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Marx e a crítica ao Direito: uma análise das obras

econômicas do autor
UFMG

Prof. Dr. Vitor Bartorletti Sartori


Aula 7 e 8
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4261352H2
Trabalho, tempo de trabalho e
dominação social
“A fim de as mercadorias serem mensuradas pela quantidade de trabalho nelas contida - e a medida da quantidade de trabalho é o tempo -, os trabalhos de espécies
diferentes contidos nas mercadorias têm de ser reduzidos a trabalho simples igual, trabalho médio, ordinário, não qualificado. Só então pode a quantidade do tempo de
trabalho nelas contido ser medida pelo tempo, por medida igual. A mercadoria tem de ser qualitativamente igual, a fim de que suas diferenças se tornem meramente
quantitativas, simples diferenças de magnitude. Contudo, essa redução a trabalho médio simples não é a única determinação da qualidade desse trabalho, a que se
reduzem, como unidade, os valores das mercadorias. Uma determinação que se refere apenas à magnitude do valor é a de que a quantidade do trabalho contido numa
mercadoria seja a quantidade socialmente necessária para produzi-la - o tempo de trabalho portanto seja tempo de trabalho necessário. Mas o trabalho que constitui a
unidade dos valores não é só trabalho médio simples, igual. O trabalho é trabalho individual, privado, representado num produto determinado. Como valor tem, no
entanto, o produto de ser corporificação do trabalho social e como tal de imediato conversível de um valor de uso em todos os demais. (O valor de uso determinado em
que esse trabalho de imediato se configure não deve importar para que ele seja transferível de uma forma para outra de valor de uso). O trabalho privado tem de
representar-se portanto de imediato em seu oposto, o trabalho social; esse trabalho transmutado é, como o composto imediato, trabalho geral abstrato, que por isso
também se configura num equivalente geral. O trabalho individual só se apresenta realmente como seu oposto por meio de sua alienação. Mas a mercadoria tem de
possuir essa expressão geral antes de ser vendida. Essa necessidade de ser o trabalho individual representado pelo geral é a necessidade de uma mercadoria ser
representada pelo dinheiro. Enquanto esse dinheiro serve de medida e de expressão do valor da mercadoria no preço, obtém a mercadoria essa representação. Só por
meio de sua conversão real em dinheiro, pela venda, ganha a expressão adequada de valor de troca. A primeira transformação é mero processo teórico, a segunda,
processo real.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 1190)

Trabalho, riqueza, trabalho realmente social e medida de riqueza como tempo livre (contra trabalho produtivo como medida)

“O tempo de trabalho, mesmo anulando-se o valor de troca; permanece sempre a substância criadora da riqueza e a medida do custo que sua produção exige. Mas o
tempo livre, o tempo disponível, é a própria riqueza - quer para fruir o produto, quer para a atividade livre, atividade que não é determinada como o trabalho pela coerção
de um objetivo externo que é mister,-atingir e cuja realização é necessidade natural ou dever social como se queira. É evidente que o próprio tempo de trabalho, por se
limitar à extensão nominal e além disso não se efetuar mais para outrem e sim para mim mesmo, junto com a remoção dos antagonismos sociais entre patrões e
empregados etc., assume, como trabalho realmente social e por fim como base do tempo disponível, caráter de todo diverso, mais livre, e que o tempo de trabalho de um
ser humano que é ao mesmo tempo um ser com tempo disponível, terá de possuir qualidade superior ao do trabalho da besta de carga.” (MARX, Karl. Teorias da mais-
valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 1306)
Trabalho produtivo, confusão burguesa e
mais-valor
“Só o tacanho espírito burguês, que considera absolutas e portanto formas naturais eternas as formas capitalistas de produção, pode confundir
estas duas perguntas - que é trabalho produtivo do ponto de vista do capital, e que trabalho é em geral produtivo ou que é trabalho produtivo em
geral - e assim ter-se na conta de muito sábio, ao responder que todo trabalho que produza alguma coisa, um resultado qualquer, por isso mesmo, é
trabalho produtivo.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 388)

trabalho produtivo é o que produz mais-valia

“Trabalho produtivo portanto é o que - no sistema de produção capitalista produz mais-valia para o empregador ou que transforma as condições
materiais de trabalho em capital e o dono delas em capitalista, por conseguinte trabalho que produz o próprio produto como capital.” (MARX,
Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 391)

