Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Consequentemente, o capitalista, que não efetua trabalho físico, reteve para si uma parte
do valor dos produtos que os trabalhadores produziram, e ele consegue fazer isso graças
ao seu monopólio dos meios de produção (a fábrica e as máquinas que o trabalhador
utilizou para produzir o bem).
Desta maneira, ao pagar ao trabalhador um salário menor que o valor total por ele
produzido, o capitalista está "roubando" uma parte da mão-de-obra do trabalhador.
Esta é a origem da noção marxista de "renda imerecida", que seria a renda que não
decorre de ter de trabalhar e produzir, mas simplesmente de se ser o proprietário de um
negócio privado que emprega trabalhadores, que são aqueles que realmente fazem todo
o trabalho.
O capitalista, nesta concepção, não faz nada. Apenas vive da exploração do trabalho dos
outros, enquanto fica sentado em seu escritório, com seus pés sobre a escrivaninha,
fumando um charuto.
De onde vêm os recursos que garantem o pagamento dos salários dos trabalhadores?
Alguém necessariamente teve de poupar uma parte dos rendimentos obtidos no passado
para, então, utilizar esses recursos poupados na construção da empresa e no seu
aparelhamento com todos os bens de capital necessários -- sem os quais o trabalho de
qualquer trabalhador seria consideravelmente muito menos produtivo, com muito menos
quantidades produzidas, e muito mais imperfeito em sua qualidade.
São muitas as pessoas que não entendem corretamente esse conceito de que os
capitalistas adiantam bens presentes para receber, após muito tempo, bens futuros. No
entanto, basta verificar os balancetes de qualquer empresa para verificar esse
fenômeno. Por exemplo, a General Electric investiu (adiantou) US$685 bilhões para
recuperar, na forma de fluxo de caixa anual, aproximadamente US$35 bilhões. Ou seja,
os capitalistas da GE abriram mão de US$685 bilhões (e seu equivalente em bens de
consumo que eles poderiam ter adquirido no presente) para receber, anualmente, uma
receita de US$35 bilhões.
Nesse ritmo, serão necessários 20 anos apenas para recuperar todo o capital adiantado.
Quem pensa assim está, na prática, dizendo que ter $1.000 hoje é o mesmo que ter
$1.000 apenas daqui a 500 anos (e assumindo zero de inflação de preços).
Os capitalistas, ao adiantarem seu capital e sua poupança para todos os seus fatores de
produção (pagando os salários da mão-de-obra e comprando maquinário), esperam ser
remunerados pelo tempo de espera e pelo risco que assumem. Por outro lado, os
trabalhadores, ao receberem seu salário no presente, estão trocando a incerteza do futuro
pelo conforto da certeza do presente.
O fato de o trabalhador não receber o "valor total" da produção futura nada tem a ver
com exploração; simplesmente reflete o fato de que é impossível o homem trocar bens
futuros por bens presentes sem que haja um desconto. O pagamento salarial representa
bens presentes, ao passo que os serviços de sua mão-de-obra representam apenas bens
futuros.
A relação trabalhista, portanto, é apenas uma relação de troca entre bens presentes (o
capital e a poupança do capitalista) por bens futuros (bens que serão produzidos pelos
trabalhadores e pelo maquinário utilizado, mas que só estarão disponíveis no futuro).
O economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk expressou tudo isso de maneira bem
mais resumida: "Parece-me justo que os trabalhadores cobrem o valor integral dos
frutos futuros do seu trabalho; mas não é justo eles cobrarem a totalidade desse valor
futuro 'agora'."
Ao pagar aos seus empregados os salários que foram acordados por contrato, o
empreendedor os alivia da incerteza a respeito de se, no final do processo, haverá lucro,
prejuízo, ou se a empresa ficará no zero a zero.
Conclusão
Por tudo isso, não faz sentido dizer que o capital explora o trabalhador. A realidade é
oposta: o capital não só aumenta o valor da mão-de-obra do trabalhador -- ao fornecer
as máquinas e ferramentas de que ele necessita para produzir bens e serviços que os
consumidores valorizam e compram voluntariamente -- como ainda o alivia da incerteza
do futuro.
Não fosse o capital disponibilizado pelos capitalistas e empreendedores (maquinário,
ferramentas, matéria prima, insumos, instalações etc.), a mão-de-obra não teria como
produzir estes bens de demandados pelos consumidores. Consequentemente, os
trabalhadores nem sequer teriam renda -- ao menos, não tão alta quanto a possibilitada
pelos capitalistas.
https://mises.org.br/artigos/2489/a-ideia-de-que-no-capitalismo-os-trabalhadores-sao-
explorados-atenta-contra-a-logica