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Fisiocratas:

o Trabalho produtivo:
Um outro ponto fundamental na caracterização do pensamento dos fisiocratas
traduz-se no entendimento de que essa riqueza que se pode consumir sem se
empobrecer, que se alimenta e perpetua pelo próprio consumo, só a terra a pode
produzir, pelo que só a agricultura é actividade produtiva.

E isto porque só na produção agrícola pode obter-se um excedente em termos


físicos (não em termos de valor), um produto líquido (“produit net”), dado que
só o produto agrícola excede a soma dos bens intermédios ‘consumidos’ na
produção e do autoconsumo dos produtores (os bens que eles guardam para si,
para prover à sua subsistência).

O comércio e a indústria são considerados actividades estéreis. Embora possa


produzir coisas úteis, a indústria limita-se a transformar os bens utilizados na
actividade produtiva para obter um produto novo, não acrescentando, porém,
mais bens aos bens existentes antes de iniciada a produção.

Trabalho produtivo é aquele que produz um excedente, característica que


só se verifica no trabalho desenvolvido na agricultura. Não por força de
qualquer característica específica que distinga o trabalho agrícola do trabalho
desenvolvido em outras actividades, mas em virtude de só ele poder aproveitar
esse “dom da Natureza” que é a fertilidade natural da terra (Le Trosne fala de
“faculté productive de la terre”).
Para os fisiocratas, portanto, os que trabalham a terra limitam-se a colher os
frutos que constituem um dom da Natureza

o Tableau Economique:
O Tableau é a primeira tentativa de representação numérica dos mecanismos da
vida económica com base numa ideia de circuito económico, de
interdependência entre as várias actividades económicas (dependência
intersectorial). Nele analisa-se o processo de produção/distribuição dos bens e
dos rendimentos no quadro do sistema económico tomado como um todo,
através da teia de relações de troca entre as classes sociais (deixando de lado as
relações de troca entre os indivíduos no seio de cada classe).

Quesnay distingue três classes sociais.

1) A classe produtiva é constituída pelos agricultores (fermiers) que


cultivam a terra.
2) ) A classe dos proprietários (também designada por classe distributiva ou
classe soberana) é constituída por aqueles que, não desenvolvendo
qualquer actividade económica, gozam do direito de receber a renda.
3) A classe estéril é constituída pelos que se dedicam à indústria, ao
comércio e às profissões liberais, actividades que podem produzir bens
úteis, mas que não criam produto líquido (também aqui não se distinguem
os trabalhadores assalariados dos empregadores capitalistas).

Smith:

o Teoria do valor:

Uma das teorias elaboradas por Smith foi a teoria do valor do trabalho. De
acordo com Smith, a riqueza é aumentada pelo trabalho produtivo e só este gera
um produto liquido. Este percebe, por exemplo, que os rendeiros recebem um
rendimento que não um salário, mas antes um lucro. Este lucro não se apresenta
como um exclusivo da atividade agrícola, mas verificável também como vindo
da indústria. Smith assiste a fenómenos de especialização dos trabalhadores e à
proliferação do trabalho concreto. Não era defensível, a seu ver, que a
produtividade se associa-se apenas a determinada atividade. A produtividade,
afirma o escocês, advém do trabalho abstrato.

Para Smith, é trabalho produtivo o trabalho incorporado num objeto durável, e


que acrescenta ao valor da matéria-prima, o valor da manutenção e, por outro
lado, acrescenta renda e lucro. Para Smith, os serviços, por exemplo, são
trabalho improdutivo. Isto não significa que sejam inúteis, eles apenas não se
vaporizam num objeto durável: continuam a existir terminado o trabalho e não
permitem adquirir, mais tarde, determinada quantidade de trabalho.

O trabalho é a única fonte / origem do valor, isto é, só o trabalho produtivo cria

excedente. O que conta como causa do valor é o trabalho abstrato e não


qualquer tipo de trabalho. Todo o valor é criado pelo trabalho e o trabalho
(produtivo) não só é capaz de reproduzir o seu próprio salário, como ainda gera
um excedente que vai ser distribuído em rendas e lucros. Os trabalhadores
improdutivos, em contrapartida, são consumidores puros, isto é, o seu
rendimento é retirado do capital, sem que sirva para produzir riqueza. Os
salários aos trabalhadores produtivos, por outro lado, desempenham uma função
de capital, em que o pagamento destes permite gerar mais valor, criar mais
riqueza.

o Teoria da distribuição de rendimentos:

A riqueza de uma nação, diz-nos Smith, é o fluxo anual de bens resultantes da

atividade dos trabalhadores produtivos. A compreensão desta teoria pressupõe o


conhecimento de uma estrutura de classes da sociedade capitalista, que se
dividem em trabalhadores produtivos (criam riqueza, não só a necessária para a
manutenção, ou seja, os salários, mas também um excedente que vai ser
distribuído em rendas e lucros); proprietários de terras (única classe a quem o
rendimento não custa trabalho); capitalistas (patrões ou empresários que vivem

do lucro). Por estas três classes distribuímos o rendimento sob a forma de


salários, rendas e lucros. Smith refere que o produto se distribui naturalmente
pelas diferentes classes, mas não deixa de referir que para uma destas categorias
aumentar, a outra terá de diminuir.