trabalho produtivo, mercadoria e mais-valor

“Processo de produção do capital: Já vimos: esse processo de produção não é só processo de produção de mercadorias, mas também processo de
produção de mais-valia, absorção de trabalho excedente e, por isso, processo de produção de capital. O primeiro ato de troca formal de dinheiro
por trabalho ou de capital por trabalho é apenas potencialmente ato de apropriar-se de trabalho vivo alheio por meio de trabalho materializado. O
processo de apropriação efetiva só ocorre no processo de produção efetiva~ que tem atrás de sí, consumada _aquela primeira transação formal em
que capitalista e trabalhador se confrontam, um ao outro, na qualidade de meros donos de mercadorias, de comprador e vendedor.” (MARX, Karl.
Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 400)
Produtividade no sentido capitalista
“Trabalho produtivo no sentido da produção capitalista é o trabalho assalariado que, na troca pela
parte variável do. capital (a parte do capital despendida em salário), além de reproduzir essa parte
do capital (ou o valor da própria força de trabalho), ainda produz mais-vavalia para o- capitalista.
S6 por esse meio, mercadoria ou dinheiro se converte em capital, se produz corno capital. _Só e
produtivo 0 trabalho assalariado que produz capital. (Isso equivale a dizer que 0 trabalho
assalariado reproduz, aumentada, a soma de valor nele empregada ou que restitui mais trabalho do
que recebe na forma de salário. Por conseguinte, só é produtiva a força de trabalho que produz
valor maior que o próprio.)” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna.
São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 132)

“A produtividade no sentido capitalista baseia-se na produtividade relativa; então, o trabalhador


não sô repõe um valor precedente, mas também cria um novo; materializa em seu produto mais
tempo de trabalho que o materializado no produto que o mantém vivo como trabalhador. Dessa
espécie de trabalho assalariado produtivo depende a existência do capital.” (MARX, Karl. Teorias
da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 133)
Trabalho produtivo e produção de
mais-valor
“Só o trabalho que produz capital é produtivo. Mercadoria ou dinheiro tornam-se, porém, capital, por Se trocarem diretamente por força de
trabalho e se trocarem apenas para serem substituídos por mais trabalho do que neles se contém. É que, para o capitalista como tal, o valor
de uso da força de trabalho não consiste em seu valor de uso efetivo, na utilidade do trabalho concreto particular - o de fiar, tecer etc.
Tampouco lhe interessa o valor de uso do produto em si desse trabalho, sendo o produto para ele mercadoria (isto é, antes da primeira
metamorfose) e não artigo de consumo. O que lhe interessa na mercadoria é ter ela valor de troca superior ao que por ela pagou, e assim,
para ele, o valor de uso do trabalho consiste em lhe restituir quantidade de tempo de trabalho maior do que a que pagou na forma de salário.
Nessa categoria de trabalhadores produtivos figuram naturalmente os que, seja como for, contribuem pata produzir a mercadoria, desde o
verdadeiro trabalhador manual até o gerente, o engenheiro (distintos do capitalista).” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo
Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 136)
Trabalho produtivo nada tem a ver com o conteúdo do trabalho

“trabalho produtivo é uma qualificação que, de início, absolutamente nada tem a ver com o conteúdo característico do trabalho, com sua
utilidade particular ou com o valor de uso peculiar em que ele se apresenta.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant
´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 395)

“A força de trabalho do trabalhador produtivo é, para ele mesmo, mercadoria. O mesmo se estende ao trabalhador improdutivo. Mas, o
trabalhador. produtivo produz mercadoria para o comprador ela força de trabalho. Para este, o trabalhador improdutivo produz mero valor de
uso e não mercadoria; valor de uso imaginário ou real. O trabalhador improdutivo, e isto o caracteriza} não produz mercadoria para seu
comprador; ao contrário) deste recebe mercadorias.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo:
Civilização brasileira, 1980, p. 139)
Burguesia ascendente e trabalho
produtivo elogiado
urguesia ascendente e trabalho improdutivo ao mínimo (relacionar com governo barato)
B

