Você está na página 1de 48

Faculdade de Economia / Ciências Econômicas

HISTÓRIA ECONÔMICA
A PRODUÇÃO DA MAIS-VALIA

Professora Natânia Silva Ferreira


OBJETIVOS

• Entender o conceito geral de mais-


valia;

• Compreender o desenvolvimento dos


processos de mais-valia absoluta e
mais-valia relativa.

https://revolushow.com/dicionario-marxista-007-mais-valia/
As seções principais para entendimento sobre
o conceito e a produção da mais-valia em
Marx, presentes no livro I de O Capital, são:

Seção III: A produção da mais-valia absoluta.

Seção IV: A produção da mais-valia relativa.

• Para tratar de mais-valia, vale retomar


conceitos essenciais da teoria marxista, que
serão descritos a seguir.
MERCADORIA

• Pode ser definida como todo o produto do trabalho


humano que é trocado por outro;

• Para que seja produzida, é necessário uma quantidade de


trabalho determinada;

• A mão-de-obra ou o trabalho, juntamente com demais


fatores de produção (terra e capital) – sob o controle do
capitalista – são os elementos necessários para a
https://www.leroymerlin.com.br/localizacao produção de uma mercadoria;

• A mercadoria possui valor de uso e valor de troca.


VALOR DE USO

Diz respeito a mercadoria ser entendida do ponto de vista concreto, material.


Uma cadeira, por exemplo, um objeto físico, possui um valor de uso para seu
possuidor, que a utiliza ou consome a cadeira. Entendida do ponto de vista
concreto, material, a mercadoria se desgasta com o passar do tempo. Assim, a
cadeira terá um tempo de duração, conforme for utilizada, se desgastará. O
que produz o valor de uso da mercadoria é o trabalho concreto,
determinado, qualificado; o trabalho que altera uma matéria física.
VALOR DE TROCA

Diz respeito a mercadoria ser entendida do ponto de vista imaterial, não


concreto, impalpável. A mesma cadeira citada anteriormente, que é objeto físico
e possui valor de uso, também possui valor de troca, ou seja, ela é produzida
para ser trocada, para que sua troca gere mais valor. O que produz o valor de
troca é o trabalho abstrato, que desaparece da mercadoria quando sua
produção é finalizada. O trabalho abstrato faz com que a mercadoria possua
um valor que vai além de sua materialidade e utilidade, e a noção de valor de
troca e de geração de valor é crucial para entendimento da mais-valia.
• Em se tratando de valor de troca, é possível mencionar o fetichismo da
mercadoria.
“o trabalho já realizado, despendido na transformação da matéria, se cristaliza a
si mesmo no objeto que fabrica. Assim uma mesa, por exemplo, em uma
sociedade mercantil não é apenas um objeto em torno da qual as pessoas
sentam, mas também a encarnação de uma determinada quantia de tempo de
trabalho, coisificadas no valor que compõe seu preço (...) a crença de que este
trabalho se corporifica, se transubstancializa, na mercadoria é um misticismo,
consiste em um pensamento mágico, irracional. O trabalho gasto desaparece,
nada mais; o que fica é apenas a matéria bruta transformada” (FLECK, 2012, p.
149-150).
“a mercadoria é tanto um determinado objeto físico, sensível, quanto a
objetificação de um trabalho já passado e, portanto, metafísico,
suprassensível. A natureza dos objetos fetiche é ser tanto um objeto
determinado, concreto, quanto, ao mesmo tempo, algo distinto deste
que é aí “encarnado”; este pode ser um deus, cristo, um espírito
qualquer ou, neste caso específico, o trabalho passado” (FLECK, 2012,
p. 149-150).
MAIS-VALIA ABSOLUTA E MAIS-
VALIA RELATIVA
“A mais-valia produzida pelo prolongamento da jornada de trabalho
chamo de mais-valia absoluta; a mais-valia que, ao contrário, decorre
da redução do tempo de trabalho e da correspondente mudança da
proporção entre os dois componentes da jornada de trabalho
[trabalho necessário e trabalho excedente ou mais-trabalho] chamo
de mais-valia relativa” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 431-432).
A PRODUÇÃO DA MAIS-VALIA
ABSOLUTA

