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CAP.

10 – CONCEITO DE MAIS-VALIA RELATIVA

Quando estudamos a mais-valia absoluta supomos constante o valor da força de trabalho, ou o número de
horas do trabalho necessário.

Dado este valor, o aumento da mais-valia dependia do prolongamento da jornada de trabalho.

Neste capítulo estudaremos o conceito da mais-valia relativa, para tanto supomos que o valor da força de
trabalho pode variar e que a jornada de trabalho total diária é constante.

Se AB representa o trabalho necessário e BC o excedente, e AC não se altera.

A------B------C = jornada 12 horas, 6 horas trabalho necessário e 6 horas trabalho excedente.

Para elevar o trabalho excedente é preciso reduzir o necessário.

Como Marx adota a lei de trocas das mercadorias, tal redução não pode ocorrer pelo pagamento da mão de
obra com salário menor que o valor desta (valor dos meios de produção e reprodução da força de trabalho).
Até porque um salário menor que o valor necessário para reprodução da força de trabalho reproduzirá tal força
de modo atrofiado.

Portanto, a elevação do trabalho excedente de BC para B’C deve ocorrer em razão da redução do trabalho
necessário de AB para AB’.

A---B’---B------C = jornada 12 horas, 3 horas trabalho necessário e 9 horas trabalho excedente.

Essa diminuição do valor da força de trabalho significa que se produz em 3 horas, a mesma quantidade de
meios de subsistência que se produzia em 6 horas. Isto é impossível sem que se aumente a produtividade do
trabalho.

Para elevar a produtividade do trabalho é necessário a alteração no instrumental ou no método de trabalho, ou


em ambos. Tem de ser revolucionadas o modo de produção e, consequentemente, o próprio processo de
trabalho.

Assim, a elevação da produtividade é entendida por Marx como uma modificação do processo de produção
que permite encurtar o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma mercadoria,
conseguindo-se produzir, com a mesma quantidade de trabalho, maior quantidade de valor de uso.

O aperfeiçoamento industrial nada mais é do que a descoberta de novos meios de aumentar a produtividade
da mão de obra, o que permite produzir uma mercadoria em menos tempo.

A mais-valia absoluta foi explicada sob um modo de produção dado, sem aperfeiçoamento industrial.

“Mas, quando se trata de produzir mais-valia tornando excedente trabalho necessário, não basta que o capital
se aposse do processo de trabalho na situação em que se encontra ou que lhe foi historicamente transmitida,
limitando-se a prolongar sua duração. É mister que se transformem as condições técnicas e sociais do
processo de trabalho, que mude o próprio modo de produção, a fim de cair o valor da força de trabalho e
reduzir-se a parte do dia de trabalho necessária para reproduzir esse valor” (MARX, 2016, p. 365-366).

A mais-valia relativa é a “decorrente da contração do tempo de trabalho necessário e da correspondente


alteração na relação quantitativa entre ambas as partes componentes da jornada de trabalho” (MARX, 2016,
p. 366).
Para diminuir o valor da força de trabalho a produtividade deve elevar-se nos ramos que produzem os meios
de subsistência do trabalhador e das que produzem os meios de produção de tais ramos industriais (maquinas
e matérias-primas das indústrias de alimentos, por exemplo).

Portanto, nada altera o valor da força de trabalho o aumento da produtividade de ramos que não estão inseridos,
direta ou indiretamente (via meios de produção dos primeiros), na cesta de consumo de subsistência dos
trabalhadores.

A mercadoria que teve seu valor reduzido diminui o valor da força de trabalho apenas na proporção em que
participa da reprodução desta.

Os meios de subsistências são compostos de diferentes mercadorias oriundas de industrias diversas, e o valor
destas mercadorias é uma proporção do valor da força de trabalho.

Exemplo:

Suponhas que nas condições sociais médias é possível produzir em 12 horas produz-se 12 livros.

1 livro: 12 livros:

1 hora de trabalho = R$ 5,00 12 horas de trabalho = R$ 60,00

Meios de produção = R$ 5,00 Meios de produção = R$ 60,00

O valor de cada mercadoria = R$ 10,00 Valor de 12 mercadorias = R$ 120,00

Valor diário criado (m+v) = R$ 60,00

Trabalho necessário = 6 horas = R$ 30,00

Trabalho excedente = 6 horas = R$ 30,00 →Mais-valia = R$ 30,00

Suponha que um capitalista individual consiga produzir em 12 horas → 24 livros:

1 livro: 24 livros:

1/2 hora de trabalho = R$ 2,50 12 horas de trabalho = R$ 60,00

Meios de produção = R$ 5,00 Meios de produção = R$ 120,00

O valor de cada mercadoria = R$ 7,50 Valor de 24 mercadorias = R$ 180,00

Valor diário criado (m+v) = R$ 60,00

Trabalho necessário = 6 horas = R$ 30,00

Trabalho excedente = 6 horas = R$ 30,00 → Mais-valia = R$ 30,00


Neste caso, o valor individual de cada mercadoria fica abaixo de seu valor social, custa menos trabalho a
produção de livros deste capitalista do a produção de livros dos demais que produzem sob as condições sociais
médias.

“O verdadeiro valor de uma mercadoria, porém, não é o valor individual, e sim o social; não se mede pelo
tempo de trabalho que custa realmente ao produtor em cada caso, mas pelo tempo de trabalho socialmente
exigido para a sua produção” (MARX, 2016, p. 368).

Se o capitalista que emprega o novo método vende o livro pelo valor social, R$ 10,00, acima de seu valor
individual, R$ 7,50, obterá uma mais-valia extra de R$ 2,50, por livro.