“Eis aí a. linguagem da burguesia ainda revolucionária, que até então não subjugara a sociedade toda, o Estado etc. Essas ocupações
transcendentes, veneráveis, a de soberano, juiz, militar, sacerdote etc . Junto com todos os velhos grupos ideológicos que geram, os eruditos
magistrados e padres, equiparam-se, no plano econômico à turba de seus próprios lacaios e bobos, sustentados por eles e pela riqueza
ociosa, aristocracia fundiária e os capitalistas desocupados. São meros servidores da sociedade, como os outros são seus servidores. Vivem
da atividade de outras pessoas, e portanto têm de ser reduzidos à quantidade imprescindível. Estado, Igreja etc. s6 têm justificativa como
organizações para superintender ou gerir os interesses comuns da burguesia produtiva; e seu custo, por pertencer às despesas acessórias da
produção, tem de ser reduzido ao mínimo indispensável. Essa ideia tem interesse histórico e está em contradição aguda seja com o modo de
ver dos antigos, para os quais o trabalho produtivo de coisas materiais traz o labéu da escravatura e é considerado apenas pedestal para o
cidadão ocioso, seja com a concepção inerente à monarquia absoluta ou constitucional aristocrática surgida nos fins da era medieval,
concepção expressa com toda candidez por Montesquieu, ele mesmo dela cativo, nesta fase (!. VII, cap. IV, Esprit des lois); "Se os ricos não
gastarem muito, os pobres morrerão de fome.”” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização
brasileira, 1980, p. 283)

Burguesia e necessidade do trabalho improdutivo contra os trabalhadores produtivos (decadência da burguesia):

“Contudo, a burguesia alcança o domínio, apoderando-se ela mesma do Estado ou estabelecendo compromisso com os antigos dirigentes:
reconhece os profissionais ideológicos como carne de sua carne e os transforma em funcionários a e a apropria os; não é mais como
representante do trabalho produtivo que os confronta; os verdadeiros trabalhadores produtivos erguem-se contra ela e dizem que ela vive da
atividade de outras pessoas; está bastante educa a para não se deixar absorver de todo pela produção, mas para querer um consumo
"refinado"; mais e mais os trabalhos intelectuais se realizam a seu serviço, põem-se a serviço da produção capitalista: como resultado
imediato dessas ocorrências, as coisas mudam, a burguesia procura} no ' plano econômico", legitimar, de seu próprio ponto de vista, o que
criticara e combatera antes. Nessa linha, seus porta-vozes e forjadores de consciências perfumadas são os Garniers etc. Acrescente-se aí que
esses economistas por sua vez sacerdotes, professores etc., empenham-se em demonstrar sua utilidade "produtiva", em justificar seu salário
"no domínio econômico ".” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 284)
Trabalho produtivo, juristas, estado e falsos custos de produção: burguesia ascendente e louvor ao
trabalho produtivo no sentido de Smith

“A economia política no período clássico, do mesmo modo que a pr6pria burguesia no período inicial de
auto-afirmação, porta-se de maneira severa e crítica com a maquinaria governamental etc. Mais tarde
percebe e – como a prática também evidencia - pela experiência apreende que brota de sua própria
organização a necessidade da combinação social de todas essas classes, em parte por completo
improdutivas. Até onde aqueles "trabalhadores improdutivos" não criam meios de fruição e, por isso,
·comprá-los dependa totalmente do modo como -0 agente da produção quer despender o salário ou o
lucro, e até onde, ao contrário, são necessários ou se façam necessários} em virtude de doenças (caso dos
médicos) ou de fraquezas espirituais (caso dos padres) ou de conflitos entre os interesses privados e os
nacionais (caso dos administradores públicos, juristas,· policiais, soldados), são vistos por A. Smith, pelo
próprio capitalista industrial e pela classe trabalhadora, como falsos custos de produção, que importa
reduzir o mais possível, ao mínimo necessário e na base da mais baixa remuneração dos serviços. A
sociedade burguesa passa a produzir, em sua própria forma, tudo que combatera na forma feudal ou
absolutista.·Tarefa principal dos sicofantas dessa sociedade, sobretudo os dos "níveis mais altos” é
portanto, em primeiro lugar, restaurar no plano teórico o segmento meramente parasitário desses
"trabalhadores improdutivos"ou ainda justificar as exigências exageradas da fração para ela indispensável.
Proclamou-se, na realidade, a dependência das classes ideológicas etc. para com os capitalistas.” (MARX,
Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 154)
Falsos custos, camadas intermediárias e trabalho
produtivo como ode da burguesia em ascensão.
“A exploração do trabalho custa trabalho. O trabalho executado pelo capitalista industrial, na medida em
que seja apenas exigido pela oposição entre capital e trabalho, entra no custo de seus contramestres (os
suboficiais da indústria) e já está computado na categoria de salário, como os custos que causam os
feitores de escravos e suas chibatas se incluem nos custos de produção do senhor. Esses custos, como a
maior parte das despesas comerciais, pertencem aos falsos custos da produção capitalista. Quando se
trata da taxa geral de lucro, não se considera o trabalho dos capitalistas com a concorrência recíproca e
com a tentativa de se lograrem uns aos outros; tampouco, a maior ou menor habilidade, o nível dos
custos com que um capitalista industrial, em confronto com outro, sabe extrair de seus trabalhadores
maior soma de mais-valia com os menores gastos e realizar, no processo de circulação, esse trabalho
excedente extraído. Essa matéria pertence à análise da concorrência entre os capitais. O domínio dessa
análise é a luta e o trabalho dos capitalistas para se apoderarem do maior montante possível de trabalho
excedente e se restringe apenas à repartição do trabalho excedente pelos diferentes capitalistas, e nada
tem que ver com a origem nem com a amplitude geral do trabalho excedente.” (MARX, Karl. Teorias da
mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 1399)
Burguesia começa a imitar a nobreza e
o trabalho produtivo começa a ganhar
contornos mais largos em sua boca
“Se trabalhadores produtivos são os pagos pelo capital, e improdutivos os pagos pela renda, é óbvio que a classe produtiva está para a improdutiva
assim como o capital está para a renda. Todavia o crescimento proporcional de ambas as classes não dependerá somente da relação existente entre a
massa dos capitais e a massa das rendas. Dependerá da proporção em que a renda (lucro) crescente se transforma em capital ou é despendida como
renda. Embora muito parcimoniosa a origem, a burguesia, com a produtividade crescente do capital, isto é, dos trabalhadores, passa a imitar o·
sistema feudal de dependentes. De acordo com o último relat6rio sobre as fábricas (1861 ou 1862),09 o total das pessoas empregadas nas fábricas
propriamente ditas no Reino Unido (inclusive gerentes) era apenas de 775 534, enquanto o número de empregadas domésticas só na Inglaterra
ascendia a 1 milhão. Que belo arranjo este que faz uma operária suar 12 horas na fábrica, para que o patrão ponha a seu serviço pessoal, com parte
do que não lhe pagou do trabalho, a irmã dela como criada, e o irmão como criado de quarto, e o primo, como soldado ou guarda.” (MARX, Karl.
Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 180)

