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Edição e Coordenação
Luiz José de Souza
Setembro Editora – Junho 2013
Capa
Foto: Stilton
Autor: Long Clawson Dairy, Inglaterra
Diagramação
AC&R Artes
Revisão
do Autor
SETEMBRO EDITORA
Rua Domingos Lopes da Silva, 890 conj. 402
Portal do Morumbi
CEP 0563941-030 – São Paulo – SP – Brasil
Tels.: 11 2307 5561 / 3739 4385
e-mail: luiz.souza@revistalaticinios.com.br
2013
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sem a permissão escrita do autor.
Queijos Especiais
SETEMBRO EDITORA
São Paulo – Brasil
2013
Apresentação
Esse negócio de
escrever livro... onde
começa...? onde termi-
na...? Vai saber!! Pois
com a gente, que é
mineiro, as coisas sim-
plesmente acontecem,
parece que já estavam
ali faz tempo... e que
nunca vão embora de
nós mesmos... Imagi-
ne você a complicação
na cabeça da gente, de
inventar de escrever
um livro sobre Queijos
Especiais... numa ter-
rinha abençoada onde
todo queijo... é espe-
cial!! E foi neste furdúncio danado que entrei quando, eu suspeito, por
obra de alguns pálidos e sussurrantes espíritos escandinavos, me decidi
por escrever este livro que você, tranqüilo e na paz do santo Deus, tem
agora em suas mãos... Pois é... lá em Minas, onde nasci, tem dessas coi-
sas, esses trens que marcam a vida da gente... lá nas Minas Geraes tem
muita pinga, é verdade... mas tem “pingo” também... sim senhor, “pingo”!
Desses que gotejam, por desconcertantes, minuciosas eternidades... pois
que esses recônditos mineiros guardam suas magias, quebrantos e encan-
tos... embutidos em alquimias quase medievais e insondáveis segredos
coloniais... pois é, foi alí mesmo que nasceu, sabe-se lá como, o impene-
trável “pingo”, aconchegado em seu berço de cuité... embalado por sinfo-
nias de ocultas cascatas na portentosa serra da Canastra... enfeitado com
sempre-vivas nas altitudes do Serro, alí pelos costados de Diamantina,
onde mais de um bandeirante, entre delírios de turmalinas, se perdeu... ve-
lado na serra do Salitre por queijeiros de fala mansa e olhar enviesado....
Gota a gota, nas frescas, silenciosas madrugadas do verão ou no frio úmido
do inverno mineiro, lá vem deslizando o “pingo”... pachorrento, suave...
escapando lentamente de cada queijo em abundancia de fermentação por
sabe Deus que micróbios estranhos... Tímidos uns, ousados outros... mas
astutos, matutos todos, em sua microscópica mineirice...! Nas profundezas
do cristalino fluido, embriagados em seus desarvorados festins de carboi-
dratos, azedos e rabujentos lactobacilos se dividem em eterno desdém...
enquanto que roliços lactococos espreitam, ciosos e ansiosos, distraidos
dissacarideos em fugaz transição molecular... e é assim, gente minha, que
o “pingo” antes verdoso, cheiroso e doce, agora multiplicado, cindido e
povoado, se apresenta em roupagens de alta acidez e deprimentes pH`s...
Levado pelas sagradas mãos de ressabiados queijeiros, com suas manhas
e caprichos de perdidas gerações, lá vai o garboso “pingo” inundar de co-
lonias globais o fresco leite das manhãs mineiras... Na vetusta bancada,
talhada no melhor jacarandá das matas de outrora, repousam singelas for-
mas, benzidas em misteriosas rezas por sisudos reverendos com suas em-
boloradas batinas de antanho... Nelas, o sal cristalino e grosso abençoa o
novo queijo, alvo em seus frescores de inocencia... e dele segue gotejante,
jacarandá afora, o “pingo”, em sua perene ciranda de nascer, fermentar e
renascer, rumo ao cuité de seus segredos... E é por isso, minha gente, que
quaisquer queijos feitos nestas minhas doces Geraes de encantamentos e
lendas eternas, serão sempre Queijos Especiais...
Múcio Mansur Furtado
Carrancas, MG, Maio de 2013
Agradecimentos
Bibliografia 276
Queijos com Formação de Gás
Parte 1
Queijos com
Formação de Gás
Introdução
Fermentação propiônica
Comparada à fermentação aromática, a fermentação propiônica é
mais simples, mas ainda assim pode apresentar algumas dificuldades
para ocorrer. Para entender melhor estas dificuldades, as mesmas po-
dem ser explicadas através de duas diferentes abordagens:
Fatores externos a controlar:
l Existência de leite de ótima qualidade, sem psicrotróficos e baci-
los butíricos
l Existência de “câmara quente” para incentivar a fermentação e
produção de gás
l Contar com sistema de pré-prensagem e de prensagem realmente
eficientes
l Dispor de cultivos produtores de gás, de qualidade assegurada
volvimento da cultura
l queijo com teor de sal adequado
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Queijos com Formação de Gás
1 - Fatores externos
a - Existência de
leite de ótima quali-
dade, sem psicrotró-
ficos e sem bacilos
butíricos
Queijos com olha-
duras exigem um cer-
to tempo de matura-
ção, que pode chegar
a 2 ou 3 meses no
caso de um Gruyère ou Emmental. Durante este período, vários fenô-
menos bioquímicos ocorrem, em benefício da formação das caracterís-
ticas essenciais do queijo. Entretanto, se houver contaminação do leite
com os micro-organismos mencionados, o processo de cura pode se
tornar desastroso.
n Micro-organismos psicrotróficos, como do gênero Pseudo-
monas, quando em número muito elevado no leite (acima de 300 mil
UFC/mL) provocam perdas de rendimento (devido á degradação de
fraçoes caseinicas no leite, enquanto este é mantido a frio- a fração
K da caseina é a mais atacada e pode levar à desestabilização do lei-
te, também conhecida como coagulação doce, vista às vezes em leite
UHT) ou formação de componentes, como o ácido butírico, que con-
ferem o sempre mencionado sabor “ardido” no queijo. Este sabor nao
deve ser confundido com o “picante” de certos queijos duros, pois é
desagradável e anula os efeitos benéficos da formação de componentes
aromáticos desejáveis.
Este problema está diretamente relacionado à estocagem prolonga-
da, sob refrigeração, de um leite de má qualidade microbiológica seja
ainda na fonte de produção (fazendas e sítios) ou na fábrica, em silos.
n Bacilos butíricos são extremamente danosos, pois nao preci-
sam estar em alta contagem no leite, para arruinar uma fabricação.
Considera-se que entre 500 e 1.000 esporos de Clostridium butirycum
por mL de leite já são suficientes para inchar um queijo, alterar seu
odor e sabor. Estão presentes na silagem, no esterco, no ambiente dos
currais, no pó da estrada, entre outros, e podem contaminar facilmente
o leite na ordenha ou no transporte. Como são termoresistentes, a pas-
teurização não eliminará os butíricos e eles estarão no leite no tanque,
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Queijos Especiais
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Queijos com Formação de Gás
2 - Fatores físico-químicos
l massa com baixo potencial redox (bem compactada)
l massa com pH na faixa adequada mínima para um bom desen-
volvimento da cultura
l queijo com teor de sal adequado
l massa com o teor de umidade adequado
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Queijos Especiais
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Queijos com Formação de Gás
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Queijos Especiais
A fermentação aromática
Esta fermentação é tipica dos queijos semi-duros ou de massa la-
vada, cujos representantes mais conhecidos são o Gouda e o Edam
holandeses, e o Danbo e Tybo dinamarqueses. São queijos com teor
de umidade mais alto do que o Emmental ou Gruyère, apresentam
menos olhaduras de tamanho menor. Sua maior complexidade reside
no fato de que depende de vários micro-organismos para ocorrer, e
a produção de gás em si é muito influenciada pelo teor de citrato do
leite e do queijo, o qual pode variar substancialmente. Assim, consi-
dera-se que é uma fermentação com razoável incidência de irregula-
ridade e grande variabilidade, o que tende a comprometer o sucesso
do processo. Certamente é devido às dificuldades de se controlar a
intensidade da formação de gás neste processo que há uma crescente
tendência em se uti-
lizar, no Brasil, cul-
tivos propiônicos
em queijos como o
Gouda, Bola e o Es-
tepe, o que aumenta
a chance de se obter
olhaduras regulares.
Entretanto, o uso de
tal recurso leva à des-
caracterização dos
queijos menciona-
dos, distanciando-os
ainda mais de seus
Fermentação aromática descontrolada pode afetar a textura originais europeus.
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Queijos com Formação de Gás
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
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Queijos com Formação de Gás
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Queijos Especiais
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Queijos com Formação de Gás
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Queijos com Mofos Internos
Parte 2
Queijos com Mofos Internos
Azuis: fundamentos
Quando se menciona um queijo com maturaçao provocada pelo
crescimento interno de mofos, naturalmente se refere ao fungo Peni-
cillium roqueforti, também conhecido por Penicillium glaucum, que é
utilizado há seculos em todos os queijos Azuis conhecidos. O processo
é relativamente simples, mas precisa atender a alguns requerimentos
básicos para garantia de seu sucesso:
l a massa deve apresentar muitas aberturas, biológicas ou mecânicas
l o pH do queijo fresco deve ser bem ácido, entre 4,7 e 4,9
l o teor de sal pode variar de 2,0 a 3,0%
l o queijo deve
gordura no queijo é
fundamental (acima
de 30%)
l a câmara de ma-
turação deve ser mui-
to úmida (> 95%)
Pode-se dizer que
um queijo Azul tem
sua qualidade definida principalmente no processo de elaboração no
tanque, já que a cura é relativamente simples e pequenas contamina-
ções na casca não chegam a comprometer suas características, ao con-
trário do que se passa com um queijo Camembert ou Brie.
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
Fundamentos da fabricação
de queijos Azuis
O Penicillium
Trata-se de um mofo aeróbico, mas que pode suportar com facili-
dade baixas concentrações de oxigênio e altos níveis de gás carbônico
no queijo. Estas características facilitam seu crescimento exclusivo no
queijo Azul, pois torna o meio muito mais se-
letivo para o fungo. A composição aproxima-
da de oxigênio no interior de um queijo Azul
varia de 2,5 a 7,0% enquanto que o teor de gás
carbonico estaria entre 21 e 41%. Assim, acre-
dita-se que a tolerancia ao gás carbônico possa
ser até mais importante do que uma necessida-
de limitada de oxigênio, para o metabolismo
e crescimento do Penicillium roqueforti no
interior do queijo. Bastam 5% de oxigenio no
O Penicillium roqueforti é
o agente da maturação dos
interior do queijo para o crescimento do Peni-
queijos Azuis cillium roqueforti.
Outra característica importante é a tolerância a larga variação de
pH; apesar do pH ideal estar próximo de 4,0 o Penicillium tolera valo-
res de 3,0 a 10,5 na escala de pH, em meios de cultivos especiais. Ob-
viamente, em queijos estes extremos nunca são observados. É bastan-
te resistente ao sal e para inibir completamente seu crescimento seria
necessário um teor de sal de cerca de 15% na umidade do queijo (Aw
- atividade de água minima = 0,83). A alta resistência do P. roqueforti
ao sal tem sido usada para tornar o meio seletivo para seu crescimen-
to no queijo. Mesmo Brevibacterium linens, que é também bastante
resistente a sal (inibição de 85% em Aw = 0,92), não possui a mesma
resistência que o P. roqueforti, o que explica o uso de alto teor de sal na
casca para impedir a proliferação do B. linens, que pode avermelhar e
melar a casca do queijo na fase intermediária da maturação.
Os esporos (conídias) são adicionados ao leite, antes da coagulação,
na grande maioria dos processos. No queijo a germinação dos esporos
inicia-se entre 10 e 15 dias, dependendo de uma série de fatores (sal,
pH, temperatura, aerobiose, inoculaçao, etc) e a partir daí o crescimen-
to do fungo torna-se visível. A cor verde-azulada só aparece após a ger-
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Queijos com Mofos Internos
era grande e já não se adota este sistema. Além disso o uso de culturas
comerciais não chega a onerar excessivamente o custo de um produto
de alto valor agregado como o queijo Azul, e é uma garantia de homo-
geneidade e sucesso no desenvolvimento do mofo no queijo. Quando
o mofo é liofilizado, recomenda-se que seja hidratado em um pequeno
volume de água, desde a véspera.
n A adição do mofo: o mofo tanto pode ser adicionado ao leite
quanto à massa após a dessoragem (na fabricação do Roquefort o mofo
é adicionado à massa na própria forma, durante a enformagem). Não
há consenso sobre as vantagens de um método sobre o outro, mas a
adiçao ao leite é empregada pela grande maioria das industrias, uma
vez que este método permite uma melhor distribuição dos esporos na
massa. Na fabricação tradicional de Gorgonzola e Danablu, o mofo é
adicionado ao leite, antes da coagulação. É provável ainda que a adição
ao leite diminua os riscos de dessoragem excessiva da massa durante
a permanência desta no fundo do tanque aguardando a enformagem (a
adição do mofo à massa exige um tempo adicional de tratamento da
mesma nesta fase). Sabe-se ainda que o mofo pode ser diluido em água
esterilizada e mantido sob refrigeraçao por várias semanas para ultili-
zação gradual, sem perda notável de atividade. Na realidade a hidrata-
ção dos esporos é recomendada e deve ser feita pelo menos 24 hs antes
de se usar os mofos verdes na elaboração, o que lhes confere mais ati-
vidade desde o príncipio do processo. Como muitas fábricas elaboram
diariamente pequenos volumes de leite em queijos Azuis e um envelo-
pe é suficiente para até 10.000 litros de leite, a prática da diluição em 1
litro de água é comumente empregada no Brasil. Na forma liofilizada,
estes fungos podem ser mantidos por 2 anos sob refrigeração (4 °C).
Culturas láticas
Tradicionalmente, as culturas láticas são mesofílicas, a base de
Lactococcus lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis subsp. cremoris,
com atividade acidificante acentuada. Culturas do tipo LD também são
frequentemente empregadas pois contêm, além das espécies já men-
cionadas, Lactococcus lactis subsp. lactis biovar. diacetilactis e Leu-
conostoc mesenteroides subsp. cremoris, que fermentam citratos com
produção de gás carbônico, levando a obtenção de uma massa mais
aberta, o que facilita o crescimento do mofo.
Com a finalidade de abrir mais a massa algumas leveduras tam-
bém podem ser usadas, como Candida valida ou Kluyveromyces sp.,
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
O branqueamento da massa
O Roquefort original é elaborado com leite de ovelha, que não pos-
sui β-caroteno (precursor da Vitamina A), substância que confere tom
ligeiramente amarelado à gordura do leite de vaca. Para imitar a cor
bem clara da massa do Roquefort, que forma um atraente contraste
com as veias verde-azuladas do P. roqueforti, é comum promover-se
o branqueamento (ou descolorimento) da gordura do leite de vaca na
elaboração do queijo Azul e similares. O componente mais usado é a
clorofila, que pode ser adicionada 10 minutos antes da coagulação, à
base de 5 a 10 mL/ 100 L de leite (depende da origem do leite e de seu
teor de gordura). O uso excessivo de clorofila pode provocar forma-
ção de cor esverdeada no queijo. Nos EUA usa-se também Peróxido
Benzoico no leite (0,002%) ou no creme (7,0 gramas por 45 kg de
gordura pura, seguido de aquecimento a 60 °C por 2 hs para destruir o
Peróxido). Também pode ser usado o Dióxido de Titanio (10 a 15 g /
100 L de leite).
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Queijos com Mofos Internos
Coagulação do leite
O período de coagulação do queijo Azul pode ser alongado propo-
sitadamente com o intuito de aumentar o grau de desmineralização da
coalhada. Neste caso, após a adição do coa-
lho, o leite é deixado coagular a 28-30 °C por
cerca de 90 minutos; neste período inicia-se a
produção de ácido, o que facilita a remoção de
cálcio da coalhada sob a forma de lactato du-
rante a elaboração; a desmineralização é cru-
cial na determinação do corpo do queijo Azul;
se for insuficiente, o corpo do queijo é dema-
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Queijos Especiais
Corte da coalhada
O tamanho dos grãos é importante, pois tem influência no teor final
de umidade (e, portanto, no pH) do queijo; normalmente corta-se em
cubos grandes, com 1,0 – 1,5 cm de aresta, que tornam-se menores
ao final da agitação. Em algumas variedades, o grão poderá ser ainda
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
pH do queijo fresco
Trata-se de outro parâmetro de importância
fundamental. O pH do queijo 24 horas após
a elaboração deve estar entre 4,6 e 4,8. Nesta
faixa, há uma quantidade suficiente de ácido
lático para o mofo iniciar o crescimento, bem
como um adequado grau de desmineralização.
