que se encontram na rua. O
Edgar Navarro (3) carro passa por lojas e farmácias (estas imensas farmácias do mundo de
Edgar Rice Burroughs (2) hoje, latifúndios urbanos fluorescentes, oferecendo milhões de veneninhos
Edgar Wallace (5) milagrosos), e lembramos a frase (em outro momento do filme): “Filmes
Édipo (2) futuristas também são documentários”. E vice-versa. Documentários
Edith Wharton (1)
também são filmes futuristas, e às vezes quando estamos registrando
Editora Bandeirola (4)
alguma coisa que passou e sumiu, deixamos aparecer na tela fragmentos
do que estava começando a aparecer, e nem percebemos.
Editora José Olympio (2)
Editora Vecchi (2)
Editora Zahar (1)
Edmilson Ferreira (1)
Edmilson Santini (2)
Edmond Hamilton (1)
Edmund Wilson (3)
Edmundo Animal (1)
Edna St. Vincent Millay (1)
Eduardo Coutinho (4)
Eduardo Galeano (6)
Eduardo Jonquières (1)
educação (37)
Edward Bellamy (1)
Edward D. Hoch (3)
Edward Hopper (1)
Edward Lear (1)
Edward Munch (1)
Edward Snowden (2) É mais fácil aceitar as mudanças de uma cidade quando não nascemos
Edward Thomas (1) nela, quando não moramos nela. Aceitamos que ela se auto-destrua e se
Egberto Gismonti (1) recomponha às cegas, como as pessoas. Porque assim, à distância,
Egeu Laus (1) podemos nos iludir pensando que só quem mudou foi ela, e continuamos
Eike Batista (2) intactos. Daí que nos reencontros nos venha logo à boca o clichê
Einstein (6) benevolente, “Puxa vida... Você não mudou nada...”, o que nos ajuda a
Eisenstein (3) suportar o choque daquela mudança alheia que revela o abismo embaixo
Ekaterina Panikanova (1) dos nossos pés.
Elba Ramalho (11)
eleições (1)
Elia Kazan (1)
Eliane Caffé (2)
Elino Julião (3)
elites (13)
Elizabeth Ginway (2)
Elizabeth Hand (2)
Elizeu Ewald (2)
Ellen Kushner (1)
Ellery Queen (17)
Elliott Silverstein (1)
Elmore Leonard (1)
Elomar (3)
Postado por Braulio Tavares às 21:00 2 comentários:
Elon Musk (2)
Elza Soares (1)
Émile Zola (1) Marcadores: cidades , cinema , cinemas de rua , Kleber Mendonça , Recife
Emilia de Freitas (1)
Emílio Moura (1) QUINTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2023
Emily Dickinson (1)
Emma Coats (2) 5000) Borges: biblioteca, livro, palavra, letra
Emmanuel Carrère (2) (9.11.2023)
emoticons (1)
Encontro Para a Nova
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ensaios literários (5)
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Erácliton Ramalho (1)
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Érico Veríssimo (1)
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Ernesto González Bermejo (1)
Ernesto Sábato (2)
erros criativos (14)
escolas de samba (1)
escravidão (8)
escrit (1)
escrita (161) A obra de Jorge Luís Borges existe numa zona crepuscular entre a
escultura (4)
literatura e a vida real. Não é exagero dizer que o próprio Borges
esfinge (1)
existia numa área mais pra lá do que pra cá, mais feita de estórias
do que de matéria. Tímido, cego, introvertido, insone, dono de
esoterismo (1)
uma memória extraordinária, seu mundo mental era decerto mais
espaçonaves (2)
vívido e mais estimulante do que a realidade física de seu corpo.
espionagem (14)
Talvez por isto suas imagens poéticas relativas ao corpo sejam tão
espiritismo (6)
tocantes. São vislumbres de alguém tentando não perder o contato
esporte (28)
com uma parte minúscula, mas essencial, de si mesmo: a sua parte
esquerda e direita (1) feita de carne e osso.
esquizofrenia (2)
Estação Botafogo (1) Borges foi um dos raros leitores de Kafka capazes de compreendê-
Estação das Letras (2) lo por completo. Nós outros vemos a obra do escritor tcheco como
Estadual da Prata (3) vemos as catedrais de Gaudí ou os poemas em prosa de
estatísticas (11) Lautréamont: admiramos o resultado, mas não somos capazes de
estilo (10) reconstituir os processos mentais que o produziram.
estrelas (1)
Ettore Scola (1)
EUA (103)
Euclides da Cunha (13)
Europanto (1)
Evan Hunter (1)
Evariste Galois (1)
Everardo Norões (1)
Evgeny Zamyatin (1)
existencialismo (7)
Expedição Kon-Tiki (1)
experimentalismo (1)
Exu (1)
Ezra Pound (5)
F. L. Wallace (1)
F. Richard-Bessière (3)
F. Scott Fitzgerald (3)
fã (13)
Fábio Fernandes (2)
Fábio Peixe (1) ("Biblioteca de Babel", projeto de Maria Cano)
Fabricio Corsaletti (1)
Faca Sutil (1)
Facebook (11)
Falcão Negro (1) A biblioteca
fama (20)
família (7) Borges demonstrou ter compreendido Kafka quando concebeu seu
FAMPOP (1) mais célebre conto de horror, “A Biblioteca de Babel”. É claro que
fanatismo (5) a crítica literária não classifica este conto como pertencente a esse
fanfic (3) gênero. Resenhadores do mundo inteiro concordam que a
fantasia (29) literatura de horror é apenas o domínio preferencial dos vampiros,
fantasmas (9) dos lobisomens, dos mortos-vivos e dos psicopatas que comem
fantástico (115) carne humana.
Fantasticon (1)
Fantomas (1) “A Biblioteca de Babel” é o pesadelo definitivo de quem lê. Um
Farnese de Andrade (1)
pesadelo capaz de expulsar dos seus domínios, inclusive, o Conde
Drácula e o canibal Hannibal Lecter. Um universo fechado,
faroeste (22)
ilimitado, talvez infinito, onde não existem a terra, os rios, as
fascismo (2)
árvores, as montanhas, o céu, os pássaros. Um universo insetóide,
Fassbinder (1)
hexágonos compactos cobertos por estantes de livros.