Para Smith, o juro é a receita que deriva do capital que a própria pessoa não
emprega, mas empresta a outros. Este é um rendimento derivado, que, se não
for pago a partir do lucro obtido pela utilização desse dinheiro, terá de sê-lo
com base em qualquer outra fonte de receita.

Como num país civilizado, a renda e o lucro contribuem largamente para o


produto anual, este será suficiente para comprar ou dominar uma quantidade de
trabalho muito superior à que foi utilizada para criar, preparar e transportar essa
produção até ao mercado.

o Divisão do trabalho:

De acordo com Smith, a riqueza das nações consiste no suprimento anual de


bens

materiais de produção ou consumo que essa nação consegue produzir. A causa


principal de riqueza das nações reside, no trabalho produtivo. A produção anual
é, sem dúvida, resultante do trabalho produtivo.

Conclui-se que a maior riqueza de uma nação não depende da proporção de


trabalhadores ocupados em trabalho útil, mas sim na produtividade desses
mesmos trabalhadores. Smith encara os fatores de produtividade do trabalho e
conclui que a produtividade depende da divisão do trabalho – na especialização
dos trabalhadores.
A especialização de trabalhadores poderá ser interna (dentro do mesmo
processo

produtivo) ou externa (divisão de trabalhadores por processo produtivo, na


totalidade das fases). Ambas as situações relevam a visão smithiana.

A especialização interna é relevante para o aumento da produtividade. Advém


de três pontos o benefício referido: aumento da destreza de cada trabalhador
especializado; a poupança de tempo, já que não se muda de tarefa para tarefa; a
potenciação da invenção de máquinas que substituirão o homem em certas
tarefas.

A especialização externa explica ganhos de produtividade associados à


propensão para a troca; permite ao trabalhador especializado deter tudo aquilo
que não produz.

Temos aqui que a especialização possibilita o crescimento económico – o


trabalhador produz numa medida que ultrapassa o seu consumo – aqui, está
articulada com a Teoria do Comércio Internacional de Smith, já que o comércio
externo alarga portas ao crescimento económico.

o Riqueza das nações:

Riqueza (à época) eram os fluxos de rendimentos gerados na economia, se se


houver crescimento da economia.

Existência de trabalhadores produtivos: só estes criam excedentes e geram


riqueza.

Divisão do trabalho: decomposição do processo produtivo de um bem em várias


fases, sendo cada uma entregue a um ou mais trabalhadores (a produção
aumenta). Exige empresas de grande dimensão.
Acumulação de capitais: sem acumulação de capitais não há investimento e não
há contratação de trabalhadores produtivos e à compra de bens para a produção.

o Comércio internacional:

Comércio internacional:

••possibilita que se leve mais longe a divisão de trabalho/ especialização


interna; possibilita uma divisão de trabalho à escala internacional:
especialização externa. “ É uma máxima de qualquer homem de família
prudente nunca tentar fazer em casa o que lhe sairá assim mais caro do que
comprando. O alfaiate não tenta fazer os seus próprios sapatos, vai comprá-los
ao sapateiro.”

O que se considera prudente na conduta de uma família, dificilmente se poderá


considerar insensato na conduta de um grande reino. Se um país estrangeiro nos
pode fornecer uma mercadoria mais barata do que se fosse feita por nós, é
melhor comprá-la a esse país com parte da produção da nossa própria indústria,
que assim é utilizada de maneira a obter alguma vantagem.”

Teoria da vantagem absoluta

Cada país: deve especializar-se naquilo que produz a menor custo em termos
absolutos (ninguém produz a custo tão barato como aquele) e importar os bens
que cada país produza a um custo que é o menor para aquele produto, em
termos absolutos (aquele país estrangeiro é o que vende mais barato aquele
produto). O comércio internacional pode trazer vantagens para todos os
intervenientes (vs. mercantilistas) – jogo de soma positiva

Razões:
- Não importa que se consiga exportar mais do que se importa; o relevante é que
fique mais barato;

- Se ficar mais barato, os recursos produtivos do país podem ser utilizados em


atividades em que o país é mais produtivo;

- Se for mais produtivo, cria mais riqueza;

- Uma diferente conceção de riqueza e de função da moeda (face aos


mercantilistas).

Say:

o Teoria do valor:

Rejeitando a teoria do valor de Smith e de Ricardo, Say sustenta que “o valor de


uma coisa é o resultado da avaliação contraditória feita entre o que dela tem
necessidade, ou que a procura, e o que a produz, ou a oferece. Os dois
fundamentos são, portanto: 1º- a utilidade, que determina a procura que dela se
faz; 2º- os custos de produção, que limitam a extensão dessa procura, visto que
se deixa de procurar aquilo que requer demais em gastos de produção”.