Recomenda-se coletar diariamente o soro que
é liberado das formas na sala de fermentação
e determinar a acidez titulável: havendo uma
boa fermentação, a acidez será de, no mínimo,
100 °D.
A produção de ácido lático durante a ela-
boração é o principal papel da cultura lática
pH baixo : fator crítico em
no processo de fabricação do queijo Azul; du- queijos Azuils
rante a maturação, a cultura tem importância
secundária, pois o elevado teor de sal do queijo a inibe fortemente. As-
sim, sem a presença de uma cultura lática de boa atividade é impossível
a fabricação de um bom queijo Azul.
O ácido lático produzido dentro do grão, reage com o paracaseinato
de cálcio, e o torna mais desmineralizado, pela produção de lactato
de cálcio, que se perde no soro. A coalhada estando com menor teor
de cálcio, torna-se mais porosa, permitindo um melhor escoamento do
soro e apresentando-se mais quebradiça, com a textura mais “curta”.
Durante a maturação do queijo Azul, isso será notado quando o queijo
for cortado, e sua massa estiver mais pastosa, “agarrando” na faca, ca-
racterísticas típicas de um bom queijo Azul.
Salga do queijo
A salga do queijo Azul é feita, tradicionalmente, a seco. Normal-
mente, uma vez que se encerrou o período de fermentação e o pH ideal
foi alcançado, os queijos são levados para uma câmara e o sal é es-
fregado em toda a superfície do queijo; o processo se repete durante
mais 1 ou, no máximo, 2 dias, nesta mesma câmara (10-12 °C). Ao
final os queijos são lavados antes de serem perfurados. O teor final
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos com Mofos Internos
Evolução do pH na maturação
O pH do queijo após 1 dia é de cerca de 4,7 - 4,9. Em cerca de 5
semanas o pH se eleva para 5,4 - 5,8 e por volta de 10 semanas, poderá
estar entre 6,1 e 7,0. A elevação do pH é proporcional ao crescimento
do mofo, que utiliza o ácido lático em seu metabolismo. Devido a pro-
teólise, compostos básicos são liberados, colaborando para a elevação
do pH. Sofre também infuência da temperatura de cura e do teor de sal
do queijo.
Se o queijo não apresenta bom crescimento de mofo, o pH tende
a subir muito lentamente, comprometendo a qualidade do produto.
O mesmo poderá ocorrer em queijos com ex-
cesso de umidade em que não só o pH é mais
baixo, como também a quantidade de lactose
é mais elevada, o que faz com que nas 3 pri-
meiras semanas de maturação (quando o ní-
vel de sal ainda é baixo no interior do queijo)
ácido lático seja ainda formado, aumentando
a resistência à elevação do pH. Queijos assim
tendem a exudar mais soro ou água quando
enviados ao mercado e expostos a temperatu- Crescendo o fungo, o pH
começa a subir rapidamente
ras inadequadas de vendas.
A neutralização gradual da massa é essencial para a formação do
corpo, sabor e aroma do queijo Azul. Estes fenômenos são provocados
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Queijos Especiais
Condições da maturação
A maturação do queijo Azul deverá ser feita em uma câmara a 10
– 12 °C, com mínimo de 95% de umidade relativa no ar. Na França,
o queijo Roquefort é curado nas cavernas à temperaturas entre 6 e 10
°C. A proteólise é muito mais afetada do que a lipólise por temperatu-
ras baixas. Diminuindo-se a temperatura de maturação do queijo Azul,
inibe-se bastante a decomposição da proteína, fazendo com que o quei-
jo não evolua normalmente em sua mudança de consistência e textura.
Entretanto, a degra-
dação da gordura e a
formação de aroma e
sabor típicos são me-
nos inibidos. O Peni-
cillium roqueforti tem
um crescimento ideal
a 20-25 °C, não cres-
ce a 37 °C mas pode
ainda crescer a 5 °C.
O controle da umi-
dade relativa do ar em
um mínimo de 95% é
vital para o sucesso da
fabricação. Se a câma-
ra tem baixa umidade,
o queijo desidrata-se
muito rapidamente e
o processo de matu-
ração é irremediavel-
mente prejudicado
(acúmulo de sal na
umidade, ressecamen-
to, inibição da lipólise
e proteólise).
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Queijos com Mofos Internos
Ação lipolítica
Durante a maturação, o fungo produz proteases e lipases, enzimas
essenciais na formação da consistência, sabor e aroma do queijo Azul.
O mecanismo da lipólise é fundamental para o desenvolvimento do
sabor e aroma típicos destes queijos. Sabe-se que o Penicillium roque-
forti possui duas lipases. Uma delas, produzida em meio ácido, tem pH
ideal na faixa de 6,0 a 6,5, e a outra, liberada em meio mais próximo
da neutralidade, tem máxima atividade em pH 9,0. Elas tem ação dife-
rente na degradação dos triglicerídes: a lipase ácida atua de preferência
sobre a tricaproina, enquanto que a alcalina degrada mais a tributirina
(triglicéride com 3 cadeias de ácido butírico).
Inicialmente a lipase catalisa a ruptura da ligação éster do triglicéride,
liberando até 3 ácidos graxos no meio. Os ácidos graxos sofrem então
uma β-oxidação, tornando-se um cetoácido (importância da entrada de
O2 pelos furos das varetas), com liberação de água (que poderia contribuir
para eventual exudação de “soro” no queijo, quando no mercado). Em
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Queijos com Mofos Internos
seguida, descarboxila-
ses fúngicas removem
um CO2 da cadeia do
cetoácido, que ao per-
der um carbono, se
converte numa metil-
-cetona, componente
muito aromático,e que
contribui decisiva-
mente para o sabor do Reações de oxidação e descarboxilação de ácidos graxos na
queijo Azul. maturação: sabor e aroma
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Queijos com Mofos Internos
Crescimento
excessivo de
mofo
Ao contrário do
que se pode pensar, o
crescimento do mofo
em quantidade muito
exuberante não é de-
sejável. Se tal ocorrer,
o queijo irá maturar
regularmente, porém
bem mais rapidamen-
te. O excesso de mofo
pode também contri-
buir para um sabor de
“mofado” ou de “co-
gumelo” ao queijo.
As causas mais pro-
váveis seriam: O excesso de mofo provoca problemas de sabor e durabilidade
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
Contaminação interna
O queijo Azul pode apresentar, eventualmente, contaminação inter-
na com leveduras e outros tipos de mofos. O defeito pode se manifestar
como regiões de proteólise localizada, que são mais amareladas do que
outras, e se localizam em torno de pontos de crescimento do micror-
ganismo contaminante ou então como pontos de coloração variada.
Comumente, a contaminação ocorre durante a perfuração dos queijos,
(casca contaminada pelo ambiente ou salga) ou quando é feita num
período em que a casca está recoberta de limo que é, então, levado para
o interior do queijo. Uma espécie de mofo conhecida como Geotri-
chum penicillatum é
freqüente no limo e
pode causar manchas
de cor creme ou ro-
sada no interior do
queijo. O principal
gênero contaminante
é, entretanto, Micro-
coccus (M. luteus,
M. freudenreichii,
M. Caseolyticus) que
são halotolerantes,
além de leveduras
dos gêneros Candida,
Rhodotorula e Deba-
ryomyces. Contaminação interna com leveduras alteram o sabor
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Queijos com Mofos Internos
Gosto saponificado
É típico de queijo super-maturado, mas
pode ocorrer também em queijos com baixo
teor de sal e alto teor de umidade (ou quei-
Enformagem lenta e desigual, jos maturados à temperaturas mais elevadas)
com falta de viragens, dentro do período normal de maturação. É
provocam o problema
devido geralmente ao acúmulo de ácidos gra-
xos livres no queijo, que podem reagir com
cálcio ou potássio formado “sabões” (como pode ocorrer da reação
do ácido palmítico com sódio, formando palmitato de sódio). É uma
característica comum em queijos maturados por mais de 3 ou 4 meses
(8 - 12 °C); para prolongar o período de vida útil é aconselhável que
os queijos sejam embalados, e durante a maturação levados para uma
câmara a entre 0 e 3 °C, onde as reações bioquímicas da maturação
serão bastante inibidas.
Se o queijo é feito
com leite homogenei-
zado, o fenomeno da
saponificação poderá
ocorrer mais cedo na
maturação, devido a
maior exposição da
gordura ao ataque li-
político.
Sabor amargo
É uma caracterís-
tica bastante típica
de queijos Azuis com
Queijos de longa maturação, podem se tornar saponficados maturação entre 25 e
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
Gosto de terra
Este defeito ocorre
devido a contamina-
ção do mofo (quase
sempre no laborató-
rio que o produz) P.
roqueforti com ou-
tro mofo do mesmo
gênero, Penicillium
verrucosum var.
cyclopium. A conta-
minação não é visíve
a olho nú, pois os mo-
fos apresentam carac-
terísticas morfológi-
cas similares. O gosto
de terra surge durante
O gosto de terra se manifesta em queijos mais curados a maturação. O único
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Queijos com Mofos Internos
Queijo amoniacal
É o defeito típico de queijo super-maturado, no qual a proteólise
é tão avançada que o pH ao final da cura pode ser maior do que 7,0.
Assim, por ação de desaminases, o amoníaco é formado e se acumula
no queijo, conferindo-lhe odor e sabor típicos. O defeito pode ser faci-
litado por crescimento excessivo de mofo e pelo baixo teor de sal. Em
geral só é observado em queijos com mais de 4 meses de maturação,
e que não permaneceram armazenados sob temperaturas de estocagem
(entre 0 e 3 °C).
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Queijos Especiais
Amarelamento do mofo
É comum cortar-se um queijo Azul e ob-
servar que as veias de mofo apresentam uma
coloração tendendo ao amarelado; na verdade
não se trata de defeito e sim de uma caracte- Oxigenação intensa pode gerar
rística morfológica do P. roqueforti. Tão logo filetes de mofo nas “chaminés”
o queijo seja deixado exposto ao ambiente por
20 - 30 minutos, a cor esverdeada normal reaparece. As causas do fenô-
meno não são conhecidas, mas parecem estar ligadas a alguma reação
de oxi-redução.
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Queijos Especiais
1- Queijo Roquefort
A lenda
A fabricação do queijo Roquefort remonta à séculos na França. E
através dos tempos, uma lenda permaneceu e ficou como explicação de-
finitiva para contar como tudo começou. A região de Aveyron, ao sul da
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Queijos com Mofos Internos
A proteção da lei
Não se conhece exatamente quando se iniciou a fabricação de
Roquefort. Mas, pelos escritos da antigüidade, sabe-se que Plínio, o
Antigo, já citava o Roquefort e era seu grande apreciador, bem como
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
Além disso, o queijo ainda poderá ser produzido nos Pirineus Atlân-
ticos e na Ilha de Córsega. Segundo estimativas recentes, a produção
estava assim distribuída:
l “Rayon” 80%;
l Pirineus Atlânticos 13%;
l Ilha de Córsega 7%.
As cavernas de Roquefort
As famosas cavernas são o resultado de
um colossal desabamento de rochas ocorrido
há milênios no Grand Causse du Larzac, mais
precisamente na montanha de Combalou, ao
pé da qual se localiza hoje a cidade de Roque-
fort-sur-Soulzon. Aos poucos, os habitantes
da região foram cavando no interior da rocha
e construindo galerias e grandes salões, onde Diagrama mostrando como
hoje são maturados os queijos. funcionam as cavernas
100
Queijos com Mofos Internos
A rocha é de ori-
gem calcária. A co-
municação com o
exterior é feita na-
turalmente através
de falhas naturais no
rochedo, conhecidas
em Roquefort como
“fleurines”, numa lin- Interior das cavernas de Roquefort
guagem muito local.
Através destas “fleurines”, verdadeiras chaminés, ocorre uma intensa
circulação de ar dentro das galerias. O teor de umidade médio é ele-
vado, chegando a 95% de umidade relativa do ar. A temperatura se
mantém constante o ano inteiro, seja inverno ou verão, em torno de 7
a 9 °C. Na verdade, o fenômeno que ocorre em Roquefort é o único no
mundo: clima no interior das cavernas é sempre constante e inteira-
mente natural. A natureza foi sábia e o homem soube aproveitar estas
circunstâncias naturais e inimitáveis para criar o queijo Roquefort.
Os rochedos se encontram expostos para o norte e permanentemen-
te frios. Através das “fleurines”, que atingem até 100 metros de altura
dentro da rocha, se estabeleceu uma circulação de ar típica, responsá-
vel pela manutenção das condições de temperatura e umidade o ano
inteiro. A renovação de ar é tão intensa que atinge a 1.200.000 metros
cúbicos por hora. A umidade se deve à constante infiltração d’água nos
rochedos calcáreos, consequência de um forte índice pluviométrico na
montanha. Segundo os especialistas, no verão ocorre uma expiração
de ar nas cavernas e no inverno o fenômeno é o contrário, ou seja, há
uma inspiração. Assim, a temperatura se mantém constante o ano todo.
No coração da montanha existe uma verdadeira cidade industrial.
A descida até os grandes salões onde estão os queijos se faz através de
escadas ou elevadores. Em certas partes da montanha existem até 11
andares inteiramente cavados na rocha e aerados pelas “fleurines”. É
neste ambiente que vive naturalmente o Penicillium roqueforti, o fun-
go responsável pela maturação do Roquefort.
A área das cavernas chega a 10 hectares e por ali passam anualmente
mais de 7 milhões de unidades de Roquefort, que correspondem a uma
produção anual de mais de 18 mil toneladas. A maior parte da produção
é consumida na França, mas as exportações são importantes, sendo que
só os EUA importam anualmente cerca de 10% de toda produção.
101
Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
O leite de ovelha
O leite de ovelha é considerado o mais rico de todos os leites utili-
zados em laticínios. Além disso, sua composição físico-química dife-
re bastante daquela do leite de vaca. Trata-se de um leite muito mais
rico em sólidos totais, como pode se observar pelo quadro compara-
tivo a seguir:
103
Queijos Especiais
Como se consta-
ta, o leite de ovelha,
além de ser mais
denso, é muito mais
rico em sólidos to-
tais. Considerando-se
este fato, explica-se o
elevado rendimento
de uma fabricação de
Roquefort, onde com
100 litros de leite de ovelha pode-se produzir até 22 Kg de queijo.