Fausto (1)
Fausto Cunha (1)
Em Babel, no interior do Mundo do Livro, só existe o livro, a
Fausto Fawcett (2) página, o texto. É o mundo de um homem capaz de prever a
fé (6) cegueira que lhe estava geneticamente destinada. Borges publicou
feira (1) “A Biblioteca de Babel” em 1941, quando ainda enxergava o
felicidade (10) suficiente para ler e escrever. Na famosa conferência “A Cegueira”
Felicity Morris (1) (em Sete Noites, Ed. Max Limonad, 1983, trad. João Silvério
Felipe Canário (1) Trevisan) ele fixa em 1955 o momento em que soube, oficialmente,
Félix Arvers (1) que estava cego.
Félix Fénéon (1)
Fellini (17) Uma cegueira cruel, que não lhe proporcionou sequer o repouso
feminismo (2) da escuridão, por mais que fechasse ou cobrisse os olhos.
Fernandel (1)
Fernando Canguru (1) Vivo em um mundo onde há livros que não têm letras, ou
Fernando Collor (1) pessoas que não têm rostos, ou cores que estão reduzidas a
Fernando Gabeira (1)
Fernando Henrique Cardoso uma espécie de verde acinzentado, um mundo do qual
(2) desapareceram completamente o preto e o vermelho. Vejo
Fernando Meireles (1) o amarelo, e todo o restante vejo esverdeado, acinzentado,
Fernando Morais (1)
Fernando Pessoa (25) azulado.
Fernando Pinto (1) (Dicionário de Borges, Bertrand Brasil, 1990, trad. Vera
Fernando Sabino (3) Mourão)
Ferreira Gullar (5)
Festival Sagarana (1)
A biblioteca-universo era uma metáfora do mundo pós-cegueira,
fetichismo (2)
que ele antevia assim, ocupado apenas por livros quase ilegíveis.
fH. G. Wells (1)
Uma biblioteca iluminada por uma luz que ele descreve
ficção científica (441) cruelmente como “uma luz insuficiente, incessante”.
Fifa (1)
filhos (17) Esse conto tornou-se um dos mais famosos de Borges, a ponto de
filme B (13) muitos leitores verem nele uma espécie de Paraíso, porque o
filme de assalto (2) argentino dizia conceber o Paraíso como uma biblioteca;
filme noir (9) esquecem que essa biblioteca absurda, coberta com “léguas e
Filmelândia (1) léguas de cacofonias insensatas” é o contrário de uma biblioteca
filosofia (54) desejável. O conto não é uma fantasia desejante, é um pesadelo de
fim do mundo (15) horror.
Física (2)
Física Quântica (17)
Flamengo (22)
Flann O'Brien (4)
Flannery O'Connor (2)
Flash Gordon (2)
Flautista de Hamelin (1)
Flávio Garcia (1)
Flávio Guimarães (1)
Flávio José (1)
Flávio Moreira ds Costa (1)
Flibo (1)
Flip (8)
Flor de Cactus (1)
Flora Sussekind (2)
Flora Susseking (1)
Florença (1)
Fluminense (2)
folclore (37)
fole de 8 baixos (1)
folhetim (26)
fome (3)
fora de esquadro (12)
Ford Madox Ford (1)
forma (1)
Fórmula 1 (1)
forró (34)
fotografia (44)
fracasso (3)
Fraga (1)
Francis Ford Coppola (3)
Francis Ponge (1)
Francisc Ford Coppola (2)
Francisco Brennand (1)
Francisco Carlos (1)
Francisco José Costa Dantas
(1)
François Rabelais (1) O livro
François Truffaut (7)
Françoise Sagan (1)
Depois que “A Biblioteca de Babel” adquiriu fama, uma amiga de
Borges, Letizia Álvarez de Toledo, lhe sugeriu que era
Frank Gruber (2)
desnecessário conceber uma biblioteca ilimitada para representar
Frank Herbert (1)
o Universo. A imagem poderia ser de um livro ilimitado, um livro
Frank Miller (2)
com infinitas páginas de espessura infinitesimal. Surgiu daí a
Frank Sinatra (1)
inspiração para o conto “O Livro de Areia”, publicado em 1975 no
Frank Spotnitz (1) livro do mesmo nome.
Frankenstein (5)
frases (12) O conto é narrado pelo vagamente auto-ficcional personagem de
Fred Navarro (1) tantas outras histórias de Borges, personagem que às vezes ostenta
Fred Saberhagen (1) seu nome e outras vezes detalhes biográficos negligentemente
Frederic Raphael (1) inseridos na narração. Um homem desconhecido bate à sua porta
Frederick Douglass (1) e lhe oferece um livro, e ao manuseá-lo ele percebe ser um livro
Frederik Pohl (10) infinito, inesgotável.
Fredric Brown (3)
Freud (31) Abri-o ao acaso. Os caracteres eram-me estranhos. As
frevo (5)
páginas, que me pareceram gastas e de pobre tipografia,
Fritz Kahn (1)
Fritz Lang (5) estavam impressas em duas colunas, como uma bíblia. O
Fritz Leiber (2) texto era apertado e estava ordenado em versículos. No
Fu Manchu (1)
ângulo superior das páginas havia algarismos arábicos.
Fuba (5)
fumo (3) Chamou-me a atenção que a página par trouxesse o
futebol (210) número (digamos) 40.514 e a ímpar, a seguinte, 999.
futuro (7)
Virei-a; o dorso estava numerado com oito algarismos.
G. V. Desani (1)
Gabimar Cavalcanti (1) (O Livro de Areia, Ed. Globo, 1999, em Obras Completas
Gabriel Garcia Márquez (24) III, trad. Lígia Morrone Averbuck, p. 80)
Gabriel Vilela (1)
Gahan Wilson (1) Uma vez fechado o livro, é praticamente impossível reencontrar
Gal Costa (1) uma página qualquer. O vendedor explica a “Borges”:
Galileu (1)
Game of Thrones (13) “O número de páginas deste livro é exatamente infinito.