Salientando que, por efeito da concorrência, “o preço dos produtos se


estabelece à taxa determinada pelos custos de produção”, o autor francês
conclui, porém, que “não são os gastos que se fazem para produzir que
determinam o preço que o consumidor consente em pagar, é unicamente a sua
utilidade”. Estes trechos mostram que Say fala indistintamente de preço e de
valor e que assenta na utilidade a sua teoria do valor: “A qualidade que faz com
que uma coisa tenha valor é, evidentemente, a sua utilidade. Os homens só
atribuem preço às coisas que lhes podem ser úteis (...)”.
A utilidade é o elemento determinante da fixação do valor (preço), embora este
se venha a fixar ao nível do custo de produção: “O preço dos produtos –
escreveu Say – estabelece-se à taxa determinada pelos custos da produção, mas
desde que a utilidade que lhes é atribuída faça nascer o desejo de os adquirir (...)
ao preço a que se podem adquirir.

o Teoria dos 3 fatores de produção:

A produção efectua-se graças ao concurso de três factores de produção: a


natureza, o trabalho e o capital. Cada um deles é portador dos seus “serviços
produtivos”, serviços pelos quais os seus titulares recebem um preço, um
rendimento determinado (renda, salário, juro). Say identifica a teoria da
distribuição do rendimento com a teoria da formação dos preços dos factores
de produção, baseada no jogo da respectiva oferta e procura.

A par do trabalho (a que Say chama indústria), intervêm, pois, como factores de
produção, produtos já existentes, i.é, o capital. Fazendo entrar na sua análise a
figura do empresário que reúne os factores de produção, Say como que coloca
na mesma posição os capitalistas e os trabalhadores: uns e outros dependem dos
empresários que lhes compram os seus serviços.

Segundo a concepção de Say, quer a terra, quer o trabalho, quer o capital,


trazem uma contribuição natural para a produção. E a renda, o salário e o lucro
fixar-se-iam independentemente uns dos outros, formando-se o valor dos bens
(o preço, igual ao custo de produção, por que se venderiam os bens em virtude
da concorrência entre os produtores) pela soma das despesas efectuadas com os
três factores de produção.

o Lei de say:
Segundo a Lei de Say toda a oferta cria a sua própria procura. Os preços
formam-se, portanto, no mercado de forma absolutamente concorrencial; quem
produz vende sempre ao preço mais alto compatível com o escoamento da
produção e quem vende está disposto a subir os preços quando a procura
aumenta e a baixá-los quando a procura diminui, não existindo qualquer
armazenamento de produção. Segundo Say, a moeda é o simples intermediário
das trocas e quem vende, compra, não havendo retenção de moeda em saldos
líquidos. Não há aforro nem entesouramento.

Parece impossível a existência de crises de sobreprodução, não há mercadorias


em estoque porque os preços são flexíveis e não há retenção de moeda. Say
apenas admite crises de sobreprodução transitórias: quando se verifique uma
situação de desequilíbrio, o mecanismo dos preços tende a restaurar o
equilíbrio.

o Crítica de Keynes à lei de say:

Defendendo que nas economias capitalistas a circulação se faz segundo o


modelo marxista D–M–D’, Keynes sustenta que as situações de equilíbrio com
desemprego involuntário são situações inerentes às economias que funcionam
segundo a lógica do lucro e não segundo a lógica da satisfação das
necessidades.

Para explicar as situações de desemprego involuntário - que considera o


problema mais grave das economias capitalistas – Keynes lança mão do
conceito de procura efectiva, o montante das despesas que se espera a
comunidade faça – por ter capacidade para as pagar – em consumo e em
investimento novo. Se esta procura efectiva não for suficiente para absorver
toda a produção a um preço compensador, haverá desemprego de recursos
produtivos.
Este desemprego será desemprego involuntário, no sentido de que há
pessoas sem emprego desejosas de trabalhar por um salário real inferior ao
praticado. Ao contrário do que defendiam os “clássicos”, isto significa duas
coisas:
1) o nível de emprego não depende do jogo da oferta e da procura no
mercado de trabalho, antes é determinado por um factor exterior ao mercado de
trabalho, a procura efectiva;
2) é o volume do emprego que determina, de modo exclusivo, o nível dos
salários reais, e não o contrário.

o Crítica de Malthus à lei de Say:

Não há perfeita flexibilidade dos preços. Por vezes há estocagem. A visão de


say perante o valor da moeda está errada, pois não podemos gastar todo o nosso
dinheiro. Mas ao não investir em nada estamos perante entesouramento,
significando que a oferta vai diminuir. A procura pode não se ajustar à oferta,
gerando sobprodução ou subprodução na generalidade dos setores durante
algum tempo (crise).

A procura resulta da necessidade que temos e do dinheiro que temos para as


satisfazer.

O dinheiro que cada um faz pode não ser totalmente canalisado para satisfazer
necessidades.

o Crítica de Marx à lei de Say:

Enuncia uma 3ª função da moeda: capital a ser valorizado pela produção (para
say a moeda era um simples meio de troca; para Malthus era o meio geral e
definitivo de pagar). Todos usamos a moeda para satisfazer necessidades de
bens de consumo e, se pouparmos, podemos investir em capital mas apenas se
este for viável.

Para say a fórmula económica é MDM (trocamos mercadorias pelo dinheiro e


depois utilizamos esse dinheiro para comprar novas mercadorias (a moda é um
simples intermediário).