Além disso, o leite de ovelha apresenta a peculiariedade de não
apresentar caroteno em sua gordura. Isto é responsável pela brancura
típica deste leite. O caroteno, um pigmento clorofiliano e que é tam-
bém a pró-vitamina “A”, é o responsável pela coloração amarela típica
do leite de vaca. Ademais, a gordura do leite de ovelha difere bastan-
te daquela do leite da vaca, apresentando maior quantidade de certos
ácidos graxos, como o capróico, caprílico e cáprico, de cadeia mais
curta e que são os grandes responsáveis pelo sabor e aroma típicos
deste queijo. É sobre estes ácidos graxos que atuam as lipases produ-
zidas pelo mofo Penicillium roqueforti, produzindo compostos como a
metil-cetona, cetoácidos, e outros.
A ovelha que predomina na região de Roquefort é da raça de La-
caune, bem adaptada à rusticidade das regiões montanhosas e de boa
aptidão leiteira. Em termos absolutos não se pode comparar a produção
de leite de uma vaca com a de uma ovelha, pois esta última produz em
média 150 litros por lactação. Normalmente a ordenha é feita de manhã
e de tarde. Para a ordenha manual é necessário uma hora para ordenhar
20 ovelhas. Atualmente a ordenha mecânica é largamente empregada na
região e permite ordenhar-se até 140 ovelhas por hora e por operador.
A produção do leite de ovelha é marcadamente sazonal. A produção
se inicia em novembro/ dezembro e se encerra em julho/ agosto. O pon-
to máximo da produção é na primavera, ou seja, em abril e maio. No fi-
nal da lactação as ovelhas são tosquiadas e cada uma pode produzir até
2 kg de lã bruta. A partir de julho inicia-se acasalamento e nos meses
de setembro e outubro a produção de leite é praticamente inexistente.
Assim a produção de queijo Roquefort acompanha evidentemente a de
leite e no segundo semestre de cada ano, as atividades nas cavernas de
Roquefort são muito limitadas. No entanto esta característica sazonal
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Queijos com Mofos Internos
A fabricação do Roquefort
Conforme já foi citado, a fabricação do queijo Roquefort se divide
em duas fases distintas, que ocorrem nos laticínios e nas cavernas.
A primeira fase se realiza em laticínios localizados nos departamen-
tos já enumerados e se encerra quando o queijo é transportado para as
cavernas, em Roquefort-sur-Soulzon. A fabricação é realizada na parte
da manhã, a partir do leite cru e integral. O leite, ao chegar à fábrica,
é selecionado latão por latão, através de provas físico-químicas e mi-
crobiológicas. Após
filtragem, o leite é
colocado em tanques
de aço inoxidável,
retangulares, de pa-
redes duplas, e ali é
aquecido a 30 °C. A
capacidade dos tan-
ques é de 1.000 litros,
em média.
Para coagulação
do leite adiciona-se
coalho líquido. Ne-
nhum outro ingre-
diente é adicionado
ao leite, nem mesmo
fermento lático ou
seja, no queijo Ro-
quefort a flora lática
presente é totalmente
natural. A coagulação
se prolonga por duas
horas, e a coalhada é
cortada pelo uso de
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
2- Queijo Danablu
Características
Danablu é o queijo Azul dinamarquês, largamente exportado para
diversos países. É o queijo que apresenta maior semelhança com o
queijo Azul fabricado no Brasil. Considerando que o primeiro queijo
Azul foi elaborado no Brasil pelo pioneiro dinamarquês Lief Kay Go-
dtfredsen, as semelhanças existentes eram previsíveis. Uma caracte-
rística marcante do Danablu é a homogeneização do creme com baixo
teor de gordura (16 - 25%), que em seguida é usado para padronizar a
gordura (3,6 - 3,8%) do leite desnatado, que poderá ser pasteurizado
ou apenas termizado (65°C por 15 minutos). A homogeneização pro-
voca uma quebra dos glóbulos de gordura que facilita a ação lipolítica
do fungo na maturação (pode acelerar o processo) e forma uma massa
mais esbranquiçada que apresenta um excelente contraste com as veias
esverdeadas do Penicillium roqueforti.
É bastante comum também o uso de flora aromatizante (Lactococ-
cus lactis subsp. lactis biovar. diacetilactis e Leuconostoc mesenteroi-
des subsp. cremoris) junto com a flora acidificante tradicional (Lacto-
coccus lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis subsp. cremoris) para
produção de gás carbônico, o que torna a textura do queijo mais aberta
e propícia ao crescimento interno do Penicillium. O queijo normalmen-
te se apresenta em formas cilíndricas de 20 cm
de diâmetro, pesando de 2,7 a 3,3 kg, com
um teor de gordura no extrato seco de cerca
de 50% e umidade de 47% (logo após a fa-
bricação). Pode se apresentar ainda em outros
formatos. Outro queijo dinamarquês similar é
o Mycella, porém mais macio e suave. A se-
guir, apresenta-se o fluxograma de fabricação
do Danablu.
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Queijos Especiais
Fabricação
l 1) Usar leite desnatado pasteurizado ou termizado a 65 °C/ 15
minutos.
l 2) Obter creme com 16 – 25 % de gordura, aquecer a 60 °C, res-
friar a 45 °C e homogeneizar a 200 - 250 kg/ cm2.
l 3) Padronizar com este creme para se obter leite com 3,6 - 3,8 %
de gordura.
l 4) A 30 °C, adicionar 1,0 % de um fermento tipo LD (contém
acidificantes e aromáticas) e maturar o leite por 20 minutos.
l 5) Adicionar a dose de P. roqueforti, diluído em água desde a
véspera.
l 6) Adicionar coalho
em dose regular.
l 7) Tempo de coagu-
lação: 90 minutos.
l 8) Fazer o corte
em cubos de 1 cm de
aresta.
l 9) Repouso de 30
minutos.
l 10) Iniciar agitação
muito suave por 30
minutos. Parar, elimi-
nar 20 – 25 % do soro e continuar agitando por mais 30 minutos.
l 11) Deixar decantar a massa, sem dessorar totalmente.
l 12) Coletar a massa no tanque com panos que serão pendurados
por 15 minutos, a 20 - 21 °C. Em seguida enformar a massa.
l 13) Virar aos 15 minutos, 1, 2, 4 e 7 horas.
l 14) No dia seguinte o queijo deverá ter um pH de cerca de 4,7 e
aproximadamente 47 % de umidade.
l 15) Deixar nas formas por 48 horas, a 16 - 18 °C.
l 16) Salgar em salmoura a 10 °C, 21 % de sal, por 48 horas.
l 17) Perfurar, com 65 furos em cada lado.
l 18) Maturar por 4 - 7 semanas, 8 - 10 °C, em câmara com pelo
menos 95 % de umidade no ar.
l 19) Virar a cada dia (rodar o queijo na prateleira).
l 20) Ao final do período de 5 semanas, raspar e embalar os
queijos.
l 21) Manter a 5 °C até completar 60 dias de cura.
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Queijos com Mofos Internos
3- Gorgonzola Italiano
Características
O queijo Gorgonzola originou-se no Vale do Pó, por volta do ano
880 da era Cristã. Da maneira como é fabricado na Itália, ele está per-
feitamente definido segundo os seguintes critérios, de acordo com G. G.
Emaldi, do Istituto Sperimentale Lattiero-Caseario de Lodi, na Itália:
l queijo macio, gordo, de massa crua, produzido exclusivamente
com leite integral de vaca;
l formato cilíndrico, alto, reto com face plana;
Fabricação
Preparo do leite
O leite fresco, com 3,8 a 4,0% de gordura, é pasteurizado e aque-
cido a 30 °C. Adiciona-se o fermento, uma cultura termofílica (Lacto-
bacillus delbrueckii subsp. bulgaricus e Streptococcus thermophilus),
com acidez de 100 a 120 °D. Geralmente usa-se de 1,0 a 2,0 % de
fermento. Pode-se adicionar também 0,05 % de uma cultura de Lac-
tococcus lactis subsp. lactis biovar. diacetilactis cuja finalidade, além
de produzir ácido, é promover a abertura da massa, uma vez que este
micro-organismo produz gás. A abertura da massa auxilia o crescimen-
to do mofo no interior do queijo. Leveduras, como Candida valida,
também são eventualmente utilizadas para abrir mais a massa. Entre-
tanto, o queijeiro deve ficar atento ao problema de excesso de produção
de gás, que pode produzir defeitos no queijo. A adição de fermento ao
leite deve aumentar a acidez de 1,5 a 2,0 °D. Após o fermento, adicio-
na-se o mofo (Penicillium roqueforti). Diversas variedades de mofos
podem ser usadas, com variações na tonalidade da cor, bem como nas
atividades lipolítica e proteolítica. A quantidade de mofo a ser utiliza-
da depende de sua própria atividade. Além disso, fatores inerentes à
tecnologia de fabricação e às condições de maturação também afetam
o desenvolvimento do mofo. Dentre eles, ressaltam-se a umidade rela-
112
Queijos com Mofos Internos
Corte da coalhada
A coalhada deve ser cortada quando estiver firme e de modo a ob-
ter cubos bem grandes, de até 10 cm de lado. Após o corte deixa-se a
massa em repouso por cerca de 5 a 10 minutos. O soro deve adquirir
coloração esverdeada. A seguir, faz-se uma breve mexedura, lentamen-
te, de modo a diminuir perda de proteínas e gordura no soro e reduzir
ligeiramente o tamanho dos grãos. Dá-se outro repouso de cerca de 10
minutos, seguida de outra mexedura curta e bem suave. Este tipo de
agitação dura cerca de 50 a 90 minutos (em função da variedade dese-
jada) e deve reduzir o tamanho do grão para aproximadamente 3-4 cm
de aresta. Deixa-se então a coalhada repousar no fundo do tanque por
10 minutos, a fim de facilitar a dessoragem e depositar toda a massa. A
acidez do soro deverá ser de 12,5 a 14 °D, após o repouso.
Salga do queijo
Na maioria dos
processos a salga se
faz somente a seco.
Os queijos enforma-
dos como descritos
anteriormente e devi-
damente fermentados
são levados para uma
câmara a 10 - 12 °C.
Massa do Gorgonzola nas formas O sal é espalhado nas
114
Queijos com Mofos Internos
Maturação do queijo
Após o fim da salga, os queijos são lavados e limpos e colocados na
câmara de maturação. Nos primeiros dias, devido ao grande volume do
queijo, estes permanecem em uma câmara a cerca de 3 - 4 °C, ainda nas
formas, para que se mantenham firmes. A perfuração é feita em duas
etapas: inicialmente 10 dias após a fabricação (agulhas de cerca de 6
mm) e finalmente, na outra face, 7 dias mais tarde.
Segue-se a fase de maturação propriamente dita. A temperatura
deve ser mantida a 5
– 7 °C e a umidade a
95 %. Os queijos de-
vem ser virados pe-
riodicamente e, caso
necessário, podem
ser lavados cuidado-
samente com salmou-
ra para se evitar o
crescimento de mofo
na casca. No caso de
haver dificuldades em
obter umidade eleva-
da na câmara de ma- Gorgonzola italiano em maturação
115
Queijos Especiais
116
Queijos com Mofos Internos
4- Blue Cheese
(Queijo Azul americano)
Características
O Blue Cheese é o queijo Azul fabricado nos Estados Unidos e ape-
sar da semelhança com outros queijos maturados por fungos internos,
possui algumas ca-
racterísticas próprias.
Suas dimensões mé-
dias são de cerca de
10 cm de altura, 18
cm de diâmetro, pe-
sando aproximada-
mente 2,7 kg. O teor
máximo de umidade
permitido, por lei, é
de 46 %, mas a maio-
ria dos queijos con-
tém entre 40 e 44 %
de umidade, 3 % de
sal e, no mínimo, 50
% de gordura no ex-
trato seco. Blue cheese americano
Fabricação
n 1) Após ter sido separado do leite integral, o creme (com cerca
de 45% de gordura) é pasteurizado, resfriado a 45 °C, homogeneizado
(2.000 lb/pol2 no primeiro estágio e 500 lb/pol2 no segundo estágio) e
bombeado para o tanque, onde é misturado ao leite desnatado de ma-
neira a se obter pelo menos 3,8 % de gordura.
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
5- Queijo Stilton
Características
Juntamente com o Roquefort e o Gorgonzola, o Stilton é considera-
do um dos mais afamados queijos maturados por fungos esverdeados
internos. Teve origem na Inglaterra, onde é fabricado principalmente
no condado de Leicestershire e redondezas (somente 5 fábricas na re-
gião delimitada são autorizadas a fabricar o Stilton). Trata-se de um
queijo cuja denominação goza de proteção internacional pela União
Européia. Pode-se dizer que seria uma espécie de cruzamento entre o
famoso Cheddar britânico e o Blue Cheese ou Gorgonzola. O queijo
apresenta-se como um cilindro alto, com cerca de 23 cm de diâmetro,
37 cm de altura e peso
aproximado de 5 a 8
kg, quando curado. A
casca, meio amarron-
zada, é seca, lisa ou
enrugada (depende da
cura), mas o interior
é macio e mais amo-
lecido nas regiões de
maior crescimento
de fungo. O sabor é
muito forte, pois o
queijo é tradicional-
mente maturado por 3
meses. Antigamente o
Queijo Stilton britânico queijo não era perfu-
120
Queijos com Mofos Internos
rado, mas hoje isso é prática comum, apesar de que o processo ocorre
já na metade do preíodo de maturação. Apresenta muito menos aber-
turas (biológicas ou mecanicas) internas, comparado à outros queijos
similares. Por outros lado, ao corte apresenta veias que lhe são muito
características, pois aparecem finamente distribuídas nos pontos de sol-
dagem dos grãos. Sua elaboração é trabalhosa, assim como o período
inicial de cura, pois sua massa é muito delicada, o que requer uma série
de cuidados especiais. Normalmente é feito de leite pasteurizado, não
homogeneizado, em um processo que começa em um dia e geralmente
termina na manhã seguinte.
Há uma variante do Stilton, o queijo cha-
mado Shropshire Blue. Trata-se, na realidade,
do mesmo processo de elaboração do Stilton,
porém com a adição de uma dose considerá-
vel de corante de urucum (annatto) ao leite,
o que confere à massa uma intensa coloração
alaranjada, em forte contraste com a formação
de veias verde-azuladas típicas deste queijo. O
Shropshire Blue, similar ao
Shropshire Blue é fabricado em poucas fábri- Stilton, porém colorido com
cas, na mesma região do Stilton. urucum
Fabricação
A técnica descrita a seguir é bastante tradicional e mais apropria-
da para menores volumes de leite, uma vez
que nas grandes fábricas adotam-se processos
mais mecanizados.
n 1) Usar leite pasteurizado, com 3,8 %
de gordura, resfriado a 30 °C.
n 2) Adicionar 1 % de fermento lático me-
sofílico (à base de Lactococcus lactis subsp.
lactis e Lactococcus lactis subsp. cremoris).
n 3) Pré-maturar por 1 hora, a 30 °C.
n 4) Adicionar o mofo Penicillium roque-
forti, na dose recomendada, diluído em água
desde à véspera (cultura liofilizada).
n 5) Adicionar coalho e cloreto de cálcio ,
em doses regulares.
Stilton: salga na massa
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
6- Bleu D’Auvergne
Características
Sem nenhuma dúvida, a França é o país que
mais possui diferentes variedades de queijos
maturados por fungos do gênero Penicillium
roqueforti, quase todos apresentando algu-
ma semelhança com o Roquefort, este feito
exclusivamente com leite de ovelha. Dentre
aqueles pode-se citar o mais famoso, o Bleu
d’Auvergne, além do híbrido Bleu de Bresse
(ou Bresse Bleu), Fourme d’Ambert, Bleu du Haut-Jura (Gex ou Sept-
moncel), Bleu de Causses, entre outros. Todos são feitos com leite de
vaca, muitos deles ainda através de técnicas empíricas ou semi-arte-
sanais em regiões geograficamente delimitadas pelo governo francês.