Garcia Lorca (3)
Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por
Garcia Márquez (4)
Garoto (1) que estão numeradas desse modo arbitrário. Talvez para
Garrincha (4) dar a entender que os termos de uma série infinita
Garth Ennis (1)
admitem qualquer número.” (p. 81)
gatos (1)
Gay Talese (2)
gays (3) A biblioteca total foi comprimida num volume único de um
Gene Wolfe (6) “inusitado peso”. O narrador mergulha nele, faz anotações
gêneros literários (37)
intermináveis, deixa-se mesmerizar pelo seu caráter inesgotável.
Passa a achá-lo “monstruoso”, sente que aquilo não passa de “um
genética (1) objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia
Geneton Moraes Neto (6) a realidade”.
Geoff Dyer (2)
geografia (1) Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro
geometria (4)
infinito fosse também infinita e sufocasse com fumaça o
George Amaral (1)
George Dunning (1) planeta. (p. 82)
George Gamow (1)
George Harrison (4)
George Hitchcock (1)
George Lucas (11)
George Orwell (16)
George Pal (1)
George R. R. Martin (2)
George R. R. Martins (1)
George Turner (1)
Georges Méliès (2)
Georges Perec (30)
Georges Simenon (1)
geração mimeógrafo (1)
Gerald Kersh (1)
Geraldinho Carneiro (1)
Geraldo Amâncio (1)
Geraldo Azevedo (2)
Geraldo Mousinho (1)
Geraldo Pimentel (1)
Geraldo Pires (1)
Geraldo Teixeira (1)
Geraldo Vandré (3)
Gerard de Nerval (1) A palavra
Gerardo Melo Mourão (1)
Gereba (1) Esse pesadelo ilegível assaltou Borges em plena cegueira, aos 75
Germano Facetti (1) anos, mas de certa forma vem contrabalançado por outro conto no
Gerson (1) mesmo Livro de Areia. É o conto intitulado “Undr”, a história de
Gerson Lodi-Ribeiro (1) um bardo que vai parar num reinado remoto, o dos Urnos, e ali vê
Gertrude Stein (1) um dos rapsodos locais cantar diante do rei um poema longo que
Getúlio Vargas (3) lhe parece constar de uma única palavra. Outro poeta local
Gian Lorenzo Bernini (1) esclarece:
gifs (2)
Gilberto Freyre (5) – (...) Não definimos cada fato que inflama nosso canto:
Gilberto Gil (15) nós o ciframos em uma única palavra que é a Palavra.
Gilles Deleuze (1)
Respondi:
Gillo Pontecorvo (1)
Gilmar (1) – Não pude ouvi-la. Peço-te que me digas qual é.
Giovanni Guareschi (1) Vacilou alguns instantes e respondeu:
gíria (10)
– Jurei não revelá-la. Além disso, ninguém pode ensinar
Gisela Elsner (1)
Giuseppe Baccaro (1) nada. Deves procurá-la sozinho. Apressemo-nos, que tua
Glauber Rocha (11) vida corre perigo. (p. 56-57)
Glauco Mattoso (8)
Glauco Villas-Boas (1)
Começa então, para o Bardo que narra essa história, uma vida
Glenda Jackson (1) nova cheia de ofícios, tarefas, aventuras, trabalhos, experiências,
globalização (1) aprendizados. Num longo parágrafo, Borges recorre a um de seus
glosa (1) recursos habituais, a enumeração de eventos díspares que se
Godofredo Rangel (1) contradizem, se complementam, abrem possibilidades narrativas
Goethe (2) improváveis... Em menos de uma página ele resume
Golbery (1) acontecimentos capazes de encher mais de uma vida humana,
goleiro (1) como nas linhas iniciais de “A Loteria em Babilônia” e em trechos
golfinhos (1) de “O Imortal”.
Gonzaga Rodrigues (1)
Gonzaguinha (1) E ao longo desse lento aprendizado de cicatrizes, ele persegue a
Google (4) Palavra:
Gordurinha (2)
gótico (6) No curso do tempo fui muitos, mas esse torvelinho foi um
governo (3) longo sonho. O essencial era a Palavra. Uma ou outra vez
Goya (4)
não acreditei nela. Repeti para mim que renunciar ao belo
Graciliano Ramos (6) jogo de combinar palavras belas era insensato e que não
Gráfico Amador (2)
há por que indagar sobre uma só, talvez ilusória. Um
grafologia (1)
Graham Greene (1) missionário me propôs a palavra Deus, que recusei. (p.
gramática (3) 57)
Gramiro de Matos (2)
Grateful Dead (1) Um dia ele julga ter encontrado a Palavra, e retorna ao palácio do
Graziella Magherini (1) rei, e ao amigo que o protegera anos atrás. Pergunta pelo rei, e o
GRD (4) amigo responde (com a fina ironia borgiana em relação ao Poder
Grécia (2) político): “Já não se chama Gunnlaug. Agora seu nome é outro”.
Greg Egan (7)
Gregório de Matos (1) E o amigo lhe revela então a Palavra:
Gregory Benford (1)
Gregory Rabassa (4) Disse a palavra Undr, que quer dizer maravilha.
Greil Marcus (7)
Gresse (1)
Greta Garbo (1) Na ficção de Borges (não me meto a afirmar que nas etimologias
Grigory Perelman (1) reais) “Undr” é um remoto ancestral nórdico da palavra inglesa
Groucho Marx (3)
Wonder, que quer dizer “maravilha”. A capacidade de alguém se
Grupo Piollin (1)
deslumbrar, se fascinar, se encantar por alguma coisa. A
curiosidade que conduz às revelações, às epifanias. Há mais de
guerra (78)
cem anos os leitores de ficção científicas definem como parte
Guerra de Princesa (1)
integral desse gênero literário o “sense of wonder” (que os fãs dos
Guerra do Iraque (28)
anos 1930 grafavam “sensawunda”).
