Você está na página 1de 45

Teoria Geral da Administração

Henrique Almeida de Queiroz


henrique.queiroz@ufjf.edu.br
Karl Marx
• Com ele, buscaremos identificar a
condição específica do metabolismo social
(ou reprodução) no capitalismo.
• A intenção do texto é tentar mostrar que,
indiretamente, a ADM é a forma
apologética da Economia Política.
• Elaborações teóricas produzidas a partir
do ponto de vista do capital e para o
capital, ainda que não se mostre assim.
Karl Marx
• “A divisão manufatureira do trabalho cria, a
graduação qualitativa e a proporcionalidade
quantitativa de processos sociais de
produção, portanto determinada organização
do trabalho social [...] como forma
especificamente capitalista do processo de
produção social é apenas um método
especial de produzir mais-valor relativo ou
aumentar a autovalorização do capital à custa
dos trabalhadores”
Karl Marx
• “Ainda que apareça de um lado como
progresso histórico e momento necessário de
desenvolvimento do processo de formação
econômica da sociedade, por outro ela surge
como um meio de exploração civilizada e
refinada.”
Karl Marx
• Elementos básicos da produção capitalista
1. Relacionamento específico entre capital
e trabalho.
2. Pressuposta acumulação anterior. A
acumulação primitiva é seu ponto de
partida.
• Esse relacionamento é tratado de forma
idílica pela Economia Política: gente
laboriosa de um lado e vagabundos
dissipadores de riquezas de outro.
Karl Marx
• Para os escribas burgueses (da Economia
Política) existiu somente um processo: a
libertação da servidão (feudal) e da coação
corporativa (corporações de ofício).
• Só que a libertação do trabalho significou
antes a cisão radical entre trabalhadores e os
meios de produção, gerando o trabalho livre
(assalariado) que precisa ser vendido para
continuar a existir. Mudou a forma de sujeição
da servidão do trabalho.
Karl Marx
• Na verdade, imperou a violência, a
dominação para alcançar esse acúmulo de
riquezas por uma parte da sociedade
passada.
• A acumulação primitiva é a história da
separação entre produtor e meio de
produção. A decomposição das relações
sociais anteriores que a demarcavam como
uma sociedade feudal.
MARX
• É a separação entre trabalho e propriedade,
portanto, que cria as condições para o
desenvolvimento da produção capitalista e,
ao mesmo tempo, à medida que se
desenvolve tal produção, aprofunda-se mais
aquela separação.

• TRABALHADORES (assalariados) X
CAPITAL (meios de produção, subsistência e
produtos do trabalho)
Karl Marx
• Fatores importantes:
Guerras feudais: necessidade de
financiamento (o dinheiro toma maior
relevância).
Do Lado do contra ao Trabalhador:
1. Cercamento dos campos: Transformação da
lavoura feudal em pastagens privadas para
lã, criando a oferta necessária de trabalho
livre para a indústria nascente.
Karl Marx
2. Legislação contra os expropriados: punição
contra uma transformação que lhes foi
imposta (suposta vagabundagem);

3. Leis de rebaixamento de salários: a


burguesia precisa e emprega a força do
Estado para regular o salário (-) e a jornada
de trabalho (+).
Karl Marx
• Mantém o trabalhador num grau de dependência
(econômica) para com o capital.
• Gera um traço importante do capitalismo: a
dependência do trabalhador “livre” (para vender
seu trabalho e comprar coisas) com o capital
(dono dos meios de produção).
• No desenvolvimento disso, as leis se tornam, por
meio da educação, tradição, costume, uma
aparência de lei natural e evidente.
• Influências: educação, Estado e sua legislação.
Karl Marx
Fatores que favoreceram o surgimento do
Capitalista (não industrial):
1. Arrendamento dos campos: Transformação
da lavoura feudal criou grandes proprietários
de terras. Elas eram alugadas.
• O arrendatário usava a mão de obra
assalariada para acumular riqueza (capitalista
agrícola).
• Começa com o capital próprio, que aplica o
trabalho assalariado na produção agrícola.
Karl Marx
2. Influência do campo para a indústria: apesar
do número reduzido de trabalhadores, a
produtividade do solo era superior,
“liberando” mais trabalhadores, devido a:

Concentração dos meios de produção e


matéria-prima;
Maior cooperação e;
Métodos melhorados de cultura (tecnologia).
Karl Marx
• O povo autosuficiente (independente) fica
escasso pela sua expulsão de seu meio de
subsitência, adensando o proletariado
industrial. Surgem então:
• O capital variável: os alimentos (subsistência)
são adquiridos via salário, gerando receitas
ao capitalista.
• O capital constante: propriedade do
capitalista que não é trabalho.
Karl Marx
• O mercado interno: os salários contribuíam ao
desenvolvimento da indústria nascente.
• Disso decorre o surgimento do capitalista
industrial.
• Dois fatores importantes antecedem os
capitalistas industriais: o capital usurário e o
comercial (que existiam em formações não
capitalistas).
• Só puderam avançar com a queda do
feudalismo e das corporações de ofício
Karl Marx
• A colonização foi a forma primária de
acumulação primitiva (utilizada para guerras e
expansão econômica das monarquias):
“marcam a aurora da era de produção
capitalista”.
• Ela propiciou o desenvolvimento do capital a
juros e principalmente do comércio (mundial).
• Espanha  Portugal  Holanda  França 
Inglaterra  amplia o sistema colonial, a
divida pública, os tributos e o protecionismo.
Karl Marx
• O desenvolvimento do capital comercial e do capital
a juros – fundado no sistema colonial e na dívida
pública – permite igualmente o desenvolvimento dos
bancos, das grandes sociedades anônimas, do
mercado de ações, etc.
• O sistema colonial, a dívida pública, etc, incluindo o
uso de mão de obra infantil, produziu um fundo
monetário em diferentes esferas (bancos, donos das
manufaturas, principalmente) que permitiu o
desenvolvimento das fábricas de tecelagem, isto é,
o nascedouro da indústria e da empresa moderna.
Karl Marx
• A propriedade privada como antítese da
propriedade social, coletiva, existe apenas
onde os meios de trabalho e suas condições
externas pertencem a pessoas privadas.
• Para que isso aconteça: superar a produção
privada isolada (artesão, camponês, donos de
seus meios de trabalho).
• Ela é a base da pequena empresa, que gera
a produção social e libera a individualidade do
próprio trabalhador (especialista).
Karl Marx
• Como vimos, o processo de dissolução do
capitalista individual aconteceu por métodos
violentos de desapropriação com apoio do
Estado.
• Isso nos mostra que a nossa sociedade tem a
tendência a concentração de capitais em
poucas mãos em sua própria estrutura de
funcionamento (mais forte que o Estado).
• Tendência também a se colapsar pela sua
concentração (julgamento demasiado cedo).
Karl Marx
• Mas essa mesma tendência de concentração
trouxe o desenvolvimento das forças
produtivas.
• Um processo cooperativo em escala
crescente, aplicação técnica e científica ao
trabalho, exploração planejada da terra,
meios de trabalho coletivizados, economia de
meios de produção (trabalho social
combinado), conexão dos povos (rede
mundial) e  regime internacional capitalista.
Karl Marx
• Qual a diferença específica no modo de
reprodução da vida humana no capitalismo?
• Podemos começar com o processo de
trabalho.
• Abstrato: não há vida humana sem trabalho.
Apropriação do natural para satisfazer
necessidades humanas.
O resultado do processo é um valor de uso
(produto) adequado para satisfazer tal
necessidade (teleologia do trabalho).
Karl Marx
• Capitalista: consome a mercadoria que
comprou no mercado (meios de produção e
trabalho).
• Mas continua se apropriando de algo natural
para satisfazer necessidades humanas, ou
seja, a natureza geral do processo do
trabalho não se alterou.
• Disso decorrem dois fenômenos peculiares:
Karl Marx
1. O trabalhador trabalho sob o comando do
capitalista, ditando ritmo, ordem de
produção, não desperdício de matéria prima.
2. O produto do trabalho não pertence ao
trabalhador, mas sim ao capitalista. O
capitalista paga a força de trabalho.
• O processo de trabalho é um processo entre
coisas que o capitalista comprou e que lhe
pertencem.
Karl Marx
• O processo de trabalho é a desrealização do
trabalho como mercadoria e sua regeneração
– via salário – para um novo consumo
produtivo. É um gasto de energia (trabalho)
que põe valor.

• O capitalista não vende apenas a força de


trabalho que comprou, mas também matéria
prima e meios de trabalho (trabalho morto) na
forma de mercadoria.
Karl Marx
• Nesse processo de trabalho o trabalho é
consumido (mercadoria) além do tempo
necessário para sua realização, gerando o
mais trabalho.