O Bleu d’Auvergne é fabricado na região de Auvergne, próximo ao
Maciço Central, no sul da França, comumente à partir de leite cru de
ótima qualidade. O queijo não pode conter mais de 50 % de umidade e
deve apresentar no mínimo 40 % de gordura no extrato seco. Os quei-
jos apresentam aproximadamente 2,5 kg de peso, 20 cm de diâmetro e
8 cm de altura. Geralmente possuem grande intensidade de veias inter-
nas, massa macia, bem “solúvel”, sem muita untuosidade. É feito com
leite integral, não homogeneizado.
Fabricação
n 1) Usar leite integral, cru, de ótima qualidade (quando se usar
leite pasteurizado, o uso de fermento lático mesofílico é recomenda-
do). Na França, mesmo em se tratando de leite cru, pequenas doses de
fermento são adicionadas.
n 2) Aguardar, à 30 – 32 °C, que a acidez titulável do leite se situe
entre 22 e 25 °D, quando o coalho será então adicionado. Nos proces-
sos mais tradicionais o mofo é ainda adicionado diretamente à massa.
Nas fabricações mais industrializadas, o Penicillium roqueforti é adi-
cionado ao leite.
n 3) Com cerca de 15 minutos, inicia-se a floculação do leite. O
corte da coalhada será feito 60 a 90 minutos após a adição do coalho.
Em geral, procura-se obter no soro uma acidez tal de forma que a dife-
rença para aquela do leite quando da adição do coalho não seja superior
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos com Mofos Internos
Por exemplo, se A deu 170 °D e B deu 155 °D, a diferença será de 15 °D.
Interpretação: a diferença ideal para se fazer Gorgonzola bem
aberto é cerca de 15 a 25 °D. Se der abaixo de 10 °D o queijo terá
menos olhos biológicos (nesse caso, subir a temperatura de incubaçao
para 28-30 °C ou aumentar inoculação para 2%). Se der mais de 25 °D,
baixar a temperatura de incubação para 20-22 °C ou reduzir inóculo
para 1,0 a 1,5 %.
Deve-se observar que o volume a ser usado na titulação é de 20 mL
(e não 10 mL, como se faz habitualmente). Esse procedimento é adota-
do para diminuir erros de leitura e de interpretação.
Não se deve repicar o fermento semi-direto (já ativado) indefinida-
mente em laboratório, como se fosse uma “isca” usada antigamente em
fábricas. Ele poderá perder seu equilibrio de espécies e cepas, e poderá
não produzir gás de forma adequada. Quando um envelope para 1.000
litros acabar, deve-se iniciar tudo novamente com um envelope novo.
O sistema
O sistema é bastante simples, pois baseia-se na utilização de um
tubo de Venturi, onde o vapor em alta pressão sofre um estrangulamen-
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
elaborar queijos com leite cru. Filtros de linha são usados para impedir
o arraste, por vapor, de elementos estranhos eventualmente presentes
na água da caldeira.
O resfriamento é
feito em resfriadores
tipo cascata, que são
abertos, e permitem
a exalação de vapores
do leite, que percorre
o aparelho em cama-
das muito finas. Esta
“desodorização” na-
tural certamente con-
tribui para a melhoria
das características
sensoriais do queijo.
O vapor condensado no leite durante o tratamento implica em uma
“aguagem” do leite que pode variar de 8 a 12%, dependendo das ca-
racterísticas do vapor utilizado. Resulta daí um maior grau de delacto-
sagem (lavagem) da massa, que pode contribuir para a obtenção de um
queijo mais mineralizado, menos ácido e mais susceptível aos fenôme-
nos enzimáticos típicos da maturação, devido ao pH ligeiramente mais
elevado. Devido a esta lavagem intensa, a massa apresenta caracterís-
ticas de massa “estabilizada” (menos acidez, mais umidade, pH mais
alto, mais cálcio) o que faz com que o queijo tenha uma tendência a
curar e formar sabor mais rapidamente.
A turbulência e alta pressão de vapor na câmara de mistura do ejetor
teriam um efeito similar ao da homogeneização fracionando os gló-
bulos de gordura e dispersando-os finamente no leite. Tal fenômeno
contribuiria para menor perda de gordura no soro e maior untuosidade
da massa do queijo, além de facilitar a ação de eventuais lipases micro-
bianas na maturação.
Quando o queijo Azul é feito por leite pasteurizado por ejetor de
vapor, o queijo apresenta algumas características especificas, oriundas
do singular processo:
n a) No processo, o vapor se condensa no leite e, dependendo das
condições de trabalho, até 12 % de água pode ser incorporada ao leite.
Esta água terá um efeito de lavagem na massa, reduzindo a acidez do
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
Elaboração
n Leite pasteurizado (ejetor ou placas), alto teor de gordura (inte-
gral ou mínimo de 3,8 - 4,0 %), resfriado a 32 °C. Geralmente trabalha-
-se em tanques de 1.000 a 2.000 litros de leite, de paredes simples ou
duplas. Quando se usa o ejetor de vapor (leite termizado) o queijo é
mais branco, menos ácido e matura um pouco mais rápido, com ten-
dência a ficar mais pastoso.
n O fermento lático mesofílico é adicionado à base de 1,5 a 2,0 %
no início do enchimento do tanque. Geralmente usa-se uma cultura tipo
“LD”, aromática, que contem os produtores de gás Lactococcus lactis
136
Queijos com Mofos Internos
Fermentação
Os procedimentos de fermentação e de enformagem são dois pontos
críticos para a qualidade do queijo Azul, sobretudo no tocante a con-
sistência da massa e distribuição do mofo. Quando é dado o ponto da
massa, os procedimentos de fermentação e de enformagem se resumem
basicamente em duas opções sendo que a segunda opção é a mais em-
pregada.
n 1 - Puxar a massa para o extremo do tanque, firmar com anteparos
e proceder à dessoragem completa com o auxílio opcional de bombas.
Formar canaleta central para escoar o soro, arredando a massa para as
laterais. Dividir em vários blocos que são virados frequentemente du-
rante cerca de 20- 30 minutos. Aguardar a elevação da acidez do soro
que escorre da massa. A acidez deverá se situar na faixa de 30- 35 °D
no momento de enformagem, quando a massa apresenta consistência
típica, como se “desfiasse” (tipo carne de peito de frango).
Triturar os blocos com as mãos e adicionar sal fino à base de 0,5 -
0,8 % (calculado sobre o volume inicial de leite, ou seja de 5 a 8 kg de
sal/1.000 litros de leite), misturando bem. Enformar de maneira a obter
formas de cerca de 3 kg. Nas próximas duas horas, virar cerca de 3 a
4 vezes, em intervalos regulares. Para se obter a altura ideal do queijo,
uma forma inteiramente cheia pode ser vertida sobre outra cheia ape-
nas pela metade, cerca de 15 minutos após o início da enformagem.
Este método é pouco usado hoje em dia, não sendo mais recomendado
devido ao manuseio excessivo da massa, o que a quebra muito e sobre-
tudo, aumenta o risco de contaminações indesejáveis, especialmente
com micro-organismos do gênero Staphylococcus.
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Queijos com Mofos Internos
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Queijos Especiais
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Queijos com Mofos Internos
Salga
O processo de sal-
ga poderá ser feito
através de 3 métodos:
n a) Salga em sal-
moura a 20%, a 10 -
12 °C e pH de 4,8 por
24 horas, seguido de
salga a seco por mais
24 horas (processo
pouco usado). Curva típica de abaixamento do pH na elaboração do queijo Azul
n b) Salga em
salmoura por 48 ho-
ras (processo mais
usado)
n c) Salga a seco
diretamente, esfre-
gando-se sal fino
nos queijos, por 2
a 3 dias, enquanto
estes são mantidos
nas formas e virados
diariamente (é um
processo quevem
sendo cada vez mais
adotado). Salga do queijo Azul em salmoura
A salga a seco é feita no interior de uma câmara fria (10-12 °C), mas
se o queijo foi feito com uso de culturas LD e ainda não se apresenta
suficientemente aberto, a salga poderá ser feita na sala de fermentação
(20 - 25 °C) por um ou dois dias, para estimular a atividade desta cul-
tura. Ao final da salga a seco os queijos são lavados com água fria para
retirar o excesso de sal.
141
Queijos Especiais
Perfuração e maturação
n Um dia após
este tratamento, os
queijos são perfura-
dos abundantemente
(cerca de 150 furos
de cada lado). Usan-
do-se perfuradores
de 50 varetas, reco-
menda-se 3 perfura-
ções em cada face do
queijo. O ideal é que
a perfuração se faça
com o queijo frio para
evitar o fechamento
dos furos. Logo após
a perfuração são con-
duzidos para a câma-
ra de maturação, a 10
– 12 °C. Temperatu-
142
Queijos com Mofos Internos
143
Queijos Especiais
144
Queijos com Mofos Internos
145
Queijo Cheddar e Variedades
Parte 3
Queijo Cheddar e
Variedades
Introdução
O queijo Cheddar, de origem britânica, vem sendo fabricado há séculos
naquele país. Sua origem se deu na cidade de Somersetshire na Inglaterra.
Devido à forte influência colonial da Inglaterra nos século XVIII e XIX,
sua fabricação expandiu-se para os países sob influência britânica na épo-
ca, como os Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Hoje,
tornou-se um queijo de renome mundial, que é fabricado, literalmente, em
quase todos os países onde se fabricam queijos. Devido às suas caracterís-
ticas físico-químicas, sensoriais e também por sua durabilidade, o Cheddar
tornou-se a principal matéria-prima para a elaboração de queijos proces-
sados e fundidos. Uma grande parte de sua fabricação não se destina ao
consumo direto, a me-
nos que seja utilizado
como base em mistu-
ras de queijos fundidos
de diferentes apresen-
tações e sabores. O
Cheddar original, de
longa maturação, apre-
senta um sabor típico
pronunciado ligeira-
mente ácido. Queijo Cheddar, de cor amarelada intensa e textura cerosa
dade entre 37 e 39%, sabor mais suave e mais macio. Devido às carac-
terísticas típicas de consumo do queijo nos Estados Unidos o Cheddar
americano já não possui as mesmas características do original britâni-
co. Nos Estados Unidos, comumente divide-se o Cheddar em 3 cate-
gorias, de acordo com o grau de maturação e de intensidade de sabor:
l “mild” ou “mellow”: Suave, com cura entre poucas semanas e até
cerca de 4 meses.
l “sharp”: Sabor pronunciado entre 4 e 8 meses de maturação.
l “extra-sharp”: Queijo envelhecido por até 1 ano, de forte sabor
e aroma, de pasta bem cerosa.
No Brasil, a fabricação de queijo Cheddar é ainda incipiente, mes-
mo para o uso como base em queijos processados. O consumo direto
do queijo é de pouca relevância. Nos últimos anos, vem aumentando
o interesse pelo queijo Cheddar por parte das indústrias de laticínios,
sobretudo devido à crescente produção de queijo processado destinado
às cadeias de restaurantes “fast-food”. Procura-se elaborar um queijo
com teor de umidade em torno de 38/39 %, cujo período de maturação,
em geral, não ultrapasse os 4 meses.
Quadro 1: Características gerais do queijo Cheddar
PARÂMETRO ESTADOS UNIDOS REINO UNIDO
Consistência Cerosa Mais quebradiça
Sabor Levemente ácido Mais acentuado
Sal (%) 1,7 - 1,8 2,0
Acidez (%) 0,65 0,85
pH 5,2 4,8 - 5,1
Textura Fechada, com finas divisões mecânicas Fechada, com finas divisões mecânicas
148
Queijo Cheddar e Variedades
149
Queijos Especiais
A padronização do leite
O queijo Cheddar necessita de uma cuidadosa padronização em seu
processo, haja visto que é usado como matéria-prima para a elaboração
de outros queijos processados. Além disso, por ser elaborado com cul-
turas mesofílicas e apresentar uma acidez mais alta, tende a reter mais
enzimas do coalho na massa, sofrendo forte proteólise desde o início
da maturação, com risco de formar sabor amargo. Assim, a padroni-
zação de certos parâmetros é fundamental para se obter um queijo de
qualidade consistente.
Na fabricação do queijo Cheddar, procura–se obter GES de no mí-
nimo 50%. Para tal, deve-se trabalhar com a relação Caseína/Gordura
(C/G) 0,69 a 0,70.
Exemplos práticos:
l se Caseína 2,6 gordura será = 3,77%.
l se Caseína 2,4 gordura será = 3,50%.
Cada aumento de 0,03 na C/G corresponde a uma redução aproxi-
mada de 1% na GES.
150
Queijo Cheddar e Variedades
Salga
Tradicionalmente a salga do queijo Cheddar e suas variedades é
feita diretamente na massa. Para a salga na massa recomenda-se de
2,5 a 3,0 kg de sal para cada 1.000 litros de leite coagulados. Essa
quantidade deve ser ajustada de acordo com a fabricação, sendo que é
comum a necessidade de se agregar mais sal em função de perdas no
soro durante a salga e na prensagem que se segue. Como estima-se que
cerca de 45% do cloreto de sódio se perdem no soro, pode-se usar 2,7
kg/100 kg massa para conferir entre 1,6 e 1,8% de sal no queijo acaba-
do, o que corresponderia a um mínimo de 4,6% na água de um queijo
com 37% de umidade. Para evitar maiores perdas de sal e de gordura
no soro, que sai da massa na prensagem, recomenda-se um “mellowing
151
Queijos Especiais
Embalagem e maturação
Nos processos mais
antigos do Cheddar,
no estilo tradicional
britânico, o queijo
era embalado em pa-
nos, os quais se tra-
tavam com óleo ou
mesmo com banha
para a proteção da
casca durante o lon-
go período de cura.
Nesses casos, o queijo perdia peso durante a cura e formava uma
casca típica. O sabor também era mais acentuado.
Atualmente, o queijo é prensado em colunas ou torres de prensagem
à vácuo e já vai direto para a embalagem e dali para a cura. Assim, não
há perdas de peso e nem de formação de casca. Pelo menos esse é o
procedimento comum nos Estados Unidos, sendo que no Reino Uni-
do muitas fábricas ainda fabricam o queijo em formato cilíndrico ou
mesmo em blocos, mas o curam sem embalagem por um período, para
melhorar seu sabor e textura.
Para o Cheddar curado a vácuo, desde o princípio, recomenda-se
um teor máximo de 37% de umidade, para compensar a ausência de
desidratação parcial na maturação.
A cura pode durar até 12 meses, entre 4 e 10°C, dependendo do
sistema, da variedade de Cheddar e da intensidade de sabor desejada.
O rendimento da fabricação (queijos com cerca de 37% de umidade, a
partir de leite com 3,5% de gordura) varia de 9 a 9,8% (ou seja, de 10,2
a 11,0 L/kg).
152
Queijo Cheddar e Variedades
153
Queijos Especiais
154
Queijo Cheddar e Variedades
156
Queijos com Mofos Externos
Parte 4
Introdução
Dentre os mais renomados queijos de fama internacional, o Ca-
membert é um dos poucos cuja denominação tornou-se domínio públi-
co, não gozando assim de proteção internacional. Pode, portanto, ser
fabricado, com esse nome em qualquer parte do mundo.
O queijo Camembert é de origem francesa, tendo sido fabricado,
artesanalmente, pela primeira vez em 1791, no vilarejo de Camembert,
na Normandia, por Marie Harel. Hoje, é um dos queijos mais famo-
sos do mundo, fabricado em diversos países e em diversos formatos e
apresentações.