Guerra Junqueiro (1)
guetos (1)
Guga (2)
Guido Araújo (1)
Guilherme Figueiredo (2)
Guilherme Gontijo Flores (1)
guilhotina (1)
Guillaume Apollinaire (2)
Guillermo Arriaga (1)
Guillermo del Toro (2)
Guillermo Sánchez Trujillo (1)
Guimarães Rosa (132)
Guiness Book (1)
Gumercindo R. Dórea (1)
Gurdjieff (1)
Gustave Flaubert (4)
Gustavo Moura (9)
Gustavo Spolidoro (1)
Gutenberg (1)
Guy de Maupassant (6)
Guy Ritchie (1)
H R Giger (1)
H. G. Wells (24)
H. L. Mencken (1)
H. Riger Haggard (2) “Wonder”, como verbo, significa também imaginar, matutar,
Habacuc (1) devanear, avaliar possibilidades de modo meio aleatório e sem
hackers (5) compromisso, apenas experimentando, concebendo hipóteses
Haiti (2) como quem, ao cigarro, forma anéis de fumaça com a boca. “To
Halloween (1) wonder” é especular, supor, pensar experimentalmente enquanto
Hamlet (3) dá de ombros para o resultado.
Hans Zischler (1)
hardboiled (2)
Extrapolando, vejo também nessa raiz remota Undr uma tataravó
Hari Seldon (1)
encarquilhadazinha do verbo inglês “to wander” = vagar, andar
sem destino, peregrinar, vagabundear, sair de mundo afora,
Harlan Ellison (1)
caminhar sem pressa e sem compromisso. A curiosidade pelo
Harold Pinter (1)
mundo e pelas maravilhas (boas e más) que ele nos reserva.
Harold Ramis (2)
Haroldo de Campos (6)
Com o conto “Undr”, publicado aos 75 anos, Borges parece estar
Harry Ingham (1)
exorcizando seu pesadelo da biblioteca de Babel e do livro de areia.
Harry Mathews (2) Quando toda a poesia do mundo se concentra numa só palavra,
Harry Potter (6) essa palavra é uma libertação. Ao invés de um cárcere de palavras,
Harry Smith (2) é uma alforria de experiências que trazem consigo a exaltação de
Harry Stephen Keeler (2) viver. O duelo de espadas e o amor de uma mulher, não
Haruki Murakami (1) surpreendentemente, estão entre as “maravilhas” que o tímido
heavy metal (4) Borges, o pudico Borges, ansiava encontrar no mundo que não
Hedy Lamarr (1) via.
Heinrich Heine (1)
Heisenberg (3)
Heitor Dahlia (1)
Hemingway (9)
Hendrik Van Loon (2)
Henk von Rensbergen (1)
Henri Bergson (1)
Henri Michaux (2)
Henry Fielding (1)
Henry James (16)
Henry Kuttner (2)
Henry Miller (7)
Henry Thomas (1)
Heráclito (1)
Hercule Florence (2)
hereditariedade (1)
Herivelto Martins (3)
Herman Mankiewicz (1)
Herman Melville (3)
Hermano José (1)
Hermano Vianna (1)
Hermeto Paschoal (4)
Hermilo Borba Filho (4)
A letra
Hermínio Bello de Carvalho
(1)
E o percurso se fecha, curiosamente, com uma volta ao ponto de
heróis (20)
partida, ao Borges ainda jovem que publicou El Aleph, em 1948.
hierarquia (1)
Um Borges que ainda era capaz de se apaixonar e de dedicar um
hífen (1) conto a uma de suas musas platônicas: no fim do texto, vem a
hinos (1) dedicatória: “A Estela Canto”.
hip-hop (3)
hipertexto (1) O Universo, que já fora uma biblioteca, um livro e uma palavra,
hipocondria (1) colapsa agora integralmente numa única letra, o aleph, o alfa, o A,
hippies (6) o início de tudo. O que é o Aleph? É um ponto situado
Hiroshima (1) (prodigiosamente) na casa de “Beatriz Viterbo”, a musa ficcional
História (36) desse Borges que conta a história com incredulidade e maravilha.
História do Brasil (21) Após a morte dessa “socialite” que ele amou de perto e sem
hoax (12) esperança, ele vem a saber que na Rua Garay, numa escada que
Hoffmann (1) conduz ao porão, é possível encontrar um Aleph, um ponto de
Hollywood (4) onde se avista todo o universo.
homens vs mulheres (50)
Homero (3) Meio descrente o narrador desce até lá – e nessa letra que sintetiza
Homero Fonseca (2) o universo ele avista (e lá nos traz Borges outra de suas
Honeyboy Edwards (1) enumerações caóticas) tudo que existe no mundo. Tudo que ele
Hong-Kong (1) sabe e que não sabia, tudo que ele desejava ver e o que não
honra (4) desejava.
Horace McCoy (2)
Horace Walpole (1) Vi o populoso mar, vi a aurora e a tarde, vi as multidões
horror (49) da América, vi uma prateada teia de aranha no centro de
hotéis (1)
uma negra pirâmide, vi um roto labirinto (era Londres),
Howard Hawks (5)
Hubert Phillips (1) vi intermináveis olhos próximos perscrutando em mim
hubris (2) como num espelho, vi todos os espelhos do planeta e
Hugh MacLeod (1) nenhum me refletiu, vi num pátio da Rua Soler os mesmos
Hugh McCutcheon (1)
Hugo Moss (1) ladrilhos que, há trinta anos, vi no saguão de uma casa de
Hugo Santiago (1) Frey Bentos, vi cachos de uva, neve, tabaco, listras de
Humberto de Campos (1) metal, vapor de água, vi convexos desertos equatoriais e
Humberto teixeira (7)
Humberto Werneck (3) cada um de seus grãos de areia...
humor (39) (“O Aleph”, em O Aleph, Ed. Globo, 1972, trad Flávio José
Humphrey Bogart (1) Cardozo)
Hungria (1)
Hunter Thompson (1)
Huxley (3) A obra e o pensamento de Borges parecem, assim, oscilar entre um
universo composto unicamente por livros e páginas (“A Biblioteca
i-ching (6) de Babel”, “O Livro de Areia”) – e um universo composto por
Ian Fleming (2) experiências reais (“Undr”, “O Aleph”). Afastando-se de um, o
Ian MacDonald (4) mundo das coisas, ele se resignava ao outro, o mundo dos livros; e
Ian MacEwan (1) depois voltava ao primeiro.