https://www.politize.com.br/mais-valia/
PROCESSO DE TRABALHO
“Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a
Natureza, um processo em que o homem, por sua própria
ação, media, regula e controla seu metabolismo com a
Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como
uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e
mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil
para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento,
sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica,
ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as
potências nela adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a
seu próprio domínio” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 297).
http://www.crieseucarro.net/dia-nacional-do-fusca/
PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DO TRABALHO
• “O produto — a propriedade do capitalista — é um valor de uso, fio, botas etc”. Entretanto, o
capitalista não fabrica as botas por causa delas mesmas, o valor de uso não é o objetivo principal da
produção capitalista. “Produzem- se aqui valores de uso somente porque e na medida em que sejam
substrato material, portadores do valor de troca”;
Duas considerações importantes para compreensão do processo de valorização do trabalho:
1. O capitalista deseja produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, um artigo destinado à
venda, uma mercadoria;
2. O capitalista deseja produzir “uma mercadoria cujo valor seja mais alto que a soma dos valores das
mercadorias exigidas para produzi-la, os meios de produção e a força de trabalho, para as quais
adiantou seu bom dinheiro no mercado. Quer produzir não só um valor de uso, mas uma mercadoria,
não só valor de uso, mas valor e não só valor, mas também mais-valia” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p.
305).
CAPITAL CONSTANTE

• Pode ser definido como o dinheiro investido nos


meios de produção;

“A parte do capital, portanto, que se converte em meios


de produção, isto é, em matéria-prima, matérias
auxiliares e meios de trabalho, não altera sua grandeza
de valor no processo de produção. Eu a chamo, por isso,

https://jallmec.com.br/como-as-materias-primas-influenciam-na-usinagem-de-
parte constante do capital, ou mais concisamente:
pecas/

capital constante” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 325).


CAPITAL VARIÁVEL
• Pode ser definido como o dinheiro investido na
força de trabalho humana, ou mão-de-obra
necessária para a produção de mercadorias;
“A parte do capital convertida em força de trabalho
em contraposição muda seu valor no processo de
produção. Ela reproduz seu próprio equivalente e,
além disso, produz um excedente, uma mais-valia
que ela mesma pode variar, ser maior ou menor. Essa
parte do capital transforma-se continuamente de
grandeza constante em grandeza variável. Eu a
https://www.e-farsas.com/trabalhadores-almocando-em-uma-viga-nas-
chamo, por isso, parte variável do capital, ou mais alturas.html

concisamente: capital variável” (MARX, 1996, livro 1,


tomo I, p. 325).
“Não é o capital constante que tem o dom de produzir mais-valia. Ele
não só não se valoriza sozinho quanto ainda decresce se a ele não é
aplicada a força de trabalho, pois enferruja, emperra etc. O capitalista
não adianta seu dinheiro visando à produção de mercadorias, mas sim
visando o acréscimo de dinheiro que lhe retornará desta produção. Se
despender seu dinheiro, é porque espera que este volte a ele em uma
quantia maior. Este acréscimo é oriundo justamente do capital variável”
(FLECK, 2011, p. 50).
• A respeito da parte “O capitalista não adianta seu dinheiro visando à
produção de mercadorias, mas sim visando o acréscimo de dinheiro que
lhe retornará desta produção”, ela remete ao processo de circulação de
mercadorias no capitalismo, onde a mercadoria é um meio na equação
que tem como início e fim o dinheiro, porém no fim, em quantia maior
que no início.

CIRCULAÇÃO SIMPLES: M – D – M
CIRCULAÇÃO CAPITALISTA: D – M – D’
• É o capital variável o responsável pela produção de mais-valia por dois motivos:
1. São os trabalhadores (capital variável) os explorados pelo capitalista, e não as
máquinas, equipamentos e instalações (capital constante);
2. A jornada de trabalho dos trabalhadores é maior do que realmente se é
necessário para a produção de mercadorias. Dividindo a jornada de trabalho em
duas partes, temos que “A primeira parte é o tempo de trabalho necessário, o
tempo de trabalho que o trabalhador despendeu, no qual ele produziu o valor que
lhe é devolvido como salário. O segundo, chamado tempo de trabalho excedente, é
o tempo de trabalho que o trabalhador despendeu, mas que é dado gratuitamente
ao capitalista, criando o valor que é acrescido, como mais-valia, ao capital inicial”
(FLECK, 2011, p. 51).
• Se, em uma produção de mesas, por exemplo, um trabalhador gasta, como
tempo de trabalho necessário, 30 horas semanais para uma produção
determinada e recebe o salário correspondente às 30 horas mas, ainda assim,
tem uma jornada semanal total de 44 horas, e continua produzindo mesas,
ele está produzindo então um excedente, além do necessário, que é um
retorno monetário para o capitalista;
• Ele recebe, no caso, por 30 horas trabalhadas, mas produziu por 44. Desta
forma, 14 horas foram dadas gratuitamente ao capitalista, o que possibilita
criar o valor que é acrescido ao capital inicial que foi investido na produção.
A TAXA DE MAIS-VALIA
• É dada pela relação entre o mais-trabalho (que gera o trabalho
excedente) e o trabalho necessário.