Características do Camembert
Na França, o Camembert é definido de uma
maneira peculiar, como um queijo de 10,5 a
11 cm de diâmetro, massa mole, com mofos
superficiais, contendo, no mínimo, 40% de
gordura no extrato seco (GES) e, no mínimo,
110 g de sólidos totais. Observe que não há
referência a teor máximo de umidade, já que
os queijos são vendidos por unidades e não por peso e, assim, é essen-
cial que apresentem dimensões e pesos uniformes (geralmente o peso
do queijo varia de 230 a 260 gramas). A maioria dos queijos apresenta
entre 45 e 50% de GES.
O queijo se caracteriza, sobretudo pelo crescimento externo do
mofo branco Penicillium camemberti, que se apresenta como um
157
Queijos Especiais
Componente Percentual
Gordura 23%
Umidade 48 – 51%
GES 43-49%
Proteínas 18%
pH da superfície 7,0
pH do interior 6,0
Sal 1,8 -2,0%
Sal na umidade 4,5%
N solúvel/N total 34%
Características do Brie
Na França, o queijo Brie é considerado um
dos mais importantes do país e dos mais an-
tigos e tradicionais. Apesar da grande seme-
lhança com o Camembert, possui identidade
própria. Trata-se de um queijo cuja coalha-
da tem características láticas (maior contri-
buição do ácido lático na desmineralização)
bem mais fortes do que o Camembert, resul-
tando em maior perda de cálcio no processo.
Existem três tipos de Brie mais conhecidos
na França:
l 1) Brie de Meaux: é o mais famoso de
todos e se apresenta em formato cilín-
drico de aproximadamente 37 cm de di-
âmetro e 2,0 - 2,5 cm de altura.
l 2) Brie de Coulommiers: diâmetro de cerca de 25 cm.
l 3) Brie de Melun: diâmetro entre 16 a 24 cm.
Todos os tipos acima são maturados externamente por Penicillium
camemberti e, devido a forte produção de ácido lático na fabricação (o
leite é pré-maturado com fermentos até 25 – 26 °D), possuem pouco
cálcio, tendo sua massa frágil e quebradiça. Possui, ainda, um diâmetro
considerável e pouca espessura e apresenta dificuldades de manuseio
após a enformagem. Na França, é ainda comumente fabricado em sis-
tema semi-artesanal, com leite cru, sendo a coalhada enformada sem
corte prévio com liras.
Atualmente, fabrica-se também na França o Brie com massa estabi-
lizada, ou seja, a coalhada é intensamente lavada e são usados fermen-
tos especiais, tudo com a finalidade de se obter um queijo mais suave e
de maturação mais rápida.
159
Queijos Especiais
Variedades de Penicillium
O gênero Penicillium é extenso e agrupa cerca de 150 espécies. Na
fabricação de queijos, as espécies P. roqueforti (nome antigo P. glau-
cum) e P. candidum são as mais conhecidas.
Na fabricação do queijo Camembert, parece existir alguma confu-
são com relação à nomenclatura empregada para definir o mofo, já que
esse é comumente citado como:
l P. camemberti (ou P. camemberti Thom), que é o nome atual-
mente usado e é a variedade mais usada em todo o mundo;
l P. candidum (ou P. candidum Link);
l P. album;
l P. caseicolum.
Atualmente, en-
tende-se que P. al-
bum é o nome co-
mum e comercial de
uma variedade do
tradicional P. camem-
berti, em se tratando
de mofos similares,
mas não idênticos;
O P. album no início
da maturação é bran-
co, mas no decorrer
do período adquire
um ligeiro tom acin-
zentado. É ainda usado em fabricações tradicionais de Camembert na
França (onde se usa também o P. candidum) e na fabricação do Brie.
Tem grande interesse na fabricação de queijos de leite de cabra naquele
país, sobretudo nas fabricações em fazendas.
P. candidum é o nome comum e comercial do mofo que se denomina-
va tradicionalmente P. caseicolum, que é também considerado um mu-
tante branco do P. camemberti. Sua coloração branca não muda durante
a maturação e é a variedade mais usada nos EUA, Dinamarca, Brasil e
outros países, já sob a denominação de Penicillium camemberti.
Em diferentes cepas ou variedades, o Penicillium camemberti pode
se apresentar com micélios mais curtos ou mais longos, com cresci-
161
Queijos Especiais
Preparação do leite
Na fabricação tradicional do Camembert e mesmo nos processos
semi-contínuos existentes na França, o leite não é, geralmente, coagu-
lado em grandes volumes (comumente é co-
agulado em tinas de 80 a 100 litros apenas);
isso se deve à delicadeza da coalhada desse
queijo (que, na França, deve apresentar um
alto teor de umidade, cerca de 55%, um dia
após a elaboração), que não permite manipu-
lação prolongada no tanque no momento da
enformagem e dessoragem final (risco de per-
da excessiva de umidade). Em muitas fábricas,
Fabricação tradicional de
Camembert na Normandia,
observa-se o uso de pequenos tanques, de vo-
com uso de pequenas tinas lume variável entre 200 e 500 litros de leite.
A massa do Camembert é tipicamente desmineralizada e esse é um
dos fenômenos essenciais do processo. Para se conseguir o grau de
desmineralização compatível com a textura e com o corpo do queijo,
na França recomenda-se que o leite seja pré-maturado com fermentos
láticos mesofílicos acidificantes (Lactococcus lactis subsp. lactis e
Lactococcus lactis subsp. cremoris) por um longo período, a 28 – 32
°C, até que se atinja 21 – 23 °D. A pré-maturação é importante, pois
não só inicia a solubilização do cálcio como também permite dimi-
nuir a dose de coalho empregada (diminui o risco de sabor amargo).
O tempo de coagulação variará em função da acidez no momento da
adição do coalho; quando se tem uma acidez mais baixa (21 °D ou
menos) pode-se estender o tempo de coagulação por até 90 minutos
(o que permite então uma boa acidificação; quando a acidez está na
faixa de 23 – 25 °D, o tempo de coagulação será de 40 a 60 minutos
aproximadamente.
Com o uso crescente de culturas super-concentradas de aplicação
direta ao leite, tem havido mudanças no processo de pré-maturação,
que deve ocorrer por um tempo mínimo de 40 minutos, à temperatura
de coagulação; Posteriormente, durante o processo no tanque e fermen-
tação nas formas, ocorre um gradual abaixamento do pH, o que acaba
provocando uma desmineralização adequada da massa, conforme se
162
Queijos com Mofos Externos
Corte da coalhada
Em alguns processos tradicionais na Fran-
ça, a coalhada não é cortada (“moulage à la
louche”). Na maioria das fabricações indus-
triais a coalhada é cortada em cubos gran-
des de, aproximadamente, 2 cm de arestas.
O tamanho dos cubos é importante, pois in-
fluencia na retenção de umidade e no corpo Na França, a coalhada é
do queijo. cortada e não sofre agitação
antes da enformagem
163
Queijos Especiais
Enformagem
Diversos métodos
de enformagem po-
dem ser empregados
na fabricação do Ca-
membert. Quando se
utilizam tinas de 80
litros para a coagula-
ção do leite, como em
processos mecaniza-
Enformagem com concha em processo tradicional na França dos, a massa pode ser
vertida de uma só vez
(após uma extração parcial do soro por bom-
bas) sobre um bloco de multiformas, adaptado
com uma espécie de placa de coleta, que per-
mite a distribuição rápida e uniforme da coa-
lhada em todas as formas.
O método mais simples e comumente em-
pregado é a eliminação parcial do soro, até que
a quantidade do mesmo seja suficiente apenas
recobrir a coalhada; a massa é então enforma-
da em formas plásticas de fundo perfurado;
diversas viragens podem ser conduzidas nas
primeiras horas após a enformagem.
É importante que a massa não seja comple-
tamente dessorada para a enformagem, o que
Processo semi-contínuo de
elaboração do Camembert
poderia provocar aglomeração dos grãos com
164
Queijos com Mofos Externos
Fermentação e pH
A dessoragem prossegue nas formas e é importante que a tempera-
tura do local de dessoragem não seja baixa (deve estar por volta de 20
– 25 °C), caso contrário a flora diminui sua atividade e os queijos não
dessoram bem. Em certas regiões, é necessário climatizar o ambiente
durante os períodos de inverno.
O pH do queijo Camembert, 24 horas após a elaboração, deverá
ser de 4,7 a 4,8; é muito importante que o pH seja baixo, o que é uma
indicação de bom grau de desmineralização e formação suficiente de
ácido lático para o metabolismo e crescimento do Penicillium. Além
disso, é fundamental, no controle de certas contaminações, que podem
acometer o queijo durante sua maturação.
Se o pH é igual ou superior a 4,9 o quei-
jo não “enxuga” tão bem e estará sujeito mais
facilmente a uma série de problemas na ma-
turação, inclusive o defeito conhecido como
“pelo de gato”.
Todo o processo do Camembert e Brie leva
a um queijo com acentuado grau de desmine-
ralização. O teor de cálcio no Camembert mais tradicional é de cerca
de 0,2 a 0,3%, o que corresponde a uma relação Ca/Extrato Seco De-
sengordurado em torno de 0,6 a 0,7%. No Camembert industrializado,
que geralmente é menos ácido, o teor de cálcio varia de 1,0 a 1,5%.
Quanto menos cálcio, mais frágil é a massa do Camembert. Para se
obter um grau tão elevado de desmineralização, em processos tradicio-
nais o fermento mesofílico é pré-maturado no leite até pH 6,20 - 6,30
e o tempo de coagulação pode ser alongado até 75 minutos, a 32 °C.
165
Queijos Especiais
60 minutos, em uma
salmoura com 20%
de sal, à 10 – 12 °C.
É fundamental que a
salmoura apresente
um pH próximo ao
do queijo, cerca de
4,8. Como a salmoura
é uma fonte comum
de contaminações,
recomenda-se que a
salmoura, para o Ca-
membert, seja rigoro-
samente controlada,
devendo ser renovada
ou fervida e filtrada
pelo menos duas ve-
Distribuição do sal na casca e centro do Camembert, em 7 dias zes por mês ou até
de cura
mesmo semanalmen-
te, dependendo da intensidade do uso. A cada tratamento, o pH deve
ser reajustado para 4,8 com o uso de solução a 10% de ácido clorídrico
e adição de 0,5% de uma solução a 40 – 50% de cloreto de cálcio (esse,
sobretudo em salmouras novas). O teor de sal deve ser regularmente
ajustado, uma vez que, se o Camembert não receber um mínimo de
sal, torna-se susceptível a diversas contaminações com outros fungos
e algumas leveduras.
O sal exerce um importante papel seletivo na maturação do queijo
Camembert. O mofo Penicillium camemberti resiste a elevadas con-
centrações de sal e cresce sem problemas num queijo com 5% de sal
na umidade ou Aw de 0,975; mesmo com 10% de sal e umidade (Aw
de 0,947) ainda apresentaria 36% de sua capacidade máxima de cresci-
mento. Por outro lado, contaminantes como o fungo Mucor (“pelo de
gato”) tem seu crescimento inibido em 53% em Aw = 0,97 e em 89%
em Aw = 0,94. Assim, a salga deve ser conduzida tão logo os queijos
sejam retirados das formas, para se evitar a proliferação de contami-
nantes que preferem concentrações mais baixas de sal.
O tempo de salga deverá ser ajustado de maneira a se obter um quei-
jo com cerca de 2,0 a 2,5 % de sal.
166
Queijos com Mofos Externos
Pulverização do mofo
A aplicação do mofo Penicillium camem-
berti no queijo pode ser feita de formas muito
variadas. Na França, algumas técnicas preco-
nizam a adição de mofo ao leite e/ou ao fer-
mento lático (havendo olhaduras mecânicas
no queijo existe o risco de crescimento inde-
sejável do mofo internamente); até mesmo na
salmoura o mofo pode ser adicionado, mas
isso só deve ser feito com mofos líquidos e
nunca com esporos liofilizados (há rompimen-
to celular por efeitos osmóticos). No Brasil,
é muito comum a adição do mofo ao leite e
pulverização após a salga em salmoura. Geral-
167
Queijos Especiais
168
Queijos com Mofos Externos
Quando se deseja
elaborar um Camem-
bert com característi-
cas mais próximas às
do original francês,
o uso desses cultivos
complementares é
essencial, sobretudo
o Geotrichum candi-
dum.
Os micro-organis-
mos mais utilizados
são, além do Geotri-
chum candidum, al-
gumas leveduras (das espécies Kluyveromyces, Candida ou Debaryo-
mices). Suas principais características são descritas a seguir:
1- Geotrichum candidum
Até alguns anos atrás era considerado, sobretudo um contami-
nante do queijo Camembert e de fato quando fora de controle (ex:
queijo sem sal) provocava o defeito conhecido por “pele de sapo”.
Hoje, sabe-se que o Geotrichum faz parte da microflora normal do
Camembert e possui um papel importante na sua maturação. Quan-
do se deseja fabricar um queijo Camembert ou Brie com grande
destaque para o sabor e aroma, além da textura típica, é funda-
mental o uso de Geotrichum candidum, como é recomendado nas
melhores fontes de literatura sobre queijos maturados com mofos
brancos externos.
Existem 3 tipos básicos de G. candidum: Mofo, levedura e interme-
diário (todos produzem micélio e esporos no queijo).
Características principais:
n É aeróbico.
n É muito sensível ao sal: cerca de 5% de sal (na água do queijo)
o inibe completamente. O teor de sal ideal para seu crescimento é de
0,5% e qualquer teor superior passa a inibí-lo gradativamente. Com Aw
de 0,992 cresce 100%, em 0,975 só cresce 47% e a 0,947 é totalmente
inibido.
169
Queijos Especiais
n Temperaturas
de crescimento = ide-
al 25 °C, máxima 30
- 35 °C, mínima 2 – 4
°C, sendo destruído a
55 °C.
n pH ideal de
crescimento = 6 - 7,
sendo o mínimo de
4,6.
n Não fermenta
a lactose, mas pode
fermentar glucose e
galactose.
n Possui amino-
peptidases, carboxi-
peptidases e desami-
nases.
Geotrichum candidum: importante atuação na maturação do
Camembert n Em queijos
como o Limburgo, de
casca lavada, o G. candidum neutraliza a casca e faz subir o pH, faci-
litando o crescimento de Brevibacterium linens.