Contudo, como agora oferta 2 vezes mais mercadoria, precisará duplicar as vendas. Mantendo-se o tamanho
do mercado constante, para vender o dobro ele precisará baixar seu preço. Portanto, venderá sua mercadoria
abaixo do preço social e acima do preço individual, digamos, por 9,00. Com isso, obterá uma mais valia extra
de R$ 1,50 por livro.

Mais-valia oriunda do trabalho excedente = R$ 30,00

Mais-valia oriunda da maior produtividade = R$ 36,00

Total da Mais-valia = R$ 66,00

Essa mais-valia é percebida pelo capitalista, pertença ou não o livro aos meios de subsistência dos
trabalhadores. Caso pertencesse aos meios de subsistência, a mais-valia obtida seria maior ainda, pois com a
redução do trabalho necessário ter-se-ia uma mais valia maior que R$ 66,00.

“Independentemente dessa circunstância [da mercadoria baratear os meios de subsistência dos


trabalhadores], existe, portanto, para cada capitalista motivo para baratear a mercadoria aumentando a
produtividade do trabalho” (MARX, 2016, p. 368).

Mais-valia Relativa:

Suponha que um capitalista individual consiga produzir em 12 horas → 24 livros, e vende os 24 livros por
9,00 cada:

O valor da força de trabalho diária é R$ 30,00, o que equivale a 6 horas de trabalho necessário nas condições
socialmente médias.

Contudo, o capitalista que produz 24 mercadorias em 12 horas, produz por hora

Valor de 24 mercadorias = R$ 180,00

Valor social de 24 mercadorias = R$ 240,00

Preço de venda de 24 mercadorias deste capitalista = R$ 216,00 (abaixo do valor social para vender o dobro)

Meios de produção = R$ 120,00

Valor criado em 1 dia de trabalho (m+v) = R$ 96,00

Valor pago a força de trabalho = R$ 30,00

Mais-valia = R$ 66,00
Ou

Valor criado por hora = R$ 8 (96/12)

Trabalho necessário = 3,75 horas = R$ 30,00

Trabalho excedente = 8,25 horas = R$ 66,00 → Mais-valia = R$ 66,00

“O capitalista que emprega o modo de produção aperfeiçoado apropria-se, assim, de parte do dia de trabalho,
constituída de trabalho excedente, maior do que aquela de que se apropriam os demais capitalistas do ramo.
Ele faz individualmente o que o conjunto dos capitalistas fazem coletivamente, ao produzirem a mais-valia
relativa” (MARX, 2016, p. 369).

Contudo, essa mais valia extra desaparece com a generalização do novo modo de produção, pois o valor
individual das mercadorias se iguala ao social.

“A taxa geral da mais-valia só experimenta alteração relacionada com o processo por inteiro quando a
elevação da produtividade do trabalho atinge ramos de produção, baixando os preços das mercadorias que
fazem parte do conjunto dos meios de subsistência que constituem elementos do valor da força de trabalho”
(MARX, 2016, p. 369-370).

Na ausência de inflação, uma jornada social média de 12 horas produz sempre o mesmo valor de R$ 60,00,
não importa como essa soma possa se repartir em valor da força de trabalho e mais-valia.

Se em virtude do aumento da produtividade, reduzir-se o valor diário da força de trabalho de R$ 30,00, para
R$ 15,00, aumentará a mais valia de R$ 30,00, para R$ 45,00. O trabalho necessário era de 6 horas, passa a
ser de 3 horas, e o excedente passa a ser de 9 horas.

“Por isso, é impulso imanente e tendência constante do capital elevar a força produtiva do trabalho para
baratear a mercadoria e, como consequência, o próprio trabalhador. [...] O valor absoluto da mercadoria
não interessa, por si mesmo, ao capitalista qua a produz. Só lhe interessa a mais-valia nela inserida e
realizável através da venda. A realização da mais-valia já pressupõe a reposição do capital adiantado”
(MARX, 2016, p. 370-371).

O valor das mercadorias varia na razão inversa da produtividade do trabalho.

A mais-valia relativa varia na razão direta da produtividade do trabalho.

“[...] uma vez que o mesmíssimo processo barateia as mercadorias e eleva a mais-valia nelas contida, fica
solucionado o mistério de o capitalista, preocupado apenas em produzir valor de troca, esforça-se
continuamente para baixar o valor de troca das mercadorias” (MARX, 2016, p. 371).

Assim, Marx conclui que o aumento da produtividade do trabalho, buscado pelos capitalistas, não tem como
finalidade reduzir a jornada de trabalho diária, e sim reduzir o tempo de trabalho necessário ao mesmo tempo
que expande o tempo de trabalho excedente.

Mesmo com uma elevação da produtividade em 10 vezes, o capitalista não reduziria a jornada de trabalho em
1 hora, muito pelo contrário, poderia até prolongá-la.

“Nas obras de economistas da estirpe de um MacCulloch, Ure, Senior e tutti quanti, pode-se ler, numa página,
que o trabalhador tem uma dívida de gratidão para com o capital, que, desenvolvendo a força produtiva,
encurta o tempo de trabalho necessário, e, na página seguinte, que ele deve demonstrar seu agradecimento,
passando a trabalhar 15 horas em vez de 10. O desenvolvimento da produtividade do trabalho na produção
capitalista tem por objetivo reduzir a parte do dia de trabalho durante o qual o trabalhador tem de trabalhar
para si mesmo, justamente para ampliar a outra parte durante a qual pode trabalhar gratuitamente para o
capitalista” (MARX, 2016, p. 372).

Os próximos capítulos veremos os métodos particulares de se produzir mais-valia relativa.

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