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Material de leitura obrigatória _ SOCIOLOGIA 26/07/2023

ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS DO PENSAMENTO DE MARX


Leitura obrigatória

Aula de Sociologia 2º anos


Prof.ª Marina Ferreira

 Capitalismo significa não apenas um sistema de produção de mercadorias, como


também um determinado sistema na qual a força de trabalho se transforma em
mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca.
 Para que exista capitalismo faz-se necessária a concentração da propriedade dos
meios de produção nas mãos de uma classe social e a presença de outra classe para
qual a venda da força de trabalho seja a única fonte de subsistência.
 Marx demonstrou que esses requisitos foram estabelecidos através de um processo
histórico que transformou as antigas relações econômicas dominantes no Feudalismo,
destruindo-as ao mesmo tempo em que se construía o capitalismo.
 Ele é um sistema em que os utensílios e as ferramentas, edifícios e matérias-primas
com que é obtida a produção – capital, numa palavra – são predominantemente de
propriedade privada ou individual.
 Em linguagem um pouco mais técnica, Karl Marx havia definido o capitalismo como um
modo de produção cujos meios de produção estão nas mãos dos capitalistas, que
constituem uma classe social distinta.

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 Por outro lado, há aqueles que, não possuindo os meios de produção, são obrigados,
para sobreviver, a vender a única coisa que lhe restou, ou seja, a sua força de trabalho
(sua força física mais o seu cérebro). Mas é bom lembrar que nem sempre foi assim.
 O trabalhador que antes era um artesão detinha tanto o seu trabalho como os meios de
produção, quer dizer, ele era o dono de seus instrumentos e da matéria prima que
usava; em consequência era dono também, do produto que o seu trabalho produzia.
 A expansão capitalista, entretanto, liquidou a maior parte dos artesãos, que não
puderam concorrer com as fábricas sempre crescentes. Endividaram-se e perderam os
seus meios de produção, até que nada lhes restasse.
 Alijada do que possuía, a classe trabalhadora passou a depender, para o seu trabalho,
da classe dos capitalistas, isto é, da classe dos proprietários dos meios de produção.
 Assim, o trabalhador foi forçado a procurar o capitalista para vender-lhe a sua
força de trabalho, em troca de um salário.
 O artesão transformou-se em assalariado, passando a vender a sua força de trabalho,
por dia, por semana ou por mês. Foi o que fizeram os artesãos arruinados, e também os
camponeses.
 Surgia, assim, a grande massa proletarizada e pobre das cidades, cuja única
mercadoria são os seus músculos e o seu cérebro – sua força de trabalho.

 No sistema capitalista, portanto, a força de trabalho humana é mercadoria. E como


todas as coisas tornam-se mercadorias ao ser trocadas por produtos de igual valor,
a força de trabalho torna-se também mercadoria ao ser trocada por dinheiro.
 Veja abaixo o que o próprio Karl Marx disse a respeito:

“O desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital,


corresponde, na mesma proporção, ao desenvolvimento do
proletariado, da classe dos operários modernos que só
sobrevivem à medida que encontram trabalho, e só encontram
trabalho à medida que seu trabalho aumenta o capital. Esses
operários, compelidos a se venderem a retalho, são uma
mercadoria como qualquer outro artigo do comércio e,
portanto, estão igualmente sujeitos a todas as vicissitudes da
concorrência, a todas as flutuações do mercado”.
(Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: L&PM Editores, 2001. P. 35.)

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MERCADORIA
 A mercadoria é a forma que os produtos tomam quando a produção é organizada por meio da
troca. Nesse sistema, uma vez criados, os produtos são propriedades de agentes particulares que
têm o poder de dispor deles transferindo-os a outros agentes. Os agentes que são donos de
produtos diferentes confrontam-se num processo de barganha pelo qual trocam seus produtos.
Nesse processo, uma quantidade definida de um produto troca de lugar com uma quantidade
definida de outro.
 A mercadoria tem, portanto, duas características. A primeira é que pode satisfazer a alguma
necessidade humana, isto é, tem aquilo que alguns economistas chamaram de VALOR DE USO.
 Na verdade, as necessidades podem ser de dois tipos: vitais ou sociais. Por vitais nós temos
como exemplo a fome, o frio e a sede. As necessidades sociais são impostas ao homem pelas
convenções que existem na sociedade. Por necessidade social nós podemos mencionar, por
exemplo, a de um rico que precisa morar em uma casa espaçosa, bem ornamentada, com piscina,
jardim, garagem para quatro carros etc.
 A outra característica da mercadoria é o fato de que ela pode obter outras mercadorias em troca,
poder de permutabilidade que Marx chamou de VALOR DE TROCA.
 Portanto, mercadoria é tudo o que é produzido não tendo em vista o valor de uso, mas o valor de
troca, isto é, a venda do produto. Sendo a mercadoria um produto do trabalho, o seu valor é
determinado pelo total de trabalho socialmente necessário para produzi-la.
 Enfim, para que um produto seja uma mercadoria, seu possuidor deve ver nele não uma coisa boa
para seu uso pessoal, mas um objeto bom para ser trocado.