TE = trabalho excedente

TN = trabalho necessário

“A taxa de mais-valia é, por isso, a expressão exata do grau de


exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo
capitalista” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 332).
“Com um salário e uma jornada de trabalho dados, um capital variável, por exemplo, de
100, representa um número determinado de trabalhadores postos em movimento; ele é
o índice desse número. Seja de $100 o salário de 100 trabalhadores, digamos, por 1
semana. Se esses 100 trabalhadores efetuam tanto trabalho necessário quanto mais-
trabalho, ou seja, se trabalham diariamente tanto tempo para si mesmos, isto é, para a
reprodução de seu salário, quanto para o capitalista, quer dizer, para a produção de mais-
valor, seu produto de valor total seria = $200, e o mais-valor por eles gerado seria de
$100. A taxa do mais-valor m/v seria = 100% (MARX, 1996, livro 3, p. 262).

M = TE = 100 = 1 ou 100%

TN 100
• “Apesar de ser expressão exata do grau de exploração da força de
trabalho, a taxa de mais-valia não expressa a grandeza absoluta da
exploração. Se, por exemplo, o trabalho necessário = 5 horas e o mais-
trabalho = 5 horas, o grau de exploração = 100%. A grandeza da
exploração mede-se aqui em 5 horas. Mas se o trabalho necessário = 6
horas e o trabalho excedente = 6 horas, o grau de exploração de 100%
permanece inalterado, enquanto a grandeza da exploração aumenta a
20%, de 5 para 6 horas” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 332, nota 327).
Vale frisar os limites da força de trabalho:

LIMITE MÍNIMO

“O valor da força de trabalho é formado por dois elementos, um dos quais


puramente físico, o outro de caráter histórico e social. Seu limite mínimo é
determinado pelo elemento físico, quer dizer — para poder manter-se e se
reproduzir, para perpetuar a sua existência física, a classe operária precisa obter os
artigos de primeira necessidade, absolutamente indispensáveis à vida e à sua
multiplicação. O valor desses meios de subsistência indispensáveis constitui, pois, o
limite mínimo do valor do trabalho (...)” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 114).
LIMITE MÁXIMO
“Por outra parte, a extensão da jornada de trabalho também tem seus limites
máximos, se bem que sejam muito elásticos. Seu limite máximo é dado pela
força física do trabalhador. Se o esgotamento diário de suas energias vitais
excede um certo grau, ele não poderá fornecê-las outra vez, todos os dias. Mas,
como dizia, esse limite é muito elástico. Uma sucessão rápida de gerações
raquíticas e de vida curta manterá abastecido o mercado de trabalho tão bem
como uma série de gerações robustas e de vida longa” (MARX, 1996, livro 1,
tomo I, p. 114).
• É importante ressaltar a diferença entre taxa de mais-valia e taxa de lucro
na visão marxista:

“A taxa de mais-valia é a relação entre a

mais-valia e o capital variável. A taxa de lucro é a relação entre a

mais-valia e o capital individual total (soma do capital variável com o


capital constante). A taxa de mais-valia revela o grau de exploração

da força de trabalho, ao passo que a taxa de lucro indica o grau de

valorização do capital” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 44-45).


• Parte-se do pressuposto de que os trabalhadores, a maioria deles, não
possuem a noção do nível de exploração a que estão sujeitos;
• Ainda que em diferentes momentos da história tenham lutado por
reduções em jornadas de trabalho ou por melhores condições materiais
de trabalho, não é possível que saibam, com certeza, a respeito do
quantitativo de tempo de trabalho necessário que estão utilizando para
a produção e do tempo excedente, em que estão acrescentando valor às
mercadorias, mas que não estão recebendo salário por esse acréscimo.
De forma sumária: MAIS-VALIA ABSOLUTA.