170
Queijos com Mofos Externos
l Leucina --------------------Òmeti-3-butanol
l Fenilalanina --------------Òfenil-metanol
2 - Leveduras
Têm sido recomendadas para substituir leveduras endógenas do lei-
te cru, inativadas pela pasteurização do leite e que conferem o sabor
típico do tradicional Camembert de leite cru ainda hoje fabricado na
Normandia. Não são proteolíticas, ou seja, não degradam a caseína,
mas podem degradar componentes menores como peptídios, alguns
deles de gosto amargo. Possuem, ainda, um importante papel de de-
sacidificação do queijo. Podem ser utilizados, basicamente, 4 espécies
de leveduras:
l Kluyveromyces lactis
l Kluyveromyces marxianus
l Candida valida
l Debaryomyces hansenii
171
Queijos Especiais
172
Queijos com Mofos Externos
173
Queijos Especiais
Modificações na maturação
No início da maturação do queijo Camembert, o mofo P. camem-
berti (e também Geotrichum candidum) consome a lactose, lactato e
ácido lático presentes na massa e inicia o processo de neutralização da
mesma. No início da maturação, algumas leveduras (Torula sp.) tam-
bém crescem na superfície e produzem pequenas quantidades de eta-
nol, que reagem com ácido acético (de outras fermentações) formando
acetato de etila, o qual confere um aroma típico (de frutas, eventual-
mente) ao queijo nessa fase. Por volta de 6 - 7 dias, o P. camemberti
terá dominado a flora de leveduras e Geotrichum candidum, e se ins-
tala definitivamente na superfície. Ao final da maturação, é frequente o
crescimento de Brevibacterium linens, cujo desenvolvimento é favo-
recido pela neutralização da massa (só cresce em pH acima de 5,6, mas
se o teor de sal for acima de 5,0% na umidade começa a ser bastante
inibido). Essa bactéria confere uma coloração levemente alaranjada
(ou avermelhada) ao Camembert, que é típica do queijo em sua fase
174
Queijos com Mofos Externos
175
Queijos Especiais
176
Queijos com Mofos Externos
Posteriormente,
um grupo de ameri-
canos, composto de
400 homens e mu-
lheres trabalhadores
de uma fábrica de
queijos de Van Wert,
em Ohio, doou nova
estátua de Marie Ha-
rel, que pode ser vista
hoje em uma das pra-
ças de Vimoutiers. Enformagem “à la louche” em fabricação artesanal do Camembert
A denominação Camembert
Essa denominação caiu no domínio público e tornou impossível a
proteção adequada, tal como fora feito para outros queijos como o Ro-
quefort, Pecorino, e o Gorgonzola. Assim, fabrica-se queijo Camembert
no mundo inteiro. Dentro da França, entretanto, criaram-se leis visando
proteger pelo menos o tradicional Camembert, produzido na Norman-
dia. Naquele país, o Camembert é também fabricado nas mais diversas
regiões, porém reserva-se uma denominação especial àquele produzido
em determinadas regiões da Normandia. O Camembert recebeu a pro-
teção do rótulo “Veritable Camembert de Normandie” por decisão de
12 de abril de 1968, com homologação sob o no 002-68. Essa definição
precisa bem: o queijo revestido pelo selo dos fabricantes do “Veritable
Camembert de Normandie” é um Camembert conforme prescrito pelo
decreto no 531.048, de 26 de outubro de 1953 e que possui, no mínimo,
45% de gordura no
extrato seco e um mí-
nimo de 115 gramas
de extrato seco total
em cada queijo.
Além disso, ele
deve ser fabricado de
leite coletado em uma
zona previamente de-
finida; daí o selo de
Coagulação do leite em fabricação típica do Camembert na
Normandia, França garantia só ser atribu-
180
Queijos com Mofos Externos
182
Queijos com Mofos Externos
183
Queijos Especiais
3- Fases da fabricação
Coagulação e agitação da massa
n Leite pasteurizado com teor de gordura suficiente para se obter
um queijo com, no mínimo, 45% de gordura no extrato seco (geral-
mente, leite com cerca de 3,0 a 3,2% de gordura).
n Quando se usar cultivo propagado, adicionar 1,0% de fermento
lático mesofílico (Lactococcus lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis
subsp. cremoris). Os fermentos tipo “O” (contendo os microorganis-
mos já mencionados) e tipo “LD” (aromático, contendo os microorga-
nismos do fermento tipo “O” mencionados, mais Lactococcus lactis
subsp. lactis biovar. diacetilactis e Leuconostoc mesenteroides subsp.
cremoris, que fermentam citratos com produção de diacetil, entre ou-
tros componentes) tem sido usado com sucesso, em que pese produzi-
rem um pouco de gás na massa durante a cura.
n Pré-maturar o leite a 32°C até 21-22 °D com as culturas pro-
pagadas ou por 40 minutos com os cultivos concentrados diretos. É
recomendável adicionar-se uma parte do fungo Penicillium candidum
ao leite nesse momento, além da pulverização posterior dos queijos.
Recomenda-se ainda que o mofo seja reidratado na véspera de ser uti-
lizado: diluir em 1 litro de água contendo 2% de cloreto de sódio (sal)
e manter entre 5 e 10°C por pelo menos 16 horas, até a pulverização.
Assim, adicionar ao leite apenas 1/3 da dose indicada de Penicillium
camemberti.
184
Queijos com Mofos Externos
Enformagem e fermentação
n Eliminar a maior parte do soro (até a massa aflorar à sua su-
perfície) e proceder à enformagem, sendo a massa coletada no tanque
junto com o soro, em formas de fundo rendado (encher bem as for-
mas, prevenindo a intensa dessoragem até o dia seguinte). Geralmen-
te, deve-se encher 3/4 da forma para assegurar o tamanho correto do
queijo dessorado. Recomenda-se o uso de bandejas apropriadas, que
se encaixam sobre
um grande número
de formas e permi-
tem seu enchimento
rápido (massa cole-
tada em baldes), bem
uniforme (queijos de
mesmo tamanho e
altura) e diminuem
drasticamente as per-
das de massa e que-
das no rendimento da
fabricação.
Enformagem da massa na elaboração do Camembert
185
Queijos Especiais
Salga e maturação
n Salgar os quei-
jos por 1 hora em
salmoura com 20%
de sal (19°Bé), pH de
4,7 - 4,8. Nesse pon-
to, antes da salga, o
teor de umidade do
queijo deve estar por
volta de 54 a 55%,
como é usual na Fran-
ça. Com essa umidade,
o Camembert fica mais
macio, porém cura
mais rápido. Quando se
Salga do queijo Brie em salmoura deseja um queijo com
186
Queijos com Mofos Externos
187
Queijos Especiais
Maturação e embalagem
n A primeira ma-
nifestação do cresci-
mento do mofo sur-
ge, em média, entre
5 e 7 dias na forma
de uma camada fina
de mofo. Com cerca
de 8 a 9 dias deve-
rá haver pleno cres-
cimento do fungo.
Virar os queijos,
aguardar mais 2 ou
3 dias (crescimento
completo do mofo na face que estava em contato com a grade) e
embalar em papel alumínio especial (com forração dupla).
n Nessa fase, os queijos poderão ser acondicionados nas caixi-
nhas de papelão (ou de madeira) e enviados ao mercado ou deixados
a curar por mais al-
gumas semanas. No
Brasil, é comum a co-
mercialização do Ca-
membert ou Brie com
cerca de 2 semanas
de maturação apenas.
Cerca de 30 dias após
a fabricação, os quei-
jos devem apresentar
um teor de umida-
de médio entre 48 e
50%, pH no exterior
por volta de 5,8 a 6,0
e aproximadamente
Com cerca de 6 dias de cura, já se notam os primeiros vestígios 1,8 a 2,0% de sal.
do Penicillium
188
Queijos com Mofos Externos
189
Queijos Especiais
Queijo Brie
Características
No Brasil, quase sempre o Brie é fabrica-
do pela mesma metodologia do queijo Ca-
membert. Assim, os queijos praticamente são
iguais, a diferença fica mais por conta do for-
mato do que das características físico-quími-
cas ou sensoriais.
Fabricação
Adota-se, em geral, a mesma técnica bá-
sica utilizada para o Camembert. O queijo,
porém é enformado em formas de diâmetro
maior e frequentemente é cortado antes de
maturar (logo após a salga) em forma de tri-
ângulo. A maturação é ligeiramente mais rá-
pida do que no queijo Camembert, devido ao
formato do queijo, que tende a proteolisar-se
mais rapidamente na extremidade mais aguda
do triângulo.
1) Pelo de gato
Trata-se, prova-
velmente, do conta-
minante mais comum
afetando a fabricação
dos queijos Camem-
bert e Brie. Esse de-
feito se caracteriza
pelo crescimento de
um mofo de cor cinza
ou escura, na superfí-
cie do queijo, quase
sempre antes do iní-
cio do crescimento
do Penicillium. Suas “Pelo de gato”: um problema comum no Camembert
hifas são mais alon-
gadas do que as do mofo branco e se destacam facilmente na casca
do queijo. Esse mofo escuro cresce em tufos mais altos e, se amassa-
do, confere manchas e estrias escuras na superfície do Camembert.
Pode causar sabor amargo ao queijo, além de conferir-lhe aspecto
desagradável.
Trata-se de uma contaminação com mofos do gênero Mucor com as
seguintes espécies:
l M. racemosus (mais comum);
l M. fuscus;
l M. mucedo;
l M. spinosus;
l M. globosus.
l M. plumbeus
l M. hiemalis
São organismos saprófitas, facilmente encontrados na natureza, o
que facilita a contaminação dos locais de fabricação. São comuns em
substâncias orgânicas em decomposição, na água, em materiais estoca-
dos por longo tempo, em embalagens empoeiradas, etc. Não possuem
forte ação enzimática, mas crescem rápido no queijo (ás vezes no pri-
meiro ou no segundo dia de maturação).
191
Queijos Especiais
2) Pele de sapo
Esse defeito é
causado por Geotri-
chum candidum (an-
tigamente conhecido
por Oidium lactis ou
Oospora lactis). G.
candidum faz parte
da flora normal que
cresce na superfície
do Camembert no
início da maturação,
intervindo no meta-
bolismo do ácido lá-
tico e na degradação
proteica e na lipólise
Queijo apresentando o problema da “pele de sapo”
(é quase tão proteolí-
tico quanto o P. ca-
memberti).
O Geotrichum
candidum é capaz
de produzir artróspo-
ros, que formam ca-
deias na superfície do
queijo que quando se
apresentam em den-
sidade muito alta, se
agrupam em forma de
rugas, originando o
nome “pele de sapo”.
Mas nem todas as ce-
pas tem essa capaci-
dade e cabe ao quei-
jeiro selecionar cepas
A “pele de sapo” pode ser evitada com bons controles de
menos agressivas. processo
195
Queijos Especiais
196
Queijos com Mofos Externos
197
Queijos Especiais
198
Queijos com Mofos Externos
199
Queijos Especiais
4) Casca descolando
Trata-se de um problema comum nos quei-
jos Camembert e Brie, e, mais frequente, em
fábricas que não fazem um adequado controle
da composição físico-química do queijo. Esse
defeito é caracterizado quando os queijos Ca-
membert ou Brie, apresentam uma cobertura
aparentemente normal de mofo branco, mas
com liquefação logo abaixo da casca, o que
faz com que a cobertura de mofo se solte fa-
cilmente do queijo ou escorregue sobre ele e se
Camembert com a casca quebre. O defeito pode ser acompanhado ainda
descolando do aparecimento de sabor amargo nessa área.
As causas principais desse problema seriam:
n a) Excesso de umidade no queijo (causa mais comum), o
que poderia ser causado por:
l Fermentação lática insuficiente durante a elaboração e, poste-
riormente, nas formas.
a) Fermento de baixa atividade.
b) Inibidores (bacteriófagos ou antibióticos).
c) Insuficiente pré-maturação do leite com fermento.
l Dose de coalho muito reduzida (má coagulação do leite).
l Temperatura de coagulação muito baixa.
l Corte da coalhada em cubos muito grandes.
l Ponto da massa mole (insuficiente agitação).
l Número insuficiente de viragens nas formas
202
Queijos com Mofos Externos
203
Queijos Especiais
5) Massa seca
Observa-se que o queijo não apresenta a untuosidade normal de
um Camembert ou de um Brie e sua massa é, além de seca, mais
quebradiça. Como o queijo se apresenta muito seco, há menos pro-
teólise, pouca degradação da caseína e a massa praticamente não
amolece. Mesmo um queijo com mais de 30 dias, tendo esse proble-
ma, se apresentará duro e ressecado. O defeito está associado com
a falta de umidade no queijo no início da maturação, o que pode ser
causado por:
204
Queijos com Mofos Externos
9) Sabor amoniacal
Este problema está relacionado com o tempo de maturação do quei-
jo; ao final da maturação, por ação de desaminases do P. camemberti,
amônia começa a se acumular no queijo. Assim, todo queijo super-
-maturado tende a apresentar esse sabor e odor. É acompanhado de
uma forte elevação do pH. Enzimas produzidas pelo próprio fungo pro-
movem uma desaminação oxidativa de alguns aminoácidos, formando
outros, com liberação de amônia ou amoníaco na massa.
É recomendável que tão logo os queijos estejam com um mínimo
de maturação (cerca de 4 semanas) sejam mantidos à temperatura mais
baixa (2–3 °C) quando se deseja preservá-los por mais tempo sem apa-
recimento de sabor amoniacal.
Em geral, as indústrias que produzem o queijo Camembert, o colo-
cam no mercado tão logo se apresente suficientemente mofado, o que
se dá por volta de 10 a 14 dias, dependendo da cultura e do método
de fabricação. Dessa maneira, a maturação do queijo se completa no
próprio supermercado, o que propicia ao consumidor a oportunidade
de escolher o queijo com o grau de maturação que mais lhe agradar.
Normalmente, o grau de maturação pode ser avaliado comprimindo-se
a casca do queijo e “sentindo” a sua untuosidade.
Queijos relativamente jovens também podem se apresentar amo-
niacais se forem mantidos no mercado sob temperaturas inadequadas,
o que provoca uma acelerada degradação da caseína e de seus compo-
nentes menores, como peptídeos e aminoácidos.
209
Queijos Especiais
211
Queijos Especiais
ção, bem como das prateleiras e das grades usadas nas câmaras de cura.
Dois tipos de contaminação são mais comuns em fábricas dos queijos
Camembert e Brie, o Mucor e o Geotrichum, responsáveis pelos defei-
tos “pelo da gato” e “pele de sapo”, respectivamente. Em certos casos,
requer-se a repetição dos tratamentos até que a fonte do problema seja
localizada e definitivamente afastada.
Tratamento de câmaras
n 1 - Sanitização das câmaras de maturação por pulveriza-
ção: Há diferentes opções para a sanitização das câmaras:
l Pulverização com soluções de hipoclorito de sódio contendo
pelo menos 500 ppm de cloro livre. Atentar para a possibilida-
de de corrosão de certos materiais pelo cloro, um forte agente
oxidante.
l Pulverização com solução aquosa, a 800 ppm, de quaternário de
amônia.
l Pulverização com solução a 10% de
formaldeido.
É aconselhável o uso de uma máscara pro-
tetora durante essas pulverizações. Obviamen-
te, esses tratamentos deverão ser feitos nas câ-
maras vazias, sem queijos.
n 2 - Fumigação com formaldeido e
permanganato: Este tratamento é bastante
Estantes gradeadas permitem
excelente aeração utilizado para eliminação de mofos conta-
212
Queijos com Mofos Externos
Características e fundamentos
O queijo híbrido
é maturado simulta-
neamente por ação
de fungos verde-azu-
lados (Penicillium
roqueforti) internos
e fungos brancos
(Penicillium camem-
berti) externos. Gran-
de cuidado deve ser
exercido na sua fa-
bricação e maturação,
de maneira à evitar a
contaminação cruza-
da e, particularmente,
o crescimento indese-
jável de fungos ver-
des na casca, onde só
o fungo branco deve
estar presente. Esse
queijo, duplo ou triplo-creme (alto teor de gordura), vem sendo feito
nos últimos anos na Europa e nos EUA. Na Dinamarca, é chamado de
Saga ou Blue Castello, na Alemanha é denominado Cambozola (fusão
dos nomes Camembert com Gorgonzola) ou Bavarian Blue (Bavaria
Blu) e, na França, é chamado de Bleu de Bresse ou Bresse Bleu. Nes-
ses países, é feito através de técnicas variadas, que geralmente não são
muito divulgadas. O ponto principal da elaboração consiste em propi-
214
Queijos com Mofos Externos
um teor de umidade
de cerca de 50%,
gordura 32 – 35%,
sal 2,0% e pH 4,8.
Seu sabor é carac-
terístico, pois mes-
cla produtos da ação
proteolítica e lipolí-
tica de dois fungos
distintos. Tem ten-
dência a apresentar
sabor amargo por
volta de 25 - 30 dias,
dependendo dos
fungos usados, mas
o mesmo tende a de-
saparecer por volta
de 45 - 50 dias, quando o queijo se apresenta em condições ideais
de consumo. Quando bem curado, seu sabor é muito picante, além
de apresentar aroma pronunciado e grande untuosidade.
Trata-se de um queijo que deve ser consumido bem maturado, com
pelo menos 50 dias, quando já teria ocorrido intensa proteólise por
parte do mofo branco e moderada lipólise por parte do mofo azul-es-
verdeado.
