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16/12/2022 08:55 O tiozão do churrasco

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tipos brasileiros

O TIOZÃO DO CHURRASCO
Essa vida é uma chuleta

Renato Terra | Edição 74, Novembro 2012

Urologista diz: "Pare com o


azulzinho e faça isto pela...
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16/12/2022 08:55 O tiozão do churrasco

I
squindô! Isquindô! Olê-lê! Abram alas para Mario Pedreira Gomes, conhecido
internacionalmente como Tio Mario – um pândego que veio ao mundo com o dom, para Assine
não
dizer a nobre missão de empregar a galhofa das maneiras mais criativas, por trás ou pela
frente, tanto faz. Na minha presença, não há ser humano do signo de virgem que não inspire
uma piada de duplo sentido. Nenhum barulho estrondoso passa impunemente sem a
constatação “Caiu um lenço”, seguida de uma pausa dramática, uma expressão contemplativa e o
arremate: “E, pelo barulho, é rosinha.”
Há quem diga que a alcunha “tiozão do churrasco”, que ostento com orgulho, se refere apenas ao
homem roliço e bonachão que esquenta a barriga na grelha enquanto aguarda, ansioso, para
fazer trocadilhos na hora de servir a linguiça. Negamos, veementemente, tamanha redução
epistemológica. Tampouco é necessário que nossos irmãos tenham filhos. “Tiozão do churrasco”
é uma visão de mundo, um estado de espírito. Todo homem tem, aliás, uma porção de tiozão do
churrasco. Está no cromossomo Y. Se não for meio tiozão, hummm, não sei não – ahah!

Legamos à curiosidade humana questões graves como “Jacaré no seco anda?” ou “Você pinta
como eu pinto?”. Sem nosso afã folgazão, ninguém saberia de cor o diminutivo de “cômico”.
 

Há décadas somos responsáveis por manter acesas as chamas das mesmíssimas brincadeiras. E
por falar nisso: “Quer pão, preto?” “Quer presunto, gordo?”, “Tira a mão do meu Rego, Freitas.”
Qual membros de uma sociedade maçônica, infiltramos convidados em festinhas de aniversário
para cantar A chuva cai/ A rua inunda/ Ô, Marquinhos, eu vou comer… seu bolo, logo após o Parabéns
pra você. Disseminamos brincadeiras salutares como aplicar tapas no cocuruto de outrem,
acompanhados do brado “Pedala, Robinho!”.

O
churrasco, entretanto, é o nosso hábitat, o lar de todo tiozão. E o repertório começa
durante a organização do evento. Minha vida deveria vir acompanhada daquelas risadas
dos sitcoms americanos – ahah!
Dou preferência a carnes que podem originar piadas, como Fraldinha, Chuleta e Picanha.
Salsichão é para o aperitivo. Cada convidado, ao chegar alegre e faceiro, é surpreendido com a
pergunta: “Já veio comido?” Quando algum desavisado senta à cabeceira da mesa, saco mais um
gracejo com a rapidez de John Wayne: “Sentou na cabeceira? Vai pagar a conta, hein”, e o cutuco
com o cotovelo no ombro. Adoro uma cutucada!

Quando não estou de camiseta, nos churrascos, visto meu avental com o desenho de um dorso
masculino seminu. Faz um sucesso tremendo. Por baixo, uso apenas minha sunga preta. Depois
da segunda cerveja, todos riem quando levanto o avental de um golpe só e finjo que não tem
nada embaixo, gritando:
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venceremos”. O feijão, com a quantidade de água que ela costuma colocar, é o “perdidos no
espaço”. Peço molho à campanha só pelo prazer de chamá-lo de “molho acompanha”. Assine

Como sobremesa, claro, faço questão de servir pavê. Sinceramente, não sou fã de doce. Mas não
posso perder a oportunidade de interromper o primeiro glutão a experimentar uma garfada:
“Calma Souza… é pavê ou pra comer?”
 

U
m mestre da graceta não pode se eximir de mostrar suas intervenções pontuais para
deixar a música pop mais alegre. Poucos têm a sacada hilária de cantar trechos em
português com sons parecidos com as letras estrangeiras. Para evidenciar meus dotes, ligo
o som e canto dois tons acima. O pessoal rola de rir com minhas tiradas fonéticas. Please
don’t go se transforma em “Fiz dois gols”; Eyes without a face fica muito mais divertida quando
transformo em “Azedar o peixe”.
Outra variação, bastante frequente, é parodiar canções conhecidas sempre que o tédio ameaça
dar as caras. Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada. Roubou a minha mulher e ficou com a
empregada, por exemplo, é risada na certa.
Quando chega uma pessoa cujo nome faz parte da letra de uma canção, então, é uma festa.
Ontem mesmo, vi a esposa do Saraiva passando batom e entoei: Marina, morena, Marina, você se
pintou? Em meus áureos anos de flerte, até conquistei uma namoradinha pela rapidez com que
engatei Maria, Maria é um dom, uma certa magia assim que ela declinou sua graça.
O mundo das artes é um prato cheio. Quando estou com síndrome de abstinência, digo que fui
ao cinema só para que alguém pergunte: “Mario, que filme você foi ver?” Posso então destilar
meu cardápio: “A volta dos que não foram”, “As tranças do careca”, “Os quatro cantos da sala
redonda” ou “Poeira em alto mar”. É um alívio.
Agora, um tiozão que se preze tem sempre um estoque infinito de piadas de salão.Depois da
quinta ou sexta cerveja, os sentidos ficam aguçados para receber os eflúvios do Ary Toledo. Não
tem como evitar. “O que é um pontinho amarelo numa plantação? É milho Santiago!”, “Qual é a
melô do absorvente? Debaixo dos caracóis dos seus cabelos…”ou “Um casal sem braços teve um
filho, qual o nome do filme? Ninguém Segura Esse Bebê.” Importante: é fundamental soltar aquela
gargalhada assim que termina a piada para destravar os mais tímidos – ahah!
 

D
esde os anos mais tenros (favor não confundir), a picardia mora em mim. Lembro, com
clareza, o dia em que perguntei ao porteiro da manhã: “Astrogildo, que time é teu?” Ele
fez um gesto efusivo com as mãos e respondeu: “O maior do mundo.” Sempre Flamengo –
ahah!
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Meu pai, toda vez que me apresentava a alguém, enfatizava meu nome: “Você conhece o
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incontornável vocação para a pilhéria. Faço questão de educar meus filhos, Rolando e Bráulio, da
mesma maneira. Assine

Bem, é forte a dor do parto, mas tenho que partir. Aliás, caro leitor, você conhece a piada do
“Não, nem eu”? Não? Nem eu!

Renato Terra
É colunista da Folha de S.Paulo e diretor de Narciso em Férias e Uma Noite em 67. Publicou
Diário da Dilma (Companhia das Letras)

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