• A mais-valia absoluta diz respeito a ampliação ou prolongamento da jornada de


trabalho além do necessário;

• É a ideia de que, com uma massa de trabalho excedente (não pago),


trabalhadores estão fornecendo gratuitamente valor às mercadorias;

• Como o principal objetivo dos capitalistas é produzir para trocar (valor de troca) e
ampliar ou maximizar o dinheiro investido inicialmente na produção, esse
trabalho excedente e não pago, obtido pela ampliação da jornada de trabalho
para além do necessário, possibilita que o capitalista obtenha mais-valia.
A PRODUÇÃO DA MAIS-VALIA
RELATIVA

Adaptada de: http://www.estudavest.com.br/questoes/?id=1654208


COOPERAÇÃO x MANUFATURA x MAQUINARIA E GRANDE INDÚSTRIA
• Elementos essenciais para o desenvolvimento do raciocínio acerca da
produção da mais-valia relativa;
• É com o surgimento da maquinaria e, sobretudo, da grande indústria
que se obtém maiores condições de produção da mais-valia relativa;
• A maquinaria e a grande indústria passaram por um processo
evolutivo que teve início na cooperação simples.
COOPERAÇÃO
“A forma de trabalho em que muitos trabalham planejadamente lado a lado e
conjuntamente, no mesmo processo de produção ou em processos de produção
diferentes, mas conexos, chama-se cooperação” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 442).