Fabricação
Coagulação e corte da coalhada
n 1) Padronizar o leite pasteurizado para 6,0% de gordura. Quan-
do possível, recomenda-se a homogeneização do creme separadamente.
n 2) Deve-se usar fermento lático mesofílico tipo “LD” (aromá-
tico, contendo os microrganismos do fermento tipo “O” Lactococcus
lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis subsp. cremoris, mais Lac-
tococcus lactis subsp. lactis biovar. diacetilactis e Leuconostoc me-
senteroides subsp. cremoris, que fermentam citratos com produção de
diacetil entre outros componentes). Pré-maturar por 40 minutos, a 32
°C quando se tratar de cultivo concentrado de uso direto. No caso de se
usar fermentos propagados, adicionar cerca de 1,5% e pré-maturar no
leite a 32 °C até atingir acidez de 21 °D.
216
Queijos com Mofos Externos
Salga e pulverização
n 1) Salgar por 1 hora (queijos de 10,5 de diâmetro) em salmoura
a 20% de sal, 10 – 12 °C, pH 4,8 e 60 °D. Queijos maiores devem ser
salgados por mais tempo: por exemplo, queijos entre 1,0 e 1,5 kg de-
vem ser salgados por 2 a 3 horas.
n 2) Colocar nas prateleiras apropriadas (iguais àquelas usadas
para o Camembert) e deixar escorrer por 2 horas sob refrigeração e
ventilação.
n 3) Proceder à perfuração dos queijos, que deve ser feita com
bastante cuidado, considerando-se o tamanho do queijo. Fazer pelo
menos 30 furos em cada lado (queijos menores). Comumente são feitos
também alguns furos laterais.
n 4) Cerca de 1 hora após a perfuração, pulverizar abundante-
mente os queijos com o Penicillium camemberti, em dose 2 - 3 vezes
217
Queijos Especiais
Maturação
n 5) Cobrir as grades (prateleiras) com um pano e deixar maturar
em câmara a 10 – 12 °C, com cerca de 90% de higrometria no ambiente
e ventilação adequada.
n 6) Com cerca de 6 a 7 dias, devem surgir os primeiros vestígios
do fungo branco na superfície (e com 10 - 15 dias, o fungo verde no
interior). Virar os queijos após 8 a 9 dias de cura e aguardar mais 3
a 4 dias para o completo crescimento superficial. Embalar os queijos
em papel-alumínio quando o fungo branco formar um manto micelial
espesso na superfície.
Queijo híbrido: inicialmente cresce o mofo branco na casca e depois, o verde-azulado no interior
Parte 5
Queijos Estabilizados
219
Queijos Especiais
220
Queijos Estabilizados
Classificação
O fenômeno da estabilização pode ocorrer em qualquer queijo que
tenha passado por uma intensa delactosagem durante sua elaboração e
busca, essencialmente, que a massa apresente um pH mais alto (acima
de 5,0 e com frequência na faixa de 5,25 a 5,40) cerca de 1 dia após a
221
Queijos Especiais
fabricação. Esse método tanto pode ser usado em queijos moles (mo-
fados ou não) como em queijos semi-duros, como é o caso do Saint
Paulin e do Port Salut, ambos queijos de origem francesa.
Há dois tipos de massas que podem ser ob-
tidas através de processos similares, nos quais
a finalidade fundamental é obter um elevado
teor de cálcio e um pH acima de 5,0 cerca de
24 hs após a elaboração. Nesses processos,
não pode haver pós-acidificação e a matura-
ção do queijo ocorre de forma bem mais rápi-
da, sendo que a degradação da caseína se faz
de forma muito homogênea, em todo o corpo
do queijo, não importando se mais próximo ou
distante da casca.
n 1) Queijo estabilizado
O termo define um queijo que é fabricado somente com cultivos ter-
mófilos puros ou com uma mistura de cocos mesófilos (30%) e cocos
termófilos (70% Streptococcus thermophilus) e uma forte delactosagem
da massa é promovida através da lavagem acentuada da massa com água
morna. É o processo mais usado para essa categoria de queijos. O uso de
Streptococcus thermophilus é muito comum nessas tecnologias. Sendo
um micro-organismo pouco proteolítico, percebe-se que, num queijo es-
tabilizado, predomina a chamada proteólise primária, largamente domi-
nada por enzimas de coalho, já nos primeiros dias de maturação.
n 2) Queijo solubilizado
É definido como o produto que é fabricado com uso exclusivo de
fermentos termofílicos (somente Streptococcus thermophilus é usado)
e não há delactosagem da massa. O abaixamento do pH é inibido por
resfriamento rápido dos queijos (imersão ou aspersão de água gelada) e
salga imediata. Esse processo é menos usado e exige maiores cuidados
na sua aplicação .
Processo de elaboração do
Saint Paulin
n Leite: trabalha-se com leite cujo teor de gordura esteja entre
3,0 e 3,2%, buscando um queijo com cerca de 40 a 45% de gordura no
extrato seco.
223
Queijos Especiais
n Pasteurização
do leite: normalmen-
te é feita em pasteuri-
zadores de placas, à
72-75°C/15-20”.
n Adição de Clo-
reto de cálcio: é feita
na dosagem regular,
cerca de 40-50 mL
(sol. à 50%) por 100
L de leite.
n Corante: op-
cional, mas geral-
Saint Paulin: maturação rápida e sabor suave mente não se usa.
n Nitrato de sódio: é opcional e pode ser usado como preventivo
contra o estufamento dos queijos, em doses não superiores a 20 g/100
L de leite.
n Fermentos láticos: Cultivos mesófilos, contendo Lactococcus
lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis subsp. cremoris. Podem ser
usados cultivos diretos concentrados, de aplicação mais fácil nesse tipo
de queijo.
n Coagulação: se faz a 35°C, de 25 a 30 minutos, em média,
com o uso de coalho bovino ou quimosina pura, em doses regulares.
n Corte da coalhada: é feito com li-
ras manuais ou mecânicas, de forma a obter
cubos de coalhada em tamanho de “grãos de
“milho”, que permitem obter queijos (quando
frescos) com teor de umidade média de 50%.
n Primeira mexedura: é feita lentamen-
te, por cerca de 5 minutos, incluindo o tempo
empregado para cortar a coalhada.
n Delactosagem e estabilização: Reti-
ram-se de 50% de soro, após alguns minutos
de repouso para decantação da massa. Em
seguida, são adicionados rapidamente com
50% de água a 35°C, (à mesma temperatura
da massa no tanque).
224
Queijos Estabilizados
n Agitação fi-
nal: é feita mais rapi-
damente, de forma a
evitar a formação de
aglomerados e provo-
car maior expulsão do
soro. O tempo de agi-
tação é muito curto,
cerca de 5 minutos. Em
geral, o tempo total de
elaboração (do corte
ao ponto) será sempre
muito curto, variável
de 15 a 20 minutos.
n Dessoragem total e pré-prensagem: praticamente todo o
soro é eliminado, e a massa é pré-prensada sob um volume mínimo
de soro, em uma das extremidades do tanque. Geralmente, aplica-se
pressão igual ao peso estimado de massa, ou cerca de 50 lb/pol2, por
10 minutos.
n Enformagem: a massa é cortada em blocos, que são pesados
de maneira que o peso final do queijo Saint Paulin se situe entre 1,0 e
1,5 kg. A massa é então colocada nas formas próprias, para a prensa-
gem, com panos ou desoradores .
n Prensagem: inicialmente, os queijos são prensados por 15 mi-
nutos; em seguida, são virados, e prensados por mais 30 minutos (30 lb/
pol2). Após uma segunda viragem, são prensados novamente por cerca
de 30 minutos (40 lb/pol2). Ao final desse período, os queijos podem
ser mantidos na pren-
sa até o dia seguinte
sem pressão (sem pa-
nos ou dessoradores)
ou retirados da prensa
e levados diretamente
à salmoura quando o
pH estiver em 5,7 ou
menos. Queijos Saint Paulin em maturação, na França
225
Queijos Especiais
226
Queijos Estabilizados
227
Queijos Especiais
Características
Para se conseguir um queijo Camembert ou Brie com essas carac-
terísticas o processo de fabricação baseia-se nos seguintes parâmetros:
a) Procura-se obter uma massa com teor de umidade mais alto, já
l
que a decomposição das proteínas é um fenômeno de hidrólise da
ligação peptídica, acelerado bastante por maior presença de água.
b) Recomenda-se elaborar o queijo com leite mais gordo, para
l
que tenha um teor de gordura no extrato seco (GES) mínimo de
50% (massa mais macia e sabor mais suave).
l c) A dose de coalho pode ser ligeiramente
aumentada (10% mais), com o intuito de se
promover proteólise mais rápida desde o iní-
cio da maturação.
l d) O tempo de coagulação é consideravel-
mente reduzido (menos acidificação durante
essa etapa do processo).
l e) Procura-se diminuir o teor de sal do quei-
jo, por dois motivos: obtém-se massa de sabor
mais suave e ao mesmo tempo não se inibe a
proteólise.
l f) Promove-se uma intensa delactosagem
(lavagem com água) da massa durante a elabo-
Um pH mais alto é fundamental
nestes tipos de queijos
ração do Camembert estabilizado, removendo
boa parte da lactose e impedindo assim sua transformação em
teores incompatíveis de ácido lático. A massa fica, com isso mais
mineralizada. O teor de cálcio em relação ao Extrato Seco De-
sengordurado é de 1,8 a 2,2% (comparado a apenas cera de 1,2%
em um Camembert industrial normal).
l g) O baixo teor residual de lactose e o consequente maior efeito
tamponante da massa, permitem obter um queijo com pH menos
ácido (5,3-5,4), o que facilita a ação de enzimas proteolíticas do
coalho e de origem fúngica e bacteriana, presentes na maturação.
l h) A coagulação do leite é feito a 37-38°C, e é empregada
uma mistura de cultivos, contendo 70% de fermento termofíli-
co (Streptococcus thermophilus) e 30% de fermento mesofíli-
co (Lactococcus lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis subsp.
cremoris), no processo para estabilização.
228
Queijos Estabilizados
Enformagem e fermentação
n 9) Eliminar o soro até restar o suficiente apenas para cobrir os
grãos. Proceder à enformagem da massa. Nessa fase do processo há
duas opções:
l a) Enformar a massa com soro, diretamente, sem pré-prensa-
gem ou prensagem e promover as diversas viragens necessárias.
O queijo tenderá a se apresentar um pouco mais úmido e com a
casca ligeiramente mais irregular. Esse é o processo mais usado
na França.
Após a enformagem, proceder as viragens, como se segue:
l 1ª viragem: 15 minutos após a enformagem.
l 2ª viragem: 30 minutos após a primeira viragem.
230
Queijos Estabilizados
Salga e pulverização
n 1) Salgar por 3 horas (formas de aproximadamente 1,3 kg) em
salmoura a 10-12°C, com 20% de sal e pH 4,8 (ajustado com HCI,
solução a 10%)
Observação: No caso de um Camembert pequeno, estabilizado,
de apenas 220 a 250 g, deve-se salgar apenas por cerca de 45 min
a 60 min.
231
Queijos Especiais
Maturação
n 4) Deixar ventilar por algumas horas e, em seguida, cobrir
as prateleiras com panos para evitar ressecamento excessivo da su-
perfície.
n 5) Cerca de 6 a 8 dias após a fabricação, o mofo branco já será
visível na superfície do queijo, que poderá então ser cuidadosamente
virado nas prateleiras. Cerca de 2-3 dias mais tarde os queijos podem
ser embalados, pois já apresentarão um espesso manto branco micelial
na superfície.
n 6) O processo de maturação é bastante acelerado e com 20 dias
de cura sob a mesma temperatura, os queijos estarão prontos para se-
rem consumidos. Nessa fase, os queijos estarão bastante proteolizados,
o que se reconhece pela maciez uniforme da massa. Um Camembert
establizado não apresenta, como o similar tradicional aos 20 dias, uma
porção central sem proteólise e mais endurecida. A massa amolece de
forma homogenea, sem o “coração branco”. Com cerca de 3 semanas
de cura, a massa fica ligeiramente mais amarelada, muito fina e com
sabor bastante suave.
232
Queijos de Casca Lavada
Parte 6
Queijos de Casca Lavada
Definição
O termo queijo de “casca lavada” no jargão queijeiro, deriva do fran-
cês “fromage à croute lavée” e refere-se à queijos moles ou semi-duros,
cuja casca passa por um tratamento especial durante a cura, que lhe con-
fere uma coloração avermelhada, além de certa rugosidade ou mesmo
melosidade, dependendo da intensidade daquele tratamento. São queijos
de sabor e aroma fortes, acentuados e bem característicos, que sofreram
uma maturação dita “centrípeta”, ou seja, uma série de micro-organismos
que cresceram na cas-
ca produzem enzimas
que degradam a ma-
triz caseínica e outros
componentes, avan-
çando em direção ao
centro do queijo. Essa
flora vem a constituir Coloração típica dos queijos de casca lavada
uma ampla comuni-
dade de micro-orga-
nismos, de origem
variada, conhecida na
França por “la morge”
ou “red smear” em al-
guns outros países.
Os queijos duros
mais conhecidos por
sofrerem, ainda que
moderadamente, esse
tipo de tratamento são
o Gruyère e Appen- Um típico queijo mole de casca lavada
233
Queijos Especiais
l Saccharomyces
l Candida
l Pichia
l Hansenula
l Rhodotorula
235
Queijos Especiais
l Micrococcus freundenreichii
236
Queijos de Casca Lavada
l Arthrobacter
l Microbacterium
238
Queijos de Casca Lavada
Reblochon
Introdução
Trata-se de um
queijo de casca la-
vada, feito há sé-
culos na França e
que, hoje, tem uma
certificação interna-
cional, como queijo
AOP (“appellation
d`origine protegée”),
que o protege e só
permite que seja fa-
bricado, sob a deno-
minação Reblochon,
nos limites geográfi- Reblochon: queijo de reputação internacional
cos ditados pela lei. Portanto, essa denominação não pode ser usada em
outros países. É considerado um queijo “d`alpage”, ou seja, elaborado
nas encostas dos Alpes, nas regiões da Savóia, notadamente na Alta
Savóia, englobando as montanhas do maciço cristalino do Mont Blanc.
Há um movimento de transumância das matrizes leiteiras (pardas-sui-
ças), que se transladam dos estábulos nas montanhas (“alpage”) quan-
do começa a derreter a neve no final de abril, para os vales (“vallée”).
O Reblochon pode ser fabricado com leite cru em sítios e fazendas, e
neste caso leva um selo de caseína, da cor verde. Ainda é elaborado em
tanques de cobre, com o uso de um coalho natural (membranas secadas
239
Queijos Especiais
e salgadas do “abo-
masun”, quarta parte
do estômago de ru-
minantes), preparado
na própria “fruitiè-
re” (fabriqueta fa-
miliar nas encostas
dos Alpes). Quando
fabricado com leite
industrialiazado, em
fábricas e coopera-
tivas da Savóia, seu
rótulo é vermelho e
se utiliza coalho in-
dustrial e fermentos
Regiao da Savóia, na França: terra do Reblochon láticos.
Ainda que seja um queijo de sabor forte, não chega a ser tão acen-
tuado como um Munster ou um Maroilles. Sua massa é extremamente
fina e untuosa e seu odor, muito agradável. O queijo tem aproximada-
mente 14 cm de diâmetro, 3,5 cm de altura e pesa em torno de 500 a
550 gramas. Tem cerca de 22% de gordura, 47-48% de umidade (fres-
co) e 45% de gordura no extrato seco.