Ian McEwan (1)
Ian Watt (3) Em todo caso, Carlos Drummond dizia que “a vida, quando vai
Idade Média (2) aos livros, é para voltar mais vida”. Toda a literatura de Borges
identidade (1) descreve esse movimento em espiral que ora o aproxima ora o
Ignácio de Loyola Brandão (4) afasta desse mundo do qual ele não conseguia participar por
Igor e Grichka Bogdanoff (1) completo, mas que sempre foi o centro de sua existência – o
igreja (5) mundo das coisas, o que sempre desejou, não o dos livros, o que
Iluminismo (1)
lhe coube.
ilustrações (13)
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imortalidade (1)
imprensa (33)
improviso (31)
inconsciente (2) Postado por Braulio Tavares às 21:26 Nenhum comentário:
Incredible String Band (1)
Índia (4)
Marcadores: cegueira , ficção científica , Jorge Luís Borges , literatura
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Índios Tabajaras (1)
indústria fonográfica (14) SEGUNDA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2023
Inez Cabral (1)
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4999) "O Conde": o vampiro Pinochet (6.11.2023)
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Irmãos Lumière (1)
Irving Wallace (2)
Isaac Asimov (29)
Isaac Bashevis Singer (1)
Isaac Newton (3) O filme de vampiros mais original e mais bem realizado dos últimos anos
Isak Dinesen (7) não veio dos estúdios ingleses da Hammer Films nem de Hollywood. Veio
Islã (6) do Chile, e faz uma inesperada (mas plausível) junção do general Augusto
Ítalo Calvino (16) Pinochet com a estirpe imortal dos Nosferatus.
Itamar Assumpção (1)
Ivaldo Bertazzo (1) O filme está disponível em streaming no Netflix.
Ivan Carlos Regina (1)
Ivan Cineminha (1) O diretor Pablo Larraín gosta de abordar a vida de personagens históricos
Ivan Santos (3) e dar-lhes uma guinada interpretativa, como fez com Jacqueline Kennedy-
Ivanildo Vila Nova (11) Onassis em Jackie (2016), com a Princesa Diana em Spencer (2021), com o
Ivinho (1) poeta Pablo Neruda em Neruda (2016) e possivelmente em outros. Essa
Ivon Cúri (1) maneira desabusada de tratar a História é elevada ao cubo em El Conde,
Izalco Sardenberg (1) onde Pinochet é transformado numa espécie de Conde Drácula.
J. D. Salinger (4)
J. G. Ballard (15)
J. G. Ballrd (1)
J. M. Barrie (1)
J.Borges (2)
J.K. Rowling (3)
Jacinto Silva (1)
Jack Clayton (2)
Jack Kerouac (4)
Jack Nicholson (1)
Jack o Estripador (1)
Jack Vance (1)
Jack Williamson (1)
Jackson do Pandeiro (14)
Jacob Bronowski (1)
Jacques Bergier (5)
Jacques Carelman (2)
Jacques Derrida (1)
Jacques Futrelle (1)
Jacques Lob (1)
Jacques Prévert (1)
Jacques Tourneur (1) No filme, Pinochet é francês e já é vampiro desde a época da Revolução
Jaguaribe Carne (2) Francesa. Depois da queda dos reis (ele lambe a guilhotina que decapitou
Jaime Correas (1) Maria Antonieta) dedicou-se a reprimir revoluções pelo mundo inteiro até
Jair Rodrigues (1) chegar ao Chile.
Jairzinho (1)
Jakson Agra (3)
“Mas o general Pinochet não morreu em 2006, aos 91 anos?...”
Aparentemente sim: o diretor mostra este episódio (incluindo a cusparada
James Agee (1)
que um oficial deu no vidro do caixão durante o velório). Por baixo do
James Baldwin (2)
pano, contudo, o velho vampiro recolheu-se clandestinamente a sua
James Blish (4)
fazenda numa ilha distante. Ali, dispõe de enormes frigoríficos com
James Bond (3)
corações humanos trazidos de suas expedições noturnas.
James Campbell (1)
James Ensor (1) O Conde Pinochet bate um coração no liquidificador com a nonchalance
James Joyce (41) com que um baiano bate um abacate.
James M. Cain (2)
James McClure (1)
James Patterson (1)
James Taylor (1)
James Thurber (2)
James Tiptree Jr. (1)
James Wood (3)
Jan Chipchase (1)
Jan Potocki (1)
Jana Bianchi (1)
Jane Austen (2)
Jane Fonda (2)
Janete Clair (1)
Jânio Quadros (1)
Janis Joplin (2)
Japão (8)
Jarbas Mariz (1)
Jards Macalé (6)
Jared Kushner (1)
Jayme Ovalle (1)
jazz (12) O filme de Pablo Larraín parte dessa premissa bizarra (mas
Jean Baudrillard (1) emocionalmente tão plausível!) e constrói um filme que não hesito em
Jean Cocteau (1) classificar na minha rubrica de “Filme B Para Intelectuais”. Por que? Um
Jean de Léry (1) filme “B”, por definição, é um filme que não tem as grandes expectativas de
Jean Dubuffet (1) retorno financeiro que estrangulam filmes “A” como Titanic ou Avatar. É
Jean Gattégno (1) um filme que tem como horizonte de sucesso pagar as próprias despesas e
Jean Ray (1) provocar um certo rebuliço na audiência.