http://arqueologiaegipcia.com.br/
2017/05/01/trabalho-no-egito-antigo-
greves-maus-tratos-e-direitos/
• A cooperação baseada na divisão do trabalho adquire sua forma
clássica na manufatura, entendida como uma forma de
aprimoramento da divisão do trabalho;
• Como forma característica do processo de produção capitalista ela
predomina durante o período manufatureiro propriamente dito, que,
grosso modo, dura de meados do século XVI até o último terço do
século XVIII (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 453).
MANUFATURA
• Se originou de modo duplo:
1. Combinação de ofícios autônomos de diferentes espécies.
• “Por exemplo, uma carruagem era o produto global do trabalho de grande número de
artífices independentes, tais como segeiro, seleiro, costureiro, serralheiro, correeiro, torneiro,
passamaneiro, vidraceiro, pintor, envernizador, dourador etc. A manufatura de carruagens
reúne todos esses diferentes artífices em uma casa de trabalho, onde eles trabalham
simultaneamente em colaboração uns com os outros. Não se pode na verdade dourar uma
carruagem antes de fazê-la. Se, porém, muitas carruagens são feitas ao mesmo tempo, uma
parte pode ser continuamente dourada, enquanto outra parte percorre uma fase anterior do
processo de produção. Até aí estamos ainda no terreno da cooperação simples que encontra
preexistente seu material humano e de coisas” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 453).
• Com o passar do tempo, porém, os trabalhadores diversos
necessários para a produção da carruagem perdem a capacidade de
exercer seu antigo ofício em toda a sua extensão;
• Assim, a manufatura de carruagens se transforma em divisão da
produção de suas diversas operações particulares, em que cada
operação cristaliza-se em função exclusiva de um trabalhador, e a
sua totalidade é executada pela união desses trabalhadores parciais
(MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 453-454).
2. Cooperação de artífices da mesma espécie.
• “Muitos artífices que fazem o mesmo ou algo da mesma espécie, por exemplo, papel
ou tipos de imprensa ou agulhas, são ocupados pelo mesmo capital simultaneamente
na mesma oficina. É essa a cooperação na forma mais simples”;
• “Cada um desses artífices (talvez com um ou dois ajudantes) produz por inteiro a
mercadoria e leva a cabo portanto sucessivamente as diferentes operações exigidas
para a sua fabricação. Ele continua a trabalhar de acordo com o seu antigo modo
artesanal”;
• “Contudo, circunstâncias externas levam logo a utilizar-se de outra maneira a
concentração dos trabalhadores no mesmo local e a simultaneidade de seus trabalhos.
Um quantum maior de mercadorias prontas tem, por exemplo, de ser fornecido em
determinado prazo. O trabalho é por isso dividido” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p.
454).
• “Em vez de o mesmo artífice executar as diferentes operações dentro de uma
sequência temporal, elas são desprendidas umas das outras, isoladas, justapostas
no espaço, cada uma delas confiada a um artífice diferente e todas executadas ao
mesmo tempo pelos cooperadores. Essa divisão acidental se repete, mostra suas
vantagens peculiares e ossifica-se pouco a pouco em divisão sistemática do
trabalho”;
• “Do produto individual de um artífice autônomo, que faz muitas coisas, a
mercadoria transforma-se no produto social de uma união de artífices, cada um dos
quais realiza ininterruptamente uma mesma tarefa parcial. As mesmas operações
que se engrenaram como tarefas sucessivas do produtor de papel nas corporações
alemãs tornaram-se autônomas na manufatura de papel holandesa, como
operações parciais, executadas uma ao lado da outra por muitos trabalhadores
cooperantes” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 454).
“A origem da manufatura, sua formação a partir do artesanato, é portanto
dúplice. De um lado, ela parte da combinação de ofícios autônomos de
diferentes espécies, que são despidos de sua autonomia e tornados
unilaterais até o ponto em que constituem apenas operações parciais que
se complementam mutuamente no processo de produção de uma única e
mesma mercadoria. De outro lado, ela parte da cooperação de artífices da
mesma espécie, decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas
operações particulares e as isola e as torna autônomas até o ponto em que
cada uma delas torna-se função exclusiva de um trabalhador específico. Por
um lado a manufatura introduz, portanto, a divisão do trabalho em um
processo de produção ou a desenvolve mais; por outro lado, ela combina
ofícios anteriormente separados. Qualquer que seja seu ponto particular de
partida, sua figura final é a mesma — um mecanismo de produção, cujos
órgãos são seres humanos” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 454).
MANUFATURA ORGÂNICA: Cada trabalhador é parte de um grande
corpo (trabalhador coletivo), que atua conjuntamente, de forma
sincronizada.
• Exemplo: produção de agulhas ou de garrafas de vidro.
MANUFATURA HETEROGÊNEA: diversos trabalhadores não precisam
trabalhar ao mesmo tempo e nem no mesmo local, mas também não
produzem uma mercadoria em sua totalidade.
• Exemplo: produção de relógios
- Nos dois casos, a manufatura transforma o trabalho, fazendo com os
artífices se especializem numa função específica (FLECK, 2011, p. 50).
MAQUINARIA E GRANDE INDÚSTRIA
“Igual a qualquer outro desenvolvimento da força
produtiva do trabalho, ela [a maquinaria, a
grande indústria] se destina a baratear
mercadorias e a encurtar a parte da jornada de
trabalho que o trabalhador precisa para si
mesmo, a fim de encompridar a outra parte da
sua jornada de trabalho que ele dá de graça para
o capitalista. Ela é meio de produção de mais-
valia. O revolucionamento do modo de produção
toma, na manufatura, como ponto de partida a
força de trabalho; na grande indústria, o meio de
https://escolaeducacao.com.br/primeira-revolucao-industrial/
trabalho” (MARX, 1996, livro 1, tomo II, p. 07).
• A Primeira Revolução Industrial foi um
marco importante para a consolidação
do capitalismo, inicialmente, na
Inglaterra;
• Com a Revolução, a obtenção de
mais-valia (relativa) se tornou mais
fácil para os capitalistas.
https://www.gestaoeducacional.com.br/revolucao-industrial/
• Com a Revolução Industrial Inglesa do final do século XVIII,
desenvolveu-se a grande indústria, barateando as mercadorias e
reduzindo o tempo de trabalho necessário para produção;
• Com o desenvolvimento da grande indústria, o trabalhador passa a
ter uma relação diferente com o produto de seu trabalho: se na
manufatura o trabalhador já não possuía mais controle total sobre
sua produção, na grande indústria da Revolução Industrial, menos
ainda.
• “A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria, é
essencialmente produção de mais-valia. O trabalhador produz não
para si, mas para o capital. Não basta, portanto, que produza em
geral. Ele tem de produzir mais-valia”;
• “Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o
capitalista ou serve à autovalorização do Capital” (MARX, 1996, livro
1, tomo II, p. 138).
• A mais-valia relativa diz respeito à elevação da produtividade do trabalho, isto é, ao
encurtamento do tempo de trabalho necessário para a produção de uma mercadoria;

• A diminuição do tempo de trabalho necessário ocorre de forma que, na mesma quantia


de tempo de trabalho haja uma parcela maior de tempo de trabalho excedente;

• O que foi descrito acima é possível por meio do progresso técnico que a maquinaria e a
grande indústria conferem ao processo de produção;

• Com o auxílio da maquinaria, o tempo de trabalho necessário pode ser encurtado, já que
as máquinas, auxiliando os trabalhadores, contribuem para que as mercadorias estejam
prontas em um tempo menor do que estariam se os operários produzissem sem sua
utilização.
De forma sumária: MAIS-VALIA RELATIVA.