 Segundo Karl Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção


definem dois grandes grupos: de um lado, os capitalistas, que são aquelas
pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas, capital, etc.)
necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias; do outro, os
trabalhadores, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, aqueles que
nada possuem a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar, ou seja, a
sua força de trabalho.
 A produção na sociedade capitalista só se realiza porque os capitalistas e
trabalhadores entram em relação. O capitalista paga para ao trabalhador um
salário para que trabalhe para ele e, no final da produção, fica com o lucro.
 Esse tipo de relação entre capitalista e trabalhador leva à exploração do
trabalhador pelo capitalista.
 Por isso, Marx considerava que há um permanente conflito entre essas duas
classes – conflito que não é possível resolver dentro da sociedade capitalista.

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MAIS-VALIA
 Para sobreviver, o trabalhador vende ao capitalista a única mercadoria que possui que é sua capacidade
de trabalhar.
 Qual deve ser o valor da sua força de trabalho? Sendo um ser vivo, o trabalhador precisa receber o
necessário para a subsistência e reprodução de sua capacidade trabalho, ou seja, alimento, roupa,
moradia, possibilidade de criar filhos etc. o salário deve ser, portanto, o correspondente ao custo de sua
manutenção e de sua família. O operário se distingue dos escravos e dos servos por receber um salário
a partir de um contrato livremente aceito entre as partes.
 No entanto, na famosa obra O Capital, Marx explica que essa relação de contrato livre é mera aparência
e que, na verdade, o desenvolvimento do capitalismo supõe a exploração do trabalho do operário. Isso
porque o capitalista contrata o operário para trabalhar durante certo período de horas a fim de alcançar
uma determinada produção. Mas ocorre que o trabalhador, estando disponível todo o tempo, acaba
produzindo mais do que foi calculado inicialmente. Ou seja, a força de trabalho pode criar um valor
superior. A parte do trabalho excedente não é paga ao operário, mas serve para aumentar cada vez
mais o capital.
 Chama-se mais-valia, portanto, o valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e
que é apropriado pelo capitalista.
 Se, por exemplo, um operário trabalha em média diariamente 10 horas por dia e precisa de apenas 04
horas de trabalho para pagar os meios de subsistência, as outras 06 horas vão parar nas mãos do
empresário e representam a mais-valia. Vemos assim que o trabalhador realizou 04 horas de trabalho
necessário para produzir o seu sustento e 06 horas de trabalho suplementar em uma jornada de 10
horas. Dizemos então que a parte da jornada de trabalho que serve pra a reprodução da força de
trabalho é o tempo de trabalho necessário.
 Como a reprodução da sociedade de classes está ligada à produção de mercadorias em grande escala,
é lógico que a maior parte da mais-valia deve servir para produzir mais mercadorias. É assim que a
mais-valia se transforma em capital.

 Nas sociedades modernas de hoje, se constata que o trabalho ocupa uma


posição central em nossas preocupações, orientando as nossas relações
sociais. Toda a nossa vida está organizada em torno do trabalho, tanto que, logo
que nascermos somos educados em prol do trabalho.
 É incutida em nossas mentes, desde tenra idade, a importância do trabalho e os
valor positivo que ele possui, o fato de irmos para a escola a partir da infância, já
sinaliza uma educação que visa o preparo para o ingresso no mercado de trabalho,
e uma vez inseridos nesse mercado acabamos por dedicar boa parte do dia e
também da vida, ao trabalho. Nesse sentido, passamos a maior parte de nossas
vidas somente trabalhando, daí podermos designar a nossa sociedade moderna
como sociedade do trabalho.
 Para finalizar, podemos voltar a afirmação que foi dita anteriormente: a de que
hoje, o trabalho veio perder seu poder libertador, ou seja, o trabalho foi desviado
de sua função positiva. Em vez de servir ao bem comum, foi utilizado para
enriquecimento de alguns. De ato de criação virou rotina de reprodução. De
recompensa pela liberdade se transformou em castigo.
 Enfim, em vez de elemento de realização de nossas potencialidades, foi
transformado em instrumento de alienação.