• O dinheiro se transforma em capital mediante


este tempo adicional de produção que não
custa nada ao capitalista (valorização).
Karl Marx
• A valorização do capital advém então dos
valores monetários acumulados (capital) e o
trabalho como mercadoria, sempre a venda
no mercado.
• Na Economia Política e Administração,
aparece somente o trabalho simples, sem o
mais-valor e a exploração do trabalhador.
• A variável que sobressai nas duas é o tempo
de trabalho para gerar valores.
• Isso nos leva à geração de mais-valor.
Karl Marx
• Apenas é produtivo o trabalhador que produz
mais-valor ao capitalista ou serve a
autovalorização do capital. (escola X salsicha)
• Mais-valor absoluto: tempo da jornada de
trabalho  trabalho e mais-trabalho
(subordinação formal).
• Mais-valor relativo: grau de produtividade no
tempo da jornada de trabalho 
desenvolvimento da produção capitalista pela
aplicação científica e gerencial (subordinação
completa).
Karl Marx
• Tão logo este processo domina uma indústria ela
se espalha, dispersando mais-valor relativo para
todos os pontos da produção, esferas produtivas
e ramos industriais, tornando-se a forma geral,
socialmente dominante de produção.
• Mas para aumentar o mais-valor, o capitalista
dispõe de duas opções: aumentar o mais-valor
absoluto ou relativo.
• Com a limitação da jornada de trabalho, só havia
uma alternativa.
Karl Marx
• É aqui que entra o desenvolvimento industrial,
maquinário, técnicas científicas e gerenciais se
desenvolvem nas busca de adicionar mais valor
ao trabalho com o mesmo tempo de execução.
• A administração é a atividade gerencial que
busca aumentar a formação de mais-valor
relativo.
• Então entramos no problema da cooperação: de
forma abstrata ela tira as limitações individuais,
aumentando a produção e liberando o
desenvolvimento individual.
Karl Marx
• Os assalariados só podem cooperar no mesmo
espaço. Então a escala da cooperação é definida
pela grandeza do capital disponível
(concentrado) para empregar a força de trabalho.
• Serve tanto para o capital constante quanto para
o variável.
• É por isso que a acumulação primitiva foi
essencial.
• Essa cooperação necessita de uma atividade
diretiva ou organizativa. Criação de hierarquia.
Karl Marx
• Atividade diretiva ou organizativa: busca a
harmonia entre as diferente operações. Com o
capital, essa atividade toma também funções
específicas:
 Ela é condicionada pelo antagonismo entre
explorador e explorado.
 Aumento de volume de produção aumenta a
necessidade de controle.
 Sua conexão entre atividades é feita de forma
externa, subordinando a vontade do trabalhador
ao objetivo do capital.
Karl Marx
• A administração é uma forma de trabalho
assalariado que funciona como expressão do
domínio do capital pelo poder de mando
(despotismo).
• A atividade de direção capitalista busca a
extração do mais-valor pelo trabalho. Uma
atividade delegada a um tipo especial de
trabalhador (mais qualificado) que comandam o
processo de trabalho em nome do capital.
• A cooperação permite ao capital essa
valorização pela combinação de trabalhos.
Karl Marx
• Essa combinação pode ser originada projetada
ou acidentalmente, mas tem sempre a divisão de
um trabalho em suas partes constitutivas.
• Pode ser por pessoas que fazer a mesma coisa
ou coisas diferentes. Mas os trabalhadores se
especializam em apenas uma coisa.
• A manufatura desenvolve sob o caráter da
produção capitalista e cria as condições para a
revolução industrial mais a frente.
Karl Marx
• A manufatura revoluciona pela base e se
apodera da força de trabalho individual pelas
suas raízes.
• Se o trabalhador originalmente vendeu sua força
de trabalho ao capital, (por lhe faltarem meios de
produção) agora sua força de trabalho deixa de
cumprir seu serviço se não estiver vendida ao
capital.
• As potências intelectuais ampliam sua escala por
desaparecerem em certas direções: o que os
trabalhadores perdem, se concentra no capital.
Karl Marx
• Pela divisão hierárquica do trabalho, sua
organização e execução são separadas e isso é
disseminado.
• O capitalista ou as personificações do capital
(como gerentes, etc) encarnam essa divisão
como forças intelectuais apartadas da atividade
produtiva direta, transformando, por fim, o
trabalhador em trabalhador parcial, uma
pequena parte de uma combinação total do