• A mais-valia relativa corresponde ao encurtamento do tempo de trabalho


necessário;

• Com o auxílio de máquinas, o tempo necessário para a produção pode ser


reduzido, e sobrará mais tempo para o trabalho excedente;

• Como o principal objetivo dos capitalistas é produzir para trocar (valor de troca) e
ampliar ou maximizar o dinheiro investido inicialmente na produção, esse
trabalho excedente, obtido com auxílio da maquinaria que diminuiu o tempo de
trabalho necessário, possibilita que o capitalista obtenha mais-valia.
“O prolongamento da jornada de trabalho além do ponto em que o trabalhador teria
produzido apenas um equivalente pelo valor de sua força de trabalho, e a apropriação desse
mais-trabalho pelo capital — isso é a produção da mais-valia absoluta. Ela constitui a base
geral do sistema capitalista e o ponto de partida para a produção da mais valia relativa. Com
esta, a jornada de trabalho está desde o princípio dividida em duas partes: trabalho
necessário e mais-trabalho. Para prolongar o mais-trabalho reduz-se o trabalho necessário
por meio de métodos pelos quais o equivalente do salário é produzido em menos tempo. A
produção da mais-valia absoluta gira apenas em torno da duração da jornada de trabalho;
a produção da mais-valia relativa revoluciona de alto a baixo os processos técnicos do
trabalho e os agrupamentos sociais” (MARX, 1996, livro 1, tomo II, p. 138).
• Para obtenção de mais-valia, o capitalista lidera o
processo de produção com vistas ao valor de
troca, não de uso: D – M – D’;
• O processo D – M – D’ só ocorre por meio de
extração da mais-valia do trabalhador;
• Considerando que a mais-valia está relacionada
com o capital variável, porque é dele que é
possível lhe extrair e, assim sendo, só é possível
de ser realizada porque o trabalhador produz um
trabalho excedente, gerado pelo mais-trabalho
(para além do trabalho necessário para a
Adaptada de: http://sjoaocaiua.blogspot.com/2012/06/
produção de mercadorias), podemos afirmar que
a mais-valia se constitui em trabalho não pago.
• Na produção de mercadorias, a mais-valia representa a disparidade entre o salário
pago e o valor produzido pelo trabalho;
• Corresponde a horas às quais o trabalhador gera valor, mas não é remunerado por
esse valor gerado;
• Quando o capitalista utiliza o diferencial entre o salário pago e o valor produzido
em sua produção, para fabricação de mais mercadorias, a mais-valia se transforma
em capital. “O valor originalmente adiantado não só se mantém na circulação,
mas altera nela a sua grandeza de valor, acrescenta mais-valia ou se valoriza. E
esse movimento transforma-o em capital” (MARX, 1996, livro 1, tomo I, p. 271).
• O excedente que o capitalista obtém por meio do mais-trabalho do operário, a
diferença entre o salário pago e o que de fato o trabalhador produz, pode ser
utilizado de duas formas:
- Primeiro, como renda do capitalista, para suprimento dos meios para sua
subsistência. Assim, o capitalista pode ser entendido como um consumidor dentro do
sistema;
- Segundo, para ampliação da produção de mercadorias (compra de mais mão-de-
obra/ manutenção e/ou compra de matérias-primas, equipamentos e instalações
para a produção).
• É, portanto, quando utiliza da segunda forma o excedente, que podemos trabalhar
com a noção de mais-valia, e este processo, que faz com que o capitalista, ao final
dele, obtenha um D’, é processo de valorização dentro do sistema.
MAIS-VALIA ABSOLUTA MAIS-VALIA RELATIVA

Trabalhador é explorado porque Trabalhador é explorado porque,


sua jornada de trabalho é com o auxílio da maquinaria, o
estendida para além do tempo de trabalho necessário é
necessário, de forma que ele gera encurtado e sobra tempo para a
um trabalho excedente, que não é geração de trabalho excedente,
remunerado. que não é remunerado.
Referências
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
• MARX, Karl. O Capital – Crítica da Economia Política. Vol. 1, livro primeiro: O
processo de produção do Capital, tomos I e II. Coleção Os Economistas, São
Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.

BILIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
• FLECK, Amaro de Oliveira. “Sobre a estrutura expositiva do primeiro livro
de O capital, um estudo”. P E R I, v . 0 3, n . 0 1, p. 29-60, ano de 2011.
• FLECK, Amaro de Oliveira. “O conceito de Fetichismo na obra Marxiana:
uma tentativa de interpretação”. Ethic@ - Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 141
– 158, Jun. 2012.

Você também pode gostar