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Q1. É possível afirmar com base no livro I da obra “O Capital’, de Karl Marx que o
fenômeno conhecido como reificação, ou fetichismo da mercadoria, tem origem na
internalização e naturalização dos mecanismos e atribuições de valor correntes em sociedades
que se estruturam ao redor da produção da mercadoria ou sua troca. O sistema de muitas
minúcias que se apresenta através da própria forma mercadoria produz uma forma
racionalização típica, que segue capturando toda a ação humana e a ela conferindo valor.
Neste sentido, a assimilação das formas de valor e mercantilização que são
constituintes do capitalismo, requereram historicamente a profunda capilaridade de certa
prática nas sociedades: destinar parte da produção exclusivamente para a troca; esta
característica se aprofunda no decorrer da história, conferindo novos sentidos à produção
social e às relações que dela surgem e mais adiante passando a estruturar essas relações.
Marx, através do conceito de mercadoria nos permite compreender como esta característica é
fundamental para o estabelecimento da cultura capitalista.
Aproximando-nos destas colocações com um pouco mais atenção, observamos que
este processo depende de uma série de assimilações prévias que podem ser consideradas as
bases materiais da própria reificação. A mais profunda e talvez a mais importante condição
de concretização da danação chamada capitalismo, diz respeito ao trabalho, ou melhor o
objetivo pelo qual o trabalho passa a ser realizado nestas sociedades onde o capitalismo se
instalou:
Somente no interior de sua troca os produtos do trabalho adquirem
uma objetividade de valor socialmente igual, separada de sua
objetividade de uso, sensivelmente distinta. Essa cisão do produto do
trabalho em coisa útil e coisa de valor só se realiza na prática quando
a troca já conquistou um alcance e uma importância suficientes para
que se produzam coisas úteis destinadas à troca e, portanto, o caráter
de valor das coisas passou a ser considerado no próprio ato de sua
produção.
A reificação, neste sentido, avança sobre todas as relações sociais, sobre o tempo, sobre o
trabalho, seja ele individual ou socialmente realizado; mensuráveis, trocáveis e finitas,
quaisquer ações humanas passam a ser percebidas também como expressões dessa mesma
forma mercadoria. Os objetos também sofrem alteração do seu status, sendo referidos e
circulando à revelia de seus produtores.
Como discutido no texto e na aula forma mercadoria não se converte sozinha em tais
desdobramentos, implica em um processo de alteração e validação da própria forma de
pensamento típica. Tamanha a magnitude desta alteração, acaba se tornando fator constituinte
do sistema capitalista.
Aqui, os produtos do cérebro humano parecem dotados de vida
própria, como figuras independentes que travam relação umas com as
outras e com os homens. Assim se apresentam, no mundo das
mercadorias, os produtos da mão humana. A isso eu chamo de
fetichismo, que se cola aos produtos do trabalho tão logo eles são
produzidos como mercadorias e que, por isso, é inseparável da
produção de mercadorias.
Da forma mais simples poderia ser dito que o fenômeno do fetichismo da mercadoria se
manifesta na medida em que relações sociais passam a ser percebidas como relações entre
coisas; tal como objetos externos, as relações são referidas como possuidoras de valor de uso
e de valor de troca, de alguma forma mensuráveis e comercializáveis. Implicando diretamente
na alteração do status conferido a relação entre quaisquer pessoas; estando as relações
estabelecidas no tempo e no espaço a cujos quais são atribuídos valores se tornam passíveis
de serem examinados sob esta lógica.
Q2. Jameson, em sua obra Pós-modernismo, A lógica cultural do capitalismo tardio
confronta o fenômeno da pós-modernidade e as respectivas alterações estéticas a partir da
análise de diversos elementos do alto modernismo e do pós-modernismo. A partir dessa
análise nos apresenta a tese de que o pós-modernismo pode ser a expressão cultural do
estágio atual de desenvolvimento do próprio capitalismo, que cria um ambiente muito próprio
e fragmentado para a experiência estética, pouco historicizada e cujas narrativas
desenvolvem os temas à revelia da sociedade. O autor, no entanto, não considera que essas
alterações sejam manifestações de uma nova dominante cultural, que possa ser precursora de
outra ordem social, e sim o aprofundamento da mesma lógica capital e que no momento
anterior havia sido representada pelo modernismo.
Max Horkheimer caminha por uma linha de raciocínio igualmente bem fundamentada
no desenvolvimento histórico do capitalismo, denunciando a voracidade com que a
racionalidade técnica assimila toda e qualquer expressão humana através da indústria
cultural, e caracteriza os mecanismos pelos quais esta se apropria. Reproduzindo ou
subtraindo elementos de acordo com sua intencionalidade, preza pelo efeito em detrimento
das obras e cria este grande mecanismo que favorece em última instância uma manipulação
da forma de apreensão da realidade, através dos produtos culturais para os quais acaba
conferindo uma nova função social. Ou seja, fazendo da racionalidade técnica a
racionalidade da própria dominação capitalista.
Isso implica no fato de que toda expressão artística, produto ou não da grande Indústria
Cultural já está prevista, tornando até mesmo as inconsistências e críticas são previsíveis e
racionalizáveis; atuantes em um nível muito fundamental da percepção e sensibilidade que
tem por função social
Neste trecho, é possível perceber a convergência crucial da crítica desses autores, revelando a
função social cabível à estética dentro da lógica cultural do capitalismo tardio. Jameson se
refere a isto com uma miríade de exemplos muito bem localizados, a pós-modernidade é a
lógica deste novo estágio do capital e em sua função tem papel predominantemente
econômico. Jameson também considera que os hábitos perceptivos característicos do pós-
modernismo foram formados em um período anterior, não possuindo os mecanismos
perceptivos necessários para dar conta desta nova configuração do tempo e do espaço.