Para Marx, a fórmula económica é DMD’ (só adiantamos dinheiro à produção


de novas mercadorias se soubermos que após a venda das mercadorias, fazemos
mais dinheiro do que aquele que investimos).

Marx evidencia o problema da distribuição de rendimentos: a maioria da


população ganhava o mínimo de subsistência, fazendo com que o poder de
compra fosse limitado.

Marx diz que no capitalismo pode haver desenvolvimento da produção mas não
tanto desenvolvimento do capacidade de consumo. Levará à deterioração do
capitalismo.

Malthus:

Malthus procura agora demonstrar que a riqueza das nações pode


aumentar, sem que dela beneficiem todos os indivíduos, bastando, para tanto,
que a população aumente em maior medida do que a quantidade de bens
disponíveis. Simplesmente, Malthus justifica a ordem liberal e a desigualdade
social que ela gerava com o argumento de que assim era possível a melhoria das
condições de uma parte dos indivíduos – uma vez que existem pressões no
sentido de limitar o crescimento demográfico – enquanto que um regime
igualitarista ou de comunidade reduziria necessa-riamente à miséria todos os
indivíduos.
Vejamos o raciocínio de Malthus.
Interrogando-se sobre as causas que tinham impedido até então a marcha
dos povos para a felicidade, o autor deteve-se no estudo de uma delas, “uma
grande causa intimamente ligada à própria natureza do homem, (...) a tendência
constante, que se manifesta em todos os seres vivos, para se multiplicarem para
além da alimentação existente para eles”.

O princípio da população poderá, pois, resumir-se como uma pressão da


população (com tendência para crescer) sobre as subsistências, cuja limitação
constitui, por sua vez, um travão da expansão demográfica.

Se não houvesse quaisquer obstáculos, a população duplicaria todos os 25


anos, aumentando segundo uma progressão geométrica, enquanto as
subsistências aumentariam apenas segundo uma progressão aritmética. Daí que
os alimentos não cheguem para todos os que nascem, sucumbindo à miséria os
que não podem ser alimentados. Aqui transparece o postulado individualista
que informa a construção malthusiana: o indivíduo deve ser livre de agir; mas
deve ser também estimulado à acção pela ameaça que sobre ele fazem pesar
forças que não domina. O mesmo espírito está presente na defesa que Malthus
faz da necessidade de suprimir quaisquer medidas de assistência aos pobres
(supressão que considerava indispensável para limitar o aumento da população).
Com efeito, as Leis dos Pobres, em vez de atenuarem a miséria, agravá-la-iam,
pois permitiriam que se casassem, tivessem filhos e os mantivessem vivos,
mesmo aqueles que não tinham meios para isso:

“Por mais duro que tal possa parecer, a pobreza dependente deve considerar-se
desonrosa. Um tal estímulo parece absolutamente necessário para promover a
felicidade da grande massa da humanidade; e qualquer tentativa geral para
enfraquecer esse estímulo, por mais benevolente que seja a sua intenção
aparente, irá sempre contra o seu próprio fim”.

A par da supressão da assistência pública aos pobres, Malthus só aceita


um meio de limitar a natalidade: o moral restraint (o constrangimento moral, “a
abstenção do casamento juntamente com a castidade”, como ele próprio
explica). Mas acrescenta que o moral restraint só é aplicável numa sociedade
em que se admita a propriedade hereditária e a desigualdade das fortunas.
Numa sociedade igualitária, com efeito, “sendo todos iguais e colocados em
circunstâncias semelhantes, não se veria por que razão um indivíduo se julgaria
obrigado à prática de um dever que outros desdenhariam observar”. Pelo
contrário, se se verificar desigualdade na distribuição da riqueza, os pobres
serão obrigados, por falta de meios, a casar em idade mais avançada ou a não se
casarem.