trabalho sob o comando do capital.
Karl Marx
• A divisão do trabalho na manufatura geram as
máquinas, retirando o trabalho técnico parcial e
aumentando mais a produtividade.
• A ciência aparece como uma aplicação para o
desenvolvimento da força produtiva e da relação-
capital.
• A revolução industrial visava apenas a maior
valorização possível do capital pelo
barateamento dos custos e menor tempo de
realização do trabalho.
Karl Marx
• Na manufatura, a articulação do processo social
de trabalho é puramente subjetiva, combinação
de trabalhadores sociais;
• No sistema de máquinas a grande indústria tem
um organismo de produção inteiramente
objetivo, que o operário já encontra pronto, como
condição de produção material.
• A maquinaria só funciona com base no trabalho
coletivo. O caráter cooperativo do processo de
trabalho se torna uma necessidade técnica
ditada pela própria natureza do trabalho.
Karl Marx
• Com o trabalhador encontrando a forma social
de produção como propriedade de um
capitalista, temos uma última consideração a se
fazer na esfera da produção que envolve a
relação-capital e que ajuda em seu processo de
realização e expansão.
• O salário: na superfície aparece como o preço
do trabalho. Determinada quantia de dinheiro
corresponde a determinado tempo de trabalho.
Karl Marx
• Com o trabalhador encontrando a forma social
de produção como propriedade de um
capitalista, temos uma última consideração a se
fazer na esfera da produção que envolve a
relação-capital e que ajuda em seu processo de
realização e expansão.
• O salário: na superfície aparece como o preço
do trabalho. Determinada quantia de dinheiro
corresponde a determinado tempo de trabalho.
Karl Marx
• Quanto vale a mercadoria? Vale a grandeza do
trabalho contido nela? O quanto foi socialmente
gasto para produzi-la?.
• O trabalho precisa existir como mercadoria antes
de ser vendido.
• O que se defronta diretamente ao possuidor de
dinheiro não é o trabalho, mas o trabalhador.
Este último vende sua força de trabalho. O
trabalho é a substância e a medida imanente dos
valores, mas ele mesmo não tem valor.
Karl Marx
• Aquilo que o trabalhador recebe como preço do
seu trabalho equivale a uma parte da jornada de
trabalho, que tem de ser sempre menor que seu
produto-valor.
• No próprio salário se esconde a verdadeira
finalidade da produção capitalista, qual seja, a
valorização do capital por meio da exploração do
trabalho; mais-trabalho que já está omitido na
forma salário.
• Todo trabalho aparece como trabalho pago. A
relação de dinheiro oculta o trabalho gratuito.
Karl Marx
• Sob esta forma de manifestação (dinheiro-
salário), que torna invisível a verdadeira relação
e mostra justamente o contrário dela, repousam
todas as concepções jurídicas tanto do
trabalhador quanto do capitalista, todas as
ilusões de liberdade, todas as pequenas
mentiras apologéticas da Economia vulgar.
• O contrato é o elemento que dá a justa
aparência à troca desigual: salário que não
equivale nem à jornada e nem à sua produção
(mais-trabalho). Oficialização da exploração.
Karl Marx
• O capitalista não entende que se ele pagasse o
valor do trabalho, o próprio capital não existiria e
seu dinheiro não se transformaria em capital.
Não existe lucro sem trabalho não pago.
• O trabalhador não compreende que seu trabalho
adicional é quem paga seu salário. Acha que é o
tempo utilizado.
• Seja a forma de pagamento pelo tempo ou por
produção, não altera a relação entre capital e
trabalho. O salário na verdade oculta essa
forma.
Karl Marx
• Temos como diferença específica da produção
capitalista a relação-capital: relação entre capital
e trabalho como a relação social que fundamenta
a produção de mercadorias e a valorização de
capital.
• Principais características:
 Força de trabalho consumida como mercadoria;
 Tempo além do necessário para sua reprodução;
 Toma a forma da manufatura e da indústria;
 Toma a forma do salário e do lucro.
Karl Marx
 Exploração do trabalho para valorização do
capital;
 Utilização da combinação total da força de
trabalho, da cooperação, em relação ao capital
valorizado;
 Uma relação antagônica, com o mais-valor como
telos(fim) último.
 A chamada Administração é a atividade de
direção feita por uma classe particular de
trabalhadores que age para os interesses do
capital.

Você também pode gostar