Jean Renoir (1)
Jean-Claude Bernardet (2) O rebuliço é previsível no Chile, onde o General ainda tem muitos
Jean-Claude Carrière (2) admiradores (e beneficiários). O Conde é mostrado como um vampiro, e
Jean-Claude Romand (1)
sua família não fica muito atrás. A viúva e os cinco filhos adultos não são
Jean-Luc Godard (28)
vampiros – o general recusou-se a mordê-los e dar-lhes assim a
imortalidade. Por outro lado, têm uma sede permanente de dinheiro. A
Jean-Luc Michael Benson (1)
história dá uma guinada quando a família contrata uma contadora para
Jean-Marc Rochette (1)
dar um balanço nas centenas de contas bancárias secretas que o general
Jean-Patrick Manchette (1)
tem pelo mundo afora. É o dinheiro acumulado em 15 anos de assassinatos
Jean-Paul Sartre (18)
políticos e rapina.
Jean-Pierre Jeunet (2)
Jeanette Winterson (1)
Jeannot Swarc (1)
Jeff Rosen (1)
Jeff VanderMeer (8)
Jennifer Egan (2)
Jeremy Irons (1)
Jerome Bixby (1)
Jerôme Ferrari (1)
Jeronymo Monteiro (1)
Jesse Dylan (1)
Jessier Quirino (7)
Jesus Cristo (10)
Jesus Franco (1)
Jethro Tull (1)
Jim Jarmusch (5)
Jimi Hendrix (1)
(os filhos do vampiro)
Jimmy Guieu (1)
Jô Soares (1)
Larraín pontua o filme com uma porção de referências explícitas, mas bem
Joan Baez (1) encaixadas, que vão desde Nosferatu de Murnau até A Paixão de Joana
Joan Miró (2) D’Arc de Carl Dreyer, desde o Batman do cinema e dos quadrinhos até os
Joanna Russ (2) romances sobre ditadores latino-americanos delirantes, e aqui a
João Alexandre Barbosa (1) enumeração de autores iria longe: Garcia Márquez, Alejo Carpentier,
João Antonio (1) Miguel Ángel Astúrias, Augusto Roa Bastos e até mesmo Edward Lucas
João Batista de Brito (4) White (El Supremo, 1916).
João Bosco (1)
João Branco (1) É curioso como os tropos e as imagens do filme de vampiro se encaixam
João Cabral de Melo Neto (16) com perfeição neste último gênero narrativo, e é surpreendente que essa
João do Pife (1) junção não tenha sido mais explorada no passado. Eu, pelo menos, não
João Furiba (3) lembro de nenhum exemplo de histórias sobre ditadores-vampiros. O
João Gilberto (3) máximo que me vem à memória é o romance de Kim Newman Anno
João Gonçalves (1) Dracula (1992), em que a Rainha Vitória é uma vampira, mas, como dizia
João Grilo (3) um amigo meu, todo britânico tem genes vampirescos.
João Jardim (1)
João Martins de Athayde (5) Em todo caso, se alguém organizar um festival de filmes sobre ditadores
João Matias (1) monstruosos, delirantes, este filme de Larraín não faria feio ao lado de
João Melchíades Ferreira da Cabeças Cortadas (1970) de Glauber Rocha, O Último Rei da Escócia
Silva (2)
(2006) de Kevin MacDonald e talvez O Recurso do Método (1978) de
Miguel Littín, Cobra Verde (1987) de Werner Herzog e outros.
João Moreira Salles (1)
João Paraibano (2)
Se o Poder corrompe, e o Poder absoluto corrompe absolutamente, não é
João Pessoa (1)
de admirar que um ditador-sanguinário qualquer seja retratado,
João Saldanha (1)
principalmente na literatura, como uma espécie de Gollum desvairado,
João Ubaldo Ribeiro (2)
alucinado, em decomposição física e psíquica, precisando
Joaquim Cardozo (1) desesperadamente do Poder Absoluto para continuar respirando.
Joaquim Mabuco (1)
Joaquim Nabuco (5) Outra associação de idéias pode ser feita entre El Conde e um filme
Joaquim Pedro de Andrade argentino contemporâneo, Azor (2021) de Andreas Fontana. Nele, um
(1) jovem banqueiro suíço vem à Argentina pós-golpe militar para substituir
Job Patriota (1) um colega, e aos poucos vai conhecendo os figurões políticos locais, e se
Joel Santana (1) misturando na trama de denúncias, traições e crimes políticos. Aqui, sem
jogo (15) recurso ao vampirismo, mostra-se o mecanismo simples que faz de toda
jogos de guerra (7) ditadura um assalto permanente à mão armada, onde pessoas são mortas,
Johan Huizinga (1) propriedades são confiscadas e repartidas entre os assassinos, e fica tudo
John Ashbery (2) por isto mesmo.
John Banville (2)
John Barth (1)
John Basinger (1)
John Brunner (2)
John Cage (6)
John Carpenter (3)
John Cassavetes (1)
John Clute (6)
John Crowley (4)
John Dickson Carr (7)
John Ford (2)
John Fowles (3)
John Galsworthy (1)
John Huston (3)
John Jeremy Sullivan (2)
John Keats (4)
John Kennedy (3)
John Le Carré (1)
John Lennon (24)
John Mayall (1)
John McAfee (1)
John Milton (2)
John N. Bahcall (1)
John Schlesinger (1)
John Sladek (1)
John T. Irwin (2)
John Updike (1)
John Varley (1)
John W. Campbell (1)
John Wayne (1) Outra produção contemporânea, que ainda pretendo comentar aqui, é a
John Wyndham (3) série Netflix A Queda da Casa de Usher (2023), de Mike Flanagan. Há um
Jomard Muniz de Britto (1) paralelo perceptível (mas inconsciente, e inevitável) entre a família
Jonas Bendiksen (1) Pinochet do filme e a família Usher da série. Famílias milionárias, regidas
Jonathan Carroll (3) por um patriarca impiedoso e com mão de ferro, e com os filhos se
Jonathan Lethem (1) escoiceando por preferência, atenção, vantagens e dinheiro.