Ricardo:
o Teoria do trabalho:
Marx iniciou a sua análise a partir de princípios teóricos enunciados pelos
clássicos ingleses, como Ricardo. Marx tenta explicar a essência do capitalismo
tendo por base a toeira do valor de Ricardo.
As mercadorias apresentam um valor de uso, que é uma utilidade para
quem as possui.
Também apresentam um valor de troca, sendo que ambos os valores se
ligam um ao outro.
Precisamente porque Marx diz que não se venderá nada se tal não for útil
para alguém.
Porém, para Marx, não se pode reconduzir um valor de troca à sua
utilidade, uma vez que o valor das mercadorias não é tanto maior quanto maior
for a sua utilidade. Diz Marx que o valor de troca deve medir-se por uma
qualidade que seja comum para todos os produtores que querem vender as
mercadorias.
O valor de troca é, então, uma qualidade social que permite as relações
entre os vários produtores, sendo que estas exigências satisfazem a teoria do
valor de Ricardo que nos diz que o valor de troca de uma mercadoria representa
a quantidade de trabalho necessária para a sua produção.
Tal como Ricardo, Marx esclarece que o trabalho utilizado na produção
dos materiais e dos instrumentos de produção faz parte do valor do bem.
Sublinha também que o trabalho que importa não é o trabalho concretamente
gasto por um determinado trabalhador, mas o trabalho socialmente gasto na
produção de um bem. Acrescenta ainda que o que importa é o trabalho abstrato,
ao qual se conduzem os diferentes tipos de trabalho pelos indivíduos que
pertencem a diferentes profissões, sendo a própria sociedade que atende à
qualificação e intensidade do trabalho fornecido, pagando salários diferentes,
para remunerar trabalhadores com diferentes qualificações.
Em suma, parar Marx, o que determina o valor de uma mercadoria é o
tempo de trabalho socialmente necessário para a produzir. Trabalho social
necessário para produzir certa mercadoria é o trabalho despendido por um
operário de qualidade média, trabalhando com intensidade média e utilizando
instrumentos de produção normalmente utilizados em determinada época. Marx
acaba também por utilizar a distinção de Smith entre trabalho produtivo e
improdutivo: na categoria de improdutivo inclui os funcionários, os
trabalhadores domésticos e os trabalhadores em atividades puramente
comerciais pois entende que o tempo gasto pelo vendedor para obter o preço
mais elevado de um bem não aumenta o valor da mercadoria. Considera com
trabalho produtivo, além do usado na produção de materiais, o trabalho dos que
se ocupam em empresas produtoras de serviços.
Ao contrário de Ricardo, não identificou o valor de mercado como o valor
em trabalho, o que explica a sua tese. Segundo esta, nas condições do
capitalismo, as mercadorias não se trocavam pelo seu valor, preço de produção,
que é igual ao montante dos salários somados ao montante do capital orientado.
Assim, a tese de Marx tem como principal objetivo determinar o
significado social do lucro capitalista.

o Teoria das rendas:


Partindo da ideia de Malthus de que a população tende a crescer
constantemente, Ricardo acrescenta que este aumento da população obriga a
cultivar terras menos férteis ou a praticar a cultura intensiva nas terras já
cultivadas, o que significará que os custos de produção das unidades adicionais
virão aumentados (quer numa hipótese, quer noutra, como se verá).

Quer dizer: o valor de troca do trigo, por exemplo, afere-se pela


quantidade de trabalho necessária para a sua produção na terra menos fértil de
entre as que são cultivadas. Ou seja: o valor de troca do trigo será igual ao seu
custo marginal, ao custo suportado para a sua produção na terra menos fértil,
que será, por isso, uma no rent land. Se assim não fosse, ninguém cultivaria tais
terras, pois ninguém estaria disposto a cultivar nelas o trigo se tivesse de o
trocar (vender) por um valor inferior ao seu custo, ou mesmo por um valor igual
ao custo, se tivesse de pagar ainda uma renda ao proprietário.
Terras que propiciam uma renda ao seu proprietário serão, portanto, todas
aquelas cuja fertilidade é superior à da terra cultivada em que os produtos se
obtêm a um custo mais elevado. Como o preço das quantidades globais do
produto acaba por coincidir com o custo em trabalho mais elevado, a situação
dos proprietários das terras em que os custos são menos elevados e a
concorrência entre os rendeiros interessados em arrendá-las tornam possível
àqueles exigirem destes uma remuneração pela cedência das terras
correspondente à diferença entre o custo de produção efectivo da respectiva
terra e o custo marginal.
Na construção de Ricardo a renda é, como em Malthus, um rendimento
diferencial. Mas, segundo Ricardo, a concorrência entre os rendeiros vai obrigar
estes a aceitar o pagamento de uma renda que lhes deixa apenas, como ganho
seu, a importância correspondente à remuneração dos seus capitais à taxa
normal. A renda aparece, pois, em Ricardo, como uma parte do valor
anteriormente criado.

o Teoria do salário:
Ricardo procura explicar o salário considerando o trabalho como uma
mercadoria, à qual se pode aplicar a distinção de Smith, entre preço natural e o
preço de mercado.
Preço natural do trabalho - preço que é necessário para permitir aos
trabalhadores, em geral, que sobrevivam e se reproduzam sem o número
aumentar ou diminuir, isto é, mantendo-se sempre constante. O preço natural do
trabalho depende dos bens de primeira necessidade (produtos alimentares e
outros artigos), para o sustento dos trabalhadores e da sua família.
Naturalmente que com a subida dos preços dos bens de primeira
necessidade, o preço natural do trabalho vai diminuir. Mas, Ricardo esclarece
que o preço do trabalho não se confunde com o necessário para assegurar a
mera subsistência biológica dos trabalhadores.
Por outro lado, o preço do mercado do trabalho define-se como preço
realmente pago pelo trabalho, com base na relação natural entre a oferta e a
procura: é caro quando escasseia e barato quando abunda.
Admitindo que o valor da moeda se mantém, Ricardo mostra que os
salários variam em função de duas causas: a oferta e a procura dos trabalhadores
e o preço dos produtos em que os trabalhadores despendem os salários; mas
defende que, com o progresso natural da sociedade, os salários terão tendência a
descer enquanto forem modelados pela oferta e a procura, pois a oferta de
trabalhadores continuará a aumentar à mesma taxa enquanto a procura
aumentará a uma taxa mais lenta.
Assim, a teoria ajusta-se à realidade do tempo, caraterizada pelos salários
de miséria; como se percebe, Ricardo aceita integralmente a perspetiva de
Malthus acerca da Lei dos Pobres pois estas encorajam a multiplicação dos
trabalhadores, aumentando o seu número, e levando a situações conjunturais de
descida de salários, abaixo do nível mínimo de subsistência e, por pressão sobre
as subsistências, à carestia dos produtos agrícolas.
Nestes termos, considerando que a formação e a fixação dos salários são o
resultado de certas leis naturais, fica resolvido o problema de distribuição de
rendimento, uma vez que o lucro há-de entender-se como a parte que cabe aos
capitalistas depois de pagas as terras e os salários. Sem necessidade de se
procurar uma lei que explique a determinação dos lucros, Ricardo limita-se a
salientar que os custos serão tanto superiores quanto maiores forem os salários.