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LUTA DE CLASSES
 A teoria das classes sociais, em Marx, nos remete sempre à problemática da luta
de classes. Como as classes já nascem em posições antagônicas, elas sempre
conviverão em situação politicamente opostas e em permanente luta. Marx extrai
dessas lutas a possibilidade de transformação radical da sociedade
(revolução), ou seja, de superação do próprio capitalismo.
 De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma classe revolucionária que,
em virtude de suas condições de existência, deve organizar-se para, no momento
oportuno, fazer a revolução rumo ao socialismo.
 Essa classe revolucionária seria o proletariado. Caberia, segundo Marx, à classe
social que possui um caráter revolucionário nesse momento intervir por meio de
ações concretas, práticas, para que essas transformações ocorram. Foi o que
aconteceu, por exemplo, na passagem do feudalismo ao capitalismo, através das
revoluções burguesas.
 A luta de classes, conforme vimos, perpassa todos os momentos da vida social,
não se manifestando apenas na esfera econômica, através da greve, por exemplo,
talvez o aspecto mais evidente dessa luta.

 Marx sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de classes é o motor da


história, isto é, a luta de classes faz a história se mover.
 Por isso, no Manifesto Comunista (1848), escrito em parceria com Engels, afirma:

“A história de todas as sociedades que existiram até nossos


dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e
escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de
corporação e aprendiz; numa palavra, opressores e oprimidos,
em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta,
ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre,
ou por uma transformação revolucionária da sociedade
inteira, ou pela destruição das duas classes em luta”.

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“SALÁRIO, PREÇO E LUCRO”


 Leia atentamente o trecho a seguir:
O trecho a seguir, de autoria de Karl Marx fez parte de um informe intitulado “Salário, preço e lucro”. A tradução
é de Leandro Konder, e foi publicado na coleção “Os pensadores” em 1978.

“QUE É, POIS, O VALOR DA FORÇA DE TRABALHO?


Como o de toda outra mercadoria, este valor se determina pela quantidade de trabalho
necessário para produzi-la. A força de trabalho de um homem consiste, pura e simplesmente,
na sua individualidade viva.
Para poder crescer e manter-se, um homem precisa consumir uma determinada quantidade
de meios de subsistência, o homem, como máquina, se gasta e tem de ser substituído por
outro homem.
Além da soma de artigos de primeira necessidade exigidos para o seu próprio sustento, ele
precisa de outra quantidade dos mesmos artigos para criar determinado número de filhos,
que hão de substituí-lo no mercado de trabalho e perpetuar a raça dos trabalhadores.

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Ademais, tem de gastar outra soma de valores no desenvolvimento de sua força de trabalho e
na aquisição de uma certa habilidade. Para o nosso objetivo bastar-nos-á considerar o
trabalho médio, cujos gastos de educação e aperfeiçoamento são grandezas insignificantes.
Devo, sem embargo, aproveitar a ocasião para constatar que, assim como diferem os custos de
produção da força de trabalho de diferente quantidade, assim tem de diferir, também, os
valores das forças de trabalho aplicadas nas diversas indústrias.
Por consequência, o grito pela igualdade de salários assenta num erro: é um desejo oco, que
jamais se realizará. É um rebento desse falso e superficial radicalismo que admite premissas e
procura fugir às conclusões.
Dentro do sistema do salariado, o valor da força de trabalho se fixa como o de outra
mercadoria qualquer; e, como diferentes espécies dessa força possuem distintos valores ou
exigem para a sua produção variadas quantidades de trabalho, necessariamente tem de ter
preços distintos no mercado.
Pedir uma retribuição de igual ou simplesmente uma retribuição justa, na base do sistema do
assalariado, é o mesmo que pedir liberdade na base do sistema da escravatura. O que
pudésseis considerar justo ou equitativo não vem ao caso.
O problema é saber o que vai acontecer necessária e inevitavelmente dentro de um dado
sistema de produção.
Depois do que dissemos, o valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos artigos de
primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de
trabalho. [...].”

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 Após a leitura atenta do texto “SALÁRIO PREÇO E LUCRO” responda no seu


caderno:
1. Como se deve calcular o valor da força de trabalho, segundo
Marx? Que elementos devem ser levados em consideração?
2. O que acontece com o homem que fica velho no sistema
capitalista? Quem fica no seu lugar?
3. Com o que o autor compara a “força de trabalho”? Por que Marx
considera um “erro” exigir pela igualdade de salários?
4. Explique o que Marx quis dizer com a seguinte frase: “Pedir uma
retribuição igual ou simplesmente uma retribuição justa, na base
do sistema assalariado, é o mesmo que pedir liberdade na base do
sistema de escravatura.”.
5. Considerando que a exigência pela igualdade de salários é um
“erro” no sistema capitalista, qual você considera que deva ser a
sugestão de Marx para resolver os problemas dos trabalhadores? E
o que você pensa a respeito dessa relação de exploração?

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