Para a burguesia ascendente, trabalho improdutivo é inútil, mas depois começa a apologia:

“Os trabalhadores improdutivos satisfazem as necessidades artificiais e consomem produtos materiais, e assim são úteis de todo o modo, Por isso,
polemiza contra a economia (poupança).” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980,
p. 182)
trabalhos improdutivos políticos e aumento dos intermediários
no capitalismo (decadência da burguesia)

“como os trabalhadores improdutivos políticos. Podia-se admitir que excetuados a


horda de criados, os soldados, marinheiros, policiais, funcionários subalternos etc.,
concubinas, palhaços, malabaristas - esses trabalhadores improdutivos no conjunto
teriam melhor nível de cultura que os anteriores trabalhadores improdutivos, e
sobretudo que o número de artistas, músicos, advogados, médicos, homens de letras,
professores, inventores etc., mal pagos, teria também aumentado.No seio da própria
classe produtiva acresceram os intermediários comerciais, e em particular os
empregados na construção de máquinas, nas ferrovias, na mineração e escavação;
além disso} os trabalhadores que na agricultura se dedicam a criar gado, produzem
materiais químicos, minerais pata adubos etc.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia.
Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 199)
Sobre a noção “expandida” de
trabalho produtivo
“Por fim, também o boi é um trabalhador produtivo” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo
Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 245)

Noção expandida de trabalho produtivo e questão da material e imaterial (apologia)

“Dos autores que contestaram a ideia smithíana de trabalho produtivo e improdutivo> a maioria
considera o consumo estímulo necessário à produção, e por isso os que vivem assalariados por renda –
os trabalhadores improdutivos cuja compra não produz riqueza, mas constitui novo consumo de riqueza
- são para essa maioria tão produtivos quanto os 'trabalhadores produtivos, pois, ao expandirem o
domínio do consumo material, acrescem o da produção. Tratava-se na maior parte, portanto, da
apologia, segundo o prisma econômico burguês, seja dos ricos ociosos e dos trabalhadores
improdutivos que lhes prestam serviços, seja dos "governos fortes" com grandes despesas, do
acréscimo da dívida pública, das prebendas eclesiásticas e das governamentais, dos sinecuristas etc. É
que esses "trabalhadores improdutivos" - cujos serviços figuram entre as despesas dos ricos ociosos -
têm todos em comum o hábito de consumir "produtos materiais», produtos, por conseguinte, dos
trabalhadores produtivos, embora produzam ''produtos imateriais»” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia.
Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 263)
Direito e comunismo rude
aumento da produtividade do trabalho e indigência (relacionar com a questão
criminal)