o Teoria do lucro:
Visão pessimista de Ricardo ao aceitar o princípio da população e das suas
consequências.
Segundo esta teoria, a economia inglesa corria o risco de se transformar de
progressiva em estacionária, devido à quebra de investimentos provocada pela
redução da taxa de lucro.
A análise feita à Inglaterra do seu tempo, levou Ricardo a considerar que o
aumento da população era mais acelerado que a acumulação de capital. O
aumento do preço dos bens de primeira necessidade devido ao aumento da
população, levará a que os salários tenham de aumentar o necessário para
garantir que os trabalhadores conseguem subsistir. Os lucros têm
necessariamente de diminuir, desincentivando a acumulação de capital.
O futuro da Economia era uma economia estacionária, que surge da
tendência natural dos lucros para descer. Esta tendência só é contrariada pela
inovação nas máquinas para produzir os bens de primeira necessidade, baixando
o seu preço e mantendo o salário no mínimo de subsistência.
Apesar de Ricardo considerar a diminuição da taxa de lucro uma ameaça
ao sistema, este nunca põe em dúvida a sua perenidade, apoiando outros
elementos otimistas da sua teoria: a impossibilidade das crises de
sobreprodução, nos termos da lei de Say e o livre-cambismo e suas vantagens.

o Leis dos cereais:


Ricardo defende a necessidade de impedir o aumento das rendas,
defendendo a revogação imediata das Corn Laws, promulgadas em 1815 para
proteger o mercado interno do trigo, proibindo a sua importação.
E utiliza a sua teoria da distribuição como base teórica do ataque contra as
Leis dos Cereais. Combatendo os interesses dos Landlords, ricardo defendia os
interesses da burguesia industrial, à qual convinha a liberdade de comércio. A
revogação das Corn Laws em 1846 fio o maior triunfo do livre-cambismo,
marcando a vitória da burguesia industrial face à aristocracia rural.
Em Inglaterra, o aumento da população obrigava ao cultivo de terras pouco
férteis e ao cultivo intensivo das terras mais produtivas, conduzindo ao aumento
do seu preço, da própria renda diferencial, dos salários nominais, e à lógica
baixa da taxa de lucro. Se a Inglaterra pudesse importar livremente trigo a
preços mais baixos, compensavam-se os rendimentos decrescentes e terminava-
se com a possibilidade de um estado estacionário. Assim, compreende-se a
importância para a economia política da importação de produtos essenciais.
A liberdade de comércio externo constitui um fator de desenvolvimento
económico importante, pois permite o aumento da taxa de lucro.
Mas Ricardo procurou saber, nesta sua teoria, se a liberdade de comércio
assegura ganhos para todos os países que dele participam, realizando uma
perfeita harmonia de interesses. Assim, dizemos que a teoria do comércio
internacional de David Ricardo assenta na teoria dos custos comparativos ou da
diferença relativa de custos, segundo a qual cada país produzirá e venderá os
produtos que produz em condições mais favoráveis (isto é, de custos relativos
mais baixos que no estrangeiro). Conclui, que os benefícios do comércio
internacional são os benefícios da especialização, justificada pelo princípio da
vantagem relativa.
Em suma, o comércio internacional trará vantagens para todos os países,
independentemente do seu estado ou desenvolvimento relativo. A política livre-
cambista foi a que mais convinha à Inglaterra.

o Teoria da vantagem relativa:

Ricardo formula:
 a teoria da vantagem relativa; dos custos comparativos ou da diferença
relativa de custos.

Limitação da teoria da vantagem absoluta:


 Um país ineficiente em ambos os bens não participa no comércio
internacional.

Ricardo defende que cada país se deve especializar em produzir os bens


que pode produzir em termos relativamente mais favoráveis: aqueles cujos
custos relativos ou custos de oportunidade são mais baixos do que no
estrangeiro.

Vai para além de Smith: mesmo um país que tenha vantagem absoluta na
produção de 2 bens, terá interesse no comércio internacional se houver
vantagem comparativa diferente.

Custos de oportunidade = Valores que deixámos de obter por termos


optado por determinado emprego dos recursos produtivos.
Quando realizamos uma atividade (ou produzimos um bem) deixamos de
realizar outra (ou de produzir outro bem).

Produzir um bem implica sempre custos de oportunidade:

 Se produzimos um bem, deixámos de produzir outro;

Os produtores devem escolher o modo mais produtivo de utilizar os seus


recursos:

 o que implique menores custos de oportunidade.