Fabricação do Reblochon
Fermentos e coagulação
n Leite pasteurizado, com cerca de 3,2 a 3,4% de gordura.
n Usando-se cultivo propagado, adicionar 1,0% de fermento lá-
tico mesofílico (Lactococcus lactis subsp. lactis e Lactococcus lactis
subsp. cremoris).
n É recomendável adicionar uma parte
(1/3 pelo menos) do fungo Geotrichum can-
didum ao leite nesse momento, reservando
o restante para a solução salina de lavagem
da casca na cura. A inoculação não deve ser
maior do que 50 esporos Geotrichum candi-
dum /mL de leite.
240
Queijos de Casca Lavada
Agitação e enformagem
n Cortar em cubos pequenos, com cerca de 1,0 cm de aresta. Dei-
xar em repouso por cerca de 5 minutos.
n Agitar lenta-
mente com uma pá,
até o ponto. O tempo
de agitação será de
cerca de 15 a 25 mi-
nutos.
n Eliminar a
maior parte do soro
(até a massa aflorar à
sua superfície) e pro-
ceder à enformagem,
sendo a massa cole- Enformagem do Reblochon em fábrica na França
tada no tanque junto
com o soro, em formas perfuradas lateralmente e revestidas de des-
soradores (quando for prensado) ou de fundo rendado (quando não
houver prensagem).
n Processo sem prensagem: Quando não houver prensagem, en-
cher bem as formas, prevenindo-se contra a intensa dessoragem até o
dia seguinte. Geralmente, se deve encher 3/4 da forma para assegurar o
tamanho correto do queijo dessorado.
n Após a enformagem, proceder as viragens, como segue:
l 1ª viragem: 15 minutos após a enformagem.
l 2ª viragem: 30 minutos após a primeira viragem.
l 3ª viragem: 60 minutos após a segunda viragem.
241
Queijos Especiais
n Processo com
prensagem: Na Fran-
ça, é comum que se
prense ligeiramente o
Reblochon, por siste-
mas variados. A massa
é coletada nas formas,
e virada após 20 mi-
nutos. Vinte minutos
mais tarde, é virada
novamente, coberta
com um disco metáli-
co e o selo de caseína (verde ou vermelho), procedendo à prensagem,
com panos dessoradores. Nos processos artesanais, coloca-se apenas um
peso em cima de cada forma (cerca de 2 kg para cada forma de 0,5 k),
por cerca de 3 hs, com viragens regulares. Em processos industriais, a
prensagem é pneumática e coletiva (30 lbs/pol2) por até 90 minutos, com
viragens intermediárias. Quando o queijo é prensado, com uso de panos
ou dessoradores, a casca se fecha, fica lisa e uniforme, o que melhora a
aparência do queijo após o crescimento da flora de superfície.
Fermentação e salga
n Os queijos devem ser deixados a fermentar até o dia seguinte
em uma sala, cuja temperatura deve estar entre 20 -25°C.
n No dia seguinte, o queijo deverá apresentar um pH por volta de
4,9 a 5,1.
n Há 2 processos de salga que podem ser utilizados:
l 1) Salgar os queijos
por 2 horas (peças de
cerca de 500 g) em
salmoura com 20%
de sal (19°Bé), pH em
torno de 4,8.
l 2) Salgar a seco, que
consiste em esfregar
sal na casca dos quei-
jos duas vezes, num
A etiqueta verde caracteriza o Reblochon artesanal período de 12 h.
242
Queijos de Casca Lavada
Queijo Raclette
Introdução
Fabricação do Raclette
Fermentos e coagulação
n Leite pasteurizado a 72°C por 15 segundos e resfriado a 32°C.
n Adicionar cloreto de cálcio, em doses regulares (50 mL de so-
lução a 40%, para 100 litros).
n Uma pequena dose de corante urucum pode ser adicionada, op-
cionalmente.
n São usados cultivos mesófilos heterofermentativos (LD) (con-
tendo Lactococcus lactis subsp. lactis, Lactococcus lactis subsp. cre-
moris, (Lactococcus lactis subsp. lactis biovar. diacetilactis e Leuco-
nostoc mesenteroides subsp. cremoris). Se o cultivo for propagado,
adicionar 1,0% e se for um cultivo concentrado direto, usar a dose
recomendada pelo provedor. Esse cultivo poderá produzir pequenos
olhos na massa do queijo Raclette, além de lhe conferir aroma típico.
n Adicionar coalho na dose regular.
n Coagular a 32°C por cerca de 35 minutos.
245
Queijos Especiais
n Secá-los por
mais 24 horas em câ-
mara fria a 10-12°C.
n Os queijos se-
rão então transporta-
dos para a câmara de
maturação à 14-15°C,
com cerca de 90% de
umidade relativa no ar.
n Iniciar o pro-
cesso de lavagem da
casca dos queijos com
uma solução salina Maturação do Raclette em fábrica nos Alpes suíços
contendo 20% de clo-
reto de sódio e uma
dose do cultivo Bre-
vibacterium linens,
conforme recomenda-
do pelo provedor.
n Durante 25
dias, a cada 2 dias,
virar os queijos, e
aplicar com um pano,
a solução salina, e so-
mente nas faces late-
rais e superiores (nun-
ca na face em contato
com a madeira).
n Pouco a pou-
co, com a elevação do
pH na casca, inicia-se
o crescimento da flora
corineforme na super-
ficie do queijo Raclet-
te, caracterizado pela
formação de uma fina
crostra de cor alaranja-
da e que pouco a pouco
torna-se mais espessa. Balde contendo “la morge” para tratamento da casca dos queijos
247
Queijos Especiais
Queijo Taleggio
Introdução
O famoso queijo italiano, é originário do Vale Taleggio, na provín-
cia de Bergamo. Na Lombardia, é comum denominar-se “stracchino”
(do dialeto lombardo “stracch”, que se refere aos animais cansados,
chegados nos vales, vindo das alturas alpinas – acreditava-se que o lei-
te desses animais gerava os melhores queijos moles, “stracchino”) aos
queijos moles, em geral de formato quadrado. O Taleggio Stracchino
se enquadra na cate-
goria. Trata-se tam-
bém de um queijo
de denominação de
origem protegida por
lei. Além de Berga-
mo, é ainda fabricado
nas regiões de Bres-
cia, Novara, Milão,
Como, Cremona,
Queijo Taleggio, elaborado na Itália Lodi e Pavia.
O queijo se apresenta em formato quadrado, com 18 a 20 cm de
aresta, 4 a 7 cm de altura, e pesando entre 1,7 e 2,3 kg. A casca do quei-
jo é de tonalidade amarronzada, e apresenta na face superior o logotipo
248
Queijos de Casca Lavada
Fabricação do Taleggio
Fermentos e
coagulação
n Leite pasteurizado, com
cerca de 3,5 a 3,8% de gordura.
n Usando o cultivo pro-
pagado, adicionar 1,0% de
fermento lático termofílico
(Streptococcus thermophilus e
Lactobacillus delbrueckii spp.
bulgaricus, contendo 50% de
cada espécie). Cultivos concen-
trados diretos também podem
ser utilizados.
n Pré-maturar o leite a 34-36°C por 40 minutos com os cultivos.
n Adicionar cloreto de cálcio, na dose regular para leite pasteuri-
zado (40 mL de sol. 50%/ 100 litros de leite).
249
Queijos Especiais
Agitação e ponto
n Agitar lentamente com uma pá, até o ponto. Esse tempo de
agitação será de cerca de 25 minutos.
n Eliminar a maior parte do soro (até a massa aflorar à sua su-
perfície) e proceder à enformagem, sendo a massa coletada no tanque
junto com o soro, em formas perfuradas lateralmente e/ou rendadas no
fundo.
n Encher bem as formas, considerando a intensa dessoragem até
o dia seguinte .
n Após a enformagem, proceder as viragens, como segue:
l 1ª viragem: 15 minutos após a enformagem.
Fermentação e salga
n Manter nas formas, em ambiente entre
20 e 25°C por até 12 hs, quando o pH já terá
baixado a 5,0, aproximadamente. Proceder en-
tão à salga dos queijos.
n Há 2 processos de salga que podem ser
utilizados:
l 1) Salgar os queijos por 4 horas (pe-
ças de cerca de 2.0 kg) em salmoura com
20% de sal (19°Bé), pH em torno de 4,8, a
10-12°C.
l 2) Salgar a seco, que consiste em
banhar a casca dos queijos com sal por 3 ve-
Taleggio fresco, nas formas,
com sua marca típica impressa
zes, num período de 12 hs, em câmara a 10-
na massa 12°C.
250
Queijos de Casca Lavada
251
Queijos Especiais
252
Queijos Brandos Argentinos
Parte 7
Queijos Brandos
Argentinos
Apresentação
Os queijos brandos estão entre os de maior consumo na Argentina e
sua produção representa cerca de 40% da produção total do país. Den-
tro dessa categoria, estão relacionados 3 tipos de queijos:
l Cremoso
l Cuartirolo
l Port Salut
Não há grandes
diferenças entre eles.
Do ponto de vista
prático, considera-se
que o Cremoso e o
Cuartirolo são iguais,
restando apenas uma
questão de denomi-
nação comercial. Já o
Port Salut apresenta
pequenas diferenças em relação aos outros dois, na composição e
algumas vezes, no formato.
Hoje em dia, na Argentina, os chamados “Quesos Blandos” são pro-
dutos de mesa, para consumo interno, e não são exportados, devido à
sua curta durabilidade. São muito consumidos na culinária local, sobre-
tudo, como um substituto de sucesso para a Mussarela, na confecção de
pizzas, por apresentarem menor custo e adequada funcionalidade. São
queijos com alto teor de umidade e, portanto, apresentam um elevado
rendimento na fabricação.
253
Queijos Especiais
254
Queijos Brandos Argentinos
Queijo Cremoso
Introdução
O mais popular dos queijos brandos argentinos é o Cremoso, que
pode ser considerado um derivado do conhecido queijo italiano Cres-
cenza, sobretudo, por suas características sensoriais de cremosidade.
É um produto fresco, contendo alto teor de gordura, muito cremoso,
de curto período de maturação, sabor suave a levemente ácido. A mas-
sa é macia, um pouco elástica, possui coloração branca-amarelada,e
é fechada, sem presença de olhos mecânicos ou biológicos. A casca é
inteira e lisa. Seu formato mais comum é o de um quadrado de aproxi-
madamente 24 cm de aresta por 8 cm de altura. O tempo de maturação
é de no mínimo 20 dias para os queijos que pesam menos de 2,5 kg
e de 30 dias para os queijos que pesam de 2,5 – 5,0 kg. É largamente
utilizado na cobertura de pizzas, na Argentina.
A composição média de queijo Cremoso Argentino fresco é descrita
no quadro 1.
255
Queijos Especiais
Processo de Elaboração
(similar, para o Cuartirolo)
Fermentos e coagulação
n Leite Pasteu-
rizado (72 °C/ 15 seg).
n P a d r o n i z a -
ção: Obter um alto
teor de gordura no
leite (relação gordu-
ra/proteína igual a
1,25, ou seja, entre
3,8 e 4,0%).
n Temperatura
de coagulação: 37 a
38 °C.
n Cloreto de cálcio: 20 g por 100 litros
n Corante (urucum): de 4 a 5 mL/ 100 litros
n Inoculação de fermentos: no início da produção, o leite é ino-
culado com fermento termofílico (Streptococcus salivarius subsp.
thermophilus) direto (liofilizado ou congelado). A pré-maturação do
leite com fermento no tanque dura entre 35 e 40 minutos, tomando-se
como início o momento da inoculação.
n Coalho: Usar a dose regular para obter a coagulação em 20 a 25
minutos, a 37-38 °C.
O uso de coalho com alto teor de quimosina é recomendado.
n Corte: O corte é realizado de maneira a obter-se grãos de ta-
manho médio (cubos de 1,5 cm de aresta). Após o corte, a massa deve
repousar de 3 a 5 minutos antes de iniciar uma agitação suave (acidez
do soro: 10 a 11 °D).
Agitação e enformagem
n Agitação: a agitação é realizada sob temperatura constante (37
a 38 °C) durante 15 a 25 minutos, dependendo da consistência deseja-
da. Normalmente, esse tipo de queijo não sofre cozimento da massa.
256
Queijos Brandos Argentinos
Salga e estocagem
n São então levados para uma salmoura a 19-20 °Bé, pH 5,0 a
5,2, a 4-6 °C. Queijos de 3 a 3,5 kg são salgados por cerca de 2 horas,
enquanto que blocos de 4 a 5 kg permanecem por até 5 hs.
n Após a salga, os queijos podem ser secados por 24 horas em
uma câmara fria (5 a 6 °C) ou passam por um túnel de secagem. Quan-
do são secados em uma câmara, os queijos podem ser mantidos em
conjuntos de formas especiais, para não sofrer deformações, já que são
muito macios. Nessa fase, o pH poderá baixar a 5,10.
257
Queijos Especiais
n Antes de serem
embalados, os quei-
jos serão submetidos
a um tratamento da
casca com solução
contendo natamicina,
para prevenir-se con-
tra eventuais conta-
minações de fungos
ou leveduras.
n Os queijos são
embalados em bolsas
plásticas, à vácuo e
são, então, levados à câmara de maturação, a 5 - 7°C, onde permane-
cem pelo tempo mínimo de maturação, que é de 21 dias. Na Argentina,
o sistema de pallets é muito usado para a maturação desses queijos.
n Ao final da maturação, os queijos sofrem uma acentuada mu-
dança na massa, que se torna muito mais pastosa e com boa elasticida-
de. O pH poderá chegar a 5,30.
258
Queijos Brandos Argentinos
259
Queijos Especiais
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Queijos de Leite de Cabra Maturados por Fungos
Parte 8
Queijos de Leite de Cabra
Maturados por Fungos
Introdução
Os queijos elaborados com leite de cabra fazem parte da história da
civilização há milênios. Mesmo nas regiões mais inóspitas, a cabra é um
animal presente, se adaptando às condições mais rudimentares, e produ-
zindo leite, que muitas vezes é também transformado em queijos, que
são consumidos frescos ou curados. O leite de cabra ainda é famoso,
com muita justiça, por seus valores terapêuticos, sobretudo nos casos
frequentes em que crianças apresentam rejeição natural ao leite bovino.
261
Queijos Especiais
262
Queijos de Leite de Cabra Maturados por Fungos
263
Queijos Especiais
mente mineralizada, mais flexível, tem pH mais alto e tem menor ten-
dência a dessoragem espontânea. É obtida rapidamente (em 30 - 50
minutos), como na coagulação clássica da grande maioria dos queijos.
Queijos como o Camembert, Brie e Azuis são obtidos pela coagulação
enzimática do leite.
n 2) Coagulação lática: é a coalhada obtida predominantemente
por abaixamento do pH até o ponto isoelétrico da caseína (pH 4,6 -4,7)
devido à forte produção de ácido lático. A coalhada obtida é pobre em
minerais, é friável e quebradiça, de pH baixo, com maior tendência a
dessoragem espontânea. Requer tempo mais longo para sua obtenção
(cerca de 18-24 horas). É o tipo de coagulação mais usada na França
para a fabricação artesanal de queijos de cabra. A massa obtida é extre-
mamente frágil, sem “liga” e se rompe facilmente. É sempre salgada a
seco, ou diretamente
na massa, não pas-
sando por salmouras.
Deve ser trabalhada
com muito cuidado
no momento da en-
formagem e poste-
riormente durante as
viragens e no local de
maturação. Em que
pesem os cuidados
exigidos e a mão de
obra envolvida, é o
Enformagem “à la louche” de coalhada lática
tipo de processo que
melhor destaca as qualidades únicas e singulares dos queijos de leite
de cabra, e segue em uso na França.
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Queijos Especiais
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Queijos Especiais
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Epílogo
Epílogo
Bibliografia