“O acréscimo de produtividade num ramo industrial particular por meio de


maquinaria etc. provoca o deslocamento de trabalho e capital, que sempre se dá em
dimensão prospectiva apenas. Quer dizer, o acréscimo, a nova massa de
trabalhadores que aflui reparte-se de outra maneira; talvez os filhos dos operários que
foram despedidos, mas não os próprios despedidos. Esses operários se degradam por
largo tempo no velho ofício em que prosseguem nas condições mais desfavoráveis,
quando seu tempo de trabalho necessário é maior que o socialmente necessário; caem
na indigência ou encontram ocupação em ramos de atividade onde se emprega
espécie inferior de trabalho.” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo
Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 198-99)
concepção apologética de
produtividade e crítica à
“criminologia crítica”
“CoNCEPÇÃo APOLOGÉTICA DA PRODUTIVIDADE DE TODA ProFJSSÃo

Filósofo produz ideias, poeta poesias; pastor prédicas, professor compêndios e assim por diante. Um criminoso produz crimes. Se mais de perto observarmos o
entrosamento deste último ramo de produção com a sociedade como um todo, libertar-nos-emos de muitos preconceitos. O criminoso não produz apenas
crimes, mas também o direito criminal e, com este, o professor que produz preleções de direito criminal e, além disso, o indefectível compêndio em que lança no
mercado geral "mercadorias”, as suas conferências. Com isso aumenta a riqueza nacional, para não falarmos no gozo pessoal que, segundo uma testemunha
idônea, Professor Roscher, os originais do compêndio proporcionam ao próprio Autor.

O criminoso produz ainda toda a polida e justiça criminal, beleguins, juízes e carrascos jurados etc.; e todos aqueles diferentes ramos, que constituem outras
tantas categorias da divisão social do trabalho, desenvolvem capacidades diversas do espírito humano, criam novas necessidades e novos modos de satisfazê-
las. Só a tortura suscitou as mais engenhosas invenções mecânicas e ocupou na produção de seus instrumentos muitos honrados artífices.

O criminoso produz uma impressão com gradações morais e trágicas dependentes das circunstâncias, e assim presta um «serviço» ao despertar os sentimentos
morais e estéticos do público. Não só produz compêndios sobre díreito criminal'. códigos penais e portanto legisladores penais, mas também arte, literatura,
romances e mesmo tragédias, tais como Schuld de Müllner, Raiiber (Salteadores) de Schiler, Edipo de Sófocles e Ricardo III de Shakespeare. O criminoso
quebra a· monotonia e a segurança cotidiana da vida burguesa. Por conseguinte preserva a da estagnação e promove aquela· tensão e turbulência inquietantes,
sem as quais se embotaria mesmo o aguilhão da concorrência. Estimula assim as forças produtivas. O crime retira do mercado de trabalho parte da população
supérflua e por isso reduz a concorrência entre os trabalhadores, impede, até certo ponto, a queda do, salário abaixo do mínimo, enquanto a luta contra o crime
absorve parte dessa população. O criminoso aparece como uma daquelas "compensações" naturais, que restabelecem um equilíbrio adequado e abre ampla
perspectiva de ocupações "úteís".” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia. Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 382-383)
Ladrões e atividade econômicas
(mandeville) (contra criminologia
crítica)
“Pode-se comprovar, descendo-se a pormenores, a influência do criminoso sobre o
desenvolvimento da produtividade. Teriam as fechaduras atingido a excelente qualidade
atual, se não houvesse ladrões? A fabricação de notas de banco teria chegado à perfeição
presente, se não houvesse moedeiros falsos? Teria o microscópio penetrado na esfera
comercial comum (ver Babbage) sem a fraude mercantil? Não deve a química prática à
falsificação de mercadorias e ao esforço de descobri-la tanto quanto deve ao afã honesto
de produzir? O crime, com os meios de ataque à propriedade sempre novos, provoca a
geração ininterrupta de novos meios de defesa, e assim tem> como as greves, influência
tão produtiva na invenção de máquinas. E se deixamos a esfera do crime privado: sem
crime nacional, teria jamais surgido o mercado mundial? E mesmo as nações? E desde os
tempos de Adão, a árvore do pecado não é a árvore do conhecimento? Mandeville em sua
Fable of the Bees ( 1705) já patenteara a produtividade de todas as ocupações possíveis
e em geral a tendência de toda essa argumentação” (MARX, Karl. Teorias da mais-valia.
Trad. Reginaldo Sant´Anna. São Paulo: Civilização brasileira, 1980, p. 383)

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