Marx:

o Sistema de exploração necessária:

Da relação exploradores-explorados, conclui Marx que o capitalismo se afirma


como sociedade de classes, assentando na exploração de uma classe por outra,
justificando-se, assim, o seu antagonismo: de um lado, os que recebem a mais-
valia; do outro, os que a produzem, mas dela não se podem apropriar porque
não detém os meios de produção. O antagonismo entre capitalistas e
assalariados surge como uma característica fundamental do capitalismo
industrial. A força de trabalho só se tornou em mercadoria com o advento do
capitalismo que dividiu a sociedade nos indivíduos que não têm meios de
produção e como tal têm de utilizar a sua força de trabalho para sobreviver e
aqueles que adquirem essa força de trabalho para rentabilizarem os meios de
produção.

A exploração do trabalho de outrem só tinha razão de ser em sociedades de


autossubsistência, sem propriedade privada, classes sociais ou estado. Só com o
aumento da produtividade do trabalho é que começou a disputa dos homens pela
apropriação do excedente e do sobreproduto do trabalho. Formas de exploração
do trabalho alheio:
1) Esclavagismo: satisfeitas as necessidades mínimas dos escravos, o senhor
apodera-se do restante.

2) Feudalismo: os senhores feudais apropriavam-se do trabalho gratuito que os


seus servos tinham de prestar-lhe.

3) Capitalismo: Verifica-se a apropriação do excedente pela classe proprietária


dos sistemas de produção, em detrimento dos trabalhadores assalariados que
ganham, na forma de salário, o necessário para subsistir.

Os clássicos ingleses consideram natural que as rendas e lucros sejam


reservados para os proprietários das terras e capitalistas, porque aceitam que é
natural que os trabalhadores só recebem no salário o necessário a subsistir. (lei
de bronze dos salários). Mas Marx defende que o lucro não é natural, mas sim
uma categoria que deriva da existência de uma sociedade de classes. Para ele, a
mais-valia é apropriada pelos capitalistas sem qualquer justificação moral,
limitando-se estes a expropriar esta mais-valia e a explorar os trabalhadores.

Assim, a distribuição do produto do trabalho é uma consequência lógica da


natureza das relações sociais de produção típicas do capitalismo. É por isto que
Marx não atribui importância à questão de saber como se distribui a mais-valia
entre os proprietários das terras (rendas), os que emprestam dinheiro (juros), e
os capitalistas ativos (lucro).

o Teoria do salário:

Para os clássicos, os salários eram explicados por leis naturais, de validade


absoluta e universal. O salário era entendido como o preço do trabalho. Marx
considera o salário como preço da força de trabalho.
Marx criticou Malthus e a teoria clássica ao fazerem depender o nível dos
salários das variações da população, explicadas por motivos derivados da
própria natureza do Homem.

Marx ligou as flutuações da procura de mão-de-obra e a manutenção dos


salários a um nível correspondente ao valor da força de trabalho a fatores
inerentes à essência do processo de acumulação capitalista. Por outro lado, a
oferta da força de trabalho depende da mão-de-obra disponível e a procura da
força de trabalho depende da quantidade de capital investido na economia e das
técnicas de produção utilizadas. Marx admite que, se as técnicas de produção
não se alterassem, o aumento da procura da força de trabalho seria superior ao
aumento da oferta e os salários tenderiam a subir.

Quando os salários sobrem além de certo limite, os detentores do capital têm


interesse em substituir a mão-de-obra por máquinas, porque o aumento dos
salários põe em causa o lucro. Assim, o progresso técnico é entendido como
elemento necessário à manutenção da produção em moldes capitalistas. É este
progresso técnico que permite manter os salários ao nível da força de trabalho,
garantindo a mais-valia aos capitalistas.

A introdução de novas máquinas traduz-se num aumento do capital constante


em relação ao salário (capital variável).

Ao considerar o salário e o trabalho assalariado como categorias históricas,


Marx defende que as leis que explicam a formação dos salários no capitalismo
só podem ser leis históricas e não leis naturais, sendo que o mínimo de
subsistência, isto é, o valor da força do trabalho, não equivale ao que é exigido
pela natureza para satisfazer as necessidades básicas, tendo também um caráter
histórico. Marx repudia, deste modo, a lei de bronze dos salários, cujo
fundamento era a lei da população de Malthus.
Marx defende que a organização sindical dos trabalhadores permite lutar por
melhores condições de trabalho, melhores salários, aumentando o valor da força
de trabalho, já que nas necessidades mínimas de manutenção da força de
trabalho se integram outras necessidades que vão sendo progressivamente
conquistadas pela classe operária organizada.

o Exército industrial de reserva:

Quando o aumento dos salários ameaça por em causa as margens de lucro do


capital, o “sistema” reage introduzindo novas técnicas que possibilitem
economizar mão-de-obra.