Jonathan Safran Foer (1)
Jordan Peele (2)
Larraín faz o que chamei de “filme B” (sem muita grana, e sem muita
Jorge Amado (2)
expectativa de grana) mas com as facilidades tecnológicas de hoje em dia.
Não é o mesmo “filme B” que Roger Corman fazia nos anos 1960. Ele narra
Jorge Ben Jor (3)
esta fábula extravagante (e estranhamente plausível) com o auxílio de uma
Jorge de Lima (9)
direção de arte (Tatiana Maulen) e uma fotografia (Edward Lachman) que
Jorge Eliécer Gaitán (1)
nem sempre se encontra em filmes muito mais caros e muito mais
Jorge Furtado (2)
ambiciosamente produzidos. Tendo como ponto central um vampiro que
Jorge Luís Borges (148) voa, e as paisagens desoladas e frias das ilhas chilenas, a fotografia em tela
Jorge Mautner (3) larga (proporção de 2.00 : 1) e preto-e-branco, produz uma incrível
Jorn Barger (1) impressão da vastidão dos espaços abertos.
Jornada de Passo Fundo (1)
Jornal do Brasil (2)
jornalismo (63)
José Agra (1)
José Agrippino de Paula (9)
José Alcides Pinto (2)
José Alves Sobrinho (4)
José Araripe (1)
José Camelo de Melo Rezende
(1)
José Cavalcanti de Figueiredo
(1)
José Celso Martinez Corrêa
(2)
José Costa Leite (1)
José de Alencar (3) O roteiro do filme é bem amarrado, e tem algumas surpresas-revelatórias
José Dirceu (1) que não posso comentar aqui, a não ser para dizer que tudo é
José Dumont (3) extremamente verossímil. A herança tenebrosa da ditadura Pinochet ainda
José Francisco Botelho (1) tem peso sobre o Chile; é diferente do que aconteceu na Argentina, onde os
José Geraldo Couto (1)
torturadores e saqueadores foram condenados nos tribunais,
José Gonçalves (2)
independentemente de seus uniformes ou de seus cargos políticos. No
Chile, Pinochet escapou impune, e talvez seja isto que sugeriu ao diretor a
José Guilherme Merquior (1)
imagem do vampiro que não morre nunca, que parece estar dormindo
José Hernández (1)
num ataúde mas de noite se levanta para saquear mais uma vez.
José J. Veiga (2)
José Laurentino (2)
José Lins do Rêgo (11)
José Luiz Passos (2)
José Miguel Wisnik (1)
José Mindlin (1)
José Nêumanne (2)
José Paulo Paes (4)
José Ramos Tinhorão (5)
José Roberto Torero (2)
José Rubens Siqueira (1)
José Sanz (2)
Postado por Braulio Tavares às 21:07 Um comentário:
José Saramago (10)
José Tavares de Araújo Neto
(1) Marcadores: América Latina , Chile , ditadura , Drácula , horror , Pablo Larraín ,
José Teles (1) Pinochet , vampiros
José Umbelino (4)
José Veríssimo (1) SEXTA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2023
José Wilker (1)
Josef von Sternberg (1) 4998) A última canção dos Beatles (3.11.2023)
Joseph Conrad (12)
Joseph Losey (2)
Joubert de Carvalho (1)
Jovany Medeiros (1)
Jovem Guarda (2)
Jovens Escribas (1)
Joyce Carol Oates (2)
Juan Carrión (1)
Juan Gris (1)
Juan José Arreola (1)
Juca Kfouri (1)
judeus (6)
Judith Merrill (1)
Jules Dassin (1)
Júlia Lopes de Almeida (1)
Julian Fellowes (1)
Julián Rios (1)
Juliana Cuentro (1)
Juliano Dornelles (2)
Julio César Bernardes (1)
Júlio César Diniz (1)
Julio Ludemir (1)
Julio Verne (10)
Jung (4)
Este título está um pouco melodramático, mas é apenas para
Junior Baiano (1)
servir de clickbait (=isca de cliques) e para marejar os olhos dos
juventude (31)
mais suscetíveis. Sendo o Mercado o que é, e sendo os Beatles o
Kabe Wilson (1)
que foram, não duvido que daqui a cinco ou dez anos apareça
Kadhafi (1) alguma nova tecnologia capaz de fazê-los não apenas cantar juntos
Kafka (35) de novo, mas quem sabe até compor juntos.
Kaneto Shindo (1)
Karel Reizs (1) Nunca duvidem dessa junção: Mercado & Tecnologia. É uma dupla
Karel Tchápek (1) mais inventiva do que Lennon & McCartney.
Karen Blixen (5)
Karen Joy Fowler (1) Nada mais adequado do que a última canção que reúne os quatro
Karl May (1) Beatles (dois deles já mortos) seja uma reconstrução eletrônica de
Kasparov (1) uma gravação caseira. “Now And Then” foi uma fita demo gravada
Kate Wilhelm (2) por Lennon em seu apartamento no edifício Dakota. Não pôde ser
Kazuo Ishiguro (3) aproveitada para o projeto Anthology, de 1995, por problemas
Kenneth Goldsmith (4) técnicos. Na época, era impossível eliminar os ruídos e fazer a
kenningar (1) separação entre voz e piano. Problemas que só puderam ser
Kiko Goifman (1) resolvidos agora.
Kim Stanley Robinson (4)
King Kong (1) Dizem que McCartney deu uma mexida na canção, eliminou
Kingsley Amis (1) trechos, cortou e emendou pontas. Está certo. Era assim que os
Kleber Mendonça (8)
dois compunham. Ninguém compõe versões definitivas das
canções; chega-se a elas por aproximações sucessivas.
Klingon (1)
koan (1)
Esta música, lançada curiosamente no Dia de Finados (2 de
Krapotkin (1)
novembro de 2023), vem se juntar a dois projetos excepcionais e
krokodil (1)
recentes. O primeiro é o documentário Get Back, em três partes,
Kurt Steiner (1)
dirigido por Peter Jackson a partir das gravações do álbum Let It
Kurt Vonnegut Jr (5) Be. O segundo é a série McCartney 3, 2, 1, em que Paul e o
Kurt Weill (1) produtor Rick Rubin conversam sobre a música criada pelo grupo.
L. F. Verissimo (2)
L. Ron Hubbard (2) Antes de ouvir a música, vale a pena ver o curta de 12 minutos
L.Frank Baum (1) onde se narra a sua produção:
labirintos (1)
Lacan (3) https://www.youtube.com/watch?
v=APJAQoSCwuA&ab_channel=TheBeatlesVEVO
ladrão (5)
Lady Gaga (1) “Now And Then” não se parece muito com o Lennon da época dos
Laerte (2) Beatles. É tipicamente o Lennon do Edifício Dakota em seus
Lafcadio Hearn (1) momentos mais introspectivos e melódicos. Lembra certas faixas
Lailson (1) de Walls & Bridges (“Bless You”) ou Imagine (“Jealous Guy”).
lambada (3) Canções lentas, puxadas pela melodia do piano, distantes do
Lampião (6) Lennon roqueiro de guitarra em punho.
Landell de Moura (2)
Lankhmar (1) Numa entrevista, perguntaram a Lennon qual era seu principal
Lao-Tse (2) talento como músico. Ele disse: “Sou bom na guitarra-base. Sei
Laurence Sterne (2) fazer uma banda pulsar.”
Laurie Anderson (1)
“Yesterday” foi uma virada-de-esquina na obra dos Beatles,
Lauro César Muniz (2)
porque permitiu a Paul McCartney desdobrar-se em “homem dos
Lautréamont (1)
sete instrumentos”, indo para além do esquema guitarra-baixo-
Lawrence da Arábia (1)
bateria e passando a utilizar todos os recursos que herdou de seu
Lawrence Durrell (1)
pai, Jim McCartney, ex-líder da “Jim Mac’s Jazz Band”. Sem essa
Lawrence O'Donnell (1)
virada, não haveria canções como “She’s Leaving Home”, “Honey
Lawrence Sutin (1) Pie”, “Martha My Dear”...
Leandro Gomes de Barros
(15) Uma coisa que perdemos de vista às vezes é que grande parte dos
Led Zeppelin (1) grandes compositores de rock se viravam muito bem ao piano. As
legendas (1) composições de Lennon pós-Beatles denotam essa convivência
Lei Seca (1) com o instrumento. “Now And Then” pertence a essa vertente
leigos (1) lírica, melódica, intimista, sem a preocupação de “fazer uma banda
Leila Míccolis (1) pulsar”. Uma espécie de “lado B” do Lennon eletrificado e
leitura (45) explosivo de “Whatever Gets You Through The Night”, “Instant
lendas urbanas (6) Karma”, “Cold Turkey” e por aí vai.
Lênin (1)
Lenine (21) Um aspecto interessante desta “nova-velha” canção é sua letra –
Leo e Diane Dillon (1) em princípio uma letra de amor, sem novidades poéticas. Mas
Leo McCarey (1) dadas as circunstâncias excepcionais em que a canção foi
Léo Rugero (1) recomposta e lançada ao público, é possível fazer uma leitura
Leonard Cohen (5) metalinguística de seus versos iniciais.
Leonardo da Vinci (4)
Leonardo DiCaprio (1)
A letra em inglês diz:
Leopoldo Lima (1)
Leopoldo Marechal (1) I know it's true, it's all because of you
Leos Carax (2) And if I make it through, it's all because of you
Leslie Charteris (1)
And now and then, if we must start again
Lester Dent (1)
letra de música (66)
Well, we will know for sure that I love you
Lewis Carroll (8)
liberdade (13) Basta deslocar esse “you” que dramaturgicamente se dirige à
Lido Loschi (1) mulher amada, e imaginar que essa voz é a voz de Lennon,
Lima Barreto (15) dirigindo-se aos seus três parceiros.
limerick (1)
Lincoln Cunha (1) Eu sei que é verdade, é só por causa de vocês.
Lindsay Anderson (1) E se eu conseguir, é só por causa de vocês.
Linduarte Noronha (1)
E, tanto agora quanto naquela época,
língua portuguesa (84)
linguagem (178) se formos recomeçar,
Lionel Messi (2) bem, saberemos com certeza que eu amo vocês.
Lira Neto (1)
Lira Paulistana (1) “Now and then” é uma expressão coloquial que significa “de vez
Lirinha (1) em quando”, “vez por outra”, etc., mas também “agora e naquele
Lírio Ferreira (2) tempo” – ou seja, no momento atual (apenas dois sobreviventes,
Lisa Goldstein (1) com mais de 80 anos) e naquele tempo em que eram jovens e
listas (1) Beatles. Um tempo que o próprio George Harrison celebrou na
literatura (974) canção “All Those Years Ago” (1981).
Literatura Conceitual (12)
literatura infantil (18) “All Those Years Ago”:
literatura oral (73) https://www.youtube.com/watch?
Liverpool (2) v=eNL40ql4CYk&ab_channel=GeorgeHarrison
livraria (1)
livro (14) Estes versos podem ser lidos como se Lennon estivesse falando,
livros (66) através do Universo, e agradecendo aos amigos que conseguiram
trazê-lo de novo para cantarem e tocarem juntos.
lixo (3)
Loch Ness (1) Trazer de volta (artificialmente) pessoas já falecidas é um tema
Locus (3) antigo da ficção científica, e estamos caminhando para lá.
lógica (3)
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loucura (32) Postado por Braulio Tavares às 21:01 Um comentário:
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18/11/2023 18:42 Mundo Fantasmo

mais c4rlos4le@gmail.com Painel Sair

SÁBADO, 18 DE NOVEMBRO DE 2023

Primeira coletânea dos artigos

Nessas demonstrações lógicas, é a forma que conta. Se cada

a. Todos os gugurinos são travões.

Minhas Fontes: O raciocínio é correto; pouco importa se os termos são absurdos.

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