Enquanto na teoria clássica as alterações nos processos produtivos eram


consideradas como resultado das invenções acidentais, fortuitas, em Marx, o
progresso técnico é entendido como elemento necessário à manutenção da
produção em moldes capitalistas. Com efeitos, é o progresso técnico que torna
possível a constituição daquilo a que Marx chama de “exército industrial de
reserva” – reserva de mão-de-obra que significa a manutenção da oferta de
trabalho a um nível superior ao da procura, assegurando a existência de uma
“sobrepopulação relativa”. E a existência desta reserva de mão-de-obra é que,
em virtude da concorrência dos trabalhadores, permite a manutenção dos
salários ao nível da força de trabalho, o que garante mais-valia à classe
capitalista. O “e.i.r” durante os períodos de estagnação e prosperidade mediam
restringe o exército do trabalho ativo; durante os períodos de sobreprodução e
euforia, impede que as suas pretensões se elevem.

o O Capital:
Para Marx, os meios de produção, em si mesmos, não são capital: nem uma
máquina nem uma quantia de dinheiro são capital, por exemplo.

A existência dos meios de produção é indispensável para o progresso de


qualquer sociedade mas o que é capital são os equipamentos, o dinheiro, os
estoques, em suma, quando se encontram apropriados e propriedade privada
pelos membros de uma classe (a capitalista), que os utiliza em termos de se
verificar a exploração necessária daqueles que não têm a propriedade dos meios
de produção (os trabalhadores) e se veem, por isso, obrigados a vender a sua
força de trabalho.

O capital é, portanto, um valor que produz uma mais-valia, mediante a


exploração do trabalho assalariado. Não tem, então, existência sem o trabalho: o
trabalho morto explora, assim, o trabalho vivo. Neste sentido, o capital é apenas
um trabalho de outrem não pago que se vai renovando mediante a exploração do
trabalho alheio. É uma relação entre classes, a capitalista e a proletária.

o A teoria das crises:

Foi exactamente em crítica a Ricardo, que Marx analisou as implicações da Lei


de Say, considerando o seu raciocínio “o linguajar infantil digno de um Say,
mas não de Ricardo”.

No quadro do capitalismo, a produção não se destina à satisfação das


necessidades, mas à obtenção de lucro. A moeda não é um simples
intermediário nas trocas, o seu uso tem também como resultado a cisão da troca
em duas operações que se tornam autónomas, a venda e a compra, separadas no
tempo e no espaço. Na verdade, ninguém tem de comprar apenas porque
vendeu, e a sobreprodução surge se alguém vende e não compra outros produtos
com a receita da venda. Por outro lado, se o capitalista não esperar a obtenção
de lucros, não investirá a sua poupança.
Qualquer interrupção no processo de circulação, qualquer retenção do poder
aquisitivo poderá provocar a sobreprodução e a crise. E Marx procurou mostrar,
precisamente, que as crises de sobreprodução são inerentes às contradições do
modo de produção capitalista:

“os trabalhadores, como compradores das mercadorias, são importantes


para o mercado. Mas, ao considerá-los como vendedores da sua mercadoria, a
força de trabalho, a sociedade capitalista tem tendência para reduzi-los ao preço
mínimo. (...) Ora, a venda de mercadorias, a realização do capital-mercadoria, e
por consequência a mais-valia, é limitada, não pelas necessidades de consumo
da sociedade em geral, mas pelas necessidades de consumo de uma sociedade
cuja maior parte continuará sempre pobre”.

Como é que, na interpretação marxista, as crises de sobreprodução


aparecem como inerência do próprio processo de desenvolvimento capitalista?
A lógica do capital é a sua própria valorização.
A produção como que se autonomiza do consumo, tornando-se um fim de
si própria.
Por isso, a reprodução normal e ininterrupta exige:
a) que se verifique uma correspondência permanente entre a produção e as
possibilidades de consumo solvável da comunidade (de outro modo, a
mais-valia criada permanecerá cristalizada em mercadorias invendáveis,
rebentando a crise – crise de realização da mais-valia);

b) que as compras de bens de consumo se equilibrem com as compras de


bens de produção; c) que se verifique um desenvolvimento proporcional
entre o sector dos bens de produção e o sector dos bens de consumo.

Simplesmente, os bens de consumo produzidos só serão consumidos se


puderem ser pagos. Quer dizer que o escoamento da produção de bens de
grande consumo sofre a limitação resultante do baixo poder de compra da
grande maioria da população, podendo deixar de aumentar o consumo em pleno
período de prosperidade, de euforia da produção e dos negócios, quando o
fabrico de bens de produção se desenvolvera enormemente e a sua venda
prosseguia a bom ritmo (pois ela não está directamente dependente do poder de
compra do consumidores finais, mas das disponibilidades dos industriais e das
suas expectativas de lucros).
Assim se pode chegar a uma situação em que as forças produtivas se
desenvolveram a tal ponto que a capacidade de produção que elas representam,
o seu carácter social, não terá correspondência na capacidade de consumo, em
virtude da apropriação privada do sobreproduto social, em benefício exclusivo
da classe capitalista.
As crises aparecem, portanto, como o reflexo deste desajustamento, desta
contradição, trazendo consigo, periodicamente, a desvalorização ou destruição
do capital em excesso, dos meios de produção capazes de produzir bens de
consumo em quantidades tais que o mercado as não absorve, por não poderem
pagá-las os consumidores.

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